A modernidade consiste no
princípio de ligar o gosto e o prazer estético ao mundo-da-vida privado. Sempre
foi quase impossível ligar a estética (força prática do gosto) à política.
Considerando como verdadeiros tais dizeres, há um momento na história da estética
no qual o gosto passa a funcionar como acontecimento que faz pendant com a
política no domínio da cultura política das massas gramaticais. Para tal
acontecimento foi necessário a criação de um simulacro de simulação de tela
gramatical estética de massas.
Freud definiu o objeto belo de
massas gramaticais como desvio sublimatório da realização da satisfação do desejo
sexual. Tal sublimação nos remete a Goethe: A
natureza é bela quando se parece com a arte; a arte é bela quando se parece com
a natureza. A natureza é bela (instinto sexual) quando é sublimado e se
parece com a arte. A arte é bela se é a aparência da semblância da natureza.
Qualquer sociedade gramatical se reproduz pela sublimação dos instintos, pois,
o instinto sexual de massas grau zero gramaticalizável dispõe em seu DNA a
violência como desejo de morte ou instinto de morte dos outros e do Outro
(campo simbólico do gramático).
No século XX surgiu a sociedade
de massas (como efeito das lutas de classes) e a rebelião das massas niilistas.
Na transdialética gramatical com o PODER capitalista, se tornava uma
necessidade encontrar uma saída para o niilismo (destruição da alta cultura
ocidental como fenômeno de articulação da hegemonia capitalista) das massas
agramaticais, massas fora do domínio conceitual prático do entendimento.
Nos EUA, uma saída foi um ato de
sociologia econômica: a sociedade de consumo da opulência. Trata-se da
realização sublimatória da satisfação do desejo sexual via consumo extravagante
de mercadorias sensíveis. Infelizmente tal solução não era universalizável para
o estremo ocidente das Américas e para o terceiro mundo. Um outro caminho foi
usar a sociedade consumo para ligar o prazer estético e o gosto ao
transpolítico (política como simulacro de simulação), significante iluminado
por Baudrillard. A abstração da sociedade de consumo do americanismo no
transpolítico gerou um efeito formidável para a solução do niilismo de massa.
Me refiro a criação do
simulacro de simulação da tela gramatical estética (e do gosto) de massas
gramaticalizáveis na sociedade do espetáculo de Guy Debord. A sociedade do
espetáculo é, em certo sentido, uma tela gramatical do gosto (e do prazer
estético) de gramaticalização das massas. Qual a atividade principal de tal
tela estética?
A música jovem britânica foi o
sujeito gramatical a partir da qual, empiricamente, foi erguida a tela do gosto
de gramaticalização das massas de jovens da rebelião niilista da América. A
indústria da música popular (aí aparece claramente a distinção entre música
clássica da elite e música popular das massas) não foi o centro tático da
expansão da indústria cultural de Adorno? A indústria cultural de massas é o
nome da sociedade do espetáculo para a tela estética da cultura política de
massa.
Desde a antiguidade grega, há
inúmeras teorias sobre a estética (e teorias estéticas). Para encurtar o meu
caminho até a estética da cultura de massa, faço de Kant um autor das ciências
gramaticais da política.
II
A modernidade é uma plurivocidade
de bela definição. Marx vê um ponto de inflexão nela com o afloramento do modo de
produção especificamente capitalista. Trata-se da interpretação da história
pelo método da crítica da economia política. Popper chama este método de economismo:
“L’importance de l’économisme au
sens marxiste en générale est
incontestable, mais on surestime aisément celle des conditions économiques dans
chaque cas particulier. Ainsi, la
théorie selon laquelle tout progrès est subordonné à l’amélioration des
conditions économiques, et plus particulièrement des moyens e productions,
découle d’une fausse interprétation de l’économisme”. (Popper. 1979: 74).
O economicismo não deve ser
levado demasiado a sério na definição da modernidade? O sujeito gramatical do
economicismo é o interesse capitalista. Tal interesse articula a sociedade
capitalista pelo interesse das classes sociais em luta. Este modo de
interpretação dominou a cena da cultura política ocidental até o início da II
Guerra Mundial. E continuou a ser usado pela sociologia política e ciência
política universitárias que fundiu Marx com o utilitarismo de John Stuart Mill.
