Os intelectuais americanos
possuem o monopólio da autointerpretação da realidade dos fatos americanos
atuais e da cultura política econômica dos EUA. Considerando que hoje os EUA é
um território nacional trans-subjetivo mundializado e a americanização da
trans-subjetivação das massas mundiais, e, portanto, qualquer discussão minimamente séria
sobre tal país, feita por não-americanos significa um olhar que não deve ser
menoscabado.
O ponto de partida de meu texto é, antes de tudo, o discurso teórico de Hamilton, discurso relais da cultura política intelectual econômica americana. Também o desejo sexual de interpretar a América está associado à apresentação diária da stasis americana na tela gramatical eletrônica (e na tela digital) em vários continentes. O desejo é o desejo de um físico (a)americano de pensar o império absolutista das máquinas de guerra psicopáticas nos Estados Unidos da América. Marcuse estava certo em apresentar a América da década de 1960 como uma sociedade totalitária como efeito da era da soberania das máquinas (Marcuse: 42, 43, 45, 46, 60, 77, 18-19).
O sniper da infantaria negra em Dallas praticava atos terroristas cuja tática ditatorial militar visava alterar o equilíbrio de força no campo de poder ditatorial transdialético articulado por um antagonismo cultural político trans-subjetivo entre o Estado ariano americano (personificado na polícia ariana) e as massas negras civis (assassinadas um a um homem negro pelo policial ariano).
Creio que este retrato expõe a crise americana irradiada pelo capital eletrônico militar mundial. Como o leitor pode ver, logo de início, meu texto não é um discurso narcotizante (morfina discursiva) sobre os EUA. Mas também não é fruto de uma versão sexual à América.
No The Fedelarist, os capítulos 28 e 29 lançam uma luz diáfana sobre a cultura política americana moderna clássica, que a torna precisa para a interpretação analítica historial da América em crise do século XXI.
Hamilton expõe o funcionamento da cultura política republicana através de seus princípios simples e elegantes. Por exemplo, o governo republicano americano se articula, essencialmente, pela força da lei. Este é o axioma soberano para a ideologia cultural política do The Federalist condensado na Constituição dos EUA. Tal significante axiomático remete para o problema inevitável do uso da violência sem limite do Estado da União condensado no Exército nacional permanente. Ou do uso da violência pela milícia popular como o povo em arma ou como um corpo militar especial, ou seja, um aparelho militar popular de Estado, dos pequenos proprietários.
Hamilton parte da ideia de que o estado de guerra se superpõe à sociedade civil percebida como estado de paz permanente. São fenômenos da história (physis política e cultura política universal) as guerras civis, as revoluções, insurreições civil ou militar, golpe de Estado, sedições, revoltas, as ligeiras comoções, que podem se condensar em um campo de poder ditatorial militar. Ao se alinhar com a física geopolítica de Hobbes, Hamilton aflora como o primeiro físico americano historial. O uso da violência pelo Estado tem que, restritamente, ser um uso democrático para a defesa da liberdade e da segurança do povo.
O poder governante é definido como jurisdição sobre os habitantes. Tal ideia significa a necessidade de uma trans-subjetivação da Constituição e das leis do país pelas massas americanas. No espaço público procedural, debatia-se se o melhor uso da violência era aquele do exército nacional permanente ou da milícia como povo em arma. O poder governante representativo aparece como o dispositivo mais eficaz contra o despotismo natural do exército federal permanente. Então, a milícia seria o dispositivo mais adequado para o uso da violência contra os fenômenos do estado de guerra.
Hamilton parte do antagonismo cultural político universal entre poder civil e poder militar. Ele pensa a natureza do confronto da força artificial do governo com a força natural do povo (Hamilton: 263). Trata-se do choque traumático entre a cultura política governamental e a physis política (força natural do povo). A história é uma interseção de cultura política e physis, entre pessoa/cidadão, autor/ator, máquina de guerra militar psicopática e contramáquina de guerra civil popular.
