quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Estado e capital - homem da técnica e homem gramatical - dialética gramatical

 

José Paulo b.  

 

A analogia entre o termo <bom> e seus predicados aristotélicos e o significante fenomênico gramatical clareia a prática política do Estado e do capital:

“Considerando-se também as classes de predicados que o termo significa, procurando ver se são as mesmas em todos os casos. Porquanto, se não forem as mesmas, o termo é será evidentemente ambíguo. Por exemplo, <bom> no caso de alimentos, significa <que causa prazer>, e, no caso de medicamentos, <que promove a saúde>, ao passo que se o aplicarmos à alma, significará a posse de certa qualidade, como a de ser temperante, corajoso ou justo; e do mesmo modo quando aplicado ao <homem> (Aristóteles. 1973: 24).

O Estado mercantilista-capitalista é um significante ambíguo. Ele funciona pela lógica da gramática de jogos de sentido do significante na foraclusão (Lacan. 1966:551 )do princípio do prazer e do desprazer (Reich:44), ao mesmo tempo, na prática política da relação Estado e capital. O princípio de prazer aparece na relação entre mercantilismo e capitalismo como o último servindo aos interesses econômicos e realização de desejos de poder do Estado mercantilista territorial nacional, como grande potência weberiana (Weber:668). O desprazer aparece na relação entre Estados que taxam o lucro dos capitais e mais-gozar, de um Estado em relação aos de outros Estados, vice-versa. Assim, a lógica de gramática de sentido é boa e não é, ao mesmo tempo, o significante possui a ambiguidade dialética pela relação dos termos antagônicos. Em todo significante dialético, os predicados são pares antagônicos: boa e má, bem e mal, ethos e páthos, saúde e doença nietzschianos etc. O significante tem qualidades pois, ele é corpo e alma. Ele pode ser justo ou injusto. O aparelho de Estado pode ser justo na distribuição da mais-valia gramatical fiscal (mais-gozar gramatical) ou injusto. Aí encontra-se a forma de governo do significante que pode ser democrática legítima ou tirânica/despótica como perversão individualista (Wolff: 134), uma democracia de direitos ao mais-gozar do dominado perverso, ou do dominante/dominado do homem gramatical: governante e governado.     

O significante fenomênico gramatical Estado mercantilista/capitalista existe e funciona em sua prática política gramatical, retórica, ideológica pelo <princípio da utilidade> da gramática de gramática de sentido da essência perversa do homem gramatical aristotélico:

"A natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a <dor> e o <prazer>. Somente a eles compete apontar o que devemos fazer, bem como determinar o que na realidade faremos. Ao trono desses dois senhores está vinculada, por uma parte, a norma que distingue o que é reto do que é errado, e, por outra, a cadeia de causas e dos efeitos”. (Bentham: 9).

A cadeia de causas e efeitos do significante Estado mercantilista/capitalista é potência e ato em ato (Norbonne:31), isto é, autoprodução da prática política gramatical mundial. O bom [e o mau]:

Por vezes significa o que acontece em determinada ocasião, como, por exemplo, o <bom> que acontece na ocasião oportuna, pois ao que acontece na ocasião oportuna chamamos <bom>. (Aristóteles. 1973: 24).

O que acontece em determinada ocasião oportuna define a conjuntura histórica gramatical. (Poulantzas. 1977: 90). Por que oportuna? Uma conjuntura pode ser inoportuna se ela for regida pela gramática de gramática de sentido e não-sentido <sgramaticatura> (Gramsci. 1977:), anarquia gramatical como estratégia e táticas da classe dominante como no velho fascismo e no novo fascismo:

“O problema deve ser posto de outra maneira, isto é, nos termos da <disciplina da historicidade da linguagem>, quando for o caso das  <sgramaticaturas> (que são faltas de <disciplina mental>, neolalismo, particularismo provincial, jargão etc.), ou em outros termos (no caso posto pelo ensaio de Croce, o erro é estabelecido pelo seguinte: uma tal proposição pode aparecer na representação de um <louco>, de um anormal etc., e adquirir valor expressivo absoluto; como representar alguém que não seja <lógico> senão fazendo com que ele diga <coisas ilógicas?). na realidade, tudo o que não é <gramaticalmente exato> pode também ser justificado do ponto de vista estético, lógico etc., contanto que seja visto não na lógica particular da expressão imediatamente mecânica, mas como elemento de uma representação mais ampla e compreensiva” (Gramsci. 1977. V. 3:2341).

