sábado, 2 de novembro de 2024

NELSON RODRIGES - Do teatro do perverso

 

José Paulo

 

A época da peça “A mulher sem pecado” é o início da década de 1940. O campo político teatral tem como significante-semblante a capital da República do ditador de Getúlio Vargas, um moralista em costumes, que residia na capital, no Rio; a peça tem a classe média carioca como cena de uma gramática de sentido rodriguiana, cujo pater família, o dr. Olegário, vive em uma cadeira de rodas, recentemente paralítico. Bem. Olegário é o sujeito carioca rodriguiano? Lacan é especialista seguro do sujeito:

“Isso nos mostra a que ponto a linguagem desenha em sua própria gramática os chamados efeitos do sujeito. E abarca o suficiente do que a princípio só foi descoberto pela lógica para que possamos tentar dar um sentido – porque este é o único caso, com razão, em que o termo sentido se justifica – à audição desse significante, Há-um. É o que eu faço a partir de alguns dos apelos jaculatórios que aqui profiro”. (Lacan. S. 19: 150).

A gramática de sentido lógico do sujeito:

“Mas, então, o que o saber que se certifica da verdade? Esse saber não é nada senão aquele que provém da notação resultante do fato de postular a verdade a partir do significante. Essa postura é bem difícil de sustentar, mas se confirma por fornecer um saber não iniciático, posto que procedente, digam o que disserem, do sujeito que um discurso sujeita como tal à produção, desse sujeito que há matemáticos que qualificam de criativo. Resta deixar claro que é realmente o sujeito que se trata, o que é corroborado pelo fato de que, na minha lógica o sujeito se exaure ao se produzir como efeito de significante, mantendo-se tão distinto deste, é claro, quanto um número real de uma sequência cuja convergência é racionalmente assegurada. (Lacan. S. 19: 166).    

O sujeito postula a verdade a partir do significante/semblância. (Lacan. S. 18); ele se exaure como efeito da gramática de sentido; e ele, por outro lado, se mantém logicamente distante do significante. A gramática do sujeito evoca o significante-semblância. (Lacan. S. 18: 114). Os discursos de Lacan são o mesmo que a gramática:

‘Canso de dizer que essa noção de discurso deve ser tomada como liame social, fundada sobre a linguagem, e parece então não deixar de ter relação com o que na linguística se especifica como gramática, nada parecendo modificar-se com isso”. (Lacan. S.20:21).

Discurso como gramática é aparelho de hegemonia de Estado reconhecido e seguido (Gramsci. 1977: 2343). pelas comunidades psíquicas de significante no campo político da história.         

 

Na peça “A mulher sem pecado”, a cena teatral perversa aparece com a relação da gramática de sentido do dr. Olegário com Umberto, chofer, pois, o chofer é espião bissexto, que espiona o olhar da mulher de Olegário:

Olegário. – E você viu o que? (com desconfiança). Eu acho que você me esconde as coisas! Eu pago para obter informações! (noutro tom). Ela foi onde!

Umberto. – À modista.

[...]

Umberto. – Demorou lá...

Olegário. – Quanto tempo?

[...]

Olegário. – E depois?

Umberto. – Depois foi à Confeitaria Colombo. Lá demorou mais ou menos uma hora e meia.

Olegário (surpreso) – Uma hora e meia na Colombo! (noutro tom) Sentou-se sozinha?

Umberto. – Não Encontrou lá três moças. Duas vêm aqui: d. Bárbara e d. Sandra. A outra não conheço.

[...]

Olegário. – (ríspido) – Que só, o quê? O que é que ouve na Colombo? Quero saber tudo!

Umberto. – Eu fiz como o senhor disse: fiquei vendo se ela olhava para fora

O olhar da mulher de Olegário funciona como um objeto fetiche, objeto a da gramática de sentido de Lacan; um objeto do gozo perverso de Olegário, um mais-gozar extraído da narrativa de um subalterno, o chofer. A relação da classe média rica carioca com as classes inferiores assujeitadas ao senhor consiste na gramática de sentido do gozo perverso.     

Olegário (com atenção renovada) – E então?

Umberto. – (com certa intenção) – Bem, de vez em quando ela olhava para fora.

[...]

Olegário. – D. Lídia estava olhando para alguém, para alguém... ‘particularmente’? olhar sem querer, por acaso, ela podia olhar. Mas eu quero saber é se olhava para alguém com insistência.

Umberto. (depois de um silencio, em voz baixa) – Na calçada estava aquele sujeito coxo.

Olegário. – (virando a cadeira para Umberto com espanto) -que sujeito coxo é esses?

Umberto – É um que sempre está na calçada quando d. Lídia vai à Colombo.

Olegário (ainda espantado) E é coxo? Você nunca me falou dele! Mas que espécie de sujeito?

