José Paulo
Walter Benjamin fala do narrar como forma de comunicação de
uma arte artesanal desintegrada pela evolução das relações técnicas de produção
no campo político estético, como o saber transmitido de boca a boca, de ouvido
a ouvido de uma experiencia individual ou coletiva (Benjamin: 37, 31, 32
etc.). 0 cronista é o narrador da
história, e ele sobrevive ao diluvio que afogou o narrador no Brasil de um
Nelson Rodrigues barroco/iluminista. Nelson fez do narrar uma gramática de
sentido tátil da vida carioca como vida do homem, como vida da espécie humana
da história das gramáticas de sentido da civilização policiada.
Starobinski estudou o texto de Montaigne como
barroco-renascentista. (Starobinski: 294). Ele diz que este fez pendente com
Shakespeare para criar o conceito ou imagem textual de que o mundo é um teatro
de comédia. Ele diz que a imagem desse conceito já aparece antes de Platão:
“Montaigne, com toques dispersos e acumulados, desenvolve um
velho tema, anterior a Platão, o qual lhe deu a dimensão do mito; explorado
pelos estoicos e pelos céticos; reto0mado por Beócio; amplamente ilustrado na
Idade média, especialmente por João Salisbury; argumento inesgotável dos
moralistas e dos pregadores: o mundo é um teatro, os homens aí sustentam
papéis, declamam e gesticulam como atores – até que a morte os expulse da cena.
Tema utilizado ora para exaltar a onipotência de um Deus a uma só vez autor,
encenador, e espectador, ora para denunciar as vãs ficções em que os homens se
deixam apanhar. Montaigne não se abstém de citar a frase atribuída a Petrônio,
Mundus universus exerct histrioniam, que encontrará seu eco nas paredes do
Globe Theattre e na boca de Jacques, o Melancólico (As you like it): o mundo inteiro representa uma
comédia, o mundo inteiro é um teatro”. (Starobinski: 11).
O campo político é uma plurivocidade de gramáticas de sentido
de tela teatral da comédia humana europeia dos príncipes, papas, sacerdotes,
aristocracia, burguesia, camponeses, proletários etc.
2
Em Freud, a perversão é gramática de sentido da pulsão sexual
normal e patológica. O fetichismo é a gramática de sentido da comunidade
psíquica de significante do perverso:
“O ponto de contato com o normal é proporcionado pela
supervalorização psicologicamente essencial do objeto sexual, que
inevitavelmente se estende a tudo que com ele se associe. Certo grau de
fetichismo, portanto, está habitualmente presente no amor normal, especialmente
naqueles seus estágios em que o objetivo sexual normal parece inatingível ou
sua consumação é impedida”. (Freud. v. 7: 155).
Se o fetichismo é a essência do perverso no ser humano,
deve-se partir daí para se pensar o mundo como teatro de comédia barroca?
Freud:
“O que se coloca em lugar do objeto sexual é alguma parte do
corpo (tal como o pé ou os cabelos) que é, em geral, muito inapropriada para
finalidades sexuais, ou algum objeto inanimado que tenha relação atribuível com
a pessoa que ele substitui e, de preferência, com a sexualidade dessa pessoa
(por ex. uma peça de vestuário ou de roupa íntima). Tais substitutos são, com
alguma justiça, assemelhados aos fetiches em que os selvagens acreditam estarem
incorporados aos seus deuses”. (Freud. V. 7: 154-155).
Fetiches integrados aos deuses do mundo como teatro são o
governante: o rei, o príncipe, o papa, o sacerdote, a aristocracia, a
burguesia, o camponês...O fetiche pode estar no mais gozar do olhar - da
escopofilia das classes baixas) – da queda do governante para regiões baixas do
corpo humano. Na gramática de sentido pulsional sexual freudiana:
“É usual para a maioria das pessoas normais demorar-se um
pouco no objetivo sexual intermediário de um olhar que tem vestígios sexuais;
com efeito, isto lhes oferece uma possibilidade de orientar uma parte de sua
libido para objetivos artísticos mais elevados. Por outro lado, este prazer de
olhar [escopofilia] torna-se uma perversão (a) se se restringe exclusivamente
aos órgãos sexuais genitais, ou (b) se estiver associado à anulação da
repugnância (como no caso os voyeurs ou pessoas que olham para funções excretórias,
ou (c) se, ao invés de ser preparatório para o objetivo sexual normal, ele o
suplanta”. (Freud. v. 7: 158). Na gramática de sentido freudiana a escopofilia
é associada ao desejo como prazer de olhar. No teatro do mundo como comédia
humana, a escopofilia é vinculada ao mais gozar do fetiche. O palco é a
representação do fetiche teatral [o sublime governante lançado nos jogos de
significante-semblância do baixo corporal] - que aparece como o mais gozar do
auditório.
3
O homem grego da antiguidade era perverso? Por outro lado, a
filosofia é a gramática de sentido de um discurso que não fosse do perverso?
Freud:
“Se isto não fosse verdade, como então explicar o fato de que
os prostitutos masculinos, que se oferecem aos invertidos – tanto hoje quanto
na antiguidade – imitam as mulheres em toda sua aparência externa, na
vestimenta e nas atitudes?