Se o governo tentar estabelecer a soberania do campo de poder ditatorial como forma política objetiva (reino absolutista das máquinas de guerra psicopáticas paranoicas), o povo em armas (na milícia civil) tem o dever de defender os seus direitos e sua liberdade. Um axioma da cultura política consiste:
“que os governos estaduais
proporcionarão, em todas as possíveis contingências, inteira segurança contra
as violações da liberdade pública por parte da autoridade nacional. As
tentativas de usurpação não podem ser mascaradas sob falsos pretextos, de
maneira a iludir a perspicácia de um grupo seleto de pessoas, como do público
em geral. Os legislativos devem dispor de excelentes meios de informação,
permitindo detectar os perigos à distância; contando com todos os órgãos do
poder civil e a confiança do povo, podem desde logo adotar um plano regular de
oposição, no qual se combinem todos os recursos da comunidade. Assim, estarão
em condições de se comunicar uns com os outros, nos diferentes Estados (repúblicas estaduais) e unir suas
forças comuns para a proteção da liberdade de todos” (Hamilton: 264).
As experiências de usurpação do poder civil pelo governo civil ou pelo aparelho militar nacional (que então ex-sisti como um poder militar político) não podem ser mascarados sob falsos pretextos e discursos que fossem semblância. Hamilton vê a semblância como um fenômeno trans-subjetivo na transdialética campo de poder ditatorial versus campo de poder democrático, regulado pela Constituição. Trata-se da dialética na superfície da cultura política econômica ditadura versus democracia.
O exército permanente nacional pode vir a se constituir em um poder político despótico em um campo de poder ditatorial superposto ao campo de poder democrático que tem na Constituição o dispositivo de maior segurança para a garantia da liberdade. O campo de poder ditatorial militar instala o MEDO nas massas, objeto de qualquer ciência da guerra:
“Não podemos esquecer que os
efetivos da força militar devem, em todos os casos, depender dos recursos do
país. Ainda por um longo tempo não será possível manter um grande exército; à
medida que crescem os meios para tanto, a população e o poderio natural da
comunidade aumentarão proporcionalmente. Quando chegar a tempo em que o governo
federal puder mobilizar e manter um exército capaz de dar margem a um
despotismo, dominando a enorme população de um imenso império, quem estará em
condições, por meio de seus governos estaduais, para tomar medidas em sua
própria defesa, com toda a rapidez, regularidade e sistema de nações
independentes? O medo pode ser considerado como uma doença, para a qual não há
cura nos recursos da argumentação e do raciocínio” (Hamilton: 264). O
federalismo americano não é um faz-de-conta!
Hamilton considera a ciência da guerra (pensamento político militar) necessária para pensar o funcionamento dialético campo de poder militar versus campo de poder civil:
“Não são necessários grandes
conhecimentos da ciência da guerra para perceber-se que a uniformidade na
organização e a disciplina da milícia serão conseguidas com os mais benéficos
efeitos sempre que a convocação se destinar à defesa pública. Isso permitirá
harmonizar os deveres da vida militar e da civil – uma vantagem de particular
importância nas operações de um exército – e fará com que ela adquira mais cedo
o grau de proficiência nas funções militares, essencial ao seu emprego. Esta
desejável uniformidade somente poderá ser conseguida confiando-se a
regulamentação da milícia à direção da autoridade nacional. Assim, é com a mais
evidente propriedade que o projeto da convenção propõe atribuir à União ‘as
providências para organizar, armar, e instruir a milícia, bem como determinar
que parte dela pode ser empregada a serviço dos Estados Unidos, reservando aos
respectivos Estados a designação dos oficiais e a autoridade de treinar a
milícia de acordo com a disciplina prescrita pelo Congresso’”. (Hamilton: 265
O Posse Comitatus Act é uma lei federal dos Estados Unidos, assinado em 18 de junho de 1878 pelo presidente Rutherford B. Hayes . A finalidade do ato - em conjunto com a Lei de Insurreição de 1807 - é a de limitar os poderes do governo federal no uso de militares federais para impor políticas internas dentro do Estados Unidos. Foi aprovada como emenda após o final da Reconstrução, e foi posteriormente atualizado em 1956 e 1981.
