terça-feira, 28 de janeiro de 2025

DEMOCRACIAS

 

 

 


 

 

José Paulo

 

O Estado mercantilista trumpista se contém no cérebro de Donald Trump como o Urstaat de Deleuze e Guattari?

 

“De todas as instituições, é talvez a única a surgir completamente armada no cérebro daqueles que a instituem. ‘os artistas de olhar de bronze’. Eis por que, no marxismo, não se sabia muito bem o que fazer com essa instituição, uma vez que ela não entra nos famosos cinco períodos, comunismo primitivo, cidade antiga, feudalismo, capitalismo, socialismo. Ela não é uma formação entre outas, nem a passagem de uma formação a outra. Dir-se-ia que ela está em atraso em relação ao que corta e ao que recorta, como se desse testemunho de uma outra dimensão, idealidade cerebral que se acrescenta à evolução material das sociedades, ideia reguladora ou princípio de reflexão (terror) que organiza as partes e os fluxos num todo. O que o Estado despótico corta, sobrecorta ou sobrecodifica, é vem antes, a máquina territorial, que ele reduz ao estado de tijolos, de peças trabalhadoras submetidas desde então à ideia cerebral”. Deleuze e Guattari: 262-263).    

 

A prática política despótica encontra-se como gramática de sentido no cérebro do homem político e seus auxiliares tirânicos como Trump E Rubio. Estes são um corte, sobrecorte e recorte na prática política do passado do Estado territorial e, sobretudo, da democracia jeffersoniana, ou da democracia de John Rawls. O quanto a democracia trumpista despótica se encontra longe da democracia moderna?

 

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Como passado, a tradição aparece como gramática de sentido lógico na prática política d atualidade:

 

“A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”. (Marx. 1974: 335).

 

Em Engels a ideologia no cérebro já é uma espécie de gramática de sentido lógico no cérebro do homem:

 

“Toda ideologia, todavia, uma vez que surge, desenvolve-se3 em ligação com a base material das ideias existentes, desenvolvendo-a e transformando-a por sua vez; e não fosse assim, não seria uma ideologia, isto é, um trabalho sobre ideias conhecidas como entidades dotadas de substância própria, com um desenvolvimento independente e submetidas tão apenas às suas próprias leis. Os homens, em cujo cérebro esse processo ideológico se desenrola (...)”. (Engels: 203).

 

A democracia kantiana aparece como gramática de sentido no cérebro de Habermas:

 

“Ao formular sua doutrina do direito, Kant tomara como ponto de partida direitos subjetivos, que concediam a cada pessoa o direito de usar a força quando suas liberdades subjetivas de ação, juridicamente asseguradas, fossem atacadas. Quando o direito positivo sucedeu ao natural, momento em que todos os meios legítimos de usar a força passaram a ser monopolizados pelo Estado, esses direitos de usar a força transformaram-se em autorizações para iniciar uma ação jurídica”. (Habermas. 1997: 48).

 

O Estado territorial da democracia constitucional moderna estabelece para o uso da violência do aparelho de Estado a legitimidade sem ignorar a facticidade na prática política. Esta é a dimensão sem gramática de sentido do direito constitucional na prática política conjuntural. (Poulanztas: 90):

 

“Em nosso contexto interessa, em primeiro lugar, o conceito de legalidade, do qual Kant se serve para esclarecer o modo complexo de validade do direito em geral, tomando como ponto de partida os direitos subjetivos. Na dimensão da validade do direito, a facticidade interliga-se mais uma vez, com a validade, porém não chega a formar um amálgama indissolúvel – como nas certezas do mundo da vida ou na autoridade dominadora de instituições fortes, subtraídas a qualquer discussão. No modo de validade de direito, a facticidade                                                                                                                        da imposição do direito pelo Estado interliga-se com a força de um processo de normatização do direito, que tem a pretensão de ser racional, por garantir a liberdade e fundar a legitimidade. (Habermas. 1997: 48).  

 

No modo de ser psíquico da validade da gramática de sentido, na prática política fática, a gramática hegemônica se torna normatização constitucional que evita anarquia do capital e a anarquia das gramáticas de cada pessoa. O princípio da anarquia linguística e estabelece na medida em que cada indivíduo tem sua própria gramática política pessoal (Gramsci. 1977:2343).                                   

 

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A validade sem facticidade é um modo de ser psíquico retórico; a facticidade sem validade é anarquia; a validade sem facticidade é o funcionamento retórico do aparelho de Estado; a facticidade sem validade é o funcionamento despótico do aparelho de Estado. A práxis individual em um ou outro pode ser legítima/justa (validade) ou ilegítima/injusta (facticidade).

 

Sartre fala da práxis individual como fenômeno da prática política:

 

“Sur le terrain le plus superficial et le plus familier, l’expérience découvre d’abord,, dans l’unité de liaisons dialectiques, l’unification comme mouvement de la <práxis> individualle, la pluralité, l’organisation de la pluralité et pluralité des organisations. Cela, il suffit d’ouvrir les yuex pour le voir. Le probleme pour nous, c’est celui liaisons. S’il a des individus qui totalise”. (Sartre: v. 1: 194).   

 

A gramática de sentido da práxis individual é constituída pelos indivíduos que totalizam. Eles totalizam o sentido em uma gramática lógica da prática política da plurivocidade de práxis; a práxis política fática sem validade cria e recria o estado de anarquia no campo político:

 

“La réponse immédiate mais insuffisante, c’est qu’il n’y aurait pas même une ébauche de totalization partielle si l’individu n’état par soi-même totalisant. Tout la dialectique historique repose sur la práxis individualle en tant que celle-ci est déjà dialectique, c’est-à-dire dans la mesure où l’action est par elle-même dépassement négateur d’une contracdiction, détermination d’une totalizatin presente au nom d’une totalité future, , travail réel et efficace de la matière”. (Idem: 194).

 

A gramática de sentido lógico da plurivocidade de práxis individual do homem político existe em um campo da prática política paraconsistente - ligando passado e futuro na atualidade da conjuntura. Para ser eficaz e histórica. a práxis individual tem que produzir sentido em uma gramática cuja lógica tem raiz nas relações técnicas de produção:

 

“Mais j’ai dit que l’expérience fournissait elle-même son intelligibilité. . Il faut donc voir au niveau de la praxis individuelle (peu nous importe, pour l’instant, quelle sont les contraintes colletives qui la susciten, la limitent ou lui ôtent sont efficacité) quelle est la rationalité proprement dite de l’action”. (Idem: 194). 

 

 Como plurivocidade de práxis de gramática de sentido lógico, a experiência da prática política [como agir] fornece sua inteligibilidade. A práxis trumpismo fornece sua inteligibilidade no agir da prática política de governo. Da práxis do cérebro trumpista aparece a gramática de sentido lógico do Estado mercantilista e mais fenômenos da conjuntura mundial da atualidade e americana, esta como grande potência.  

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O desejo é um componente da práxis individual na prática política:

“Também não quero defender a ideia de que seria aconselhável a um egoísta, em meio a uma sociedade justa, transformar-se em um homem justo, dados os seus objetivos. Antes, o que me interessa é avaliar o bem de um estabelecido desejo de seguir o ponto de vista da justiça. Suponho que os membros de uma sociedade bem estruturada já possuam esse desejo. A questão é se esse sentimento regulador é coerente com o bem das pessoas. Não estaremos examinando a justiça ou o valor moral das ações a partir de determinados pontos de vista; estaremos, sim, avaliando o bem associado ao desejo de adotar-se um ponto particular, a saber, o da justiça. Precisamos avaliar este desejo não do ponto de vista do egoísta, seja qual for, mas à luz da teoria do bem”. (Rawls: 412).

O desejo pode ser movido pelo princípio de prazer (desejo do egoísta) que se manifesta como não-sentido na prática política; o desejo pode ser conduzido pelo princípio de realidade da lógica da gramática de sentido do bem. Tomando como exemplo o governo de Trump, o desejo deste não parece ser do homem político egoísta na práxis individual. Já a práxis de Elon Musk apresenta um forte teor de egoísmo despótico. Daí que dois déspotas um universal governamental e o outro egoísta particular não conseguem habitar a mesma prática política governamental. O desejo governamental de Trump parece se orientar pela gramática de sentido do Bem para todos os americanos. Já Musk   parte dos seus desejos econômico egoístas feudais virtuais. Musk representa a anarquia de desejos na prática política trumpista. Até quando?  Significa o não-sentido da prática política governamental; o aparelho de Estado é anarquia fática e injustiça - quando funciona pelo princípio de prazer das práxis individuais egoístas.

O mais-gozar é um fenômeno do Estado lacaniano barroco/feudal. O mais-gozar da prática política do Estado barroco divide a democracia feudal em forma de governo do dominante (EUA) e forma de governo do dominado (China). Gozar com a riqueza nacional (Mehrlust) pode ser o aparelho de Estado fiscal realizando o desejo do dominante ou do dominado. (Lacan. S. 16: 30,29; Bandeira da Silveira. 202: cap 12 e 23).

O mais-gozar é a dimensão do desejo fiscal do homem político na prática política do Estado lacaniano fiscal barroco/feudal da atualidade. Na prática política do aparelho de Estado barroco, o desejo barroco tem um duplo sentido: fatalidade e liberdade:

“Ao mesmo tempo , ele [o barroco] empresta do classicismo sua reflexão da fatalidade no quadro da história, visto como o polo oposto da liberdade”. (Benjamin: 130).

