José Paulo
O aparelho de Estado como direito natural do mais forte faz a
guerra à sociedade, guerra do dominante ao dominado. Que espécie de guerra?
Trata-se da guerra da forma de governo do tirano que vem embalada no culto à
personalidade do Príncipe como estratégia de anarquia para tomar o poder
governamental e conservá-lo como gramática natural de sentido do direito do
mais-forte, do homem forte, que de fato é a ratazana perversa tirânica.
A dialética como doçura na guerra civil contra anarquia do
retórico e de seu amigo o tirano já é a filosofia do dialogo como aparelho de
hegemonia que funda um Estado constitucional no cérebro do indivíduo e na
prática política da cultura e na prática política da soberania do poder
governamental.
A dialética é a ciência política que define a natureza do
homem da alma e do corpo em uma tela verbal narrativa que corresponde ao
espírito da Constituição que governa o mundo como teatro da política. A tela
gramatical verbal narrativa habita a alma e o corpo do cérebro do indivíduo e
do espírito constitucional da multidão disponível para a forma de governo da
democracia constitucional – na atualidade. As virtudes como afecções como
justiça e temperança podem ser parcela das práticas e práxis política que governam
o mundo como plurivocidade de gramática de sentido.
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A ANTIGUIDADE conheceu o perverso na história política. A
dialética da gramática de sentido de BEM jogou uma luz eterna sobre o perverso
na prática política e na alma da multidão. O tirano e o retórico são os dois
fenômenos da perversão para a dialética do Bem. Eles andam par a par na vida
grega pública.
Qual a ligação do retor orador com o tirano. A retórica é a
prática da lisonja do tirano, ou do Príncipe, na linguagem política já moderna.
A lisonja é o instrumento de fazer o tirano tomar o poder ou conservar o poder.
[Por exemplo, o uso da retórica política do jornalismo da TV Globo que
propiciou a tomada do poder por Bolsonaro no Brasil].
Bolsonaro construiu uma biografia do tirano e com ela
disputou a eleição que venceu. Ele exigia o <direito do mais forte> na
prática política como retórica eleitoral elaborada pelos jornais de papel
“Folha de São Paulo”, Estadão” e o “Globo”. Ora! A tirania na prática política
não existiria sem a alma da multidão que sonha com o tirano no poder
governamental. A gramática de sentido da
tirania precisa habitar o cérebro dos indivíduos que compõe uma multidão eleitoral;
no cérebro, o indivíduo sonha com o direito do mais forte e faz parte da
multidão capaz de exercer esse direito na prática política através do governo
tirânico. Como multidão, uma classe média perversa do Sudeste foi a base social
do governo tirânico de Bolsonaro.
Assim, nasceu o campo da subpolítica e do subgoverno de
Bolsonaro. O essencial é que o tirano faça parar de funcionar o aparelho de
Estado penal como gramática dialética do BEM! e ponha a anarquia tirânica como
governo [a anarquia governamental é responsável pela morte de 300 mil pessoas
na covid-19] e prática política do princípio de prazer na anárquica da relação
líder/massa.
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Uma interpretação ainda virgem diz respeito a verdadeira
gramática de sentido do significado de dáimon ou daimonion de Sócrates; a
rigor, o daimonions são os sofistas e retóricos, os oradores são objeto de um
culto como se fossem deuses ao alcance das mãos:
“Na sequência, depois dos deuses, o homem de senso prestará
culto aos dáimons e depois destes aos
heróis após os quais virão os santuários privados legalmente dedicados às
divindades ancestrais, e a seguir as honras prestadas aos pais vivos (...)’.
(Platão. 2010:190).
O culto aos pais vivos significa patriarcalismo como desejam
as feministas retóricas:
“pois é justo que lhe paguemos nossa dívida primordial e
essencial, de todos os créditos o maior, e reconhecer que tudo que possuímos e
temos pertence àqueles que nos geraram e educaram. De modo que devemos
servi-los ao máximo de nossas forças – mediante nossa riqueza, nosso corpo e
nossa alma- recompensando-os pelos empréstimos que nos fizeram, há muito,
quando éramos crianças em cuidados e esforços que despenderam, e os amparando
em sua velhice, que é quando mais necessitam de amparo. (Platão. 2010: 190-191).