O velho fascismo se enquadra no significante fenomênico gramatical da lógica de gramática de sentido d Estado mercantilista europeu colonial. O novo fascismo representa a lógica de gramática supracitada acima da cadeia de causas e efeitos de Gramsci das sgramaticaturas co0mo estratégia e táticas de plurivocidade de práxis individual fascista na prática política gramatical mundial. Assim, trata-se de uma conjuntura inoportuna para a evolução e desenvolvimento da democracia constitucional gramatical mundial.

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Gramsci diz que a gramática normativa unifica territorialmente e culturalmente uma nação. Assim, ele diz que gramáticas espontâneas e sgrammaticaturas (falta de gramática) são significantes fenomênicos que põe e repõe o problema da ordem política versus anarquia política. A ideia de Gramsci parece ser conservadora gramaticalmente. Pois, a ordem gramatical versus anarquia gramatical em uma estrutura dialética dominante e dominado, governante e governado, não necessita ser logicamente desintegrada para a solução da contradição. A gramática de gramática de sentido da ordem (Bem) gramatical versus anarquia (Mal gramatical) pode seguir a lógica nietzschiana de que do mal advém o bem. como refletir isso no ´problema da íngua como forma de governo?

Na Amazônia, ainda se fala a língua geral criada por tupis e jesuítas. A língua luso-brasileira ainda é a ditadura dos gramáticos nas escolas pública para crianças e adolescentes. Em outras regiões e localidades se falam línguas indígenas ou dos sertões. O aparelho de Estado funciona como hegemonia e dominação da elite gramatical que inclusive usa o inglês como sua língua principal. Trata-se de uma forma de governo linguístico de uma democracia do dominante cosmopolita e avessa a língua nacional popular de um Lima Barreto e um Guimarães Rosa. Então, qual a forma de governo democrático que crie uma unidade na plurivocidade de gramática normativa oficial da classe dominante e de outras ordens gramaticais da terceira margem do rio.

A   Forma de governo tem que ser uma democracia federalista linguística como a dos EUA, mas essa é incompleta, pois, há o hegemonismo da língua inglesa na prática política linguística federal e provincial A revolução barroca gramatical brasileira deve estabelecer uma prática linguística com uma plurivocidade de língua oficial nacional, regional e tribal.

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Om general intellect gramatical aristotélico é a prática política gramatical milenar da civilização ocidental com endoxa [campo da doxa geral] e da filosofia e dos saberes da alta cultura grega da lógica gramatical de sentido do ethos e phatos, bom e mau, bem e mal, lógica e paralogica:

“um exemplo de proposição é: <o conhecimento dos opostos é ou não o mesmo?”. (Aristóteles. 1973: 21).

Na prática política da forma de governo os opostos são contidos na estrutura gramat5ical dialética dois aspectos da contradição principal (Mao369): aspecto do dominante e aspecto do dominado. Há a contradição simples da contradição maoista em relação à contradição hegeliana da tese, antítese e síntese. A contradição da contradição pode ser derivada da contradição da contradição da gramática de gramática de sentido da justiça, em Aristóteles:

“Do mesmo modo, também a endoxa com plurivocidade de práxis individual que contradizem os contrários da endoxa geral passarão por opiniões gerais; porque se é opinião geral que se deve fazer o bem ao amigo, será também opinião geral que não se deve prejudicar o amigo. Aqui causar dano ao amigo é contrário à opinião geral, e que não se deve causar-lhe prejudicá-lo é a contraditória desse contrário. E da mesma forma, se se deve fazer bem ao amigo, não se deve fazer bem ao inimigo[<gramatical>]; esta é também a contraditória da opinião . contrária a geral: a contrária seria que se devesse fazer o bem ao inimigo. E analogicamente nos demais casos”. (Aristóteles. 1973: 18).                                 

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A contradição materialista capital e trabalho é definida como aspecto do dominante e do dominado da sociedade capitalista. Sua solução requer a transição socialista na qual capital e trabalho operários são desintegrados e ao fim desse processo se encontra o modo de produção comunista pós-moderno. A contradição da contradição materialista é a contradição barroca da conciliação entre os contrários aparentemente inconciliáveis. (Hatzfeld: 61). A contradição pratica objetiva asiática da contradição materialista é uma espécie de contradição barroca:

“Até agora, a análise e a síntese não foram claramente definidas. A análise é mais clara, mas pouco foi dito sobre a síntese. Tive uma conversa com Ai Ssu-ch’i. Ele disse que hoje só falam sobre síntese e análise conceituais, e não falam sobre a síntese e análise práticas objetivas. Como analisamos e sintetizamos o Partido Comunista e o Kuomintang, o proletariado e a burguesia, os proprietários de terras e os camponeses, os chineses e os imperialistas? Como fazemos isso, no caso do Partido Comunista e do Kuomintang?”. (Zizek. 2008: 219).

