José Paulo
Um problema da história da civilização política é a paz no
campo político de imagens/textual. Do século XVII, o Estado mercantilista
barroco teve a Igreja como aparelho de hegemonia que estabeleceu um campo
político pacífico (Benjamin: 80). O Estado feudal estabeleceu um campo político
da guerra feudal:
“Les combats particuliers, les duels, les recontres sont des
actes que ne constituent point un état; et à l’égard des guerres privées,
autorisées par les établissemens de Louis IX roi d france et suspendues par le
paix de Dieu, ce sont des abus du governement féodal, systeme absurde naturel,
et à toute bonne politie”. (Rousseau. 1964: 357).
As guerras feudais particulares não constituem um Estado. As
máquinas de guerra não criam um Estado. O aparelho de contrahegemonia já é, virtualmente,
a criação de um Estado. O aparelho de hegemonia De Estado pode criar e
conservar um campo político pacífico.
2
A tela cibernética não é um trovão em um céu azul. Ela
instaura e agencia infralógica e
supralógica da gramatica da formas ideológicas de afecções como: ódio, ira
santa, pulsão de morte grotesca e guerras
particulares etc. Quem autoriza as guerras feudais é o Estado
feudal/virtual da multinacional. As relações técnicas de produção fazem pendant
com a gramática das formas ideológicas das afecções no cérebro humano. A
família, a vizinhança. a polis, a sociedade civil, o aparelho de Estado são
realidades da possível guerra feudal particular e/ou pessoal. O aparelho de
administração da corporação cibernética de cibernautas [do Estado
virtual/feudal multinacional] funciona pela lógica da guerra feudal contra o
usuário. Uma classe dominante virtual é uma máquina de guerra feudal que quer
ser hegemônica em relação aos Estados territoriais e seus povos territoriais de
cibernautas [o influenciador é uma figura sublunar do campo político
virtual]. Vivemos uma época da
fabricação do povo virtual/feudal, súdito do Estado feudal/virtual da
multinacional. A cidadania virtual é uma mercadoria [ela obedece à lógica da
mercadoria]. Portanto, a gramática da mercadoria constitui o laço social entre
o cibernauta e o Estado virtual/feudal.
Já a gramática da modernidade de Rousseau gira em torno do
inimigo, da relação entre coisas [Estados territoriais], e não das relações
entre seres humanos:
“La guerre n’est donc une rélation d’homme à homme, mais une
rélation d’Etat á Etat, dans laquelle les particuliers ne sont ennemis
qu’aaccidentellement, non point comme hommes ni même comme citoyens (a), mais
comme soldats; non point comme membres de la patrie, mais comme ses defenseurs.
Enfin chaque Etat ne peut fixer avoir pour ennemis que d’autres Etats et non
pas des hommes, attendu qu’entre choses de divers natures on ne peut fixer
aucun vrai rapport”. (Rousseau. 1964:357).
A pós-modernidade é a subsunção da modernidade rousseauniana.
Ela é a abertura de portas (Dumézil:50) para a emergência do Estado
feudal/virtual como seu campo político sublunar das guerras feudais, guerras
particulares. O problema da paz no campo político é abolido, esquecido, na tela
feudal/virtual. As classes sociais, a sociedade civil e o Estado de
entendimento entram na subsunção do moderno ao campo sublunar político
feudal/virtual. Um efeito mais real que o próprio real, por exemplo, é a
substituição da soberania popular da cultura nacional/popular pela audiência do
cibernauta que decide a eleição.
Rousseau:
“Ce principe est même conforme aux maximes établies de touts
les tems et à la pratique constante de tous les peuples policés. Les
déclarations de guerre sont moins des avertissements aux puissances qu’à leurs
sujets. L’étrangers, soit roi, soit particulier, soit peuple, qui vole, tüe ou
détient les sujets sans déclarer la guerre au prince, n’est pas un ennemi,
c’est un brigand. Même en pleine guerre un prince juste s’empare bien en pays
ennemie de tout ce qui appartient au public, mais il respecte la personne etr
les biens des particuliers; il respecte des droits sur lesquels sont fondés les
siens. La fin de la guerre étant la destruction de l’Etat ennemie, on a droit
d’en tuer les défenseurs de l’Etat ennemie qu’ils ont les armes à la main; mais
sitôt qu’ils les posent et se rendent, cessant d’être ennemies ou instruments
de l’ennemie, ils redeviennnent simplement hommes et l’on plus de droit sur
leur vie. Quelquefois on peut tuer l’Etat sans tuer un seul de ses membres: Or
la guerre ne aucun droit qui ne soit pas ceux de Grotiu; ils ne sont pas fondés
sur des aurtorités de poetes, mais ils dérivent de la nature des choses, et son
fondés sur la raison”. (Rousseaus. 1964: 537-38).
