quinta-feira, 13 de outubro de 2016

ELA É CARIOCA ou Xantipa?



Ela é carioca (Tom Jobim) 

Ela é carioca, ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho assim para dar

Eu vejo na cor dos seus olhos
As noites do Rio ao luar
Vejo a mesma luz, vejo o mesmo céu
Vejo o mesmo mar

Ela é meu amor, só me vê a mim
A mim que vivi para encontrar
Na luz do seu olhar
A paz que sonhei

Só sei que sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca, ela é carioca

Só sei que sou louco por ela
E pra mim ela é linda demais
E além do mais
Ela é carioca, ela é carioca

Na década de 1950, o Rio foi o palco do nascimento da bossa nova com João Gilberto (baiano) e Tom Jobim (carioca). Eles exportaram-na para a América. E na década de 1960 fizeram parte do acontecimento que fez da música popular a tela agramatical musical industrial do americanismo heideggeriano.

Tom e João e o outros bossanovistas cariocas quase ficaram ricos, famosos e se tornaram celebridades do campo de poder hobbesiano mundial. Se transformaram em atores/celebridades hobbesianos fazendo parelha com Elvis Presley, Beatles e Rollin Stones. A Garota de Ipanema é uma das 4 músicas mais gravadas (em vários idiomas) e tocada no planeta.
                                                       
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela, menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa                                                
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor

A carioca é inscrita na galeria de personagens (mulher) da história ficcional universal. O leitor verá que não estou exagerando. A carioca passa a ex-existir na tela poiética musical industrial negra mundial como o avesso da mulher cadela negra do Fédon (Xantipa) e da cadela negra Catarina do The taming of the shrew  (Megera domada, em português”).

A tela agramatical musical industrial negra faz pendant com o Estado agramatical negro e a sociedade agramatical matilha negra: sociedade do cão negro e da cadela negra (máquina de guerra negra do Diabo). Tais fenômenos são o efeito do trans-sujeito do americanismo mundial, finalmente, vindo à luz na teoria política gramatical do Diabo alemão romântico.

É o dia da execução de Sócrates, e nesse dia somos levados à presença de Xantipa: “Entramos, pois, e encontramos junto a Sócrates, que acabava de ser desagrilhoado, Xantipa (tua a conheces!), que segurava o filho mais novo, sentada ao lado do marido. Assim que ela nos viu, choveram maldições e palavrórios como só as mulheres sabem proferir: ‘Vê, Sócrates, esta é a última vez que conversam contigo os teus amigos, e tu com eles! Sócrates lançou um olhar na direção de Críton: ‘Críton, disse faze com que a conduzam para casa!’ E, enquanto era levada pela gente de Críton, ela se debatia e gritava”. (Platão: 66).

Shakespeare transformou a cadela negra metafísica universal Xantipa da antiguidade filosófica em Catarina, a  cadela negra wit da Comédia inglesa da sociedade de corte tardia. No seu The taming of the shrew, o dramaturgo/poeta inglês criou uma Banda de Moebius literária. No lado direito, encontra-se Catarina, que possui um gênio terrível; no lado avesso está a angelical Bianca, irmã de Catarina, possuidora de uma índole mansa e cordata, sexualmente angelical.

A caracterização da cadela negra kath (a cadela negra Xantipa da modernidade) é clara e distinta: 

Gre. [Aside] To cart her rather : she’ too rough for me. –
There, there, Hortensio, will you any wife?
Kath. [To BAP.] I pray you, sir, is it your will
To make a stale of me amongst these mates?
Hor. Mates, maid! how mean you that? no mates for you,
Unless you were of gentler, milder mould.
 Kath. I’ faith, sir, you shall never need to fear:
I wis, it is not half way to her hear;
But, if it were, doubt not her care should be
To comb your noddle  with a three-legg’d stool,
And paint your face, and use you like a fool.
Hor. From all such devils, good Lord, deliver us?
Gre. And me too, good Lord? (Shakespeare: 242)

Xantipa é um efeito do trans-sujeito sério da metafísica da politeia da antiguidade. Catarina é um efeito do trans-sujeito witz shakesperiano que faz pendant com o trans-sujeito freudiano: “ayant à enseigner la théorie de l’inconscient à de médicins, analystes ou analysés, Lacan leur donne, dans la rhétorique de sa parole, l’équivalent mimé du langage de l’inconscient, qui est, comme  chacun sait, en son essence  ultime, ˂ witz >, calembour, métaphore, ratée ou réussie: l’equivalent de l’expérience vécue dans leur pratique qu’elle soit d’analyste ou d’analysé”. (Althusser: 20).

Althusser vê a mulher freudiana tradicional na história sem sujeito, ao reler Lacan com Freud, como não-todo, parte do todo, facção assujeitada ao todo SIR (Simbólico/Imaginário/Real). Tal todo estabelece a relação sexual de gênero como universal na história da espécie humana com formações ideológicas em um SIR fálico. (Althusser: 26-27). É tal fato que leva à fórmula lacaniana - a relação sexual não ex-siste?