Umberto – Anda mancando. Tem uma perna mais curta do que a outra.

Olegário (apreensivo) – D. Lídia olha para ele?

Umberto. Não

Olegário (noutro tom, com certo alívio) – Ele olha para d. Lídia?

Umberto - Não.

Olegário– Então o que tem de notável esse camarada? (Rodrigues: 301-302).

Pompeu de Souza foi um membro notável da inteligência brasileira, que hoje existe apenas como paródia de inteligência entre professor universitários do Rio e São Paulo. Pompeu fala da família rodriguiana carioca de classe média? :

“É, exatamente, isto mesmo: ninguém mais existe; aquela família é a única e a primeira, é a família do homem. Não a família humana, no que a expressão tem de lugar-comum de fraternidade, de civismo, de humanitarismo, mas no que tem de humanismo: o homem diante de si mesmo e das criaturas nascidas e mortas dele mesmo, de seu amor, de seu ódio. O homem gerando o parto e a morte. Por cissiparidade, por autofagia. Entre um e outra, o sonho que, em Edmundo, é a volta ao útero materno (‘ o céu, não depois da morte, o céu, antes do nascimento – foi teu útero’ (Rodrigues; 1360.

Nelson é o teatro barrocado modernidade recifense-carioca. O céu-útero é uma imagem textualizada que evoca – ao avesso- a gramática de sentido do Rosário de Padre Antônio Vieira? Nossa Senhora é a imagem da mãe perfeita que Olegário procura em sua esposa na superfície reprofunda da escuridão da meia-noite barroca do campo político carioca do mundo como teatro?   

Vieira:

“Com razão dizemos logo que a oração que a Oração Vocal do Rosário, também por esta intercessão, de que nos valemos, é alta, e altíssima: Extollens vocem; porque sendo altíssimo na Senhora o título de Santa, altíssimo o de Maria e altíssimo o de Mãe de Deus, todos juntos, e uns sobre os outros, que altura farão? (Vieira: 65).

A Maria barroca aparece como o grau zero da comunidade psíquica do perverso?   

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O significante-semblante perverso encontra-se na personagem Salim Simão, redator de um jornal influente do Rio da peça o “Anti- Nelson Rodrigues”

“(A luz passa para a casa de Salim Simão, em Quintino. Ele, pai de Joice, é bonito, velho, com os cabelos de um branco sedoso, bem vestido, paletó cintado, colarinho e punhos engomados. Salim Simão está com Hele Nice, criada da casa negra, de ventas triunfais, busto enorme. O dono da casa anda de um lado para outro, em largas e furiosas passadas”. (Rodrigues: 478).

A cena da casa evoca a cena colonial do livro “Casa-grande e Senzala”?

Salim fala do patrão do jornal onde trabalha e diz que a opinião do patrão é a opinião do jornalista. Isto reacende a afecção da ira (Aristóteles: 109) contra o patrão - e um dito:

Salim – Hele Nice, não diz isso na casa da Joice. Esculhambação é a palavra mais feia da língua. Eu disse bosta, porque minha filha não está em casa. Mas o dono do jornal demitia e nomeava ministro pelo telefone. Tinha uma coragem cívica formidável. E, todos os dias, apanhava uma surra da mulher”. (Rodrigues: 478).

O jornalista Lima Barreto fez ficção sobre a vida do jornalismo carioca, que parece ter lhe rendido um custo para sua carreira de romancista. No romance “O escrivão Isaias Caminha”, Lima fez uma caricatura vulgarmente grotesca de João do Rio, uma personalidade do jornalismo e da literatura carioca. E Lima vai além, Lima faz uma imagem  textualizada muito realista, sarcástica de um proprietário de um jornal influente. (Schwarcz: 224-225. O narrador diz para concluir:

“Era a imprensa, a Omnipotente Imprensa, o quarto poder fora da Constituição’. (Lima; 174).   

Esta frase acima é o significante-semblante da imprensa como espaço/tempo da comunidade psíquica de gramática (CPG) do jornalista perverso. O jornalismo fora do Estado constitucional, exterior ao campo político simbólico, vivendo em um espaço privado análogo ao do capital fora da Constituição.

A CPG do perverso era conhecida da nossa literatura científica. A casa-grande e senzala [este lado no semblante encarnado pela empregada negra Hele Nice] é um significante/semblância do título do livro do recifense Gilberto Freyre. A família de Nelson Rodrigues é do Recife barroco colonial. Conhecedor de Freud, Gilberto fala do senhor barroco colonial na tela de juízo de gosto barroco perversa:

“Transformava-se o sadismo do menino e do adolescente no gosto de mandar dar surra, de mandar arrancar dente de negro ladrão de cana, de mandar brigar na sua presença capoeiras, galos e canários – tantas vezes manifestado pelo senhor de engenho quando homem feito; no gosto de mando violento ou perverso  que explodia nele ou no filho bacharel quando no exercício de posição elevada, política ou de administração pública; ou no simples e puro gosto de mando, característico de todo brasileiro nascido ou criado em casa-grande de engenho. Gosto que tanto se encontra, refinado num senso grave de autoridade e de dever, num Dom Vital, como abrutalhado em rude autoritarismo num Floriano Peixoto”. (Freyre: 51).