A gramática dialética de sentido do BEM põe e repõe o velho
sendo amparado pela família, pois, os gregos não consideravam esse cuidado como
um problema do Estado lacaniano. Eles não viam o velho como um problema da
gestão do Estado na medida em que não consideravam que a mais-valia pública, do
Estado fiscal, deveria ser distribuída entre os velhos.
O orador como daimonion significa que ele é parte do aparelho
de hegemonia de Estado:
“Todos nós, se assim agirmos e observarmos estas regras de
vida, ganharemos sempre a devida recompensa dos deuses e de todos [os seres]
mais poderosos do que nós mesmos, e passaremos a maior parte de nossas vidas
desfrutando as esperanças da felicidade. No que diz respeito às obrigações com
os filhos, os parentes, os amigos, os convidados, e todos esses deveres
estabelecidos pelos deuses relativos à boa hospitalidade com os estrangeiros e
todas as classes de pessoas, para essas obrigações cujo cumprimento segundo
alei produzirá o encanto e o adorno de nossas existências, as consequências das
próprias leis seja persuadindo, seja castigando mediante coerção e a justiça
quando os costumes desafiam a persuasão – tornará (com a intercessão dos
deuses) nosso Estado venturoso e próspero”. (Platão. 2010: 191).
A gramática de sentido do bem que guia o Estado significa a
dialética da civilização contra a barbárie. O velho e as outras figuras
supracitadas e as práticas protegidas pelo direito divino da mitologia são
fenômenos aos cuidados da civilização grega.
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A sofística e a filosofia existem como concepção política de
mundo que estruturam e fazem funcionar o aparelho de Estado: como ou aparelho
penal fático/natural, ou constitucional e aparelho de hegemonia de Estado:
“Existe uma coisa que se chama Natureza; a prova <que, em
boa justiça>, aquele que vale mais deve vencer o que vale menos. Esta
<lei da Natureza> mostra-se em todos os animais e no Homem. Segue-se que
o mais é a força e o prazer que ela dá. Portanto: a vida fácil, a intemperança,
a transgressão, quando são favorecidas, fazem a felicidade e a virtude. Todo o
resto, fantasmagorias e convenções humanas, incluindo a filosofia, não passa de
estupidez e nada”. (Philonenko: 114).
A barbárie é o domínio - na prática política e no cérebro –
do aparelho de Estado estruturado e funcionando pelo direito natural do mais
forte, pelo princípio do prazer do tirano; a civilização é o domínio do
aparelho de Estado funcionando pelo princípio da justiça constitucional
associado ao aparelho de hegemonia de Estado. O direito natural do mais forte
gera o estado de falsa perversão [transgressão] no cérebro e na prática
política do soberano. A concepção política de mundo do aparelho de Estado pelo
direito natural do mais forte faz da filosofia e da gramática do bem
fantasmagorias, isto é, simulacros naturais:
“ – simulacros naturais, naturalistas, baseados na imagem, na
imitação e no fingimento, harmoniosos, otimistas e que visam a restituição ou a
instituição ideal de uma natureza à imagem de Deus”. (Baudrillard. 1981:177).
A natureza à imagem de Deus significa a natureza da tela
gramatical narrativa, metafísica, hegemônica na plurivocidade de tela
gramatical no cérebro e na prática política da antiguidade. O sofista e o
filósofo habitam tal tela em uma guerra civil agônica sobre o presente, passado
e futuro da civilização ocidental.
Da tela verbal sofística sai a naturalização do assassino
político (tirano) e o fenômeno do esquecimento no cérebro e na história da
prática política conjuntural, aquilo que os estruturalistas dialéticos chamaram
de descontinuidade ou corte epistemológico na história: política, econômica e
cultural.
