terça-feira, 21 de novembro de 2017

DA ESTÉTICA DO DESINTERESSE EM FREUD COM KANT


 José Paulo


A modernidade consiste no princípio de ligar o gosto e o prazer estético ao mundo-da-vida privado. Sempre foi quase impossível ligar a estética (força prática do gosto) à política. Considerando como verdadeiros tais dizeres, há um momento na história da estética no qual o gosto passa a funcionar como acontecimento que faz pendant com a política no domínio da cultura política das massas gramaticais. Para tal acontecimento foi necessário a criação de um simulacro de simulação de tela gramatical estética de massas.

Freud definiu o objeto belo de massas gramaticais como desvio sublimatório da realização da satisfação do desejo sexual. Tal sublimação nos remete a Goethe: A natureza é bela quando se parece com a arte; a arte é bela quando se parece com a natureza. A natureza é bela (instinto sexual) quando é sublimado e se parece com a arte. A arte é bela se é a aparência da semblância da natureza. Qualquer sociedade gramatical se reproduz pela sublimação dos instintos, pois, o instinto sexual de massas grau zero gramaticalizável dispõe em seu DNA a violência como desejo de morte ou instinto de morte dos outros e do Outro (campo simbólico do gramático).

No século XX surgiu a sociedade de massas (como efeito das lutas de classes) e a rebelião das massas niilistas. Na transdialética gramatical com o PODER capitalista, se tornava uma necessidade encontrar uma saída para o niilismo (destruição da alta cultura ocidental como fenômeno de articulação da hegemonia capitalista) das massas agramaticais, massas fora do domínio conceitual prático do entendimento.

Nos EUA, uma saída foi um ato de sociologia econômica: a sociedade de consumo da opulência. Trata-se da realização sublimatória da satisfação do desejo sexual via consumo extravagante de mercadorias sensíveis. Infelizmente tal solução não era universalizável para o estremo ocidente das Américas e para o terceiro mundo. Um outro caminho foi usar a sociedade consumo para ligar o prazer estético e o gosto ao transpolítico (política como simulacro de simulação), significante iluminado por Baudrillard. A abstração da sociedade de consumo do americanismo no transpolítico gerou um efeito formidável para a solução do niilismo de massa.

Me refiro a criação do simulacro de simulação da tela gramatical estética (e do gosto) de massas gramaticalizáveis na sociedade do espetáculo de Guy Debord. A sociedade do espetáculo é, em certo sentido, uma tela gramatical do gosto (e do prazer estético) de gramaticalização das massas. Qual a atividade principal de tal tela estética?

A música jovem britânica foi o sujeito gramatical a partir da qual, empiricamente, foi erguida a tela do gosto de gramaticalização das massas de jovens da rebelião niilista da América. A indústria da música popular (aí aparece claramente a distinção entre música clássica da elite e música popular das massas) não foi o centro tático da expansão da indústria cultural de Adorno? A indústria cultural de massas é o nome da sociedade do espetáculo para a tela estética da cultura política de massa.

Desde a antiguidade grega, há inúmeras teorias sobre a estética (e teorias estéticas). Para encurtar o meu caminho até a estética da cultura de massa, faço de Kant um autor das ciências gramaticais da política.   
                                                                          II  

A modernidade é uma plurivocidade de bela definição. Marx vê um ponto de inflexão nela com o afloramento do modo de produção especificamente capitalista. Trata-se da interpretação da história pelo método da crítica da economia política. Popper chama este método de economismo:
“L’importance de l’économisme au sens marxiste en générale est incontestable, mais on surestime aisément celle des conditions économiques dans chaque cas particulier. Ainsi, la théorie selon laquelle tout progrès est subordonné à l’amélioration des conditions économiques, et plus particulièrement des moyens e productions, découle d’une fausse interprétation de l’économisme”. (Popper. 1979: 74).   

O economicismo não deve ser levado demasiado a sério na definição da modernidade? O sujeito gramatical do economicismo é o interesse capitalista. Tal interesse articula a sociedade capitalista pelo interesse das classes sociais em luta. Este modo de interpretação dominou a cena da cultura política ocidental até o início da II Guerra Mundial. E continuou a ser usado pela sociologia política e ciência política universitárias que fundiu Marx com o utilitarismo de John Stuart Mill. A categoria de interesse de classe é crucial neste último cientista político para definir a política da modernidade:
“Se considerarmos uma classe, politicamente falando, como um número qualquer de pessoas com o mesmo interesse sinistro – ou seja, cujo interesse direto e aparente aponta para o mesmo tipo de medidas nocivas”. (Mill: 68).