Para ficar claro a presença da gramática de sentido na peça em tela, o leitor pode observar a discussão da mãe que atribui a prova de amor familial pelo uso do diminutivo do nome do filho: Oswaldinho. (Rodrigues: 481). O diminutivo é uma inscrição na língua portuguesa luso-brasileira de línguas africanas, cuja gramática remete o branco para a infância do amor familial. (Freyre: 331). Bem! o fetiche/objeto da perversão sexual foi introduzido de fora no mundo católico da Maria barroca santa?

Gilberto:

“A frequência da feitiçaria e da magia sexual entre nós é outro traço que passa por ser de origem exclusivamente africano. Entretanto o primeiro volume de documentos relativos às atividades do Santo Ofício no Brasil registra vários casos de bruxas portuguesas. Suas práticas podem ter recebido influência africana: em essência, porém, foram expressões de satanismo europeu que ainda hoje se encontra entre nós, misturados à feitiçaria africana ou indígena”. (Freyre: 323).  

A literatura psicanalítica fala do fetiche/objeto da religião afro ou afro-brasileira:

“Mas os bantos do Rio não resistiram mais que os da Bahia ao prestígio que desfrutavam os candomblés ioruba. Introduziram em suas cerimonias, primeiro uma grande parte de organização sacerdotal desses últimos: os iniciados vão se chamar ogans se forem homens, gibonan se forem mulheres; em segundo lugar, os orixás simbolizados por <fetiches>: a espada para o orixá da raça branca, Ogum, as conchas para o orixá do mar, Oxum, o arco e as flexas para o orixá das florestas, Ode”. (Bastide: 287).

O mundo para o negro é um teatro da comunidade psíquica de significante do perverso e aí, então, ele se encontra na companhia do barroco shakespeariano:

“Quanto à dança, que acompanhava a coroação e que traz, segundo as regiões, o nome de congadas, de cucumbis, de congos, de ticumbi, ou de turundu, constitui uma espécie de representação teatral, compreendendo diversas partes: primeiro, a entrada do bailado, a chegada do rei cantante, que pede à assembleia permissão para celebrar a congada; depois, o cortejo real vagueia através das ruas, dança na frente da igreja e das casas dos notáveis. É a parte mais livre da festa, a mais variável, mudando segundo os lugares. Há cantos semi-africanos, com o da rainha:

 Quengueré, oia congo do má;

Gira Calunga,

Manu quem vem lá”. (Bastide; 175).

O afro-brasileiro é o significante-semblante da vida teatralizada na rua da formação socia brasileira. Ele faz das aparências de semblância autênticas (Arendt, 31) um modelo teatral de imagens textuais para o campo político nacional em contraposição ao modelo brasileiro-pombalino cínico de d. Pedro I em 1824.     

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Sábado Magaldi:

“Oswaldinho há dez anos escreve cartas anônimas semanais ao pai, chamando-o de ‘ramalhal chifrudo’. Rouba as joias da mãe, para compensar o dinheiro em falta. É o play-boy, filho único de pai milionário, para quem as mulheres se resumem a objeto de desfrute. Pois bem: esse rapaz aparentemente irrecuperável, é tocado de súbito pela graça do amor, sua vida se transforma. Nem a mulata do Assírius (o símbolo de sexualidade mais evidente para o machismo brasileiro) lhe desperta o erotismo à flor da pele. Oswaldinho só será um homem realizado se tiver Joice. E o pano baixa sobre a promessas de idílio eterno casal”. (Rodrigues: 33).

Magaldi expõe todo o drama da essência perversa na superfície reprofunda do campo político teatral fazendo pendant com a superfície do fenômeno homem normal Oswaldinho graças ao amor dele por Joice.

Na superfície, a mãe, Tereza é uma santa <nossa senhora> na gramática de Oswaldinho), ela diz que o filho é cínico, perverso e ele responde: E DAÍ?                                                                                                                                       

                                                         PRIMEIRO ATO  

(O fundo musical da peça é sempre o tango Mea Luz. Casa de Oswaldinho. Rapaz de praia, moreno de sol, bonito, atlético. Abre um pequeno cofre de joias. Escolhe ente pulseiras, colares, brincos. Entra Tereza).

Tereza (assombrada) – Que é que você está fazendo aí?

Oswaldinho (atônito) – Eu? Nada.

Tereza – As minhas joias!

