quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Por um discurso que não fosse do perverso

 

José Paulo

 

A lógica do perverso aparece como o real do mundo romano, foraclusão da comunidade psíquica de significante (CPS) religioso do dominante- em Lucrécio pela primeira vez na filosofia ocidental:

“Ora, é preciso que afugentem este temor e estas trevas do espírito, não os raios do Sol nem os dardos lúcidos do dia, mas o espetáculo da natureza e as suas leis. E, para início, tomaremos como base que não há coisa alguma que tenha jamais surgido do nada por qualquer ação divina. De fato, o terror oprime todos os mortais, apenas porque veem operar-se no céu e na terra muitas coisas de que não podem de nenhum modo perceber as causas, e cuja origem atribuem a um poder dos deuses. Assim, logo que assentemos em que nada se pode criar do nada, veremos mais claramente o nosso objetivo, e donde podem nascer as coisas e de que modo pode tudo acontecer sem a intervenção dos deuses”. (Lucrécio: 41).

Em sua obra sobre Maquiavel, Claude Lefort esquece que o Príncipe é da CPS do perverso. (Lefort; 1972). Lucrécia Borgia é a filha do Papa e irmã de César Bórgia. Ela é retratada como falsa perversa, isto é, como aparências de semblância inautêntica. (Arendt: 31). Lucrécia não é o cinismo como brutalismo. (Souriau: 281). Este aparece na narrativa do Livro “O Principe”, onde a lógica perversa de que nada se pode criar do nada, da lógica dos deuses, da tela gramatical metafísica:

“Há duas maneiras de tornar-se príncipe e que não podem atribuir-se totalmente à fortuna ou ao mérito. Não me parece bem, portanto, deixar de falar nestes casos, se bem que deles se pudesse falar mais detidamente onde se trata das repúblicas. Estas maneiras são duas: chegar ao principado pela maldade, por vias celeradas, contrárias a todas as leis humanas e divinas; e tornar-se príncipe por mercê do favor de seus conterrâneos. Para nos referirmos ao primeiro destes modos, sem entrar, contudo, no mérito desta parte, pois julgo que bastaria a alguém imitá-lo se estivesse em condição de devê-lo fazer”. (Maquiavel. 1973: 41).

Aí temos a filosofia política escarrada da CPS do perverso da fortuna como acaso e como verdade cínica do assassino:

“Agátocles Siciliano tornou-se rei d Siracusa, sendo não só de impura origem mas também de condição abjeta. Filho de um oleiro, teve sempre vida criminosa na sua mocidade. Acompanhava as suas maldades de tanto vigor de ânimo e de corpo que, ingressando na milícia, chegou a ser pretor de Siracusa, por força daquela maldade. Neste posto, deliberou tornar-se príncipe e manter, pela violência e sem favor dos outros, aquele poder que lhe fora concedido por acordo entre todos”. (Maquiavel. 1973: 40).

A concepção política de mundo do perverso do brutalismo é a ideologia como vontade de poder (Heidegger: 133) gozar com o corpo década um e de todos, da multidão. (Miller: 174). A prática política de Agátocles é esse mais-gozar com o corpo político (Zizek: 2024) da multidão:

“Acerca deste seu desígnio, entendeu-se com Amílcar, cartaginês, que estava com seus exércitos na Sicília, e, certa manhã, reuniu o povo e o  Senado de Siracusa, como se ele tivesse de consultá-lo sobre os negócios públicos. E a um sinal combinado fez que seus soldados matassem todos os senadores e os homens mais ricos da cidade. Mortos estes, apoderou-se do governo daquela cidade e o conservou sem nenhuma hostilidade por parte dos cidadãos”. (Maquiavel. 1973: 40).

Na atualidade, a gramática de sentido cínico/brutalista de Agátocles tem no condottiere o rico Donal Trump uma paródia nada risível -para a vida americana – do Príncipe maquiavélico. A gramática segue a lógica do perverso que nada se cria do nada, mas do ocaso do poder político da soberania popular.

