domingo, 20 de janeiro de 2019

POLIFONIA DO CAPITALISTA - ESQUECER O OCIDENTE


José Paulo


 

O psicótico tem qual espécie de gozo? Não se trata de um gozo que faz emenda entre o simbólico (discurso, escrita, gramática) e o real? Qual real? Real da realidade dos fatos? O que é um fato?
A ment-alidade enquanto mente é um fato; trata-se da sentimentalidade própria do FALASSER (inconsciente); o nó faz o fato? O inconsciente faz o fato? Só há fato pelo fato de o falasser o dizer. Não há outros fatos senão aqueles que o falasser reconhece como tais dizendo-os. Só há fato pelo artifício. E é um fato que ele (falasser) mente, isto é, instaura falsos fatos e os reconhece, porque tem mentalidade, isto é, amor-próprio. (Lacan. S. 23:63-64.

O falasser diz por meios materiais ou dispositivos de fala? Política, imprensa, mass media, ´mundo cyber, Estado de polícia são todos meios de dizer do falasser? Todos têm mentalidade, a sentimentalidade próprio do falasser -, a mentalidade, uma vez que eles sentem, sentem seu fardo – a ment-alidade enquanto mente é um fato. (Lacan. S.  23: 63) Só há fato pelo artifício. E é um fato que ele (falasser) mente, isto é, instaura falsos fatos e os reconhece, porque tem mentalidade, isto é, amor-próprio.

Não há uma história natural no estabelecimento do fato.   

O saber inconsciente se mostra na forma do sintoma na análise. Ele pode emergir selvaticamente na vida prática? Buscar o sentido através do exposto ao longo de seu sintoma, eis o objeto de resposta do analista ao exposto do paciente. O analista ensina ao paciente como emendar, fazer emenda entre o sinthoma e o real parasita do gozo.  O analista torna o gozo possível que é a mesma coisa que ouvir um sentido (Lacan. S.23:70-71).
 A psicanálise em gramática econômica ouve o sentido produzido pela máquina gramática da realidade realmente existente.   
Suturas e mendas é o que se trata na análise das instancias RSI separadas. Encontrar um sentido implica saber qual é o nó, e emenda-lo bem, graças ao artifício. [O que é o artifício?]. O RSI no sintoma é carência da relação sexual. Ela toma uma forma. Pode ser o exílio em sua própria pátria como não relação sexual. O sintoma é feito de crença (Lacan.  S. 23: 67).  Crer numa raça é um sintoma associado ao povo alemão do nazismo, ao dizer do inconsciente de Hitler, do falasser hitlerista. Crer numa raça já foi um signo científico, inclusive. Com o nazismo derrotado o signo deixou de ser matéria para a consciência nacional?

Falar do racismo como supremacia política é falar da loucura de um povo? Como se configurou uma gramática RSI com o sintoma supremacia ariana na política mundial? O problema é que Lacan (e Freud) só admite falar do inconsciente de Joyce? O discurso é sempre o discurso de um indivíduo qualquer? Não mesmo! Lacan fala do inconsciente do discurso (Lacan. S. 16: 68); portanto não se trata mais de um inconsciente particular qualquer, mas do ato de fala particular do inconsciente de Hitler .Aliás, Lacan fala do discurso do capitalista; não se trata de um capitalista singular, mas do capitalista tal como encontra-se no dizer do falasser de Marx: discurso do capitalista (Lacan. 2003: 519) fazendo pendant com a realidade capitalista e o sujeito capitalista. (S. 16: 38). “Só ex-sistem discursos”. (2003: 539). Chegamos no falasser do dito do discurso capitalista: Mehwert (mais-valia) e plus-de-jouir ou Mehrlust.

O dize do inconsciente de Marx estabeleceu o capitalismo como fato. O capitalismo é um artifício ou artefato de um ato de fala do falasser de Marx. 
                                                                          II

O sujeito é efeito do discurso. (Lacan. S. 16: 47). O capitalista é o efeito do discurso capitalista como personificação do capital.

O discurso capitalista faz pendant com o falasser da sociedade industrial capitalista que surge no século XIX europeu. Hoje, o Ocidente não tem mais sociedade industrial capitalista no comando da economia, política e cultura. Ela deslizou para a Ásia. O discurso capitalista faz pendant com o falasser de uma gramática capitalista industrial asiática? 


