José Paulo
A passagem do século XX para o século XXI ocorre na relação
do Estado feudal virtual com o Estado territorial nas formações socais e
políticas territoriais. O século XX invadiu o século XXI com seu vocabulário
ideológico de ilusões como a divisão ideológica do campo político em espaços
como direita, esquerda e centro. Husserl deixou uma orientação ou atitude
fenomenológica pura para tratar com o fenômeno supracitado:
“O fato de que a fenomenologia tenha de lidar com a
<consciência>, com todas as espécies de vividos, com atos, com correlatos
de atos, não altera em nada tal situação. Ver isso com clareza exige, sem
dúvida, não pequeno esforço dos hábitos dominantes de pensar. Colocar fora de
circuito todos os atuais hábitos de pensar, reconhecer a pôr abaixo as
barreiras espirituais com que eles restringem o horizonte de nosso pensar, e
então apreender, em plena liberdade de pensamento, os autênticos filosóficos,
que deverão ser postos de maneira inteiramente nova e que somente se tornarão
acessíveis num horizonte totalmente obstruído - são exigências duras”.
(Husserl. 2006: 27).
A ciência política materialista dialética começa na Grécia da
antiguidade- como ciência de Estado, com Platão e Aristóteles. No século XX,
ela se torna uma ciência política universitária do americanismo do mercantilismo
corporativo/empresarial militar do Estado suicidário (Virilio). Na América
Latina, os países subdesenvolvidos dominados pela gramática
geopolítica/ditatorial dos EUA, copiaram os esquemas mentais e vocabulário do
general intellect gramatical americano impuro. (Bandeira da Silveira. 2022ª). Esse cosmopolitismo subdesenvolvido rendeu de
um dramaturgo barroco carioca a alcunha de <cachorro vira-lata> para a
nossa elite intelectual bandeirante, principalmente paulistana e da USP.
Husserl:
“O que, com efeito, torna tão extraordinariamente difícil a
assimilação [gramaticalização] da
essência da fenomenologia, a compreensão do sentido peculiar de sua
problemática e de sua relação com todas as outras ciências (e em especial com a
psicologia) é que , além de tudo isso, é necessário uma nova ,maneira d se
orientar [uma nova atitude fenomenológica] inteiramente diferente da
atitude ou orientação natural na experiência e no pensar. Aprender a se mover
livreme3nte nela, sem nenhuma recaída nas velhas maneiras de se orientar,
aprender a ver, a diferenciar, descrever o que está diante dos olhos, exige,
ademais, estudos próprios e laboriosos”. (Husserl. 2006: 27).
O Brasil é um país subdesenvolvido no campo das gramáticas da
realidade dos fenômenos do século XXI.
2
A ciência política materialista existe em função do
conhecimento da conjuntura. Poulantzas teceu um conceito de conjuntura:
“O conceito de conjuntura está situado, em Lenin, no campo
das práticas e da luta de classes. A originalidade historicamente
individualizada de uma formação social que é o objeto da prática política é
constituída em primeiro lugar pela ‘ação combinada das forlas sociais. A
homogeneidade de campo da conjuntura consiste na consideração das práticas de
classe – em particular das práticas políticas de classe -, relativas à sua
‘ação’ sobre a estrutura, como forças sociais’. (Poulantzas. 1977: 90).
A conjuntura é uma tela gramatical em um campo político
estrutural. A prática política é ação sobre a estrutura política, ou seja,
sobre o Estado. A conjuntura tem um ser individual <contingente>:
“Ciências políticas são ciências de <fatos>. Os atos
fundantes da experiência põem o real individualmente, ele o põe como
espaço-temporalmente existente, como algo que está neste momento do tempo, tem
esta sua duração e um conteúdo de realidade que, por sua essência, poderia
igualmente estar em qualquer outro momento do tempo; põem-no, por outro lado,
como algo que está neste lugar, com esta forma física (por exemplo, está dado
juntamente com um corpo desta forma), embora este momento real, considerado
segundo sua essência, pudesse igualmente estar noutra forma qualquer, em
qualquer outro lugar, assim como poderia modificar-se, quando é faticamente
imutável, ou poderia modificar-se de modo diferente daquele pelo qual
faticamente se modifica. Dito de maneira bem geral, o ser individual é,
qualquer que seja sua espécie, <contingente>. Ele é assim, mas poderia,
por sua essência, ser diferente”. (Husserl. 2006: 34-35).