Hannah Arend fala das aparências de semblância autêntica e
inautêntica. (Arendt: 31). O Sol é o
significante=semblante autêntico para o olhar do homem que acompanha o nascer
do Sol e o pôr do Sol. A ficção literária da fada Morgana ou do Saci-Pererê pode
ser semblância inautêntica. O prostituto homem é semblância inautêntica do
cinismo da percepção? Sabe que é homem, mas faz de conta que é mimeses de
fêmea?
O teatro do prostituto para sua audiência de homens é
essencialmente um discurso da comunidade psíquica de significante do perverso:
“Tal imitação, de outro modo, se chocaria, inevitavelmente,
com o ideal dos invertidos. É claro que, na Grécia, onde a maioria dos homens
mais másculos se incluía entre os invertidos, o que excitava o amor de um
homem, não era o caráter masculino do rapaz, mas suas semelhanças físicas com a
mulher e suas qualidades mentais femininas – sua timidez, sua modéstia, e sua
necessidade de ser educado e de assistência. Logo que um menino se tornava
homem, deixava de ser objeto sexual para os homens, e ele também, talvez, se
tornasse um amante de rapazes. Neste caso, portanto, como em vários outros, o
objeto sexual não é alguém do
mesmo sexo, mas sim alguém que combine os caracteres dos dois sexos; existe,
portanto, uma conciliação entre um impulso que aspira por um homem e um que
aspira por uma mulher, ao mesmo tempo em que permanece condição primordial que
o corpo do objeto (isto é, os órgãos sexuais genitais) seja masculino. Assim, o
objeto sexual é uma espécie de reflexo da própria natureza bissexual do indivíduo”.
(Freud. v. 7: 145).
A natureza bissexual é a essência do homem da civilização com
recalque, civilização policiada. A essência é bissexual e, no entanto, ela cria
e recria efeitos de gramática de sentido do mundo fenomênico do aparecer como
teatro da comédia humana, que é a comunidade psíquica de significante:
neurótico, psicótico, perverso – como telas [gramatical, de gosto, ideológica
...] na superfície do campo político da civilização do recalque.
No final de sua vida, Freud insistiu:
“É bem sabido que em todos os períodos houve, como ainda há,
pessoas que podem tomar como objetos sexuais membros de seu próprio sexo, bem
como do sexo oposto, sem que uma das inclinações interfira na outra. Chamamos
tais pessoas de bissexuais e aceitamos sua existência sem sentir muita surpresa
sobre ela. Viemos a saber, contudo, que todo ser humano é bissexual nesse
sentido e que sua libido se distribui, quer de maneira manifesta, quer de
maneira latente, por objetos de ambos os sexos”. (Freud. v. 23: 277).
A gramática de sentido freudiana é na aparência de semblância
um reducionismo da vida humana da civilização do recalque ao
significante-semblante sexual. Todavia, a gramática de sentido freudiana pode
ser lida como dialética materialista, como lógica paraconsistente (Newton da
Costa; 2008) ? Ora, a essência bissexual
o home é e não é homem, ao mesmo tempo. A mesma coisa se aplica a mulher. Como
significante-semblante do campo dos fenômenos o homem pode ser e não ser
perverso, ser perverso patológico e normal, simultaneamente etc. Tal fato
define o homem como tela do mundo como teatro da comédia humana...
4
O primeiro modelo de narrar a experiencia do campo político é
de Heródoto. Starobinski fala do campo política de Montaigne:
“A política se define em seu princípio, como ostentação,
astúcia, artimanha – defesas bastante legítimas contra as ciladas dos inimigos
e a inconstância da fortuna. ‘A própria inocência não poderia, em nossa época,
dispensar a dissimulação, nem negociar sem mentir’. Assim, a mentira se esconde
tão pouco que se torna figura de convenção universalmente aceita. A máscara e a
duplicidade são a ‘forma’ comum, a ‘maneira’ que cada um adota – o subtendido
erigido em regra geral”. (Starobinski: 13).
Montaigne era um estudioso das telas [de gramática, de gosto,
de ideologia] do campo político da antiguidade. Heródoto criou o modelo de narrar
a experiencia do campo político da civilização com recalque:
“Lesskov debruçou sobre as escolas dos antigos. O primeiro
narrador grego foi Heródoto. No capítulo XIV do terceiro livro de sua obra
“Histórias” há uma história sobre Psamenita que está cheia de ensinamentos.
Quando o rei egípcio Psamenita foi derrotado e feito prisioneiro pelo ri persa
Cambises, este decidiu humilhá-lo. Para isso ordenou que Psamenita fosse
trazido para a rua, em que desfilaria o cortejo triunfal persa. E mais ainda,
organizou o cortejo de forma que o prisioneiro visse passar a sua filha na
condição d criada, encaminhando-se para o poço com um cântaro. Enquanto todos
os egípcios protestavam e se lamentavam perante o espetáculo, Psamenita
mantinha-se silencioso e imóvel com os olhos postos no chão; a assim continuou
mesmo quando, pouco depois, viu seu filho ser levado ao cortejo da execução.