A contradição prática objetiva é a lógica de gramática de sentido a partir da qual se cria e recria uma prática política da sociedade chinesa da atualidade. Ela é uma espécie de contradição barroca pura. Outro significante fenomênico é a contradição barroca gramatical da contradição asiática. A contradição gramatical cria e recria o campo histórica da atualidade mundial. <Significantes fenomênicos gramaticais> passam a povoar o campo das práticas políticas gramaticais como: capital mercantil gramatical, general intellect gramatical e o Estado mercantilista/capitalista gramatical. O capital mercantilista gramatical e o general intellect gramatical constituem as relações técnicas e produção da IA/gramatical iniciando o século XXI.        

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Poulantzas fez a gramática do Estado capitalista sem predicado. O Estado capitalista é um significante fenomênico que redefine o Estado burguês como aparelho de Estado e poder de Estado. (Balibar:94):

“En précisant certaines de mês formulations antérieures, je dirai que l”État, capitaliste en l’occurrence, ne doit pas être considéré comme une entité intrinsèque mais, comme c’est d’ailleus le cas pour le <capital>, comme un rappórt, plus exactement comme la condensation matérielle d’un rapórt de forçes entre classes et fractions de classe, tel qu’il s’exprime, de façon spécifeque toujours, au sein de l’Etat”. (Poulantzas. 1978: 141).

Há uma evolução do Estado capitalista sem predicado que adquire no século 21 forma de uma prática política GRAMATICAL planetária. Assim temos hoje o Estado mercantilista/capitalista gramatical, que restaura em uma gramática de gramática de sentido paraconsistente (Newton da Costa; 2008) GRAMATICAL como significante fenomênico gramatical que restaura mais completamente o Estado capitalista de Poulantzas: <como uma relação gramatical, mais exatamente como a condensação material de aparelho gramatical  de uma relação de forças gramaticais entre classes e frações de classe gramaticais, que se atualizam especificamente no seio do Estado mercantilista/capitalista gramatical. O colapso final do Estado capitalista sem predicado de Poulantzas é um fenômeno que inaugura a conjuntura gramatical da atualidade. Sua concepção substancialista de Estado capitalista deu lugar para uma concepção de ESTADO CAPITALISTA segundo a lógica de gramática de sentido de ethos e páthos, de Bem e Mal, de lógica e paralógica (Newton da Costa. 2019:20), de gramatica e sgrammaticatura,  de sentido e não-sentido, de gramática/retórica/ideologia gramatical da prática política  gramatical mundial da terceira década do século XXI.

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Trata-se de abordar problemas de dialética irrevogáveis da nossa atualidade:

“Um problema de dialética é um tema de investigação que contribui para a escolha ou a rejeição de alguma coisa, ou ainda para a verdade e o conhecimento, e isso quer por si mesmo, quer como ajuda para a solução de algum outro problema do mesmo tipo”. (Aristóteles. 1973: 19).

Um problema irrevogável da realidade mundial consiste na separação entre primeiro mundo das relações técnicas de produção e o primeiro mundo gramatical. O primeiro mundo técnico não é suficiente para criar e recriar o primeiro mundo gramatical. O Estado integral do primeiro mundo como aparelhos de hegemonia (Buci-Gluckmann: 114) não tem como função criar o primeiro mundo gramatical. A função é criar e recriar a unidade territorial e cultural do dominante. Assim, outro paradigma explica o primeiro mundo gramatical em país subdesenvolvido industrial e dependente do primeiro mundo da técnica mais avançada, o primeiro mundo gramatical de hoje só é possível por causa do desenvolvimento do capitalismo virtual do primeiro mundo da técnica. O <homem da técnica> (Spengler; 1958) se separa do homem gramatical aristotélico no mercantilismo/capitalista de hoje. Portanto, somente o paradigma da gramática de gramática de sentido pode dar conta da contemporaneidade o século XXI de hoje,

Lenin:

“As categorias da lógica são ,abbreviaturen> (<epitomiert>, em outra parte), de ‘infinidade de particularidades próprias da existência exterior e atividade. Estas categorias servem, por sua vez, aos homens na prática (‘na atividade espiritual d conteúdo vivente, na produção e no intercambio)”. (Lenine. 1984: 88).

