José Paulo b.
A analogia entre o termo <bom> e seus predicados
aristotélicos e o significante fenomênico gramatical clareia a prática política
do Estado e do capital:
“Considerando-se também as classes de predicados que o termo
significa, procurando ver se são as mesmas em todos os casos. Porquanto, se não
forem as mesmas, o termo é será evidentemente ambíguo. Por exemplo, <bom>
no caso de alimentos, significa <que causa prazer>, e, no caso de
medicamentos, <que promove a saúde>, ao passo que se o aplicarmos à alma,
significará a posse de certa qualidade, como a de ser temperante, corajoso ou
justo; e do mesmo modo quando aplicado ao <homem> (Aristóteles. 1973:
24).
O Estado mercantilista-capitalista é um significante ambíguo.
Ele funciona pela lógica da gramática de jogos de sentido do significante na
foraclusão (Lacan. 1966:551 )do princípio do prazer e do desprazer (Reich:44),
ao mesmo tempo, na prática política da relação Estado e capital. O princípio de
prazer aparece na relação entre mercantilismo e capitalismo como o último
servindo aos interesses econômicos e realização de desejos de poder do Estado
mercantilista territorial nacional, como grande potência weberiana (Weber:668).
O desprazer aparece na relação entre Estados que taxam o lucro dos capitais e
mais-gozar, de um Estado em relação aos de outros Estados, vice-versa. Assim, a
lógica de gramática de sentido é boa e não é, ao mesmo tempo, o significante possui
a ambiguidade dialética pela relação dos termos antagônicos. Em todo
significante dialético, os predicados são pares antagônicos: boa e má, bem e
mal, ethos e páthos, saúde e doença nietzschianos etc. O significante tem
qualidades pois, ele é corpo e alma. Ele pode ser justo ou injusto. O aparelho
de Estado pode ser justo na distribuição da mais-valia gramatical fiscal
(mais-gozar gramatical) ou injusto. Aí encontra-se a forma de governo do
significante que pode ser democrática legítima ou tirânica/despótica como
perversão individualista (Wolff: 134), uma democracia de direitos ao mais-gozar
do dominado perverso, ou do dominante/dominado do homem gramatical: governante
e governado.
O significante fenomênico gramatical Estado
mercantilista/capitalista existe e funciona em sua prática política gramatical,
retórica, ideológica pelo <princípio da utilidade> da gramática de
gramática de sentido da essência perversa do homem gramatical aristotélico:
"A natureza colocou o gênero humano sob o domínio de
dois senhores soberanos: a <dor> e o <prazer>. Somente a eles
compete apontar o que devemos fazer, bem como determinar o que na realidade
faremos. Ao trono desses dois senhores está vinculada, por uma parte, a norma
que distingue o que é reto do que é errado, e, por outra, a cadeia de causas e
dos efeitos”. (Bentham: 9).
A cadeia de causas e efeitos do significante Estado
mercantilista/capitalista é potência e ato em ato (Norbonne:31), isto é,
autoprodução da prática política gramatical mundial. O bom [e o mau]:
Por vezes significa o que acontece em determinada ocasião,
como, por exemplo, o <bom> que acontece na ocasião oportuna, pois ao que
acontece na ocasião oportuna chamamos <bom>. (Aristóteles. 1973: 24).
O que acontece em determinada ocasião oportuna define a
conjuntura histórica gramatical. (Poulantzas. 1977: 90). Por que oportuna? Uma
conjuntura pode ser inoportuna se ela for regida pela gramática de gramática de
sentido e não-sentido <sgramaticatura> (Gramsci. 1977:), anarquia
gramatical como estratégia e táticas da classe dominante como no velho fascismo
e no novo fascismo:
“O problema deve ser posto de outra maneira, isto é, nos
termos da <disciplina da historicidade da linguagem>, quando for o caso
das <sgramaticaturas> (que são
faltas de <disciplina mental>, neolalismo, particularismo provincial,
jargão etc.), ou em outros termos (no caso posto pelo ensaio de Croce, o erro é
estabelecido pelo seguinte: uma tal proposição pode aparecer na representação
de um <louco>, de um anormal etc., e adquirir valor expressivo absoluto;
como representar alguém que não seja <lógico> senão fazendo com que ele
diga <coisas ilógicas?). na realidade, tudo o que não é <gramaticalmente
exato> pode também ser justificado do ponto de vista estético, lógico etc., contanto
que seja visto não na lógica particular da expressão imediatamente mecânica,
mas como elemento de uma representação mais ampla e compreensiva” (Gramsci.