Mas quando reconheceu, na fila dos cativos, um pobre velho seu criado, então
bateu com os punhos na cabeça em sinal do mais profundo desespero. Esta
história mostra-nos o que é a verdadeira narrativa. A informação só é válida
enquanto atualidade. só vive nesse momento, entregando-se-lhe completamente, e
é nesse preciso momento que tem que ser esclarecida. A narrativa é muito
diferente. ; não se gasta. Conserva toda a sua força e pode ainda ser explorada
muito tempo depois. Vemos que Montaigne retoma o tema do rei egípcio e pergunta
a si ´próprio: <Porque é que ele só lamenta quando vê o criado? A isto Montaigne
responde : <Porque estava já tão cheio de tristeza, que aquele facto foi
apenas a gota d água que fez transbordar o copo>”. (Benjamin: 35).
A grandeza do rei derrotado e de sua família lançados na
região escura do abjeto da humilhação em plena luz solar da rua. Isso é o mais-gozar
do rei vendedor.
5
Montaigne é um filósofo do renascentismo já barroco.
(Bandeira da Silveira. 2024a: cap. 5). Seu modelo narrativo da experiência do
campo político da antiguidade já é moderno:
“Em verdade o homem é de natureza muito pouco definida,
estranhamente desigual e diverso. Dificilmente o julgaríamos de maneira
decidida e uniforme. Eis Pompeu que perdoa toda a cidade dos Marmentinos contra
a qual estava muito irritado, por consideração para com a virtude e a grandeza
da alma de Zenão que reivindicava e solicitava ser castigado sozinho. No
entanto, em semelhante circunstância, em Pérusa, o hospedeiro de Sila nada
obteve, nem para si mesmo nem para os outros. E contra meus primeiros exemplos
vemos Alexandre, o homem mais denodado que jamais houve e tão magnânimo com os
vencidos, agir de modo bem diferente em Gaza, conquistada após numerosas e
grandes dificuldades, contra Bétis que comandava a praça e que durante o sítio
dera provas de brilhante coragem. Encontrando-o só, abandonado pelos seus, de
armas partidas e coberto de sangue a lutar ainda no meio de um punhado de
macedônios que o atacavam de todos os lados, Alexandre, vivamente afetado por
uma vitória tão caramente paga (entre outros prejuízos recebera ele próprio
dois ferimentos), disse-lhe: ‘Não morrerás como o ambicionavas, Bétis; fica
certo de que antes sofrerás os mais cruéis tormentos que se inventam contra um
cativo’. Nada respondendo Bétis à ameaça, antes tomando uma atitude de altivez
e desafio, Alexandre, diante do silêncio orgulhoso e obstinado, exclamou: ‘Não
dobrou sequer o joelho! Não fez sequer um pedido? Pois eu acabarei com esse
mutismo e, se não puder arrancar-lhe uma palavra, conseguirei pelo menos um
gemido! E, passando da cólera à raiva, mandou lhe furar os calcanhares e
amará-lo ainda em vida a um carro para, assim arrastado, se fizesse em pedaços.
Qual terá sido o móvel dessa crueldade em Alexandre?”. (Montaigne. 1972: 99).
A última frase dessa tradução não faz parte do texto de
Montaigne. As traduções paulistas costumam interferir no texto original ao
sabor da imaginação do tradutor? Não se trata de motivo, mas do prazer do
mais-gozar de Alexandre em relação à atitude corajosa, altiva, de Bétis. O
mais-gozar consiste no prazer de ver o herói cair do céu à terra? Desintegrar a
afecção da coragem na essência do homem derrotado na guerra? Transformar o
mundo em um teatro de comédia como herói aparecendo como um ator cômico? O objeto
mais-gozar faz descer do ceu da tragédia para o grotesco perverso da
comédia?
O tradutor brasileiro alterou a gramática de sentido do texto
original. Esta gramática aparece com o conceito de mais-gozar, Mehrlust.
(Lacan. S. 16: 30) do governante em relação ao governado, do dominante em
relação ao dominado. No Estado-1964, o coronel Golbery do Couto e Silva criou o
aparelho de mais-gozar governamental. A aparelho de escopofilia, tortura e
assassinato de quem? As classes médias de estudantes e intelectuais
confrontaram a ditadura militar com muita coragem e sem temer a morte. O
aparelho assalariado SNI foi criado para extrair o mais-gozar ao humilhar a
classe média da stásis (Derrida:110-11) contra a ditadura.
O SNI torturou com especial brutalismo o poeta Ferreira
Goulart. O presidente-general João Figueiredo deu a ordem pessoa para a tortura
do poeta. João obteve um prazer sádico em torturar, humilhar, quebra a coluna,
do poeta. Foi o mais-gozar de João. Em 2024, o poeta da ABL Antônio Cícero teve
morte assistida. Ele deixou uma carta e diz:<vivi com dignidade e morri com
dignidade. Os poetas são Bétis e o SNI Alexandre?
A sociedade subdesenvolvida do dominante exige coragem das
classes baixas e daí extraem o seu mais-gozar. Em junho de 2013, as classes
baixas representadas por uma vanguarda de estudantes tomaram de assalto as
capitais e assombraram Brasília como a capital do modernismo neobarroco do
dominante de 1988. Foi uma guerra civil limitada no tempo contra o mais-gozar
do dominante. O acontecimento foi humilhado pelos intelectuais e políticos do
aparelho de mais-gozar governamental (Zizek: 330-343), que o interpretaram como
um ataque das massas marginais à democracia de 1988.