O Posse Comitatus Act é uma clara regulação legal do campo de poder ditatorial militar, pois, os americanos faziam da política uma atividade franca e aberta à leitura verdadeira das massas. Eles tentam evitar, até onde isso é possível, jogar o véu da semblância trans-subjetiva na forma política objetiva (e sobre as massas) que regula o campo de poder em sua integralidade:
“Que razões poderiam ser
invocadas para justificar que a força foi considerada como o único instrumento
de autoridade, simplesmente porque há um poder com direito a usá-la quando
necessário? O que devemos pensar dos motivos capazes de induzir homens sensatos
a racionar dessa maneira? Como evitaremos um conflito entre a piedade e a
condenação? ” (Hamilton: 266).
EMENDA II da Constituição Americana:
“Sendo necessária à segurança de
um estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo
de possuir e usar armas não poderá ser impedido”.
O direito à posse e ao uso das armas na Emenda II está diretamente associado à milícia. A Emenda é uma constitucionalização democrática no equilíbrio de força do campo de poder militar ditatorial.
O complexo industrial-militar é o
termo na maioria das vezes utilizado para se referir aos dos Estados Unidos,
onde se popularizou após o seu uso pelo presidente Dwight D. Eisenhower (Eisenhower
foi o 34º Presidente dos Estados Unidos de 1953 até 1961) em seu discurso de
despedida, embora o termo seja aplicável a qualquer país com uma
infra-estrutura de desenvolvimento similar, como, por exemplo, o Brasil.
O complexo –industrial militar associado ao serviço de informação, contrainformação, desinformação e terrorismo (CIA, FBA, NSA) constituem hoje a Okhrana mundial. A origem da Okhrana está associada à II Guerra Mundial. Parece que ainda estamos vivendo a conjuntura cultural política derivada da II Guerra. No entanto, a periodização ocorre com a passagem técnica do capital da era monopolista internacional, primeiro para a era transnacional e, finalmente, para a era mundial do século XXI. Esta periodização é essencial para se pensar a questão americana ao direito da posse e uso de armas pelo povo.
O complexo –industrial militar associado ao serviço de informação, contrainformação, desinformação e terrorismo (CIA, FBA, NSA) constituem hoje a Okhrana mundial. A origem da Okhrana está associada à II Guerra Mundial. Parece que ainda estamos vivendo a conjuntura cultural política derivada da II Guerra. No entanto, a periodização ocorre com a passagem técnica do capital da era monopolista internacional, primeiro para a era transnacional e, finalmente, para a era mundial do século XXI. Esta periodização é essencial para se pensar a questão americana ao direito da posse e uso de armas pelo povo.
Não escapa ao maravilhoso Hamilton que a republica possa ser uma máquina de guerra psicopática paranoica: “Por um curioso refinamento do espírito de desconfiança republicano, fomos levados até levados a temer que a milícia, nas mãos do governo federal, representasse em si uma ameaça. Foi ressaltada a possibilidade de serem constituídas unidades seletas, integradas por jovens entusiásticos, suscetíveis de se tornarem subservientes ante a ação de um poder arbitrário”. (Hamilton: 267). Toda esta reflexão do The Federalist estava voltada para pensar o campo de poder militar ditatorial que parece ser a causa da paranoia republicana. Hoje, o campo de poder ditatorial faz pendant com um estado de guerra possuído por fenômenos (cujo ator é a máquina de guerra psicopática americana) como a guerra lumpesinal (crime organizado, narcotráfico etc.), a guerra terrorista doméstica ou não, e a guerra racial ariana do Estado (judiciário e polícia arianos) contra negros e mestiços negros.
O campo de poder ditatorial militar mudou substancialmente. A Emenda II não é mais uma emenda que constitucionaliza democraticamente tal campo de poder. Ela é a emenda da arma como lógica do fetichismo da mercadoria da Okhrana: “À primeira vista, a mercadoria parece ser coisa trivial, imediatamente compreensível. Analisando-a, vê-se que ela é algo muito estranho, cheia de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas” (Marx. 1977: 68).