1977. V. 3:2341).
O velho fascismo se enquadra no significante fenomênico
gramatical da lógica de gramática de sentido d Estado mercantilista europeu
colonial. O novo fascismo representa a lógica de gramática supracitada acima da
cadeia de causas e efeitos de Gramsci das sgramaticaturas co0mo estratégia e
táticas de plurivocidade de práxis individual fascista na prática política
gramatical mundial. Assim, trata-se de uma conjuntura inoportuna para a
evolução e desenvolvimento da democracia constitucional gramatical mundial.
2
Gramsci diz que a gramática normativa unifica
territorialmente e culturalmente uma nação. Assim, ele diz que gramáticas
espontâneas e sgrammaticaturas (falta de gramática) são significantes
fenomênicos que põe e repõe o problema da ordem política versus anarquia
política. A ideia de Gramsci parece ser conservadora gramaticalmente. Pois, a
ordem gramatical versus anarquia gramatical em uma estrutura dialética
dominante e dominado, governante e governado, não necessita ser logicamente
desintegrada para a solução da contradição. A gramática de gramática de sentido
da ordem (Bem) gramatical versus anarquia (Mal gramatical) pode seguir a lógica
nietzschiana de que do mal advém o bem. como refletir isso no ´problema da
íngua como forma de governo?
Na Amazônia, ainda se fala a língua geral criada por tupis e
jesuítas. A língua luso-brasileira ainda é a ditadura dos gramáticos nas
escolas pública para crianças e adolescentes. Em outras regiões e localidades
se falam línguas indígenas ou dos sertões. O aparelho de Estado funciona como
hegemonia e dominação da elite gramatical que inclusive usa o inglês como sua
língua principal. Trata-se de uma forma de governo linguístico de uma
democracia do dominante cosmopolita e avessa a língua nacional popular de um
Lima Barreto e um Guimarães Rosa. Então, qual a forma de governo democrático
que crie uma unidade na plurivocidade de gramática normativa oficial da classe
dominante e de outras ordens gramaticais da terceira margem do rio.
A Forma de governo
tem que ser uma democracia federalista linguística como a dos EUA, mas essa é
incompleta, pois, há o hegemonismo da língua inglesa na prática política
linguística federal e provincial A revolução barroca gramatical brasileira deve
estabelecer uma prática linguística com uma plurivocidade de língua oficial
nacional, regional e tribal.
3
Om general intellect gramatical aristotélico é a prática
política gramatical milenar da civilização ocidental com endoxa [campo da doxa
geral] e da filosofia e dos saberes da alta cultura grega da lógica gramatical
de sentido do ethos e phatos, bom e mau, bem e mal, lógica e paralogica:
“um exemplo de proposição é: <o conhecimento dos opostos é
ou não o mesmo?”. (Aristóteles. 1973: 21).
Na prática política da forma de governo os opostos são
contidos na estrutura gramat5ical dialética dois aspectos da contradição
principal (Mao369): aspecto do dominante e aspecto do dominado. Há a
contradição simples da contradição maoista em relação à contradição hegeliana
da tese, antítese e síntese. A contradição da contradição pode ser derivada da
contradição da contradição da gramática de gramática de sentido da justiça, em
Aristóteles:
“Do mesmo modo, também a endoxa com plurivocidade de práxis
individual que contradizem os contrários da endoxa geral passarão por opiniões
gerais; porque se é opinião geral que se deve fazer o bem ao amigo, será também
opinião geral que não se deve prejudicar o amigo. Aqui causar dano ao amigo é
contrário à opinião geral, e que não se deve causar-lhe prejudicá-lo é a
contraditória desse contrário. E da mesma forma, se se deve fazer bem ao amigo,
não se deve fazer bem ao inimigo[<gramatical>]; esta é também a
contraditória da opinião . contrária a geral: a contrária seria que se devesse
fazer o bem ao inimigo. E analogicamente nos demais casos”. (Aristóteles. 1973:
18).