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Passado, esquecimento, assassino político, prática política
do poder soberano, revolução constituem uma rede de significantes da história
política civilização/barbárie. Nessa rede, a guerra civil gramatical,
ideológica e de gosto modela a estrutura política dominante e dominado:
“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo
<tal como ele foi efetivamente>. É muito mais apropriar-se de uma
recordação que brilha no momento do perigo. Cabe ao materialismo histórico
reter firmemente a imagem do passado tal como ela se impõe, sem que ele o
saiba, ao sujeito histórico no momento do perigo. O perigo ameaça tanto a
existência de tradição como aqueles que a recebem. Para ela como para eles, o
perigo está em entregá-los como instrumentos à classe dominante. Em cada época
é preciso tentar arrancar mais uma vez a tradição ao conformismo que quer
apoderar-se dela. O Messias não vem apenas como um redentor; ele vem como o
vencedor do anticristo. O dom de atiçar através do passado a chama da esperança
pertence apenas ao historiógrafo perfeitamente convencido que diante do
inimigo, e no caso deste vencer, nem sequer os mortos estarão em segurança. E este
inimigo não tem cessado de vencer”. (Benjamin. 1992: 160).
O esquecimento do passado favorece ao assassino político, ao
tirano. O esquecimento é um recurso estratégico que o dominante usa para não
responder pelos crimes políticos de uma conjuntura e proteger os assassinos
políticos a seu serviço. Um exemplo. A conjuntura de 1964-2024 foi, durante a
ditadura militar (1964-1985) a pátria dos assassinos políticos assalariados do
Estado militar. A lei da anistia do governo ditatorial teve a função de
promover o esquecimento dos crimes públicos dessa tirania militar. A conjuntura
1988 se apresenta como o estado de esquecimento da prática subpolítica dos
assassinos assalariados de Estado. Assim, uma ratazana perversa grotesca aparece
evocando a facção silviofrota de assassinos políticos e golpistas militares
dentro do golpismo militar em geral. A ratazana perversa grotesca e falso
perverso assume o governo derrotando a esquerda. Inicia-se um período
heteróclito, de fenômenos monstruosos como o subgoverno perverso falso de
Bolsonaro. Depois, na eleição Lula versus Bolsonaro, este foi derrotado. Lula
prometeu começar uma revolução governamental.
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Benjamin;
“Existe um quadro de Klee que se intitula “Angelus Novus”.
Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar do local em que se
mantém imóvel. Os seus olhos estão escancarados, a boca está aberta, as asas
desfraldadas. Tal é o aspecto que necessariamente deve ter o anjo da história.
O seu rosto está voltado para o passado, ali onde para nós parece haver uma
cadeia de acontecimentos, ele vê apenas uma única e só catástrofe, que não para
de amontoar ruinas sobre ruínas e as lança a seus pés. Ele quereria ficar,
despertar os mortos e reunir os vencidos. Mas do Paraíso sopra uma tempestade
que se apodera das suas asas, e é tão forte que o anjo não é capaz de voltar e
fechá-las. Esta tempestade impele-o incessantemente pra o futuro ao qual volta
as costas, enquanto diante dele e até ao céu se acumulam ruínas. Esta
tempestade é aquilo a que nós chamamos progresso”. (Benjamin. 1992: 162).
O anjo da história é a revolução barroca, o anjo de
Benjamin/Klee é barroco. Em 2025, já se pode ver a revolução barroca que parece
querer fabricar o caminho do estabelecimento definitivo da democracia
constitucional de 1988:
“A Constituição de 1988 pode ser lida como uma tela narrativa
barroca ou Constituição analítico-dialética barroca. A revolução barroca dentro
da ordem é o aprofundamento e desenvolvimento da democracia barroca do
claro/escuro da Constituição de 1988!”. (Bandeira da Silveira. Outubro-novembro/2023:
cap. 3).