A gramática da guerra é a gramática das coisas reguladas pela
razão. Qual razão? Logos clássico ou moderno, ou será a gramática lógica das
coisas, dos fenômenos do campo social da guerra na civilização política, isto
é, policiada.
A gramática da estrutura ideológica trifuncional de dominação
é coisa da polis/sociedade/Estado:
“Trinta, quarenta gerações sucessivas imaginaram a pefeição social
sob a forma da trifuncionalidade. Esta representação mental resistiu a todas as
pressões da história. É uma estrutura”.
“Estrutura imbricada numa outra, mais profunda, mais ampla,
dominante: o sistema igualmente trifuncional que os trabalhos de Georges
Dumézil admiravelmente situaram nos modos de pensamento dos povos
indo-europeus. Entre as três funções presentes em tantos textos recolhidos
desde o Indo até à Islândia e à Irlanda, a primeira enunciando, em nome do céu,
a regra, a lei, aquilo que promove a ordem; a segunda, brutal, veemente,
forçando a obedecer, e, finalmente, a terceira, de fecundidade, de saúde, de
abundância, de prazer, que conduz à realização dos <exercícios de paz> de
que fala Charles Loyseau. E por outro lado é evidente a relação entre as três
ordens> desse mesmo Loyseau, os três <caminhos> do senhor Torquat, os
padres, os guerreiros e os camponeses dos bispos de Combrai e de Laon. De uma
tal evidência que de nada serve fazer suposições, a não ser para melhor
delimitar a investigação, cujos resultados estão expostos neste livro”. (Duby.
1978:16).
A estrutura tripartite trifuncional é a gramática do campo
político ideológico da civilização política. (Dumézil: 83). A relação entre
ideologia e gramática foi pensada por Roland Barthes:
“Havemos de ver , por exemplo, que a unidade ideológica da
burguesia [isto é, clássicos e românticos] a forma não podia ser dilacerada,
visto que a consciência também não estava”. (Barthes. 1973: 14).
Vivemos em uma época da consciência histórica (Gadamer:
desintegrada:
“Segundo Aristóteles, dá lugar a dois fenômenos correlativos
seguintes: ao espírito de discernimento da situação de outro e a tolerância ou
indulgência que disso resulta. Assim, pois, o que é discernimento compreensivo
senão a virtude de saber julgar equitativamente a situação do outro”. (Gadamer:
94).
A consciência é uma forma ideológica da qual a figura
trifuncional aprece como forma ideológica;
‘Assim localizada a interrogação remete para outra categoria
de problemas. O modelo das três funções sociais, esse postulado, essa evidência
cuja existência jamais se provou o que só se evoca nas suas ligações com uma
cosmologia, uma teologia, é claro está, com uma moral que serve de base a uma
dessas <formações discursivas polêmicas> que são as ideologias, colocando
pois ao serviço de um poder uma imagem simples, ideal, abstrata, da organização
social, que ligações mantém esse modelo com o concreto das relações sociais? A
ideologia, sabemo-lo bem, não é reflexo do vivido, mas um projeto de agir sobre
ele. Para que a ação tenha qualquer possibilidade de eficácia, é preciso que
não seja demasiado grande a disparidade entre a representação imaginária e as
<realidades> da vida”. (Duby. 1978:20).
A gramática ou tela gramatical narrativa [ou escrita
política]:
“a escrita, ao contrário, está sempre enraizada num além da
linguagem, desenvolve-se como um germe e não como uma linha, manifesta uma
essência e uma ameaça de um segredo, é uma contracomunicação, intimida”.
(Barthes. 1973: 28).
