domingo, 5 de novembro de 2017

DA GRAMÁTICA DO LUGAR DE FALA MULHER

José Paulo

O INFAME HARVEY AMERICANO

Harvey é um poderoso produtor da indústria do cinema (televisão) que a sociedade do espetáculo transformou em um ser infame, abjeto assediador sexualis. Sua aparência/imagem de homem feio e gordo dá uma ajuda suplementar. A polícia de Nova York diz que está montando um caso sólido para Harvey ir para a cadeia por décadas. A notícia se tornou o carro-chefe de uma pretensa moralização da indústria democrata de Hollywood da era Trump.

Todavia, não são os tr(o)umpetes  que estão à frente da moralização da indústria de entretenimento americana. A moralização é um efeito do dizer do lugar de fala da mulher americana (somos assediadas sexualmente pelo homem rico, protestante, ariano). Trata-se de um efeito acumulado de décadas de lutas do movimento multiculturalista que quase fez uma Clinton presidente da República.

O antagonismo gramatical homem versus mulher tem um ponto de inflexão na vida americana com os capitalistas elegendo um modo de vida sexual no qual a bela secretária executiva também servia à sensualidade de seus patrões corporativos no Cafe Society. O filme de Woody Allen fala dessa época, porém dá um final feliz para a secretária corporativa, pois, ela casa com o patrão careta e todo apaixonado.  Woody é um cineasta do pântano do capitalismo corporativo americano; ele não diz a verdade sobre a vida capitalista sexual americana.

Depois da secretária, as atrizes e modelos passaram a servir sexualmente à vida dos magnatas e grandes políticos.  Marilyn Monroe é o caso mais exemplar. Nesse entreato, a máfia passou a gerir a indústria do cinema e o corpo e a sexualidade das atrizes. Mas, isto é apenas a cereja no bolo da sociedade de espetáculo.

A indústria da propaganda americana fez da bela mulher jovem a imagem da mercadoria a qual todos os americanos de classe média poderiam ter acesso ao comprar um carro zero km. Para o rico, ele poderia dispor da mercadoria-mulher bela através de sua posição de poder (dinheiro e prestígio no mundo americano). Ser modelo, ser atriz em uma carreira que faria da mulher alguém da alta hierarquia do mundo do rico tinha como pressuposto, em algum momento, ser escrava sexual do homem rico, protestante, ariano da indústria do divertimento. Hoje, o lugar de fala da mulher vai atrás de sua vingança.

A moralização da indústria do entretenimento vai afetar os lucros do capitalismo americano. A indústria pornográfica (que transforma a mulher em um ser abjeto moral) será banida da vida americana como sempre reivindicou a família protestante conservadora americana?

O lugar da mulher não é uma luta contra o capitalismo do entretenimento, do qual faz parte a mulher. Trata-se de uma luta para mexer no equilíbrio de força entre o infame Harvey e a talentosa mulher que quer ter acesso ao poder econômico da indústria em tela. Não se trata também de moralizar a tela cinematográfica, mexendo, por exemplo, na linha de força do entretenimento da gramática da violência. O lugar de fala mulher nada diz sobre a infame e nefasta gramática da violência do capitalismo americano do entretenimento.

O tema é sedutor e eu poderia fazer um longo texto sobre ele. Mas o objetivo é falar de Harvey como efeito do lugar de fala mulher. Creio que o dito é suficiente!      

        

          
      

           

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