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A prática política democrática em repouso é a estagnação da
revolução barroca no pântano. O juiz Flávio Dino apareceu como o anjo barroco
da história do campo da democracia constitucional de 1988. Ele é a insurreição
contra a ditadura cínica das emendas parlamentares corruptas do congresso, sob
direção do Centrão, uma organização criminosa de partidos, segundo o código
penal. A crise da prática política democrática consiste no fato de que o
governo de Lula não é um poder governamental da revolução barroca pura. Lula
fez um conluio com o Congresso corrupto na tática da governamentalidade (Chevallier; 1996). Lula é
a ordem democrática\ possível em oposição á anarquia política da tirania de
Bolsonaro, do bolsonarismo e das massas tirânicas, base social do novo fascismo
retórico.
O jornalismo retórico constitui o exército da tirania
fascista:
“O que é um segredo que toda gente partilha? Talvez se
pudesse sugerir duas ideias. A primeira é que, logicamente, segundo Platão
muitos espíritos que se julgavam muito longe das opiniões de Protágoras, o
deveriam ter seguido e alistar-se no seu exército. O grande segredo é que toda
a gente, sem o saber, é discipula de Protágoras, talvez excepto os
materialistas que apresentam um caso totalmente à parte; São estranhos a
qualquer pensamento, mesmo que mau”. (Philonenko: 146).
Um Protágoras brasileiro é o professor retórico da USP
Wladimir Safatle, que se apresenta como um falso filósofo. Ele faz a lisonja do
bolsonarismo como um fenômeno ‘racional na irracionalidade política” , isto é,
fenômeno de uma positividade possível:
‘É interessante observar que a influência de Protágoras foi
grande entre os sábios. Paradoxal, demagogo, conseguiu, todavia, seduzir
espíritos lúcidos. Platão faz dizer a Teodoro, o mestre de Teeteto: <Não
admitirei que, pelas minhas próprias confissões, se refute Protágoras. >
Esta confissão de Teodoro (que , é certo, também não quer refutar Sócrates) é
da mais alta importância: testemunha da profundidade a que Protágoras penetrou
nos <bons espíritos> não menos do que na multidão e justifica a linga
refutação de Platão”. (Philonenko: 149).
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O problema gramatical do indivíduo (que pode ser, ou pessoa,
ou sujeito, ou práxis política) tem uma solução assim:
“Podemos dizer que ou é a palavra que cria cada indivíduo, ou
é o silêncio que o nutre e produz”. (Kierkegaard:38).
A tela gramatical narrativa cria e recria o indivíduo [na
pratica política do poder soberano] e o silencio da tela e do poder o alimenta
de expectativa sobre o futuro e o produz como aparelho de Estado e capital.
Qual a relação do indivíduo com a revolução?
Hegel:
“uma modificação pela qual o indivíduo, como efetividade
especial e como conteúdo peculiar, se opõe àquela efetividade universal”.
A insurreição do indivíduo peculiar, particular, no modo de
ser psíquico singular, que se opõe à estrutura de dominação universal, será
considerado um crime político:
“Essa oposição vem a tornar-se crime quando o indivíduo
suprassume essa efetividade de uma maneira apenas singular; ou vem a tornar-se
um outro mundo – outro direito, outra lei e outros costumes, produzidos em
lugar dos presentes – quando o indivíduo o faz de maneira universal e,
portanto, para todos”. (Hegel: 194).
A revolução barroca cria uma plurivocidade de gramática para
o novo campo política da cultura e para o Estado:
“Cada tela gramatical contém sua definição de liberdade e
verdade. Na tela metafísica, estar conforme a ordem teológica define a
liberdade e a verdade dos gramáticos. O absoluto é a própria tela gramatical
metafísica., definido assim por Hegel. o absoluto define que não há história
pós-metafísica. O fim da história em Hegel, ´´e, por causa, o fim da tela
gramatical metafísica”.
“Na gramática dialética de Pelreman, se deixar modelar pela
tradição define uma tela gramatical não conforme o absoluto. Então, a gramática
se move por concepção de valor que permite conhecer a superioridade de um
quadro ou tela sobre outa telas. E se entende o porquê do abandono de uma tela
e sua substituição por outra nova constitui uma decisão histórica razoável”.
(Bandeira da Silveira. Janeiro/2023, cap. 39).