O discurso capitalista não produz o advento do real? O discurso político faz isso antes do discurso capitalista:
“Mas ao entrar o discurso político – atente-se para isso – no avatar, produziu-se o advento do real, a alunissagem, aliás, sem que o filósofo que há em todos, por intermédio do jornal, se comovesse com isso, a não ser vagamente”. (Lacan. 2003: 235).

O que é o discurso político em Lacan? Alunissagem! Falar da alunissagem, e também do sujeito político como efeito do discurso político. Qual é a categoria do discurso político equivalente [será homólogo?]  a mais-valia e mais-de-gozar?  É o morrer de vergonha (Lacan. S. 17: 209-212).

O sujeito é efeito do discurso e ele constitui um certo número de significações (Lacan. S. 16: 13) advindas de um signo como o signo morrer de vergonha. (Lacan. S. 17: 209). Um sujeito é aquilo que pode ser representado por um significante para outro significante. O sujeito não pode reunir-se em seu representante de significante sem que se produza, na identidade, uma perda, propriamente chamada objeto a. Marx decifrou a realidade econômica, ou seja, o sujeito do valor de troca representado perante o valor de uso. É nessa brecha que se produz e cai a chamada mais-valia. O que importa para o discurso em geral é a perda. Já não idêntico a si mesmo, daí em diante o sujeito não goza mais. Perde-se alguma coisa que se chama o mais-de-gozar. Ele é estritamente correlato à entrada em jogo do que determina, a partir de então, tudo o que acontece com o pensamento.

A gramática da história economia capitalista industrial perdida faz do pensamento ocidental algo que não pensa mais; o sujeito ocidental não goza mais. Pensar é ter prazer.   

                                                                                III

Não é diferente no sintoma. Que é ele senão a maior facilidade da conduta do sujeito em torno desse algo que chamamos de mais-gozar, mas ao qual é incapaz de dar um nome. A menos que se faça seu percurso, ele não pode proceder a nada que dependa não ´só de suas relações com seus semelhantes, mas também de sua relação mais profunda, da relação que chamamos vital. Aqui as relações e configurações econômicas são muito mais propícias do que as que se ofereceram a Freud, provenientes da termodinâmica. (Lacan. S. 16: 21).

O sujeito capitalista encontra-se na sociedade industrial capitalista; ele encontra-se no comando da economia, política e cultura. Qual a relação do sujeito capitalista com o discurso político? Qual a relação do signo morrer de vergonha com o sujeito como certo número de significações econômicas? Como alunissagem, o discurso político moderno adquire autonomia absoluta em relação à história da economia capitalista industrial?

Alunissagem consiste no ato de pousar uma nave espacial em um satélite natural (na Lua, de maneira especial). Incluem-se nesta categoria tanto os pousos tripulados quanto não tripulados (missões robóticas). Pousar é articular um certo número de significações para a persistência do ser do sujeito na sociedade capitalista que provenha a política como sentido da gramática RSI com sinthoma. Sobre a política não tripulada por humanos e sim por robôs, a era cyber dá um outro sentido político ao significado do dicionário alunissagem. Aliás, alunissagem pode ser pousar no real da política? No lado escuro da Lua?  

A alunissagem é um efeito do signo morrer de vergonha degradado em significante político. A política deixa de ser produção de signo quando da sua degenerescência em significante “ser para a morte”. Ser para a morte diz sobre a finitude da política moderna se ela é o contrário de alunissagem. Se ela é voar do Ocidente para o Oriente, pois, a história econômica industrial capitalista voou para a Ásia.

Lacan diz:
“Mais de uma coisa no mundo é passível do efeito do significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando com ele se articula o significante. Nunca jamais surge sujeito algum até que o fato seja dito”. (Lacan. S. 16: 65).

O sujeito capitalista é um dizer do Marx para o Ocidente. O sujeito capitalista asiático é um dizer da psicanálise em gramática econômica? Há uma alunissagem do discurso político na Ásia? A política japonesa é uma alunissagem do signo morrer de vergonha? Ela evita o significante ser para a morte? Uma cadeia da gramática RSI com sinthoma (Lacan. S. 23: 89) é a bússola da política japonesa para evitar o significante ser para a morte da nação moderna?   

Qual é a perda (homologia com a mais-valia ou mais-de-gozar) na política? O que é o objeto a, ou seja, o objeto de desejo na política que se perde? Na política antiga é a perda do desejo morrer de vergonha. Na política moderna, a perda é própria participação direta na política; perda da política tout court na soberania popular como signo da perda política moderna. O morrer de vergonha é recalcado como objeto de desejo. Então, o que é o advento do real como alunissagem?

