quarta-feira, 6 de setembro de 2017

DO CRISTIANISMO INFORMACIONALIS E POLÍTICA

José Paulo

DO PODER INVISÍVEL DO GOZO 

A natureza invisível do poder político tem como avesso o exercício do poder na politeia. Nesta, o poder é exercido à luz do sol na Ágora pelo cidadão grego. Nada de decisões tomadas à luz de velas em gabinetes escuros, obscuros e opacos ao olhar e ao ouvido do cidadão.

O poder invisível é aquele dos arcana imperii (autoridades ocultas, misteriosas) das autocracias. A democracia nasce virtualmente com a promessa de pôr um fim nos arcana imperii, lugar privado ou íntimo de exercício do poder. Trata-se do lugar da pessoalização do poder.

Tornar público o exercício do poder é acabar com existência do duplo poder: poder visível e poder invisível. Norbert Bobbio diz: A publicidade é em si mesma uma forma de controle, um expediente que permite distinguir o que é legal do que é ilegal. Que funcionário público pode afirmar em público que usará dinheiro público para interesses privados? Só o poder invisível usa dinheiro público para alimentar interesses privados? Nos EUA, na Europa Ocidental, no Japão e no Brasil, o poder visível usa dinheiro público para fazer a máquina econômica privada funcionar. Então a tese de Bobbio foi suprassumida pela realidade dos fatos políticos.

No seu livro deliciosamente atual Filosofia da história (Editora UNB), Hegel escreve:
“Mesmo o historiador normal e mediano, que de certa forma pretende e acredita manter-se compreensível e submisso ao fato, não age de modo passivo no seu pensar, recorrendo às suas categorias e encarando por meio destas os fatos”.

A era do homo informacionalis se baseia na crença e na equação de que informação jornalística é igual a fato. De que a informação aboliu a necessidade de categorias, aboliu a necessidade do pensar reflexivo da realidade dos fatos.

Hegel diz:
“Não podemos jamais abandonar o pensamento, pois é por meio dele que nos diferenciamos do animal. E há pensamento no sentimento, na ciência e no conhecimento, na vontade e nos instintos – desde que humanos”.

O homo informacionalis deseja ser um animal informacionalis. Ele prega no jornalismo que não há pensamento reflexivo na informação, pois, trata-se de manter a distância absoluta entre o pensar e o factual. O ofício do jornalista se sustenta neste mito de que não há significantes técnicos literários (condensação de ideia e estrutura de pensamento atualizados) articulando os fatos como realidade dos fatos. O jornalista crê que seu discurso é um discurso sobre o real onde os fatos são apenas fatos independente da cultura mundial. A informação = fato teria o mesmo estatuto da alucinação psicótica que define o real no campo lacaniano e na psicanálise gramatical.

A soberania do homo informacionalis na cultura mundial se sustenta no mecanismo do credo quia absurdum (creio porque é absurdo). Freud diz que é o mesmo mecanismo que sustenta a religião cristã. O amai a teu próximo como a ti mesmo significa amai teus inimigo como a ti mesmo: ABSURDO gramatical em narrativa ilógica.

O homo informacionalis é o cristianismo do século XXI. Cristianismo que faz da informação a substância metafísica materialista (está no lugar do Estado de Hobbes como Deus mortal). Tal religião gera uma teologia materialista informacionalis irracional. Toda a cultura informacioanalis tem como motor a teologia materialista informacionalis do credo quia absurdum.

Em um livro da década de 1980 (O Futuro da democracia), Bobbio usa categorias como “duplo Estado” (do americano Alan Wolfe, Os limites da legitimidade), Estado visível e Estado invisível. Na Itália, o Estado invisível é constituído pela “máfia, camorra, lojas maçônicas, anômalas, serviços secretos incontroláveis e acobertadores de subversivos que deveriam combater”. Paul Virilio criou um significante ( categoria reflexiva hegeliana) para tal fenômeno na década de 1970: KRIMINOSTAT.

O kriminostat é uma realidade de fatos presentes nas redes econômicas privadas e públicas, na política invisível e visível (a aparência da semblância da não existência dele é criada e recriada pelo conluio da ciência política universitária com o falar jornalístico e o discurso do político profissional e a ingenuidade do uso da internet pelos internautas). Serviço secreto informacionalis, a Okharna é o poder invisível mais letal do Kriminostat que articula o modo de produção e circulação de drogas ilegais e a sociedade da felicidade freudiana: a sociedade narcose ilegal. Cerca de 180.000.000 de pessoas fazem uso cotidiano de drogas ilegais. Não existe apenas um poder invisível. Há também toda uma sociedade invisível mundial.

O homo informacionalis tem como suporte a difusão de que não existe verdade verdadeira da realidade dos fatos. A informação tomou o lugar da verdade de toda uma época. A verdade da sociedade capitalista é a mais-valia do discurso do capitalista lacaniano. Esta verdade resultou na luta de classes e revoluções sociais em todo o planeta e nas lutas de classes na própria sociedade democrática representativa ocidental e além oceanos.

Entramos na sociedade pós-capitalista. A mais-valia continua como categoria hegeliana da economia capitalista, porém, ela não articula mais a sociedade mundial pós-capitalista. O cientista político marxista, o jornalista e o político profissional creem que vivem em uma sociedade capitalista. Por isso, eles usam a velha linguagem fantasmagórica capitalismo americano (Trump) versus comunismo (Coréia do Norte) para falar de uma possível guerra atômica no século XXI.

O Kriminostat e suas Okhranas são o poder invisível (muito visível para quem quiser ver e crer na verdade verdadeira do século XXI) nazista da sociedade pós-capitalista. Uma lúmpen-elite de poder invisível/visível governa invisivelmente/visivelmente os governos empresariais corporativos e os governos nacionais. A verdade verdadeira do século XXI é a existência do Kriminostat de uma sociedade pós-capitalista que se ampara na ideia virtual (sendo progressivamente atualizada na realidade dos fatos) de que todos devem gozar sem limites com o corpo de todos).

Olhem e vejam como a possibilidade de uma guerra atômica está sendo metabolizada pela cultura mundial do homo informacionalis cristão-nazista. Ela realiza a satisfação do gozo absoluto, ou seja, de que todos gozem com o corpo de todos que se sustenta na realidade gramatical ilógica do credo quia absurdum milenarista cristão informacionalis.    

           

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