O ser individual do conceito de conjuntura de Poulantzas é a
sociedade classes sociais como prática política que transforma – pela luta de
classes – o Estado na conjuntura. O ser individual é contingente, mas por sua
essência poderia ser diferente em outra conjuntura. O que é a essência? Pode
ser uma tela gramatical? Qual espécie de tela gramatical? de significados
sociais contingentes narrativos - conjunturais - que não se repetem? Morrem em
sua singularidade? Não são comparáveis ou análogos a outros significados
contingentes em um outro espaço/temporal?
Husserl:
Um objeto individual não é meramente individual, um este aí!,
que não se repete; sendo <em sim mesmo> de tal e tal índole, ele possui
sua especificidade, ele é composto de predicáveis essenciais que têm de lhe ser
atribuídos (<enquanto ele é como é em si mesmo>), a fim de que outras
determinações secundárias , relativas, lhe possam ser atribuídas [...]. Um
outro indivíduo também pode ter tudo o que faz parte da essência de um
indivíduo, e generalidades eidéticas máximas, do tipo que acabamos de indicar
nos exemplos, circunscrevem, <regiões> ou <categorias> de
indivíduos”. (Husserl. 2006: 35).
Portanto, há regiões de indivíduos como generalidades
eidéticas máximas:
“O sentido dessa contingência, entretanto, que ali se chama
facticidade, limita-se por ela ser correlativamente referida a uma necessidade,
que não significa a mera subsistência fática de uma regra válida de coordenação
dos fatos espaço-temporais, mas possui o caráter de necessidade eidética e,
assim, referência à generalidade eidética. Se dissemos que <por sua essência
própria> todo fato poderia ser diferente, com isso já exprimíamos que faz
parte do sentido de todo contingente ter justamente uma essência e, por
conseguinte, um eidos a ser apreendido em sua pureza, e ele se encontra sob
verdades de essência de diferentes níveis de generalidade”. (Husserl. 2006:
35).
A conjuntura é regida por uma plurivocidade de tela
gramatical que se constituem como essência eidética na história da civilização
política da sociedade de classes e de Estado lacaniano. Este existe em todas as
conjunturas faticamente, e assim, sua essência precisa ser definida na
dialética materialista da contradição principal entre o dominante e o dominado
que são parte da stásis ou pólemos (Derrida.1994 :110-111), isto é, na luta
política ou guerra feudal do dominante [ou guerra barroca do dominado] pela
distribuição da mais-valia pública ou plus-de-jouir. (Bandeira da Silveira.
2022b: cap. 12).
3
Alfred Stepan fala da gramática eidética liberal, isto é, sem
significado contingente individualizado, a não ser :o mercado no comando do
Estado:
“No enfoque pluralista-liberal a preocupação normativa, empírica e metodológica
é com os indivíduos que, buscando seus interesses individuais, econômicos e
políticos, compõem junto a sociedade. Na teoria pluralista, os indivíduos podem
se organizar em grupos, mas como eles todos têm uma variedade de interesses,
tendem a se associar a grupos numerosos e diferentes cujos interesses se
cruzam. Um pressuposto metodológico e normativo tanto entre os pensadores
políticos econômicos na tradição (gramática} pluralista-liberal é que é
indesejável usar o conceito de bem comum”. (Stepan: 31).