Oswaldinho (num rompante) – A senhora sai, volta! Quem manda a senhora voltar?

Tereza- Me dá as joias, imediatamente.

Oswaldinho – Até logo, mamãe!

Tereza (barrando-lhe a passagem) – Ou pensas que vai sair daqui com as minhas joias!

Oswaldinho – Mamãe, quer sair da frente?

Tereza- Chamo a polícia, a radiopatrulha, seu ladrão.

  Oswaldinho (lento e maligno) sou ladrão - e daí?

Tereza – Cínico, cínico (Rodrigues: 473).

O <cinismo> de Oswaldinho faz do filho um perverso?

Sloterdijk:

As raízes históricas dessas perversões já haviam sido descobertas em 1843 pelo jovem Marx e as tinha expressado em uma frase lúcida que todavia está antes da época do endurecimento e que, sem embargo, já deixa traduzir uma tendência cínica: <...não por causalidade o comunismo tem isto surgir contra ele outras doutrinas socialistas, já que ele mesmo só é uma realização especial e unilateral do princípio socialista> (M. E. W. I, pág. 334). Na palavra <unilateral> sabe que, ao menos, há e deve haver duas partes. Consequentemente, quem se atem a uma delas se engana a si mesmo e aos outros. Só um saber que esteja possuído por uma enorme vontade de poder pode pretender fazer valer uma unilateralidade consciente como verdade. Com isto nega profundamente seu próprio páthos de conhecimento. e desta maneira, comunismo é esse saber do poder que se vai da língua antes de estar ao leme. Isto e só isto constitui, a um nível filosófico, seu elemento comum com o fascismo!”. (Sloterdijk: 143).

A relação entre filosofia e perversão é um ponto de partida:

“Na obra marxiana não se dá uma ruptura entre uma fase <ideológica> e uma fase científica, senão uma ruptura entre duas modalidades da reflexão: uma reflexão cinicamente ofensiva, humanística, emancipatória, e outra reflexão objetivista, cínico-senhorial, que se burla do intento de liberdade dos outros no estilo de uma crítica da ideologia funcional. Marx tem, por uma parte, algo de rebelde, por outra parte algo de monarca”. (Sloterdijk: 136).

O problema do cinismo, da perversão pode ser desenvolvido, também, no campo da filosofia fazendo pendant com a estética?

Hannah Arendt:

“De acordo com a distinção que Portmann faz entre as aparências autênticas e inautênticas, poder-se-ia falar de semblâncias autênticas e inautênticas. Estas últimas, miragem como a de alguma fada Morgana dissolvem-se espontaneamente ou desaparecem com uma inspeção mais cuidadosa; as primeiras, como o movimento do Sol levantando-se pela manhã para pôr-se ao entardecer, ao contrário, não cederão a qualquer volume de informação científica, porque esta é a maneira pela qual a aparência do Sol e a Terra parece inevitável a qualquer criatura presa à Terra e que não pode mudar de moradia. Aqui estamos lidando com aquelas ‘ilusões naturais e inevitáveis’ do nosso aparelho sensorial, a que Kant se referiu na introdução à dialética transcendental da razão”. (Arendt: 31).

Qual a diferença do significante-semblância Sol para o de fada Morgana? Um é semblância autêntica e o outro semblância inautêntica. Um é uma relação de ilusão natural do sujeito com o Sol e o outro uma relação de ilusão do sujeito com a ficção Morgana. A relação estética pode ser brutalista, expressão da natureza dos materiais brutos expostos:

C’est ainsi que Kahn ou Alison, intéressés par la naturez des matérieux bruts, en arrivent à la présentation de tout l’équipement habituellement dissimule, ce qui entraîne la justaposition abrupte de certaines formes”. (Souriau: 281).

Marx descobriu o brutalismo nos dedos decepados do menino operário  de dez anos nas máquinas de tear da fábrica inglesa do século XIX. A concepção política de mundo brutalista cínica do capital consistia de que a técnica industrial fazia desse ato de decepar os dedos do menino   uma necessidade do processo de produção da mais-valia econômica, privada, em forma de lucro e juros. O brutalismo é a tela de gosto do capital com um significante-semblância relações técnicas de produção. Com a passagem para a primazia do general intellect no processo de produção, o brutalismo do capital se tornaria uma semblância inautêntica, parte da ficção do capital, na subsunção do capital ao general intelecto. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 3).

Com o significante-semblância general intellect, a tela gramatical da atualidade aparece como tela do capital feudal. (Bandeira da Silveira. 2022b: cap. 19, 20). A prática política do cinismo desaparece como brutalismo do capital liberal. O capital feudal é o grande Outro real da perversão verdadeira feudal, isto é, com o menino de dez anos com direito a não ter os dedos decepados no processo de produção da mais-valia. O menino fará parte de um outro teatro da perversão: dos jogos  de azar do capital feudal bets.     

