terça-feira, 24 de setembro de 2024

filosofia, ideologia, gramática - de Nietzsche a Hegel

 

José Paulo

 

A GRAMÁTICA barroca se constitui de cogitato (Taminiaux: 28): percepção, representação, raciocínio, juízo etc. O cogitare barroco:

[Nolite cogitare quomodo, aut quid loquamini, dabitur enim vobis in illa hora (Vieira: 71)] se constitui de práticas discursivas como o quid que consiste nas coisas que se dizem e a outra é o quomodo, isto é, o modo como se dizem. Assim é preciso meditar e estudar sobre o que se diz. O dito é sobre qual objeto? O objeto escolhido define uma época. Hegel escolheu o Estado e Marx o capital. O discurso universitário é tudo dizer sobre o objeto. Transformar o objeto e um latifúndio feudal e o professor universitário em proprietário feudal do capital cultural. Marx e Hegel são discurso universitário? Eles disseram tudo sobre os objetos escolhidos? Não!

O objeto [Estado, capital} insistem em aparecer na história como acontecimento com sentido determinado pela gramática do tempo, isto é, como estrutura na conjuntura. Assim, o conceito e fenômeno instituem a gramática das ideias e coisas no campo político conjuntural.

O modo de dizer o fenômeno [como campo político] é a inteligência ou quomodo. A inteligência evita o defeito de dizer pouco e o excesso no dizer, como faz o discurso universitário, em seu gozo feudal infinito, que não para de não funcionar como conhecimento barroco da coisa. Defeito e excesso são a contradição na gramática barroca, extremos no desejo de doar e no desejo de receber. O professor quer doar em excesso e o aluno quer receber de menos. A inteligência consiste em dizer no centro dos extremos do campo político de uma comunidade psíquica linguística como a universidade.

A crise atual da universidade consiste nesse discurso do universitário do tudo dizer, do tudo saber do objeto que não é um fenômeno. Enquanto, as relações técnicas de produção cibernéticas criam e recriam comunidades psíquicas linguísticas do pouco dizer [a juventude do quase nada receber de sentido discursivo não é efeito de uma conspiração da elite globalista], ou do não dizer nada, isto é, o grau zero do discurso barroco.

Vive-se a contradição materialista (que se desenvolveu na época atual) entre aquele que doa o discurso e aquele que o recebe como essência dessa conjuntura heteróclita?

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Nietzsche fala da filosofia como gramática, ele que tinha como profissão universitária a filologia:

“Le philosophe n’aurait-il pas le droit de s’élever au-dessus de la foi qui régit la grammaire? Tous nos respects aux governantes; mais ne serait-il pas temps pour la philosophie d’abjurer le foi des gouvernantes?” (Nietzsche. 1971b: 54).

A filosofia do super-homem o que é?

O super-homem é o sentido da terra, da vida, da saúde em um contraponto ao homem que é o sentido do céu, da mortificação e do envenenamento da vida, da doença social. (Nietzsche. 1998: 36; 1971a:22).

O homem é um híbrido de planta e animal. (Nietzche. 1998: 36). Esse conceito da filosofia gramatical do super-homem [que não é o supra-homem] vai definindo o campo político como resuperfície (superfície superfície) e superfície profunda (Nietzsche. 1977:15,12) como profundidade:

O Sol e o filósofo do super-homem descem a superfície profunda da escuridão:

“Por isso, é preciso que eu baixe às profundezas, como fazes à noite, quando desapareces atrás do mar, levando ainda a luz ao mundo de baixo, ó astro opulento”. (Nietzsche. 1998: 33).

Hannah Arendt fala das aparências de semblância autênticas e inautênticas que na filosofia gramatical diz respeito aos fenômenos do campo político conjuntural: todo fenômeno é a luz do sol da tela verbal narrativa [estrutura] na conjuntura, no contingente e no acaso:

“De acordo com a distinção de Portmann faz entre aparências autênticas e inautênticas, poder-se-ia falar de semblâncias  autênticas e inautênticas. Estas últimas, miragens como a de alguma fada Morgana, se desintegram espontaneamente ou desaparecem com a inspeção mais cuidadosa; as primeiras, como o movimento do Sol levantando-se pela manhã para pôr-se ao entardecer, ao contrário, não cederão a qualquer volume de informação científica, porque esta é a maneira pala qual a aparência do Sol e da Terra parece inevitável a qualquer criatura presa à Terra e que não possa mudar de moradia. Aqui estamos lidando com aquelas <ilusões naturais e inevitáveis> de nosso aparelho sensorial, a que Kant se referiu na introdução à dialética transcendental da razão”. (Arendt: 31).

A tela verbal metafísica gera um discurso de aparências de semblância autênticas e inautênticas como objetos, coisas, fenômenos do campo político conjuntural. Uma época histórica pode ser vista a partir de suas ilusões de comunidade psíquica linguística conjuntural. A felicidade é uma aparência de semblância de uma época passada, da antiguidade grega do ethos [ética a Nicômaco] ao século XX - de Freud:

“Não admira que, sob a pressão de todas essas possibilidades de sofrimento, os homens se tenham acostumado a moderar suas reivindicações de felicidade tal como, na verdade, o próprio princípio de prazer, sob a influência do mundo externo, se transformou no mais modesto princípio de realidade -, que um homem pense ser ele próprio, simplesmente porque escapou à infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento , e que, em geral, a tarefa de evitar o sofrimento coloque a de obter prazer em segundo plano”(Freud: 95-96).

A felicidade pode ter sido trocada pela comunidade psíquica linguística de narcose:

“As pessoas receptivas à influência da arte não podem atribuir um valor alto de mais como fonte de prazer e consolação da vida. Todavia, a suave narcose a que a arte nos induz, não faz mais do que ocasionar um afastamento passageiro das pressões das necessidades vitais, não sendo suficiente forte para nos levar a esquecer a aflição real”. (Freud: 100).

Nietzsche anteviu uma época sem a forma de gosto da felicidade:

“Vede, eu vos ensino o super-homem: ele é o mar onde pode submergir o vosso grande desprezo”.

“Que podeis experimentar de mais elevado? A hora do grande desprezo. A hora em que também a vossa felicidade se converte em náusea, do mesmo modo que a vossa razão e vossa virtude”

“A hora em que dizeis: ‘Que me importa a minha felicidade! Não passa de miséria, sujeira e mesquinha satisfação. Mas, justamente, é minha felicidade que deveria justificar a existência! (Nietzsche. 1998: 37).