O Estado militar de 1964 seguiu a gramática liberal em um
contexto subdesenvolvido [conjuntura]. Assim a gramática eidética liberal
adquire uma contingência individualizada, que parece ser a de um Estado
liberal-mercantilista:
“A questão então é, não que a sociedade seja realmente
autorreguladora, mas que se pressupõe que o mecanismo de mercado só seja
autorregulador se o Estado fornecer as infraestruturas administrativa,
institucional e fiscal indispensáveis, neutras e imparciais para o capitalismo
funcionar. Esta é, na verdade, uma tarefa bastante grande para o Estado
realizar em qualquer sociedade e, longe de ser automática, seu desempenho exige
grande habilidade e poder político. Quando nos voltamos para a tarefa dos
países desenvolvidos tardios, o fato deles serem economias caudatárias torna
muitas das despesas da infraestrutura indispensável ‘não-lucrativas para
qualquer indivíduo’, e o papel do Estado mais decisivo. Desde 1964 o Brasil,
por exemplo, tem sido considerado em grande parte como seguindo um modelo de
desenvolvimento liberal de mecanismo de mercado. Apesar disso Roberto Campos,
um importante arquiteto [gramático ditatorial do liberal/mercantilismo}
econômico do regime, acredita que, a fim de fazer o mecanismo de mercado
funcionar, eram necessários investimentos e intervenção do Estado {liberal/mercantilista
ditatorial subdesenvolvido] em larga escala e sistemáticos em quase todos
os aspectos das estruturas econômicas e especialmente sociais do país. A última
década de domínio do mecanismo de mercado no Brasil levou assim não tão
paradoxalmente a uma das épocas mais importantes de expansão do objetivo do
poder de Estado na história do Brasil”. (Stepan: 33).
Com a mundialização do Estado mercantilista/liberal feudal a
partir da Ásia ocorre a transição do século XX para o século XXI; tal fenômeno consiste
no ocaso do Estado do capital capitalista e a entrada por uma porta feudal do
campo político mundial do Estado feudal mercantilista/liberal territorial/nacional
do dominado na China condensado na pequena burguesia do general intellect
gramatical de 500 milhões de indivíduos:
“A luta de classe do
general intelect contra o capital desintegrará a gramática do neoliberalismo.
Esta desintegração vai sendo acompanhada por uma decomposição do campo das
ideologias do capital. No lugar deste, se erguerá um campo de ideologias do
general intelecto”. (Bandeira da Silveira. 2022ª: cap. 9).
O Brasil vai aos trancos e barrancos sendo atropelado pelo
campo de ideologias do século XXI. Todavia, o velho século XX resiste com seus
espectros ideológicos do desenvolvimentismo e liberalismo puro na sociedade do
rico.
4
Lacan:
‘Mais de uma coisa no mundo é passível do efeito do
significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando
com el se articula o significante. Nunca, jamais surge sujeito algum até que o
fato seja dito”. (Lacan. S. 16: 65).
Ortega e Gasset:
“<Todo fato é já teoria>, Diz Goethe”. (Hegel: 23).
A tela gramatical do significante lacaniano diz o que é o
fato:
“<Essência> designou, antes de mais nada, aquilo que se
encontra no ser próprio de um indivíduo como o que ele é. [comme son
<quid> (sein Was]. Mas cada um desses <o que ele á, pode ser <posto
em ideia>. A intuição empírica ou individual pode ser convertida em intuição
de essência (ideação) – possibilidade que também não deve ser entendida como
possibilidade empírica, mas como possibilidade de essência. O apreendido
intuitivamente é então a essência pura correspondente ou eidos, seja esse a
categoria suprema, seja uma particularização dela, daí descendo até a plena
concreção“. (Husserl. 2026: 35-36; 1950: 19-20).
O eidos da tela gramatical sem significado contingente se
atualiza como efeito na conjuntura como fato do campo político textualizado em
imagens de concreção:
“A essência (eidos) é uma espécie de objeto [gramática do
fenômeno ou fato]. Assim como o que é dado na intuição individual ou
empírica é um objeto individual, assim também o que é dado na intuição de
essência é uma essência pura”. (
O Estado lacaniano sem significado contingente é uma essência
pura e, por outro lado, um fenômeno que se atualiza em conjunturas [como objeto
individualizado] ao longo da história da civilização política quando a tela
gramatical do fenômeno- o diz como fato.