Montaigne ainda e mais sobre a tela de gosto-semblante do
campo político:
“.Seroit-ce que la hardiesse fut si commune que pour ne
l’admirer point, il la respectast moins? Ou qu’il l’estimast si proprement
sienne qu’em cette hauters il ne peust souffrir de la veoir en un autre sans le
despit d’une passion anvieuse, ou que l’impetuosité naturelle de la cholere
fust incapable d’opposition?
De vrai, si elle eust receu la brid, il est à croire qu’en la
prinse et desolation de la ville de Thebes elle l’cust receue, à veoir
cruellement mettre au fil de l’espée tant de vaillans hommes perdue et n’ayant
plus Moyen de defense publique. Cari l en fut tué bien six mille, dsquels nul
ne fut veu ny fuiant ny demandant merci, au rebours cerchants, qui ça, qui là
par les rues, à affroter les ennemis victorieux, les provocant à ls faire
mourir d’une mort honorable. Nul ne fut si abatu de blessures qui n’essaiast en
son dernier soupir de se venger encores, et à tout les armes du desespoir
consoler sa mort en la mort de quelque ennemi. Si ne trouva l’affliction de
leur vertu aucune pitié, et ne suffit la longuer d’un Jour à assouvir as
vengeance. Dura ce carnage jusques à la derniere goute de sang qui se trouva
enpandable, et ne s’arresta que aux personnes désarmées, vieillards, femmes et
enfans, pour en tirer trente mille esclaves”. (Montaigne. 1969: 42).
A plurivocidade de tela do campo político da civilização do
recalque possui afecções que se apresentam por pulsões ou paixões de natureza sexuais,
traduzidas em fetiches de sangue e dor do mundo como teatro da comédia humana,
pois, o governante é um cômico [bufão] e faz da história universal a
experiencia de uma comédia histórica pessoal do perverso como se fosse da
estética do sério. (Marx. 1974:372-373).
6
No “Prefácio à tradução hebraica do “Totem e Tabu”, Freud
diz:
“Nenhum leitor [da versão hebraica] deste livro achará fácil
colocar-se na posição emocional de um autor que é ignorante da linguagem da
sagrada escritura, completamente alheio à religião de seus pais – bem como a qualquer
religião – e não pode partilhar de ideias nacionalistas, mas que, todavia,
nunca repudiou seu povo, que sente ser, em sua natureza essencial, um judeu e
não tem nenhum desejo de alterar essa natureza. Se lhe fosse formulada a
pergunta: ‘Desde que abandonou todas essas características comuns a seus
compatriotas, o que resta em você de judeu/’, responderia: ‘Uma parte muito
grande e, provavelmente, a própria essência’. Não poderia hoje expressar
claramente essa essência em palavras, mas algum dia, sem dúvida, ela se tornará
acessível ao espírito científico”. (Freud. v. 13: 19).
Freud diz, parece, que não partilha com o povo judeu sua
concepção política de mundo judaica. Bem! o dialético Hegel sabe falar de
essência e do aparecer dessa como fenômeno:
“Já antes encontramos entre os Hebreus a mesma concepção dos
objetos reais, isto é, a mesma redução das coisas à sua medida e às suas
relações firmes e estáveis, o mesmo reconhecimento da sua liberdade e não
apenas da sua utilidade. Uma firme independência de caráter e a crueldade na
vingança e no ódio, eram também traços inerentes à primitiva nacionalidade
judaica mas com a diferença de que, entre os Judeus, as manifestações e os
fenômenos mais poderosos da natureza são considerados e representados menos por
si mesmos do que por serem testemunhos do poder de Deus em face do qual toda a
independência desaparece; e até o ódio e as perseguições em vez de serem
pessoais, quer dizer, dirigidas contra as pessoas, voltam-se contra povos
inteiros, como vingança nacional ao serviço de Deus”. (Hegel. 1993: 243).
Na atualidade, essa essência do perverso judeu hegeliano se
transformou no fenômeno de destruição do povo palestino pelo Estado nacional de
Israel Então dizem é a única democracia no Oriente Médio!
A essência do povo judeu é o mundo como teatro do perverso
verdadeiro?
7
A ascensão de Donald
Trump ao poder governamental americano abre as comportas para a transição da forma de governo lógica
para a forma de governo mágica, esta s desenvolvendo segundo a gramática de
sentido do tabu freudiano. Depois da Segunda guerra Mundial, A américa se
tornou a pátria das gramáticas de sentido do desejo freudiano. Aliás, o que
acontecerá com a democracia da América?