Na comunidade psíquica linguística, a forma estética (forma de juízo de gosto} evita o caos no mundo do cérebro humano:

“Mas o caráter do mundo é, ao contrário, não pelo fato de ausência de uma necessidade, mas pelo de uma ausência de ordem, de encadeamento de forma, de beleza, de sabedoria, em resumo, de toda a estética humana [...]. Ora, como poderemos permitir-nos censurar ou louvar o universo! Defendamo-nos de lhe censurar uma falta de coração ou de razão, ou o contrário dessas coisas: não é nem perfeito, nem belo, nem nobre, e não quer se transformar-se em nada disso; não procura de forma alguma imitar o homem! Não é tocado por nenhum dos nossos juízos estéticos e morais. Não possui qualquer instinto de conservação, não possui qualquer instinto e ignora toda a espécie de lei. Defendemo-nos de dizer que eles existem na natureza. Essa só conhece necessidades: nela não há ninguém que ordene, nem obedeça, ninguém que infrinja”. (Nietzsche1982:138).

A relação entre comunidade psíquica linguística e mundo externo tem na filosofia das afecções de Aristóteles um sentido excepcional para se entender a vida na época atual.     

Os fenômenos da comunidade psíquica linguística são as afecções:

“Bem! parece que todas as afecções da alma estão ligadas ao corpo: ira, educação, medo, piedade, valentia, alegria, assim como o amor e o ódio, já que quando essas afecções aparecem, também o corpo é  afetado”. (Aristoteles: 109).

As afecções se expressam no campo político psíquico como: forma ideológica, forma gramatical e forma de juízo de gosto. Marx fez da forma ideológica da consciência o fenômeno soberano na comunidade psíquica linguística da sociedade e da política. Assim, é necessário falar, antes de tudo, da relação ente filosofia e ideologia.

Marx:

“Na consideração de tais transformações é necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas ´pelas quais os homens tomam consciência deste conflito e o conduzem até o fim”. (Marx. 1974: 136).

No “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, Marx fala das formas ideológicas – como espectro- no cérebro dos vivos. (Marx. 1974:335)).

A relação entre filosofia e ideologia se encontra na 11 Tese sobre Feuerbach:

“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo”. (Marx. 1974: 59).

A filosofia é uma forma ideológica no cérebro. Ora, ela é também uma forma de gramática a partir da qual se expressam as afecções:

“A euforia experimentada por Nietzsche ao sair de cada uma d suas crises, de 1877 a 1881, o leva cada vez mais a escrutar as forças que se exprimem através das perturbações do seu organismo [...]. o testemunho ativo ou passivo dessas forças: as mesmas que acabam de dar uma trégua ao seu cérebro, ao seu organismo: ou sejam, a ira, a ternura, a impaciência ou a calma, num contexto de motivos e circunstâncias já consagrados pelos termos usuais. A opressão ou a distensão, o afluxo ou o refluxo dessas forças traduzidas em palavras, em imagens, em raciocínios, em refutações, encontram nisso uma saída apenas aparente; logo chega o momento em que elas se confundem, se enredam, se tornam obscuras, foram; despachadas, desviadas para longe de um objetivo; nem a história, nem a ciência, nem a investigação , nem mesmo as formas de arte convergiam para esse objetivo; a redação é interrompida, as palavras apagadas e uma nova e espantosa agressão se exerce sobre seu cérebro”. (Klossowski:35).

A relação entre comunidade psíquica linguística e doença/saúde substitui o problema da moralidade como forma ideológica na filosofia como gramática:

“Para Nietzsche, a questão moral de saber o que é verdadeiro ou falso, justo ou iníquo é colocada agora nos seguintes termos: o que é mórbido ou são? O que é gregário ou singular? “

“[...]”

“Pareceu igualmente revelador a Nietzsche , sujeito à variações valetudinárias, sempre temeroso de que seu próprio pensamento se ressentisse dos seus estados de depressão, sondar esse ângulo, aquilo que os pensadores anteriores a ele tinham produzido como pensamento: a relação deles com a vida, com o ser vivo, ou seja, graus de altas e quedas de intensidade, sob todas as formas de agressividade, de tolerância, de intimidação, de angústia, de necessidade de solidão ou, ao contrário, do esquecimento de si mesmo, em meio à efervecência de uma época”. (Klossowski: 26). A comunidade psíquica linguística é criação e recriação de sentido a partir do caos cerebral:

“[...]. Toda significação continua sendo função do Caos gerador de sentido”.

“A intensidade obedece a um caos movediço sem começo nem fim”.

‘Desse modo, aparentemente no interior de cada um, move-se uma intensidade cujo fluxo e refluxo formam as flutuações significantes ou insignificantes do pensamento que, de fato, não pertence a ninguém, não têm começo nem fim”. (Klossowski: 82).

A comunidade psíquica linguística é uma nova espécie de conceito além de um conceito como sociedade. Ela insiste e resisti na relação com o Estado no campo político conjuntural, sendo ela um conceito transcendental que atravessa as épocas com essências eternas, isto é, afecções da alma/corpo:

“Se porém, contrariamente a esse elemento ondulante, cada um de nós forma um conjunto fechado e aparentemente delimitado, isso se dá em virtude desses vestígios de flutuações significantes: ou seja, um sistema de signos que chamarei aqui de código dos signos cotidianos. Onde começam, onde terminam nossas flutuações para que esses signos nos permitam significar, falar, tanto conosco quanto com o outro, sobre isso nada sabemos, a não ser que, nesse código, um signo responde sempre ao grau de intensidade, ora mais alto, ora mais baixo; ou seja, o eu, o pronome, sujeito de todas as nossas frases. É graças a esse signo, que, no entanto, não é nada, senão um vestígio de flutuação sempre variável, que nós nos constituímos como algo que pensa, que temos um determinado pensamento – embora não saibamos nunca ao certo se não seriam os outros que pensam e continuam a pensar em nós; mas o que é esse outro que forma o exterior, em relação a esse interior que acreditamos ser? Tudo se resume a um só discurso, ou seja, á flutuações de intensidade que correspondem ao pensamento de cada um e de ninguém”. (Klossowski: 83).  

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O que insiste e resiste ao tempo das épocas é a comunidade linguística pasíquica-indivíduo, -polis, -sociedade, -Estado. A comunidade é constituída por afecção, e formas: ideológica, gramatical, de gosto. As formas políticas são condensação das três formas supracitadas. Gramaticais: democracia, tirania, oligarquia. Nietzsche fala delas no <Zaratustra> no mesmo tempo narrativo de sua filosofia. Então, vejamos.

No nosso tempo, a comunidade psíquica linguística do século XX [últimos homens] resiste no século XXI ao lado da comunidade psíquica linguística do século XXI: extra-territorial homem ou super-homem ou homem virtual cibernético.

Nietzsche:

“O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sobre um abismo”. (Nietzsche. 1998: 38).

A filosofia do século XXI cria e recria o campo de ideologias caminhando na corda homem sobre o abismo, a escuridão barroca da superfície profunda do campo político conjuntural:

“Quero ensinar aos homens o sentido de seu ser: que é o super-homem, o raio que rebenta da negra nuvem chamada homem”

“longe deles e o sentido do que eu falo não diz nada aos ses sentidos. Ainda sou, para os homens, um ponto intermédi8o entre um doido e um cadáver”. (Nietzsche. 1998: 44).

