José Paulo
Tucídides faz a ciência da realidade histórica; a realidade é
composta por fenômenos? Ortega y Gasset diz que em Kant os fenômenos não são
contidos por uma estrutura. (Hegel. 1980: 22). A realidade fenomênica não
possui gramática, nem sentido. Em Hegel, o
fenômeno é o aparecer da essência, a essência em sua existência (Hegel. 1976:178) em um campo da história.
Kant parte da imaginação para pensar a realidade, do
princípio da apercepção, da superfície da aparência do estranho, mas, claro, do
absurdo, do exagerado, do hiperbólico ou do paradoxo que o fenômeno possa
revestir. (Pierobon: 136). EM Hegel, se
trata de saber o que é a essência histórica, se ela é o modo de ser psíquico do
perverso; em Kant, o campo fenomênico [existe um campo, ou é anarquia?] é
hiperbólico, isto é o fenômeno é da ordem da perversão, do absurdo, do
paradoxo.
O fenômeno é algo da realidade exterior à subjetividade? Há a
realidade objetiva fenomênica? Ou será que a imaginação produz o fenômeno?
(Pierobon: 144). A imaginação produz o fenômeno como absurdo, mas, claro,
paradoxo e hiperbólico, isto é, com perversão. A imaginação produz o modo de
ser psíquico do perverso. Hegel não é um histérico, simplesmente, ele é o
grande perverso verdadeiro que cria um teatro mundo dos fenômenos. Hegel produz
a <filosofia da história universal> do perverso da crítica da modernidade.
O logos dialético rege a história dos fenômenos, ele é a lógica da perversão da
história.
Péricles sobrediz a pólemos, a gramática perversa do
<quase nada> desencadeia a guerra da antiguidade:
“a ideia recôndita de que estaremos em guerra por quase nada;
esse <quase nada> , representa para nós a afirmação e prova de nossas
convicções políticas (...)”. (Tucidides: 78).
O assassinato é visto como um fenômeno natural da guerra
entre ´povos, como essência perversa da pólemos:
“e que evitassem tocar nos que estavam fora se não quisessem
que eles matassem os prisioneiros em seu poder; ao mesmo tempo se comprometiam
a devolvê-los se os tebanos evacuassem o
seu território. Esta, ao menos, foi a narrativa dos tebanos, que acrescentaram
ter havido um acordo confirmado por juramento. Os plateus, ao contrário,
sustentavam que não haviam prometido entregar imediatamente os prisioneiros,
mas estavam simplesmente negociando, numa tentativa de chegar a um acordo, e
afirmaram que nada haviam jurado. De qualquer modo os plateus, imediatamente
após haver trazido de volta à cidade aqueles que estavam no campo, massacraram
todos os prisioneiros, em número de cento e oitenta. Entre estes se encontrava
Eurímacos, o principal autor da traição”. (Tucídides: 85).
A essência perversa da história universal é o cesarismo
antigo (de Augusto) moderno bonapartista:
“Ao real perverso do
capital da foraclusão da revolução permanente europeia corresponde o surgimento
da forma de governo bonapartista. Forma de governo perversa, pois, teatraliza
ser o Império de Napoleão III. Sua gramática de sentido perversa foi
reconhecida e legitimada pelos franceses do alto e de baixo. Marx teria que
<explicar> como o presidencialismo falso perverso criou e recriou uma
tela perversa verdadeira, isto é, o bonapartismo. Ora, ele é o efeito do
sintoma do capital perverso francês, contra a burguesia francesa. Marx descobre
e inventa a comunidade psíquica do significante do juízo de gosto no campo
político europeu. O teatro imperial de napoleão III é o teatro do
barroco/iluminista perverso”. (Bandeira da Silveira: 2024. Dezembro: 151-152).
