José Paulo Bandeira
Estou desenvolvendo o trabalho
sobre o campo lacaniano/marxista. Trata-se da psicanálise lacaniana marxista.
Do que ela difere do freudismo?
O campo do freudismo se articula
pela filosofia modernista do homo clausus.
O indivíduo da metafísica do individualismo se suporta no enunciado – o indivíduo
é o ser no real, pois, o real é onde se forma o ser. Para o psicanalista do
freudismo só o indivíduo é real seja como neurótico, ou psicótico, ou perverso.
Trata-se da percepção sensível (contanto que passe pelo ouvir ou ver) freudiana
da sociedade burguesa freudiana. Tal sociedade se supõe herdeira da sociedade
liberal burguesa do século XX. Nessa sociedade freudiana, a política é o
comando da vida privada sobre a vida pública como na sociedade liberal burguesa?
OU a economia capitalista no comando da política?
Antigamente, costumava-se saber algo
sobre a fórmula leninista da política comunista como a política no comando da
economia, a vida pública no comando gramatical da vida privada.
Já mostrei que há dois grandes
períodos no pensamento político de Lacan ou discurso de Lacan. O segundo
período pega os Seminários 16, 17, 18, 19 e 20. Trata-se do período em que
Lacan funda, conscientemente como expressão de um desejo sexual comunista, um
campo lacaniano marxista (Marx e Lenin) em oposição ao campo freudiano liberal.
Este gerou a sociedade freudiana burguesa do americanismo em expansão até à China,
na atualidade.
Se metabolizado pelas massas simbólicas, em
primeiro lugar, o campo lacaniano pode articular uma sociedade comunista
lacaniana. Como toda a psicanálise (escolas freudianas e escolas lacanianas do
campo freudiano) faz parte da sociedade freudiana burguesa, ela exclui a ideia de
que há um Lacan do marxismo ocidental. A psicanálise em geral foge do Lacan
comunista como o diabo foge da cruz.
Cruz credo!
Um efeito encantador, ainda
desconhecido, do Lacan marxista, encontra-se No Seminário XX. Neste, Lacan articula a política em uma
transdialética materialista com o místico.
A política universal é articulação
da prática pela metabolização das massas simbólicas sujeito grau zero comunista
pelo gozo homo Phalicus. Tal gozo é o gozo do homem castrado pela
função de castração do Pai. A castração é o recalque de aura sacra fames (desejo sexual sem limite pela acumulação do
ouro/dinheiro/riqueza material) que permite ao homo phalicus gozar COM parte do corpo da mulher. (O gozo faz
pendant com a gramática do amor). Tal gozo
phalicus articula a sociedade liberal burguesa com sua moral política de
separação entre o privado e o público, contanto que a sociedade civil seja o
palco da história: a economia capitalista no comando da política burguesa. Trata-se
da fórmula do Marx: o Estado liberal é o comitê da burguesia.
Percebam que a
gramática de desejo sexual da língua política universal aura sacra fames está banida da vida política.
Depois da II Guerra Mundial, uma
revolução burguesa freudiana assaltou a vida política americana. Trata-se do trans-sujeito do americanismo. Essa
revolução freudiana é a revolução da mulher. Ela é uma cultura revolucionária
freudiana mulher que invade a sociedade do homem americano, com homens se
alinhando no campo mulher, não-todo. O multiculturalismo é o seu efeito
manifesto mais visível na sociedade do homem, ou territorial nacional, ou
territorial orbital.
A revolução mulher é articulada,
em uma tela gramatical não-toda, por um gozo suplementar ao gozo homo phalicus. Não se trata de gozo
complementar, pois, isso significa cair de volta no todo fálico. O gozo da mulher
é não-todo, não-tudo, mas ela vai com tudo como cultura revolucionária da
mulher na sociedade do homo phalicus
- sociedade do homem.
A mulher quer castrar o homem.
Ela quer ocupar a função do Pai?
O gozo não-todo é o modo de
homens e mulheres se alinharem no lado mulher, lado não-tudo. Este gozo é o
gozar da mulher com o olhar sobre ela do Outro, de Deus, é o gozo místico de Santa
Tereza que pode ser observado em Roma na estátua de Bernine. A mulher atual goza
com o olho do Deus, ou com o olho do americanismo do Diabo alemão industrial,
isto é, o trans-sujeito do americanismo observando-a, principalmente na tela
eletrônica negra. Secularização do gozo místico de Santa Tereza!
Nenhuma mulher deixa de ser Santa Tereza de Benini por
gozar com o olho do Diabo sobre si. Talvez seja deliciosamente sublime negro!
O gozo místico articula a sociedade
do homem como invasão do não-todo, como gozo mulher suplementar à política. Tal
gozo remexe a gramática da língua política em geral. Não se trata da economia
capitalista no comando da política, nem da política leninista no comando da
economia. Não se trata da esfera privada dominando a esfera pública,
vice-versa. Trata-se da teologia faccional secular do gozo místico de Santa
Tereza. Teologia da revolução burguesa freudiana onde mulher significa, na linguagem popular francesa, a
Burguesa.
Vivemos uma era onde a teologia gramatical
mística come pelas beiradas a política fálica da gramática da sociedade do
homem. Isto é melhor ou é pior do que o passado liberal burguês?
O gozo da mulher é o gozo para
além do falo. Há o gozo dela, na medida em que a mulher não ex-siste como
totalidade fálica, mas como causa ausente althusseriana da história da sociedade
do homem. Assim, ela é excluída da gramática da physis das coisas políticas
realizada em palavras. A política se faz com palavras (invenção grega da
antiguidade), a mulher está excluída da gramática da physis da língua política.
Mulheres fálicas se apoderam de tal gramática.
A causa ausente do território
político nacional é a causa primeira de toda a crise brasileira. Dilma Rousseff
era uma presidente fálica? Ou ela era gozo místico secular de Santa Tereza articulando
lateralmente a política nacional? Ela gozava com o olho do Diabo do americanismo,
ao observá-la. E aí... chegamos ao ponto atual da nossa miserável e infeliz política
territorial nacional.
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