A modernidade definida pelo interesse – no domínio do afeto e do animus, do sentimento - remete a Bentham:
“A natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a dor e o prazer (...) O princípio da utilidade reconhece esta sujeição e a coloca como fundamento desse sistema, cujo o objetivo consiste em construir o edifício da felicidade através da razão e da lei. Os sistemas que tentam questionar este princípio são meras palavras e não uma atitude razoável, capricho e não razão, obscuridade e não luz. (Bentham: 9).

O interesse do sentimento utilitário é estabelecer o edifício da felicidade através da razão e da lei. Isto é a modernidade de Bentham. Para Marx, a racionalidade instrumental e a lei capitalista (gramático do interesse capitalista) definem a modernidade sem felicidade. Freud parte de Bentham para discutir o século XX após a I Guerra Mundial.

No livro O mal-estar na civilização, Freud retoma o utilitarismo de Bentham pelo princípio do prazer e pelo princípio da realidade (dor), força que se antagoniza ao princípio do prazer constituindo a realidade psíquica.

Em Freud, a modernidade tout court sofre spaltung (quebra do mundo europeu ocidental) com a I Guerra Mundial, que serviu aos interesses capitalistas. O instinto de morte arcaico invadiu o mundo moderno através da violência militar que ceifou a vida de milhões de jovens soldados e oficiais. O avesso dessa destruição se apresenta no após a I Guerra na cultura política das massas gramaticalizáveis. Trata-se de um agir na vida pelo sentimento de felicidade, que não fosse a felicidade pela violência física:
“O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades representadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica”. (Freud: 95).

A Europa (o mundo ocidental) busca uma outra via para a felicidade. A sublimação dos instintos na atividade estética é uma das vias. A arte é o ersatz (substituto) da felicidade como realização da satisfação dos instintos em um momento episódico. Trata-se da vida psíquica normal na relação utilitária prazer e desprazer? Freud diz:
“Além disso, nossa vida psíquica normal apresenta oscilações entre uma liberação de prazer relativamente fácil e outra comparativamente difícil, paralela à qual ocorre uma receptividade, diminuída ou aumentada, ao desprazer”. (Freud: 97).  

Com a estética caminho para a felicidade, Freud retoma o Kant do livro Crítica da faculdade do juízo. Ele troca a noção de interesse utilitarista (como articulação da sociedade moderna) pelo sujeito gramatical desinteresse estético (Bayer: 202). Além disso, o desinteresse como articulação da sociedade dos significantes da modernidade tardia sugere o fantasma do futuro lacaniano sociedade narcose como caminho para a felicidade não-utilitária do ponto-de-vista das massas deu usuários (Freud:100). No essencial, através de Kant o desinteresse estético é articulado como vontade de potência de produção e reprodução de uma sociedade de significante moderna tardia da felicidade.

O desinteresse estético faz pendant com o juízo do gosto em relação ao belo. O substrato do belo mantém relações mais estreitas com a liberdade do que com os fenômenos. O sentimento estético faz parelha com o sentimento moral. Eles se assemelham pelo seu desinteresse, a sua independência dos sentidos (do utilitarismo), a sua universalidade e a sua necessidade. O belo da estética do desinteresse fala de uma universalização do real das massas gramaticalizáveis como trans-sujeito: saber das massas gramaticais.

A estética do desinteresse das massas grau zero sgramaticatura pode sim articular a sociedade como tal, a cultura política de massa (como efeito estranho) e, inclusive, a política tout court. Quais acontecimentos são o signo dessa proposição?
                                                                                                  III

Kant é o gramático da estética do desinteresse. Freud é o gramático que liga a estética do desinteresse ao tema da felicidade de Bentham. Porém, como já assinalamos, trata-se de uma felicidade antiutilitarista.

Bayer escreve com categoria:
“ O terceiro momento é a finalidade, a relação. A beleza é a forma da finalidade dum objecto enquanto percebida sem a representação de um fim. É o formalismo e a aparência, o esquema, não o fim verdadeiro como na ação que parece ser ordenada para, em vista de qualquer coisa, e que, de facto, é ordenada sem mais: é a maravilha inútil”. (Bayer: 203).