A representação política toma o lugar da política tout court. A representação  é o recalcamento do morrer de vergonha. Aliás, a representação política não é o morrer de vergonha caso o político não resolva os problemas nacionais? aí governar é impossível.

A sociedade industrial capitalista no comando da política faz do Estado burguês o comitê central da burguesia. A política é a política de uma classe social. Surge o dominante na política que representa a sociedade industrial capitalista ao contrário da politeia onde não tem dominante. A política se define como dominação capitalista sobre as massas gramaticalizadas pelo discurso  do capitalista; é o signo maior do governar é impossível; pelo menos os gregos da politeia tentaram encontrar sentido no governar com a construção do imaginário morrer de vergonha.    

O que se perde? O prazer da política. A política é também a perda do mais-de-gozar. Quem extrai o mais-gozar da vontade da soberania popular? O burguês na pele do político. A política representativa é a política burguesa como perda de desejo do proletariado pela política. O proletariado é o fantasma da revolução social, uma espécie de aversão sexual à política representativa burguesa. A linguagem do proletariado é o sintoma da perda de desejo da classe operária pela política representativa: ditadura burguesa, ditadura do proletariado. Em 1871, a Comuna de Paris aparece como signo da ditadura do proletariado:
“O triunfo de Paris sobre o agressor prussiano teria sido o triunfo do operário francês sobre o capitalista francês e seus parasitas dentro do Estado. Nesse conflito entre o dever nacional e o interesse de classe, o governo da defesa nacional não vacilou um instante em converter-se num governo de traição nacional”. (Marx.1975: 180).
 O burguês não morre de vergonha por trair a nação francesa com os prussianos. Entre o dever nacional e o interesse de classe, o interesse de classe define a gramática burguesa europeia. A luta de classes suprassume a luta entre nações. O burguês é o sujeito como efeito do discurso capitalista cuja gramática é a exploração do trabalhador assalariado na extração da mais-valia e do mais-de-gozar. então, o trabalhador se entrega à guerra de classes.

O estado de guerra de classes é o real impossível de ser suportado pela sociedade industrial capitalista. Com a ciência como parte da força produtiva, a mais-valia relativa acresce produtividade e abre a porta para os cuidados com a população operária mais pobre, começando com redistribuição de renda. A boa vontade econômica do dominante tem uma contrapartida na política representativa dando ensejo ao aparecimento dos partidos políticos europeus socialistas de massas da sociedade salarial. A Europa da sociedade capitalista industrial se pacifica em uma civilização burguesa? Ao contrário, a revolução social não deixa de ser um signo utópico e na Alemanha ela é sufocada em banho de sangue já no século XX.  

O signo morrer de vergonha da política faz a alunissagem no burguês como morrer de vergonha do fim do capitalismo suplantado pelo comunismo da URSS, instalado pela revolução bolchevique. O morrer de vergonha em tela passa a ser um signo da gramática burguesa no centro do capitalismo europeu. Na periferia, um ersatz de burguês se define por não ter vergonha por conviver com economia não-capitalista em uma mesma região geoeconomica como no caso do MERCOSUL, no século XXI.
O morrer de vergonha de ser substituído pelo comunismo  se transforma em estratégia de acabar com a sociedade industrial capitalista e sua luta de classes no Ocidente, deslocando a fronteira do capitalismo corporativo mundial industrial para a Ásia. A estratégia da China de sintetização de socialismo e capitalismo somada a estratégia neomercantilista asiática em curso (confederação de Estados asiáticos fortes economicamente) deslancha em uma sociedade industrial do capitalismo corporativo mundial reterritorializado na Ásia.

O Ocidente perdeu a sociedade industrial capitalista e vai junto sua política representativa com o presidencialismo em colapso na América e o parlamentarismo em colapso na Europa desenvolvida. A ilusão de que falamos de fenômenos resilientes turva a percepção ocidental da perda da gramática da história da sociedade industrial moderna e sua política representativa.

A gramática da cadeia RSI determina um certo número de encaixes. Esses campos são lugares nos quais se colocarmos o dedo, ficamos agarrados. A cadeia real, simbólico, imaginário fazem o nó da sociedade industrial capitalista com política representativa; assim   determinou-se um certo número de encaixes nos quais os povos ocidentais puseram o dedo e ficaram agarrados. Vivemos um tempo ocidental de desnodamento da gramática RSI moderna industrial capitalista e sua política representativa democrática.   