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Entra em cena, o significante-semblância ajoelhar e rezar:

Tereza – Quero te dizer uma coisa.

Oswaldinho – Agora não!

Tereza (grita) – Oswaldinho!

(Tereza abraçada ao filho, escorrega ao longo do seu corpo. Está de joelhos, abraçada às suas pernas).

Oswaldinho – Que é isso? Não faça isso?

Treza (com sua desesperada doçura) – assim eu sei que você vai me escutar.

Oswaldinho – Mas levanta.

Tereza – Não tenho vergonha de me ajoelhar para o meu filho. Oswaldinho, eu não tenho nada. Fracassei como mulher. Teu pai não gosta de mim, nem gostou nunca. Meus namorados não gostavam de mim. Eu não tenho nada, mas tenho meu filho. Não me interessam os outros, teu pai pode ter as amantes dele, se meu filho gostar de mim. (como uma loba ferida) Eu preciso de você. (doce e perdida) Você gosta um pouquinho de mim? Não precisa muito. Um pouquinho. Gosta”.

Oswaldinho (com uma pena, não isenta de asco) Gosto.” (Rodrigues: 476-477).

Althusser diz que o fenômeno da ideologia tem no ritual ajoelhar e rezar a prática política do assujeitamento do sujeito:

“Sim, os sujeitos <caminham por si>. Todo o mistério deste efeito está contido nos primeiros momentos do quádruplo sistema de que falamos, ou, se o preferirmos, na ambuiguidade do termo sujeito. Na acepção corrente do termo, o sujeito significa 1) uma subjetividade livre: um centro de iniciativas, autor e responsável por seus atos; 2) um ser subjugado, submetido a uma autoridade superior, desprovido de liberdade, a não ser a de livremente aceitar a sua submissão. Esta última conotação nos dá o sentido desta ambiguidade, que reflete o efeito que o produz: o indivíduo é interpelado como sujeito (livre) para livremente submeter-se às ordens do Sujeito, para aceitar, portanto (livremente) a sua submissão, para que ele ‘realize por si mesmo’ os gestos e atos de sua submissão. Os sujeitos se constituem pela sua sujeição. Por isso é que ‘caminham por si mesmos”. (Althusser:121.

O significante-semblante ideologia é uma gramática de sentido de aparências de semblância autênticas:

“Mas de uma coisa no mundo é passível de efeito de significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando com ele se articula o significante. Nunca, jamais surge sujeito algum até que o fato seja dito”. (Lacan. S. 16: 65).

Quem diz o fato e, por conseguinte, faz surgir o sujeito? Os jogos de significantes (Lacan. 1966: 551) da comunidade psíquica de significante que domina a prática política de um campo político imagem/textual. 

A gramática de sentido do sujeito é ambígua por causa da ambuiguidade dos jogos de significantes. O ajoelhar e rezar da Mãe pelo Nome-do-Filho [homem normal] como laço social da família é um fenômeno pleno da ambuiguidade! Já sabemos que no final da peça Oswaldinho se torna, possivelmente, um homem normal através do amor a Joice.   

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A peça “Boca de Ouro” é sobre o início da subsunção da gramática de sentido do campo político representativo brasileiro ao campo heteróclito?

Baudrillard fala do fim do campo simbólico político representativo vinculado à subsunção da lógica do valor e à lógica do signo, à lógica do simulacro de simulação da época pós-moderna. (Baudrillard. 1981: 177). A subsunção do campo político representativo:

“Fim da dialética significante/significado que permitia a acumulação do saber e do sentido, o sintagma linear do discurso cumulativo. Fim simultâneo da dialética valor de troca/valor de uso, única a possibilitar a acumulação e a produção sociais. Fim da dimensão linear do discurso. Fim da dimensão linear da mercadoria. Fim da era clássica do signo. Fim da era da produção. Não é a revolução que põe fim a tudo isso. É o próprio capital”. (Baudrillard. 1976: 20).

O livro ‘L’échange symgbolique et la mort” é de 1976 e ele fala da globalização liberal da pós-modernidade. A massa pós-moderna (Zylberberg; 1986) só surgiria no Brasil no primeiro governo Lula do início dos anos 2000. A peça de Nelson Rodrigues é de 1959. A reversibilidade do campo simbólico político do capital capitalista é mortal para a gramática de sentido da democracia representativa. Assim, ela se torna irreversível. (Baudrillard. 1976:12). A nova leitura do “Boca de Ouro”, a atualidade da peça se deve ao fato que há a subsunção da pós-modernidade a época além dela. (Bandeira da Silveira. 2024a). Na época pós-pós-modernista, surge um campo e conhecimento que fala da realidade contemporânea como dialética de sentido não de significante/significado, signo/real etc., mas como dialética do ser como essência e aparência, o aparecer do fenômeno capital feudal, que faz a subsunção do capital capitalista. O capital feudal permite uma leitura do capital como uma essência perversa verdadeira do campo político simbólico que faz pendant com o campo heteróclito. Ora, a globalização liberal pós-modernista não foi o fim do grande Outro, nem na essência perversa do capital, nem na superfície fenomênica como Estado Deus mortal. (Hobbes: 110-111).