Fatalidade e liberdade são as afecções que geram desejos barrocos na prática política do Estado lacaniano fiscal. Na França, a Revolução francesa e a Comuna de Paris são momentos da liberdade da prática política na guerra civil entre dominante e dominado pelo mais-gozar. Nos EUA, a revolução americana é um momento de liberdade. Esse passado foi esquecido como gramática de sentido lógico da história. Os dois países passaram a viver a fatalidade da causalidade do capital. As Américas latina e luso sempre viverem pelo desejo da fatalidade [como mais-gozar] na prática política do Estado fiscal.  Da prática política, o fatalismo determina o agir da plurivocidade de práxis individuais do homem político e das massas. Acaba funcionando como princípio de realidade, este como um poder coercitivo das práxis individuais.    

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, ensaios. EUA: amazon, 2022

BENJAMIN, Walter. Origine du drame baroque allemand. Paris: Flammarion, 1985

DELEUZE ET GUATTARI, Gilles et Félix. L’Anti-Oedipe. Capitalisme et schizophrénie. Paris: Minuit, 1972

ENGELS. Karl Marx e Friedrich Engels. Obras Escolhidas, v. 3. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. SP: Alfa-Omega, sem data

GRAMSCI, António. Quaderni del Carcere. v. 3. Torino: Einaudi, 1977

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia. Entre facticidade e validade. V. 1. RJ: Tempo Brasileiro, 1977

LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 16. De um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008

MARX. Os Pensadores. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. SP: Abril Cultural, 1974

POULANTZAS, Nicos. Poder político e classes sociais. SP: Martins Fontes, 1977

RAWLS, John. Uma Teoria da justiça. Brasília: UNB, 1981

SARTRE, Jean Paul. Critique de la raison dialectique. Paris: Gallimard, 1985

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

DEUS, causalidade barroca, Kant, Popper, Rawls

 


 

 José Paulo

 

Deus contra a ciência; esta é o pecado original; Deus se aborrece com os anjos e cria o homem; o homem se aborrece e Deus cria os animais, que os homens dominam em vez de se divertir com eles; Deus cria a fêmea, a serpente de todo o mal no mundo; O homem cria a causalidade e Deus procura bloquear o uso dela; a ciência se desenvolve contra Deus, contra o domínio da tela metafísica religiosa sobre o homem; Então, Deus descobre e inventa a guerra entre os povos para dividi-los e não deixar que eles desenvolvam a ciência como gramática de sentido do bem comum da espécie humana. (Nietzsche. 1974: 64,65.66).

Contra todas as invenções de Deus, o homem procura a emancipação do jugo sacerdotal. O princípio da causalidade das coisas do mundo acaba por dar um fim na soberania da tela gramatical metafísica religiosa, que aparece como um campo de ideologias da superstição acausal no mundo da antiguidade. No mundo da modernidade, a causalidade fabrica e regula a prática política e o capital industrial como experiência de causa e efeito? A cultura moderna crê nisso como um fato da vida em geral:

“Le sens commun se nourrit ainsi de la causalité et il serait entierement désorienté dans umn monde sans cause où tout serait surprise et événement”. (Malherbe:6).

 O capital moderno é o reino da anarquia, das crises econômicas regulares; A prática política liberal vê nascer a anarquia com a luta de classes e a soberania do sufrágio universal. A ordem burguesa liberal cede para a ordem democrática representativa na qual governante e governado, representante e representado, dominante e dominado vivem a ilusão de uma causalidade que faz o laço social entre eles. O senso comum causal obedece à ordem liberal e é desintegrado pela causalidade anárquica democrática e do capital. Na contemporaneidade, a globalização liberal desintegrou o que restava de causalidade democrática, desintegrou a ordem o senso comum e do bom senso das massas. A causalidade passa a existir pela regularidade de seus efeitos na prática política e no capital feudal/IA (inteligência artificial como relações técnicas de produção. A causalidade por seus efeitos faz da prática política e do capital um fenômeno da causa ausente. (Eco;1971).

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Os modernos fazem da causalidade de Aristóteles um fenômeno retórico?  O debate sobre a causalidade como agente da mudança de estado do mundo põe e repõe o problema da mudança da prática política da forma de governo?

“Les Sophistes s’étaient précipités sur la dificulte qu’il y a à penser un tel passage du non-être (de la privation) à l’être et inversement, pour embarrasser ceux qui cherchent la vérité, c’est-à-dire ceux qui cherchent à découvrir les causes capables de rendre raison des choses. Et Mégariques, ces disciples de Socrate prompt á la critique, tenaient que, quand se produit un changement, la chose considérée qui change (ou le monde) passe par un saut brutal et inexplicable d’une état á un autre. La réponse d’Aristote est que, le mot étant pris au sens littéral, la chose se transforme, change de forme. Sous l’action de la cause, la forme qu’elle n’avait pas auparavant, elle la possède désormais”. (Malherbe:12

A mudança é a prática política adquirir uma outra forma; o colapso da forma original da prática política, para o sofista, resulta em anarquia no domínio das formas do ser; Aristóteles considera que a prática política muda de forma sem anarquia. Por quê?

“Ce qui suppose d’une part que la chose démeure emn quelque manière, même quand elle se transforme, que le changèment se fasse sur le fond d’une permanence ou s’attache à un invariant qui dure; d’autre part que la chose, au moment même où elle est privée de la forme ou de la propriétéqui lui advient par l’effet causal, peut devenir ou acquérir cette forme, que elle est en puissance cette properiété qu’elle acquiert et qu’elle possèdere ensuit en acte. (Malherbe: 12-13).

 

Potência e ato definem a prática política que é a invariante na mudança da forma de governo? Em potentia, encontram-se as formas que fazem a passagem em ato para as novas formas. Ora. Não há colapso da prática política da forma de governo; esta só existe como sistema e não como em um estado de anarquia? Se faz necessário ver a mudança da prática política de uma forma de governo (há várias formas de democracia em potentia e ato) e a desintegração da democracia e substituição desta pela tirania; a própria mudança interna da prática política da forma da democracia gera o efeito da anarquia transitório; já a forma de governo tirânico faz do sistema subpolítico um estado de anarquia eterno, pois, é uma subprática política sem gramática de sentido, sem tela gramatical narrativa:

O grau zero da causalidade política é possível:

“Si l’être des choses n’avait pas de durée dans le devinir, tout changerait en tout, et aucune cause ne serait assignable (...).

O ser da prática política evita que a anarquia eterna impeça o estabelecimento de uma forma em substituição a outra na prática política da democracia?

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B unge:

“Além disso, o mesmo que Kant depois dele, Locke sustentou que o princípio causal é ‘um verdadeiro princípio da razão’: uma proposição com conteúdo fático, porém não estabelecida com ajuda dos sentidos externos”. (Bunge: 17).

A proposição fática não tem a ver com o mundo da sensibilidade e sim com o mundo da gramática de sentido causal. A causalidade como princípio da razão põe o problema da lógica da prática política. A prática política fática [natural] é estruturada e funciona pelo princípio da identidade da lógica clássica ou não?

Newton da Costa:

“Desde Heráclito, passando por Hegel, Marx e Lenin, e, em nossos dias, Por Wittgenstein, tem havido filósofos admitindo que a contradição pode ser aceita em teorias e contextos racionais que expressam conhecimentos legítimos”. (Newton da Costa. 2008: 170).

A prática política de democracia trumpista é paraconsistente. Trump diz que acabará com as guerras ridículas e ele fará a guerra séria invadindo países indefesos. Qual a gramática de sentido lógico aí? Somente haverá soberania territorial para os países capazes de sustentá-la com as armas do Esta\do territorial. A grande potência deterá o monopólio da gramática de sentido lógico da soberania territorial do capital feudal/IA.

A história dos países continuará sendo a história da formação territorial na dialética virtual/territorial. Assim, é necessário trabalhar com o passado dos países para pensar a gramática de sentido lógico deles. Falo do Brasil:

“Portanto, vê-se claramente – nem todos veem, convenho nisso – o que se indica pelo símbolo <´pai> e de filho>; a palavra <filho> exprime a penetração no afeto da transfiguração geral de todas as coisas (a bem- aventurança), a palavra <pai> esse mesmo sentimento, o afeto da eternidade e do cumprimento”. (Nietzche. 1974:48).

No Brasil Colonial, a gramática barroca cristã/aristotélica de Padre Antônio Vieira foi criada; ela vem do passado até a nossa atualidade:

“Desenganando o Pródigo, e cansado de servir ao mundo com o pago que ele costuma dar, o que disse dentro de si, depois que tornou em si, foi: <Surgam, et ibo ad Patrem  meum: ‘Tempo é já de me levantar da miséria. Em que estou caído, quero-me ir para meu Pai. ‘Para meu Pai’. Toma-lhe a palavra da boca São Pedro Crisólogo, e argui contra ele assim: <Ad Patrem meum? Que spe? Qua fudicia? Qua confidentia? A teu Pai, dizes, filho ingrato, descomedido, perdido? A teu Pai, dizes, a quem quiseste herdar antes da morte? A tu Pai, a quem deixaste, e de quem fugistes, como se fora inimigo? A teu Pai, a quem afrontastes com tantas vilezas tão indignas da nobreza teu nascimento?’ <Qua spe>: como esperas que te há de reconhecer? <Qua fiducia>: ‘Como crês que te há de admitir?’ <Qua confidentia>: ‘Como confias que te não há de lançar de si?’. (Vieira: 72-73).

