quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

CAPITALISMOS E GEOGRAFIA ECONÔMICA


José Paulo



A chefe do FMI fala de uma crise do capitalismo no futuro próximo. E, no entanto, os livros científicos sobre a economia capitalista mundial estão em falta. Em 2002, publiquei um livro sobre o capitalismo corporativo mundial (CCM). Hoje o CCM é u mundo cyber com sede no sistema neomercatilista de Estados asiáticos com os Estados Unidos como um enclave científico do CCMcyber (CCMc).

Uma crise no capitalismo será uma crise na sociedade capitalista industrial asiática. O que sabemos da estrutura e funcionamento da sociedade asiática? A sociedade asiática é um atopia industrial? O lado insituável do capitalista asiático, o lugar nenhum do seu ser na sociedade capitalista mundial? É to pragma, a Coisa freudiana, o encontro do inefável sujeito burguês asiático com o real do capitalismo mundial?

Como to pragma, a sociedade de classes socius-gramatical asiática pode dar uma resposta do real à crise global do  capitalismo corporativo mundial cyber?

A crise do capitalismo tem nos EUA uma mola propulsora? Donald Trump se rebela contra o princípio da dispersão do capitalismo mundial? Ele gostaria que o capitalismo ficasse amontoado no Ocidente?

A necessidade do capitalismo faz pendant com o princípio da dispersão, pois o capitalismo é mais estado de “pura natureza” do que cultura (Derrida. 1973: 334-335). A crítica da economia política fala em reprodução alargada geográfica do capitalismo como limite para a existência do modo de produção especificamente capitalista. Donald trata o capitalismo como paixão e não como necessidade de dispersão. Como lei do espaçamento, a dispersão é ao mesmo tempo a pura natureza, o princípio de vida e o princípio de morte da sociedade industrial capitalista.

Nos EUA, há um movimento parlamentar capaz de desmantelar a posição da América como enclave científico do capitalismo corporativo mundial cyber. Trata-se de pôr a paixão pelo capitalismo no lugar da necessidade capitalista.

Hoje, o problema mundial imediato não consiste na dialética capitalismo versus comunismo (sociedade econômica planificada pelo Estado). O problema consiste na dialética capitalista Ocidente versus Oriente no comando da economia, cultura e política planetária. O CCMc tem sua sede principal industrial na Ásia e pedaços industriais cybers espalhados pelo Ocidente. O medo dos Estados Unidos consiste em deixar de ser o enclave científico do CCMc. A Ásia vem construindo suas cidades científicas cybers a partir do trabalho científico asiático formado nos EUA.

A necessidade capitalista gera o “capitalismo satélite neocolonial internacional” (CSNI) como satélite do CCMc. A parte mais visível do CSNI é o setor de mineração.  Com o CSNI, a reprodução ampliada geográfica do capitalismo mundial invade a África negra. As corporações capitalistas do CSNI se transformaram em um problema mundial, pois, elas podem provocar pequenos apocalipses ambientais e humanos. Trata-se de um setor capitalista avesso à regulamentação jurídica capaz de proteger o meio ambiente e a fauna, flora, cidades e gente.   

O CSNI põe o lucro predatório acima da lei dos Estados. Para ele, o ideal é a inexistência de Estado moderno. Assim, a África (sem Estado moderno) aparece como seu habitat natural.
                                                                              II
Há uma transformação histórica no Brasil que tem como causa efeitos do CSNI na economia, política, mass media e Estado. O CSNI se transformou em um poder econômico, político e cultural no comando de uma parcela significativa da vida local e nacional. 

O CSNI redefine a nação como prática e teoria. O capitalismo internacional neocolonial no comando da economia, política e cultura significa que o Brasil tomou uma linha reta em direção à África - território sem nação moderna. A elite brasileira não se mira mais na América ou Estados Unidos, ela se tornou uma elite cujo modelo se encontra na África do terceiro-mudo. Por isso, ela elegeu como superpresidente Bolsonaro, o Africano.

O caminho da África sempre foi desejado pelo multiculturalismo do negro. Uma reivindicação do movimento negro no poder petista foi substituir o estudo da história ocidental pelo estudo da história da África. Hoje, o movimento negro pode ser visto como uma profecia racional da hegemonia do CSNI sobre a vida brasileira.

                                                                           III

Os capitalismos industrias comandam a vida humana e animal planetária. Se ele entrar em crise global, advirá um longo período de sublevações, batalhas, lutas, revoluções continentais e oceânicas como parte da reorganização da história econômica planetária:
“A anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco. O que nas espécies animais inferiores indica uma forma superior não pode, ao contrário, ser compreendido senão quando se conhece a forma superior. A Economia burguesa fornece a chave da Economia da Antiguidade etc. Porém, não conforme o método dos economistas que fazem desaparecer todas as diferenças históricas e veem a forma burguesa em todas as formas de sociedade. Pode-se compreender o tributo, o dízimo, quando se compreende a renda da terra. Mas não se deve identificá-los. (Marx. 1974; 126).

