quinta-feira, 27 de outubro de 2016

FREUD BURGUÊS VERSUS LACAN MARXISTA?

José Paulo Bandeira 

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Estou desenvolvendo o trabalho sobre o campo lacaniano/marxista. Trata-se da psicanálise lacaniana marxista. Do que ela difere do freudismo?

O campo do freudismo se articula pela filosofia modernista do homo clausus. O indivíduo da metafísica do individualismo se suporta no enunciado – o indivíduo é o ser no real, pois, o real é onde se forma o ser. Para o psicanalista do freudismo só o indivíduo é real seja como neurótico, ou psicótico, ou perverso. Trata-se da percepção sensível (contanto que passe pelo ouvir ou ver) freudiana da sociedade burguesa freudiana. Tal sociedade se supõe herdeira da sociedade liberal burguesa do século XX. Nessa sociedade freudiana, a política é o comando da vida privada sobre a vida pública como na sociedade liberal burguesa? OU a economia capitalista no comando da política?

Antigamente, costumava-se saber algo sobre a fórmula leninista da política comunista como a política no comando da economia, a vida pública no comando gramatical da vida privada.

Já mostrei que há dois grandes períodos no pensamento político de Lacan ou discurso de Lacan. O segundo período pega os Seminários 16, 17, 18, 19 e 20. Trata-se do período em que Lacan funda, conscientemente como expressão de um desejo sexual comunista, um campo lacaniano marxista (Marx e Lenin) em oposição ao campo freudiano liberal. Este gerou a sociedade freudiana burguesa do americanismo em expansão até à China, na atualidade.       

Se metabolizado pelas massas simbólicas, em primeiro lugar, o campo lacaniano pode articular uma sociedade comunista lacaniana. Como toda a psicanálise (escolas freudianas e escolas lacanianas do campo freudiano) faz parte da sociedade freudiana burguesa, ela exclui a ideia de que há um Lacan do marxismo ocidental. A psicanálise em geral foge do Lacan comunista como o diabo foge da cruz. 

Cruz credo!

Um efeito encantador, ainda desconhecido, do Lacan marxista, encontra-se No Seminário XX. Neste, Lacan articula a política em uma transdialética materialista com o místico.

A política universal é articulação da prática pela metabolização das massas simbólicas sujeito grau zero comunista pelo gozo homo Phalicus.  Tal gozo é o gozo do homem castrado pela função de castração do Pai. A castração é o recalque de aura sacra fames (desejo sexual sem limite pela acumulação do ouro/dinheiro/riqueza material) que permite ao homo phalicus gozar COM  parte do corpo da mulher. (O gozo faz pendant com a gramática do amor). Tal gozo phalicus articula a sociedade liberal burguesa com sua moral política de separação entre o privado e o público, contanto que a sociedade civil seja o palco da história: a economia capitalista no comando da política burguesa. Trata-se da fórmula do Marx: o Estado liberal é o comitê da burguesia. 

Percebam que a gramática de desejo sexual da língua política universal aura sacra fames está banida da vida política.

Depois da II Guerra Mundial, uma revolução burguesa freudiana assaltou a vida política americana. Trata-se do trans-sujeito do americanismo. Essa revolução freudiana é a revolução da mulher. Ela é uma cultura revolucionária freudiana mulher que invade a sociedade do homem americano, com homens se alinhando no campo mulher, não-todo. O multiculturalismo é o seu efeito manifesto mais visível na sociedade do homem, ou territorial nacional, ou territorial orbital.

A revolução mulher é articulada, em uma tela gramatical não-toda, por um gozo suplementar ao gozo homo phalicus. Não se trata de gozo complementar, pois, isso significa cair de volta no todo fálico. O gozo da mulher é não-todo, não-tudo, mas ela vai com tudo como cultura revolucionária da mulher na sociedade do homo phalicus - sociedade do homem.

A mulher quer castrar o homem. Ela quer ocupar a função do Pai?  

O gozo não-todo é o modo de homens e mulheres se alinharem no lado mulher, lado não-tudo. Este gozo é o gozar da mulher com o olhar sobre ela do Outro, de Deus, é o gozo místico de Santa Tereza que pode ser observado em Roma na estátua de Bernine. A mulher atual goza com o olho do Deus, ou com o olho do americanismo do Diabo alemão industrial, isto é, o trans-sujeito do americanismo observando-a, principalmente na tela eletrônica negra. Secularização do gozo místico de Santa Tereza!  
Nenhuma mulher deixa de ser Santa Tereza de Benini por gozar com o olho do Diabo sobre si. Talvez seja deliciosamente sublime negro!

O gozo místico articula a sociedade do homem como invasão do não-todo, como gozo mulher suplementar à política. Tal gozo remexe a gramática da língua política em geral. Não se trata da economia capitalista no comando da política, nem da política leninista no comando da economia. Não se trata da esfera privada dominando a esfera pública, vice-versa. Trata-se da teologia faccional secular do gozo místico de Santa Tereza. Teologia da revolução burguesa freudiana onde mulher significa, na linguagem popular francesa, a Burguesa.

Vivemos uma era onde a teologia gramatical mística come pelas beiradas a política fálica da gramática da sociedade do homem. Isto é melhor ou é pior do que o passado liberal burguês?  

O gozo da mulher é o gozo para além do falo. Há o gozo dela, na medida em que a mulher não ex-siste como totalidade fálica, mas como causa ausente althusseriana da história da sociedade do homem. Assim, ela é excluída da gramática da physis das coisas políticas realizada em palavras. A política se faz com palavras (invenção grega da antiguidade), a mulher está excluída da gramática da physis da língua política. Mulheres fálicas se apoderam de tal gramática.

A causa ausente do território político nacional é a causa primeira de toda a crise brasileira. Dilma Rousseff era uma presidente fálica? Ou ela era gozo místico secular de Santa Tereza articulando lateralmente a política nacional? Ela gozava com o olho do Diabo do americanismo, ao observá-la. E aí... chegamos ao ponto atual da nossa miserável e infeliz política territorial nacional.              

          
    


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