2
Uma analogia entre a antiguidade e a modernidade possível
evoca Tucidides e Lenin. A guerra e a revolução social são dois objetos da
história dos povos. Tucídides faz a análise concreta da polemos como situação
concreta articulando vários níveis da gramática; ele fala em afecções como medo
e coragem, modo de ser psíquico como liberdade e igualdade como fenômenos que
fazem parte da guerra; a guerra pressupõe a paz na consciência global dos povos
civilizados. É próprio da guerra ser uma ação violenta se escrevendo na
história. A guerra pressupõe a escritura, ou melhor, a <gramática da
realidade> (Philonenko: 184).
“Já era evidente que os lacedemônios tramavam contra nós, e
agora é ainda mais. Embora estivesse expressamente pactuado que submeteríamos
as nossas divergências à arbitragem, mantendo-se cada parte, neste interim, na
posse daquilo que tinha, nunca, até hoje, eles propuseram uma arbitragem, nem a
aceitaram quando sugerimos; para resolver os litígios eles preferem a guerra à
paz, e agora estão aqui para fazer exigências e não mais para apresentar
queixas”. (Tucídides: 78).
A gramática da realidade da paz e da guerra gira em torno da
propriedade de bens dos povos e dos indivíduos.
3
Lenin parte da separação abissal entre revolução e reforma,
entre materialismo histórico e o marxismo retórico de Plekhanov:
“Compreende-se, pois, que, sobre essa base econômica, a
revolução na Rússia seja, inevitavelmente, uma revolução burguesa. Essa tese
marxista é absolutamente irrefutável. Não se pode esquecê-la e ela deve ser
aplicada à análise de todos os problemas econômicos e políticos da revolução
russa”.
“Mas é preciso aplicá-la. A análise correta da situação e dos
interesses das diferentes classes deve servir para definir o valor preciso
dessa verdade quando esta se refere a esse ou àquele problema. O modo inverso
de raciocínio, que não raro encontramos entre os socialdemocratas da ala
direita liderados por Plekhanov, - isto é, a tendencia a procurar respostas
para problemas concretos no simples desenvolvimento lógico da verdade geral
sobre o caráter fundamental da nossa revolução – é uma vulgarização do marxismo
e uma completa zombaria do materialismo dialético. A essas pessoas que, da
verdade geral atinente ao caráter da nossa revolução, deduzem, por exemplo, o
papel dirigente da ‘burguesia’ na revolução ou a necessidade de os socialistas
apoiarem os liberais. Marx, certamente, aplicaria as palavras de Heine por ele
citadas: <Semeei dragões e colhi pulgas”. (Lenin. 1982: 10).
Aplicar as teses implica em recorrer à análise concreta de
uma situação concreta de uma gramática da realidade que é o evita a integral
interpretação retórica da realidade na articulação da prática política da
relação partido/massa, revolução/classe social. A verdade da luta de classe,
conjuntural/histórica, é aquilo que deve ser reconhecido e seguido como
gramática de um aparelho de hegemonia que se constitui em história de um novo
Estado.
4
Em Hegel, o Estado retórico é um fenômeno paradoxal, um
Estado do perverso hiperbólico, que ele não pode evitar:
“Só com esse tipo de atitude é que podemos reagir a esse
espetáculo terrível das paixões. Pode-se ampliar tais resultados, sem exagero
retórico (...)”. (Hegel. 1995: 26).
Retórico é a ideia de que o Estado é o que realmente existe:
‘O estado é o que existe, ´a vida real e ética, pois ele é a
unidade do querer universal, essencial, e do querer objetivo, - e isso é a
moralidade objetiva (...) As leis da moralidade objetiva não são acidentais,
são próprio racional. O fim do Estado é, pois, que vigore o substancial na
atividade real do homem e em sua atitude moral, que ele exista e se conserve em
si mesmo. O interesse absoluto da razão é que essa totalidade ética exista, e
aqui estão os direitos e o mérito dos heróis que fundaram Estados, ainda que
não tão desenvolvidos. Na história universal só se pode falar dos povos que
formam um Estado”. (Hegel. 1995: 39).