O fetichismo da mercadoria é a teoria da semblância irônica de Marx:
“A mercadoria é misteriosa
simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos
homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais
inerentes aos produtos do trabalho. Por ocultar, portanto, a relação social
entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la
como relação social existente, à margem deles, entre os produtos do seu próprio
trabalho. Através dessa dissimulação, os produtos do trabalho se tornam
mercadorias, coisas sociais, com propriedades perceptíveis e imperceptíveis aos
sentidos. A impressão luminosa de uma coisa sobre o nervo ótico não se
apresenta como sensação subjetiva desse nervo, mas como forma sensível de uma
coisa existente fora do órgão da visão. Mas, aí, a luz se projeta realmente de
uma coisa, o objeto externo, para outra, o olho. Mas a forma mercadoria e a
relação de valor entre os produtos do trabalho, a qual caracteriza essa forma,
nada têm a ver com a natureza física desses produtos nem com as relações
materiais dela decorrentes. Uma relação social definida, estabelecida entre os
homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. Para
encontrar um símile, temos de recorrer à região nebulosa da crença. Aí, os
produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas
que mantém relações entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os
produtos das mãos humanas no mundo das mercadorias. Chamo isto de fetichismo,
que está sempre grudado aos produtos, quando são gerados como mercadorias. É
inseparável da produção de mercadorias” (Marx. 1996: 81).
Não sei quando a cultura política econômica americana do The Federalist passou a se articular pela lógica do fetichismo da mercadoria que faz com que “un rapport social déterminé des hommes entre eux qui revê ici pour eux la forme fantastique d’un rapport des choses entre elles” (Marx. 1977: 69). A teoria da semblância da lógica da mercadoria é essencial para a leitura da sociedade americana atual? Ninguém sensato duvida que a América é uma sociedade capitalista! No entanto, os americanos não sabem que sabem que sua sociedade é parte de uma trans-subjetivação da lógica do fetichismo místico (ou mítico?) da mercadoria.
Com o fetichismo da mercadoria dominando a cultura política americana, os americanos têm a percepção sensível de que a política é uma relação entre coisas; o ator torna-se uma coisa; trata-se da coisificação da política. A política deixa de ser o produto das relações sociais, ou melhor, do laço cultural político econômico entre as massas que se constituem como autor. Ao não se verem mais como autor (pela soberania popular) da política, eles passam a metabolizar (a legitimar) a crença mitológica de que a política é feita por atores-coisas, ou melhor, máquinas de guerra em geral.
A lógica fetichista da mercadoria está associada à produção de mercadorias na economia capitalista, e, também, à produção da relação de coisas entre elas (máquinas psicopáticas) que articulam a política no campo da representação política. É só isso? A lógica da mercadoria acaba por articular o campo de poder ditatorial militar. O capital mundial militar não é o motor articulador desse campo?
A propósito, Baudrillard viu a lógica da sociedade de consumo americana como uma máquina de guerra psicopática que faz do economicismo militarizado trans-subjetivamente pelas massas (como seu princípio de felicidade) sua ideologia cultural política econômica:
“Que a recusa se pretenda
violenta ou não-violenta, constitui sempre a recusa do activismo na sociedade de
crescimento, do forcing pelo
bem-estar como nova ordem repressiva. Neste sentido, violência e não-violência
desempenham bem, como todos os fenômenos anómicos, o papel de reveladores. Da
sociedade que se quer e se vê hiperactiva e pacificada, o beat e os rockers por um
lado, os hippies, pelo outro, revelam
que as suas características profundas são, pelo contrário, a passividade e a violência. Uns retomam a violência latente desta sociedade para a
virar contra ela, levando-a ao paroxismo. Os outros empurram a passividade
secreta, orquestrada (por detrás da fachada de superactividade) da mesma
sociedade até a prática de total dimensão e associalidade, levando-a assim a
negar-se na sua própria lógica” (Baudrillard: 223).
A cultura política econômica da mercadoria militarizada transforma qualquer fenômeno da sociedade numa relação entre coisas. Isso é o princípio da violência articulando o laço cultural político econômico americano. Por exemplo, o terrorismo doméstico (e o serial killer) não são efeito-Coisa de tal laço? Não são máquinas (Coisa)?
A cultura política econômica da mercadoria militarizada transforma qualquer fenômeno da sociedade numa relação entre coisas. Isso é o princípio da violência articulando o laço cultural político econômico americano. Por exemplo, o terrorismo doméstico (e o serial killer) não são efeito-Coisa de tal laço? Não são máquinas (Coisa)?