António Vieira está a falar da gramática de sentido lógico da prática política luso-barroca. O significante <filho> remete para a prática fática da classe política e o <pai> é à riqueza do Estado fiscal.  A relação entre os significantes obedece a lógica paraconsistente do mais-gozar, isto é, gozar da mais-valia fiscal, pública, do Estado lacaniano. (Bandeira da Silveira. 2022: cap. 12, 16). A prática política da democracia feudal/barroca do dominante monopoliza o direito ao mais gozar no dominante; a prática política da outra democracia barroca faz do mais-gozar um fato do dominado. No Brasil, metade do Orçamento é juros a ser apropriado pelo Banco; é a democracia para o mais-gozar do Banco, o dominante filho pródigo; o Estado é o Pai do Banco:

“<Ea qua Pater est, responde o Santo. A esperança com que isto espera, a fé com que isto crê, a confiança com que isto confia, não é outra, snão o ser Pai: <Ea  qua Pater est>. É Pai? Pois ainda que o Pródigo não traga semelhança do que dantes era, há-o de reconhecer; é Pai? Pois ainda que seja indigno de entrar em sua casa, há-o de recolher; é Pai? Pois ainda que tenha faltado às obrigações do nascimento, e do sangue, há-o de meter nas entranhas? É Pai? Pois ainda que tenha deixado de ser filho, ele não há de deixar de ser Pai: <Ego perdidi quod erat filii, tu quod Patris est, non amisisti>. E uma causa tão contingente, tão improvável, tão desesperada, quem a há de vencer? ‘Um advogado’ (diz Crisólogo) ‘não estranho nem de fora, senão tão natural, e tão de dentro, que o mesmo Pai tem no peito’: <Apud Patrem non intercedit extraneus: intus est in Patres pectore ipse, qui intervernit, et exorat affectus”. (Vieira: 73).

O advogado é a estrutura de dominação retórica do afeto no campo das ideologias do dominante:

“É um Advogado mudo, mas mais eloquente que Túlio, nem Demóstenes;  um Advogado , que sem falar, ora; que sem arrazoar, persuade; que sem alegar, convence; que sem rogar, convence; que sem interceder consegue; que sem rogar, manda; que sem julgar, sentenceia, e sempre absolve. E quem é, ou como se chama este Advogado? Amor de Pai: <intus, intus est in Patris pectore, ipse qui intervenit, et exorat affectus>. (Vieira: 73).

A gramática de sentido lógica da prática política do `Pai/Estado lacaniano é uma causalidade dos efeitos da retórica barroca colonial na atualidade:

“Pois se todas estas razões tinha o Pai pra lhe negar o que pedia, porque lhe fez a vontade em tudo? Porque era Pai, diz o mesmo Santo; < Patris est non negare>. O amor não sabe negar. E porque o amor de Pai é o maior amor, nem soube, nem pôde, nem teve coração para negar ao filho que pediu. E como ele tinha experimentado no amor do Pai que não bastaram tantas razões, para lhe negar o que então pedira, por isso também agora teve confiança que não seriam necessárias razões para lhe conceder o que esperava. Quem tendo razões para negar não negou; para não negar, e conceder, não há mister razões. Como se dissera o moço, já sisudo, e entendido: ‘Muita razão tem meu Pai para me não admitir em sua casa, muita razão tem para me não ver, nem consentir em sua presença, muita razão tem para não me conhecer, antes para me negar de filho: razão pelas minhas ingratidões, razão pelas minhas loucuras, razão pelas minhas vilezas, razão pelas minhas intemperanças; mas sobre todas estas razões está a razão de Pai. Contra esta razão não há razão. E esta é a que me anima. Esta a que me dá confiança’: <ibo, ibo, ad Patrem meum”. (Vieira: 74).  

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A gramática de sentido lógico da prática política, guardando a devida consistência, pode ser comparável ao conceito de causalidade?

“On pourrait résumer la thése de de la façon suivante: on ne peut connaître sans penser; penser n’est pas imaginer, c’est juger, et dans la connaissance scientifique l’on juge toujous selon uma règle; la règle ne peut être tirée de l’expérience ; il faut donc en dériver le caractere d´terminant de la forme même de concepts purs a priori (en l’occurence, le concepte de causalité). (Malherbe:41).

Como a causalidade, a gramática de sentido lógico permite um juízo sobre a prática política, mas qual juízo?  O juízo de valor é do campo da ideologia e assim é descartado; o juízo de fato é um juízo gramatical, juízo da tela gramatical narrativa da prática política:

“Kant reverse l’argument: la necessite qui caractérise ler apport de la cause et de l’effet est la condition de la détermination de l’ordre de succession, c’est-à-dire de la appréhension empireque de l’évément. Ainsi est établie la validité du principe de causalité, puisqu’il est la condition de possibilité de l’expérience effective du changement”. (Idem: 47).

A gramática de sentido lógico é a condição de possibilidade da experiência efetiva da mudança na prática política; o contrário disso, é anarquia posta na prática política; a gramática de sentido lógico do passado é condição de possibilidade da experiência efetiva da mudança na prática política da atualidade; não há mudança do presente sem mudança do passado:

Sous la règle de la causalit5é, l’objet, c’est d’une façon générale la succession déterminée des phénomènes, c’est-à-dire le temps lui-même, en tant que l’ordre de ses moments est déterminé nécessairement, l’antecedent produisant le conséquent”; (Idem: 48).

 Na gramática de sentido a lógica é a do passado como causa ausente; ela existe por seus efeitos na atualidade da prática política; a gramática de sentido do barroco de Vieira é uma lógica que existe como causa ausente, existe por seus efeitos na prática política da atualidade; a lógica do Pai barroco é ausente e existe somente por seus efeitos no filho pródigo. 

O problema maior é se desembaraçar da lógica da causalidade metafísica clássica.     

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Popper deu um passo à frente de Kant ao pensar o princpio da causalidade na prática política:

“Cada ação, porém, pressupõe um conjunto de expectativas, isto é, de teorias a respeito do mundo. Que teoria escolherá o homem de ação? Existe algo que seja uma escolha racional?

“Isto nos conduz aos problemas pragmáticos da indução:

Pr1 – em que teoria confiaremos, para ação prática, de um ponto de vista racional?

Pr2 – Que teoria preferiremos para a ação prática, de um ponto de vista racional?”. (Popper: 31).

O homem da prática política (incluindo o eleitor) escolhe não entre teorias, mas a partir da plurivocidade de gramática em concorrência:

“Minha resposta a Pr1 é: de um ponto de vista racional, não podemos <confiar> em teoria alguma, pois nunca se mostrou, nem se pode mostrar, que qualquer teoria é verdadeira.

“Minha resposta a Pr2: podemos preferir, todavia, como base da ação, a teoria mais bem testada.”. (Popper: 31-32).

A gramática de sentido não é vista como lógica verdadeira na prática política territorial ou virtual. A lógica da democracia feudal do dominante é mais verdadeira que a lógica da democracia do dominado? A democracia do dominante é o Estado lacaniano do mais-gozar para alguns. A democracia do dominado é o Estado lacaniano para todos:

“Em outras palavras, não há “confiança absoluta”; desde, porém, que tenhamos de escolher, será ‘racional’ escolher a teoria mais bem testada. Será ‘racional’ no sentido mais óbvio que conheço dessa palavra: a teoria mais bem testada é aquela que, à luz dessa discussão crítica, parece ser a melhor até agora, e não conheço coisa mais ‘racional’ do que uma discussão crítica bem conduzida”. (Popper: 32).  

A gramática de sentido lógico da democracia do dominante existe nos EUA, Europa, América Latina, Canadá, Japão, Coréia do Sul e Índia. A gramática de sentido lógico da democracia do dominado existe na China. Há um teste de verificação lógica e prático para ver qual gramática se sustenta na história mundial.  Ora, a hegemonia do modelo nacional-territorial define algo: A China inventou o modelo mais acabado do mercantilismo/liberal [mercantilismo com globalização econômica]. Hoje, Donald Trump parece ter chegado à conclusão de que o modelo de Estado mercantilista territorial/virtual é o mais testado e, portanto, o mais lógico em gramática de sentido conjuntural.

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Há uma mudança estrutural na ideologia política americana quanto a relação da prática política com a religião. A democracia trumpista é uma ruptura com o passado da democracia jeffersoniana? O passado causal da prática política parece ter sido abolido:

“De novo Jefferson dá o tom quando se recusa a ir tão longe. Ele pensava como suficiente privatizar a religião, vê-la como irrelevante para a ordem social, mas relevante para, e possivelmente essencial para, a perfeição individual. Os cidadãos de uma democracia jeffersoniana podem ser tão religiosos ou irreligiosos quanto quiserem, por tanto tempo quanto puderem permanecer sem se tornar <fanáticos>. Isto é, eles precisam abandonar ou modificar opiniões sobre questões de importância derradeira, opiniões que podem ter dado até aqui sentido e sustentação às suas vidas, se essas opiniões encerram ações públicas que não podem ser justificadas para a maior parte de seus companheiros cidadãos”. (Rorty:235).

