sábado, 15 de fevereiro de 2025

TERCEIRO MUNDO E ATUALIDADE

 

José Paulo  

A estrutura do mundo atual tem uma lógica de gramática de sentido e não-sentido que restaura um velho vocabulário do século XX: primeiro mundo, segundo mundo e terceiro-mundo. O primeiro é a superfície da prática política da grande potência weberiana. (Weber. 1984: 668-670). O segundo mundo é a superfície da prática política do Estado mercantilista. O terceiro é a superfície da prática política de Estado territorial ou de povos sem Estado. Aqui, começo a abordar esse objeto a partir da lógica gramatical retórica hegeliana. O início tem que começar pelo terceiro mundo.

O terceiro mundo tem a o grupo dominante como efeito da gramática do <não pare de não pensar> na realidade, que determina a prática subpolítica dele. É o grau zero da criação de tela gramatical narrativa da realidade. Como pensar essa realidade em termos de lógica gramatical? Hegel aponta o caminho da gramática de gramática retórica barroca:

“Agora, onde e como se trata do ser e do nada, este terceiro precisa estar presente; pois aqueles não subsistem por si, mas apenas no devir, nesse terceiro. Porém, este terceiro tem múltiplas figuras empíricas, as quais são postas de lado ou negligenciadas pela abstração a fim de fixar aqueles produtos, o ser e o nada, cada um por si e mostrá-los protegidos contra o passar”. (Hegel. 2016: 97).

O dominante e o dominado não conseguem ver a realidade realmente existente de sua prática subpolítica:

“Com efeito, porém, caso também se represente de modo mais preciso este ver, pode-se, então, dar-se conta facilmente de que, na claridade absoluta, não se vê nem mais nem menos do que na escuridão absoluta, de que u modo de ver, bem como o outro, é um ver puro, um ver nada. Luz pura e escuridão pura são dois vazios, que são o mesmo”. (Hegel. 2016: 97).

A realidade solar de parte da África ou a escuridão pura latino-americana determina modos de ver que não tem a gramática da gramática de sentido e não-sentido do Bem e/ou do Mal. a anarquia gramatical é o modo de ver dessas superfícies supracitada do terceiro mundo:

“apenas na luz determinada – e a luz é determinada pela escuridão – logo , na luz turvada, igualmente apenas na escuridão determinada – e a escuridão é determinada pela luz -, na escuridão iluminada, algo pode ser diferenciado, porque apenas a luz turvada e a escuridão iluminada têm, nelas mesmas, a diferença e, com isso, são ser determinado, ser aí [Dasein]. “(Hegel. 2016: 97).

A linguagem se inseriu em tudo aquilo que se torna para ele [ser humano] em geral um interior, uma representação, em tudo aquilo de que ele se apropria, e o que ele torna linguagem e exprime nela contém de modo mais encoberto, mais misturado ou mais elaborado uma categoria; tão natural lhe é lógico, ou precisamente: o mesmo é a sua própria natureza particular. Mas se se contrapõe à natureza em geral, como o físico, ao espiritual, seria preciso dizer que o lógico é, ao contrário, o sobrenatural, que se insere em todo o comportamento natural do ser humano, no seu sentir, intuir, desejar, na sua necessidade, no seu impulso e, por meio disso, em geral, torna-o algo humano, ainda que apenas de modo formal, tornando-o representações e finalidades. É a vantagem de uma língua que ela possua uma riqueza de expressões lógicas, a saber, peculiares e separadas, para as próprias determinações do pensar; muitas das proposições e dos artigos já pertencem a tais relações que se baseiam no pensar; na sua formação, a língua chinesa não deve ter conseguido chegar aí de modo nenhum ou apenas insuficientemente; mas essas partículas aparecem de maneira inteiramente auxiliar, apenas um pouco mais desconexas do que os aumentos, sinais de flexão e coisa semelhante. Muito mais importante é que, numa língua, as determinações do pensar estejam destacadas em substantivos e verbos e, assim, tenham o selo das formas objetivas; nisso, a língua alemã tem muitas vantagens diante das outras línguas modernas, até mesmo algumas das suas palavras têm a propriedade adicional de não ter somente significados diversos, mas opostos, de modo que, nesse mesmo aspecto, não se pode deixar de perceber um espírito especulativo da língua; para o pensar, pode ser um prazer se deparar com tais palavras e encontrar, de forma ingênua, já lexicalmente, em uma palavra de significados opostos, a unificação de opostos que é resultado da especulação , embora seja paradoxal para o entendimento”. (Hegel. 2016: 32).