4
A contradição materialista capital e trabalho é definida como
aspecto do dominante e do dominado da sociedade capitalista. Sua solução requer
a transição socialista na qual capital e trabalho operários são desintegrados e
ao fim desse processo se encontra o modo de produção comunista pós-moderno. A
contradição da contradição materialista é a contradição barroca da conciliação
entre os contrários aparentemente inconciliáveis. (Hatzfeld: 61). A contradição
pratica objetiva asiática da contradição materialista é uma espécie de
contradição barroca:
“Até agora, a análise e a síntese não foram claramente
definidas. A análise é mais clara, mas pouco foi dito sobre a síntese. Tive uma
conversa com Ai Ssu-ch’i. Ele disse que hoje só falam sobre síntese e análise
conceituais, e não falam sobre a síntese e análise práticas objetivas. Como
analisamos e sintetizamos o Partido Comunista e o Kuomintang, o proletariado e
a burguesia, os proprietários de terras e os camponeses, os chineses e os
imperialistas? Como fazemos isso, no caso do Partido Comunista e do Kuomintang?”.
(Zizek. 2008: 219).
A contradição prática objetiva é a lógica de gramática de
sentido a partir da qual se cria e recria uma prática política da sociedade
chinesa da atualidade. Ela é uma espécie de contradição barroca pura. Outro
significante fenomênico é a contradição barroca gramatical da contradição
asiática. A contradição gramatical cria e recria o campo histórica da
atualidade mundial. <Significantes fenomênicos gramaticais> passam a
povoar o campo das práticas políticas gramaticais como: capital mercantil
gramatical, general intellect gramatical e o Estado mercantilista/capitalista
gramatical. O capital mercantilista gramatical e o general intellect gramatical
constituem as relações técnicas e produção da IA/gramatical iniciando o século
XXI.
5
Poulantzas fez a gramática do Estado capitalista sem
predicado. O Estado capitalista é um significante fenomênico que redefine o
Estado burguês como aparelho de Estado e poder de Estado. (Balibar:94):
“En précisant certaines de mês formulations antérieures, je
dirai que l”État, capitaliste en l’occurrence, ne doit pas être considéré comme
une entité intrinsèque mais, comme c’est d’ailleus le cas pour le
<capital>, comme un rappórt, plus exactement comme la condensation
matérielle d’un rapórt de forçes entre classes et fractions de classe, tel
qu’il s’exprime, de façon spécifeque toujours, au sein de l’Etat”. (Poulantzas.
1978: 141).
Há uma evolução do Estado capitalista sem predicado que
adquire no século 21 forma de uma prática política GRAMATICAL planetária. Assim
temos hoje o Estado mercantilista/capitalista gramatical, que restaura em uma
gramática de gramática de sentido paraconsistente (Newton da Costa; 2008) GRAMATICAL
como significante fenomênico gramatical que restaura mais completamente o
Estado capitalista de Poulantzas: <como uma relação gramatical, mais
exatamente como a condensação material de aparelho gramatical de uma relação de forças gramaticais entre
classes e frações de classe gramaticais, que se atualizam especificamente no
seio do Estado mercantilista/capitalista gramatical. O colapso final do Estado
capitalista sem predicado de Poulantzas é um fenômeno que inaugura a conjuntura
gramatical da atualidade. Sua concepção substancialista de Estado capitalista
deu lugar para uma concepção de ESTADO CAPITALISTA segundo a lógica de
gramática de sentido de ethos e páthos, de Bem e Mal, de lógica e paralógica
(Newton da Costa. 2019:20), de gramatica e sgrammaticatura, de sentido e não-sentido, de
gramática/retórica/ideologia gramatical da prática política gramatical mundial da terceira década do
século XXI.
6
Trata-se de abordar problemas de dialética irrevogáveis da
nossa atualidade:
“Um problema de dialética é um tema de investigação que
contribui para a escolha ou a rejeição de alguma coisa, ou ainda para a verdade
e o conhecimento, e isso quer por si mesmo, quer como ajuda para a solução de
algum outro problema do mesmo tipo”. (Aristóteles. 1973: 19).
Um problema irrevogável da realidade mundial consiste na
separação entre primeiro mundo das relações técnicas de produção e o primeiro
mundo gramatical. O primeiro mundo técnico não é suficiente para criar e
recriar o primeiro mundo gramatical. O Estado integral do primeiro mundo como
aparelhos de hegemonia (Buci-Gluckmann: 114) não tem como função criar o
primeiro mundo gramatical. A função é criar e recriar a unidade territorial e
cultural do dominante. Assim, outro paradigma explica o primeiro mundo gramatical
em país subdesenvolvido industrial e dependente do primeiro mundo da técnica
mais avançada, o primeiro mundo gramatical de hoje só é possível por causa do
desenvolvimento do capitalismo virtual do primeiro mundo da técnica. O
<homem da técnica> (Spengler; 1958) se separa do homem gramatical
aristotélico no mercantilismo/capitalista de hoje. Portanto, somente o
paradigma da gramática de gramática de sentido pode dar conta da
contemporaneidade o século XXI de hoje,
Lenin:
“As categorias da lógica são ,abbreviaturen>
(<epitomiert>, em outra parte), de ‘infinidade de particularidades
próprias da existência exterior e atividade. Estas categorias servem, por sua
vez, aos homens na prática (‘na atividade espiritual d conteúdo vivente, na
produção e no intercambio)”. (Lenine. 1984: 88).