Trata-se de ver a gramática ou escrita política como aparelho
de contrahegemonia [contracomunicação], como o Príncipe da guerra barroca da
atualidade:
“Portanto, encontramos em qualquer escrita a ambiguidade de
um objeto que é simultaneamente linguagem e coerção: há no fundo da escrita uma
<circunstância> estranha à linguagem, há como que o olhar de uma intenção
que já não é a da linguagem. Este olhar pode muito bem ser uma paixão da
linguagem, como na escrita literária; pode também ser a ameaça de uma
penalidade, como nas escritas políticas\; a escrita tem a função de reunir com
um só traço a realidade dos atos e a idealidade dos fins. É por isso que o poder
ou a sombra do poder acaba sempre por instituir uma escrita axiológica, em que
o trajeto que separa habitualmente o fato do valor é suprimido no próprio
espaço da palavra, dada simultaneamente como descrição e como juízo. A palavra
torna-se um álibi [isto é, um algures e uma justificação]. Isto, que é
verdadeiro para as escritas literárias, em que a unidade dos signos é
incessantemente fascinada por zonas de infra ou de ultralinguagem, é ainda mais
verdadeiro para as escritas políticas, onde o álibi da linguagem é
simultaneamente intimidação e glorificação: efetivamente, o poder e o combate é
o que produzem os tipos de escrita mais puro”. (Barthes. 1973: 28).
O poder e a luta do aparelho de contrahegemonia criam e
recriam a gramática de Estado puro, ou seja, do Estado ontológico lacaniano da
extração e distribuição da mais-valia pública ou riqueza da economia pública. A
psicanálise é a gramática do aparelho de contrahegemonia do Estado lacaniano
barroco? Em Philonenko, encontra-se uma história materialista e paraconsistente
da paragramática do aparelho de hegemonia de Estado platônico:
“Parménides passava por ter sido o legislador de Eleia, e o
pitagorismo fora, simultaneamente, uma teoria e uma organização política;
quanto aos Turianos, teriam pedido uma legislação a Protágoras. Convencido de
deter senão a verdade, pelo menos o método, Platão acabou por acreditar que era
o único capaz de ensinar qual a tarefa do bom governo. Portanto, não surpreende
que tenham existido, não sei sob que forma precisa, pequenos Estados platônicos
– Atárnea (a oeste de Pérgamo), Assos (a norte de Lesbos), Cépsis (na Troáde).
Diz-se que Hérmias, Corisco, Erasto foram os príncipes”. (Philonenko: 1977:
22).
O Príncipe moderno platônico foi capaz de dirigir um golpe de
Estado para criar um Estado segundo a gramática dialética/materialista da
política. (Philonenko. 1977: 23).
3
O Estado lacaniano é o grau zero da gramática do signo.
(Barthes. 1973:16). A gramática do significante barroco é sem signo, isto é,
sem o referente sociedade classes, e sim na relação como a dialética aspecto
dominante e aspecto dominado na guerra feudal ou barroca pela distribuição da
mais-valia pública na Constituição.
O Estado lacaniano é uma estrutura de dominação gramatical
[ou seja, tela gramatical de dominação/hegemonia] com portas para entrada e
saída do campo político da pólis e feudal europeu. São três portas: a pratica
política, a pólemos/stasis, o trabalho rural, isto é, o campesinato. (Dumézil.
1985: 50,51). O capital capitalismo desintegrou a tela gramatical tripartite e
trifuncional. Surge o poder de Estado [como forma ideológica burguesa] e como
efeito da sociedade burguesa que dissolve o <poder de governo> da tela
gramatical narrativa antiga e feudal:
Le philosophe n’aurait-il pas le droit de s’élever au-dessus
de la foi qui régit la grammaire? Tous nos respect aux gouvernantes; mais ne
serait-il pas temps pour la philosophie d’abjures la foi des gouvernantes”.
(Nietzsche: 54).
O poder de governo é um fenômeno da fé na gramática
governante/governado, dominante/dominado. A filosofia pode ser uma gramática de
um aparelho de contrahegemonia. A porta do gramático já é a quarta porta, ela
não é um aporta do céu ou da terra; ela não é do Estado celestial ou do
territorial. O que ela é?
A porta do gramático da realidade do campo político é uma
porta virtual. Por ela, entra o general intellect gramatical (Bandeira da
Silveira; 2022), isto é, a pequena burguesia proprietária de capital cultural.
(Bourdieu: 39). A pequena burguesia do capital cultural general intellect
gramatical é o trabalho que entra pela porta do trabalho no campo
político.