O pós-modernismo decretou a morte da revolução:
“As atuais revoluções
se inscrevem, todas elas, na fase imediatamente anterior do sistema. Todas se
armam de uma ressurreição nostálgica do real sob todas as suas formas, ou
melhor, simulacros de segunda ordem; dialética, valor de uso, transparência e
finalidade de produção, ‘libertação’ do inconsciente, do sentido ‘reprimido’
(do significante ou do significado chamado desejo) etc. Todas essas libertações
dão a si mesmas como conteúdo ideal s fantasmas que o sistema devorou em suas
sucessivas revoluções e que são sutilmente ressuscitados por ele como fantasmas
de revolução. Todas as libertações não passam de transição para a manipulação
generalizada. A própria revolução nada mais deseja dizer ao estágio dos
processos aleatórios de controle”. (Baudrillard. 1976:9).
A revolução barroca abre as comportas, como antessala, para a
revolução do grotesco sublime, maranhense, do poeta Ferreira Gullar.
9
“O objeto real ou fantasia do poema <Bomba Suja> é o
capital do a “Crítica da gramática do capital” (Bandeira da Silveira; 2021).
Marx fez do brutalismo sua tela estética do capital. Gullar fez do grotesco a
tela gramatical estética da crítica da crítica do capital subdesenvolvido
latino-americano”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2024: cap. 14, parte 1).
O brutalismo é a anarquia do capital na prática política
muito conhecido dos brasileiros do regime de 1988. Ora, o grotesco de Gullar é
uma crítica da civilização do dominante:
“A civilização foi um esforço a mais para distinguir o corpo
da classe dominante do corpo das classes dominadas: camponês e operário.
Trabalho de distinção. A afecção repugnância é plantada no coração do campo do
indivíduo dominante e no campo político da sociedade do dominante. Já Gullar
retoma o senso comum da carnavalização popular do corpo do dominado”. (Bandeira
da Silveira. Janeiro/2024: cap. 14, parte 2).
Uma civilização do dominado aparece com a China de Xi Jinping:
civilização do asiático em um contraponto visível com a civilização do
dominante ocidental. A civilização é a realidade da prática política da cultura
como plurivocidade gramática e tela de gosto. Assim, mais ainda:
“A revolução grotesco/neoconcreta faz pendant com a revolução
barroca dionisíaca. A poesia de Ferreira Gullar e a prática da multidão
carnavalesca são as fontes da mitologia do campo político da cultura do futuro.
É uma realidade virtual da gramática em português mais universal que o
universal da metafísica europeia. [O eu de Gullar insaciável exprime-se em
imagens mais vivas do que a própria vida]. a realidade mitológica é o elo de
ligação do passado com o futro, da revolução dionisíaca do cônego Batista Campo
do Boi-Bumba no poder com a revolução grotesco/neoconcreta”. (Bandeira da
Silveira. Janeiro/2024: cap. 14, parte 3).
Segue:
“A revolução grotesco/neoconcreta afeta a gramática com a
plantação da afecção no campo político, pois, ela invade-o com a carnavalização
da língua na mesclagem de gramáticas (Kayser: 127-132) dos diversos povos –
como no livro que funde o barroco dionisíaco e o grotesco/neoconcreto:
“Casa-Grande e Senzala”. O corpo da língua da infância”. (Bandeira da Silveira.
Janeiro/2024. Cap. 14, parte 3).
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A revolução do grotesco/neoconcreto pode fabricar um aparelho
de Estado como artefato da civilização do dominado:
‘Como legislação penal, o aparelho de Estado moderno é,
também, jogos de gramática da cultura política...e não apenas violência pura,
coerção violenta, pois, a legislação penal existe no campo simbólico, não é
apenas a emergência do real do campo político na vida em geral”.
“Nietzche fala de um campo simbólico como governo da
gramática sobre o filósofo, e, também, sobre a filosofia a partir da fé na tela
gramatical da política; e, claro, por tabela, governo montado na fé do homem
comum, do homem, mulher e criança na tela gramatical”.
