José Paulo
A chefe do FMI fala de uma crise
do capitalismo no futuro próximo. E, no entanto, os livros científicos sobre a
economia capitalista mundial estão em falta. Em 2002, publiquei um livro sobre
o capitalismo corporativo mundial (CCM). Hoje o CCM é u mundo cyber com sede
no sistema neomercatilista de Estados asiáticos com os Estados Unidos como um
enclave científico do CCMcyber (CCMc).
Uma crise no capitalismo será uma
crise na sociedade capitalista industrial asiática. O que sabemos da estrutura
e funcionamento da sociedade asiática? A sociedade asiática é um atopia
industrial? O lado insituável do capitalista asiático, o lugar nenhum do seu
ser na sociedade capitalista mundial? É to
pragma, a Coisa freudiana, o encontro do inefável sujeito burguês asiático
com o real do capitalismo mundial?
Como to pragma, a sociedade de classes socius-gramatical asiática pode
dar uma resposta do real à crise global do
capitalismo corporativo mundial cyber?
A crise do capitalismo tem nos
EUA uma mola propulsora? Donald Trump se rebela contra o princípio da dispersão
do capitalismo mundial? Ele gostaria que o capitalismo ficasse amontoado no
Ocidente?
A necessidade do capitalismo faz
pendant com o princípio da dispersão, pois o capitalismo é mais estado de “pura
natureza” do que cultura (Derrida. 1973: 334-335). A crítica da economia
política fala em reprodução alargada geográfica do capitalismo como limite para
a existência do modo de produção especificamente capitalista. Donald trata o
capitalismo como paixão e não como necessidade de dispersão. Como lei do
espaçamento, a dispersão é ao mesmo tempo a pura natureza, o princípio de vida
e o princípio de morte da sociedade industrial capitalista.
Nos EUA, há um movimento
parlamentar capaz de desmantelar a posição da América como enclave científico
do capitalismo corporativo mundial cyber. Trata-se de pôr a paixão pelo
capitalismo no lugar da necessidade capitalista.
Hoje, o problema mundial imediato
não consiste na dialética capitalismo versus comunismo (sociedade econômica
planificada pelo Estado). O problema consiste na dialética capitalista Ocidente
versus Oriente no comando da economia, cultura e política planetária. O CCMc
tem sua sede principal industrial na Ásia e pedaços industriais cybers espalhados
pelo Ocidente. O medo dos Estados Unidos consiste em deixar de ser o enclave
científico do CCMc. A Ásia vem construindo suas cidades científicas cybers a
partir do trabalho científico asiático formado nos EUA.
A necessidade capitalista gera o
“capitalismo satélite neocolonial internacional” (CSNI) como satélite do CCMc.
A parte mais visível do CSNI é o setor de mineração. Com o CSNI, a reprodução ampliada geográfica
do capitalismo mundial invade a África negra. As corporações capitalistas do
CSNI se transformaram em um problema mundial, pois, elas podem provocar
pequenos apocalipses ambientais e humanos. Trata-se de um setor capitalista
avesso à regulamentação jurídica capaz de proteger o meio ambiente e a fauna,
flora, cidades e gente.
O CSNI põe o lucro predatório acima
da lei dos Estados. Para ele, o ideal é a inexistência de Estado moderno.
Assim, a África (sem Estado moderno) aparece como seu habitat natural.
II
Há uma transformação histórica no
Brasil que tem como causa efeitos do CSNI na economia, política, mass media e Estado. O CSNI se
transformou em um poder econômico, político e cultural no comando de uma
parcela significativa da vida local e nacional.
O CSNI redefine a nação como
prática e teoria. O capitalismo internacional neocolonial no comando da
economia, política e cultura significa que o Brasil tomou uma linha reta em
direção à África - território sem nação moderna. A elite brasileira não se mira
mais na América ou Estados Unidos, ela se tornou uma elite cujo modelo se
encontra na África do terceiro-mudo. Por isso, ela elegeu como superpresidente Bolsonaro, o Africano.
O caminho da África sempre foi
desejado pelo multiculturalismo do negro. Uma reivindicação do movimento negro
no poder petista foi substituir o estudo da história ocidental pelo estudo da
história da África. Hoje, o movimento negro pode ser visto como uma profecia
racional da hegemonia do CSNI sobre a vida brasileira.
III
Os capitalismos industrias
comandam a vida humana e animal planetária. Se ele entrar em crise global,
advirá um longo período de sublevações, batalhas, lutas, revoluções continentais
e oceânicas como parte da reorganização da história econômica planetária:
“A anatomia do homem é a chave da
anatomia do macaco. O que nas espécies animais inferiores indica uma forma
superior não pode, ao contrário, ser compreendido senão quando se conhece a
forma superior. A Economia burguesa fornece a chave da Economia da Antiguidade
etc. Porém, não conforme o método dos economistas que fazem desaparecer todas
as diferenças históricas e veem a forma burguesa em todas as formas de
sociedade. Pode-se compreender o tributo, o dízimo, quando se compreende a
renda da terra. Mas não se deve identificá-los. (Marx. 1974; 126).