O cadáver é uma afecção que se tornou universal a partir da comunidade psíquica linguística dos jesuítas:

“O risco de vida, é aí que está o essencial do que podemos chamar de ato d dominação, e seu garante não é outro senão aquele que, no Outro, é o escravo, como o único significante perante o qual o senhor se sustenta como sujeito. O apoio que nele encontra o senhor não é outra coisa senão o corpo do escravo, no que ele é perinde ac cadáver, digamos, para empregar uma formulação que não chegou à toa ao primeiro plano da vida espiritual. Mas o escravo, assim, está apenas no campo em que sustenta o senhor como sujeito”. (Lacan. S. 16: 370).   

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Nietzsche pode estar falando da comunidade psíquica linguística com dois extremos: o filósofo e o tirano?

Quem o filósofo da atualidade adora?

Nietzsche:

“Amo aquele que justifica os seres futuros e redime os passados: porque quer perecer dos presentes”. (Nietzsche. 1998: 39).

Os espectros ideológicos do futuro serão legitimados, os espectros do passado perdoados e as formas gramaticais do presente são mortais para os últimos homens:

“Amo aquele cuja alma é tão transbordante, que se esquece de sim mesmo e que todas as coisas estão nele: assim, todas as coisas tornam-se o seu ocaso”.

“Amo aquele cujo espírito e coração são livres: assim, nele, a cabeça é apenas vísceras do coração, mas o coração o arrasta para o ocaso”. (Nietzsche. 1998: 39).

O filósofo da atualidade é uma comunidade psíquica linguística que no qual todas as coisas do mundo nele enunciam o seu ocaso. O que é uma comunidade psíquica linguística com espírito e afeto livres? Mas nela o cérebro é a víscera do afeto, no cérebro se encontra as afecções/ vísceras do campo de afetos, e o campo de afetos o conduzem para o seu ocaso?  Há a comunidade psíquica linguística -filósofo em contradição com a comunidade psíquica linguística da forma de governo do tirano? Aquela vive o ocaso e esta quer se eterna?

Leo Strauss comparou a tirania antiga com a do século XX:

“Il n’est pas nécessaire de faire preuvre de beaucoup d’attention ou de réflexion pour s’apercevoir qu’il y a une différence essentiel entre la tyrannie telle que l’ont analysée les classiques et celle de notre temps. La tyrannie d’aujourd’hui, contrairement á la tyrannie classique , dispose de la <technologie> et de l’<ideologie>. D’une façon plus Générale, elle présuppose l’existence de la <Science>, c’est-à-dire d’une interprétation particulière de la science ou d’une certaine science. Inversement, la tyrannie classique, contrairement à la tyrannie moderne, trouvait en face d’elle, en fait ou virtuellement, une science qui n’avait pas pour but la <conquête> de la nature>, qui ne voulait être ni vulgarisée ni répandue”. (Strauss: 38).

A tirania moderna é vulgarizada e generalizada; a relação dela com o filósofo é substituída pela relação dela com o general intellect gramatical (Bandeira da Silveira; 2022), com a ciência política de Estado como ideologia e técnica, a ciência e a concepção política de mundo moderna como relação técnica de produção de conquista da natureza. Assim, ela tem um começo no campo da ciência natural:

“As coisas não se foram satisfeitas, em todo caso, pela nova matemática. O seu racionalismo depressa se alastra para a ciência da natureza, e cria para esta a ideia, inteiramente nova, da ciência matemática da natureza: a ciência galilaica, conforme, com justiça, foi há muito denominada. Tão logo esta enceta o passo de uma realização bem-sucedida, transforma-se também toda a ideia de filosofia (como ciência do universo, do ente como um todo)”. (Husserl: 16).

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Uma época é um novo começo, um leão que é o <querer> da criança inocente, mas que esquece um dia após o outro, que toma o territorial pelo virtual, como a tirania do general intellect gramatical:

“Mas dizei, meus irmãos, que poderá ainda fazer uma criança, que nem sequer pôde o leão? Por que o rapace leão precisa ainda tornar-se criança? “

“inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, um jogo, uma roda que gira a si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer <sim>”.

“sim, meus irmãos, para o jogo da criação é preciso dizer um sagrado <sim>: o espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido para o mundo conquista o seu mundo”. (Nietzsche. 1998: 53).

O novo começo inocente insiste como comunidade psíquica linguística-Estado virtual cibernético no sagrado dizer <sim> para o <criminoso>:

“Olhai-os, os bons e os justos! A quem odeiam mais que todos? Àquele que parte suas tábuas de valores, o destruidor, o criminoso – mas esse é o criador”.

“Olhai-os, os crentes de todas as fés! A quem odeiam mais que todos? Àquele que parte suas tábuas de valores, o destruidor, o criminoso – mas esse é o criador”.

 “Companheiros, procura o criador, e não cadáveres; nem tampouco, rebanhos e crentes. Participantes na criação, procura o criador, que escrevam novos valores em novas tábuas”.

“[...]”.

Companheiros, procura o criador, e tais que saibam afiar suas foices. Destruidores, serão chamados, e desprezadores do bem e do mal. Mas são eles que farão a colheita e a festejarão”. (Nietzsche. 1988: 47).

A época nietzschiana do super-homem do século XXI se choca com o passado do século XX dos últimos homens na atualidade?  

O diabo romântico de Goethe é uma criatura do Zaratustra? O campo heteróclito é o alfa e o ômega do século XXI? ele se encontra em toda parte?  

Goethe:

“MEFISTÓFOLES

Sou parcela do Além,

Força que cria o mal e faz o bem?

FAUSTO

Que dizes com palavras dúbias, meu herói?

MEFISTÓFOLES

Eu sou aquele que nega e destrói!

E o faço com razão; a obra da Criação

Caminha com vagar para a destruição.

Seria bem melhor se nada fosse criado.

Por isso, tudo aquilo a que chamas pecado,

Ou também <destruição>, ou simplesmente < o mal>

Constitui um elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-60).

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A divisão do trabalho cultural entre filosofia e ciência política da Academia, do Liceu, da universidade feudal é distinta da divisão do trabalho no qual a filosofia é uma ideologia em um contraponto agônico com a ciência da história ou da ciência política de Marx. Porém, a universidade americana criou um a ciência política na qual a política é um sistema autotélico em relação à sociedade e o Estado. Nietzsche é da linhagem doas antigos e medievais, dos renascentistas e barrocos. A ciência política materialista/dialética (Bandeira da Silveira: 2024a; 2024b) é antessala de uma filosofia da atualidade além da pós-modernidade. 