“O aparelho de Estado é coerção violenta, mas coerção regida
por uma tela gramatical/legislação penal. Esta pode existir como poder – ou
cesarista/tirânico, ou oligárquico, ou democrático”. (Bandeira da Silveira. Julho/2024:415).
Entramos me uma transição na prática política da época do
Estado mercantilista feudal, cibernético para uma época do Estado feudal-IA. O
que é esse último Estado? O capital feudal-IA proverá a realidade de uma
prática política-IA:
“O objeto desse texto consiste em estabelecer as relações
complexas entre o Estado mercantilista e o Estado de exceção. O Estado fascista
aparece como forma particular do regime do Estado burguês de exceção. Evita-se
o weberianismo estruturalista parisiense que fala em <Estado capitalista>
no lugar do Estado burguês. (Poulantzas. 1974: 7-8). O estruturalismo marxista
recorre a Weber em vez de desenvolver a ciência política [materialista] de
Marx, Engels, Lenin, Mao Zedung. Como ele é impossível ver o Estado
confucionista/maoista paraconsistente como uma forma de Estado mercantilista
normal. O Estado mercantilista de exceção cria e abre as comportas para o campo
subpolítico heteróclito. O Estado confucionista/maoista luta para bloquear os
fenômenos do campo heteróclito como constitutivo da gramática do campo político
nacional. O subpolítico é a subsunção do campo político lógico ao infralógico
ou, no melhor dos casos, paralógico incorreto (Newton da Costa. 2019: 20), que
é o grua zero da tela gramatical lógica paraconsistente”.
“O Estado mercantilista é o fenômeno universal no campo da
civilização política ocidental. O campo político em geral é paraconsistente”.
(Bandeira da Silveira. Novembro/2024: 429).
O capital feudal-IA abolirá a gramática de sentido da prática
política e, assim, o próprio campo político simbólico?
A gramática de sentido voa acima ou abaixo do radar da
sensação:
“A questão evoluiu. Sabe-se o que é a sensação e, por
conseguinte, não se ignora o que são os dados da vista, do ouvido e sabe
distinguir-se o som e o sentido; o exemplo alegado, que prova a possibilidade
de isolar a sensação, e a <língua dos bárbaros>. Porém, talvez por
associação de ideias, se o raciocínio se inverter, se distinguirmos a língua e
a sensação, a gramática levar-nos-á ao sentido sem ensinar o que é sensação”.
(Philonenko: 150).
Qual será a forma de governo soberana provável do capital
feudal-IA?
“O que ocupa ali o lugar que provisoriamente chamaremos de
dominante, S2, que se especifica por ser, não saber-de-tudo, nós não chegamos
aí, mas tudo saber. Entendam o que se afirma por não nada mais do que saber, e
que se chama, na linguem corrente, burocracia”. (Lacan. S. 17: 34).
A sofistica é o saber-de-tudo sobre todas as coisas. O saber
burocrático é o tudo saber sobre determinada coisa, saber do especialista:
“O fato de que o tudo-saber tenha passado para o lugar do
senhor, eis o que, longe de esclarecer, torna um pouco mais opaco o que está em
questão – isto é, a verdade. De onde sai isso, o fato de que haja nesse lugar
um significante de senhor”. Pois este é precisamente o S2 do senhor, mostrando
o cerne do que está em jogo na nova tirania d saber. Isto é o que torna
impossível que nesse lugar, apareça, no curso do movimento histórico – como
tínhamos, talvez, espe3rança, -, o que cabe à verdade”. (Lacan. S. 17:
34-35).
O capital feudal-IA faz a junção do <saber-de-tudo>
retórico com o <tudo saber>, armando uma estrutura de dominação de
governo tirânico absolutista sobre a espécie humana?
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Crítica da dialética barroca.
EUA: amazon. Janeiro/2023
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Revolução barroca dentro da
ordem. EUA: amazon, Outubro-novembro/2023
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna EUA:
amazon, Fevereiro/2024
BANDEIRA DA SILVEIRA,
José Paulo. Ciência política materialista. EUA: amazon, Julho/2024
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Fernando Pessoa,
civilização ou barbárie. EUA: amazon, Novembro/2024
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