sábado, 4 de janeiro de 2025

Tucídides - de Hegel a Marx

 


 José Paulo

 

 

 

Tucídides faz a ciência da realidade histórica; a realidade é composta por fenômenos? Ortega y Gasset diz que em Kant os fenômenos não são contidos por uma estrutura. (Hegel. 1980: 22). A realidade fenomênica não possui gramática, nem sentido. Em Hegel, o  fenômeno é o aparecer da essência, a essência em sua existência  (Hegel. 1976:178) em um campo da história.

 

Kant parte da imaginação para pensar a realidade, do princípio da apercepção, da superfície da aparência do estranho, mas, claro, do absurdo, do exagerado, do hiperbólico ou do paradoxo que o fenômeno possa revestir. (Pierobon: 136).   EM Hegel, se trata de saber o que é a essência histórica, se ela é o modo de ser psíquico do perverso; em Kant, o campo fenomênico [existe um campo, ou é anarquia?] é hiperbólico, isto é o fenômeno é da ordem da perversão, do absurdo, do paradoxo.

 

O fenômeno é algo da realidade exterior à subjetividade? Há a realidade objetiva fenomênica? Ou será que a imaginação produz o fenômeno? (Pierobon: 144). A imaginação produz o fenômeno como absurdo, mas, claro, paradoxo e hiperbólico, isto é, com perversão. A imaginação produz o modo de ser psíquico do perverso. Hegel não é um histérico, simplesmente, ele é o grande perverso verdadeiro que cria um teatro mundo dos fenômenos. Hegel produz a <filosofia da história universal> do perverso da crítica da modernidade. O logos dialético rege a história dos fenômenos, ele é a lógica da perversão da história. 

 

Péricles sobrediz a pólemos, a gramática perversa do <quase nada> desencadeia a guerra da antiguidade:

 

“a ideia recôndita de que estaremos em guerra por quase nada; esse <quase nada> , representa para nós a afirmação e prova de nossas convicções políticas (...)”. (Tucidides: 78).

 

O assassinato é visto como um fenômeno natural da guerra entre ´povos, como essência perversa da pólemos:

 

“e que evitassem tocar nos que estavam fora se não quisessem que eles matassem os prisioneiros em seu poder; ao mesmo tempo se comprometiam a  devolvê-los se os tebanos evacuassem o seu território. Esta, ao menos, foi a narrativa dos tebanos, que acrescentaram ter havido um acordo confirmado por juramento. Os plateus, ao contrário, sustentavam que não haviam prometido entregar imediatamente os prisioneiros, mas estavam simplesmente negociando, numa tentativa de chegar a um acordo, e afirmaram que nada haviam jurado. De qualquer modo os plateus, imediatamente após haver trazido de volta à cidade aqueles que estavam no campo, massacraram todos os prisioneiros, em número de cento e oitenta. Entre estes se encontrava Eurímacos, o principal autor da traição”. (Tucídides: 85).

 

A essência perversa da história universal é o cesarismo antigo (de Augusto) moderno bonapartista: 

 

 “Ao real perverso do capital da foraclusão da revolução permanente europeia corresponde o surgimento da forma de governo bonapartista. Forma de governo perversa, pois, teatraliza ser o Império de Napoleão III. Sua gramática de sentido perversa foi reconhecida e legitimada pelos franceses do alto e de baixo. Marx teria que <explicar> como o presidencialismo falso perverso criou e recriou uma tela perversa verdadeira, isto é, o bonapartismo. Ora, ele é o efeito do sintoma do capital perverso francês, contra a burguesia francesa. Marx descobre e inventa a comunidade psíquica do significante do juízo de gosto no campo político europeu. O teatro imperial de napoleão III é o teatro do barroco/iluminista perverso”. (Bandeira da Silveira: 2024. Dezembro: 151-152). 

 

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Uma analogia entre a antiguidade e a modernidade possível evoca Tucidides e Lenin. A guerra e a revolução social são dois objetos da história dos povos. Tucídides faz a análise concreta da polemos como situação concreta articulando vários níveis da gramática; ele fala em afecções como medo e coragem, modo de ser psíquico como liberdade e igualdade como fenômenos que fazem parte da guerra; a guerra pressupõe a paz na consciência global dos povos civilizados. É próprio da guerra ser uma ação violenta se escrevendo na história. A guerra pressupõe a escritura, ou melhor, a <gramática da realidade> (Philonenko: 184).        