A categoria de interesse de classe é crucial neste último cientista político
para definir a política da modernidade:
“Se considerarmos uma classe,
politicamente falando, como um número qualquer de pessoas com o mesmo interesse
sinistro – ou seja, cujo interesse direto e aparente aponta para o mesmo tipo
de medidas nocivas”. (Mill: 68).
A modernidade definida pelo
interesse – no domínio do afeto e do animus, do sentimento - remete a Bentham:
“A natureza colocou o gênero
humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a dor e o prazer (...) O princípio da utilidade reconhece esta
sujeição e a coloca como fundamento desse sistema, cujo o objetivo consiste em
construir o edifício da felicidade através da razão e da lei. Os sistemas que
tentam questionar este princípio são meras palavras e não uma atitude razoável,
capricho e não razão, obscuridade e não luz. (Bentham: 9).
O interesse do sentimento
utilitário é estabelecer o edifício da felicidade através da razão e da lei.
Isto é a modernidade de Bentham. Para Marx, a racionalidade instrumental e a
lei capitalista (gramático do interesse capitalista) definem a modernidade sem
felicidade. Freud parte de Bentham para discutir o século XX após a I Guerra
Mundial.
No livro O mal-estar na civilização, Freud retoma o utilitarismo de Bentham
pelo princípio do prazer e pelo princípio da realidade (dor), força que se antagoniza ao princípio do prazer constituindo a
realidade psíquica.
Em Freud, a modernidade tout court sofre spaltung (quebra do mundo europeu ocidental) com a I Guerra
Mundial, que serviu aos interesses capitalistas. O instinto de morte arcaico
invadiu o mundo moderno através da violência militar que ceifou a vida de
milhões de jovens soldados e oficiais. O avesso dessa destruição se apresenta
no após a I Guerra na cultura política das massas gramaticalizáveis. Trata-se
de um agir na vida pelo sentimento de felicidade, que não fosse a felicidade
pela violência física:
“O que chamamos de felicidade no
sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de
necessidades representadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível
apenas como uma manifestação episódica”. (Freud: 95).
A Europa (o mundo ocidental) busca
uma outra via para a felicidade. A sublimação dos instintos na atividade
estética é uma das vias. A arte é o ersatz (substituto) da felicidade como
realização da satisfação dos instintos em um momento episódico. Trata-se da
vida psíquica normal na relação utilitária prazer e desprazer? Freud diz:
“Além disso, nossa vida psíquica
normal apresenta oscilações entre uma liberação de prazer relativamente fácil e
outra comparativamente difícil, paralela à qual ocorre uma receptividade,
diminuída ou aumentada, ao desprazer”. (Freud: 97).
Com a estética caminho para a
felicidade, Freud retoma o Kant do livro Crítica
da faculdade do juízo. Ele troca a noção de interesse utilitarista (como
articulação da sociedade moderna) pelo sujeito gramatical desinteresse estético
(Bayer: 202). Além disso, o desinteresse como articulação da sociedade dos
significantes da modernidade tardia sugere o fantasma do futuro lacaniano
sociedade narcose como caminho para a felicidade não-utilitária do
ponto-de-vista das massas deu usuários (Freud:100). No essencial, através de
Kant o desinteresse estético é articulado como vontade de potência de produção e
reprodução de uma sociedade de significante moderna tardia da felicidade.
O desinteresse estético faz
pendant com o juízo do gosto em relação ao belo. O substrato do belo mantém relações
mais estreitas com a liberdade do que com os fenômenos. O sentimento estético
faz parelha com o sentimento moral. Eles se assemelham pelo seu desinteresse, a
sua independência dos sentidos (do utilitarismo), a sua universalidade e a sua
necessidade. O belo da estética do desinteresse fala de uma universalização do
real das massas gramaticalizáveis como trans-sujeito: saber das massas
gramaticais.
A estética do desinteresse das
massas grau zero sgramaticatura pode sim articular a sociedade como tal, a
cultura política de massa (como efeito estranho) e, inclusive, a política tout court. Quais acontecimentos são o
signo dessa proposição?
III
Kant é o gramático da estética do
desinteresse. Freud é o gramático que liga a estética do desinteresse ao tema
da felicidade de Bentham. Porém, como já assinalamos, trata-se de uma
felicidade antiutilitarista.
Bayer escreve com categoria:
“ O terceiro momento é a
finalidade, a relação. A beleza é a forma da finalidade dum objecto enquanto
percebida sem a representação de um fim. É o formalismo e a aparência, o
esquema, não o fim verdadeiro como na ação que parece ser ordenada para, em
vista de qualquer coisa, e que, de facto, é ordenada sem mais: é a maravilha
inútil”. (Bayer: 203).