Nietzsche é da época do novo Estado mercantilista europeu como comunidade psíquica linguística alemã:

430. Cultura e casta – Uma cultura superior pode surgir apenas onde houver duas diferentes castas na sociedade: a dos que trabalham e a dos ociosos, os que são capazes de verdadeiro ócio, ou, expresso de maneira mais forte: a casta do trabalho forçado e a casta do trabalho livre. A consideração da partilha da felicidade não é essencial, quando se trata de produzir uma cultura superior; mas de todo modo a casta dos ociosos é mais capacitada para sofrer, sofre mais, seu gosto em existir é menor, e sua tarefa, maior”. (Nietzsche. 2000:238; 1988:264).

A casta superior do trabalho livre é o general intellect gramatical e na atualidade se tornou uma pequena burguesia proprietária de capital cultural na sociedade do capital feudal e no Estado territorial ou virtual. A concepção política de mundo dessa classe social estabelece o campo das ideologias do século XXI nos países desenvolvidos no Ocidente e Oriente. A diferença entre a casta nietzschiana do trabalho livre a pequena burguesia cultural de hoje é o gosto de existir eternamente para a última, tela de gosto expressa na comunidade psíquica linguística cyber:

“SE acontece uma troca entre as duas castas, de modo que as famílias e os indivíduos mais obtusos e menos intelectuais da casta superior são rebaixadas para a inferior e os homens mais livres desta têm acesso à superior, atinge-se um estado além do qual se vê apenas u mar aberto dos desejos indefinidos. – Assim nos fala cada voz, cada vez mais distantes, dos tempos antigos; mas onde ainda há ouvidos para escutá-la”. (Nietzsche. 2000: 238)  

No Brasil, o presidente Lula criou um sistema universitário estatal para incluir as classes baixas de: branco pobre, negro e índio. Tomando a si como modelo [que veio da pobreza do Sertão e se tornou o Príncipe moderno], viu na formação de uma comunidade psíquica linguística (CPL) dos de cima e dos debaixo o caminho para retirar o Brasil do subdesenvolvimento do capital feudal territorial. Viu aí a fabricação de uma CPL-aparelho de hegemonia nacional-popular barroco, um fenômeno que, como diz Nietzsche- faz analogia real-concreta com a antiguidade da politeia

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A gramática dialética de Nietzsche estabelece uma comunidade psíquica linguística transbordante de alegria e otimismo em uma aporia à gramática metafísica pessimista:

“Nossas mentes rechaçam a ideia do nascimento de uma coisa que pode nascer de uma coisa contrária, por exemplo: a verdade do erro; a vontade do verdadeiro da vontade de erro; o ato desinteressado do egoísmo ou a contemplação pura do sábio, da cobiça. Tal origem parece impossível: pensar assim parece próprio de loucos. As realidades mais sublimes devem ter outra origem, que lhes seja peculiar5. Não pode ser sua mãe esse mundo efêmero, falaz, ilusório e miserável, esta emaranhada cadeia de ilusões, desejos e frustrações. No seio do ser, no qual não morrerá nunca, num deus oculto, na <coisa em si> é onde deve se lobrigar seu princípio, ali e em nenhuma outra parte”.

“Este é o preconceito característico dos metafísicos de todos os tempos, este gênero de apreciação se encontra na base de todos seus procedimentos lógicos”. (Nietzsche. 1981: 17-18).

A concepção política de mundo da comunidade psíquica linguística burguesa americana é a metafísica determinista. Tal gramática do mundo é a força histórica que mantem o país no subdesenvolvimento, como descobriu o presidente Lula. A classe superior cultural tem a imagem textualizada das massas populares como algo abjeto:

“461. Príncipe e deus. – Frequentemente os homens se relacionam com seus príncipes como fazem com seu deus, o príncipe tendo sido muitas vezes o representante do deus, seu sumo sacerdote, ao menos. Tal sentimento, quase inquietante, de reverência, medo e vergonha, já se tornou e conti8nua se tornando mais fraco, mas ocasionalmente se inflama e se liga a pessoas poderosas. O culto ao gênio é um eco dessa veneração a príncipes e deuses. Em todo lugar onde s busca elevar indivíduos a um plano sobre-humano, surge também a tendencia a imaginar camadas inteiras do povo como sendo mais baixas e grosseiras do que são na realidade”. (Nietzsche. 2000: 248).

O príncipe e a massa popular são os dois extremos universais virtuais do campo político da civilização; a veneração ao príncipe e deuses [virtuais] são fenômenos da realidade virtual do campo político como essência. No contingente da conjuntura, pode ser que os agentes políticos não vejam a realidade virtual sagrada e não se guiem pelas essências, mas estas acabam por determinar a prática política em situações de crise catastrófica.  

A forma de governo presidencialista das Américas se pretende, é vivida como positivista, realidade de puros fatos positivos, isto é, sem fenômeno transcendental.        

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O próprio Marx fala da política como realidade transcendental:

“A Assembleia Nacional eleita está em relação metafísica com a nação ao passo que o presidente eleito está em relação pessoal com ela. A Assembleia Nacional exibe realmente, em seus representantes individuais, os múltiplos aspectos do espírito nacional, enquanto que no presidente esse espírito nacional encontra a sua encarnação. Em comparação com a Assembleia, ele possui uma espécie de direito divino; é presidente pela graça do povo”. (Marx. 1974: 346).

Ao falar do “grande homem” [para os franceses] Napoleão III, Marx vê o espírito nacional como a tela metafísica verbal narrativa do campo político francês. Aqui nessa “frase” se encontra a intervenção da filosofia de Marx em sua ciência política da plurivocidade de tela gramatical narrativa. (Faye:150).

Nietzsche fala também do grande homem

“460. O grande homem da massa – É fácil dar a receita para o que a massa denomina o grande homem. em qualquer circunstância, arranjem-lhe algo que lhe seja agradável, ou lhe ponham no cérebro que isto ou aquilo seria muito agradável e lhe deem tal coisa. Mas de modo algum imediatamente: deve-se lutar por isso com grande esforço, ou parecer lutar. A massa deve ter a impressão de que há uma força de vontade poderosa e mesmo invencível; ao menos ela deve parecer que está presente. Todos admiram a vontade forte, pois ninguém a tem, e cada um diz a si mesmo que, se tivesse, não haveria mais limite para si e seu egoísmo. Vendo-se que uma tal vontade forte produz algo bastante agradável à massa, em vez de escutar os apelos de sua própria cobiça, as pessoas ficam novamente admiradas e felicitam a si mesmas. Quanto ao resto, ele deve ter todas as qualidades da massa; quanto menos se envergonhar ela diante dele, tanto mais popular ele será. Logo, ele deve ser violento, invejoso, explorador, intrigante, adulador, servil, arrogante, tudo conforme as circunstâncias. (Nietzsche. 2000:248).