Retomando o The Federalist. O povo em armas é um Coisa (uma máquina psicopática)? Ele apresenta problemas de organização militar e pode se tornar um estorvo para o funcionamento da economia nacional . Mas o povo em armas é a contramáquina de guerra poiética de inúmeras culturas políticas econômicas na história universal. A sua constituição em um corpo selecionado como milícia já seria já um aparelho militar de Estado, uma forma militar prosaica de máquina de guerra?
“Todavia – embora o esquema para
instruir toda a nação (militarmente)
deva ser abandonado como nocivo ou impraticável – ainda permanece como um
assunto da maior importância a adoção, tão cedo quanto possível, de um plano
bem concebido, com vistas a uma adequada organização da milícia. A atenção do
governo deve ser orientada particularmente para a formação de um corpo
selecionado, de moderado efetivo e sujeito a normas que o tornem realmente
capacitado para o serviço, em caso de necessidade” (Hamilton: 267).
Como a necessidade da milícia tornou-se inconsistente, a Emenda II não faz mais sentido na cultura política americana. Ela não é mais um instrumento para a defesa da liberdade e da segurança. Apenas a necessidade do capital militar americano mundializado parece sustentar a Emenda II como posse e uso pelos americanos de uma mercadoria: as armas de guerra no cotidiano da sociedade dos significantes capitalista. A Ordem do capital militar mundial é o motor que articula o campo de poder ditatorial na América.
Tal ordem não significa a América em crise?
A milícia significava defesa da liberdade e da segurança interna. Uma arma da democracia americana em uma transdialética com o exército permanente nacional, pois, este significa um perigo constante no sentido de transformar a forma objetiva política democracia em uma ditadura militarizada. Hamilton pensa o espaço público procedural (em diálogo e confronto com a classe política) como um artefato cultural político da democracia como ação estratégica agindo sobre o campo de poder ditatorial, que é o lugar de uma classe simbólica possuída pelos paradoxos retóricos e fanatismo político. No espaço público procedural, o bom-senso deve ser o guia da cultura política do sério, de um discurso que não fosse semblância:
“Há um detalhe tão artificial e
extravagante na ideia de que a milícia possa pôr a liberdade em perigo, que não
sei se devo tratá-lo com seriedade ou zombaria, se o considero como uma simples
demonstração de habilidade, como os paradoxos dos retóricos, ou como um
canhestro artifício para instilar preconceitos a qualquer preço, ou ainda como
um sério produto de fanatismo político. Onde, em nome do bom-senso, chegarão
nossos temores, se não pudermos confiar em nossos filhos, nossos irmãos, nossos
vizinhos, nossos concidadãos?
No século XXI americano não é mais possível confiar em nossos filhos, nossos irmãos, nossos vizinhos, nossos concidadãos? É preciso estudar nas melhores universidades americanas para perceber que a América do The Federalist não existe mais? A universidade americana não vê que a ideologia cultural política do The Federalist é uma semblância da physis política da verdadeira vida americana? Talvez tenha chegado a hora mais temida para Hamilton e seus amigos da revolução americana:
“Ao ler muitas das publicações
contra a Constituição, uma pessoa pode imaginar que está folheando algum
romance ou história mal-contada que, ao invés de imagens naturais e agradáveis,
exibe nada mais do que assustadores e disformes aspectos – ‘horrendas górgonas,
hidras e quimeras’ – manchando e desfigurando o que pretendem descrever e
transformando em monstros qualquer coisa em que tocarem” (Hamilton: 269).
Quando os americanos vão perceber, finalmente, que a Emenda II é somente o direito ditatorial à guerra no interior da sociedade americana da máquina de guerra psicopática?
BAUDRILLARD. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1981
HAMILTON, MADISON, JAY. O Federalista
(The Federalist). Brasília. Editora
UNB, 1984
MARCUSE, Hebert. A ideologia da
sociedade industrial. O homem unidimensional. RJ: Zahar Editores, 1973
MARX. Le capital. Livre premier.
Paris: Editions Sociales, 1977
Marx. O capital. Livro 1. v. I.
RJ: Bertrand Brasil, 1966
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