“O capital” é o livro que põe e repõe o problema da realidade
como história do capital, a história não retórica do capital como um
contraponto à história do Estado retórico hegeliano. A crítica da gramática do
capital é a passagem da ideologia idealista hegeliana para a ciência da
história:
“A estrutura capitalista se define pela relação capital e
trabalho. O trabalho como produtor de mais-valia (que se atualiza em lucro na
empresa capitalista) é o centro da relação social capitalista. A mais-valia é
parte de uma realidade invisível ao senso comum, lugar de um saber comum, por
excelência, das aparências de semblância”.
‘Para Marx, a estrutura não aparece para o saber do senso
comum, povoado de ideologias, como bom-senso, quando esse saber assume uma
forma organizada de forma de consciência: política, direito, religião,
filosofia. A estrutura só é uma realidade visível na gramática conceitual do
capital”. (Bandeira da Silveira. 2021: 8).
O capital como produção de mais-valia econômica se traduz no
Estado não-retórico como o lugar da mais-valia fiscal, do mais-gozar do Estado
lacaniano que é um Estado não-retórico, e sim um Estado da história que não é a
história universal hegeliana. (Bandeira da Silveira. 2022: caps 12, 13, 16).
5
O Estado retórico adquiriu uma forma paraconsistente na
história da URSS:
“A síntese conduzia ao Estado stalinista fortalecido. Reduzia
a história à gênese desse Estado; o que significa que hyá no stalinismo um
historicismo neo-hegeliano, apresentado em nome da ‘inversão’ do hegelianismo.
No acasalamento ‘filosofia-política’, que caracteriza a filosofia em seu último
estágio, o termo importante é o segundo. A filosofia propõe, o Estado dispõe. O
stalinismo realizou a filosofia hegeliana, que anunciava a realização de toda
filosofia, de toda racionalidade elaborada pelos filósofos, no e pelo Estado. O
stalinismo, sistema político, forneceu a verdade do sistema especulativo. E,
com isso, levou a seu ponto final uma história, a da filosofia e a do Estado,
dupla história que talvez contenha o essencial da história”. (Lefebvre: 4).
O Estado stalinista é retórico e não é retórico, é história e
é o fim da história do Estado hegeliano. O stalinismo ´a realização da história
universal retórica/totalitária hegeliana, como um modo de ser psíquico russo do
socialismo da grande ratazana perversa mundial.
Além da retórica, o Estado hegeliano pode ser a história da
tela gramatical narrativa constitucional:
“L’intitulé général ‘Constitution’ recouvre une théorie de
l’Etat. Elle commence par poser que l’Etat est pour ainsi dire l’esprit de la
loi”. (Taminiaux: 57).
A ideia de Estado-organismo é um recurso para falar de um
Estado que não fosse retórico:
“La puissance (Maccht) de l’Etat est l’instance réflexive et
vivant dans laquelle s’intériorisent les pouvoirs de la loi. Et comme c’est
seulement dans la loi que les individus sont préseervés dans leurs être-là,
leur vie et leur pensée, la théorie de l’Etat comme instance réflexive et
vivant de la loi et des pouvoirs de celle-ci sera tout autre chose qu’une
théorie du droit public ou constitutionnel. Elle as raprochera plutôt d’une
physiologie, em tant que théorie des fonctions d’un corps vivant et de organes
qui leur correspondent. Hegel dirá en ce sens que cet Esprit de l’Etat <est
à soi-même organisme étant-là>”. (Taminieux: 57).
O <Espírito do Estado> é uma tela verbal narrativa de
um organismo, uma tela biológica. Eis uma outra concepção de Estado que remete
para a história de uma tela verbal narrativa biológica, fática, - em uma
formação social. O Estado como instancia reflexiva e viva da lei e dos poderes
será bem diferente da gramática do direito público ou constitucional. A
gramática hegeliana do Estado tem força de direito na realidade biológica de
uma formação social. Escapar do Estado retórico constitucional requer fazer a passagem
do virtual para o biológico da sociedade burguesa. No Texto hegeliano, há essa
guerra civil barroco/iluminista contra a estrutura de dominação retórica no
pensamento europeu.