Na relação grande homem e massa, a política é um jogo de luta por conservar, defender, ou desintegrar imagens textualizadas do presidente da república, por exemplo.  Na época nietzschiana atual, a  grotesca subjetividade da alma da massa é explorada como imagens textualizadas na tela do cinema cyber. Aristóteles fez a filosofia do grotesco da multidão, massa que ele designou como bárbara em contradição com civilizado:

“Algumas coisas são agradáveis por natureza, e destas umas são irrestritamente agradáveis, enquanto outras o são em relação a determinadas classes de animais ou de pessoas; por outro lado, outras não são naturalmente agradáveis, mas algumas destas se tornam agradáveis por causa de aberrações, outras por causa de hábitos e outras ainda por causa de taras”.

“Sendo assim, é possível descobrir em relação a cada uma das espécies da segunda classificação disposições de caráter similares às identificadas a respeito do primeiro caso; refiro-me às disposições bestiais, como no caso da mulher que, segundo dizem, abria o ventre das mulheres grávidas e devorava os fetos, ou das coisas com que, de acordo com certas narrativas, algumas das tribos selvagens do litoral do mar Negro tinham o hábito deleitar-se – com alimentos crus ou carne humana, ou com a troca de crianças entre as tribos para serem seviciadas em suas festas – ou como na história que se conta de Fálaris”. (Aristóteles. 1992: 137).

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O grotesco é a tela de gosto do campo heteróclito sagrado, virtual; um conceito da teologia secular. (Funkenstein: 1-3). A tela grotesca tem uma versão fílmica no “            Gabinete do dr. Caligare”. UM conceito secular não teológico de heteróclito [como comunidade psíquica linguística-sociedade epocal] se encontra em Bataille:

“É porque a sociedade heterogênea dos sem eira nem beira de todos os países, os ‘imigrantes’ de hoje, para não falar, como outrora, dos ‘proletários’, ainda precisa acreditar nisto, neste Rei imortal, habitada como está por uma convicção inextinguível: não é possível que aquele que exerce o poder efetivo de punir ou de perdoar não se situe em uma esfera tão heterogênea como aquela em que frequentemente se encontram, excluídos tal como são de toda prosperidade e situados abaixo do que se costuma chamar, depois da morte do rei, de um ‘estado de direito’, supostamente protetor universal dos sujeitos que continuam, contudo, pensando que não saberiam viver de forma justa sem Rei, uma vez que é graças somente a ele que eles poderiam dispor do famoso habeas corpus”. (Nassif: 88).

A tela verbal do heteróclita se encontra em Bataille. Vejam com os próprios olhos as imagens textualizadas do grotesco na relação com o belo, na comunidade psíquica linguística-espécie humana:

“A beleza não deixa de ser subjetiva, variando de acordo com a inclinação dos que a apreciam. Em certos casos, podemos crer que certos animais a apreciam como nós, mas a hipótese ´é temerária. Retenho apenas que, na apreciação da beleza humana, deve intervir a resposta dada ao ideal da espécie. Este ideal varia, mas é dado num tema físico suscetível de variações, sendo algumas delas muito infelizes. A margem de interpretação pessoal não é tão grande. Seja como for, eu devia reter um elemento muito simples, que intervém na apreciação tanto da beleza animal como na beleza humana. [A juventude, em princípio, soma-se a esse elemento primeiro].

‘Chega a um elemento que, apesar de não aparecer claramente, não deixa de intervir no reconhecimento da beleza de um homem ou de uma mulher. Um homem, uma mulher são em geral julgados belos na medida em que suas formas estão distantes da animalidade”.(Bataille. 1987: 134).

  A gramática do belo e do grotesco [que vai além do feio e pode incluir o agradável] tem uma verdade?

A imagem da verdade:

“Do que eu disse, parece-me necessário reter uma verdade indubitável. Mas a verdade contrária, que só aparece num segundo momento, não é menos certa. A imagem da mulher desejável, que se nos oferece como tal, seria insipida – ela não provocaria o desejo – se ela não anunciasse, ou não revelasse, ao mesmo tempo, um aspecto animal secreto, de uma enorme sugestão. A beleza da mulher desejável anuncia suas partes pudendas: justamente suas partes pilosas, suas partes animais. O instinto inscreve em nós o desejo dessas partes. Mas, para além do instinto sexual, o desejo erótico responde a outros componentes. A beleza negadora da animalidade, que desperta o desejo, vai dar na exasperação do desejo, na glorificação das partes animais”. (Bataille1987. 134).

A comunidade psíquica linguística-gosto mais costumes é a essência do grotesco, do heteróclito. O iluminismo foi a preocupação de evitar o grotesco e o heteróclito no campo político europeu do modernismo moderno. As duas grandes guerras mundiais do século XX aparecem como resposta da comunidade psíquica linguística [do grotesco e do heteróclito] europeia  ao iluminismo da glorificação do belo da civilização policiada:  

“Mesmo que as situações variem de acordo com os gostos e os costumes, uma coisa é certa: a beleza ( a humanidade} de uma mulher ajuda a tornar menos sensível – e chocante – a animalidade do ato sexual. O que importa em primeiro lugar é a beleza, visto que a fealdade não pode ser maculada, e a essência do erotismo é a mácula. A humanidade, significativa do interdito, é transgressão no erotismo. Ela é transgredida, profanada, maculada. Quanto maior a beleza, maior a conspurcação. (Bataille. 1987: 136).     

Bataille fala da relação entre belo (elite, rico), agradável e o grotesco (classes baixas, pobre) como guerra social por imagens a partir da comunidade psíquica linguística- cristã:

‘Com o cristianismo a alternância da glorificação e de angústia, de suplícios e de orgias, constituindo a vida religiosa, é levada a se conjugar por um tema mais trágico, a se confundir com uma estrutura social doente, dilacerando-se com a mais suja crueldade. O canto de triunfo dos cristãos glorifica Deus porque ele entrou no jogo sanguinolento da guerra social, porque ele ‘precipitou as potências do alto de sua grandeza e exaltou os miseráveis’. Seus mitos associam a ignomínia social, a desgraça cadavérica do supliciado ao esplendor celestial. É assim que o culto assume a função total de oposição de forças de sentidos contrários, repartida até então entre os ricos e os pobres, dos quais uns consagram os outros à perda. Ele se liga estreitamente ao desespero terrestre, sendo ele próprio apenas um epifenômeno do ódio sem medida que divide os homens, mas um epifenômeno que tende a se substituir ao conjunto dos processos divergentes por ele resumidos. [...] a religião não procura de modo algum fazer desaparecer o que outros consideraram como a chaga humana: sob sua forma imediata, na medida em que seu movimento permaneceu livre, a religião, ao contrário, se atola em uma imundice indispensável a seus termos extáticos”.