Rorty cita Rawls sobre a mudança na prática política:

“visto que a justiça enquanto equanimidade é pretendida como uma concepção política da justiça para uma sociedade democrática, tenta-se esboçá-la a partir unicamente de ideias intuitivas básicas embebidas nas instituições políticas de uma sociedade democrática e nas tradições publicas de sua interpretação. A justiça enquanto equanimidade é em parte uma concepção política porque começa no interior de uma certa tradição política. Nós esperamos que essa concepção política de justiça possa ser ao menos suportada pelo que nós podemos chamar ‘consenso justaposto’, ou seja, por um consenso que inclua todas as doutrinas filosóficas e religiosas antagônicas apropriadas para persistir e obter adesões em uma sociedade democrática mais ou menos justa. (Rorty: 240-241).

A democracia trumpista se baseia nessa ideologia supracitada? Rawls fala da democracia americana da segunda metade do século XX articulada pela gramática de sentido lógico do bem comum fazendo pendant com a justiça. (Rawls: 296):

“Suponhamos, então, que o desejo e agir de forma justa é diferente de um desejo final como o de evitar a dor, a tristeza ou a apatia, nem é um desejo de realizar o interesse inclusivo. A teoria da justiça fornece outras descrições do que deseja o senso de justiça e devemos usá-las para mostrar que uma pessoa, segundo a teoria do bem, irá, de fato, confirmar que esse sentimento regula seu plano de vida”. (Rawls: 412-413).

A democracia trumpista põe e repõe o problema da justiça e do bem? O Bem é enriquecer os americanos, um bem para todos e não para uma minoria; Trump vê no mercantilismo a via para chegar a esses bem. todavia, o bem é desconectado da gramática da justiça. Se entendermos como justiça do aparelho de Estado de uma democracia constitucional; na democracia trumpista, o Congresso faz leis tirânicas tendo como objeto o imigrante. Essa democracia deporta brasileiros imigrantes ilegais com algemas nas mãos e correntes de ferro nos pés. Essa é a imagem visual do aparelho tirânico trumpista de um Estado mercantilista do novo americanismo.      

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical, textos. EUA: amazon, 2022

BUNGE, Mario. Causalidad. El principio de causalidade en la ciência moderna. Buenos Aires: EUDEBA, 1972

ECO, Humberto. A estrutura ausente. SP: Perspectiva, 1971

MALHERBE, Michel. Qu’est-ce que la causalité. Hume e Kant. Paris: J. Vrin, 1994

NEWTON DA COSTA. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. SP: Hucitec, 2008

NIETZSCHE. L”Antéchist. Paris: Gallimard, 1974

POPPER, Sir Karl R. Conhecimento objetivo. SP: USP, 1975

RAWLS, John. Uma teoria da just5iça. Brasília: UNB, 1981

RORTY, Richard. Objetivismo, relativismo e verdade. Escritos filosóficos. V. 1. RJ: Relume Dumará, 1997

VIEIRA, Padre António. Sermões do Rosário. Maria Rosa Mística 1. SP: Loyola, 2015     

   

           

  

 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

gramática de sentido, técnica, governo, capital/IA

 

José Paulo 

 

A gramática de sentido do campo da prática política dos paradoxos, aporias e contradições regem a história:

“O paradoxo deste puro devir, com a sua capacidade de furtar-se ao presente, é a identidade infinita: identidade infinita dos dois sentidos ao mesmo tempo, do futuro e do passado, da véspera e do amanhã, do mais e do menos, do demasiado e do insuficiente, do ativo e do passivo, da causa e do efeito. (Deleuze. 1974: 2).

Das inversões de sentido do crescer e do diminuir e “da causa e do efeito: ser punido antes de ter cometido a falta, gritar antes de machucar, servir antes de repartir”. Crescer e diminuir é uma constante da prática política, pois, o jogo gramatical e ideológico delas age sobre o crescimento e diminuição da potentia do aparelho de Estado na prática política. A não inversão de sentido do aparelho de Estado de causa e efeito é um pressuposto básico da concepção política de mundo do aparelho de Estado penal constitucional. Ser punido antes de ter cometido o crime é uma sublógica de sentido do aparelho de Estado de países subdesenvolvidos em relação à população dos de baixo. Assim:

“O paradoxo é, em primeiro lugar, o que destrói o bom senso como sentido único, mas, em seguida, o que destrói o senso comum como designação de identidades fixas”. (Deleuze. 1974: 3).

O campo dá prática política pode ter inversões dos dois sentidos da civilização/barbárie, sistema/revolução. O novo fascismo mundial faz essa inversão ao procurar criar um sistema do revolucionar, um governo do revolucionar o Estado. Assim, ele destrói o bom senso do aparelho de Estado como sentido único constitucional  e desintegra o senso comum da prática política como designação de identidades fixadas dos efeitos <incorporais> na prática política constitucional e leis ordinárias. 

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Na inversão do modo de ser psíquico hiberbato da tela gramatical de sentido da prática política, a anástrofe articula e faz funcionar a pratica política como inversão da ordem gramatical do sintagma no fenômeno político. Assim, altera-se a sintaxe da tela gramatical e, portanto, da prática política. Por exemplo, a barbárie toma o lugar da civilização assim como a anarquia toma o lugar do aparelho de Estado constitucional. No subdesenvolvimento, a ordem na tela gramatical tem a barbárie, isto é, a anarquia do aparelho de Estado como direito natural do mais forte; inversão entre o direito constitucional e o direito natural.

Bem:

“Esta maneira de ser se encontra de alguma forma no limite, na superfície de ser e não pode mudar sua natureza; ela não é a bem dizer nem ativa nem passiva, pois passividade suporia uma natureza corporal que sofre uma ação. Ela é pura e simplesmente um resultado, um efeito não classificável entre os seres...(Os Estoicos distinguem) radicalmente, o que ninguém tinha feito antes deles, dois planos de ser: de um lado, o ser profundo e real, a força; de outro, o plano dos fatos, que se produzem na superfície do ser e instituem uma plurivocidade infinita de seres incorporais”. (Deleuze. 1974: 6).

Os fenômenos da tela gramatical narrativa da prática política podem  ser seres incorporais, como a multidão disponível para a política. Sem corpo, eles não participam da prática política dos corpos:

“No entanto, o que há de mais íntimo, de mais essencial ao corpo do que acontecimentos como crescer, diminuir, ser cortado? O que querem dizer os Estoicos quando opõem à espessura dos corpos estes acontecimentos incorporais que se dariam somente na superfície, como um vapor nos campos (menos até que um vapor, pois um vapor ´é um corpo)? O que há nos corpos, na profundidade dos corpos, são mistura: um corpo penetra outro e coexiste com ele em todas as partes, como a gota de vinho no mar ou o fogo no ferro”. (Deleuze. 1974: 6).

Os corpos políticos se misturam na prática política da democracia constitucional. A teologia amigo versus inimigo não estrutura a prática política:

‘Toda contraposição religiosa, moral, econômica, étnica ou outra transforma-se numa contraposição política, se tiver força suficiente para agrupar objetivamente os homens em amigos e inimigos”. (Schmitt;63).

Há a inversão do modo de ser psíquico hiperbato da prática política, na tela verbal narrativa, por exemplo, da democracia constitucional em anarquia política; isso é realizada pelo novo fascismo que usa a anarquia como estratégia e táticas de tomada do poder e conservação do governo. A figura de linguagem é da ordem do discurso político, mas, e, sobretudo, ao que me interessa, da prática política de uma tela gramatical narrativa de conjuntura. A inversão gramatical determina e define a mudança da gramática dos dois sentidos sintagmáticos, da formação da oração da tela gramatical, simultâneos, de conjuntura da história e não da retórica.  

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A relação entre relações técnicas de produção e gramática da lógica de sentido tem dois sentidos, simultâneos: Estado constitucional e anarquia. Freud fala da gramática de sentido da anarquia instrumentalizada pelos Estados mercantilistas e colonialistas do homem europeu civilizado - que levou à Primeira Guerra Mundial. O homem europeu vivendo segundo o princípio de prazer e falsa perversão é um modo de ser psíquico do homo homoni lupus:

“O elemento de verdade por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; ao contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto de prazer carnal, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo: <Homo homoni lupus>. (Freud: 133).

O estado de anarquia, no meu Freud, faz pendant como o estado de natureza de Hobbes. A lógica é a do direito natural do mais forte – falso perverso - que usa o outro segundo seu prazer e objeto do falso perversão. No entanto, em Hobbes, o estado de anarquia acaba com o Estado; em Freud, o próprio aparelho de Estado participa do estado de anarquia do europeu civilizado; assim, dois sentidos aparecem articulando e fazendo funcionar o próprio Estado europeu: civilização e barbárie ou pólemos: guerra entre povos europeus.  

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Em Hobbes, a barbárie aparece como estado de natureza em um contraponto com o Estado da civilização; a barbárie é o estado de natureza com estado de anarquia do direito natural do mais forte sobre o dominado; a civilização da justiça e injustiça requer o aparelho de Estado penal que faz pendant com a gramática da propriedade:

“Portanto, para que as palavras <justo> e <injusto> possam ter lugar, é necessária uma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento de seus pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ao benefício que esperam tirar do rompimento do pacto, e capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens adquirem por contrato mútuo, como recompensa do direito universal a que renunciaram. E não pode haver tal poder antes de erigir-se um Estado. O mesmo pode deduzir-se também da definição comum da justiça nas Escolas, pois nelas se diz que a justiça é a vontade constante de dar a cada um o que é seu. Por tanto, onde não há o <seu>, isto é, não há propriedade não pode haver injustiça. E onde não foi estabelecido um poder coercitivo, isto é, onde não há Estado, não há propriedade, pois todos os homens têm direito a todas as coisas. Portanto, onde não há Estado nada pode ser injusto. De modo que a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-los, e é também só aí que começa a haver propriedade”. (Hobbes: 90).