Hegel:
“A base geral da comédia é constituída por um mundo em que o
homem, como pessoa livre, soube dominar tudo o que, a seus olhos, constitui o
fundo essencial de seu saber e das suas realizações; um mundo cujos fins se
destroem reciprocamente porque carecem de base sólida e verdadeira. Por
exemplo, não podemos de modo algum ajudar um povo democrático, mas composto de
cidadãos egoístas, altercadores, frívolos, vaidosos, descrentes e gabarolas,
porque um tal povo está condenado à dissolução, em virtude de sua própria
insensatez. No entanto, nem toda a ação desprovida de substância é cômica em
virtude da sua nulidade. Sob este aspecto, confunde-se por vezes o ridículo com
o cômico. Todo o contraste entre o essencial e a representação exterior, entre
o fim e os meios pode ser ridículo: é uma contradição mediante a qual a
manifestação se aniquila a si mesma, e o fim, na sua realização, se encontra
alterado. Devemos, porém, exigir uma condição mais profunda para o cómico. Os
vícios humanos, por exemplo, nada têm de cómico. Uma prova manifesta é a sátira
que acentua cruamente o contraste existente entre o mundo real e a virtude. A
insensatez, a extravagancia, a inépcia, tomadas em si, não são de modo algum
cómicas, embora algumas vezes despertem o riso. Aliás, os homens costumam
rir-se das coisas mais heterogéneas e opostas. Podemos ser levados a rir das
coisas mais vulgares e absurdas, e muitas vezes até das importantes e profundas
quando nelas surpreendem qualquer aspecto que contradiga os seus hábitos e
opiniões correntes. O riso mais não é então do que a expressão do desejo de
mostrarmos a nossa sabedoria e que somos suficientemente inteligentes para
compreendermos este contraste ou esta
contradição. Existe também um riso de escarnio de desprezo, de desespero , etc.
ao contrário, o que caracteriza o cómico é o bom humor e a segurança infinitas
que permitem ao homem elevar-se acima da própria contradição, em vez de sofrer
e de sentir infeliz e desgraçado: é a serenidade na qual a pessoa satisfeita
consigo mesma pode suportar o desvanecimento dos projetos e realizações, algo
de que a razão austera é completamente incapaz, sobretudo nas ocasiões em que o
seu comportamento mais ridículo parece aos outros”. (Hegel: 649-650).
A democracia magica freudiana do americanismo é uma forma de
governo risível ou cômica?
8
A forma de governo mágica freudiana aparece como sendo da
comunidade psíquica de significante do neurótico:
“Como no caso do tabu, a principal proibição, o nécleo da
neurose, é contra o tocar e daí de ser às vezes conhecida como ‘fobia de
contato’, ou ‘delire du toucher’. A proibição não se aplica meramente ao
contato físico imediato, mas tem uma extensão tão ampla quanto o emprego
metafórico da expressão <entrar em contato com>. Qualquer coisa que
dirija os pensamentos do paciente para o objeto proibido, qualquer coisa que o
coloque em contato intelectual com ele, é tão proibida quanto o contato físico
direto. Essa mesma extensão também ocorre no caso do tabu”. (Freud. v. 13: 47).
Metade da população votante de Trump não consideram o
aparelho de Estado necessário para a vida americana e, sobretudo, para o campo
político. Quer se substituir a civilização policiada pela gramática de sentido
freudiana do tabu:
“A principal característica da constelação psicológica que
dessa forma se torna fixa ´algo que poderia ser descrito como a atitude
ambivalente do sujeito par com o objeto determinado, isto é, para com um ato em
conexão com esse objeto. Ele deseja constantemente realizar esse ato (o tocar)
[e o considera seu gozo supremo, mas não deve realizá-lo] e também o detesta. O
conflito entre essas duas tendencias não pode ser prontamente solucionado
porque – não há forma de expressá-lo – elas estão localizadas na mente do
sujeito de tal maneira que não põem vir a tona uma contra a outra. A proibição
´ruidosamente consciente, enquanto o desejo persistente de tocar é inconsciente
e o sujeito nada sabe a respeito dele. Se não fosse esse fator psicológico, uma
ambivalência como esta não poderia durar tanto tempo nem conduzir a tais
efeitos”. (Freud. v. 13: 49-50).
O aparelho de Estado é o objeto que o sujeito do americanismo
quer tocar e não quer tocar, ao mesmo tempo. Essa lógica é a do mais-gozar da
comunidade psíquica de significante do perverso do mais-gozar. Com Donald no
poder americano, o campo político da sociedade passa a ter a comunidade
psíquica de significante do perverso como soberana. A proibição de
tocar/desintegrar o aparelho de Estado é consciente, porém o desejo como
mais-gozar de tocar é inconsciente. A lógica paraconsistente do desejo de tocar
e da proibição do tocar cria a condição de possibilidade do mais-gozar da
comunidade psíquica de significante do perverso no poder americano.
Trata-se de ver a passagem do século XX para o século XXI. Na
economia, há a transição do liberal-mercantilismo do capital capitalista da
América para o mercantilsmo-liberal do capital feudal asiático. No campo
político conjuntural, há a passagem da forma de governo democrática lógica para
forma de governo democrática da gramática de sentido mágica/freudiana. Ora, a
soberania popular continua como soberana na decisão de quem governa. A
soberania popular não será abolida. Ela será recalcada, se tornará um fenômeno
do inconsciente do mais-gozar. O recalque diz que ela não será mais o aparecer
da consciência política nacional. A essência da democracia do mais-gozar
freudiano fabrica uma tela do falasser
no lugar da tela verbal narrativa do desejo sexual do campo político americano.
Este aparece como generalização do fetiche no lugar do agente político. A
lógica do fetiche do falasser faz de
Donald, por exemplo, o fetiche maior, o ersatz
a partir do qual surge o gozo do supremo soberano do americanismo:
“O desejo da pulsão se desloca constantemente, a fim de fugir
ao impasse, e se esforça por encontrar substitutos – objetos substitutos e atos
substitutos – para pôr em lugar dos proibidos. Como consequência disso, a
própria proibição também se desloca de um lado para outro, estendendo-se a
quaisquer novos objetos que o impulso proibido adotar”. (Freud. v. 13: 50).