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Pelo realismo do marxismo atual, as novas gerações creem em realidade objetiva independente do pensamento? Clement Rosset diz que este pensamento é um conhecimento delirantemente psicótico (Rosset: 27). Marx seria da comunidade psíquica de significante do psicótico? Freud é um especialista em delírio, psicose e loucura:

“Torna-se um louco alguém que, a maioria das vezes, não encontra ninguém para ajudá-lo a tornar real o seu delírio. Afirma-se, contudo que cada um de nós se comporta, sob determinado aspecto, como um paranoico, corrigi algum aspecto do mundo que lhe é insuportável pela elaboração de um desejo e introduz esse delírio na realidade. Concede-se especial importância ao caso em que a tentativa de obter uma certeza de felicidade e uma proteção contra o sofrimento através de um remodelamento delirante da realidade, é efetuada em comum por uma multidão. As religiões da humanidade devem ser classificadas entre os delírios de massa desse tipo. É desnecessário dizer que todo aquele que partilha um delírio jamais o reconhece como tal”. (Freud: 100).  

Os marxistas do realismo soviético fazem de Marx um psicótico? Ao se dirigir ao operariado alemão, Marx fala da tela gramatical narrativa do capital capitalista:

De te fabula narratur! (Sur toi c’est ici rapporté!}. (Faye: 150). A realidade só existe na tela gramatical de um campo político do capital ou do Estado. Assim, o problema do método da crítica da economia política do capital é exposto assim:

“O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, portanto, unidade do diverso. Aparece no pensamento como processo de síntese, como resultado, não como ponto de partida, embora seja o verdadeiro ponto de partida, e, em consequência, o ponto de partida também da intuição e da representação”. (Marx. 1982:21). O conceito concreto é uma tela gramatical narrativa na qual há a existência da realidade diferente da realidade objetiva do realismo marxista soviético. O delírio de introduzir o conhecimento na realidade – como psicose – não resiste a existência da realidade na tela de gramática narrativa. Se o delírio psicótico caracteriza a comunidade psíquica de significante do psicótico, então, Marx nunca habitou essa comunidade em tela. Outrossim, o desejo do psicótico de delirar com a realidade não é o desejo do perverso. Sade entendia um pouquinho do desejo do perverso:

“Mme de Saint-Ange: Soit; mais qu’Eugénie y prenne garde; l’imagination ne nous sert que quand notre esprit est absolument dégagé de préjugés: un seul suffit á la refroidir. Cette capricieuse portion de notre esprit est d’un libertinagem que rien ne peut contenir; son plus grand triomphe, ses délices les plus éminentes consistente á briser tous le freins qu’on lui oppose; elle est ennemie de la régle, idolâtre du désordre et de tout ce qui porte les couleurs du crime; voilà d’où vient la singulalière réponse d’une fmme á imagination, qui foutait froidement avec son mari”. (Sade: 101).

O desejo do perverso é o grau zero da gramática de sentido do desejo de ordem? Ele é criminoso? Ele quer se opor à lógica das coisas da ordem do mundo?

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A tela gramatical de Hegel é os Estados hegelianos, é o campo político simbólico. Marx parte por revelar o grande Outro perverso, o capital. Nietzsche tem como objeto da realidade o aparelho de hegemonia religioso de Estado em uma gramática de sentido hiperbólica (Nietzsche. 1974: 15)). A lógica hiperbólica é aquela da comunidade psíquica de significante do perverso, do mundo como teatro do perverso:

“No cristianismo, nem a moral nem a religião se acham em contacto com um ponto sequer da realidade. Só causas imaginárias (<Deus>, <alma>, <eu>, <espírito>, <o livre arbítrio> - ou também o <não livre>); só efeitos imaginários (<pecado., <salvação>, <graça>, <castigo>, <perdão dos pecados>). Uma relação entre seres imaginários (<Deus., <espíritos>, <almas>); uma ciência natural imaginária (antropocêntrica; uma falta absoluta do conceito das causas naturais); uma psicologia imaginária (só erros próprios, interpretações de sentimentos gerais agradáveis, por exemplo dos estados de nervus sympathicus com o auxílio da linguagem figurada da idiossincrasia religiosa-moral, - <arrependimento>, <remorso>, <tentação do diabo>, <a presença de Deus>); uma teologia imaginária (,o reino de Deus>;<,o juízo final>, <a vida eterna>). Este mundo de ficções puras distingue- se, com muita desvantagem para ele, do mundo dos sonhos, em que este reflete a realidade, ao passo que o outro não faz mais do que fakseá-la, desprezá-la e negá-la”. (Nietzsche. 1974:26).