O belo é a aparência da
semblância da estética do desinteresse de um trans-sujeito (pois, nele a
efetividade é inteiramente subjetiva) que articula a sociedade do mundo da vida
e a política como tela gramatical. O belo é a atmosfera da tela gramatical, ou
da sociedade do mundo-da-vida, ou da política. Como foi possível se chegar a
tal acontecimento do maravilho inútil?
IV
A estética do desinteresse faz
pendant com a moral gramatical das massas:
“Por outro lado, o númeno é
inteiramente desconhecido; quando agimos moralmente não conhecemos o númeno,
realizamo-lo. Quando a contemplação é desinteressada, ˂o nosso juízo vê-se
ligado a qualquer coisa que se revela no próprio sujeito e fora dele, e que não
é nem natureza, nem liberdade, mas que está ligado ao princípio da liberdade e
no qual a faculdade teórica se confunde com a faculdade prática duma maneira
desconhecida, mas semelhante em todos>. Há em Kant um substrato objectivo e
nestes objetos uma encarnação particular do númeno como em Platão.
O substrato do belo mantém
relações mais estreitas com a liberdade do que com o fenômeno. O sentimento
estético aproxima-se do sentimento moral. Verificamos que se assemelham pelo
seu desinteresse, a sua independência dos sentidos, a sua universalidade e a
sua necessidade”. (Bayer: 201-202).
O substrato do belo fazendo
pendant com a liberdade faz a junção do sentimento estético com o sentimento
moral. Eis o epigrama kantiano da tela gramatical estética com Freud do
trans-sujeito. Preciso fazer a ligação na tela gramatical estética da moral com
a cultura de massa da sociedade do espetáculo. Na sociedade do espetáculo, o
signo de articulação entre moral e estética é um efeito da propaganda americana
da imagem da bela mulher como não-todo. Entramos no reino do simulacro de
simulação Freud com Kant.
A mulher é o belo como força
prática do gosto da cultura de massa fazendo pendant com a epopeia de Homero. A
mulher é Helena, signo da mais bela mulher de todos os homens e de todas as
mulheres. Trata-se de um signo estético das massas de consumidores da sociedade
do espetáculo como efeito da história, no mundo-da-visa americana, do Café
Society da secretária executiva da grande corporação, das modelos e atrizes.
Estas são ersatz da Helena da poesia épica, fonte primeira da alta cultura
ocidental. A propaganda americana trabalha com o sujeito gramatical Helena para
articular a cultura de massa da sociedade do espetáculo. :
Só o objeto estético mulher é
sedutor:
‘Le séductor n’est-il pas plutôt
séduit, et l’initiative ne revient-elle pas secrètement à l’objet? Le séducteur
croit l’envelopper de sa stratégie, mais il est pris au leurre de cette
stratégie banale, et c’est l’objet qui l’enveloppe de sa stratégie fatale”.
(Baidillard: 136). Chegamos à fêmea fatal Helena?
Baudrillar diz: L’object est
réel, et le réel est soumis à des lois, um point c’est tout”. O objeto Helena é
real e o real é submetido ao gramático da moral estética fatal no trans-sujeito
gramatical.
B. prossegue:
“Il n’y a peut-être qu’une
stratégie fatale et une seule: la théorie. Et sans doute la seule différence
entre une théorie banale et une théorie fatale, c’ést que dans l’une sujet se
croit toujours plus malin que l’objet, alors que dans l’autre l’objet est
toujours supposé plus malin, plus cynique, plus génial que le sujet, qu’il
attend ironiquement au detour”. (Baudrillard: 201).
O objeto espera o sujeito na
curva da cultura de massa da sociedade do espetáculo como princípio do mal. Eis
a estética do desinteresse como simulacro de simulação. O objeto Helena é
foracluído da política moderna, ele que é a causa da Guerra de Tróia. A
resposta do real é a mulher como centro da cultura política de massa (lugar de
fala), causa da transformação da cultura de massa em cultura política de massa.
O multiculturalismo é o partido político da mulher para assaltar a política em
sentido amplo. Aí se encontra a mulher não-todo como força prática moral-estética
no sentido vulgar do simulacro de simulação.