A anatomia humana encontra-se na Ásia capitalista do CCMcyber. Na Ásia, temos a forma superior da história econômica industrial do século XXI. Mas não se deve ler a história econômica do CSNI pela história econômica do CCMcyber. Revoluções pós-capitalistas no espaço do CSNI tomarão caminhos muitos distintos das revoluções pós-capitalistas no CCMcyber.

Em que sentido as revoluções pós-capitalistas do século XXI redefinirão a gramática de Marx sobre o período de transformações históricas?

Marx diz:
“Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais aquelas até então se tinham movido. De forma de desenvolvimento das forças produtivas estas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução social. Com a transformação da base econômica, toda a enorme superestrutura se transtorna com maior ou menor rapidez. Na consideração de tais transformações é necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito e o conduzem até o fim. Assim como não se julga o que um indivíduo é a partir do julgamento que ele se faz de si mesmo, da mesma maneira não se pode julgar uma época de transformação a partir de sua própria consciência; ao contrário, é preciso explicar esta consciência a partir das contradições da vida material, a partir do conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. Uma formação social nunca perece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais ela é suficientemente desenvolvida, e novas relações de produção mais adiantas jamais tomarão o lugar, antes que suas  condições materiais de existência tenham sido geradas no seio mesmo da velha sociedade. É por isso que a humanidade só se propõe as tarefas que pode resolver, pois, se se considera mais atentamente, se chegará à conclusão de que a própria tarefa só aparecerá onde as condições matérias de sua solução já existem, ou, pelo menos, são captadas no processo de seu devir. Em grandes traços podem ser caracterizados, com épocas progressivas da formação econômica da sociedade, os modos de produção: asiático, antigo, feudal e burguês moderno. As relações burguesas de produção constituem a última forma antagônica do processo social de produção, antagônicas não em um sentido individual, mas de um antagonismo nascente das condições sociais de vida dos indivíduos; contudo, as forças produtivas que se encontram em desenvolvimento no seio da sociedade burguesa criam ao mesmo tempo as condições materiais para a solução deste antagonismo. Daí que com esta formação social se encerra a pré-história da sociedade humana”. (Marx. 1974: 136).

O modo de produção comunista moderno seria o modo no qual o antagonismo nascente das condições sociais de vida dos indivíduos desaparece. Seria o fim da sociedade de classes sociais movida pela luta de classes como palco da história. Então, a história econômica da sociedade industrial chegaria ao seu fim. O capitalismo industrial parece ter posto a história natural da Terra em um rumo apocalíptico. O fim da história do capitalismo poderia ser a salvação de Gaia?
O Platão socialista diz:
“Que nossos colonos dividam a terra e as habitações, mas não cultivem a terra em comum, visto que uma tal prática estaria além da capacidade das pessoas do nascimento, formação e treinamento que supomos.  E que a distribuição seja feita com esta intenção, ou seja, que o homem que recebe seu lote ainda assim o considere como propriedade comum de todo o Estado e que cuide da terra, que é sua terra natal, com maior diligência do que uma mãe cuida de seus e filhos, porquanto ela sendo uma deusa (Gaia), e também senhora sobre sua população mortal, e que observe a mesma atitude igualmente em relação aos deuses e dáimons locais”. (Platão: 217).

As forças produtivas técnicas existentes já são capazes de fazer com que não haja mais fome na população mundial. As relações de produção capitalistas impedem tal sucesso. Será preciso uma reinvenção da história econômica mundial para reorganizar a distribuição dos serviços de bens econômicos de primeira necessidade. A gramática da Gaia articulado por gramáticos angelicais (dáimons) é apenas um caminho a seguir na sociedade desprovida de antagonismo econômico entre forças produtivas técnicas e relações de produção gramatical.  

A elite capitalista ocidental se desfez da sociedade capitalista industrial ao fazer deslizar para o Oriente asiático o capitalismo corporativo mundial cyber. O cyber é a essência das forças produtivas sociais da contemporaneidade. Ele define a velocidade (aceleração ou desaceleração) da história econômica mundial produtiva e comercial.  

Uma consciência cyber mundial se faz necessária no colapso do capitalismo mundial e na transição para uma outra história econômica.  Porém, se o mundo cyber necessita de bens minerais (cuja a extração significa a destruição de Gaia) o planeta será invadido por uma contradição entre a história natural da terra e a história técnica da humanidade. Resolver esta forma de contradição, eis um tipo de desafio que já se encontra em um mundo pós-capitalista.  


DERRIDA, Jacques. Gramatologia. SP: Perspectiva, 1973            
MARX. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974
PLATÃO. As leis, incluindo Epinomis. SP: EDIPRO, 2010
               
       



 



       

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