O belo é a aparência da semblância da estética do desinteresse de um trans-sujeito (pois, nele a efetividade é inteiramente subjetiva) que articula a sociedade do mundo da vida e a política como tela gramatical. O belo é a atmosfera da tela gramatical, ou da sociedade do mundo-da-vida, ou da política. Como foi possível se chegar a tal acontecimento do maravilho inútil?
                                                                                       IV

A estética do desinteresse faz pendant com a moral gramatical das massas:
“Por outro lado, o númeno é inteiramente desconhecido; quando agimos moralmente não conhecemos o númeno, realizamo-lo. Quando a contemplação é desinteressada, ˂o nosso juízo vê-se ligado a qualquer coisa que se revela no próprio sujeito e fora dele, e que não é nem natureza, nem liberdade, mas que está ligado ao princípio da liberdade e no qual a faculdade teórica se confunde com a faculdade prática duma maneira desconhecida, mas semelhante em todos>. Há em Kant um substrato objectivo e nestes objetos uma encarnação particular do númeno como em Platão.
O substrato do belo mantém relações mais estreitas com a liberdade do que com o fenômeno. O sentimento estético aproxima-se do sentimento moral. Verificamos que se assemelham pelo seu desinteresse, a sua independência dos sentidos, a sua universalidade e a sua necessidade”. (Bayer: 201-202).

O substrato do belo fazendo pendant com a liberdade faz a junção do sentimento estético com o sentimento moral. Eis o epigrama kantiano da tela gramatical estética com Freud do trans-sujeito. Preciso fazer a ligação na tela gramatical estética da moral com a cultura de massa da sociedade do espetáculo. Na sociedade do espetáculo, o signo de articulação entre moral e estética é um efeito da propaganda americana da imagem da bela mulher como não-todo. Entramos no reino do simulacro de simulação Freud com Kant.

A mulher é o belo como força prática do gosto da cultura de massa fazendo pendant com a epopeia de Homero. A mulher é Helena, signo da mais bela mulher de todos os homens e de todas as mulheres. Trata-se de um signo estético das massas de consumidores da sociedade do espetáculo como efeito da história, no mundo-da-visa americana, do Café Society da secretária executiva da grande corporação, das modelos e atrizes. Estas são ersatz da Helena da poesia épica, fonte primeira da alta cultura ocidental. A propaganda americana trabalha com o sujeito gramatical Helena para articular a cultura de massa da sociedade do espetáculo. :

Só o objeto estético mulher é sedutor:
‘Le séductor n’est-il pas plutôt séduit, et l’initiative ne revient-elle pas secrètement à l’objet? Le séducteur croit l’envelopper de sa stratégie, mais il est pris au leurre de cette stratégie banale, et c’est l’objet qui l’enveloppe de sa stratégie fatale”. (Baidillard: 136). Chegamos à fêmea fatal Helena?
Baudrillar diz: L’object est réel, et le réel est soumis à des lois, um point c’est tout”. O objeto Helena é real e o real é submetido ao gramático da moral estética fatal no trans-sujeito gramatical. 

B. prossegue:
“Il n’y a peut-être qu’une stratégie fatale et une seule: la théorie. Et sans doute la seule différence entre une théorie banale et une théorie fatale, c’ést que dans l’une sujet se croit toujours plus malin que l’objet, alors que dans l’autre l’objet est toujours supposé plus malin, plus cynique, plus génial que le sujet, qu’il attend ironiquement au detour”. (Baudrillard: 201).

O objeto espera o sujeito na curva da cultura de massa da sociedade do espetáculo como princípio do mal. Eis a estética do desinteresse como simulacro de simulação. O objeto Helena é foracluído da política moderna, ele que é a causa da Guerra de Tróia. A resposta do real é a mulher como centro da cultura política de massa (lugar de fala), causa da transformação da cultura de massa em cultura política de massa. O multiculturalismo é o partido político da mulher para assaltar a política em sentido amplo. Aí se encontra a mulher não-todo como força prática moral-estética no sentido vulgar do simulacro de simulação.