4
Nos últimos seis meses, 25 milhões de mães da famílias das
classes baixas neopentecostal se juntaram aos 40 milhões de jogadores já
existentes de jogos de azar bets. Tal fato levanta um problema em analogia com
a antiguidade grega:
“O comentário de Goethe faz da Odisseia, numa carta cuidada a
Schiller de 14 de Fevereiro de 1798, é importante. O Grego é o homem inicente,
próximo do estado de natureza e na Odisseia, a radiosa imagem de Nausica apaga
qualquer preocupação profunda. É neste sentido que Schiller, nas ‘Cartas sobre
a educação estética do homem”, ao querer regressar a esta inocência, pôde
escrever essa frase demasiada célebre: <O Homem só joga onde é Homem no
sentido acabado do termo e só é plenamente Homem onde joga>. Para Schiller,
o Grego é o Homem no estado de natureza, que vive na inocência do mito, que
concilia o dever (Pllicht) e a inclinação (Neigung) na espontaneidade. É a
imagem da aurora grega. (Philonenko. 1997: 32).
A mulher dos jogos de azar bets nõa é uma criação espontânea
da realidade cotidiana brasileira. Um Estado feudal, virtual, mafioso bets
conta com o Banco para dar a elas cartão de crédito para elas se endividarem. Tal
fato põe e repõe o problema da consciência das classes baixas como fenômeno
lúdico.
Recorro a Sartre, um exímio conhecedor da relação entre
consciência e percepção. A estrutura de dominação ideológica lúdica se baseia
na ideologia da prosperidade do Estado feudal/virtual/mafioso bets.
5
A imagem é forma de consciência; ela é um fato da estrutura
de dominação ideológica:
‘Ao iniciarmos a reflexão, percebemos que cometíamos até
agora um duplo erro. Pensávamos, sem sequer nos darmos conta, que a imagem
estava na consciência e que o objeto da imagem na imagem. Fazíamos da
consciência um lugar povoado de pequenos simulacros, e esses simulacros eram as
imagens. Sem dúvida alguma, a origem dessa ilusão deve ser procurada em nosso
hábito de pensar no espaço e em termos de espaço. Nós a chamaremos ilusão da
imanência”. (Sartre: 16-17).
A estrutura de dominação ideológica pós-modernista é a imagem
como simulacro de simulação:
“Simulacros de simulação, baseados na informação, no modelo,
no jogo cibernético, - operacionalidade total, hiper-realidade, objetivo de
controle total”. (Baudrillard. 1991: 151).
Os jogos cibernéticos são a subsunção dos jogos caligráficos
de Magritte. Em jogos cibernéticos, a imagem e a linguagem não se cruzam em um
lugar-comum
“Magritte faz tudo o que é preciso para reconstituir (seja
pela perenidade de uma obra de arte, seja pela verdade de uma lição das coisas)
o lugar-comum à imagem e à linguagem”. (Foucault: 34).
Os jogos cibernéticos desintegram a consciência perceptiva
dos fenômenos, pois a imagem existe como simulacro de simulação de um fenômeno
autêntica A consciência perceptiva das massas pós-modernistas toma a revolução
moderna como real pelo hábito de pensar no espaço e em termos de espaço, como
imagem, pois, o tempo político é abolido. Não há mais passado:
“Na percepção, um saber se forma lentamente; na imagem, o
saber é imediato. Vemos agora que a imagem é um ato sintético que une a
elementos mais ´precisamente representativos um saber concreto, não imaginado.
Uma imagem não se aprende; é exatamente organizada como objetos que se
aprendem, mas, na realidade, a imagem se dá inteira como aquilo que ela é,
desde seu aparecimento”. (Sartre: 21-22).
Uma estrutura de dominação ideológica sem passado desintegra
a consciência perceptiva como um saber que se adquire via educação das massas.
A escola pública perde seu sentido como educação das massas das classes baixas
visando constituí-las como cultura nacional popular. O saber imediato da imagem
estabelece um tempo fragmentado, descontínuo, dissolvendo a realidade como
cultura política. A crise da democracia representativa se deve a essa
substituição do saber da consciência perceptiva pelo saber instantâneo,
imediato, da imagem. O saber da consciência implica em ele ser regido pelo
princípio de realidade, ele é um saber de um aprendizado coercitivo; o saber
por imagem é puro princípio de prazer. A imagem é o saber lúdico dos jogos de
azar, que aboli a ética da coerção de qualquer forma de trabalho.
O Estado feudal, virtual, mafioso une o jogo de azar ao
desejo de ganhar dinheiro sem coerção, ganhar riqueza pelo princípio de prazer.