O desnodamento da gramática RSI moderna aparece como sintoma das falas impostas. Escutar a linguagem moderna como uma torção de voz reduz o significante ao que ele é:um equívoco. (Lacan. S.23: 92).  A fala da gramática em colapso é um parasita, uma excrescência de falas impostas onde o segredo da gramática como elemento da separação público privado desaparece. É o mundo da transparência absoluta ou telepatia onde as pessoas não têm segredos. O telepata é o rhetor percipio que sabe o que acontece com as pessoas sobre as quais ele não tinha mais informação que qualquer um. (Lacan. S. 23: 93). O telepata usa signos, declarações na atmosfera da tela gramatical da comunicação como sintoma de uma escrita em colapso que faz com que não haja mais identidade fonatória. A fala se decompõe ao se impor como tal, a saber, em uma deformação acerca da qual permanece ambíguo saber se é o caso de se livrar do parasita falador; ou se deixar invadir pela polifonia da fala.   

O fenômeno em tela expressa a carência do pai ocidental. Em Hegel e Gramsci, o pai articula-se como dominação e articulação da hegemonia. A polifonia da fala desarticula permanentemente o fenômeno supracitado.

 
Fazer emenda entre o simbólico e o real, fazer emenda entre seu sintoma e o real parasita do gozo; tornar o gozo possível é a mesma coisa que ouvir um sentido. Encontrar o sentido implica saber qual é o nó, e emendá-lo bem. Tal prática é uma ciência da psicanálise em gramática econômica. Assim, é possível tomar um caminho que não seja o da polifonia da fala. ((Lacan. S. 23: 70-71).   
                                                                         IV
O Real se define por não ter sentido algum. Só é verdadeiro o que tem sentido. (Lacan. S. 23: 112). O verdadeiro é fruto da interpretação:
“A interpretação não é submetida à prova de uma verdade que se decida por sim ou não, mas desencadeia a verdade como tal. Só é verdadeira na medida em que é verdadeiramente seguida”. (Lacan, S. 18: 13).

A interpretação verdadeira seguida por quem? Antes de qualquer coisa, o capitalismo (assim como o comunismo de Marx) é uma interpretação seguida por massas de homens, mulheres e crianças aos borbotões. O capitalismo faz sentido como modo de produção especificamente capitalista ou história econômica da sociedade industrial capitalista. A forma política representativa moderna faz sentido com o pendant do discurso capitalista descoberto em Marx.  Desfeito o nó da gramática capitalista RSI, dissolve-se o discurso do capitalista.

Há uma sociedade do capitalismo corporativo mundial industrial na Ásia. Ela é a realidade fática de um sistema no qual não persiste no ser da sociedade asiática o discurso da burocracia como discurso do mestre moderno; discurso que se especifica por ser não saber-de-tudo, e sim tudo saber.  (Lacan. S. !7:34). O sistema não tem necessidade de sentido. (Lacan. S. 17: 14). O sistema não precisa ser verdadeiro ou verdadeiramente seguido pelas massas, pois ele não faz pendant com o só é verdadeiro o que faz sentido para as massas gramaticalizáveis pela verdade de uma interpretação.

A sociedade capitalista industrial asiática não é a repetição da história econômica do capitalismo ocidental. O capitalismo corporativo mundial é a descoberta de uma outra história econômica capitalista industrial. Qual a relação entre a história do capitalismo industrial e as formas políticas asiáticas?
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EDIPO EM COLAPSO

Creio com Freud no sujeito edipianizado, o sujeito como efeito de uma ordem edipiana, ordem trágica: sujeito trágico. A políteia é uma continuação no território político da ordem do Édipo, do trágico na versão da cultura do sério. Morrer de vergonha por não ter condições de resolver os problemas da polis é da ordem do trágico, é algo sério. 

A ordem do trágico gira em torno da castração, do recalque do desejo pela mãe, pois tais coisas falam do tirano. Castrar o soberano e recalcar o tirano são equivalentes. A política tout court se funda pela aversão sexual ao tirano no lugar do pai.

Na política moderna, o tirano é recalcado por significantes como representação política e soberania popular. Tomando um atalho! O moderno americano faz do presidente da república um pai que não é um tirano no imaginário político nacional. Aliás, o presidencialismo em colapso é equivalente ao Édipo em colapso. Os efeitos patológicos desse colapso são tratados pela indústria psiquiátrica farmacêutica e os hospitais psiquiátricos camuflado de clínicas terapêuticas. 