6
A fundação do Estado retórico em Hobbes requer o <contrato
social> (Skinner; 199), e, em Hegel, sobretudo, para a vontade universal.
(Taminiaux: 59). No entanto, uma cadeia de significantes vai do grande homem
sublime a ratazana perversa sublime, como estrutura ausente (Eco; 1971):
“Le <pouvoir sublime> du grand homme est une notion qui
qui n’est pas simplement un nouveau chaînon pour les mêmes, mais un nouveau
chaînon pour des termes profondément modifiés. Hegel écrits: <Le grand homme
a dans ses traits quelque chose qu fait que les autres peuvent les nommer leud
maître; ils lui obéissent contre leur volonté; contre leur volonté sa volonté
est leur volonté>, Autrement dit, face au tyran fondadeur, les volontés
singulières, loin de rester purement et simlesment positives, se dédoublent
elles-mêmes: pour une part, elles conservent leur positivité immédiate, pour
une autre part elles reconnaissent la volonté du tyran pour leur volonté
propre. La premère part est celle par laquelle ces volontés resistente, la
deuxième part est celle par laquelle elles obéissent au tyran, se rassamblent
autor de as bannière et le considèrent comme <leur dieu>”. (Taminieux:
60-61)
Para o leitor não ficar perdido, remeto-o para o presente.
Donald Trump aparece como um tirano, como se fosse um <deus>, para seus
seguidores. Ele é um grande homem político? Ou ele é a estrutura singular
ausente no Texto hegeliano?
Deve-se partir da diferença entre Júlio Cesar e Augusto César:
‘César [Júlio} fazia a guerra civil pelo interesse em manter
sua posição, sua honra e sua segurança. A vitória sobre os seus adversários,
cujo poder consistia no domínio das províncias do império romano, foi a
conquista de todo o império. Assim, tornou-se ele o detentor único do poder no
Estado, sem mudar a forma da constituição. O que ele conseguiu com a realização
de seu plano, inicialmente negativo – ou seja, o domínio pessoal de Roma -, foi
uma determinação necessária à história de Roma e do mundo”. (Hegel. 1995:
32-33).
A diferença entre o grande homem sublime e a ratazana
perversa sublime consiste e que esta muda a forma de governo constitucional,
como o fez Augusto, ao criar o Império romano, mantendo a república como
aparências de semblância.
7
O hegelianismo é materialismo (gramática) e idealismo
(ideologia) e, sobretudo uma interpretação retórica da história; Marx faz a
crítica do hegelianismo e o transforma na pré-história do materialismo
histórico. Começa com a crítica do trabalho produtivo retórico de Hegel:
“A mediação de preparar e de adquirir para as necessidades
particularizadas meios adequados igualmente particularizados é o trabalho (...)
Esta elaboração proporciona, pois, ao meio o valor e sua conformidade a
finalidade, de sorte que o homem se relaciona em seu consumo preferentemente
com produções humanas , e tais esforços são os que ele consome”. (Hegel. 1993:
630-631).
O trabalho produtivo histórico é parte da história da
mais-valia, produção de mais-valia econômica transformada em mais-valia fiscal
ou pública, no Estado lacaniano. (Lacan. S. 16: 30,29):
“Chega o momento de estudar a repartição da mais-valia entre
as diversas classes dentro das distintas categorias de lucro, juros e renda da
terra”. (Marx. 1974: 25).
8
Hegel opera com a lógica retórica para o campesinato; ainda
não é a história de uma classe social em uma história de uma conjuntura
específica, como o faz Marx; em Hegel é um conceito, mas não é um significante
histórico
“202. < a divisão <lógica> das classes>.
Segundo o conceito as classes se determinam como a classe
substancial ou imediata, a classe reflexiva ou formal, e finalmente a classe
universal.