O sentido vulgar da estética é as massas seduzidas pelo objeto como corpo sexual. É o prazer estético da bela Helena substituído (na percepção gramatical das massas) pela escopofilia. Trata-se do prazer sexual em ver os órgãos sexuais da mulher fazendo pendant com o sentimento de ser visto. Trata-se de um lado da pornografia cinematográfica e de outro da televisão 1984. Não se trata mais do belo como tal, e sim do simulacro de simulação do belo. A estética vulgar não vê a mulher como o belo com o tal, mas como carne sexual barata, extase de tédio sexual.
  
Na transpolítica, a mulher é o princípio do mal, o mal-estar da política, pois, trata-se do jogo fatal do poder fálico com o poder não-todo. Ainda não suprassumimos este jogo de estratégias fatais de uma era pós-modernista?
                                                                                                    V

Retomando o fio da miada, a modernidade é plurivocidade de definição. Baudelaire pontifica:
“Assim ele vai, procura. O quê? Certamente esse homem, tal como o descrevi, esse solitário dotado de uma imaginação ativa, sempre viajando através do grande deserto de homens, tem um objetivo mais elevado do que a de um simples flâneur, um objetivo mais geral, diverso do prazer efêmero da circunstância. Ele busca esse algo, ao qual se permitirá chamar de modernidade, pois não me ocorre palavra para exprimir a ideia em questão. Trata-se, para ele, de tira da moda o que esta pode conter de poético no histórico, de extrair o eterno do transitório”. (Baudelaire: 859). A modernidade é o trans-sujeito que o sujeito gramatical estética moral baudelairiana busca?

A modernidade baudelairiana é aquela busca de um mundo articulado pela estética do desinteresse no lugar de um mundo articulado pelo utilitarismo do interesse?

No após II Guerra Mundial, ergue-se uma classe simbólica voltada para a vida das profissões do mundo privado. Quem vai tomar o centro político dessa classe simbólica, senão a mulher! Não é possível pensar o progressivo domínio da mulher na política da cultura de massa da sociedade do espetáculo sem a classe simbólica. O desinteresse da tela gramatical da estética faz pendant com o interesse da classe simbólica em servir à política do não-todo. Na América, esta associação supracitada torna-se uma vontade de potência de fazer da mulher uma artífice da política dos homens. Na América Latina, mulheres chegam a ocupar o centro da política nacional. Uma moral estética de segunda mão surge do assalto do multiculturalismo à política estrito senso?

O multiculturalismo é, em última instância, o ódio da mulher à alta cultura ocidental; ódio a posição da mulher como Helena, signo primevo da poética da alta cultura ocidental como epopeia. A transdialética gramatical entre o todo fálico e o não-todo (em um sentido vulgar freudiano, transdialética entre phalus e vagina) é uma apimentada leitura lacaniana da história do presente. Não é um caminho para a felicidade, mas para o domínio da infelicidade generalizada e permanente.
Como caminho para a felicidade, a tela gramatical estética se realizou e se atualizou na cultura de massa como tela gramatical musical.
                                                                                 Breve esboço do caso brasileiro

O samba surge como estética moral das massas desinteressada de preto e mestiço. É a forma da estética do desinteresse na cultura popular das massas gramaticais grau zero de alfabetização. Trata-se de uma cultura oral e musical.

Na década de 1950, a classe média baiana e carioca inventa a Bossa Nova. Ainda tem um rabicho do desinteresse estético moral do samba, mas o destino é de se tornar, na América, em um efeito da indústria cultural. Depois temos ainda a música popular brasileira (MPB) e a Tropicália. O laço gramatical primitivo com a televisão se faz nos Festivais de Música televisivas. Nada disso resultou em uma tela gramatical musical.

A tela gramatical musical do simulacro de simulação surgiu com o desenvolvimento da cultura de massa televisiva da sociedade do espetáculo carioca. Uma televisão a cores foi essencial na criação da tela musical. A televisão a cores é um efeito do desenvolvimento das forças produtivas subcapitalistas durante a era do Estado milita fascista 1968.