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Propriedade territorial aponta para a técnica na história da civilização; a propriedade virtual encontra-se acima do Estado territorial; na modernidade, há a autonomia relativa da prática política em relação às relações técnicas de produção territoriais; com as relações técnicas de produção virtuais/IA, a mediação e reflexão que faz a passagem em ato das relações técnicas para a prática política se torna inoperante. Heidegger pode ajudar nesse problema:

“A técnica só é dominada de um modo tal que lhe é dado espaço até mesmo no aparentemente não técnico (isto significa aqui maquinal); o poder da <organização> é escravo da técnica e <domina> esta última, assim como o escravo liga o senhor a si próprio através da plena submissão”. (Heidegger: 155).

 O poder da organização da prática política, isto é, a gramática de sentido lógico da prática política é escrava da técnica e, ao mesmo tempo domina esta última; a inversão lógica dos dois sentidos liga a prática política à técnica como senhor através da plena submissão. O capital feudal_IA é a técnica como senhor da prática política na medida em que o IA se institui como poder tutelar da classe política do homem. A tela gramatical/IA da prática política foi antecipada por alguma gramática do homem?

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A gramática de sentido da lógica da proposição associa-se às imagens textuais:

“A designação opera pela associação das próprias palavras com imagens particulares que, devem ‘representar’ o estado de coisas: entre todas aquelas que são associadas à palavra, tal ou tal palavra `s proposição, é preciso escolher, selecionar as que correspondem ao complexo dado”. (Deleuze: 13).

O complexo dado é o texto de Tocqueville sobre um poder tutelar da prática política do futuro da América, visto da primeira metade do século 19. Ora, esse pode tutelar virtual parece corresponder a realidade da gramática de sentido lógico da proposição capital feudal/IA:

“Observei, durante minha temporada nos Estados Unidos, que uma situação social semelhante à dos americanos poderia oferecer singulares facilidades à implantação do despotismo e mostrei, ao regressar à Europa, como a maior parte dos nossos príncipes já se tinham servido das ideias, dos sentimentos e das necessidades que essa mesma situação social fazia surgir, para estender a esfera do eu poder”. (Tocqueville: 431).

A imagem textual sobre o futuro não encontra realidade na história do homem nos EUA ou Europa nos séculos 19 e 20. Ela encontra sua realidade virtual no capital feudal-IA do século 21:

“Jamais se viu, nos séculos passados, soberano tão absoluto e tão poderoso que tenha tentado administrar sozinho e sem recorrer a poderes secundários, todas as partes de um grande império; nem sequer um tentou submeter indistintamente todos os seus súditos aos detalhes de uma norma uniforme, nem desceu até junto de cada um deles, para regê-lo e conduzi-lo”. (Tocqueville: 431-32).

O poder tutelar do capital feudal/IA vai além do cesarismo do capital feudal cibernético, fenômeno político, ainda, da civilização do homem:

“Sabemos que, na época dos Césares, os diferentes povos que viviam no mundo romano tinham ainda conservado costumes e hábito diversos; embora sujeitas ao mesmo monarca, a maior parte das províncias era administrada separadamente; eram cheias de municipalidades poderosas e ativas e embora todo o governo do império estivesse concentrado apenas nas mãos do imperador; e ele continuasse sempre, quando necessário, árbitro de todas as coisas, os detalhes da vida social e da existência individual fugiam ao controle dele (...); muitas vezes , ao imperador, ocorre-lhe abusar desse poder para arbitrariamente tirar de um cidadão os bens ou a vida; a sua tirania pesava prodigiosamente sobre alguns,, mas não se estendia sobre um grande número; prendia-se a alguns objetivos maiores e esquecia o resto; era violenta e contida”. (Tocqueville: 432)

Ao contrário, o domínio do capital feudal/IA seria o grau zero da estrutura de dominação territorial sobre o homem? Como gramática do Estado territorial, a propriedade hobbesiana daria lugar à propriedade de um despotismo virtual:

“Parece que, se o despotismo viesse a se estabelecer nas nações democráticas de hoje, teria outras características. Seria mais amplo e mais brando, e degradaria os homens sem atormentá-los”. (Tocqueville: 432).

 A gramática de sentido da lógica da proposição despotismo democrático/IA faria da falsa perversão a condição natural da espécie humana:

“Os governos democráticos, poderão tornar-se violentos e cruéis em certos momentos de grande efervescência e grandes perigos; mas essas crises serão passageiras (...), na austeridade em que se mantêm quase todos, no vício como na virtude, não temo que encontrem em seus chefes tiranos, mas antes tutores”. (Tocqueville:433).

A gramática de sentido do poder tutelar/IA não é tirania ou despotismo, é um fenômeno inédito sem nome ainda:

“Procuro descobrir sob que traços novos o despotismo poderia ser produzido no mundo; vejo uma multidão inumerável de homens semelhantes e iguais, que sem descanso se voltam sobre si mesmos, à procura de pequenos e vulgares prazeres, com os quais enchem a alma. Cada um deles, afastado dos demais, é como que estranho ao destino de todos os outros; seus filhos e seus amigos particulares para ele constituem toda a espécie humana; quanto ao restante dos seus concidadãos, está ao lado deles, mas não os vê; toca-os e não os sente; existe apenas em si e para si mesmo, e, se ainda lhe resta uma família, pode-se ao menos dizer que não mais tem pátria”. (Tocqueville:434).

Os EUA permitiram a Tocqueville imaginar uma gramática de sentido da lógica da proposição virtual do futuro do domínio do capital feudal/IA - na paródia de democracia do poder tutelar do capital sobre a prática política dos homens e mulheres:

“Acima destes, eleva-se um poder imenso e tutelar, que se encarrega sozinho de garantir o seu prazer e velar sobre a sua sorte. É absoluto, minucioso, regular, previdente e brando. Lembraria mesmo o pátrio poder, se, como este, tivesse por objeto preparar os homens para a idade viril; mas, ao contrário, só procura fixá-los irrevogavelmente na infância; agrada-lhe que os cidadãos se rejubilem, desde que não pensem senão em rejubilar-se. Trabalha de bom grado para a sua felicidade, mas deseja ser o seu único agente e árbitro; provê e assegura as suas necessidades, facilita os seus prazeres, conduz os seus principais negócios, dirige a sua indústria (...)”. (Tocqueville:434).

O novo fascismo crê que pode se tornar a prática política territorial do poder tutelar virtual do capital feudal/IA. Daí Donald Trump e Elon Muske falarem da verdadeira liberdade da democracia fascista na posse presidencial de Trump em janeiro de 2025.   

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Qual a relação entre sentido e gramática? A práxis de produção de sentido é da ordem do sensível ou da linguagem?

“A questão evoluiu. Sabe-se o que é a sensação e, por conseguinte, não se ignora o que são os dados da vista, do ouvido e sabe distinguir-se o som e o sentido; o exemplo alegado, que prova a possibilidade de isolar a sensação, é <a língua dos bárbaros>. Porém, talvez por associação de ideias, se o raciocínio se inverter, se distinguirmos a língua e a sensação, a gramática levar-nos-á ao sentido sem ensinar o que é sensação”. (Philonenko: 150).

A tela gramatical plástica narrativa da lógica de sentido pode ser extraída de Wittgenstein:

“E quem pinta não deveria pintar algo – e quem pinta algo, não pinta nada real? – Sim, o que é objeto do pintar: a figura do homem (por exemplo) ou o homem representado pela figura?”

“519. Diríamos: uma ordem é uma imagem da ação, que foi executada segundo a ordem; mas é também uma imagem da ação, que deve ser executada segundo ela”.

“520. “’Mesmo quando se concebe a frase como imagem de um estado de coisas possível e se diz que ela mostra a possibilidade do estado de coisas, então, no melhor dos casos, a frase pode fazer o que faz uma imagem pintada ou plástica, ou um filme; e ela, em todo caso, não pode colocar o que não se dá. Portanto, depende inteiramente de nossa gramática o que é (logicamente) dito possível e o que não é, - a saber, o que ela autoriza?” (Wittgenstein: 148).

A tela gramatical autoriza a lógica de sentido como fé nas imagens do estado de coisas, fé na prática política dos fenômenos. Ora, o governo é o centro de gravidade da práxis política de criação e recriação da lógica de sentido como fé da multidão na tela gramatical; a antítese disso é a anarquia subpolítica

 “Le philosohie n’aurait-il pas le droit de s’élever au-dessus de la foi qui régit la gramaire? Tous nos rspect aux governantes; mais ne serait-il pas temps pour la philosophie d’abjurer la foi des gouvernantes? (Nietzsche: 54).

O poder tutelar do capital feudal-IA permite a filosofia d’abjurer la foi des dirigeantes, renunciar à fé na classe dirigente?   