A concepção política de mundo cristã é do partido do idealismo. (Lenin.1975: 267-268). A prática política cristã é regulada por uma gramática de sentido idealista. Há quem fala do cristianismo como comunidade psíquica de significante do neurótico. Nietzsche quer desintegrar a CPS do neurótico como aparelho de hegemonia de Estado?

A tela gramatical narrativa metafísica/religiosa pode ser diferente da cristã e continuar a existir como gravidade do aparelho de hegemonia religioso?:

“Que importaria um Deus que não conhecesse nem a ira, nem a vingança, nem a inveja, nem o engano, nem a astúcia, nem a violência, que ignorasse até as maravilhas ordens da vitória e da destruição? Um tal Deus, não se compreenderia; então para que o ter? – Sem dúvida, quando um povo perece; quando sente desaparecer para sempre a sua fé no futuro, a sua esperança na liberdade; quando o assujeitamento lhe parece ser de primeira necessidade; quando as virtudes dos assujeitados entram na sua consciência, como condições de conservação, aí é preciso também que o seu Deus se transforme. Tornar-se então santarrão, medroso, humilde, aconselha a <paz da alma>, a ausência de ódio, as considerações, até o <amor> tanto aos amigos como aos inimigos. Não faz mais d que moralizar, esconder-se na cova de toas as virtudes privadas, faz-se o deus de toda a gente, retira-se à vida particular, torna-se cosmopolita... Noutro tempo representava um povo, a força de um povo, todo agressivo e ávido de poder, precedente da alma de um povo, agora já não passa do bom deus...Efetivamente não há alternativa para os deuses: ou bem são a vontade de poder – e todo esse tempo serão deuses populares – ou bem são a impotência do poder – e aí se tornam bons necessariamente”. (Nietzsche. 1974: 27-28).      

A tela narrativa deísta deveria possuir afecções [ira, astúcia etc.], ela deveria ser um artefato de gramática de sentido da lógica da CPS-do perverso. A tela deísta nietzschiana tem ethos e páthos? Ela é uma tela da formação social de um povo nacional em uma aporia com o cristianismo cosmopolita?  O aparelho de hegemonia de Estado tem que ser potentia do verdadeiro perverso, isto é, como concepção política de mundo do perverso com o significante-semblante  hiperbólico. (Nietzsche. 1974: 19).  

Donald Trump seria um efeito da tela da gramática de sentido do verdadeiro perverso, dos deuses nietzschianos?  A tela dos deuses nietzschianos destitui uma outra tela, a tela niilista do falso perverso diabólico do romantismo alemão:

“Mefistófeles

Eu sou aquele gênio que nega e que destrói!

E o faço com razão; a obra da Criação

Caminha com vagar para a destruição.

Seria bem melhor se nada fosse criado.

Por isso, tudo aquilo a que chamas pecado,

Ou também ‘destruição’, ou simplesmente ‘o mal’

Constitui meu elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-60).

Nietzsche:

“Mas não se deve esquecer que isso era considerado debaixo do ponto de vista de uma filosofia que era niilista, que usava como divisa no seu escudo a negação da vida”. (Nietzche. 1974:19).

O niilismo da natureza é a tela da gramática de sentido do romantismo alemão que quer destituir o niilismo idealista cristão. Donald Trump não é um ente nietzschiano, ele é um niilista da tela heteróclita do romantismo alemão? Se eleito, a prática política governamental de Trump se revelará por inteiro como falso perverso (Lacan. S. 18: 147) do pathos da lógica lacaniano?  Isso é um problema da história americana e mundial da terceira década do século XXI.   

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O diabólico e o Deus bem em si fazem pendant na tela metafísica niilista contra a vida e a natureza:

“Onde quer que, por qualquer modo, diminua a vontade de potentia, há sempre também um retrocesso fisiológico, uma decadência. A divindade da decadência, castrada nas suas virtudes e instintos mais viris, converte-se aí necessariamente no deus dos que se acham em um estado de retrocesso fisiológico, no Deus dos fracos. Eles mesmos não se chamam fracos, chamam-se <bons...>. Compreende-se, sem necessidade de outra coisa, em que momentos da história se torna possível a ficção dualista de um Deus bom e um Deus mau. Com o mesmo instinto de que se servem os submissos para rebaixar o seu Deus até convertê-lo no ,bem em si>, apagam as boas qualidades do Deus dos seus vencedores; vigam-se dos seus dominadores diabolizando o Deus destes. O bom Deus, assim como o diabo, ambos são produções da decadência. (Nietzsche. 1974: 28).