A ideia de uma tela gramatical musical televisiva surge na administração de Roberto Marinho na TV Globo. Acostumado a empregar na sua imprensa comunistas e esquerda em geral na ditadura militar, R. M. atraiu para a TV Globo os menestréis da Bossa Nova e os revolucionários do Tropicalismo. Aí, a estética do desinteresse musical cedeu seu lugar, definitivamente, para uma tela gramatical musical ligada ao interesse do subcapitalismo. Neste sentido, a tela gramatical musical é onde habita uma estética vulgar no lugar da estética tout court.  Estética vulgar assentada no narcisismo do sujeito gramatical e dos efeitos da estratégia fatal do objeto ou obra musical.

O culto a celebridade e a sedução do objeto musical são o efeito dessa estética vulgar do simulacro de simulação. A junção desses significantes resulta na força estética vulgar que é essencial para a transformação da cultura de massa em um partido político da sociedade doespetáculo. O interesse utilitário desse partido político se estabelece no comando da cultura de massa. É a era da dissolução no ar de todo desinteresse, da estética do desinteresse da música popular.

A transdialética gramatical estética do interesse versus desinteresse, como já apontamos, é uma ideia de Kant. Para o leitor não ficar cético sobre este assunto faço citações de Kant:
“Chama-se interesse a complacência que ligamos à representação da existência de um objeto. Por isso, um tal interesse sempre envolve ao mesmo tempo referência à faculdade da apetição, quer como fundamento, de determinação, quer como vinculando-se necessariamente ao seu fundamento de determinação”. (Kant: 49).

A tolerância com o interesse ligado à representação da existência de um objeto faz pendant com a faculdade de apetição da razão prática. O belo não é, nem de longe ou de perto, um imperativo categórico. E Kant insiste:
“Agora, se a questão é se algo é belo, então não se quer saber se a nós ou a qualquer um importa ou se quer possa importar algo da existência da coisa, e sim como a ajuizamos na simples contemplação (intuição ou reflexão) ”. (Kant: 49). No lugar da razão prática temos o trans-sujeito gramatical do gosto.

Kant prossegue
“Cada um tem de reconhecer que aquele juízo sobre a beleza, ao qual se mescla o mínimo interesse, é muito faccioso e não é nenhum juízo-de-gosto puro. Não se tem que simpatizar minimamente com a existência da coisa, mas ser a esse respeito completamente indiferente para em matéria de gosto desempenhar o papel de juiz.
Mas não podemos elucidar melhor esta proposição, que é de importância primordial, do que se contrapomos à complacência pura e desinteressada no juízo de gosto, aquela que é ligada a interesse; principalmente se ao mesmo tempo podemos estar certos de que não há mais espécies de interesse do que as que precisamente agora devem ser nomeadas” (Kant: 50), como o agradável e a complacência no bom.

A complacência no agradável e no bom (algo útil que apraz somente como meio para a realização dos estados narcísicos dos músicos da cultura de massa da sociedade do espetáculo), que tem a TV Globo como palco principal. Assim, foi desenhado o destino da música entre nós. Toda a vontade de potência gramatical da estética libertária do desinteresse do samba foi dissipada como modo de vida estático moral das massas populares pelos senhores da Bossa Nova, MPB de Chico Buarque de Holanda e do Tropicalismo.

Assim, concluo que não há retorno ao jardim do Éden da cultura política popular musical desinteressada libertária como forma de articulação de uma sociedade de significantes fundada em uma estética moral das massas populares, pelo sujeito gramatical liberdade fazendo pendant com o belo, de um anarquismo espontaneista. 

A propósito, nos foi subtraído o passado como trans-sujeito de uma modernidade gramatical anarquista da estética do desinteresse das massas populares preta e mestiça.

BAUDRILLARD, Jean. Les stratégies fatales. Paris: Grasset & Fasquelle, 1983
BAUDELAIRE, Charles. Poesia e Prosa. Volume único. RJ: Editora Nova Aguilar, 1995
BAYER, Raymond. História da estética. Lisboa: Editorial Estampa, 1979
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. Pensadores. SP: Abril Cultural, 1974
FREUD, Sigmund. Obras Completas. v. XXI. O mal-estar na civilização. RJ: Imago, 1974
MILL, John Stuart. Considerações sobre o governo representativo. Brasília: UNB, 1981
KANT, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo. RJ: Forense Universitária, 1993
POPPER, Karl. La société ouverte et ses ennemis. Tome 2. Hegel et Marx. Paris: Seuil, 1979    

      





 
     

   
  
  


                                                                                            


                       
          
              
  
    
  


     

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