José Paulo
Lacan
teve que enfrentar a questão da definição do inconsciente como particular de um
indivíduo e do inconsciente de um discurso: do mestre, do universitário, do
analista, da histérica.
“Há
apenas inconscientes particulares, na medida em que cada um, a cada instante,
dá uma mãozinha à língua que ele fala’. (Lacan. S. 23: 129)
A
pergunta feita a ele é:
“-
Cada ato de fala, golpe de força de um inconsciente particular, não é
coletivização do inconsciente?” (Lacan. S. 23; 132).
O
ato de fala é um golpe de força de um inconsciente particular, cada ato de fala
é um dizer. O que é um dizer?
O
dizer é o dizer de Lenin no qual o ato de fala como golpe de força é uma
gramática da contradição que produz a realidade da revolução. O escrito “As
Teses de Abril” (Lenin: 11-16) é o ato de fala como golpe de força de onde sai a
realidade da revolução. O ato de fala de Lenin é um golpe de força que funda o
marxismo como gramática de uma realidade emaranhada na contradição. A realidade
não é o real. O real é impossível de ter sentido; ele é sem lei, sem ordem, ou
melhor, sem gramática como máquina de produção de sentido. A gramática é
máquina da ordem produtora de sentido da realidade.
O a ato de fala do inconsciente de Lenin é virtual, pois, para se atualizar como dizer de uma gramática da realidade realmente existente, ele precisa do agir revolucionário do partido político bolchevique. Lenin teve que convencer o partido bolchevique de que havia chegado a hora da revolução comunista na Rússia. O ato de fala do inconsciente particular necessita de aparatos políticos (em vários territórios) para se constituir em uma gramática da realidade revolucionaria ou contrarrevolucionária. O aparato do ato de fala do inconsciente do discurso é o caminho e dispositivo para a gramaticalização pelas massas (de rua ou institucional) do dizer leninista.
O a ato de fala do inconsciente de Lenin é virtual, pois, para se atualizar como dizer de uma gramática da realidade realmente existente, ele precisa do agir revolucionário do partido político bolchevique. Lenin teve que convencer o partido bolchevique de que havia chegado a hora da revolução comunista na Rússia. O ato de fala do inconsciente particular necessita de aparatos políticos (em vários territórios) para se constituir em uma gramática da realidade revolucionaria ou contrarrevolucionária. O aparato do ato de fala do inconsciente do discurso é o caminho e dispositivo para a gramaticalização pelas massas (de rua ou institucional) do dizer leninista.
A
ideia de Lenin da reta torta, do bastão que pode ser entortado para ser
endireitado é a teoria da contradição no qual encontramos o caminho mais curto
de um ponto a outro: revolução leninista ou bolchevique.
O
ato de fala de Lenin “Teses de Abril” é o dizer como golpe de força na
realidade realmente existente, realidade da Rússia. Ele é um ato de força de um
inconsciente particular que funda o discurso marxista, inapropriadamente,
vulgarmente, chamado de marxismo-leninismo. Funda o discurso marxista ao lado
dos outros quatro discursos supracitados.
Assim o discurso não se define por coletivização do inconsciente. O
inconsciente é aquele de um discurso que existe através dos atos de falas
particulares (tal como se define o agir no golpe de força revolução ou golpe de
Estado). O nome próprio Trotsky, ou Bukharin, ou Stalin definem um campo do
dizer fracassado ou exitoso.
O inconsciente do discurso do analista é o
golpe de dizer de Estado gramatical de Lacan sobre Freud.
II
Para
falar de um golpe de força na periferia americana do capitalismo, qual ato de
fala do inconsciente ensejou a realidade vulgarmente conhecida como ditadura
militar 1964?
O
ato de fala do inconsciente de Carlos Lacerda fez uma teoria da contradição do
golpe de Estado para pôr um fim à “democracia populista.”. Lacerda acreditava
que seria o presidente da transição para uma democracia udenista, por ser o
teórico da revolução da classe média carioca e paulista. No entanto, o ato de fala do inconsciente do
general Wernon Walter pôs o general Castelo Branco como presidente de um
governo que se definiu como uma máquina de guerra gramatical de produção de
sentido da realidade Estado militar 1964.
A
máquina gramatical em tela criou a ordem militar através de atos de fala
particulares do inconsciente. Porém, não criou um discurso militar. Os atos de
fala do inconsciente não se planificaram em um dizer militar. Não há um dizer
do falasser (o inconsciente é um saber falado) que faça pendant com um discurso
militar brasileiro.
Hoje,
o vice-presidente da República general Mourão fez um ato do de fala (um golpe de força) do
inconsciente sobre um possível golpe de Estado com rompimento da ordem
democrática 1988. O general pode vir a ser
o nosso Carlos Lacerda da terceira década
do século XXI?
Parece que todos os caminhos levam a Roma!
Parece que todos os caminhos levam a Roma!
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23. O sinthoma. RJ: Zahar, 2007
LENINE. Oeuvres. Tome 24. Theses. Paris/Moscou: Éditions Sociales/Éditions du Progrès, 1982
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