segunda-feira, 25 de setembro de 2017

DELENDA MÉXICO

José Paulo

MUITO ALÉM DO SUJEITO SOLIPSISTA

O eu político solipsista define um sujeito em uma tela gramatical como mudo visível com sua atmosfera sensível de sons e perfume. A tela gramatical mantém uma ligação com a experiência viva do mundo através de música e odores (efeito de realidade alucinatório na percepção fantasmática do eu em relação às coisas apresentadas na tela do mundo visível).

Apresentado em um realismo estético medusante na tela do mundo visível, o campo de concentração pode sugestionar naquele que olha o cheiro da podridão dos corpos vivos. A apresentação diária da violência (artificial e/ou natural) é um fenômeno correlato para aquele que olha a tela televisiva. O sujeito-receptor da cultura de massa é um olhar solipsista, pois, o mundo da cultura de massa é seu eu. Há esta identidade entre eu e outrem (cultura de massa) fabricada minuciosamente e intensivamente pela técnica eletrônica da televisão.

A cultura de massa corta o acesso do sujeito ao real do ser da sociedade dos significantes. Se ela no máximo pode ser reflexiva (trabalhar com representação da coisa, sem a coisa na linguagem), no mínimo (que é o funcionamento normal dela), ela opera com a irreflexão da realidade das coisas.    

Um sistema político democrático representativo exige uma cultura de massa reflexiva?

Na antiguidade a diferença entre politeia (democracia normal) e democracia patológica (democracia de massas como sujeito gramatical da política sem reflexão, da política ideológica tout court) assustou os gregos livres e normais e é um tema tratado como fenômeno diabólico por Aristóteles.
A democracia patológica é o lugar de uma tela do mundo visual de massas diabólicas da irreflexão, massas que não se baseiam na política como representação do outrem como tela do simbólico. Portanto, a tela dessas massas diabólicas é aquela da sgrammaticatura do sensível de sons e fúrias e odores, do banho de sangue do outrem que se opõe a elas, massas grau zero gramatical de sujeito civilizacional.

Representação política significa um mínimo de reflexão da soberania popular. O representante é um intérprete gramatical do desejo de mais democracia das massas sujeito grau zero gramatical bárbaro. Na sociedade de classes, os interesses da classe dominante (do rico, do burguês, do capitalista, do oligarca) faz pendant com a ideologia dominante de classe capaz de ocultar das massas o monopólio do poder nas mãos do rico. As lutas de classes criaram uma tela gramatical representativa democrática na qual os desejos da sociedade do trabalho eram necessariamente interpretados pelos representantes como um fenômeno da política. Assim, a democracia representativa não entra em colapso na Europa Ocidental e nos EUA na segunda metade do século XX.

No século XXI, a tela democrática é invadida por um déficit de representação da soberania popular da sociedade do trabalho. Durante anos, a tela democrática usou a gramática do simulacro de simulação para compensar o fenômeno supracitado. Após quase duas décadas a gramática do simulacro de simulação como complemento da representação da soberania popular se torna vapor barato. Outra coisa toma seu lugar?

A cultura de massa letrada da Europa Ocidental passa a refletir sobre a crise da democracia no extremo-ocidente como a América Latina. Daí o interesse da Europa (os EUA estão demorando a achar este caminho) na desintegração da democracia representativa 1988 brasileira. O comportamento da soberania popular europeia ocidental inclui o método comparativo (reflexão política) para evitar a dissipação da democracia representativa europeia.

O efeito do método comparativo no saber das massas sujeito grau zero gramatical da barbárie traduz uma forte ligação com o passado no qual autocracias totalitárias e ditatoriais tomaram o lugar da democracia representativa. Hoje, a transdialética gramatical é aquela entre democracia representativa versus democracia direta das massas? Pode vir a ser na sociedade civilizada altamente desenvolvida como cultura política de massas letradas.

Em geral, a transdialética gramatical do extremo-ocidente (mergulhado na barbárie da concepção política gramatical de justiça oligárquica) é aquela entre criação de uma democracia representativa (como interpretação política real do desejo de mais democracia da soberania popular) e a gênese de autocracias inéditas.

Na América-Latina, o Brasil se tornou, no momento, em laboratório político da elite do poder da transdialética supracitada. A falta de estudos sobre o México nos priva de tomar consciência de uma experiência na qual a história saiu pela porta dos fundos, sem possibilidade à vista de retorno. O México já é uma espécie inédita de autocracia com aparência de semblança de representação de soberania popular. No México, o governo do invisível governa a tela gramatical com narrativa sgrammaticatura da política.

Então, delenda México!                  
         


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