Na época atual, o cinismo e a perversão (significantes-semblantes da peça rodrigueana) constituem o centro de gravidade do novo campo político simbólico feudal. A literatura sobre a nova época vai aparecendo:

“A histeria é uma postura subjetiva de questionamento (o que eu realmente desejo? O que meu Outro vê ou deseja de mim, ou seja, o que sou para o Outro?), ao passo que um perverso sabe, ele não é assombrado por questões. O consumista de hoje é um perverso cínico que sabe que dessa forma o desejo é neutralizado, nada acontece quando alcançamos o objeto do desejo, nenhum evento de um verdadeiro encontro, quando amamos não há APAIXONAMENTO”. (ZIZEK: 337).          

O nosso Lima Barreto viu em Nietzsche o sintoma do grande Outro perverso do capital que aparece como filosofia do perverso em 1914 no campo político mundial:

“Não gosto de Nietzsche; tenho por ele ojeriza pessoal. Acuso-o, a ele, e ao Esporte, como causadores do flagelo que vem sendo a guerra de 1914”.

‘ele deu à burguesia repasse que nos governa uma filosofia que é a expressão de sua ação. Exaltou a brutalidade, o cinismo [...]”.

“Nietzsche é bem filósofo do nosso tempo de burguesia rapinante, sem escrúpulos; do nosso tempo de brutalismo, de dureza de coração, do <make Money> seja como for, dos banqueiros e industriais que não se trepidam em reduzir à miséria milhares de pessoas, a engendrar guerra, para ganha alguns milhões mais”. (Lima. 1956. V. 13: 119-120).

Lima Barreto viu a ação da comunidade psíquica de gramática do perverso como um fenômeno associado à Primeira Guerra Mundial. Lima era da CPG-do psicótico. (Lima; 1993).

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A propriedade ilegal da riqueza caracteriza o desejo de Boca de Ouro. Ora, Para Lacan, o rico (Lacan. S. 17; cap. 5) detém a propriedade da riqueza pelo direito natural. Assim, o bicheiro é parte da comunidade psíquica de significante- do rico; porém, o rico burguês procura fazer de seu direito natural perverso um direito positivo do campo político simbólico

Em Feuerbach, a civilização política faz pendant com o semblante/direito à propriedade privada na essência do Homem (Löwith: 372). A propriedade privada da forma de governo define a tirania (propriedade do um), o governo dos poucos ricos (Propriedade oligárquica) e a propriedade da multidão, como propriedade pública da comunidade política: democracia. Trata-se da propriedade do direito natural e não da propriedade constitucional da forma de governo. (Neschke-hentschke: 9, 17 etc.).

A propriedade privada do bicheiro é análoga à propriedade do tirano. Bem! o campo do direito natural é a essência perversa do homem em uma aporia ao grande Outro simbólico da superfície do semblante homem normal do direito positivo. O direito natural favorece a ausência da gramática de sentido jurídica da relação governo/tela gramatical. (Nietzsche: 54). Nietzsche propõe uma filosofia da CPG-do perverso com o fim da fé na gramática de sentido do governo no campo simbólico, como viu Lima Barreto. O tirano como proprietário privado do governo foi estudado. (Leo Strauss; 1997). Como a forma de governo é uma riqueza de mais-gozar no campo do Estado lacaniano, o texto Boca de Ouro se torna uma peça da atualidade pela relação da propriedade da riqueza ilegal com o cinismo e a perversão.     

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                                              PRIMEIRO ATO

(Boca de Ouro, banqueiro de bicho, em Madureira, é relativamente moço e transmite uma sensação de plenitude vital. Homem astuto, sensual e cruel. Mas é uma figura que vai, aos poucos, entrando para a mitologia suburbana, pode ser encarnado por dois ou três intérpretes, como se tivesse muitas caras e muitas almas. Por outras palavras: diferentes tipos para diferentes comportamentos do mesmo personagem. Ao iniciar-se a peça, Boca de Ouro não tem o seu nome legendário. Agora é que, com audácia e imaginação, começa a exterminar os seus adversários. Está sentado na cadeira do dentista.)

Morei no subúrbio na juventude. Realmente havia uma vida cotidiana em um campo político simbólico na rua e bairro. O policial e o bicheiro apareciam como personagens de narrativas mitológicas muito ricas na gramática de sentido carioca. A Televisão não havia ainda desintegrado a vida da comunidade suburbana. Portanto, a descrição rodriguiana é profundamente verdadeira.