 

“Já era evidente que os lacedemônios tramavam contra nós, e agora é ainda mais. Embora estivesse expressamente pactuado que submeteríamos as nossas divergências à arbitragem, mantendo-se cada parte, neste interim, na posse daquilo que tinha, nunca, até hoje, eles propuseram uma arbitragem, nem a aceitaram quando sugerimos; para resolver os litígios eles preferem a guerra à paz, e agora estão aqui para fazer exigências e não mais para apresentar queixas”. (Tucídides: 78).

 

A gramática da realidade da paz e da guerra gira em torno da propriedade de bens dos povos e dos indivíduos.

 

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Lenin parte da separação abissal entre revolução e reforma, entre materialismo histórico e o marxismo retórico de Plekhanov:

 

“Compreende-se, pois, que, sobre essa base econômica, a revolução na Rússia seja, inevitavelmente, uma revolução burguesa. Essa tese marxista é absolutamente irrefutável. Não se pode esquecê-la e ela deve ser aplicada à análise de todos os problemas econômicos e políticos da revolução russa”.

 

“Mas é preciso aplicá-la. A análise correta da situação e dos interesses das diferentes classes deve servir para definir o valor preciso dessa verdade quando esta se refere a esse ou àquele problema. O modo inverso de raciocínio, que não raro encontramos entre os socialdemocratas da ala direita liderados por Plekhanov, - isto é, a tendencia a procurar respostas para problemas concretos no simples desenvolvimento lógico da verdade geral sobre o caráter fundamental da nossa revolução – é uma vulgarização do marxismo e uma completa zombaria do materialismo dialético. A essas pessoas que, da verdade geral atinente ao caráter da nossa revolução, deduzem, por exemplo, o papel dirigente da ‘burguesia’ na revolução ou a necessidade de os socialistas apoiarem os liberais. Marx, certamente, aplicaria as palavras de Heine por ele citadas: <Semeei dragões e colhi pulgas”. (Lenin. 1982: 10).    

 

Aplicar as teses implica em recorrer à análise concreta de uma situação concreta de uma gramática da realidade que é o evita a integral interpretação retórica da realidade na articulação da prática política da relação partido/massa, revolução/classe social. A verdade da luta de classe, conjuntural/histórica, é aquilo que deve ser reconhecido e seguido como gramática de um aparelho de hegemonia que se constitui em história de um novo Estado.

 

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Em Hegel, o Estado retórico é um fenômeno paradoxal, um Estado do perverso hiperbólico, que ele não pode evitar:

 

“Só com esse tipo de atitude é que podemos reagir a esse espetáculo terrível das paixões. Pode-se ampliar tais resultados, sem exagero retórico (...)”. (Hegel. 1995: 26).

 

Retórico é a ideia de que o Estado é o que realmente existe:

 

‘O estado é o que existe, ´a vida real e ética, pois ele é a unidade do querer universal, essencial, e do querer objetivo, - e isso é a moralidade objetiva (...) As leis da moralidade objetiva não são acidentais, são próprio racional. O fim do Estado é, pois, que vigore o substancial na atividade real do homem e em sua atitude moral, que ele exista e se conserve em si mesmo. O interesse absoluto da razão é que essa totalidade ética exista, e aqui estão os direitos e o mérito dos heróis que fundaram Estados, ainda que não tão desenvolvidos. Na história universal só se pode falar dos povos que formam um Estado”. (Hegel. 1995: 39).

 

“O capital” é o livro que põe e repõe o problema da realidade como história do capital, a história não retórica do capital como um contraponto à história do Estado retórico hegeliano. A crítica da gramática do capital é a passagem da ideologia idealista hegeliana para a ciência da história:

 

“A estrutura capitalista se define pela relação capital e trabalho. O trabalho como produtor de mais-valia (que se atualiza em lucro na empresa capitalista) é o centro da relação social capitalista. A mais-valia é parte de uma realidade invisível ao senso comum, lugar de um saber comum, por excelência, das aparências de semblância”.

 

‘Para Marx, a estrutura não aparece para o saber do senso comum, povoado de ideologias, como bom-senso, quando esse saber assume uma forma organizada de forma de consciência: política, direito, religião, filosofia. A estrutura só é uma realidade visível na gramática conceitual do capital”. (Bandeira da Silveira. 2021: 8).

 

O capital como produção de mais-valia econômica se traduz no Estado não-retórico como o lugar da mais-valia fiscal, do mais-gozar do Estado lacaniano que é um Estado não-retórico, e sim um Estado da história que não é a história universal hegeliana. (Bandeira da Silveira. 2022: caps 12, 13, 16).