A proibição de tocar o aparelho Estado gera a lógica do
ersatz do fetiche ao infinito no campo político da sociedade sob domínio da
comunidade psíquica de gramática do perverso.
9
O mais-gozar comunitário é um fenômeno da época atual?
“O semblante surte efeito por ser manifesto. Quando o ator
usa a máscara, seu rosto não varia de expressões, não é realista. O páthos fica
reservado ao coro, que se entrega a ele, caberia dizer, com grande satisfação.
E por quê? Para que o espectador, refiro-me ao da cena antiga, encontre ali seu
próprio mais-gozar comunitário. E justamente isso dá ao cinema o valor que ele
tem para nós. Nele, a máscara é outra coisa, é o irreal da projeção”. (Lacan.
S. 19: 165).
O cinema não se caracteriza pela gramática de sentido do
desejo freudiano, e sim pela gramática de sentido do mais-gozar lacaniano. Montaigne
fala do mais-gozar comunitário a partir do hábito alimentar dos povos:
“/J’en croy /// l’antre de Platon en sa ‘Republique’, et croy
/ les medicins, qui quitent si souvent à son authorité les raisons de leur art;
et ce Roy qui, par son moyen, rengea son estomac à se nourrir de poison; et la
fille que’Albert recite s’estre accoustum´´e à vivre d’araignées.”
// Et en ce monde des Indes nouvelles on truva des grands
peuples et en fort divers climats, qui en vivoient, en faisoient provison, et
les apastoient, comme aussi des sauterelles, formiz, laizards, chauvessouriz,
et fut un crapault vendu six escus emn une necessite de vivres; ils les cuisent
et apprestent à diverses sauces. Il en fut trouvé d’autres ausquels noz chairs
et noz viandes estoyent mortelles et venimeuse. /// <Consuetudinis magna vis
est. Pernoctant venatores in nive; in montibus uri se patiuntur. Pugiles
coestibus contusi ne ingemiscunt quidem”. (Montaigne. 1969: 155).
A gramática de sentido da afecção pode ser gerada pelo habito
e educação como forma de governo tirânica do campo político da sociedade:
“Platon tansa un enfant qui jouoit aux noix. Il luy
respondit: <Tu me tanses de peu de chose. – L’accoustumance, repliqua Platon
n’est pas chose de peu>. “
‘je trouve que nos plus grands vices prennent leur ply de
notre plus tendre enfance, et que nostre principal gouvernement est entre les
mains des nourrices. C’est passetemps aux meres de veoir un enfant tordre le
col à un poulet et s’esbatre à blesser un chien et un chat; et tel pereest si
sot de prendre à bon augure d’une ame martiale, quand il voir son fils gourmer
injurieusement umn paisant ou un laquay qui ne se defend point, et à
gentillesse, quand il le void affiner son compagnon par quelque malicieuse
desloyauté et tromporie. Ce sont pourtant
les vrayes semences et racines de la cruauté, de la tyrannie [...] ells
se germent là, et s’eslevent apré gaillardement, et profittent à force entre
les mains de la coustume”. (Montaigne. 1969: 156).
A afecção se refere a gramática de sentido do Um como grande
Outro perverso da tirania:
“Isso nos mostra a que ponto a linguagem traça em sua própria
gramática os chamados efeitos de sujeito. E abarca o suficiente do que a
princípio se foi descoberto pela lógica para que posamos tentar dar um sentido
– porque este é o único caso, com razão, em que o termo sentido se justifica –
à audição desse significante, Há-um”. (Lacan. S. 19: 150).
10
A relação entre forma de governo e hábito aparece e Marx na
medida em que o hábito político é força prática de um a gramática. O partido
bolchevique como força prática de homens e mulheres da gramática de sentido da
política russa, em Lenin. O PPC como força prática da gramática de sentido da
política chinesa, de Mao Zedung. Bourdieu pensou um conceito formal de hábitus:
“Parece-me, com efeito, que, em todos os casos, os
utilizadores da palavra habitus se inspiravam numa intenção teórica próxima da
minha, que era a de sair da filosofia da consciência sem anular o agente na sua
verdade de operador prático de construção de objeto”. (Bourdieu. 1989: 62).
No conceito de habitus político, o agente é o autor da
prática política de fabricação ou da desintegração da forma de governo. Ele é o
proprietário da forma de governo que ele fabrica. Qual a relação do´habitus
político com a forma de governo lógica e a forma de governo mágica? O habitus é
um capital político cujo proprietário é a o dominante, seja ele um agente
lógico ou mágico. Na forma lógica do agente, este aparece como proprietário do
hegemonikon (Elorduy: 26) ou eu político da razão gramatical. Na atualidade, na
forma mágica freudiana do agente político, este aparece como proprietário de um
saber do pensamento mágico cibernético. Este habitus político é parte da
gramática de sentido do Há-um cibernético como fetiche político da forma de
governo freudiana presidencialismo. Nos EUA, Donald Trump é esse
significante-semblante fetichista presidencial que gera o conjunto de agentes
fetiches na sociedade e no Estado disponíveis no campo político conjuntural.
