Ela é carioca (Tom Jobim)
Ela é carioca, ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho assim
para dar
Eu vejo na cor dos seus olhos
As noites do Rio ao luar
Vejo a mesma luz, vejo o mesmo
céu
Vejo o mesmo mar
Ela é meu amor, só me vê a mim
A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar
A paz que sonhei
Só sei que sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca, ela é carioca
Só sei que sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca, ela é carioca
Na década de 1950, o Rio foi o
palco do nascimento da bossa nova com João Gilberto (baiano) e Tom Jobim
(carioca). Eles exportaram-na para a América. E na década de 1960 fizeram parte
do acontecimento que fez da música popular a tela agramatical musical
industrial do americanismo heideggeriano.
Tom e João e o outros
bossanovistas cariocas quase ficaram ricos, famosos e se tornaram celebridades
do campo de poder hobbesiano mundial. Se transformaram em atores/celebridades
hobbesianos fazendo parelha com Elvis Presley, Beatles e Rollin Stones. A Garota de Ipanema é uma das 4 músicas
mais gravadas (em vários idiomas) e tocada no planeta.
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um
poema
É a coisa mais linda que eu já vi
passar
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que
quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de
graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
A carioca é inscrita na galeria
de personagens (mulher) da história ficcional universal. O leitor verá que não
estou exagerando. A carioca passa a ex-existir na tela poiética musical industrial
negra mundial como o avesso da mulher cadela negra do Fédon (Xantipa) e da cadela negra Catarina do The taming of the shrew (Megera domada, em português”).
A tela agramatical musical
industrial negra faz pendant com o Estado agramatical negro e a sociedade agramatical
matilha negra: sociedade do cão negro e da cadela negra (máquina de guerra
negra do Diabo). Tais fenômenos são o efeito do trans-sujeito do americanismo
mundial, finalmente, vindo à luz na teoria política gramatical do Diabo alemão
romântico.
É o dia da execução de Sócrates,
e nesse dia somos levados à presença de Xantipa: “Entramos, pois, e encontramos
junto a Sócrates, que acabava de ser desagrilhoado, Xantipa (tua a conheces!),
que segurava o filho mais novo, sentada ao lado do marido. Assim que ela nos
viu, choveram maldições e palavrórios como só as mulheres sabem proferir: ‘Vê,
Sócrates, esta é a última vez que conversam contigo os teus amigos, e tu com
eles! Sócrates lançou um olhar na direção de Críton: ‘Críton, disse faze com
que a conduzam para casa!’ E, enquanto era levada pela gente de Críton, ela se
debatia e gritava”. (Platão: 66).
Shakespeare transformou a cadela
negra metafísica universal Xantipa da antiguidade filosófica em Catarina,
a cadela negra wit da Comédia inglesa da
sociedade de corte tardia. No seu The
taming of the shrew, o dramaturgo/poeta inglês criou uma Banda de Moebius
literária. No lado direito, encontra-se Catarina, que possui um gênio terrível;
no lado avesso está a angelical Bianca, irmã de Catarina, possuidora de uma
índole mansa e cordata, sexualmente angelical.
A caracterização da cadela negra kath (a cadela negra Xantipa da
modernidade) é clara e distinta:
“Gre.
[Aside] To cart her rather : she’ too
rough for me. –
There, there, Hortensio, will you
any wife?
Kath. [To BAP.] I pray
you, sir, is it your will
To make a stale of me amongst
these mates?
Hor. Mates, maid! how mean you that? no mates for you,
Unless you were of gentler, milder
mould.
Kath.
I’ faith, sir, you shall never need to fear:
I wis, it is not half way to her
hear;
But, if it were, doubt not her
care should be
To comb your noddle with a three-legg’d stool,
And paint your face, and use you
like a fool.
Hor. From all such devils,
good Lord, deliver us?
Gre. And me too, good Lord? (Shakespeare:
242)
Xantipa é um efeito do trans-sujeito
sério da metafísica da politeia da antiguidade. Catarina é um efeito do trans-sujeito
witz shakesperiano que faz pendant com o trans-sujeito freudiano: “ayant à enseigner
la théorie de l’inconscient à de médicins, analystes ou analysés, Lacan leur
donne, dans la rhétorique de sa parole, l’équivalent mimé du langage de l’inconscient,
qui est, comme chacun sait, en son
essence ultime, ˂ witz >, calembour,
métaphore, ratée ou réussie: l’equivalent de l’expérience vécue dans leur
pratique qu’elle soit d’analyste ou d’analysé”. (Althusser: 20).
Althusser vê a mulher freudiana tradicional na
história sem sujeito, ao reler Lacan com Freud, como não-todo, parte do todo,
facção assujeitada ao todo SIR (Simbólico/Imaginário/Real). Tal todo estabelece
a relação sexual de gênero como universal na história da espécie humana com formações
ideológicas em um SIR fálico. (Althusser: 26-27). É tal fato que leva à fórmula lacaniana - a relação sexual não ex-siste?