 

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O Estado retórico adquiriu uma forma paraconsistente na história da URSS:

 

“A síntese conduzia ao Estado stalinista fortalecido. Reduzia a história à gênese desse Estado; o que significa que hyá no stalinismo um historicismo neo-hegeliano, apresentado em nome da ‘inversão’ do hegelianismo. No acasalamento ‘filosofia-política’, que caracteriza a filosofia em seu último estágio, o termo importante é o segundo. A filosofia propõe, o Estado dispõe. O stalinismo realizou a filosofia hegeliana, que anunciava a realização de toda filosofia, de toda racionalidade elaborada pelos filósofos, no e pelo Estado. O stalinismo, sistema político, forneceu a verdade do sistema especulativo. E, com isso, levou a seu ponto final uma história, a da filosofia e a do Estado, dupla história que talvez contenha o essencial da história”. (Lefebvre: 4).

 

O Estado stalinista é retórico e não é retórico, é história e é o fim da história do Estado hegeliano. O stalinismo ´a realização da história universal retórica/totalitária hegeliana, como um modo de ser psíquico russo do socialismo da grande ratazana perversa mundial.

 

Além da retórica, o Estado hegeliano pode ser a história da tela gramatical narrativa constitucional:

 

“L’intitulé général ‘Constitution’ recouvre une théorie de l’Etat. Elle commence par poser que l’Etat est pour ainsi dire l’esprit de la loi”. (Taminiaux: 57).

 

A ideia de Estado-organismo é um recurso para falar de um Estado que não fosse retórico:

 

“La puissance (Maccht) de l’Etat est l’instance réflexive et vivant dans laquelle s’intériorisent les pouvoirs de la loi. Et comme c’est seulement dans la loi que les individus sont préseervés dans leurs être-là, leur vie et leur pensée, la théorie de l’Etat comme instance réflexive et vivant de la loi et des pouvoirs de celle-ci sera tout autre chose qu’une théorie du droit public ou constitutionnel. Elle as raprochera plutôt d’une physiologie, em tant que théorie des fonctions d’un corps vivant et de organes qui leur correspondent. Hegel dirá en ce sens que cet Esprit de l’Etat <est à soi-même organisme étant-là>”. (Taminieux: 57).

 

O <Espírito do Estado> é uma tela verbal narrativa de um organismo, uma tela biológica. Eis uma outra concepção de Estado que remete para a história de uma tela verbal narrativa biológica, fática, - em uma formação social. O Estado como instancia reflexiva e viva da lei e dos poderes será bem diferente da gramática do direito público ou constitucional. A gramática hegeliana do Estado tem força de direito na realidade biológica de uma formação social. Escapar do Estado retórico constitucional requer fazer a passagem do virtual para o biológico da sociedade burguesa. No Texto hegeliano, há essa guerra civil barroco/iluminista contra a estrutura de dominação retórica no pensamento europeu.

 

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A fundação do Estado retórico em Hobbes requer o <contrato social> (Skinner; 199), e, em Hegel, sobretudo, para a vontade universal. (Taminiaux: 59). No entanto, uma cadeia de significantes vai do grande homem sublime a ratazana perversa sublime, como estrutura ausente (Eco; 1971):

 

“Le <pouvoir sublime> du grand homme est une notion qui qui n’est pas simplement un nouveau chaînon pour les mêmes, mais un nouveau chaînon pour des termes profondément modifiés. Hegel écrits: <Le grand homme a dans ses traits quelque chose qu fait que les autres peuvent les nommer leud maître; ils lui obéissent contre leur volonté; contre leur volonté sa volonté est leur volonté>, Autrement dit, face au tyran fondadeur, les volontés singulières, loin de rester purement et simlesment positives, se dédoublent elles-mêmes: pour une part, elles conservent leur positivité immédiate, pour une autre part elles reconnaissent la volonté du tyran pour leur volonté propre. La premère part est celle par laquelle ces volontés resistente, la deuxième part est celle par laquelle elles obéissent au tyran, se rassamblent autor de as bannière et le considèrent comme <leur dieu>”. (Taminieux: 60-61)

 

Para o leitor não ficar perdido, remeto-o para o presente. Donald Trump aparece como um tirano, como se fosse um <deus>, para seus seguidores. Ele é um grande homem político? Ou ele é a estrutura singular ausente no Texto hegeliano?

 

Deve-se partir da diferença entre Júlio Cesar e Augusto César:

 

‘César [Júlio} fazia a guerra civil pelo interesse em manter sua posição, sua honra e sua segurança. A vitória sobre os seus adversários, cujo poder consistia no domínio das províncias do império romano, foi a conquista de todo o império. Assim, tornou-se ele o detentor único do poder no Estado, sem mudar a forma da constituição. O que ele conseguiu com a realização de seu plano, inicialmente negativo – ou seja, o domínio pessoal de Roma -, foi uma determinação necessária à história de Roma e do mundo”. (Hegel. 1995: 32-33).