A lógica de gramática de sentido leninista vai além da
banalidade do homem da técnica:
“A logica não é a ciência das formas externas do pensamento,
senão das leis que regem o desenvolvimento ‘de todas as coisas materiais,
naturais, espirituais; isto é, o desenvolvimento de todo o conteúdo concreto do
mundo e de seu conhecimento, ou seja, a soma e compêndio, a conclusão d
<história> do conhecimento do mundo”. (Lenine. 1984: 90).
A lógica é, sobretudo, estrutura o significante fenomênico
gramatical como práxis individual e prática política gramaticais etc.:
“A logica se assemelha à gramática em que para o principiante
é uma coisa, e outra para o [gramático] conhecedor da língua (e das línguas) e
do espírito da linguagem”. (Lenine. 1984: 96).
Lenin resolveu o problema da separação irrevogável entre o
homem da técnica de Spengler e o homem gramatical aristotélico:
“A linguagem é mais rica entre os povos em estado primitivo,
subdesenvolvido – a linguagem se empobrece com o avanço da civilização e o
desenvolvimento da gramática”. (Lenine. 1984:294).
O primeiro mundo do capital mercantilista gramatical, do
general intellect gramatical e do Estado mercantilista/capitalista se separa do
primeiro mundo de gramática, retórica e campo de ideologias gramaticais em um
mundo de globalização da práxis individual e prática política gramaticais.
Portanto, Lenin resolveu o problema de dia ética mais irrevogável da
contemporaneidade.
7
O campo mundial das IAs põe e repõe um problema de dialética
gramatical da ordem de um novo trágico. O problema da distinção entre a
linguagem de máquina IA e a língua nacional do homem gramatical. A linguagem de
máquina jamais conseguirá viver - como o homem, mulheres e crianças vivem, a
experiência concreta da língua nacional falada ou escrita pelo homem gramatical
dialético. A “cultura” da IA não é a cultura do homem gramatical. ela, a rigor,
não é cultura em nenhum sentido existente.
A IA será instrumentalizada pelo homem técnico que não se
confunde como o general intellect gramatical do homem gramatical aristotélico.
As elites de poder dos países do primeiro mundo das relações técnicas de
produção da IA gramatical usarão essas para criar uma realidade planetária de
dominação e exploração sobre a espécie humana, tela gramatical narrativa de
linguagem de máquina, obscena e indescritível até agora. O que resta, como
último recurso para a nossa espécie, para o general intellect gramatical da
espécie humana?
Resta a revolução barroca/grotesco criada poeticamente por
Ferreira Gullar e contida na tela gramatical narrativa da ciência política
materialista paraconsistente do homem gramatical do primeiro mundo gramatical
do subdesenvolvido?
BALIBAR, Étienne. Cinq études du matérialisme historique.
Paris: Maspero, 1974
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da
legislação. SP: Abril Cultural, 1974
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GRAMSCI, António. Quaderni del Carcere. v. 3. Tourino:
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HATZFELD, Helmut. Estudos sobre o barroco. SP: Perspectiva,
1988
LACAN, Jacques. Écrits. Paris: Seuil, 1966
LENINE, Oeuvres. V. 38. Cahiers philosophiques. Paris:
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MAO TSE-TOUNG. Oeuvres Choisies. V. 1. De la contradiction.
Pekin: Editions en Langues Etrangeres, 1976
NARBONNE, Jean-Marc. La métaphysique de Plotin. Paris: J.
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NEWTON DA COSTA. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. SP:
Hucitec, 2008
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POULANTZAS, Nicos. L’État, le pouvoir, le socialisme. Paris:
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REICH, Wilheim. Materialismo histórico e psicanálise. Lisboa:
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SPENGLER, Oswald. L’homme et la technique. Paris: Gallimard,
1958
WEBER, Max. Economia y Sociedad. México: Fondo de Cultura
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WOLFF, Francis. Aristóteles e a política. SP: Discurso
Editorial, 1999
ZIZEK, Alavoj. Apresenta. Mao sobre a prática e a
contradição. RJ: Zahar, 2008
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