As massas são conduzidas pela imagem lúdica do paraíso perdido na terra: auri
sacra fames.
6
Dominante é um efeito contradição com o dominado, este como
soberania popular. A soberania popular é a cultura nacional popular territorial
dos jogos de caligrafia. Ela é um fenômeno do Estado de entendimento dos jogos
de caligrafia de Magritte/Foucaultianos. O aspecto dominante da contradição
existe em um campo feito por contradições, um campo político materialista
paraconsistente e parasintático. A eleição é uma necessidade para instituir e (re)
instituir governo do dominante sobre o
dominante e sobre o dominado. O Estado de entendimento é aquele dos jogos de
caligrafia da imagem/textual. Daí as ditaduras eletivas que parecem querer se
apresentar como ersatz de democracia das Américas. O bolsonarismo é um
movimento que quer uma ditadura eletiva após a desintegração da democracia dos
jogos de caligrafia da Constituição de 1988. NOS EUA, Donald Trump é o fenômeno
análogo ao bolsonarismo. Na Venezuela, Maduro cria a ilusão de democracia para
sua ditadura mafiosa. Na Argentina, Milei faz um governo ditatorial eletivo no
campo político peronista democrático. As guerras feudais são a gramática da
ditadura feudal das Américas.
As relações técnicas de produção territorial/subdesenvolvidas
do campo político latino-americano fazem pendant com as relações técnicas de
produção virtuais do Estado feudal, virtual mafioso do capitalismo criminoso do
Banco. (Platt; 2017). O Estado feudal, virtual/territorial, mafioso tem um
passado reprofundo sem passado do Estado profundo colonial. Bandeira da
Silveira; 2021).
A gramática jornalística do Youtube já é o campo da
democracia constitucional do Estado de entendimento dos jogos de caligrafia do
passado/presente/futuro. É uma outra forma d dominação ideológica se procura
fazer a passagem em ato do século XX para o Século XXI. a ilusão imanente do
século XX existe na prática política do dominante. O banqueiro/intelectual
carioca Armínio Fraga vive como se vivesse no século XX. Ora:
“Como relação social de produção, o capital é mercadoria,
capital mercantil, capital comercial, capital industrial, capital fictício etc.
As partes ou frações do capital não estão subsumidas a um todo, a um capital
que englobe todos os fragmentos de capital. [O capital é um campo feudal
fragmentado paraconsistente e materialista]. No campo político, as partes
do capital lutam [fazem guerras particulares] para dominar as
instituições do Estado, que são pedaços de Estado como governo nacional,
parlamento, judiciário que se despedaça e mil partes, governos locais,
burocracia pública. O Estado nacional não é uma totalidade. Como a filosofia da
identidade opra com totalidade e conceito, ela ‘explica’ a existência e
reprodução da sociedade do capital a partir do capital como um todo. Este todo
da identidade é como se fosse dominação, coerção, segurança burguesa, e
hegemonia sobre o Estado e a sociedade. Tal ilusão é um pressuposto do agir dos
agentes no campo político”. (Bandeira da Silveira. 2024ª: cap. 26).
A imagem do capital identitário é a invasão do século XX
burguês no século XXI feudal. O capital é um fenômeno do barroco/feudal da
modernidade do século XXI. O século XX desencantou o Estado de entendimento dos
jogos de caligrafia. O que acontece no século XXI como Estado de entendimento barroco/iluminista
dos jogos vede caligrafia do Youtube e do Estado da civilização policiada, do
Estado de polícia/logico?
7
Heidegger estabeleceu,
sem o saber, a distinção entre Estado de Entendimento dos jogos de caligrafia
que voam e sonham com o Estado substantivo, coisa em Rousseau e aparelho de
Estado em Marx:
‘Que palavra é essa ‘o Ser’, segundo sua morfologia? Ao ‘ser’
correspondem outras formas, como ‘o voar’, ‘o sonhar’, ‘o chorar’ etc. Tais
formas linguísticas se comportam na linguagem, como’ o pão’, ‘a habitação’, ‘a
erva’, ‘a coisa’. Não obstante, logo descobrimos nas primeiras uma diferença.