 

A diferença entre o grande homem sublime e a ratazana perversa sublime consiste e que esta muda a forma de governo constitucional, como o fez Augusto, ao criar o Império romano, mantendo a república como aparências de semblância.  

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O hegelianismo é materialismo (gramática) e idealismo (ideologia) e, sobretudo uma interpretação retórica da história; Marx faz a crítica do hegelianismo e o transforma na pré-história do materialismo histórico. Começa com a crítica do trabalho produtivo retórico de Hegel:

“A mediação de preparar e de adquirir para as necessidades particularizadas meios adequados igualmente particularizados é o trabalho (...) Esta elaboração proporciona, pois, ao meio o valor e sua conformidade a finalidade, de sorte que o homem se relaciona em seu consumo preferentemente com produções humanas , e tais esforços são os que ele consome”. (Hegel. 1993: 630-631).

O trabalho produtivo histórico é parte da história da mais-valia, produção de mais-valia econômica transformada em mais-valia fiscal ou pública, no Estado lacaniano. (Lacan. S. 16: 30,29):

“Chega o momento de estudar a repartição da mais-valia entre as diversas classes dentro das distintas categorias de lucro, juros e renda da terra”. (Marx. 1974: 25).      

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Hegel opera com a lógica retórica para o campesinato; ainda não é a história de uma classe social em uma história de uma conjuntura específica, como o faz Marx; em Hegel é um conceito, mas não é um significante histórico

“202. < a divisão <lógica> das classes>.

Segundo o conceito as classes se determinam como a classe substancial ou imediata, a classe reflexiva ou formal, e finalmente a classe universal.

203 < a classe camponesa e a nobreza>.

a)     A classe substancial tem seu patrimônio nos produtos naturais de um solo que ela trabalha, de um solo que é apto para ser exclusiva propriedade privada (...) porém conserva por suas condições o caráter de uma subsistência menos mediada pela reflexão e pela própria vontade, e assim em geral o carter substancial de uma eticidade imediata que descansa na relação familiar e em na confiança”. (Hegel. 1993: 634).

O campesinato hegeliano retórico confia no dominante. Marx analisou o campesinato como base de apoio do cesarismo francês:

“Mas pode-se objetar: e os levantes camponeses na metade da França, s investidas do exército contra os camponeses, as prisões e deportações em massa de camponeses”.

‘A França não experimentava, desde Luís XIV, uma semelhante perseguição de camponeses ‘por motivos demagógicos’. É preciso que fique bem claro. A dinastia de Bonaparte representa não o camponês revolucionário, mas o conservador; não o camponês que luta para escapar às condições de sua existência social, a pequena propriedade, mas antes o camponês que quer consolidar sua propriedade; não a população rural que, ligada à das cidades, quer derrubar a velha ordem das coisas por meio de seus próprios esforços, mas, ao contrário, aqueles que, presos por essa velha ordem em um isolamento brutalista, querem ver-se a si próprios e suas propriedades salvos e beneficiados pelo fantasma do Império. Bonaparte representa não o esclarecimento, mas a superstição do camponês; não o seu bom senso, mas o seu preconceito; não o seu futuro, mas o seu passado; não a moderna Cevènnes, mas a sua moderna Vendée”. (Marx. 1974b: 403-404().  

A relação entre o cesarismo e o campesinato é de perversão falsa, o campesinato não é transformado em um teatro-mundo da conjuntura da modernidade europeia.

A classe pública é um fenômeno da lógica retórica hegeliana:

“205. < A classe dos servidores do Estado>.

A classe universal tem como objeto seu os interesses universais d situação social; deve, pois, ser dispensada do trabalho direto em ordem as necessidades., já mediante patrimônio privado, já indenizada pelo Estado que recebe sua atividade, de sorte que o interesse privado encontra sua satisfação em seu trabalho como universal”. (Hegel. 1993: 636).

A sociedade de classe retórica hegeliana é subsumida ao significante história da luta de classes:

“Até hoje, a história de todas as sociedades que existira até nossos dias tem sido a história das lutas de classes”.

“Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora aberta, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suas classes em luta”. (Marx e Engels: 21-22).     

A classe universal é lógica retórica que o jovem Marx fez a crítica com o significante <burocracia>.   