A lógica de gramática de sentido leninista vai além da banalidade do homem da técnica:

“A logica não é a ciência das formas externas do pensamento, senão das leis que regem o desenvolvimento ‘de todas as coisas materiais, naturais, espirituais; isto é, o desenvolvimento de todo o conteúdo concreto do mundo e de seu conhecimento, ou seja, a soma e compêndio, a conclusão d <história> do conhecimento do mundo”. (Lenine. 1984: 90).

A lógica é, sobretudo, estrutura o significante fenomênico gramatical como práxis individual e prática política gramaticais etc.:

“A logica se assemelha à gramática em que para o principiante é uma coisa, e outra para o [gramático] conhecedor da língua (e das línguas) e do espírito da linguagem”. (Lenine. 1984: 96).

Lenin resolveu o problema da separação irrevogável entre o homem da técnica de Spengler e o homem gramatical aristotélico:

“A linguagem é mais rica entre os povos em estado primitivo, subdesenvolvido – a linguagem se empobrece com o avanço da civilização e o desenvolvimento da gramática”. (Lenine. 1984:294).

O primeiro mundo do capital mercantilista gramatical, do general intellect gramatical e do Estado mercantilista/capitalista se separa do primeiro mundo de gramática, retórica e campo de ideologias gramaticais em um mundo de globalização da práxis individual e prática política gramaticais. Portanto, Lenin resolveu o problema de dia ética mais irrevogável da contemporaneidade.           

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O campo mundial das IAs põe e repõe um problema de dialética gramatical da ordem de um novo trágico. O problema da distinção entre a linguagem de máquina IA e a língua nacional do homem gramatical. A linguagem de máquina jamais conseguirá viver - como o homem, mulheres e crianças vivem, a experiência concreta da língua nacional falada ou escrita pelo homem gramatical dialético. A “cultura” da IA não é a cultura do homem gramatical. ela, a rigor, não é cultura em nenhum sentido existente.

A IA será instrumentalizada pelo homem técnico que não se confunde como o general intellect gramatical do homem gramatical aristotélico. As elites de poder dos países do primeiro mundo das relações técnicas de produção da IA gramatical usarão essas para criar uma realidade planetária de dominação e exploração sobre a espécie humana, tela gramatical narrativa de linguagem de máquina, obscena e indescritível até agora. O que resta, como último recurso para a nossa espécie, para o general intellect gramatical da espécie humana?

Resta a revolução barroca/grotesco criada poeticamente por Ferreira Gullar e contida na tela gramatical narrativa da ciência política materialista paraconsistente do homem gramatical do primeiro mundo gramatical do subdesenvolvido? 

 

BALIBAR, Étienne. Cinq études du matérialisme historique. Paris: Maspero, 1974

BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. SP: Abril Cultural, 1974

BUCI-GLUCKSMANN, Chistine. Gramsci et l’État. Paris: Fayard, 1975

GRAMSCI, António. Quaderni del Carcere. v. 3. Tourino: Einaudi, 1977

HATZFELD, Helmut. Estudos sobre o barroco. SP: Perspectiva, 1988

LACAN, Jacques. Écrits. Paris: Seuil, 1966

LENINE, Oeuvres. V. 38. Cahiers philosophiques. Paris: Éditions Sociales, 1984

MAO TSE-TOUNG. Oeuvres Choisies. V. 1. De la contradiction. Pekin: Editions en Langues Etrangeres, 1976

NARBONNE, Jean-Marc. La métaphysique de Plotin. Paris: J. Vrin, 1994

NEWTON DA COSTA. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. SP: Hucitec, 2008

NEWTON DA COSTA. Lógica indutiva e probabilidade. SP: Hucitec, 2019

POULANTZAS, Nicos. L’État, le pouvoir, le socialisme. Paris: PUF, 1978

REICH, Wilheim. Materialismo histórico e psicanálise. Lisboa: Pre3sença, 1973

SPENGLER, Oswald. L’homme et la technique. Paris: Gallimard, 1958

WEBER, Max. Economia y Sociedad. México: Fondo de Cultura Econo1984mica

WOLFF, Francis. Aristóteles e a política. SP: Discurso Editorial, 1999

ZIZEK, Alavoj. Apresenta. Mao sobre a prática e a contradição. RJ: Zahar, 2008    

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