203 < a classe camponesa e a nobreza>.
a)
A
classe substancial tem seu patrimônio nos produtos naturais de um solo que ela
trabalha, de um solo que é apto para ser exclusiva propriedade privada (...) porém
conserva por suas condições o caráter de uma subsistência menos mediada pela
reflexão e pela própria vontade, e assim em geral o carter substancial de uma
eticidade imediata que descansa na relação familiar e em na confiança”. (Hegel.
1993: 634).
O campesinato hegeliano retórico
confia no dominante. Marx analisou o campesinato como base de apoio do
cesarismo francês:
“Mas pode-se objetar: e os levantes
camponeses na metade da França, s investidas do exército contra os camponeses,
as prisões e deportações em massa de camponeses”.
‘A França não experimentava, desde
Luís XIV, uma semelhante perseguição de camponeses ‘por motivos demagógicos’. É
preciso que fique bem claro. A dinastia de Bonaparte representa não o camponês
revolucionário, mas o conservador; não o camponês que luta para escapar às
condições de sua existência social, a pequena propriedade, mas antes o camponês
que quer consolidar sua propriedade; não a população rural que, ligada à das
cidades, quer derrubar a velha ordem das coisas por meio de seus próprios
esforços, mas, ao contrário, aqueles que, presos por essa velha ordem em um
isolamento brutalista, querem ver-se a si próprios e suas propriedades salvos e
beneficiados pelo fantasma do Império. Bonaparte representa não o
esclarecimento, mas a superstição do camponês; não o seu bom senso, mas o seu
preconceito; não o seu futuro, mas o seu passado; não a moderna Cevènnes, mas a
sua moderna Vendée”. (Marx. 1974b: 403-404().
A relação entre o cesarismo e o
campesinato é de perversão falsa, o campesinato não é transformado em um
teatro-mundo da conjuntura da modernidade europeia.
A classe pública é um fenômeno da
lógica retórica hegeliana:
“205. < A classe dos servidores do
Estado>.
A classe universal tem como objeto
seu os interesses universais d situação social; deve, pois, ser dispensada do
trabalho direto em ordem as necessidades., já mediante patrimônio privado, já
indenizada pelo Estado que recebe sua atividade, de sorte que o interesse
privado encontra sua satisfação em seu trabalho como universal”. (Hegel. 1993:
636).
A sociedade de classe retórica
hegeliana é subsumida ao significante história da luta de classes:
“Até hoje, a história de todas as
sociedades que existira até nossos dias tem sido a história das lutas de
classes”.
“Homem livre e escravo, patrício e
plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores
e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
aberta, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma
transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suas
classes em luta”. (Marx e Engels: 21-22).
A classe universal é lógica retórica
que o jovem Marx fez a crítica com o significante <burocracia>.
9
A ciência política materialista
esclareceu o fenômeno da burocracia no jovem Marx:
“O ‘formalismo’ de Estado, que é a
burocracia, é o ‘Estado como formalismo’,
como tal formalismo o descreve Hegel. Porém, como este ‘formalismo de
Estado’ se constitui em pode real e se converte por si mesmo em seu próprio
conteúdo material, assim, se compreende que a ‘burocracia’ é um tecido de
ilusões práticas ou a ‘ilusão do Estado’. O espírito burocrático é um espírito
totalmente jesuítico, teológico. Os burocratas são os jesuítas de Estado e
teólogos de Estado. A burocracia é a republique prêtre”. (Marx. 1982: 359).
A burocracia é uma tela verbal
jesuítica, teológica, barroca no Estado moderno. Ela é a perversão verdadeira
na superfície do campo político da modernidade; a classe universal hegeliana é
barroca e iluminista; ela é o teatro-mundo da essência da perversão que é o
capital como relação técnica de produção.