5
O Estado lacaniano é um juízo com sua gramática de sujeito-verbo-predicado
existente na realidade eidética, na realidade transcendental da essência da civilização
policiada:
“Inversamente, todo juízo sobre essências pode, de maneira
equivalente, ser convertido num juízo geral incondicionado sobre singularidades
dessas essências como tais. Desta maneira, os juízos de essência puros (juízos
puramente eidéticos) pertencem a um mesmo grupo, qualquer que possa ser a forma
lógica dele. O que têm em comum é que não põem nenhum ser individual. Mesmo
quando – em pura generalidade eidética – formulam juízo sobre o individual”.
(Husserl. 2006: 40).
O Estado lacaniano é um juízo geral incondicionado pela
estrutura de dominação ideológica de suas singularidades contingentes. Ele é o
juízo da extração e distribuição da mais-valia pública entre dominante e
dominado. Seja na antiguidade, seja no feudalismo, seja na sociedade moderna, a
sociedade de classes sociais contingente não condiciona o Estado lacaniano como
juízo geral da essência da civilização política. As formas lógicas do Estado de entendimento
lacaniano pertencem ao mesmo grupo eidético no campo político da civilização
policiada. O Estado de entendimento lacaniano não põe ou repõe ser individual
no campo político, se ele é gramaticalizado como generalidade eidética, pois
ele é um ser geral da tela gramatical transcendental e, assim, ele existe na
consciência de Estado do campo político, se ela não estiver em estado de
desintegração. A globalização liberal do fim do século XX procurou pôr a
consciência de Estado em estado eterno de desintegração.
Na quase quarta década do século 21, o fenômeno de
desintegração da consciência de estado pertence ao campo das ideologias do
século XX. É o fenômeno epoché universal que faz emergir do real eidético a
consciência da essência do Estado de entendimento lacaniano dos jogos de
caligrafia:
“É, todavia, possível, em lugar desta universalidade da
abstenção passos isolados, uma maneira inteiramente diversa da epoché
universal, a saber, aquela que põe fora da ação, de um golpe, a efetivação
completa que atravessa a totalidade da vida natural do mundo e o entretecido
inteiro (latente ou manifesto) das validades, a efetivação que, como
<atitude natural> una, constitui precisamente o <simples>, o
<direito> viver imerso. Por intermédio da abstenção da efetivação que
inibe este modo de viver num curso até aqui ininterrupto, é alcançada uma
transformação completa da totalidade da vida, um modo de vida inteiramente
novo”. (Husserl. 2006: 122; 1976:170-171).
A epoché é o fenômeno da substituição da plurivocidade de
tela gramatical que rege o campo político e, por conseguinte, a substituição do
campo de ideologias do século XX pelo do século XXI como transformação inteira
da totalidade da vida, a emergência do real do século XXI de um modo de vida
inteiramente novo:
“e sobre a possibilidade da alteração radical da humanidade
inteira por meio dessa epoché, que se atinge a profundidade filosófica da
humanidade”.
6
“o grave, o que nos dá que pensar, não é de modo algum
prefixado por nós, nem somente estabelecido ou pre-sentado. Segundo a afirmação
em questão, o que de por si dá mais o que pensar, o gravíssimo, é isso; que
todavia não pensamos”. (Heidegger. 1972: 12).
Não pensamos o século XXI.
“Por isso tratemos de aprender a pensar. Caminhemos juntos
por esta via e não dirigimos exortações a ninguém. Aprender significa ajustar
nosso trabalho e não-trabalho ao que em cada caso se nos atribui como
essencial. Segundo seja a índole do essencial, segundo o âmbito de onde se verifica sua atribuição, será distinta a
correspondência e, com isto, a classe de aprendizado requerido”. (Heidegger.
1972: 19-20).
A relação do pensar como gravíssimo o século XXI aparece na
relação entre o campo das afecções e os efeitos deste na tela de juízo de
gosto. Tela poética:
“Assim, escutamos, no caminhar ao pensar, uma palavra de
poesia. Por que e com que direito, sobre que terreno e dentro de qual limites
nosso intento de pensar envolve um dialogo com a poesia, e mais ainda com o
hino desse poeta, é uma pergunta ineludível a qual, no entanto, so poderemos
discutir quando nós mesmos estejamos já encaminhados em um caminho do pensar”.
(Heidegger. 1972: 23).