11
Donald Trump é Joyce? Ele fez do atentado a ele um pequeno
teatro espalhando o sangue da orelha atingida pelo tiro pelo rosto e levantando
o punho fechado no ar. Afinal, ele gostou o não da situação?:
“Só resta ao grande I cair fora. Ele desliza, exatamente,
como o que acontece com Joyce depois de ter levado aquela surra. Ele desliza, a
relação imaginária não acontece. Aliás, isso leva a pensar que, se Joyce era
tão interessado pela perversão, talvez fosse devido a outra coisa. Talvez,
despois de tudo, da surra, isso h causasse repulsa. Não era, talvez, um
verdadeiro perverso”. (Lacan. S. 23: 147).
Talvez, Trump seja um falso perverso da lógica lacaniana do
significante-semblante. Ele não gostou da agressão feita a ele, no final, pelo
aparelho de mais-gozar governamental, que deixou o atirador livre para atirar:
“É um modo de articular precisamente o seguinte: toda
sexualidade humana é perversa, se acompanhamos bem o que diz Freud. Ele nunca
conseguiu conceber a tal sexualidade sem ser perversa, e é justamente nesse
aspecto que interrogo a fecundidade da psicanálise”.
“Vocês mesmos têm me escutado enunciar com frequência o
seguinte: que a psicanálise sequer é capaz de inventar uma nova perversão. É
triste. Se a perversão é a essência do homem, quanta infecundidade nessa
prática. pois bem, penso que, graças a Joyce, tocamos alguma coisa que jamais
eu tinha considerado”. (Lacan. S. 23: 149).
Como está sendo descoberta e inventada uma época de perversão
no século 21? No Brasil, há o teatro do perverso, de Nelson Rodrigues:
“Se o leitor fica fascinado ´porque Joyce, em conformidade
com o que esse nome ecoa o de Freud -, tem no final de contas, uma relação com
joy, o gozo, (jouissance), tal como ele é escrito na lalíngua que é a inglesa
-, por ser essa gozação, por esse gozo a única coisa que, do seu texto, podemos
pegar. Aí está o sintoma” ( Lacan. S. 23: 162-163).
O sintoma de Nelson é o fetiche boca de ouro na lalíngua imagem
textualizada do português falado no Brasil, na peça ‘Boca de ouro”. A nossa
comunidade psíquica de gramática do perverso é aquela do <jogo do bicho>,
adorado pelas classes populares. Estas procuram extrair um mais-gozar
comunitário do jogo de significantes da comunidade psíquica de significante do
perverso popular. O problema que se põe é a propriedade da riqueza dinheiro
para as classes baixas nacional/popular.
Comparo a lógica lacaniana com a montaigneniana. Montaigne é
a gramática de sentido político do aparelho de hegemonia da Igreja. Esta é o
original campo conservador que é confrontado pela primeira revolução moderna,
da Reforma Protestante. A lógica montaigneniana
é a defesa do campo conservador e da forma de governo dele, a monarquia
católica:
“// La religion Chrestienne a toutes les remarques d’extreme
justice et utilité; mais nulle plus aparente, que l’exacte recommandation de
l’obe3issance du Magistrat et manutention des polices”. [formas de governo].
(Montaigne. 1969:167).
A lógica montaigneniana é a defesa do velho contra o novo,
mesmo que a forma de governo do velho
seja uma tirania monárquica católica:
“La société publique n’a que faire de nos pensées; mais le
demeurant, comme nos actions, nostre travail, nos fortunes et nostre vie
propre, il la faut préter et abandonner à son service et aux opinions communes,
comme ce bom et grand Socrates refuse de sauver as vie par la desobeissance du
magistrat , voire d’un magistrat três-injuste e trés-inique. Car c’est la regle
des regles, et generale loy des loix, que chacun observe celles du lieu où il
est”. (Montaigne: 165).
Nas Américas da atualidade, o campo conservador fundiu o
evangelismo e o catolicismo em uma forma de governo mágica, na qual a religião
lógica se transforma de acordo com a gramática de sentido do tabu do
fetichismo, da infralógica ou supralógica [voa abaixo ou acima da forma de
governo lógica] no campo político mágico da comunidade psíquica de significante
do perverso religioso. No Brasil, 80% da população é propriedade particular
desse campo conservador. No horizonte, esse campo projeta uma forma de governo
teológica do perverso como multidão contra o Estado territorial nacional, este como
Deus mortal de Hobbes. (Hobbes: 109-110).
12
No século 21 da comunidade psíquica do significante do
perverso, é bom caminhar como agente/suporte da gramática de sentido da lógica
lacaniana:
“Considero que ter enunciado, sob a forma de uma escrita, o
real em questão tem todo valor do que chamamos geralmente de um trauma. Não que
eu visasse traumatizar quem quer que fosse, sobretudo meus ouvintes, a quem não
tenho razão alguma para querer a ponto de causar um trauma. Digamos que é o
forçamento de uma nova escrita, dotada do que é preciso mesmo9 chamar, por
metáfora, de um alcance simbólico, e também é forçamento de um novo tipo de
ideia, se assim posso dizer, uma ideia que floresce espontaneamente apenas
devido ao que faz sentido, isto é, ao imaginário”. (Lacan. S. 23: 127).