A tela niilista é o significante-semblante da comunidade psíquica de significante falso perverso do páthos:

“Mas o Deus do <grande número, o democrata entre os deuses, não se faz, entretanto, um orgulhoso Deus pagão; continuou sendo judeu, continuou sendo o Deus dos recantos clandestinos, o Deus de todas as esquinas e lugares escuros, de todos os bairros doentios do mundo inteiro. O seu reino universal é, agora como antes, um reino subterrâneo, um hospital, um reino souterrain, um reino de judiaria. E ele próprio tão pálido tão fraco, tão decadente ...Os mais sem cor, entre os sem cores fizeram-se senhores dele; os senhores metafísicos  {...}, ele próprio se converteu em aranha, ele próprio um metafísico [...] A ruina de um Deus: Deus converteu-se em <coisa em si...>”. (Nietzsche. 1974: 29).     

A tela de gramática de sentido cosmopolita pode ser o modelo de uma forma de governo metafísica democrática para todos e não uma tela teia de aranha [com o poder governamental nas mãos de poucos] de um campo político heteróclito autotélico, como o campo dos EUA. que funciona sem a determinação do voto popular. A tela metafísica coisa em si é a secularização da tela religiosa, ela joga o Deus do falso perverso do páthos para a escuridão sem luzes barrocas do campo heteróclito da contemporaneidade.

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A perversão da imaginação é o cinismo inautêntico do <olho do mal>  popular lançado sobre todas as coisas, é o acaso que perdeu a inocência para o homem comum:

“Quando por meio da recompensa e do castigo se tirou do mundo o acaso natural, há necessidade de um acaso contra a natureza [...] - a moral, como perversão sistemática da imaginação, como o olho do mal para todas as coisas. O que é a moral judaica, o que é a moral cristã? O acaso que perdeu a sua inocência; a infelicidade manchada pela ideia do <pecado>; o bem-estar como perigo, como <tentação>; o mal-estar fisiológico envenenado pelo verme roedor da consciência”. (Nietzsche. 1916: 44).

O mal do olho é o acaso como infralógica ou supralógica?  “Assim, as inferências feitas pelo método de redução ao absurdo, da forma” (Newton da Costa. 2019:20), voando abaixo do radar da lógica clássica. Um caso de infralógica foi explorada por Freud:

“Acho que agora posso ouvir uma voz solene me reprendendo: ‘É precisamente porque teu próximo não ´digno de amor, ao contrário, é teu inimigo, que deves amá-lo como a ti mesmo. Compreendo então que se trata de um caso semelhante ao do <Credo quia absurdum>. (Freud: 132).

A supralógica do <Credo...> é esclarecida por Freud:

A primeira é o <Credo quia absurdum> [atribuído a Tertuliano], do primeiro Padre da Igreja. Sustenta que as ideologias religiosas, estão fora da jurisdição da razão – acima dela. Sua verdade deve ser sentida interiormente, e não precisam se compreendidas. [...] se a verdade das doutrinas religiosas depende de uma experiência interior que dá testemunho dessa verdade, o que se deve fazer com as muitas pessoas que não dispõem dessa rara experiência? Pode-se exigir que todo homem utilize o dom da razão de que é possuidor, mas não se pode exigir, com base num motivo que existe apenas para poucos, uma obrigação que se aplique a todos. Se determinado homem obteve uma convicção inabalável respeito da verdadeira realidade das ideologias religiosas, a partir de um estado de êxtase que o comoveu profundamente, que significação isso tem para os outros? (Freud: 40-41).      

Freud pensa o Estado (fundado no amor da vida comunitária) articulado como supralógica cristã do cosmopolitismo mundial em comparação ao Estado lógico romano nacional:

“Quando, outrora, o Apóstolo Paulo postulou o amor universal entre os homens como fundamento de sua comunidade cristã, uma extrema intolerância por parte da cristandade para com os que permaneceram fora dela tornou-se uma consequência inevitável. Para os romanos, que não fundaram no amor de sua vida comunitária como Estado, a intolerância religiosa era algo estranho, embora, entre eles, a religião fosse de interesse do Estado e este se achasse inundado por ela”. (Freud: 136-137).