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Quais são os efeitos prováveis da renúncia das massas à fé na imagem da classe dirigente? Pode cair na anarquia da subpolítica? Ou o poder tutelar do capital feudal/IA faz a subsunção da anarquia de sentido da classe política:

“Poder-se-ia esboçar um quadro de gramática normativa que opera espontaneamente em toda a sociedade determinada na medida em que ela tende a unificar-se, seja como território, seja como cultura, isto é, na medida em que exista uma classe dirigente cuja função seja reconhecida e seguida”. (Gramsci).

A classe dirigente territorial e cultural se define como práxis política de criação de sentido como imagem da fé no governo pelas massas. Antes, a cultura política do senso comum e do bom senso [como tela plástica gramatical narrativa lógica de sentido] fazia a mediação entre o sentido da práxis governamental e as massas. Com a globalização liberal, a cultura política das nações foi desintegrada. Hoje, a tela midiática se apoderou da relação do governo com as massas, estas sem senso comum ou bom senso; a anarquia de sentido impera nas massas:

“O número de ‘gramáticas espontâneas’ ou ‘imanentes’ é incalculável: poder-se-ia dizer, teoricamente, que cada pessoa tem sua própria gramática”. (Gramsci).

Aqui se encontra a caracterização da anarquia de sentido gramatical; é como se existisse mil lógicas de sentido na prática política; assim, a fé na gramática governamental é substituída pela fé na imagem das gramáticas pessoas. A fé na imagem da classe dirigente inexiste:

“Todavia, ao lado desta desintegração fática, deve-se sublinhar os movimentos unificadores, de maior ou menor amplitude, seja como região territorial, seja como <volume linguístico> As ‘gramáticas normativas’ escritas tendem a abarcar todo um território nacional unitário e todo o volume linguístico, a fim de criar um conformismo linguístico nacional unitário que, outrossim, coloca num plano mais elevado o <individualismo> expressivo, já que cria um esqueleto mais robusto e homogêneo para o organismo linguístico nacional, do qual cada indivíduo é o reflexo e o intérprete”> (sistema Taylor e autodidatismo)”. (Gramsci: 2343).

A propósito! No Brasil, o cosmopolitismo linguístico do inglês americano invadiu o território e cultura da língua nacional - cujo efeito é a anarquia linguística no uso do idioma português falado, entre nós.

Retomando o fio da meada. Donald Trump destina 500 bilhões de dólares para desenvolver a IA. Aí já se trata do capital feudal/IA de governo do mercantilismo/liberal interno; ele fala de restaurar a nação do americano, uma economia nacional do americano, ele quer um Estado mercantilista puro nas relações internacionais, como grande potência, para a segunda metade do século 21; ele e Elon Musk  se apresentam como junção do territorial com o virtual-IA; eles erguem uma tela gramatical de uma prática política que abala os alicerces da velha democracia eletiva de 200 anos; isso torna obsoleta a velha classe política do século 20? Como a globalização liberal desintegrou a nação e o Estado nacional, o nacionalismo [e o protecionismo] de Trump - o que é?

O que está em curso é uma etapa mais profunda, intensa, de mundialização do mercantilismo (Bandeira da Silveira; 2021) do capital feudal/IA?  

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. mundialização do mercantilismo capitalista. EUA: amazon, 2021

DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. SP: Perspectiva, 1974

FREUD. Obras Completas. V. 21. Mal-estar da civilização. RJ: Imago, 1974

GRAMSCI, António. Quderni del Carcere. v. 3. Torino: Einaudi, 1977

HEIDEGGER, Martin. Nietzsche. Metafísica e niilismo. RJ: Relume Dumará, 2000

 HOBBES, Thomas. O Leviatã. SP: Abril Cultural, 1974      

NIETZSCHE. Par-delà bien et mal. Paris: Gallimard, 1971

PHILONENKO, Alexis. Licóes platónicas. Lisboa: Instituto Piaget, 1997zx

SCHMITT, Carl. O conceito do político. Petrópolis: Vozes, 1992

WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. SP: Abril Cultura, 1975

TOCQUEVILLE, Alexis de. Dela démocratie en Amérique. V. 2. Paris: Gallimard, 1961

domingo, 19 de janeiro de 2025

natureza/política ao capital feudal-IA

 

José Paulo 

 

O aparelho de Estado como direito natural do mais forte faz a guerra à sociedade, guerra do dominante ao dominado. Que espécie de guerra? Trata-se da guerra da forma de governo do tirano que vem embalada no culto à personalidade do Príncipe como estratégia de anarquia para tomar o poder governamental e conservá-lo como gramática natural de sentido do direito do mais-forte, do homem forte, que de fato é a ratazana perversa tirânica.

A dialética como doçura na guerra civil contra anarquia do retórico e de seu amigo o tirano já é a filosofia do dialogo como aparelho de hegemonia que funda um Estado constitucional no cérebro do indivíduo e na prática política da cultura e na prática política da soberania do poder governamental.

A dialética é a ciência política que define a natureza do homem da alma e do corpo em uma tela verbal narrativa que corresponde ao espírito da Constituição que governa o mundo como teatro da política. A tela gramatical verbal narrativa habita a alma e o corpo do cérebro do indivíduo e do espírito constitucional da multidão disponível para a forma de governo da democracia constitucional – na atualidade. As virtudes como afecções como justiça e temperança podem ser parcela das práticas e práxis política que governam o mundo como plurivocidade de gramática de sentido.

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A ANTIGUIDADE conheceu o perverso na história política. A dialética da gramática de sentido de BEM jogou uma luz eterna sobre o perverso na prática política e na alma da multidão. O tirano e o retórico são os dois fenômenos da perversão para a dialética do Bem. Eles andam par a par na vida grega pública.

Qual a ligação do retor orador com o tirano. A retórica é a prática da lisonja do tirano, ou do Príncipe, na linguagem política já moderna. A lisonja é o instrumento de fazer o tirano tomar o poder ou conservar o poder. [Por exemplo, o uso da retórica política do jornalismo da TV Globo que propiciou a tomada do poder por Bolsonaro no Brasil].

Bolsonaro construiu uma biografia do tirano e com ela disputou a eleição que venceu. Ele exigia o <direito do mais forte> na prática política como retórica eleitoral elaborada pelos jornais de papel “Folha de São Paulo”, Estadão” e o “Globo”. Ora! A tirania na prática política não existiria sem a alma da multidão que sonha com o tirano no poder governamental.  A gramática de sentido da tirania precisa habitar o cérebro dos indivíduos que compõe uma multidão eleitoral; no cérebro, o indivíduo sonha com o direito do mais forte e faz parte da multidão capaz de exercer esse direito na prática política através do governo tirânico. Como multidão, uma classe média perversa do Sudeste foi a base social do governo tirânico de Bolsonaro.

Assim, nasceu o campo da subpolítica e do subgoverno de Bolsonaro. O essencial é que o tirano faça parar de funcionar o aparelho de Estado penal como gramática dialética do BEM! e ponha a anarquia tirânica como governo [a anarquia governamental é responsável pela morte de 300 mil pessoas na covid-19] e prática política do princípio de prazer na anárquica da relação líder/massa.

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Uma interpretação ainda virgem diz respeito a verdadeira gramática de sentido do significado de dáimon ou daimonion de Sócrates; a rigor, o daimonions são os sofistas e retóricos, os oradores são objeto de um culto como se fossem deuses ao alcance das mãos:

“Na sequência, depois dos deuses, o homem de senso prestará culto aos dáimons  e depois destes aos heróis após os quais virão os santuários privados legalmente dedicados às divindades ancestrais, e a seguir as honras prestadas aos pais vivos (...)’. (Platão. 2010:190).

O culto aos pais vivos significa patriarcalismo como desejam as feministas retóricas:

“pois é justo que lhe paguemos nossa dívida primordial e essencial, de todos os créditos o maior, e reconhecer que tudo que possuímos e temos pertence àqueles que nos geraram e educaram. De modo que devemos servi-los ao máximo de nossas forças – mediante nossa riqueza, nosso corpo e nossa alma- recompensando-os pelos empréstimos que nos fizeram, há muito, quando éramos crianças em cuidados e esforços que despenderam, e os amparando em sua velhice, que é quando mais necessitam de amparo. (Platão. 2010: 190-191).

A gramática dialética de sentido do BEM põe e repõe o velho sendo amparado pela família, pois, os gregos não consideravam esse cuidado como um problema do Estado lacaniano. Eles não viam o velho como um problema da gestão do Estado na medida em que não consideravam que a mais-valia pública, do Estado fiscal, deveria ser distribuída entre os velhos.

O orador como daimonion significa que ele é parte do aparelho de hegemonia de Estado:

“Todos nós, se assim agirmos e observarmos estas regras de vida, ganharemos sempre a devida recompensa dos deuses e de todos [os seres] mais poderosos do que nós mesmos, e passaremos a maior parte de nossas vidas desfrutando as esperanças da felicidade. No que diz respeito às obrigações com os filhos, os parentes, os amigos, os convidados, e todos esses deveres estabelecidos pelos deuses relativos à boa hospitalidade com os estrangeiros e todas as classes de pessoas, para essas obrigações cujo cumprimento segundo alei produzirá o encanto e o adorno de nossas existências, as consequências das próprias leis seja persuadindo, seja castigando mediante coerção e a justiça quando os costumes desafiam a persuasão – tornará (com a intercessão dos deuses) nosso Estado venturoso e próspero”. (Platão. 2010: 191).