Eis a maravilhosa retórica barroca/ilustrada hegeliana:

 

“Assim, para trazer um exemplo da oposição fixa dessas determinações de reflexão, a <luz> vale em geral como o que é apenas positivo, a <escuridão>, porém, como que é apenas negativo. Mas a luz, em sua expansão infinita, e na força de sua eficácia que descerra e vivifica, tem essencialmente a natureza de sua negatividade absoluta. A escuridão , ao contrário, enquanto não multíplice ou enquanto o seio da geração que não se diferencia dentro de si mesmo, é o idêntico simples consigo, o positivo. Ela é tomada como o apenas negativo no sentido de que , como mera ausência de luz, ela não estaria presente de modo algum para a mesma, - de modo que a luz, ao se relacionar com a escuridão , deve se relacionar não com um outro, mas puramente consigo mesma, a escuridão, portanto, apenas deve desaparecer diante dela. Como se sabe, porém, a luz é ofuscada pela escuridão até tornar-se cinza, e, além dessa alteração meramente quantitativa, ela também sofre aquela qualitativa, de ser determinada até tornar-se cor através da relação com a escuridão”;. (Hegel. 2017: 85).

A retórica dialética é a gramática de gramática de sentido e não-sentido, ordem e anarquia das cores vivas, na superfície da prática política mundial. O cristianismo paulino quer uma superfície solar de uma prática política retórica celestial com a <cidade de Deus> de Santo Agostinho. A retórica hegeliana fala de uma superfície da prática política que nunca é solar, pois, a luz ofuscada na escuridão faz o cinza. O cinza é a “cor” da superfície superficial quantitativa. A escuridão como falta de luz, é a superfície reprofunda sem gramática de gramática de sentido do Bem ou do Mal. Ela é o não-sentido puro como anarquia. Há uma superfície qualitativa com cores através da relação da luz com a escuridão. É a superfície da prática política da retórica dialética como revolução barroca. Ao contrário, a escuridão sem incidência de luz é a superfície <reprofunda> de Rosa. (Bandeira da Silveira. Julho/2024: cap. 2). Superfície dos fenômenos heteróclitos da anarquia generalizada, da falta de gramática (lógica) de gramática de sentido do Bem e/ou Mal:

“Assim, por exemplo, também não há <virtude> sem luta; ela é, antes, a luta suprema, plenamente realizada; assim, ela não é apenas virtude em >comparação> com o vício, mas é <nela mesma> contraposição e luta em ato. Ou seja, o <vício> não é apenas <a falta> da virtude – também a inocência é essa falta – e não é apenas diferente da virtude para uma reflexão exterior, mas está contraposto a ela em si mesmo, ele é <mau>. O mal consiste no repousar sobre si contra o bem; é a negatividade positiva. Mas a inocência, enquanto falta tanto do bem quanto do mal, é indiferente frente a ambas as determinações, não é nem positiva nem negativa. Ao mesmo tempo, porém, essa falta precisa ser tomada também como determinidade e por um lado, essa precisa ser considerada como a natureza positiva de algo, enquanto se relaciona, por outro lado, com um contraposto e todas as naturezas saem de sua inocência, de sua identidade indiferente consigo, relacionam-se através de si mesmas com seu outro e, por causa disso, vão ao fundo ou, em sentido positivo, regressam para dentro de seu fundamento”. (Hegel. 2017: 85).