‘O sentido do cristianismo é dado no desenvolvimento das consequências delirantes da despesa de classes, em uma orgia agonística mental praticada às expensas da luta real. (Bataille. 1975: 43).

A guerra barroca dos abjetos contra os nobres é parte da constituição da tela verbal narrativa da comunidade psíquica linguística-espécie humana:

“Todavia, por mais importância que tenha adquirido na atividade [prática política] humana a humilhação cristã é apenas um episódio na guerra histórica dos abjetos contra os nobres, dos impuros contra  os puros. Como se a sociedade consciente de seu dilaceramento intolerável tivesse ficado por algum tempo inteiramente embriagada, a fim de usufruir disso sadicamente: a embriaguez mais forte não esgotou as consequências da miséria humana e, com as classes exploradas, opondo-se às classes superiores com uma maior lucidez, nenhum limite concebível pode ser determinado para o ódio. Só, na agitação histórica, a palavra Revolução domina a confusão habitual e carrega com ela promessas que respondem às exigências ilimitadas das massas: os patrões, os exploradores, cuja função é criar formas desprezadoras que excluem a natureza humana – tal como essa natureza existe no limite da terra, isto é, da lama -, uma simples lei de reciprocidade exige que se espere que sejam entregues ao medo, na grande noite em que suas belas frases serão cobertas pelos gritos de morte das insurreições. Está aí a esperança sanguinolenta que se confunde a cada dia com a existência popular e que resume o conteúdo insubordinado da guerra de classes”. (Bataille. 1975: 43).

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450. Novo e velho conceito de governo – Diferenciar entre governo e povo, como se duas distintas esferas de poder, uma mais forte, mais elevada, e outra mais fraca, mais baixa, negociassem e entrassem em acordo, é um traço da sensibilidade política herdada, que ainda hoje corresponde exatamente ao dado histórico das relações de poder na maioria dos Estados. Quando, por exemplo, Bismarck define a forma constitucional como um compromisso entre governo e povo, ele fala segundo um princípio que tem sua razão na história (e, precisamente por isso, também seu grão de irracionalidade, sem o qual nada humano pode existir)”

Como forma de compromisso constitucional entre governo e soberania popular, o Estado é uma prática política - lógico e, ao mesmo tempo, infralógico ou supralógico:

“Mas agora devemos aprender – conforme um princípio que brotou puramente do cérebro e que ainda deve fazer história – que o governo nada é senão um órgão do povo, e não um providente e venerável <acima> que se relaciona a um <abaixo> habituada à modéstia”.

Como realidade objetiva da atualidade saída do cérebro da comunidade psíquica linguística-governo-povo-nietzschiano, há uma superfície profunda, isto é, não há o encima (governo) e o embaixo (soberania popular):

“Antes de aceitarmos tal formulação do conceito de governo, que até o momento é a-histórica e arbitrária, ainda que mais lógica, vamos considerar as consequências: pois a relação entre governo e povo é a mais forte relação exemplar, o modelo segundo o qual se forma involuntariamente o comércio entre professor e aluno, pai e família, patrão e empregado, comandante e soldado, mestre e aprendiz. Todas essas relações se reorganizam agora um pouco, sob a influência da forma constitucional de governo que domina: elas se tornam compromissos. Mas como deverão elas se transformar e se deslocar, mudar de nome e de natureza, quando esse novíssimo conceito tiver se apoderado de todas as cabeças” – para o que , no entanto, talvez necessite de mais um século. Nisso nada é mais desejável do que cautela e uma lenta evolução”. (Nietzsche. 2000:243).

 Em uma assembleia recente com uma multidão de operários, o presidente Lula diz: <eu sou vocês, vocês são eu>. Trata-se da noção de hegemonikón [eu político estoico] a partir do qual a fronteira ideológica burguesa (acima/embaixo) é abolida no discurso político do <grande estadista> - que para a multidão <faz o tempo na política>:

“449. Aqueles que fazem o tempo na política – Assim o povo, no caso daquele que entende do tempo e o prevê com um dia de antecedência, supõe secretamente que ele faz o tempo, mesmo pessoas cultas e sabedoras atribuem a grandes estadistas, fazendo uso da crença supersticiosa, todas as importantes mudanças e conjunturas que sobrevieram durante seu governo, como sendo obra particularmente sua,, se está claro que eles sabiam algo sobre elas antes dos outros e que então fizeram seus cálculos: eles são igualmente vistos como <fazedores do tempo> - e essa crença não é o instrumento menor do seu poder”. (Nietzsche. 2000: 242).

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Heidegger elevou as alturas altíssimas do céu dos céus da gramática o conceito comunidade psíquica linguística-nietzschiano:

16. As características essenciais do ente como tal.

5) Ali, o ente como mundo – vida- Dasein – realidade como ser.

6) o caos eterno da necessidade”. (Heidegger. 2015: 25).

A comunidade psíquica... é ente e necessidade como duas regiões dominantes em contradição no cérebro da espécie humana. Como diz Nietzsche, as estruturas gramaticais de estado já se encontram no cérebro humano. O Estado neomercantilista europeu já se encontrava no cérebro alemão. (Nietzsche. 2000: 441, p. 239):

“440. De sangue – o que homem e mulheres de boa linhagem têm como vantagem diante dos outros, e que lhes dá o direito indubitável a uma maior estima, são as duas artes crescentemente aumentadas pela hereditariedade: a arte de saber comandar e a arte da obediência orgulhosa. – Em todo lugar onde comandar é parte da vida diária (Como no mundo da indústria e do comércio [mundo do capital feudal]) forma-se algo semelhante ás linhagens ‘de sangue’, mas em que falta a atitude nobre da obediência [por causa da guerra de classe], que naquelas é uma herança de condições feudais e que no clima de nossa cultura já não cresce”. (Nietzsche. 2000: 239).  

O real é o objeto sangue e hereditariedade da monarquia feudal, do Estado feudal  que é substituído na sociedade do capital capitalista pelo choque entre o Estado liberal do capital capitalista e o Estado feudal do neo-mercantilismo. A história da modernidade é a alternância da época mercantilista com a época liberal em um campo político transcendental/imanente conjuntural , sobretudo, o choque entre o Estado secular e o Estado religioso:

“472. Religião e governo – Enquanto o Estado ou, mais precisamente, o governo se souber investido da tutela de uma multidão menor de idade, e por causa dela considerar se a religião deve ser mantida ou eliminada, muito provavelmente se decidirá pela conservação da religião. Pois, esta satisfaz o ânimo do indivíduo em tempos de perda, de privação, de terror, de desconfiança, ou seja, quando o governo se sente incapaz de diretamente fazer algo para atenuar o sofrimento psíquico da pessoa: mesmo em se tratando de males universais, inevitáveis, inicialmente irremediáveis (fome coletiva, crises monetárias, guerras), a religião confere à massa uma atitude calma, paciente e confiante. Onde as deficiências necessárias ou casuais do governo de Estado, ou os perigosos efeitos de interesses dinásticos, fazem-se notórias para o homem perspicaz e o dispõem á insurreição, os não perspicazes pensam enxergar o dedo de Deus e pacientemente se submetem ás determinações do alto (conceito em que habitualmente se fundem os modos humano e divino e governar): assim se preserva a paz civil interna e a continuidade do desenvolvimento. O poder que reside na unidade de afeto popular, em opiniões e fins comuns a todos, é protegido e selado pela religião, excetuando os raros casos em que o clero e o poder de Estado não chegam a um acordo quanto ao preço e entram em conflito. Normalmente, o Estado sabe conquistar os sacerdotes, porque tem necessidade de sua privadíssima, oculta educação as almas, e estima servidores que aparentemente, exteriormente, representam um interesse bastante diverso. Sem a ajuda dos sacerdotes nenhum poder é capaz, ainda hoje, de tornar-se <legítimo>: como bem entendeu Napoleão. – Assim, governo tutelar absoluto e cuidadosa preservação da religião caminham necessariamente juntos”. (Nietzsche. 2000: 251-252).

A relação entre Estado democrático e religião é outro aspecto do campo político europeu que voa nas Américas:

“Nisto se pressupõe que as pessoas e classe governantes sejam esclarecidas a respeito das vantagens que a religião lhes oferece, e que até certo ponto se sintam superiores a ela, na medida em que a usam como instrumento: eis aqui a origem do livre-pensar. – Mas o ocorre, quando, começa a prevalecer a concepção totalmente diversa de governo que é ensinada nos Estados democráticos? Quando nele se enxerga apenas o instrumento da soberania/vontade popular, não um <alto> em comparação com um <baixo>, mas meramente uma função do único soberano, do povo? Também nesse caso o governo só poderá ter a mesma atitude do povo ante a religião; toda propagação das Luzes terá de encontrar eco em seus representantes, uma utilização e exploração das forças motrizes e consolação religiosas para fins estatais não será tão fácil (a não ser que poderosos líderes partidários exerçam temporariamente uma influência semelhante à do despotismo esclarecido). Mas se o Estado já não pode tirar proveito da religião, ou se o povo pensa muito variadamente sobre coisas religiosas para permitir ao governo um procedimento homogêneo e uniforme nas medidas religiosas – então necessariamente aparecerá o recurso de tratar a religião como assunto privado e remetê-la à consciência e ao costume de cada indivíduo. (Nietzsche. 2000: 252-253).

A filosofia da gramática da ciência política de Estado estabelece a analogia entre Nietzsche e a comunidade psíquica linguística que alterna entre o Estado mercantilista democrático e o Estado liberal da globalização:

“Enfim- pode-se dizer com segurança – a suspeita em relação a todos os que governam, a percepção do que há de inútil e desgastante nessas lutas de pouco fôlego tem de levar os homens a uma decisão totalmente nova: a abolição do conceito de Estado, a supressão da aporia <privado e público>. As sociedades privadas incorporam passa a passo os negócios do Estado: mesmo o resíduo mais tenaz do velho trabalho de governar (por exemplo, as atividades que s destinam a proteger as pessoas privadas umas das outras) termina a cargo de empreendedores privados”. (Nietzsche. 2000: 254).

A gramática nietzschiana acima se tornou hegemônica no campo político mundial na globalização liberal. No entanto, os países recuaram na desintegração da gramática do Estado. O Brasil não acompanhou esse movimento mundial. Assim:

“O desprezo, o declínio e a morte do Estado, a liberação da pessoa privada (guardo-me dizer: do indivíduo), são efeito da noção democrática de Estado, nisso está sua missão. Se ele cumpriu a sua tarefa – que, como todo humano, traz em si muita razão e muita desrazão -, se todas as recaídas da velha doença foram superadas, então se abrirá uma nova página no livro de fábulas da humanidade, em que serão lidas todas as espécies de histórias estranhas e talvez alguma coisa boa. (Nietzsche. 2000: 254).

No campo político da conjuntura atual, a realidade virtual [religiosa] e a realidade territorial [secular] aparecem em aporia implosiva?

Nietzsche:

“Repetindo brevemente o que foi dito: os interesses do governo tutelar e os interesses da religião caminham de mãos dadas, de modo que, quando esta última começar a definhar, também o fundamento do Estado é abalado. A crença numa ordenação divina das coisas políticas, no mistério que seria a existência do Estado, é de procedência religiosa: se desaparecer a religião, o Estado inevitavelmente perderá seu antigo véu de Ísis e não mais despertará reverência. Observada de perto, a soberania popular serve para afugentar também o último encanto superstição no âmbito destes afetos; a democracia moderna é a forma histórica do declínio do Estado. [...]. Confiemos, portanto, na <sagacidade e interesse pessoal dos homens>, para que o Estado subsista por bastante tempo ainda, e sejam rechaçadas as tentativas desintegradoras de supostos sábios zelosos e precipitados!”.  (Nietzsche. 2000: 254-255).              

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Há diferença entre a <profecia racional> de Weber e a gramática sobre o futuro de Nietzsche? 

Weber:

“Para quebrar a força de tal magia e impregnar uma vida nova, com racionalismo, somente foi possível, em todos os tempos, através das profecias racionais. Todavia, nem toda profecia destruiu a invocação mágica. É possível que um profeta, acreditado, pelos milagres e outros meios, quebre as normas sagradas e tradicionais. Às profecias cabem o mérito de haver rompido o encanto mágico do mundo, criando o fundamento para a nossa ciência moderna, para a técnica e, por fim, o capitalismo”. (Weber. 1968: 316).

A partir de sua ciência política Weber fez uma profecia racional sobre o pós-capitalismo:

“Se acabasse eliminado o capitalismo privado, a burocracia estatal dominaria sozinha. As burocracias privada e pública – que agora trabalham uma ao lado da outra e, ao menos possivelmente, uma contra a outra, vigiando-se, pois, mais ou menos reciprocamente, fundir-se-ia, então, numa hierarquia única. A situação seria análoga à do Egito da Antiguidade, só que assumiria uma forma incomparavelmente mais racional e, por isso, muito mais inescapável”. (Weber. 1999: 541).

A potência da tela gramatical é diferente da profecia racional que não se realiza. O desenvolvimento da potência da essência da gramática depende da história imanente no campo político de contexto racional.

Nietzsche:

“475. O homem europeu e a destruição das nações – O comércio e a indústria, a circulação de livros e cartas, a posse comum de toda a cultura superior, a rápida mudança de lar e de região, a atual vida nômade dos que não possuem terra – essas circunstâncias trazem necessariamente um enfraquecimento e por fim uma desintegração das nações, ao menos das europeias: de modo que a partir delas, em consequência de contínuos cruzamentos, deve surgir uma raça mista, a do homem europeu”. (Nietzsche. 2000: 257).