A gramática de sentido freudiana é cinismo autêntico em oposição à infralógica do <Credo quia absurdum>. Esta é confrontada pela lógica do <homo homini lupus>, de Plauto, na qual a essência do homem é a perversão sem aparência de semblância verdadeira, significante-semblante inautêntico cínico do páthos da civilização policiada:

“O elemento de verdade por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão tão dispostas a rechaçar, é que os homens não são seres gentis que desejam ser amados e que, no máximo, podem se defender quando atacados; ao contrário, são seres entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa soma de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um auxiliar potencial ou um objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se de suas propriedades, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo. <Homo homini lupus>”. (Freud: 133).   

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Nietzsche fala da gramática de sentido instintual da classe dirigente de um povo religioso:

“O cristianismo desenvolveu-se em um terreno completamente falso, onde toda a natureza, todo o valor natural, toda a realidade tinham contra si os instintos mais profundos das classes dirigentes, uma forma de inimizade de morte contra a realidade, que desde então não foi  sobrepujada. O <povo eleito> que não guardasse para toas s coisas se3não valores de sacerdote e que havia separada de si, com uma lógica capaz de meter medo, como <ímpio>, como <mundo>, como <pecado>, tudo o que ainda estava na potentia sobre a terra – esse povo criou para os seus instintos uma última fórmula, que era consequente até à negação de si mesmo: até negou, no cristianismo, a última forma de realidade, , o <povo sagrado>, o <povo dos eleitos> a própria realidade judaica. O caso é de primeira instancia: o pequeno movimento insurrecional, batizado com o nome de Jesus de Nazaré, é uma repetição do instinto judaico – por outras palavras, o instinto sacerdotal que não suporta mais a realidade do sacerdote, a invenção de uma forma da existência ainda mais abstrata; de uma visão de mundo ainda mais ideal, do que a que condiciona a organização da Igreja. O cristianismo nega a Igreja”. (Nietzsche. 1916: 48).

Jesus quer trocar a lógica política simbólica da Igreja pela infralógica subpolítica da seita? (Weber: 72). Ou ele é a guerra civil (stásis) por uma gramática de sentido instintual sacerdotal sem o sacerdote?  Jesus é uma insurreição da compulsão à repetição da gramática de sentido instintual judaica. É uma guerra civil pessoal contra o parelho de hegemonia de Estado judaico?

Nietzsche;

Não sei contra quem ia dirigida a insurreição da qual Jesus passou, equivocamente talvez , por ser o promotor, se é que não ia dirigida contra a Igreja judaica, Igreja tomada exatamente no sentido que jhoje damos a esta palavra. Era uma insurreição contra <os bons e os justos>, contra os <santos de Israel> , contra a hierarquia da sociedade; não contra a corrupção da sociedade, senão contra a casta, o privilégio, a ordem, um não pronunciado contra tudo o que era sacerdote e teólogo”. (Nietzsche. 1916: 49-49).

A guerra civil contra o campo político sacerdotal do sacerdote é a stásis contra as gramáticas de sentido instintual da prática política sacerdotal com significante-semblante perverso do sacerdote. Jesus viu no cosmopolitismo mundial o modo de criar e recriar pelo amor ao próximo o homem normal da civilização policiada, com a subsunção da comunidade psíquica de significante do nacional ao significante-semblante cosmopolita, onde os povos nacionais não parecem como inimigos uns dos outros. A paz eterna entre os povos cristianizados:

“Mas a hierarquia que por este fato se punha em dúvida, ainda que só por um momento, era a morada flutuante em que ainda se sustentava unicamente o povo judaico, no meio <da água>, a última possibilidade de sobreviver, dificilmente adquirida, o residuum da sua existência política autônoma; um ataque contra essa existência era um ataque contra o seu mais profundo instinto popular, contra a vontade de viver de um povo, a mais tenaz que nunca existiu na terra. Esse santo anarquista, que chamava o povo mais baixo, os réprobos e <pecadores>, os Tchandala do judaísmo, à resistência contra a ordem estabelecida, com uma linguagem que ainda agora conduziria à Sibéria, se devemos acreditar nos Evangelhos, esse anarquista era um criminoso político, tanto pelo menos como era possível um criminoso político, em uma comunidade absurdamente impolítica. Isto o levou à cruz: prova-o a inscrição que sobre ela havia. Morreu pelos seus pecados, (falta toda a razão para pretender, apesar de ter sido feita com tanta frequência, que morreu pelos pecados dos outros”. (Nietzsche. 1916: 49).   