O artista tem um papel importante na confecção do campo de
ideologias do século XXI. ele é um olhar sensível da epoché da atualidade ao
lado da filosofia que não nasceu e da psicanálise que a já nasceu (Bandeira da
Silveira: 2017):
“Nós, que hoje filosofamos, levamos a termo de fato a epoché
como uma alteração da atitude que, não contingentemente, mas de modo essencial,
a precedia a, a atitude doo ser-aí humano natural, ou seja, da atitude que, em
toda a sua historicidade, jamais tinha sido interrompida na vida e na ciência.
Mas é necessário, então, que se torne verdadeiramente inteligível que não se
trata somente de uma abstenção habitual sem significado, mas que com o olhar do
filósofo se torne pela primeira vez de fato inteiramente livre e, antes de mais
nada, livre do vínculo interior mais forte e mais universal de todos e, por
isso, mais oculto, o vínculo da pré-doação do mundo. Com esta libertação, e
nela, é dada a descoberta da correlação universal, inteiramente encerrada em si
e absolutamente autônoma, do próprio mundo e da consciência do mundo. Neste
último aspecto, é visada a vida da consciência da subjetividade realizadora da
validade do mundo, da subjetividade que, nas suas aquisições duráveis tem, em
cada caso, mundo, e, também, que sempre de novo ativamente se configura.
Resulta a conclusão, que deve ser apreendida na sua máxima extensão: a
correlação absoluta do ente de qualquer espécie e sentido, por um lado, e a
subjetividade absoluta, por outro, como constituinte, deste modo mais vasto, do
sentido e da validade do ser”. (Husserl. 2006: 123-124).
A epoché da plurivocidade de gramática dos Estados do século
21 tem na forma ideológicas da consciência uma fratura com a consciência
natural do século 20:
“Para chegar à clareza sobre isso, investiguemos a fonte
última de que se nutre a tese geral do mundo que estabelecemos na orientação
natural, a qual possibilita que eu encontre, na forma da consciência, um mundo
material existente diante de mim, que eu me atribuía um corpo neste mundo e que
eu mesmo nele me insira. Essa fonte última é manifestamente, a experiencia
sensível. Para nossos fins não basta, porém, considerar a percepção sensível,
que num certo bom sentido desempenha, entre os atos de experiência, o papel de
uma experiência originária, da qual todos
os atos de experiência tiram uma parte capital de sua força fundante. É próprio
de toda consciência perceptiva ser consciência da própria presença em carne e
osso de um objeto individual, que, por sua vez, é indivíduo no sentido lógico
puro ou numa derivação lógico-categorial dele. No nosso caso, que é o da
percepção sensível ou, mais distintamente, da percepção de coisa, o indivíduo
lógico é a coisa; e é suficiente considerar a percepção de coisa como
representante de todas as outras percepções (de qualidades, de eventos etc.)”.
(Husserl. 2006: 94-95).
O indivíduo lógico é a coisa, o Estado de entendimento dos
jogos de caligrafia é a coisa/lógica. A internacionalização da contradição
principal no mundo ente o Estado feudal, virtual da multinacional e o Estado feudal,
virtual/territorial asiático, eis o que é o gravíssimo parasse não pensar nele:
“Eu medito, em primeiro lugar, como homem <ingênuo>.
Vejo e toco a cosa mesma em carne e osso. Certamente, de quando em quando eu me
engano e não apenas quanto às qualidades percebidas, mas também quanto à
existência mesma. Sucumbo a uma ilusão ou alucinação. A percepção, então, não é
percepção <autêntica>. Mas se o é, vale dizer, se ela pode ser
<confirmada> no nexo da experiência atual, eventualmente com auxílio de
pensamento experimental correto, então a coisa percebida é efetiva e está
realmente dada ela mesma, em carne e osso, na percepção. Considerando -o
meramente como consciência e abstraindo do corpo e dos órgãos do corpo, o
perceber aparece então como algo inessencial em si mesmo, como um olhar vazio
que um <eu> lança na direção do próprio objeto, e que entra em contato
com este de uma maneira digna de e3spanto”. (Husserl. 2006: 95).