A superfície reprofunda da meia-noite encontra-se além da gramática de gramática de sentido do bem e/ou mal. Ela é o estado de inocência das classes baixas e população marginalizada. Há relação da virtude e d vício nessa superfície da prática política armada dos de baixo? A virtude é um fenômeno da superfície da lógica da gramática de sentido do Bem e/ou Mal. A virtude da práxis política é potência e ato em ato na autoprodução da prática política com região que vai de cinza ao colorido multifacetado da retórica barroca na revolução barroca, (Bandeira da Silveira. Outubro/2023: cap. 3).      

Então, temos a gramática de gramática retórica barroca da estrutura do mundo da atualidade. Como traduzir Hegel para hoje?

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A gramática do terceiro mundo do não pare de não pensar tem uma tradução para lógica retórica barroca/ilustrada:

“Ser, puro ser. – sem nenhuma determinação ulterior. Em sua imediatidade indeterminada, ele é igual a si mesmo e também não desigual frente a outro; não tem diversidade alguma de si nem para fora. Através de uma determinação ou um conteúdo qualquer qu seria nele diferenciado ou por meio do qual ele seria posto como diferente de um outro, ele não seria fixado em sua pureza. Ele é a indeterminidade e o vazio puros. Não há <nada> a intuir nele, caso aqui se possa falar de intuir; ou ele é apenas este mesmo intuir intuir puro, vazio. Tampouco há algo que se possa pensar ou ele é, igualmente, apenas este pensar vazio. O ser, o imediato indeterminado é, de fato, <nada> e nem mais nem menos do que nada”. (Hegel. 2016: 85).

A época feudal é o grau zero do desenvolvimento da gramática de gramática de sentido do desenvolvimento econômico:

“Devem-se levar em consideração alguns fenômenos que s surgem quando o ser e o nada são isolados um do outro e um é posto fora do âmbito do outro, de modo que, com isso, o passar está negado”. Hegel. 2016: 980.

Há um modo de ser psíquico do ser e do nada puros, vazios de sentido e não sentido, vazios da dialética do Bem e do Mal. Assim,  não há o passar de uma época da história a outra através das determinações da época a ser ultrapassada:

“A unidade, cujos momentos, ser e nada, são inseparáveis, é ao mesmo tempo, diversa deles mesmos; assim, um <terceiro> frente a eles, o qual em sua forma mais peculiar, é o <devir>”. (Hegel. 2016: 97).

O devier só existe a partir do momento que o ser e o nada se constitui como uma unidade dialética de sentido e não-sentido. Então, ou o ser ou nada aparecem como um no aspecto dominante da contradição principal e o outro no aspecto dominado, e vice-versa. (Mao. 1976. V. 1: 369):

“<Passar é o mesmo que devir, só que, naquele, os dois, a partir dos quais um passa para o outro, são representados mais como tais que repousam um fora do outro e o passar é representado como tal que acontece <entre> eles. Agora, onde e como se trata do ser e do nada este terceiro necessita estar presente; pois aqueles não subsistem por si, mas apenas no devir, nesse devir, nesse terceiro>. Porém, este terceiro tem uma plurivocidade de figura empírica, as quais são postas de lado ou negligenciadas pela abstração delas a fim de fixar aqueles seus produtos contra o passar”. (Hegel. 2016: 97).

 O passar do feudalismo para o capitalismo é análogo ao passar do terceiro mundo para o segundo mundo. Não existe no terceiro mundo a unidade dialética de sentido entre o ser e o nada, não existe a prática política estrutura e movida por uma unidade dialética retórico/gramática barroco de sentido. Existe uma atividade da subpolítica. O passar de ambos supracitados é autoproduzido  <ex nihilo>? Ex nihilo pode ser potência e ato em ato (Narbonne; 1994) de autoprodução da prática retórica lógico/gramatical?

 O nada pode ser algo que advém do exterior da prática política do feudalismo? Antes de resolver esse problema faço uma volta em espiral pela gramática de gramática retórica barroca de sentido da atualidade:

Na superfície reprofunda da prática política mundial ocorre a inversão na contradição principal entre o virtual, agora aspecto dominante, e o territorial agora aspecto dominado. (Mao: 369-375). A prática política mundial é um capo paraconsistente no qual o capital virtual/IA como relações técnicas de produção chega a ser governo dos EUA. O que intriga a cultura é interpretar porque Trump convidou as big techs para fazer parte de seu governo, especialmente, Elon Musk.