O sentido vulgar da estética é as
massas seduzidas pelo objeto como corpo sexual. É o prazer estético da bela
Helena substituído (na percepção gramatical das massas) pela escopofilia.
Trata-se do prazer sexual em ver os órgãos sexuais da mulher fazendo pendant
com o sentimento de ser visto. Trata-se de um lado da pornografia
cinematográfica e de outro da televisão 1984. Não se trata mais do belo como
tal, e sim do simulacro de simulação do belo. A estética vulgar não vê a mulher
como o belo com o tal, mas como carne sexual barata, extase de tédio sexual.
Na transpolítica, a mulher é o princípio do mal, o mal-estar da
política, pois, trata-se do jogo fatal do poder fálico com o poder não-todo.
Ainda não suprassumimos este jogo de estratégias fatais de uma era
pós-modernista?
V
Retomando o fio da miada, a
modernidade é plurivocidade de definição. Baudelaire pontifica:
“Assim ele vai, procura. O quê?
Certamente esse homem, tal como o descrevi, esse solitário dotado de uma
imaginação ativa, sempre viajando através do grande deserto de homens, tem um objetivo mais elevado do que a de
um simples flâneur, um objetivo mais
geral, diverso do prazer efêmero da circunstância. Ele busca esse algo, ao qual
se permitirá chamar de modernidade, pois não me ocorre palavra para exprimir a
ideia em questão. Trata-se, para ele, de tira da moda o que esta pode conter de
poético no histórico, de extrair o eterno do transitório”. (Baudelaire: 859). A
modernidade é o trans-sujeito que o sujeito gramatical estética moral
baudelairiana busca?
A modernidade baudelairiana é
aquela busca de um mundo articulado pela estética do desinteresse no lugar de
um mundo articulado pelo utilitarismo do interesse?
No após II Guerra Mundial,
ergue-se uma classe simbólica voltada para a vida das profissões do mundo
privado. Quem vai tomar o centro político dessa classe simbólica, senão a
mulher! Não é possível pensar o progressivo domínio da mulher na política da
cultura de massa da sociedade do espetáculo sem a classe simbólica. O
desinteresse da tela gramatical da estética faz pendant com o interesse da
classe simbólica em servir à política do não-todo. Na América, esta associação
supracitada torna-se uma vontade de potência de fazer da mulher uma artífice da
política dos homens. Na América Latina, mulheres chegam a ocupar o centro da
política nacional. Uma moral estética de segunda mão surge do assalto do
multiculturalismo à política estrito senso?
O multiculturalismo é, em última
instância, o ódio da mulher à alta cultura ocidental; ódio a posição da mulher como
Helena, signo primevo da poética da alta cultura ocidental como epopeia. A
transdialética gramatical entre o todo fálico e o não-todo (em um sentido
vulgar freudiano, transdialética entre phalus e vagina) é uma apimentada
leitura lacaniana da história do presente. Não é um caminho para a felicidade,
mas para o domínio da infelicidade generalizada e permanente.
Como caminho para a felicidade, a
tela gramatical estética se realizou e se atualizou na cultura de massa como
tela gramatical musical.
Breve
esboço do caso brasileiro
O samba surge como estética moral
das massas desinteressada de preto e mestiço. É a forma da estética do
desinteresse na cultura popular das massas gramaticais grau zero de
alfabetização. Trata-se de uma cultura oral e musical.
Na década de 1950, a classe média
baiana e carioca inventa a Bossa Nova. Ainda tem um rabicho do desinteresse
estético moral do samba, mas o destino é de se tornar, na América, em um efeito
da indústria cultural. Depois temos ainda a música popular brasileira (MPB) e a
Tropicália. O laço gramatical primitivo com a televisão se faz nos Festivais de
Música televisivas. Nada disso resultou em uma tela gramatical musical.
A tela gramatical musical do simulacro de simulação surgiu
com o desenvolvimento da cultura de massa televisiva da sociedade do espetáculo
carioca. Uma televisão a cores foi essencial na criação da tela musical. A
televisão a cores é um efeito do desenvolvimento das forças produtivas
subcapitalistas durante a era do Estado milita fascista 1968.