O eu político estoico ou hegemonikon (Elorduy: 26) é o
pensamento experimental do Estado de entendimento que percebe o campo político
conjuntural como seu objeto, que está dado em carne e osso na consciência
perceptiva do Estado de entendimento dos jogos caligráficos da guerra feudal e
da guerra barroca.
7
No mundo da vida da comunicação, há o Estado écrit (por
escrito) e o Estado écran. (Debray: cap. 2). Roland Barthes diz existir um
Estado da gramática:
“trata-se de relações sintáticas plenas de verdadeiros
semantemas lógicos (do tipo: apesar de, tal maneira que); em outras palavras, o
que a transcrição permite e explora é3 uma coisa de que a linguagem falada não
gosta, e que se chama em gramática a subordinação; a frase torna-se
hierárquica, desenvolve-se nela, como numa encenação clássica, a diferença dos
papéis e dos planos; socializando-se (já que passa para um público mais amplo e
menos conhecido), a mensagem reencontra uma estrutura de ordem; ‘ideias’,
entidades apenas discerníveis na interlocução, onde incessantemente são
ultrapassados pelo corpo, aqui são postas na dianteira, ali na retaguarda, mais
além em contraste; esta nova ordem – mesmo que a sua emergência seja sútil – é
servida por dois artifícios tipográficos, que se acrescentam, assim aos
‘ganhos’ da escritura: o parênteses, que não existe na fala e que permite
assinalar com clareza a natureza secundária ou digressiva de uma ideia, e a
pontuação que, como s sabe, divide o sentido (e não a forma, o som)”. (Barthes:
11-12).
O Estado por escrito é o fenômeno que suporta o Estado de
entendimento dos jogos de caligrafia, onde está o cruzamento da frase e da
imagem:
“Manifesta-se assim no escrito um novo imaginário, o que é o
do <pensamento>. Em todo lugar onde houver concorrência da fala e do
escrito, escrever quer dizer de uma certa maneira: eu penso melhor, com mais
firmeza; penso menos por vocês, penso mais pela <verdade>. Sem dúvida, o
outro está sempre aí, sob a figura anônima do leitor; também o
<pensamento>, encenado através das condições do script (por mais
discretas, por mais aparentemente insignificantes que sejam), continua tributário
da imagem que quero dar ao público de mim; mais do que uma série inflexível de
dados e de argumentos, trata-se aqui de um espaço tático de proposições, quer
dizer, afinal de contas, de posições. No debate de ideias, muito desenvolvido
hoje graças aos meios de comunicação de massas, todo sujeito é levado a
situar-se, a marcar-se, a formular intelectualmente, o que quer dizer:
politicamente. Não há dúvida, que nisso consiste a função atual do ‘dialogo’
público; contrariamente ao que se passa em outras assembleias (a judiciária ou a
científica, por exemplo), a persuasão, o arrancar de uma convicção já não é o
que verdadeiramente está em jogo nestes novos protocolos de troca; trata-se ,
antes, de apresentar ao público, depois ao leitor, uma espécie de teatro dos
empregos intelectuais, uma encenação das ideias (essa referencia ao espetáculo
não retira parte da sinceridade ou da objetividade das palavras tocadas, o seu
interesse didático ou analítico”. (Barthes: 12).
Barthes põe trivialmente o Estado eidético na forma da
comunicação do Estado écran. O Estado do livro já se anuncia como Estado
feudal, do proprietário feudal do discurso livresco:
“Picard volta-se contra mim sobretudo porque eu escrevi sobre
Racine, que é propriedade dele. É o seu quinhão. Enquanto eu pretendo que
Racine é de todos. É o mais escolar dos autores, aquele em que se refletem
todas as ideias que criamos acerca do gênio nacional francês. Em Racine
converge todo um conjunto de tabus que me parece excelente levantar”. (Barthes:
47).
Barthes diz:
“a sociedade inventa constantemente uma nova linguagem e
inventa ao mesmo tempo uma nova crítica”. (Barthes: 50).
Se Racine e Barthes são autores da sociedade o que é o Marx
do <crítica da economia política>? Na ciência política
materialista/dialética, Eles são aparelhos de hegemonia ou contrahegemonia de
Estado de entendimento dos jogos de caligrafia.
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