Ora. Trump encontra-se determinado pelo colapso do Estado desenvolvido da globalização liberal. Todavia, o equilíbrio de poder na prática política territorial da América continua favorecendo este Estado. Assim, ele fez uma aliança com o capital virtual para iniciar uma transição para a autoprodução de um Estado mercantilista. A transição começa com a instalação de um governo ditatorial mercantilista que governa por decretos presidenciais, isto é, <ordens executivas>, um instrumento de um governo de exceção. Trump se choca com a democracia do poder do sistema de tribunal administrativo constitucional. (David:402-403).

A mais-valia virtual é o capital como potência e ato em ato é a desrealização do capital como relação social de produção como matéria (Plotino: 41) da sociedade capitalista e, sobretudo realização do capital virtual/IA como, repito, potência e ato em ato na superfície reprofunda da prática política mundial virtual/territorial.

Deleuze e Guattari estabeleceram a distinção entre mais-valia humana e mais-valia e máquina, uma ideia de Maurice Clavel

“ao mesmo tempo em que se reconhece que as máquinas também <trabalham> ou produzem valor, que elas sempre trabalharam, e que trabalham cada vez mais em relação ao homem, que, assim, o homem deixa de ser parte constitutiva do processo de produção para se tornar adjacente a esse processo. Portanto, há uma mais-valia maquínica produzida pelo capital constante, que se desenvolve com a automação e com a produtividade (..)”. (Deleuze e G.: 279-280).

O aspecto principal da contradição principal da superfície reprofunda da prática política mundial virtual/territorial tem dois fenômenos, isto é, o capital/IA e o general intellect gramatical. Assim, a mais-valia virtual é produzida por ambos, em uma junção homem/máquina, portanto, não se trata apenas de mais-valia deuleziana.G e sim de mais-valia virtual/IA. A utopia dos gramáticos da IA é que se alcance uma etapa na qual o general intellect gramatical deixe de fazer parte da produção da mais-valia virtual. Então, chegaríamos a mais-valia maquínica D/G propriamente dita.

O capital barroco/IA capitalista transforma a gramática de sentido da estrutura do mundo. Antes, o mundo era uma superfície estruturada com país desenvolvido, emergente e subdesenvolvido. Repito. agora, o mundo e divide em primeiro mundo da grande potência weberiana, segundo mundo e terceiro mundo. No primeiro, o Estado feudal/IA como a China. No segundo, várias espécies de Estado mercantilistas [em regiões geoeconômicas e continentes geográficos] distribuídos em camadas espessas e resilientes de uma gramática de gramática de sentido do Bem e/ou Mal, postos em uma hierarquia rígida e fixadora do lugar deles. No terceiro mundo, os países subdesenvolvidos com Estado territorial ou sem Estado territorial. 

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Hegel definiu o ENIGMA na superfície da gramática (lógica concreta) de gramática de sentido oscilando entre o sentido e o grau zero de sentido:

“O enigma tem, pois, um sentido que é conhecido e nada há de misterioso na sua significação. Mas esta caracteriza-se, também, por ser composta com traços de caracteres e de propriedades que fazem parte do mundo exterior onde existem num estado disperso e que foram intencionalmente reunidos de maneira disparatada para impressionarem à primeira vista. Falta-lhes, por isso, unidade sintética subjetiva e a sua justaposição ou aproximação intencional é desprovida de sentido; por outro lado, exprimem, porém, uma tendência para  a unidade e, graças a isso, os traços aparentemente mais heterogêneos adquirem de novo um sentido e uma significação”. (Hegel. 1993: 226).