A ideia de uma tela gramatical
musical televisiva surge na administração de Roberto Marinho na TV Globo. Acostumado
a empregar na sua imprensa comunistas e esquerda em geral na ditadura militar,
R. M. atraiu para a TV Globo os menestréis da Bossa Nova e os revolucionários
do Tropicalismo. Aí, a estética do desinteresse musical cedeu seu lugar,
definitivamente, para uma tela gramatical musical ligada ao interesse do
subcapitalismo. Neste sentido, a tela gramatical musical é onde habita uma
estética vulgar no lugar da estética tout
court. Estética vulgar assentada no
narcisismo do sujeito gramatical e dos efeitos da estratégia fatal do objeto ou
obra musical.
O culto a celebridade e a sedução
do objeto musical são o efeito dessa estética vulgar do simulacro de simulação. A junção desses
significantes resulta na força estética vulgar que é essencial para a
transformação da cultura de massa em um partido político da sociedade doespetáculo. O interesse utilitário desse partido político se estabelece no
comando da cultura de massa. É a era da dissolução no ar de todo desinteresse,
da estética do desinteresse da música popular.
A transdialética gramatical
estética do interesse versus desinteresse, como já apontamos, é uma ideia de
Kant. Para o leitor não ficar cético sobre este assunto faço citações de Kant:
“Chama-se interesse a
complacência que ligamos à representação da existência de um objeto. Por isso,
um tal interesse sempre envolve ao mesmo tempo referência à faculdade da
apetição, quer como fundamento, de determinação, quer como vinculando-se
necessariamente ao seu fundamento de determinação”. (Kant: 49).
A tolerância com o interesse
ligado à representação da existência de um objeto faz pendant com a faculdade
de apetição da razão prática. O belo não é, nem de longe ou de perto, um imperativo
categórico. E Kant insiste:
“Agora, se a questão é se algo é
belo, então não se quer saber se a nós ou a qualquer um importa ou se quer
possa importar algo da existência da coisa, e sim como a ajuizamos na simples
contemplação (intuição ou reflexão) ”. (Kant: 49). No lugar da razão prática
temos o trans-sujeito gramatical do gosto.
Kant prossegue
“Cada um tem de reconhecer que
aquele juízo sobre a beleza, ao qual se mescla o mínimo interesse, é muito
faccioso e não é nenhum juízo-de-gosto puro. Não se tem que simpatizar
minimamente com a existência da coisa, mas ser a esse respeito completamente
indiferente para em matéria de gosto desempenhar o papel de juiz.
Mas não podemos elucidar melhor
esta proposição, que é de importância primordial, do que se contrapomos à
complacência pura e desinteressada no juízo de gosto, aquela que é ligada a
interesse; principalmente se ao mesmo tempo podemos estar certos de que não há
mais espécies de interesse do que as que precisamente agora devem ser nomeadas”
(Kant: 50), como o agradável e a complacência no bom.
A complacência no agradável e no
bom (algo útil que apraz somente como meio para a realização dos estados
narcísicos dos músicos da cultura de massa da sociedade do espetáculo), que tem
a TV Globo como palco principal. Assim, foi desenhado o destino da música entre
nós. Toda a vontade de potência gramatical da estética libertária do
desinteresse do samba foi dissipada como modo de vida estático moral das massas
populares pelos senhores da Bossa Nova, MPB de Chico Buarque de Holanda e do
Tropicalismo.
Assim, concluo que não há retorno
ao jardim do Éden da cultura política popular musical desinteressada libertária
como forma de articulação de uma sociedade de significantes fundada em uma
estética moral das massas populares, pelo sujeito gramatical liberdade fazendo
pendant com o belo, de um anarquismo espontaneista.
A propósito, nos foi subtraído o
passado como trans-sujeito de uma modernidade gramatical anarquista da estética
do desinteresse das massas populares preta e mestiça.
BAUDRILLARD, Jean. Les stratégies
fatales. Paris: Grasset & Fasquelle, 1983
BAUDELAIRE, Charles. Poesia e
Prosa. Volume único. RJ: Editora Nova Aguilar, 1995
BAYER, Raymond. História da
estética. Lisboa: Editorial Estampa, 1979
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução
aos princípios da moral e da legislação. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974
FREUD, Sigmund. Obras Completas.
v. XXI. O mal-estar na civilização. RJ: Imago, 1974
MILL, John Stuart. Considerações
sobre o governo representativo. Brasília: UNB, 1981
KANT, Immanuel. Crítica da
faculdade do juízo. RJ: Forense Universitária, 1993
POPPER, Karl. La société ouverte
et ses ennemis. Tome 2. Hegel et Marx. Paris: Seuil, 1979
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