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A ciência política materialista esclareceu o fenômeno da burocracia no jovem Marx:

“O ‘formalismo’ de Estado, que é a burocracia, é o ‘Estado como formalismo’,  como tal formalismo o descreve Hegel. Porém, como este ‘formalismo de Estado’ se constitui em pode real e se converte por si mesmo em seu próprio conteúdo material, assim, se compreende que a ‘burocracia’ é um tecido de ilusões práticas ou a ‘ilusão do Estado’. O espírito burocrático é um espírito totalmente jesuítico, teológico. Os burocratas são os jesuítas de Estado e teólogos de Estado. A burocracia é a republique prêtre”. (Marx. 1982: 359).

A burocracia é uma tela verbal jesuítica, teológica, barroca no Estado moderno. Ela é a perversão verdadeira na superfície do campo político da modernidade; a classe universal hegeliana é barroca e iluminista; ela é o teatro-mundo da essência da perversão que é o capital como relação técnica de produção.

A burocracia barroca é a classe universal que não se confunde com a classe política na democracia constitucional:

“Como se sabe, Montesquieu estabeleceu como princípio da democracia a virtude, pois de fato tal constituição descansa no caráter enquanto forma só substancial em que ainda existe a racionalidade  da vontade que é e si e por si (...) porque tem faltado virtude nos chefes, e quando ademais se acrescenta que se a virtude desaparece desparece na república, a ambição se apodra daquele cujo ânimo se encontra proclive a isto e a avidez se apodera de todos, e o Estado, botim comum, só tem então sua força no poder de alguns indivíduos e no desenfreio de todos, então, há que observar ao respeito que em uma situação mais aperfeiçoada da sociedade e no desenvolvimento e liberação das forças da particularidade, a virtude dos notáveis do Estado resulta insuficiente requerendo-se outra forma de lei racional distinta ao do mero caráter, a fim de que o todo possua a força para manter unido e para outorgar as forças da particularidade desenvolvido seu direito tanto positivo como negativo. Igualmente há de rechaçar o equívoco de que, por ser o caráter da virtude a forma substancial na república democrática, tivera de ter-se este caráter por prescindível ou incluído por ausente n monarquia, e como se a virtude e a atividade legalmente determinada em uma organização articulada forem totalmente opostas e incompatíveis entre si”. (Hegel. 1993: 718-719).   

Hegel fala da desintegração da democracia de Montesquieu, da democracia na qual a classe política se guie pela Constituição e leis ordinárias do país. A unidade do campo político depende dessa classe política virtuosa. O Brasil 1988-2024 vive a crise da democracia 1988, pois, a classe política se transformou em uma “classe” subpolítica. Agentes do Estado (Eduardo Cunha, Michel Temer, Sergio Moro e Jair Bolsonaro) produziram um campo subpolítico das ratazanas perversas grotescas no poder brasileiro. se a política é o parlamento, este é controlado por uma organização criminosa que se apodera do dinheiro do Estado fiscal, da mais-valia fiscal ou pública sem que o governo ofereça resistência par essa corrupção estatal generalizada da classe subpolítica.

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Crítica da gramática do capital. EUA: amazon, 2021

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Fernando Pessoa, civilização ou barbárie. EUA. Amazon, 2024

ECO, Humberto. A estrutura ausente. SP: USP, 1971

HEGEL. Science de la logique. Premier tome- Deuxième livre. La doctrine de l’essence. Paris: Aubier, 1976

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HEGEL. Filosofia da história. Brasília: UNB, 1995

SKINNER, Quentin. Razão e retórica na filosofia de Hobbes. SP: Unesp, 1999

LACAN, Jacques. O Seminário. De um Outro ao outro. Livro 16. RJ: Zahar, 2008

LEFEBVRE, Henri. Lógica formal/lógica dialética. RJ: Civilização Brasileira, 1975

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MARX. Os pensadores. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. SP: Abril Cultural, 1974

MARX, Cerlos. Teorias de la plusvalia. V. 1. Madrid: Alberto Corazon, 1974

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MARX E ENGELS. Obras escolhidas. V. 1. Manifesto do Partido Comunista. SP: Alfa-Omega, sem data.

PHILONENKO, Alexis. Essais sur la philosophie de la guerre. Paris: J. Vrin, 1988

PIEROBON, Frank. Système et représentation. La déduction transcendentale des catégories dans la “Critique de la raison purê”. Paris: Millon, 1993

TAMINIEUX, Jacques. Naissance de la philosophie hégélienne de l’État. Paris: Payot, 1984

TUCÍDIDES. História da guerra do Peloponeso. Brasília: UNB, 1986

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