A gramática de sentido do bem que guia o Estado significa a dialética da civilização contra a barbárie. O velho e as outras figuras supracitadas e as práticas protegidas pelo direito divino da mitologia são fenômenos aos cuidados da civilização grega.    

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A sofística e a filosofia existem como concepção política de mundo que estruturam e fazem funcionar o aparelho de Estado: como ou aparelho penal fático/natural, ou constitucional e aparelho de hegemonia de Estado:

“Existe uma coisa que se chama Natureza; a prova <que, em boa justiça>, aquele que vale mais deve vencer o que vale menos. Esta <lei da Natureza> mostra-se em todos os animais e no Homem. Segue-se que o mais é a força e o prazer que ela dá. Portanto: a vida fácil, a intemperança, a transgressão, quando são favorecidas, fazem a felicidade e a virtude. Todo o resto, fantasmagorias e convenções humanas, incluindo a filosofia, não passa de estupidez e nada”. (Philonenko: 114).      

A barbárie é o domínio - na prática política e no cérebro – do aparelho de Estado estruturado e funcionando pelo direito natural do mais forte, pelo princípio do prazer do tirano; a civilização é o domínio do aparelho de Estado funcionando pelo princípio da justiça constitucional associado ao aparelho de hegemonia de Estado. O direito natural do mais forte gera o estado de falsa perversão [transgressão] no cérebro e na prática política do soberano. A concepção política de mundo do aparelho de Estado pelo direito natural do mais forte faz da filosofia e da gramática do bem fantasmagorias, isto é, simulacros naturais:

“ – simulacros naturais, naturalistas, baseados na imagem, na imitação e no fingimento, harmoniosos, otimistas e que visam a restituição ou a instituição ideal de uma natureza à imagem de Deus”. (Baudrillard. 1981:177).

A natureza à imagem de Deus significa a natureza da tela gramatical narrativa, metafísica, hegemônica na plurivocidade de tela gramatical no cérebro e na prática política da antiguidade. O sofista e o filósofo habitam tal tela em uma guerra civil agônica sobre o presente, passado e futuro da civilização ocidental.

Da tela verbal sofística sai a naturalização do assassino político (tirano) e o fenômeno do esquecimento no cérebro e na história da prática política conjuntural, aquilo que os estruturalistas dialéticos chamaram de descontinuidade ou corte epistemológico na história: política, econômica e cultural.      

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Passado, esquecimento, assassino político, prática política do poder soberano, revolução constituem uma rede de significantes da história política civilização/barbárie. Nessa rede, a guerra civil gramatical, ideológica e de gosto modela a estrutura política dominante e dominado:

“Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo <tal como ele foi efetivamente>. É muito mais apropriar-se de uma recordação que brilha no momento do perigo. Cabe ao materialismo histórico reter firmemente a imagem do passado tal como ela se impõe, sem que ele o saiba, ao sujeito histórico no momento do perigo. O perigo ameaça tanto a existência de tradição como aqueles que a recebem. Para ela como para eles, o perigo está em entregá-los como instrumentos à classe dominante. Em cada época é preciso tentar arrancar mais uma vez a tradição ao conformismo que quer apoderar-se dela. O Messias não vem apenas como um redentor; ele vem como o vencedor do anticristo. O dom de atiçar através do passado a chama da esperança pertence apenas ao historiógrafo perfeitamente convencido que diante do inimigo, e no caso deste vencer, nem sequer os mortos estarão em segurança. E este inimigo não tem cessado de vencer”. (Benjamin. 1992: 160).

O esquecimento do passado favorece ao assassino político, ao tirano. O esquecimento é um recurso estratégico que o dominante usa para não responder pelos crimes políticos de uma conjuntura e proteger os assassinos políticos a seu serviço. Um exemplo. A conjuntura de 1964-2024 foi, durante a ditadura militar (1964-1985) a pátria dos assassinos políticos assalariados do Estado militar. A lei da anistia do governo ditatorial teve a função de promover o esquecimento dos crimes públicos dessa tirania militar. A conjuntura 1988 se apresenta como o estado de esquecimento da prática subpolítica dos assassinos assalariados de Estado. Assim, uma ratazana perversa grotesca aparece evocando a facção silviofrota de assassinos políticos e golpistas militares dentro do golpismo militar em geral. A ratazana perversa grotesca e falso perverso assume o governo derrotando a esquerda. Inicia-se um período heteróclito, de fenômenos monstruosos como o subgoverno perverso falso de Bolsonaro. Depois, na eleição Lula versus Bolsonaro, este foi derrotado. Lula prometeu começar uma revolução governamental.      

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Benjamin;

“Existe um quadro de Klee que se intitula “Angelus Novus”. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar do local em que se mantém imóvel. Os seus olhos estão escancarados, a boca está aberta, as asas desfraldadas. Tal é o aspecto que necessariamente deve ter o anjo da história. O seu rosto está voltado para o passado, ali onde para nós parece haver uma cadeia de acontecimentos, ele vê apenas uma única e só catástrofe, que não para de amontoar ruinas sobre ruínas e as lança a seus pés. Ele quereria ficar, despertar os mortos e reunir os vencidos. Mas do Paraíso sopra uma tempestade que se apodera das suas asas, e é tão forte que o anjo não é capaz de voltar e fechá-las. Esta tempestade impele-o incessantemente pra o futuro ao qual volta as costas, enquanto diante dele e até ao céu se acumulam ruínas. Esta tempestade é aquilo a que nós chamamos progresso”. (Benjamin. 1992: 162).

O anjo da história é a revolução barroca, o anjo de Benjamin/Klee é barroco. Em 2025, já se pode ver a revolução barroca que parece querer fabricar o caminho do estabelecimento definitivo da democracia constitucional de 1988:

“A Constituição de 1988 pode ser lida como uma tela narrativa barroca ou Constituição analítico-dialética barroca. A revolução barroca dentro da ordem é o aprofundamento e desenvolvimento da democracia barroca do claro/escuro da Constituição de 1988!”. (Bandeira da Silveira. Outubro-novembro/2023: cap. 3).     

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A prática política democrática em repouso é a estagnação da revolução barroca no pântano. O juiz Flávio Dino apareceu como o anjo barroco da história do campo da democracia constitucional de 1988. Ele é a insurreição contra a ditadura cínica das emendas parlamentares corruptas do congresso, sob direção do Centrão, uma organização criminosa de partidos, segundo o código penal. A crise da prática política democrática consiste no fato de que o governo de Lula não é um poder governamental da revolução barroca pura. Lula fez um conluio com o Congresso corrupto na tática da  governamentalidade (Chevallier; 1996). Lula é a ordem democrática\ possível em oposição á anarquia política da tirania de Bolsonaro, do bolsonarismo e das massas tirânicas, base social do novo fascismo retórico.

O jornalismo retórico constitui o exército da tirania fascista:

“O que é um segredo que toda gente partilha? Talvez se pudesse sugerir duas ideias. A primeira é que, logicamente, segundo Platão muitos espíritos que se julgavam muito longe das opiniões de Protágoras, o deveriam ter seguido e alistar-se no seu exército. O grande segredo é que toda a gente, sem o saber, é discipula de Protágoras, talvez excepto os materialistas que apresentam um caso totalmente à parte; São estranhos a qualquer pensamento, mesmo que mau”. (Philonenko: 146).

Um Protágoras brasileiro é o professor retórico da USP Wladimir Safatle, que se apresenta como um falso filósofo. Ele faz a lisonja do bolsonarismo como um fenômeno ‘racional na irracionalidade política” , isto é, fenômeno de uma positividade possível:

‘É interessante observar que a influência de Protágoras foi grande entre os sábios. Paradoxal, demagogo, conseguiu, todavia, seduzir espíritos lúcidos. Platão faz dizer a Teodoro, o mestre de Teeteto: <Não admitirei que, pelas minhas próprias confissões, se refute Protágoras. > Esta confissão de Teodoro (que , é certo, também não quer refutar Sócrates) é da mais alta importância: testemunha da profundidade a que Protágoras penetrou nos <bons espíritos> não menos do que na multidão e justifica a linga refutação de Platão”. (Philonenko: 149).    

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O problema gramatical do indivíduo (que pode ser, ou pessoa, ou sujeito, ou práxis política) tem uma solução assim:

“Podemos dizer que ou é a palavra que cria cada indivíduo, ou é o silêncio que o nutre e produz”. (Kierkegaard:38).

A tela gramatical narrativa cria e recria o indivíduo [na pratica política do poder soberano] e o silencio da tela e do poder o alimenta de expectativa sobre o futuro e o produz como aparelho de Estado e capital. Qual a relação do indivíduo com a revolução?     

Hegel:

“uma modificação pela qual o indivíduo, como efetividade especial e como conteúdo peculiar, se opõe àquela efetividade universal”.

A insurreição do indivíduo peculiar, particular, no modo de ser psíquico singular, que se opõe à estrutura de dominação universal, será considerado um crime político:

“Essa oposição vem a tornar-se crime quando o indivíduo suprassume essa efetividade de uma maneira apenas singular; ou vem a tornar-se um outro mundo – outro direito, outra lei e outros costumes, produzidos em lugar dos presentes – quando o indivíduo o faz de maneira universal e, portanto, para todos”. (Hegel: 194).