Os fenômenos enumerados da desintegração do Estado-nação são precisos: o capital que é uma gramática que não tem pátria; a cultura superior que se transforma no general intellect gramatical do cosmopolitismo mundial; os povos nômades que são a causa da desterritorialização da segurança do território nacional, todos esses fenômenos se tornaram a história do campo político europeu e um contexto racional que acabaram por fabricar a União Europeia da globalização liberal do final do século XX.

O campo ditatorial nacionalista virtual artificial é um fenômeno do século XXI. Há uma analogia dele com os fenômenos da gramática de Nitzsche:

‘Hoje em dia o isolamento das nações trabalha contra esse objetivo, de modo consciente ou inconsciente, através da geração de hostilidades nacionais, mas a mistura avança lentamente, apesar dessas momentâneas correntes contrárias; esse nacionalismo artificial é, aliais, tão perigoso como era o catolicismo artificial, pois é na essência um estado de emergência e de sítio que alguns poucos impõem a mitos, e que requer astúcia, mentira e força para manter-se respeitável. Não é o interesse de muitos (dos povos), como se diz, mas sobretudo o interesse de algumas dinastias reinantes, e depois de determinadas classes do comércio e da sociedade, o que impele a esse nacionalismo; uma vez que se tenha reconhecido isto, não é preciso ter medo de proclamar-se um bom europeu e trabalhar ativamente pela fusão das nações no que os alemães, graças à sua antiga e comprovada qualidade de interprestes e mediadores dos povos, serão capazes de colaborar”. (Nietzsche. 2000: 257).

O nacionalismo de hoje é pensamento mágico de uma época de crise do campo político de contexto racional europeu e norte-americano. No Brasil, ele é uma farsa do simulacro de nacionalismo que adora os EUA, e quer se submeter ao Estado norte-americano. O lugar do judeu na gramática nietzschiana evoca Hegel?

Hegel fala da gramática das afecções dos povos orientais como determinante do ser desses povos. E Nietzsche:

“Diga-se de passagem que o problema do judeus existe apenas no interior dos Estados nacionais, na medida em que neles a sua energia e superior inteligência, o seu capital de espírito e de vontade, acumulado de geração em geração em prolongada escola de sofrimento, devem preponderar numa escala que desperta inveja e ódio, de modo  que em quase todas as nações de hoje – e tanto mais quanto mais nacionalista é a atitude que adotam – aumenta a grosseria literária de conduzir os judeus ao matadouro, como bodes expiatórios de todos os males públicos e privados. Quando a questão não for mais conservar as nações, mas criar uma raça europeia mista que seja a mais vigorosa possível, o judeu será um ingrediente tão útil e desejável como qualquer outro vestígio nacional. características desagradáveis, e mesmo perigosas, toda nação, todo indivíduo tem: é cruel exigir que o judeu constitua exceção. [...].  gostaria de saber o quanto, num balanço geral, devemos relevar num povo que, não sem culpa de todos nós, teve a mais sofrida história entre todos os povos, e ao qual devemos o mais nobre dos homens (Cristo), o mais puro dos filósofos (Spinoza), o mais poderoso dos livros e a lei moral mais eficaz do mundo. e além disso: nos tempos mais sombrios da Idade Média, quando as nuvens asiáticas pesavam sobre a Europa, foram os livres-pensadores, eruditos e médicos judeus que, nas mais duras condições pessoais, mantiveram firma a bandeira das Luzes da independência intelectual, defendendo a Europa contra a Ásia”. (Nietzsche. 2000: 257-258).

Nietzsche fala do iluminismo judeu medieval em uma época de trevas feudais. O iluminismo é um fenômeno universal da civilização política. O judeu aparece como a força pratica do iluminismo feudal. O iluminismo começa na antiguidade:

“tampouco se deve menos aos seus esforços o fato de finamente vir a triunfar uma explicação do mundo mais natural, mais conforme a rzão e certamente não mitológica, e de o anel da cultura que hoje nos liga às Luzes da Antiguidade greco-romana não ter se rompido. Se o cristianismo tudo fez para orientalizar o Ocidente, o judaísmo contribuiu de modo essencial para ocidentalizá-lo de novo: o que, num determinado sentido, significa fazer da missão e da história da Europa uma continuação da grega”. (Nietzsche. 2000: 258).

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Hegel fala do campo das afecções cerebrais de povos orientais:

‘Como concepção dominante encontramo-lo sobretudo entre os árabes que, nos desertos, nas imensas extensões planas cobertas de um céu puro e queimadas por um sol ardente, só podiam contar, para s defender, com a sua coragem e a força do seu braço, com os seus camelos, cavalos, lanças e espadas. É aqui que, a contrário da moleza e inércia indus, e do panteísmo da poesia islâmica mais tardia, se veem formar caracteres animados da mais feroz independência e que deixam aos objetos exteriores o que eles têm de realidade definida e estável. A este sentimento de independência individual liga-se então um conjunto de qualidades que delas são corolários: a amizade livre, a hospitalidade generosa, a nobre distinção nas atitudes e nas relações cotidianas, e também defeitos tais como a sede infinita de vingança, a lembrança inapagável de um ódio que alimenta paixão implacável e uma crueldade sem qualquer sentimento. O que se passa neste domínio parece puramente humano e no círculo humano encerrado; são actos de vingança, relações amorosas, dedicações à prova de todos os sacrifícios, factos de onde desaparece qualquer elemento maravilhoso e fantástico, de tal modo que tudo acontece de maneira firme e precisa tendo em conta as relações necessárias que existem entre as coisas”. (Hegel. 1993: 243).

A gramática do povo árabe faz pendant com a gramática do povo judeu no contexto racional de sentido:

“Já antes encontramos entre os Hebreus a mesma concepção dos objetos reais, isto é, a mesma redução das coisas à sua medida e às suas relações firmes e estáveis, o mesmo reconhecimento da sua liberdade e não apenas da sua utilidade. Uma firme independência de carácter e a crueldade na vingança e no ódio, eram também traços inerentes à primitiva nacionalidade  judaica mas com a diferença de que, entre os Judeus, as manifestações e os fenômenos mais poderosos da natureza são considerados e representados menos por si mesmos do que por serem testemunhos do poder de Deus em face do qual toda a independência desaparece; e até o ódio e as perseguições, em vez de serem pessoas, voltam-se contra povos inteiros, como vingança nacional ao serviço de Deus”. (Hegel. 1993: 243).

A época da globalização liberal consistiu na desintegração do Estado nacional, nações etc. O fenômeno da desintegração da concepção política de mundo dos povos orientais no Oriente Médio é o que sobrou da prática política do Estado liberal da globalização pós-modernista -  das formas ideológicas do século XX no século XXI.

    

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