No SIR fálico, a mulher jamais tem o direito ao falo, a não ser que este seja a criança-falo da Mãe, ou homem-falo (esposo) da esposa. Trata-se da sociedade patriarcal ocidental universal europeia da década de 1960. Althusser estava completamente cego, ele só via a semblância mulher: “Ora, a mulher nada é mais que aparência”. (Baudrillard. 1991: 15).    

Budrillard tem mais uma coisa a dizer sobre a mulher, a mulher parisiense dele:
“A mulher “tradicional” não era nem recalcada, nem proibida de gozar; ela estava inteiramente dentro de seu estatuto, de nenhum modo vencida, de nenhum modo passiva, sonhando forçosamente com sua futura ‘liberação’. São as boas almas que retrospectivamente veem a mulher de todos os tempos alienada e depois liberada no seu desejo. E existe um profundo desprezo nessa visão, o mesmo que em relação às massas ditas ‘alienadas’ que supostamente nunca foram capazes de ser outra coisa que gado mistificado”. (Baudrillad. 1991: 25).       

Após a II Guerra Mundial, a América é o território objetivo/subjetivo da revolução demoncrática, ou revolução das máquinas de guerra negras do Diabo RSI. A América é também o espetáculo da revolução da mulher americana, passagem da mulher não-todo SIR para a mulher RSI. O efeito do pendant de tais acontecimentos é a Banda de Moebius RSI (lado direito) e SIR (lado avesso).

A publicidade industrial do belo do americanismo precisou do corpo da mulher para conquistar, através do capital corporativo eletrônico (televisão), o sujeito mulher (mulheres) para a sociedade de consumo capitalista para todos: “Desta maneira, a abundância e o consumo, não de bens materiais, dos produtos e dos serviços, mas a imagem consumida do consumo é que constitui a nova mitologia tribal – a moral da modernidade”. (Baudrillard. 1981: 241).

A tela agramatical  industrial negra sociedade de consumo fez do corpo belo da mulher (modelo, atriz, cantora) a imagem/mercadoria de um espetáculo de consumo sexual perversus estético eletrônico da sociedade matilha negra. que faz pendant com o Estado agramatical negro mumdial!  

Esses são outros tantos problemas reais abertos, que constituem, desde agora, outros tantos campos de investigação. Não é impossível que, em um futuro próximo, a lógica do significante lacaniano se transforme na gramática metafísica freudiana.

A revolução contrafreudiana negra da mulher produziu um efeito no campo lacaniano: a passagem do domínio - na historial Banda de Moebius do século XXI - do SIR para o RSI. A mulher deixou seu lugar tradicional de não-todo e se transmutou no gozo do real que articula a totalidade mundial RSI. O gozo do real mulher é a mulher como vontade de potência agramatical negra!

Tal leitura é a revolução lacaniana do próprio campo lacaniano!

Meninos, eu vi!

Assim, a Xantipa do século XXI não é a Kath witz, a Xantipa domada (pelo homem-fálico/ da sociedade de corte inglesa), e conduzida, com um sopro enérgico encantando e encantador, como uma formiguinha-trocadilho, do lado direito da máquina do Diabo (cadela negra) ao lado avesso da Banda (o sujeito mulher angelical como efeito do trans-sujeito shakespeariano Deus), onde se encontra a própria irmã angelical de Catarina: Bianca.

No final da peça, Catarina Bianca = sujeito mulher, mulheres angelicais, esposas mansas, dóceis, cordatas da sociedade patriarcal SIR europeia da era das grandes navegações e da descoberta da América, acontecimento necessário para se chegar à revolução demoncrática do americanismo fazendo parelha com a revolução mundial contrafreudiana Xantipa!    

O “drama” cômico freudiano inglês não é mais útil para refletir a história da mulher no século XXI, a não ser para comparar as épocas. A Xantipa do nosso século está determinada a desfechar um golpe de Estado negro, agramatical, no homem. Ela não se contenta com a condenação de Sócrates à morte pelo Estado negro politeia.  A palavra de ordem e combate é: o homem é um estuprador/Sócrates e seus amigos filósofos legitimam o estupro real da mulher!

A sociedade gramatical do homem da antiguidade deve desaparecer!

Não se trata, portanto, da revolução Garota de Ipanema, pois, pois!       

ALTHUSSER, Louis. Positions. Freud e Lacan. Paris: Editions Sociales, 1976
BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa/SP: Livraria Martins Fontes, 1981
BAUDRILLARD, Jean. Da sedução. Campinas: Papirus, 1991  
PLATÃO. Fédon. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1972
SHAKESPEARE, William. The Complete Illustrated Works. London: Chancellor Press, 1993     





     

                   
         
   

    

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