O evangelho impressionou Lacan que viu no pensamento de Marx u Evangelho secular da modernidade. (Lacan. S. 20: 32-33).    

Jesus é a plebe de Michel Foucault? (Foucault: 421). A plebe é um fenômeno da essência da perversão cínica inautêntica? O criminoso político é o grande cínico como efeito da gramática de sentido instintual na superfície do fenômeno político?   

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Nietzsche fala da prática cristã como uma prática que já não é uma prática política:

“A incapacidade de resistência transforma-se em moral (<não resistas ao mal>, a frase mais profunda dos Evangelhos, a sua chave de certo modo), a beatitude na paz, na doçura, na recusa em ser inimigo! Que significa a <boa nova>? Achou-se a vida verdadeira, a vida eterna; não é prometida, está aí, está em nós, sem exclusão, sem distância. Cada qual é filho de Deus – Jesus não exige absolutamente nada para si – mesmo quando filho de Deus, cada indivíduo é igual a outro indivíduo...Fazer de jesus um herói? E que maior equívoco não é a palavra <gênio>! (Nietzsche. 1916: 51).

A gramática de sentido da prática Credo quia absurdum não faz de Jesus um herói, por ensinar o cristão a amar o próximo como a ele mesmo. O próximo é o inimigo do cristão, é o Império romano, o cesarismo. Amar o cesarismo é amar uma forma de governo abjetamente perversa. Amar ao perverso é a mensagem do Evangelho. É uma infralógica, o cristão voa abaixo da lógica clássica, do logos e da dialética do Parmênides, pois o uno não participa nem da semelhança nem da igualdade, nem da dissemelhança e da desigualdade:

“- Ora, se o uno fosse afetado por algo diferente de ser uno, seria, por essa afecção mais do que uno, e isso é impossível”. (Platão: 58). A prática subpolítica cristã se tornou a religião do império e, assim, o princípio da não-resistência ao poder romano redefiniu a forma de governo cesarista. A fusão de cesarismo e cristianismo estabelece uma espécie de modelo do campo político ocidental- como Igreja de Estado. O Brasil conheceu tal modelo no século monárquico:

“Toda a nossa noção, a nossa ideia culta de <espírito>, concepção nascida da cultura não tem sentido no mundo em que Jesus vive. Falando com severidade de psicólogo, uma palavra inteiramente distinta estaria mais no seu lugar: < a palavra <idiot.>. Conhecemos um estado de sensibilidade mórbido de excitação do sentido do tato que retrocede estarrecido ante qualquer contato, ao ver-se na necessidade de colher qualquer objeto sólido”. (Nietzsche. 1974: 42).

O Credo quia absurdum é gramática de sentido do idiota. Só o idiota ama ao próximo que é inimigo da comunidade psíquica de significante do cristão. O idiota define o mais gozar com o cesarismo, o mais gozar transforma o cesarismo em uma religião de Estado do amor fraternal. Essa religião estatal do amor do significante-semblância idiota se tornou uma concepção política de mundo das elites do subdesenvolvimento – Creio no subdesenvolvimento porque ele á da infralógica do absurdo. Portanto, não resisto ao subdesenvolvimento.

Tenho o mais gozar do significante-semblante do subdesenvolvimento:

“Reduza-se um habitus fisiológico tal à sua última consequência, com ódio instintivo contra toda a realidade, como fuga ao impalpável, ao <incompreensível>; como repugnância por toda fórmula, toda a noção de tempo e espaço, contra tudo o que é sólido, costume, instituição, Igreja; como o estar em casa em um mundo em que não toca já nenhuma espécie de realidade, em um mundo exclusivamente <interior>, em um mundo <verdadeiro>, em u mundo <eterno>... <o reino de Deus está em vós>...” (Nietzsche. 1974:42).            