Boca de Ouro – Pois é, doutor. Agora vou me sentar, outra vez, porque eu queria um servicinho seu, caprichado, doutor!

Dentista – Na boca?

Boca de Ouro – Na boca.

Dentista – Meu amigo, é um crime mexer na sua boca!

Boca de Ouro – Mas o senhor vai mexer, vai tirar tudo. Tudo, doutor!

Dentista (no seu assombro) – Tirar os dentes?

Boca de Ouro – Meus dentes. Os 32 – são 32? – pois é: os 32 dentes!

[...]

(Boca de Ouro apanha cédulas e enfia-as nos bolsos do estupefato dentista.)

Dentista – O senhor está me desacatando?

Boca de Ouro – Que conversa é essa, doutor? Dinheiro não desacata ninguém! (ri, sórdido) Fala pra mim: eu desacatei o senhor?   

(Atônito, o dentista olha para o chão e apanha uma cédula que tinha caído. Os dois se olham. E, súbito, o dentista começa a rir, acompanhando o riso do Boca de Ouro. Gargalhada dupla, um perfeito sincronismo). (Rodrigues: 881-882).

O riso revela a situação como cinismo, perversão?

Boca de Ouro – Quero uma boca todinha de ouro!

[...]

Boca de Ouro (feroz) - Quem acha ouro feio é burro!

Dentista (apavorado) – Senta!

Boca de Ouro – É uma besta! Doutor, o senhor não entende! Ninguém entende! Mas desde garotinho – eu era moleque de pé no chão – desde garotinho que quero ter uma boca de ouro...

Dentista – Abre a boca!

Boca de Ouro (num repelão de bárbaro) - Doutor, tira esse guardanapo de cima de mim! Isso é para criança, doutor...(muda de tom) Ontem, foi ontem, eu tive um big sonho. Um sonho que me deixou besta...

Dentista – Meu amigo, tenho clientes na sala!

Boca de Ouro – Mas doutor, eu pago, já disse que pago! Não faz assim comigo (muda de tom e na sua euforia de criança) Sonhei que morria e que me enterravam num caixão de ouro. Doutor, quanto custa um caixão de ouro?”. )(Rodrigues: 882-883).

A dentadura e o caixão de ouro são fetiches do rico da economia das ilegalidades. Correntes, pulseiras, relógios e anéis de ouro são parte da farda do bicheiro rico. Esses fetiches são artefatos da propriedade do bicheiro sobre o território, dinheiro e gentes. A afecção do bicheiro é a mesma do cínico rico burguês: auri sacra fames. A partir desse grande Outro real da perversão emerge o campo político heteróclito que, em 2024, com outros personagens controla a metade do território carioca. A stásis permanente é a prática política desse campo heteróclito. O governo de Michel Temer e de Bolsonaro aparecem como um efeito da gramática de sentido desse campo heteróclito, isto é, como <Brasil reprofundo> do século XXI:

“O governo de Bolsonaro não é um raio em um céu azul na política nacional. Ele não é, diretamente, um produto da luta de classes a sociedade formal. Ele não é um efeito da história capitalista formal e legal. Ele é consequência da evolução da economia urbana informal, aberta às ilegalidades, em todo o país, mas, especialmente no Rio de Janeiro”. (Bandeira da Silveira.2021: 14).

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Lima Barreto foi o primeiro artista a retratar o jornal na capital do Brasil. A peça de Nelson dá um passo adiante ao tratar do jornal em relação ao campo repolítico heteróclito. O jornal mantém uma posição ambígua da lógica da comunidade psíquica de gramática de sentido do perverso, do cínico: o ser do jornal no campo heteróclito existe por acaso (Rosset: 27):

“(Boca de Ouro ri, na sua irreprimível alegria vital. Trevas sobre a cena. Luz sobre a redação de O Sol. Secretário ao telefone.)

Secretário (no telefone) – É da redação do Sol! Fala.  O quê? (dá um pulo na cadeira) Mataram? Batata? Sei, está certo. Até logo.

(Secretário bate com o telefone e atira o grito triunfal.)

  Secretário – Mataram o Boca de ouro!

Repórter O bicheiro?

Secretário – Agorinha, neste instante!

Repórter – Ou é boato?

Secretário – o Duarte telefonou! Está lá o Duarte! Encontrado morto, na sarjeta, com a cara enfiada no ralo!

Repórter (na sua excitação profunda) – Até que enfim encestaram o Boca de ouro!

Secretário – Encestaram! (Aflito) corre, voa! Toma um taxi!

(Secretário está empurrando o repórter)

Repórter – Estou duro!

Secretário – Vem cá. Espera. Primeiro tenho que saber a posição do jornal.