Um enigma do ‘O capital” é porque Marx começou a exposição gramática de gramática de sentido ou não-sentido da mercadoria na esfera da circulação, do capital mercantil. Ora, entre o grau zero do sentido da esfera do consumo, essa funcionando a partir do desejo egoísta [sob o domínio do princípio de prazer da lógica do Mal (Rawls: 412)] e a gramática da gramática de sentido do Bem se interpõe o <enigma virtual>. Marx  não para de pensar a prática política mundial virtual/territorial a partir da esfera da circulação das mercadorias:

“Le caractère mystique de la marchandise donc pas de as valeur d’usage. Il ne provient pas devantage des caractères qui déterninent la valeur. [...]. Enfin dès que les hommes travaillent d’une manière queconque les uns pour les autres, leus travail acquiert aussi une forme sociale. [...]. D’où provient donc le caractère énigmatique du produit du travail, dès qu’il revêt la forme d’une marchandise? Evidemment de cette forme elle-nmême. [...]. C’est seulement un rapport social déterminé des hommes entre eux qui revêt ici pour eux la forme fantastique d’um rapport des choses entre elles. [...]. C’est ce qu’on peut nommer le fétichieme attaché aux produits du travail, dés qu’il se présentent comme des marxchandises, fétichisme inseparable de cem ode de production”. (Marx. 1977: 68-69).

A gramática da gramática da mercadoria funda a tela gramatical narrativa da prática política mundial do capital mercantil como generalização com exceção, como mundialização da dessa prática política. A essência dela é gramática de gramática de sentido e não-sentido do fetichismo, quer dizer, uma essência perversa verdadeira que é autoprodução, isto é, potência e ato em ato do capital mercantil. Assim, esse capital torna-se constitutivo das relações técnicas de produção gramatical. Tal capital é determinante na produção da mais-valia virtual/IA. Bem. ele é o motor da realização da mais-valia/IA na esfera do consumo dos produtos virtuais, base de sua formação da taxa de lucro. Por outro lado, o capital/IA produtivo existe na esfera da superfície reprofunda da prática política mundial virtual/territorial. Assim, temos um capital feudal/IA análogo ao capital capitalista quanto gramática da gramática de sentido e não-sentido (enigma). Então, tem-se que admitir, com Marx, que estamos diante de um capital feudal/IA capitalista. Trata-se de um avanço no entendimento da prática política, agora, feudal/IA capitalista, em sua forma completa asiática. Enfim, o enigma da época atual deve ser explicado:

“O enigma pertence, sobretudo, à arte da palavra, mas também pode achar lugar nas artes plásticas, na arquitetura, na jardinagem ou na pintura. Pelas origens históricas, pertence ao oriente e àquela época de transição do simbolismo confuso e vago para a sabedoria e a generalidade mais consciente. Houve povos e épocas inteiras cujas delícias foram praticar e cultivar este género”. (Hegel. 1993: 226).                     

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Procuro resolver um enigma hegeliano brasileiro. Como foi possível criar e continuar desenvolvendo a <ciência política materialista> em um país no qual a elite econômica/política é do terceiro mundo, elite subdesenvolvida. Hegel diz que a lógica dialética, lógica concreta do concreto, é uma gramática de gramática d sentido, pois, invade a vida comum, e, portanto, a plurivocidade de práxis individual, que em seu movimento de autoprodução, como potência e ato em ato, constitui a prática política alemã paraconsistente (Newton da Costa; 2008), modelo hegemônico da prática política mundial:

“A linguagem se inseriu em tudo aquilo que se torna para ele [ser humano] em geral um interior, uma representação, em tudo aquilo de que ele se apropria, e o que ele torna linguagem e exprime nela contém de modo mais encoberto, mais misturado ou mais elaborado uma categoria; tão natural lhe é lógico, ou precisamente: o mesmo é a sua própria natureza particular. Mas se se contrapõe à natureza em geral, como o físico, ao espiritual, seria preciso dizer que o lógico é, ao contrário, o sobrenatural, que se insere em todo o comportamento natural do ser humano, no seu sentir, intuir, desejar, na sua necessidade, no seu impulso e, por meio disso, em geral, torna-o algo humano, ainda que apenas de modo formal, tornando-o representações e finalidades. É a vantagem de uma língua que ela possua uma riqueza de expressões lógicas, a saber, peculiares e separadas, para as próprias determinações do pensar; muitas das proposições e dos artigos já pertencem a tais relações que se baseiam no pensar; na sua formação, a língua chinesa não deve ter conseguido chegar aí de modo nenhum ou apenas insuficientemente; mas essas partículas aparecem de maneira inteiramente auxiliar, apenas um pouco mais desconexas do que os aumentos, sinais de flexão e coisa semelhante. Muito mais importante é que, numa língua, as determinações do pensar estejam destacadas em substantivos e verbos e, assim, tenham o selo das formas objetivas; nisso, a língua alemã tem muitas vantagens diante das outras línguas modernas, até mesmo algumas das suas palavras têm a propriedade adicional de não ter somente significados diversos, mas opostos, de modo que, nesse mesmo aspecto, não se pode deixar de perceber um espírito especulativo da língua; para o pensar, pode ser um prazer se deparar com tais palavras e encontrar, de forma ingênua, já lexicalmente, em uma palavra de significados opostos, a unificação de opostos que é resultado da especulação , embora seja paradoxal para o entendimento”. (Hegel. 2016: 32).

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Lenin estudou o, “A ciência da lógica” para aplicar na revolução russa:

“As categorias da lógica são <Abbreviaturren> (<epitomiert>, em outra passagem), de ‘infinidades de particularidades próprias da existência exterior e atividade’ (15). Estas categorias <dienen> por sua vez aos homens na prática (na atividade espiritual do conteúdo vivente, na produção e no intercambio’)”. (Lenine. 1984: 88).

Portanto, a lógica concreta serve para a autoprodução [potência e ato em ato] da prática política como plurivocidade de práxis individual:

“A lógica é idêntica à gramática em que para o principiante é uma coisa, y outra distinta para o estudioso da língua e das ciências em geral, y outra distinta para o que retorna àquela de volta desta”. (Lenine. 1984: 96).

Assim, chegamos ao conceito <gramática [lógica] de gramática de sentido e não-sentido do Bem, do Maul, ou do Bem e Maul, ao mesmo tempo, na prática política mundial>. O primeiro mundo tende a funcionar predominantemente pela gramática de gramática de sentido e não-sentido como o Bem como aspecto dominante e o Mal como aspecto dominado da prática política territorial/virtual. A investigação sobre a dialética da prática política no segundo mundo não chegou a sínteses razoáveis. O terceiro mundo se caracteriza pela gramática do Mal como aspecto principal e, assim, sua definição é que <ele é aquilo que não para de não pensar>, como práxis individual, podendo chegar ao grau zero da prática política gramatical, uma prática subpolítica regida por afecções como ira, medo, vingança etc. que se expressam em um campo de ideologias das telas midiáticas, quando há essa telas.

O <capital barroco /IA capitalista> é uma tela gramática e de gosto de sentido e não-sentido que estrutura e faz funcionar a prática política mundial que é, sobretudo, a prática política da grande potência weberiana (Weber668-670). O papel da fantasia e do fantasma estoicos [e de Marx] na gramática de gramática de sentido e não-sentido do Bem/Mal é essencial na estruturação e funcionamento da prática política da grande potência (no primeiro mundo) e do Estado mercantilista do segundo mundo.

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Fantasma e fantasia sensível são fenômenos da articulação, do laço social lacaniano, entre o modo de ser psíquico da práxis individual e a prática política gramatical mundial virtual/territorial. O fantasma estoico é “ inclinação da mente como a que tem lugar nos sonhos”, é “aquilo ao que nos movemos na atração ao ar”. Diz o estoico Crisipo:

 

“O fantástico é uma atração ao ar, uma modificação da alma que não é produzida por nenhum objeto da fantasia [...]; é algo como o que sucede com o que luta com a sombra e <echa> a mão no vazio; porque à fantasia responde um objeto da mesma [...]; porém, o fantástico não responde a nenhum objeto”         (Elorduy: 36).