A fé no governante depende então de uma gramática de sentido do tato que rechaça qualquer realidade do sólido. O significante-semblante subdesenvolvimento não é da superfície do aparecer do ser subdesenvolvido, da verdade do subdesenvolvimento do fenômeno político como tal; é um ersatz de fenômeno:

‘O único verdadeiro desafio está aí, no domínio e na estratégia das aparências, contra a potentia do ser e do real. De nada serve jogar ser contra ser, verdade contra verdade; eis aí a armadilha de uma subversão dos fundamentos, quando basta uma ligeira manipulação das aparências”. (Baudrillard. 1991: 15).

Então, quais são as gramáticas de sentido do tato das práticas históricas do subdesenvolvimento de hoje? Gramáticas de sentido que não sustentam o governante subdesenvolvido pela fé da soberania popular na própria gramática de sentido tátil. (Nietzsche. 1971: 54).

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O cesarismo puro de César se transformou em um fenômeno universal da civilização do campo político policiado. (Gramsci: 1619):

“Cássio. – Murmurai-vos para conjurar os espíritos: Bruto evocará um espírito tão depressa quanto César. Agora, em nome de todos os deuses ao mesmo tempo: de que alimento se nutre esse nosso César que fez com que ele se tornasse tão grande? Século, estás desonrado? Roma, perdestes a raça dos sangues esclarecidos? Que geração passou desde o Dilúvio que não haja sido famoso por causa de mais de um homem? Quando puderam dizer, até agora, aqueles que falavam de Roma que suas vastas muralhas só continham um homem? isto, na verdade, já está sucedendo em Roma e sobra espaço, quando nela só existe um homem! Oh1 Vós e eu ouvimos nossos país contarem que outrora existiu um Bruto que teria preferido, em Roma, o trono do diabo ao de um rei! (Shakespeare: 424).

O cesarismo cristão aparece nos EUA modificando o ser da gramática de sentido tátil do cristianismo:

“Toda contraposição religiosa, moral, econômica, étnica ou outra transforma-se numa contraposição política, se tiver força suficiente para agrupar objetivamente os homens em amigos e inimigos. O campo político não reside na luta em si, que por sua vez tem suas próprias leis técnicas, psicológicas e militares, mas, conforme já dissemos, num claro reconhecimento da própria situação por ela determinada e na tarefa de distinguir claramente entre amigo e inimigo. Uma comunidade religiosa que, enquanto tal, conduz a guerras, seja contra adeptos de outras comunidades religiosas, seja guerras de outro tipo, constitui-se uma unidade política, além de ser uma comunidade religiosa”. (Schmitt: 63).

Bem, o evangelismo das Américas tem sua própria história nas nações:

“O evangelismo radical invade o campo político-88 ao se constituir como uma cultura política econômica que ergue uma tela gramatical neoconservadora radical. Como o evangelismo significa dezenas de milhões de pessoas, [sendo maioria mulheres] é preciso todo cuidado na análise desse artefato”.

‘O evangelismo é a massa religiosa habitando o campo político/estético através da soberania popular e rua. O pastor se tornou um agente da política brasileira que levou ao governo nacional Jair Messias Bolsonaro e quase o reelegeu, em 2022. O evangelismo é um fenômeno que se define como negação do campo político lulista/petista. Lula o derrotou em outubro de 2022, ao jogar Bolsonaro para a superfície profunda da meia-noite do campo político/estético-88)”. (Bandeira da Silveira. 2024: 438).     

O evangelismo radical extrai seu mais gozar da existência do lulismo, do petismo, do LGBT, isto é, do velho fenômeno político do século XX, a saber: o <multiculturalismo>:

“No campo político neoconservador da América de Tocqueville, Donald Trump representa o evangelismo radical da guerra civil religiosa. A guerra civil trumpista é uma vontade de poder de produzir a transformação da forma de governo. Donald se apresenta como partidário de uma forma de governo cesarista/tirânica brutalista de um Estado teológico, como no Brasil. Bolsonaro é o agente de uma forma de governo teológica neogrotesca secundado pelo pastor Malafaia e Michele Bolsonaro”. (Bandeira da Silveira. 2024: 439)

A forma de governo cesarista/cristã do evangelismo é a tela verbal/narrativa perverso/cínica inautêntica neogrotesca:

“Qual a relação do evangelismo neoconservador brasileiro com o campo da direita liberal radical?”