A burocracia barroca é a classe
universal que não se confunde com a classe política na democracia
constitucional:
“Como se sabe, Montesquieu
estabeleceu como princípio da democracia a virtude, pois de fato tal
constituição descansa no caráter enquanto forma só substancial em que ainda
existe a racionalidade da vontade que é
e si e por si (...) porque tem faltado virtude nos chefes, e quando ademais se
acrescenta que se a virtude desaparece desparece na república, a ambição se
apodra daquele cujo ânimo se encontra proclive a isto e a avidez se apodera de
todos, e o Estado, botim comum, só tem então sua força no poder de alguns
indivíduos e no desenfreio de todos, então, há que observar ao respeito que em
uma situação mais aperfeiçoada da sociedade e no desenvolvimento e liberação
das forças da particularidade, a virtude dos notáveis do Estado resulta
insuficiente requerendo-se outra forma de lei racional distinta ao do mero
caráter, a fim de que o todo possua a força para manter unido e para outorgar
as forças da particularidade desenvolvido seu direito tanto positivo como
negativo. Igualmente há de rechaçar o equívoco de que, por ser o caráter da
virtude a forma substancial na república democrática, tivera de ter-se este
caráter por prescindível ou incluído por ausente n monarquia, e como se a
virtude e a atividade legalmente determinada em uma organização articulada
forem totalmente opostas e incompatíveis entre si”. (Hegel. 1993:
718-719).
Hegel fala da desintegração da
democracia de Montesquieu, da democracia na qual a classe política se guie pela
Constituição e leis ordinárias do país. A unidade do campo político depende
dessa classe política virtuosa. O Brasil 1988-2024 vive a crise da democracia 1988,
pois, a classe política se transformou em uma “classe” subpolítica. Agentes do
Estado (Eduardo Cunha, Michel Temer, Sergio Moro e Jair Bolsonaro) produziram
um campo subpolítico das ratazanas perversas grotescas no poder brasileiro. se
a política é o parlamento, este é controlado por uma organização criminosa que
se apodera do dinheiro do Estado fiscal, da mais-valia fiscal ou pública sem
que o governo ofereça resistência par essa corrupção estatal generalizada da
classe subpolítica.
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo.
Crítica da gramática do capital. EUA: amazon, 2021
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo.
Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo.
Fernando Pessoa, civilização ou barbárie. EUA. Amazon, 2024
ECO, Humberto. A estrutura ausente.
SP: USP, 1971
HEGEL. Science de la logique. Premier
tome- Deuxième livre. La doctrine de l’essence. Paris: Aubier, 1976
HEGEL. Lecciones sobre la filosofía
de la historia universal. Madrid: Alianza \editorial, 1980
HEGEL. Fundamentos de la filosofia
del derecho. Madrid: Prodhuff, 1993
HEGEL. Filosofia da história.
Brasília: UNB, 1995
SKINNER, Quentin. Razão e retórica na
filosofia de Hobbes. SP: Unesp, 1999
LACAN, Jacques. O Seminário. De um
Outro ao outro. Livro 16. RJ: Zahar, 2008
LEFEBVRE, Henri. Lógica formal/lógica
dialética. RJ: Civilização Brasileira, 1975
LENIN. O desenvolvimento do
capitalismo na Rússia. SP: Abrl Cultural, 1982
MARX. Os pensadores. O 18 Brumário de
Luís Bonaparte. SP: Abril Cultural, 1974
MARX, Cerlos. Teorias de la
plusvalia. V. 1. Madrid: Alberto Corazon, 1974
MARX. Carlos Marx y Federico Engels.
Obras fundamentalrs. V. 1. Marx. Escritos de juventud. Critica del derecho del
Estado de Hegel. México: Fondo de Cultura Económica, 1982
MARX E ENGELS. Obras escolhidas. V.
1. Manifesto do Partido Comunista. SP: Alfa-Omega, sem data.
PHILONENKO, Alexis. Essais sur la
philosophie de la guerre. Paris: J. Vrin, 1988
PIEROBON, Frank. Système et
représentation. La déduction transcendentale des catégories dans la “Critique
de la raison purê”. Paris: Millon, 1993
TAMINIEUX, Jacques. Naissance de la
philosophie hégélienne de l’État. Paris: Payot, 1984
TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso.
Brasília: UNB, 1986
Nenhum comentário:
Postar um comentário