A anatomia humana encontra-se na
Ásia capitalista do CCMcyber. Na Ásia, temos a forma superior da história
econômica industrial do século XXI. Mas não se deve ler a história econômica do
CSNI pela história econômica do CCMcyber. Revoluções pós-capitalistas no espaço
do CSNI tomarão caminhos muitos distintos das revoluções pós-capitalistas no
CCMcyber.
Em que sentido as revoluções
pós-capitalistas do século XXI redefinirão a gramática de Marx sobre o período
de transformações históricas?
Marx diz:
“Em uma certa etapa de seu
desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em
contradição com as relações de produção existentes ou, o que nada mais é do que
a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais aquelas
até então se tinham movido. De forma de desenvolvimento das forças produtivas
estas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução
social. Com a transformação da base econômica, toda a enorme superestrutura se
transtorna com maior ou menor rapidez. Na consideração de tais transformações é
necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições
econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da ciência
natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam
consciência deste conflito e o conduzem até o fim. Assim como não se julga o
que um indivíduo é a partir do julgamento que ele se faz de si mesmo, da mesma maneira
não se pode julgar uma época de transformação a partir de sua própria
consciência; ao contrário, é preciso explicar esta consciência a partir das
contradições da vida material, a partir do conflito existente entre as forças
produtivas sociais e as relações de produção. Uma formação social nunca perece
antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais ela é
suficientemente desenvolvida, e novas relações de produção mais adiantas jamais
tomarão o lugar, antes que suas condições materiais de existência tenham sido
geradas no seio mesmo da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se
propõe as tarefas que pode resolver, pois, se se considera mais atentamente, se
chegará à conclusão de que a própria tarefa só aparecerá onde as condições
matérias de sua solução já existem, ou, pelo menos, são captadas no processo de
seu devir. Em grandes traços podem ser caracterizados, com épocas progressivas
da formação econômica da sociedade, os modos de produção: asiático, antigo,
feudal e burguês moderno. As relações burguesas de produção constituem a última
forma antagônica do processo social de produção, antagônicas não em um sentido
individual, mas de um antagonismo nascente das condições sociais de vida dos
indivíduos; contudo, as forças produtivas que se encontram em desenvolvimento
no seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condições materiais para
a solução deste antagonismo. Daí que com esta formação social se encerra a
pré-história da sociedade humana”. (Marx. 1974: 136).
O modo de produção comunista
moderno seria o modo no qual o antagonismo nascente das condições sociais de
vida dos indivíduos desaparece. Seria o fim da sociedade de classes sociais
movida pela luta de classes como palco da história. Então, a história econômica
da sociedade industrial chegaria ao seu fim. O capitalismo industrial parece
ter posto a história natural da Terra em um rumo apocalíptico. O fim da
história do capitalismo poderia ser a salvação de Gaia?
O Platão socialista diz:
“Que nossos colonos dividam a
terra e as habitações, mas não cultivem a terra em comum, visto que uma tal prática
estaria além da capacidade das pessoas do nascimento, formação e treinamento
que supomos. E que a distribuição seja
feita com esta intenção, ou seja, que o homem que recebe seu lote ainda assim o
considere como propriedade comum de todo o Estado e que cuide da terra, que é
sua terra natal, com maior diligência do que uma mãe cuida de seus e filhos,
porquanto ela sendo uma deusa (Gaia),
e também senhora sobre sua população mortal, e que observe a mesma atitude igualmente
em relação aos deuses e dáimons
locais”. (Platão: 217).
As forças produtivas técnicas existentes
já são capazes de fazer com que não haja mais fome na população mundial. As relações
de produção capitalistas impedem tal sucesso. Será preciso uma reinvenção da
história econômica mundial para reorganizar a distribuição dos serviços de bens
econômicos de primeira necessidade. A gramática da Gaia articulado por gramáticos
angelicais (dáimons) é apenas um
caminho a seguir na sociedade desprovida de antagonismo econômico entre forças
produtivas técnicas e relações de produção gramatical.
A elite capitalista ocidental se
desfez da sociedade capitalista industrial ao fazer deslizar para o Oriente asiático
o capitalismo corporativo mundial cyber. O cyber é a essência das forças
produtivas sociais da contemporaneidade. Ele define a velocidade (aceleração ou
desaceleração) da história econômica mundial produtiva e comercial.
Uma consciência cyber mundial se faz
necessária no colapso do capitalismo mundial e na transição para uma outra
história econômica. Porém, se o mundo
cyber necessita de bens minerais (cuja a extração significa a destruição de Gaia)
o planeta será invadido por uma contradição entre a história natural da terra e
a história técnica da humanidade. Resolver esta forma de contradição, eis um
tipo de desafio que já se encontra em um mundo pós-capitalista.
DERRIDA, Jacques. Gramatologia.
SP: Perspectiva, 1973
MARX. Pensadores. SP: Abril
Cultural, 1974
PLATÃO. As leis, incluindo
Epinomis. SP: EDIPRO, 2010
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