 

A fantasia é um fenômeno objetivo da prática política e o fantasma um fenômeno subjetivo? Mais exatamente, a fantasia é o fenômeno da comunidade psíquica gramatical/retórica/ideológica da prática política. Já o fantasma é um fenômeno da comunidade psíquica gramatical do campo da práxis individual em relação de autonomia relativa com a comunidade objetiva da prática política.

 

o fantasma barroco é o modelo, por excelência, para se penar a gramática de gramática de sentido e não sentido, gramática e anarquia, ao mesmo tempo, na prática política. Calderón de La Barca fez uma gramática de gramática de sentido e do não-sentido, da ordem gramatical e da anarquia na prática política barroca universal da contradição aparentemente inconciliável civilização/barbárie:

 

“Segismundo – A tua voz me enternece, tua presença me encanta...eu te respeito por força. Quem és? Nada sei do mundo ...Esta torre me foi berço e sepulcro. Nunca vi nem falei senão a um homem e só por ele sei notícias do céu e da terra. Sou um homem para as feras e uma fera para os homens. Dos animais, aprendi política, e aconselhado pelos pássaros comtemplei os astros e apendi a medir os círculos”. (Calderon: 38).

 

O Principe desterrado na torre aprende a prática política da revolução barroca/gótica que é o voo em direção ás estrelas, isto é, o modo de ser psíquico da práxis individual da catedral gótica. Afasto da sociedade de corte, ele é uma um homem para as feras e uma besta para os homens, isto é, a imagem poética de  Plauto e popularizada na modernidade por Thomas Hobbes: <homo homini lúpus>. 

 

Calderon:

 

“Segismundo – Estranho é tudo que vejo...

 

Tudo que sinto e respiro...

 

É espanto o que admiro...

 

é tanto que já não creio...

 

Eu, em telas e brocados,

 

eu, cercado de criados,

 

um leito cheio de sedas,

 

gente pronta a me vestir...

 

Não sonho? Ou sim? É engano?

 

Bem sei que estou acordado.

 

Eu sou Segismundo...Não?

 

Céu ... o que é que foi mudado?

 

Que fez minha fantasia?

 

O que fizeram de mim?

 

Que houve enquanto eu dormia?

 

Isto que eu sou terá fim?

 

Não sei ...não posso saber...

 

Já não quero discutir...

 

Melhor deixar-me servir ...

 

E seja o que há de ser.” (Calderon:  54).

 

A fantasia do Principe barroco é fantasia ou objeto da prática política ou ´pertence à comunidade psíquica gramatical da práxis individual real?

 

“Soldado – Grande príncipe Segismundo, n´s te aclamamos senhor nosso. O teu pai, o grande Basílio, receando que os céus cumpram uma profecia que prevê a sua submissão a ti, pretende tirar-te a faculdade da ação e o direito que te pertence; quer que em teu lugar fique Astolfo. Com esse fim reunia a corte. Mas o povo com um nobre desprezo pela profecia que se atribuiu ao teu destino, vem buscar-te, para que, ajudado pelas suas armas, saias desta prisão para reaver a tua imperial coroa e poder. Sai, pois, que lá fora um exército numeroso de revoltados plebeus aguarda para te aclamar. A liberdade te espera. Não ouves as vozes da multidão? (Calderon: 77).   

 

A contradição entre o príncipe (filho) e o rei (pai) parece inconciliável, aos olhos da gramática de gramática de sentido do gosto clássico. A contradição inconciliável entre plebe e aristocracia se resolve na figura do Principe barroco legítimo. O príncipe barroco herdeiro da coroa é um efeito da gramática de gramática de sentido do Bem, do Um da multidão armada barroca/gótica? Ele sabe perdoar o pai/rei, ele é o antiÉdipo, ele é a revolução barroca/gótica para a multidão/soldado? :

 

Segismundo – [...] “Basta termos chegado a ver, apesar de todas as prudências, ajoelhado a meus pés um pai e derrubado um monarca. Foi veredito do céu; por mais que ele quisesse impedi-lo, nada pode fazer. Poderei eu, no entanto, que sou menor de idade, nos méritos e na sabedoria, dominar o meu destino? (ao Rei0 Ergue-te, senhor, e dá-me a tua mão”. (Calderon: 91-92).