“O neoconservador neopentecostal se caracteriza por uma relação diferente do evangélico tradicional. Este quer conservar a tradição de costumes e hábitos da moralidade familiar no campo político religioso. O evangélico radical é um agente de mudança no campo polítco que usa a tradição da moralidade familiar como arma religiosa de intervenção na soberania popular. Ele fala em <teologia do domínio> como concepção política de assalto ao Estado secular. Ele põe e repõe abertamente a vontade de substituir o Estado brasileiro laico da Constituição de 1988 por um Estado teológico. A tradição do neoconservadorismo é a política teológica do americanismo neoconservador”.

O evangelismo radical neoconservador é a abolição no campo político/estético religioso da Constituição-88 – com sua teologia da prosperidade -, que é a ideia de desintegração do Estado-88”. (Bandeira da Silveira. 2024: 439).  

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O sistema subdesenvolvido é um ersatz secular de gramática de sentido tátil do campo cesarista/cristão do evangélico  na terceira década do século 21:

 “A racionalidade gramatical do fenômeno é uma razão gramatical de articulação do fenômeno.  A gramática econômica é a ordem racional da formação social que é o avesso doo caos econômico. A formação social em colapso é o abandono na vida prática da lógica econômica? Ou ela significa a troca de guarda de uma gramática econômica para outra? (Bandeira da Silveira. 2019: 89).

Lula faz promessas de fabricação de uma outra gramática de sentido tátil econômica. Bolsonaro não faz isso! O eleitor não crê em Lula, pois não sabe do fenômeno supracitado ou tá pouco se luchando para o destino do país:

“O corte com o Estado populista 1930 advém com a fundação de um Estado republicano neoliberal. No Brasil, a Revolução de 1930 é o marco contingencial de uma história econômica entre capital e trabalho associada ao campo de poderes institucionalizados populista. Rigorosamente, o campo de poderes populista só começa a ser desmontado com o governo Michel Temer/Moreira Franco e sua continuação natural com a política econômica de Paulo Guedes, ministro da economia do governo Bolsonaro”.

Temer, M. F. e Paulo Guedes aparecem como demiurgos de um Estado republicano neoliberal através de reformas estatais que alteram a relação entre o capital e o trabalho na fábrica, no escritório, na loja do grande comércio, pois a relação capital versus trabalho inclui o capital comercial e o capital no setor de serviço”. (bandeira da Silveira. 2019: 93).

Entramos em uma outra época mundial pós-posmodernista. Assim:           

“Na formação capitalista da periferia, o capitalismo subdesenvo9lvido cyber aparece como uma gramática econômica fazendo pendant com o campo de poderes institucional e o campo de sujeitos pós-moderno como a burguesia subdesenvolvida neoliberal e a sua classe-apoio, ou seja, a classe média patrimonial privada”.

“A gramática do subdesenvolvimento não se define pela lógica do capital de acumulação capitalista e reprodução ampliada de capital. A economia funciona por uma razão gramatical econômica em junção coom o campo de poderes e o campo de sujeitos. Tal caracterização associa o funcionamento da economia à contingência, enfim, à história econômica da formação social cortada por fluxos que vão desde a luta de classes até a luta política aberta, ou no campo da esquerda populista, ou no campo de forças da direita neoliberal”.

“O campo a direita neoliberal não flutua em um céu de brigadeiro. Ele se encontra ancorado na erra ou território econômico com desenvolvimento do subdesenvolvimento cyber do capitalismo periférico, com seu Estado republicano neoliberal”. (Bandeira da Silveira. 2019: 94).

Ora, o significante-semblante perverso-cínico do subdesenvolvido já é uma realidade da Europa ocidental. O rei Charles da Inglaterra diz que os ingleses terão que se resignarem e se adaptarem a realidade do subdesenvolvimento.   

Há em curso uma redefinição do conceito de território mundial a partir do desenvolvimento acelerado do sistema subdesenvolvido feudal do dominante como paradigma do Ocidente. O neoliberalismo, isto é, o liberalismo feudal é um efeito – para o Ocidente - da gramática de sentido econômica do subdesenvolvido larvar. Enquanto, a Ásia fabrica Estados desenvolvidos lacanianos do dominado, a União Europeia e os EUA mergulham no inferno do subdesenvolvido, por essência, perverso inautêntico, do Rei Charles.    

 

 

 

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