José Paulo
O INFAME HARVEY AMERICANO
Harvey é um poderoso produtor da
indústria do cinema (televisão) que a sociedade do espetáculo transformou em um
ser infame, abjeto assediador sexualis. Sua aparência/imagem de homem feio e
gordo dá uma ajuda suplementar. A polícia de Nova York diz que está montando um
caso sólido para Harvey ir para a cadeia por décadas. A notícia se tornou o
carro-chefe de uma pretensa moralização da indústria democrata de Hollywood da
era Trump.
Todavia, não são os
tr(o)umpetes que estão à frente da
moralização da indústria de entretenimento americana. A moralização é um efeito
do dizer do lugar de fala da mulher americana (somos assediadas sexualmente
pelo homem rico, protestante, ariano). Trata-se de um efeito acumulado de
décadas de lutas do movimento multiculturalista que quase fez uma Clinton
presidente da República.
O antagonismo gramatical homem
versus mulher tem um ponto de inflexão na vida americana com os capitalistas
elegendo um modo de vida sexual no qual a bela secretária executiva também
servia à sensualidade de seus patrões corporativos no Cafe
Society. O filme de Woody Allen fala dessa época, porém dá um final feliz
para a secretária corporativa, pois, ela casa com o patrão careta e todo
apaixonado. Woody é um cineasta do
pântano do capitalismo corporativo americano; ele não diz a verdade sobre a
vida capitalista sexual americana.
Depois da secretária, as atrizes
e modelos passaram a servir sexualmente à vida dos magnatas e grandes
políticos. Marilyn Monroe é o caso mais exemplar. Nesse
entreato, a máfia passou a gerir a indústria do cinema e o corpo e a
sexualidade das atrizes. Mas, isto é apenas a cereja no bolo da sociedade de
espetáculo.
A indústria da propaganda
americana fez da bela mulher jovem a imagem da mercadoria a qual todos os
americanos de classe média poderiam ter acesso ao comprar um carro zero km.
Para o rico, ele poderia dispor da mercadoria-mulher bela através de sua
posição de poder (dinheiro e prestígio no mundo americano). Ser modelo, ser
atriz em uma carreira que faria da mulher alguém da alta hierarquia do mundo do
rico tinha como pressuposto, em algum momento, ser escrava sexual do homem
rico, protestante, ariano da indústria do divertimento. Hoje, o lugar de fala
da mulher vai atrás de sua vingança.
A moralização da indústria do
entretenimento vai afetar os lucros do capitalismo americano. A indústria
pornográfica (que transforma a mulher em um ser abjeto moral) será banida da
vida americana como sempre reivindicou a família protestante conservadora
americana?
O lugar da mulher não é uma luta
contra o capitalismo do entretenimento, do qual faz parte a mulher. Trata-se de
uma luta para mexer no equilíbrio de força entre o infame Harvey e a talentosa
mulher que quer ter acesso ao poder econômico da indústria em tela. Não se
trata também de moralizar a tela cinematográfica, mexendo, por exemplo, na
linha de força do entretenimento da gramática da violência. O lugar de fala
mulher nada diz sobre a infame e nefasta gramática da violência do capitalismo
americano do entretenimento.
O tema é sedutor e eu poderia fazer
um longo texto sobre ele. Mas o objetivo é falar de Harvey como efeito do lugar
de fala mulher. Creio que o dito é suficiente!
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