 

No final a multidão/soldado se revela a revolução barroca/grotesca neoconcreta do poeta maranhense Ferreira Gullar:

 

“Solado – Se assim recompensas quem não te auxiliou, que me darás a mim que causei a rebelião no reino, libertando-te da prisão em que jazias?

 

Segismundo – A prisão. E para que não saias nunca de lá, hás de permanecer vigiado até a morte; estando a traição passada, já não preciso de traidor. (Calderon: 93).

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A aliança entre o capital mercantil e o Estado territorial moderno aparece como o fenômeno que é a lógica gramatical do ser e o nada, isto é, o grau zero do desenvolvimento imanente da formação social territorial no sentido de acumulação de capital a partir das relações técnicas de produção como potência e ato em ato na formação social da península ibérica:

“A descoberta da América e a circunavegação da África ofereceram à burguesia em ascenso um novo campo de ação. Os mercados da Índia e da china, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, de mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição. (Marx. sem data:22)

As relações exteriores aos povos aparecem como movidas pelo capital mercantil como relação técnica de produção na acumulação primitiva de capital. As relações exteriores entre as formações sociais territoriais aparecem como potência e ato em ato de uma gramática de gramática de sentido e não-sentido com páthos e ethos, Bem e Mal, ordem do capital e anarquia para as sociedades dos povos colonizados. <Ex nihilo nihil fit> pode ser potência e ato em ato como <devir> na acumulação mundial de capital?   

Hegel:

“<Ex nihilo nihil fit> é uma das proposições às quais se atribui grande significado na metafísica. Nisso pode-se ver ou apenas a tautologia sem conteúdo substancial [<gehaltslose>: nada é nada; ou, caso o <devir> devesse ter, nisso, o significado efetivo, então antes, não está presente, de fato, nenhum <devir>, na medida em que do <nada só nada devém>, pois, nisso, nada permanece nada. O devir contém que nada não permaneça nada, mas passe para seu outro, para o ser. – Se a Metafísica posterior, especialmente a cristã, rejeitou a proposição de que de nada devém nada, então ela afirmou uma passagem de nada para ser; por mais que ela afirmou uma passagem de nada para ser, por mais que ela tenha tomado também essa proposição de modo sintético ou de modo meramente representacional, mesmo assim está, na unificação mais imperfeita, também contido um ponto no qual ser e nada coincidem e diferencialidade deles desaparece. – A proposição <’De nada devém nada, nada é precisamente nada>’ tem sua importância própria pela sua oposição ao <devir> em geral e, com isso, também à criação do mundo a partir do nada. Aqueles que afirmam a proposição <Nada é precisamente nada>, a ponto de se exaltar por causa dela, não têm consciência de que, com isso, aderem ao <panteísmo> abstrato dos Eleatas e, de acordo com a Coisa, também ao spinozista. O ponto de vista filosófico segundo o qual vale como princípio ‘Ser é apenas ser, nada é apenas nada’, merece o nome de sistema de identidade; esta identidade abstrata é a essência do panteísmo”. (Hegel. 2016: 87).   

A metafísica cristã põe a tela gramatical narrativa religiosa (DEUS) no lugar do nada em relação à formação social territorial como prática política. Como isso é um evangelho idealista, é necessário resolver o problema pela ciência política materialista. Na ciência da história de Marx, o <ex nihilo nihil fit> pode ser, talvez a tela gramática narrativa do capital mercantil como produtor de mais-gozar, isto é, mais valia fiscal do Estado peninsular. A relação entre o capital mercantil (nada) e o ser da prática política peninsular é a unidade do ser e do nada como gramática de gramática dialética de sentido e não-sentido na história mundial, e sobretudo, europeia. Ser e nada da prática política virtual/territorial é a gramática de gramática de sentido e não-sentido, ordem e anarquia paraconsistente.      

 

 

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