No SIR fálico, a mulher jamais tem
o direito ao falo, a não ser que este seja a criança-falo da Mãe, ou homem-falo
(esposo) da esposa. Trata-se da sociedade patriarcal ocidental universal
europeia da década de 1960. Althusser estava completamente cego, ele só via a
semblância mulher: “Ora, a mulher nada é mais que aparência”. (Baudrillard.
1991: 15).
Budrillard tem mais uma coisa a dizer
sobre a mulher, a mulher parisiense dele:
“A mulher “tradicional” não era
nem recalcada, nem proibida de gozar; ela estava inteiramente dentro de seu estatuto,
de nenhum modo vencida, de nenhum modo passiva, sonhando forçosamente com sua
futura ‘liberação’. São as boas almas que retrospectivamente veem a mulher de
todos os tempos alienada e depois liberada no seu desejo. E existe um profundo
desprezo nessa visão, o mesmo que em relação às massas ditas ‘alienadas’ que
supostamente nunca foram capazes de ser outra coisa que gado mistificado”. (Baudrillad.
1991: 25).
Após a II Guerra Mundial, a
América é o território objetivo/subjetivo da revolução demoncrática, ou revolução
das máquinas de guerra negras do Diabo RSI. A América é também o espetáculo da revolução
da mulher americana, passagem da mulher não-todo SIR para a mulher RSI. O
efeito do pendant de tais acontecimentos é a Banda de Moebius RSI (lado
direito) e SIR (lado avesso).
A publicidade industrial do belo do
americanismo precisou do corpo da mulher para conquistar, através do capital
corporativo eletrônico (televisão), o sujeito mulher (mulheres) para a sociedade
de consumo capitalista para todos: “Desta maneira, a abundância e o consumo,
não de bens materiais, dos produtos e dos serviços, mas a imagem consumida do
consumo é que constitui a nova mitologia tribal – a moral da modernidade”.
(Baudrillard. 1981: 241).
A tela agramatical industrial negra sociedade
de consumo fez do corpo belo da mulher (modelo, atriz, cantora) a imagem/mercadoria
de um espetáculo de consumo sexual perversus estético eletrônico da sociedade matilha negra. que faz pendant com o Estado agramatical negro mumdial!
Esses são outros tantos problemas
reais abertos, que constituem, desde agora, outros tantos campos de
investigação. Não é impossível que, em um futuro próximo, a lógica do
significante lacaniano se transforme na gramática metafísica freudiana.
A revolução contrafreudiana negra da
mulher produziu um efeito no campo lacaniano: a passagem do domínio - na
historial Banda de Moebius do século XXI - do SIR para o RSI. A mulher deixou
seu lugar tradicional de não-todo e se transmutou no gozo do real que articula a totalidade mundial RSI. O gozo do real
mulher é a mulher como vontade de potência agramatical negra!
Tal leitura é a revolução lacaniana do próprio
campo lacaniano!
Meninos, eu vi!
Assim, a Xantipa do século XXI não
é a Kath witz, a Xantipa domada (pelo
homem-fálico/ da sociedade de corte inglesa), e conduzida, com um sopro
enérgico encantando e encantador, como uma formiguinha-trocadilho, do lado
direito da máquina do Diabo (cadela negra) ao lado avesso da Banda (o sujeito
mulher angelical como efeito do trans-sujeito shakespeariano Deus), onde se encontra a própria
irmã angelical de Catarina: Bianca.
No final da peça, Catarina ≅ Bianca = sujeito
mulher, mulheres angelicais, esposas mansas, dóceis, cordatas da sociedade patriarcal
SIR europeia da era das grandes navegações e da descoberta da América, acontecimento
necessário para se chegar à revolução demoncrática do americanismo fazendo
parelha com a revolução mundial contrafreudiana Xantipa!
O “drama” cômico freudiano inglês
não é mais útil para refletir a história da mulher no século XXI, a não ser
para comparar as épocas. A Xantipa do nosso século está determinada a desfechar
um golpe de Estado negro, agramatical, no homem. Ela não se contenta com a condenação de
Sócrates à morte pelo Estado negro politeia. A palavra de ordem e combate é: o homem é um
estuprador/Sócrates e seus amigos filósofos legitimam o estupro real da mulher!
A sociedade gramatical do homem
da antiguidade deve desaparecer!
Não se trata, portanto, da revolução
Garota de Ipanema, pois, pois!
ALTHUSSER, Louis. Positions. Freud
e Lacan. Paris: Editions Sociales, 1976
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de
consumo. Lisboa/SP: Livraria Martins Fontes, 1981
BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Papirus, 1991
PLATÃO. Fédon. Pensadores. SP:
Abril Cultural, 1972
SHAKESPEARE, William. The Complete
Illustrated Works. London: Chancellor Press, 1993
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