O Édipo em colapso apresenta fenômenos para além do psiquismo individual. Todo o movimento do multiculturalismo (mulher, negro, LGBT no comando da cultura e da política) é imediatamente  reterritorialização da ordem política no solo do Édipo em colapso. Tal fenômeno faz vertigem. Daí vemos gays querendo edipianizar formando legalmente família - papai, mama, filhinho.

A política representativa perdeu o recurso da edipianização em segundo grau, edipianização como processo sublimatório da civilização ocidental moderna. Agora, é um Deus nos acuda na sociedade narcose inventada por Freud e realizada pela economia das drogas ilegais e legais.

As formas políticas do Édipo encontram-se em colapso. A civilização da ordem do Édipo em colapso não é um fato de uma história natural. Trata-se de uma história de artifícios ou estratégias de anedipianização. Se a liberdade é a realização da satisfação dos desejos para além da ordem do Édipo, o século XX e XXI se caracterizam por construir estratégias para tornar a liberdade O fundamento da vida ocidental. Marx considerava que a liberdade em tela ´só poderia acontecer em uma sociedade do modo de produção comunista moderno. Mas quanta a liberdade temos pressa, não?

Antes, a anatomia era o destino. Agora, as drogas são o destino!
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A mulher não faz sentido para Joyce. (Lacan. S. 23: 112). A mulher não faz sentido para o homem, pois ela é não-toda, por permanecer estranha, por não fazer sentido para o homem. A mulher é um conjunto. Um conjunto de mulheres engendra, em cada caso, lalíngua (socius como inconsciente), seguindo a história de uma língua que se decompunha, no caso, o latim.

O homem é portador da ideia de significante. Essa ideia, na lalíngue, tem seu suporte na sintaxe. Lalíngue é gramática como continuação por outros meios dos equívocos da sintaxe. O significante é onde se emenda com um nó a gramática RSI com sinthoma, ou seja, com falso furo no RSI: “é o falo que tem o papel de verificar que o falso furo é real.

Na medida em que o sintoma faz um falso furo com o simbólico, há uma práxis qualquer; alguma coisa proveniente do dizer, da a arte-dizer, para deslizar junto ao ardor. (Lacan. S.23: 114). O único real que verifica o que quer que seja é o falo, pois, ele é o suporte da função do significante, ele que cria o significado.

A lalíngue capitalista asiática será uma invenção de um conjunto de mulheres. O homem asiático como portador do significante capitalismo corporativo mundial cyber remete para a gramática RSI determinada pela lalíngue, onde o único real que verifica a realidade do capitalismo em tela é o falo, sem vínculo direto com a ordem edipiana em colapso.

A mulher como sinthoma do homem asiático faz um falso furo com o simbólico, e aí surge uma práxis, uma arte-dizer a gramática do mundo cyber capitalista da contemporaneidade. O falo é o único real que verifica a realidade dos fatos, pois, ele é o suporte da função do significante que engendra o significado; é claro que o falasser asiático instaurará pelo dizer os fatos que rearticularão a realidade do sujeito do mundo ocidental. Trata-se de gramaticalizar o falasser em questão nas nossas próprias línguas ou gramáticas em economia psicanalítica.     

O presidencialismo em colapso e também o parlamentarismo em colapso aparecem como efeito da dissolução da lalíngue ocidental, ou seja, Édipo em colapso. Porém, a mulher é como o diabo do romantismo alemão que inventa o homem como portador do significante no colapso do latim:
“MEFISTÓFELES
Sou parcela do além,
 Força que cria o mal e também faz o bem!
FAUSTO
Que dizes com palavras dúbias, meu herói?
MEFISTÓFELES
Eu sou aquele gênio que nega o que destrói!
E o faço com razão; a obra da Criação
Caminha com vagar para a destruição.
Seria bem melhor se nada fosse criado.
Por isso, tudo aquilo o que chamas pecado,
Ou também ‘destruição’, ou simplesmente ‘o mal’
Constitui meu elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-60).

GOETHE, J.W. Fausto & Werther. SP: Nova Cultural, 2002
LACAN, Jacques. Outros Escritos. RJ: Jorge Zahar Editor, 2003
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 16. De um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008
Lacan, Jacques. Le Séminaire. Livre XVII. L’envers de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1991
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse semblante. RJ: Zahar, 2009
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 23. O sinthoma. RJ: Zahar, 2007
MARX. E Engels. Textos. V. 1. SP: Edições Sociais, 1975

    
        




         



   
     

  



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