A multidão que elegeu Trump é o trauma mundial de uma
gramática de sentido do imaginário do americanismo do partido republicano?:
“A rememoração consiste e fazer essas cadeias estrarem em
alguma coisa que já está lá e que se nomeia como saber – e isso não é fácilo, a
prova são os frequentes lapsos que fiz ao tentar traçar nesse pedaço de papel
os nós colocados sob a égide dos Borromeu. Tentei, com efeito, ser rigoroso
ressaltando que o que Freud sustenta com o inconsciente supõe sempre um saber,
e um saber falado. O inconsciente é inteiramente redutível a um saber. É o mínimo
que supõe o fato de ele poder ser interpretado”. (Lacan. S. 23: 127).
Realidade e real não
são idênticos, não são efeito de uma filosofia da consciência na lógica
lacaniana:
“O verdadeiro é dizer conforme a realidade. A realidade,
nesse caso, é o que funciona, funciona verdadeiramente. Mas o que funciona
verdadeiramente não tem nada a ver com o que eu designo como real. É uma
suposição completamente precária que meu real – pois preciso de fato colocá-lo
como meu ativo – condicione a realidade, aquela, por exemplo, da audição de
vocês. Há aí um abismo, estamos longe de assegurar que seja transponível”.
“Em outros termos, a instância do saber renovada por Freud,
quero dizer renovada sob a forma do inconsciente, não supõe obrigatoriamente de
modo algum o real de que me sirvo”. (Lacan. S. 23: 128).
O conceito de real como sinthoma lacaniano é a chave-mestra
para se caminhar no campo político da comunidade psíquica de gram´´atica de
sentido do perverso no campo político do mercantismo/liberal do capital feudal
inventado na Ásia:
“Assim, já vemos que se trata de um modo de elevar o próprio
sinthoma ao segundo grau. É na medida em que Freud fez verdadeiramente uma
descoberta – supondo-se que essa descoberta seja verdadeira – que podemos dizer
que o real é minha resposta sintomática”.
“Reduzir essa resposta a ser sintomática é também reduzir
toda invenção ao sinthoma”. (Lacan. S. 23: 1280.
É necessário ver o sinthoma de Donald em segundo grau do
campo político mundial? Donald descobriu
e inventou o sintoma lacaniano da história d terceira década do século 21?
Lacan:
“O real de que se trata é ilustrado pelo fato de que, nesse
nó planificado [real, simbólico, Imaginário ou RSI], mostro um campo como
essencialmente distinto do real, que é o campo de sentido. Podemos dizer que o
real tem e não tem um sentido devido a isso, que o campo do sentido é distinto
dele”.
‘Que o real não tenha sentido éo que figurado com isso, que o
sentido está aqui e o real, lá”. (Lacan. S. 23: 130).
O campo de sentido é
lógico formal do princípio da não-contradição e o campo de sentido do real tem
e não tem sentido, ao mesmo tempo, é um campo paraconsistente? A lógica
lacaniana é paraconsistente?:
“Posso pensar que o real está em suspenso, se assim podemos
dizer. Ele pode ser isso a que o reduzi, sob a forma de questão, a saber, ser
apenas uma resposta à elocubração de fr4eud, e assim, de todo modo, se pode
dizer que ela repugna a energética, que está completamente suspensa quanto a
essa energética”.
‘A única concepção que pode suprir essa tal energética é
aquela que enunciei com o termo de real”. (Lacan. S. 23: 130).
O real de Trump aparece como uma gramática de sentido que é e
não é uma gramática de sentido, ao mesmo tempo. Trump funda um campo político mundial
paraconsistente?:
Lacan:
“Não estou certo que a distinção do real em relação à
realidade se confunda com o valor próprio que dou ao termo real. Sendo o real
desprovido de sentido, não estou certo de que o sentido desse real não poderia
se esclarecer ao ser tomado por nada menos que um sinthoma”.
“Penso que não se pode conceber o psicanalista de outra forma
senão como um sinthoma. Não ´a psicanálise que é um sintoma, mas o
psicanalista”. (Lacan. S. 23: 131).
Não é o discurso político do partido republicano que é o
sinthoma mundial da atualidade, e sim o político Donald:
“se cada ato de fala é um golpe de um inconsciente
particular, está completamente claro que, ...cada ato de fala pode esperar ser
um dizer. E o dizer chega a isso sobre o qual há teoria. A teoria que é o
suporte de toda espécie de revolução, a saber, uma teoria da contradição”.
“podemos dizer muitas coisas diferentes, cada uma sendo, na
ocasião, contraditória. Mas jamais foi provado que daí saísse uma realidade que
presumíssemos revolucionária”. (Lacan. S, 23: 132).
Donald encontra-se em contradição com o velho regime de
gramáticas de sentido do século XX. Ele é o novo, porém, o novo de um campo
conservador cristão contra o campo político secular multiculturalista. A
gramatica de sentido paraconsistente de Donald se atualiza na aporia entre
secular e religião, entre o mercantilismo/liberal do capital feudal do mercantilismo/liberal e o Estado
empresarial/militar, liberal-mercantilista, e sua ditadura geopolítica nas
relações internacionais, que são um
campo de gramática sentido e não são um campo de gramática de sentido, ao mesmo
tempo. A ONU é esse sinthoma maior em um campo político mundial dialético/
materialista.
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