Reporter – Mas ontem elogiamos o Boca!

(Secretário apanha o telefone)

Secretário – Sei lá! Sou macaco velho! Deixa eu falar com a besta do diretor! A esta hora está na casa do amante! 

(do outro lado da linha, atende o diretor. Servilismo total do secretário.)

Secretário – Dr. Pontual, sou eu, dr. Pontual! Boa noite. Dr. Pontual, o senhor já sabe? (reverente) Ah, pois não, o rádio está dando. Foi o ‘Esso’, edição extraordinária? Dr. Pontual. O Sol é contra ou a favor do Boca de Ouro? Não ouvi! Sim, sim, contra, perfeitamente. Contraventor, claro, entendo. Cancro social. Boa noite, dr. Pontual.

(Secretário desliga)

Repórter - Que diz o cretino?

Secretário – Não te falei? Batata! Mandou espinafrar. Escuta. Caveirinha, bolei uma ideia genial. O Duarte está cobrindo lá, em Madureira.

Caveirinha – E eu?

Secretário – Você vai ouvir a Guigui.

Caveirinha (num espanto profundo) – Guigui?

Secretário – Rapaz escuta! A Guigui é a Guimar. Mas todo mundo só chama a Guiomar de Guigui. Da Guiomar você já ouviu falar?

Caveirinha – Qual delas?

Secretário (perdendo a cabeça) – Oh Caveirinha? Guigui, ex-amante do Boca de Ouro. Foi chutada e agora vive amasiada com um cara. Amasiada, não. É casada, vai lá...

(O secretário começa a catar o endereço.) (Rodrigues: 883-884).

 O leitor pode observar a hierarquia na gramática da fala entre o patrão, o secretário e o repórter? Coisa de hierarquia militar!  O jornal é um dispositivo policial de espionagem heteróclito da vida carioca. (Gramsci. 2014: 78-79). Ora! A TV Globo manteve uma longa aliança com os bicheiros em torno da transmissão do carnaval no Sambódromo, depois do governo de Brizola e Darcy Ribeiro, que construíram uma avenida artificial, a casa do carnaval, para as escolas de samba. Em novembro de 2024, o presidente Lula faz uma declaração nas telas audiovisual dizendo que as organizações criminoso/mafiosas elegeram vereadores e prefeitos em massa; que elas se preparam para concursos públicos para o poder judiciário. A estratégia do PCC paulista para tomar em uma guerra de posição o governo de São Paulo em 2026 é parte da lógica cínica do pior acaso do eleitorado. Bem! na peça de Nelson, mulheres ricas da sociedade carioca mantém relações pessoais com o Boca de Ouro. (Rodrigues: 910).  

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O poder heteróclito é uma gramática de sentido constitutiva da concepção política de mundo perversa da personagem Leleco, marido de Celeste:

Celeste (rouca de desespero) – Minha mãe morreu!

Leleco (exultante) – Morreu, sim, morreu!

(Celeste cai de joelho num uivo selvagem)

Celeste – Oh mamãe!

(Leleco, na sua fúria, puxa pelos dois braços e a suspende. Como a pequena continua soluçando, o rapaz tapa-lhe a boca.)

Leleco – Escuta, sua cínica! Você tem um amante e não vai chorar agora, não senhora! Chora depois. Primeiro, vamos conversar!

Celeste (na sua dor sincera) – Mas é minha mãe!

Leleco – Tu não querias ver tua mãe morta? Morreu, pronto! Já estava morta e tu em Copacabana! Celeste (soluçando) - Meu Deus!

Leleco – Cala a boca! (Rodrigues: 907).   

A perversão de Celeste aparece na descrição da concepção política de mundo em um dizer dela própria:

Celeste – E outra coisa, que me lembrei – bonito se mamãe morrer!

Leleco- Não faz carnaval, Celeste!

Celeste (violenta) – Carnaval porque a mãe não é sua!

Leleco (num berro) – Você acha que sua mãe vai morrer porque fui despedido?

Celeste (na sua ironia afetada) - Me deixa. Não faz mal. Meu filho, miséria pouca é bobagem. De formas que tanto faz. Ainda bem que eu não apanhei barriga. Porque não ia ter dinheiro, nem pra tirar, nem pra ter o filho.

Leleco – Quero ser mico de circo se...

Celeste (num crescendo de exaltação) – Minha vida está toda errada. (Sacudindo as mãos) Eu posso dizer, de boca cheia: sou uma fracassada! Eu nasci pra ter dinheiro às pampas e quedê? Não tolero andar de lotação e...Mamãe vai morrer e vamos ter que arranjar uma subscrição de vizinhos para o enterro...(Rodrigues: 890).

Celeste aparece como a gramática de sentido do campo heteróclito bolsonarista da quase terceira década do século XXI?    

 

 

 

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