A revolução barroca cria uma plurivocidade de gramática para o novo campo política da cultura e para o Estado:

“Cada tela gramatical contém sua definição de liberdade e verdade. Na tela metafísica, estar conforme a ordem teológica define a liberdade e a verdade dos gramáticos. O absoluto é a própria tela gramatical metafísica., definido assim por Hegel. o absoluto define que não há história pós-metafísica. O fim da história em Hegel, ´´e, por causa, o fim da tela gramatical metafísica”.

“Na gramática dialética de Pelreman, se deixar modelar pela tradição define uma tela gramatical não conforme o absoluto. Então, a gramática se move por concepção de valor que permite conhecer a superioridade de um quadro ou tela sobre outa telas. E se entende o porquê do abandono de uma tela e sua substituição por outra nova constitui uma decisão histórica razoável”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2023, cap. 39).

O pós-modernismo decretou a morte da revolução:

 “As atuais revoluções se inscrevem, todas elas, na fase imediatamente anterior do sistema. Todas se armam de uma ressurreição nostálgica do real sob todas as suas formas, ou melhor, simulacros de segunda ordem; dialética, valor de uso, transparência e finalidade de produção, ‘libertação’ do inconsciente, do sentido ‘reprimido’ (do significante ou do significado chamado desejo) etc. Todas essas libertações dão a si mesmas como conteúdo ideal s fantasmas que o sistema devorou em suas sucessivas revoluções e que são sutilmente ressuscitados por ele como fantasmas de revolução. Todas as libertações não passam de transição para a manipulação generalizada. A própria revolução nada mais deseja dizer ao estágio dos processos aleatórios de controle”. (Baudrillard. 1976:9).

A revolução barroca abre as comportas, como antessala, para a revolução do grotesco sublime, maranhense, do poeta Ferreira Gullar. 

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“O objeto real ou fantasia do poema <Bomba Suja> é o capital do a “Crítica da gramática do capital” (Bandeira da Silveira; 2021). Marx fez do brutalismo sua tela estética do capital. Gullar fez do grotesco a tela gramatical estética da crítica da crítica do capital subdesenvolvido latino-americano”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2024: cap. 14, parte 1).

O brutalismo é a anarquia do capital na prática política muito conhecido dos brasileiros do regime de 1988. Ora, o grotesco de Gullar é uma crítica da civilização do dominante:

“A civilização foi um esforço a mais para distinguir o corpo da classe dominante do corpo das classes dominadas: camponês e operário. Trabalho de distinção. A afecção repugnância é plantada no coração do campo do indivíduo dominante e no campo político da sociedade do dominante. Já Gullar retoma o senso comum da carnavalização popular do corpo do dominado”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2024: cap. 14, parte 2).

Uma civilização do dominado aparece com a China de Xi Jinping: civilização do asiático em um contraponto visível com a civilização do dominante ocidental. A civilização é a realidade da prática política da cultura como plurivocidade gramática e tela de gosto. Assim, mais ainda:

“A revolução grotesco/neoconcreta faz pendant com a revolução barroca dionisíaca. A poesia de Ferreira Gullar e a prática da multidão carnavalesca são as fontes da mitologia do campo político da cultura do futuro. É uma realidade virtual da gramática em português mais universal que o universal da metafísica europeia. [O eu de Gullar insaciável exprime-se em imagens mais vivas do que a própria vida]. a realidade mitológica é o elo de ligação do passado com o futro, da revolução dionisíaca do cônego Batista Campo do Boi-Bumba no poder com a revolução grotesco/neoconcreta”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2024: cap. 14, parte 3).

Segue:

“A revolução grotesco/neoconcreta afeta a gramática com a plantação da afecção no campo político, pois, ela invade-o com a carnavalização da língua na mesclagem de gramáticas (Kayser: 127-132) dos diversos povos – como no livro que funde o barroco dionisíaco e o grotesco/neoconcreto: “Casa-Grande e Senzala”. O corpo da língua da infância”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2024. Cap. 14, parte 3). 

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A revolução do grotesco/neoconcreto pode fabricar um aparelho de Estado como artefato da civilização do dominado:

‘Como legislação penal, o aparelho de Estado moderno é, também, jogos de gramática da cultura política...e não apenas violência pura, coerção violenta, pois, a legislação penal existe no campo simbólico, não é apenas a emergência do real do campo político na vida em geral”.

“Nietzche fala de um campo simbólico como governo da gramática sobre o filósofo, e, também, sobre a filosofia a partir da fé na tela gramatical da política; e, claro, por tabela, governo montado na fé do homem comum, do homem, mulher e criança na tela gramatical”.

“O aparelho de Estado é coerção violenta, mas coerção regida por uma tela gramatical/legislação penal. Esta pode existir como poder – ou cesarista/tirânico, ou oligárquico, ou democrático”. (Bandeira da Silveira. Julho/2024:415).

Entramos me uma transição na prática política da época do Estado mercantilista feudal, cibernético para uma época do Estado feudal-IA. O que é esse último Estado? O capital feudal-IA proverá a realidade de uma prática política-IA:

“O objeto desse texto consiste em estabelecer as relações complexas entre o Estado mercantilista e o Estado de exceção. O Estado fascista aparece como forma particular do regime do Estado burguês de exceção. Evita-se o weberianismo estruturalista parisiense que fala em <Estado capitalista> no lugar do Estado burguês. (Poulantzas. 1974: 7-8). O estruturalismo marxista recorre a Weber em vez de desenvolver a ciência política [materialista] de Marx, Engels, Lenin, Mao Zedung. Como ele é impossível ver o Estado confucionista/maoista paraconsistente como uma forma de Estado mercantilista normal. O Estado mercantilista de exceção cria e abre as comportas para o campo subpolítico heteróclito. O Estado confucionista/maoista luta para bloquear os fenômenos do campo heteróclito como constitutivo da gramática do campo político nacional. O subpolítico é a subsunção do campo político lógico ao infralógico ou, no melhor dos casos, paralógico incorreto (Newton da Costa. 2019: 20), que é o grua zero da tela gramatical lógica paraconsistente”.

“O Estado mercantilista é o fenômeno universal no campo da civilização política ocidental. O campo político em geral é paraconsistente”. (Bandeira da Silveira. Novembro/2024: 429).

O capital feudal-IA abolirá a gramática de sentido da prática política e, assim, o próprio campo político simbólico?

A gramática de sentido voa acima ou abaixo do radar da sensação:

“A questão evoluiu. Sabe-se o que é a sensação e, por conseguinte, não se ignora o que são os dados da vista, do ouvido e sabe distinguir-se o som e o sentido; o exemplo alegado, que prova a possibilidade de isolar a sensação, e a <língua dos bárbaros>. Porém, talvez por associação de ideias, se o raciocínio se inverter, se distinguirmos a língua e a sensação, a gramática levar-nos-á ao sentido sem ensinar o que é sensação”. (Philonenko: 150).

Qual será a forma de governo soberana provável do capital feudal-IA?

“O que ocupa ali o lugar que provisoriamente chamaremos de dominante, S2, que se especifica por ser, não saber-de-tudo, nós não chegamos aí, mas tudo saber. Entendam o que se afirma por não nada mais do que saber, e que se chama, na linguem corrente, burocracia”. (Lacan. S. 17: 34).

A sofistica é o saber-de-tudo sobre todas as coisas. O saber burocrático é o tudo saber sobre determinada coisa, saber do especialista:

“O fato de que o tudo-saber tenha passado para o lugar do senhor, eis o que, longe de esclarecer, torna um pouco mais opaco o que está em questão – isto é, a verdade. De onde sai isso, o fato de que haja nesse lugar um significante de senhor”. Pois este é precisamente o S2 do senhor, mostrando o cerne do que está em jogo na nova tirania d saber. Isto é o que torna impossível que nesse lugar, apareça, no curso do movimento histórico – como tínhamos, talvez, espe3rança, -, o que cabe à verdade”. (Lacan. S. 17: 34-35).     

O capital feudal-IA faz a junção do <saber-de-tudo> retórico com o <tudo saber>, armando uma estrutura de dominação de governo tirânico absolutista sobre a espécie humana?

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Crítica da dialética barroca. EUA: amazon. Janeiro/2023 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Revolução barroca dentro da ordem. EUA: amazon, Outubro-novembro/2023

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Além da época posmoderna EUA: amazon, Fevereiro/2024

 BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Ciência política materialista. EUA: amazon, Julho/2024

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Fernando Pessoa, civilização ou barbárie. EUA: amazon, Novembro/2024

BAUDRILLARD, Jean. L’échange symbolique et la mort. Paris: Gallimard, 1976

BAUDRILLARD, Jean. Simulacres et simulation. Paris: Galilée, 1981

BENJAMIN, Walter. Sobre arte, técnica, linguagem e política. Lisboa: Relógio d’Água, 1992

CHEVALIER (ORG). La gouvernabilité. Paris: PUF, 1996

HEGEL. Fenomenologia do espírito. Parte 1. Petrópolis: Vozes, 1992

KIERKEGAARD, S. A. O conceito de ironia constantemente referido a Sócrates. Petrópolis: vozes, 1991

LACAN, Jaques. Le Séminaire. Livre 17, L’envers de la psychanalyse. Paris: Seuil, 1991

PHILONENKO, Alexis. Lições platónicas. Lisboa: Instituto Piaget, 1997

PLATÃO. As leis. SP: Edipro, 2010