Podemos reduzi-las facilmente aos verbos, ‘voar’, ‘sonhar’, ‘chorar’ etc... o
que as segundas parecem não permitir. Com efeito, que há para ‘a habitação’ a
forma verbal ‘habitar’; ‘ele habita no bosque’. Todavia, quanto ao significado,
a relação gramatical entre ‘a habitação’ e ‘habitar’ é diferente da mesma
relação entre ‘o sonhar’ (o sonho) e ‘sonhar’. Por outro lado, há formações
verbais, que correspondem exatamente às primeiras (o voar, o sonhar) e todavia
possuem caráter e significação idênticos a ‘o pão’ , ‘a habitação’. Por
exemplo: ‘o embaixador deu um jantar’, ‘o soldado se conhece no andar
cadenciado’. Nesses casos já não atendemos ao fato de pertencerem tais formas a
um verbo. O verbo se fez substantivo, um nome, seguindo o caminho de uma forma
determinada, que se denomina em latim ‘modus infitivus”. (Heidegger:
83-84).
Em Hegel, o Estado de entendimento é o seguinte:
“L’intitulé général Constitution recouvre une théorie
de l’Etat. Elle commence par poser que l’Etat est pour ainsi dire l’esprit de
la loi”. (Taminiaux: 57).
<Espírito da lei> é a tela verbal narrativa do ser do
Estado de entendimento como voar e sonhar e chorar. O aparelho de Estado é uma
coisa sem afecções, ou do bem, ou do mal. Já o Esatdo de entendimento possui
afecções como ethos e páthos. Assim ,não é razoável falar de um desencantamento
do Estado, como em Weber:
“Avantage techinique, uniquement: la rationalité de l’Etat
moderne ne s’entend plus ici dans le sens d’une liberté supérieure, tout au
contraire. L’administration bureaucratique s’offre comme la seule forme
adéquate aux besoins de l’administration de masse: que le gigantisme des
sociétés contemporaines , en termes démographiques, par rapport à toutes les
sociétés historiques connues, restreigne de façon drastique le champ des
possibles en matière de fonctionnement politico-administratif est l’un des présupposés
fondamentaux de la sociologie politique wébérienne. Et c’est là précisément ce
qui fonde son pronostic relatif à l’avenir de notre civilization. Des exemples
antiques, celui de lEgypte notamment, témoignent déjà de ce que, une fois
parvenue à la toute-puissance, la bureuaucratie ne peut plus disparaître, sinon
avec l’effrondrement général de la civilization dont elle est solidaire. Cette
irréversibilité de la domination bureaucratique est plus définitive encore dans
l ecas de la bureaucratique des Etas occidentaux modernes, à raison même de as
plus parfait rationalité. La mandarin de l’ancienne chine, le fonctio nnaire
égyptien, romain ou byzantin, n’avaient à gérer des affaires infiniment moins
complexes que ne le sont les tâches de l’Etat contemporain. Ainsi ses décisions
pouvaient-elles être en partie liées pas des usages traditionnnels ou des
príncipes patriarcaux. Il n’en va plus de même du fonctionnaire moderne: seule
la connaissance qu’il a des contraentes impliquées par les systemes objectifs,
qu’il s’agisse de la technique, de l’économie ou de la politique, comande
l’orientation de son action. Le savoir spécialisé qu’il doit avoir (t sur la
base duquel il est recruté) assure as
Victoire sur les résidus des modes d’administration obsolètes, telle celle des
notables en Angleterre ou en France, et condamne par avance tout tetative de
subversion de son pouvoir”. (Colliot-Thèléne:20).
Weber criou o campo
das ideologias do Estado mercantilista, imperialista, colonialista-europeu,
enfim, da estrutura de dominação ideológica da burocracia lógica. A influência
desse campo no Brasil é notável no final do século XX e ainda na segunda década
do século XXI. Entramos em uma época do fim do Estado weberiano e sua estrutura
de dominação ideológica da burocracia. Outras estruturas de dominação se
apresentam como formas ideológicas do século XXI:
“O mercantilismo do capital asiático é a estrutura de
dominação ou poder asiático que traça um caminho alternativo ao fim do
capitalismo, fim do estado nacional, fim da política e outros milenarismos”.
“A outra gramática da dominação é a estrutura autoritária
funcionando pela relação de mandonismo e obediência passiva, ou seja, sem
crítica da gramática. Essa estrutura de dominação caracteriza no campo político
a gramática do cesarismo”. (Bandeira da Silveira. 2024b: 511).
Cesarismo ou Estado feudal, virtual/territorial asiático são
as gramáticas que assombram as Américas na quase quarta década do século XXI.
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