José Paulo
A estrutura do mundo atual tem uma lógica de gramática de
sentido e não-sentido que restaura um velho vocabulário do século XX: primeiro
mundo, segundo mundo e terceiro-mundo. O primeiro é a superfície da prática
política da grande potência weberiana. (Weber. 1984: 668-670). O segundo mundo
é a superfície da prática política do Estado mercantilista. O terceiro é a
superfície da prática política de Estado territorial ou de povos sem Estado.
Aqui, começo a abordar esse objeto a partir da lógica gramatical retórica
hegeliana. O início tem que começar pelo terceiro mundo.
O terceiro mundo tem a o grupo dominante como efeito da
gramática do <não pare de não pensar> na realidade, que determina a
prática subpolítica dele. É o grau zero da criação de tela gramatical narrativa
da realidade. Como pensar essa realidade em termos de lógica gramatical? Hegel
aponta o caminho da gramática de gramática retórica barroca:
“Agora, onde e como se trata do ser e do nada, este terceiro
precisa estar presente; pois aqueles não subsistem por si, mas apenas no devir,
nesse terceiro. Porém, este terceiro tem múltiplas figuras empíricas, as quais
são postas de lado ou negligenciadas pela abstração a fim de fixar aqueles
produtos, o ser e o nada, cada um por si e mostrá-los protegidos contra o
passar”. (Hegel. 2016: 97).
O dominante e o dominado não conseguem ver a realidade
realmente existente de sua prática subpolítica:
“Com efeito, porém, caso também se represente de modo mais
preciso este ver, pode-se, então, dar-se conta facilmente de que, na claridade
absoluta, não se vê nem mais nem menos do que na escuridão absoluta, de que u
modo de ver, bem como o outro, é um ver puro, um ver nada. Luz pura e escuridão
pura são dois vazios, que são o mesmo”. (Hegel. 2016: 97).
A realidade solar de parte da África ou a escuridão pura
latino-americana determina modos de ver que não tem a gramática da gramática de
sentido e não-sentido do Bem e/ou do Mal. a anarquia gramatical é o modo de ver
dessas superfícies supracitada do terceiro mundo:
“apenas na luz determinada – e a luz é determinada pela
escuridão – logo , na luz turvada, igualmente apenas na escuridão determinada –
e a escuridão é determinada pela luz -, na escuridão iluminada, algo pode ser
diferenciado, porque apenas a luz turvada e a escuridão iluminada têm, nelas
mesmas, a diferença e, com isso, são ser determinado, ser aí [Dasein]. “(Hegel.
2016: 97).
A linguagem se inseriu em tudo aquilo que se torna para ele
[ser humano] em geral um interior, uma representação, em tudo aquilo de que ele
se apropria, e o que ele torna linguagem e exprime nela contém de modo mais
encoberto, mais misturado ou mais elaborado uma categoria; tão natural lhe é
lógico, ou precisamente: o mesmo é a sua própria natureza particular. Mas se se
contrapõe à natureza em geral, como o físico, ao espiritual, seria preciso
dizer que o lógico é, ao contrário, o sobrenatural, que se insere em todo o
comportamento natural do ser humano, no seu sentir, intuir, desejar, na sua
necessidade, no seu impulso e, por meio disso, em geral, torna-o algo humano,
ainda que apenas de modo formal, tornando-o representações e finalidades. É a
vantagem de uma língua que ela possua uma riqueza de expressões lógicas, a
saber, peculiares e separadas, para as próprias determinações do pensar; muitas
das proposições e dos artigos já pertencem a tais relações que se baseiam no
pensar; na sua formação, a língua chinesa não deve ter conseguido chegar aí de
modo nenhum ou apenas insuficientemente; mas essas partículas aparecem de
maneira inteiramente auxiliar, apenas um pouco mais desconexas do que os
aumentos, sinais de flexão e coisa semelhante. Muito mais importante é que,
numa língua, as determinações do pensar estejam destacadas em substantivos e
verbos e, assim, tenham o selo das formas objetivas; nisso, a língua alemã tem
muitas vantagens diante das outras línguas modernas, até mesmo algumas das suas
palavras têm a propriedade adicional de não ter somente significados diversos,
mas opostos, de modo que, nesse mesmo aspecto, não se pode deixar de perceber
um espírito especulativo da língua; para o pensar, pode ser um prazer se
deparar com tais palavras e encontrar, de forma ingênua, já lexicalmente, em
uma palavra de significados opostos, a unificação de opostos que é resultado da
especulação , embora seja paradoxal para o entendimento”. (Hegel. 2016: 32).
Eis a maravilhosa retórica barroca/ilustrada hegeliana:
“Assim, para trazer um exemplo da oposição fixa dessas
determinações de reflexão, a <luz> vale em geral como o que é apenas
positivo, a <escuridão>, porém, como que é apenas negativo. Mas a luz, em
sua expansão infinita, e na força de sua eficácia que descerra e vivifica, tem
essencialmente a natureza de sua negatividade absoluta. A escuridão , ao
contrário, enquanto não multíplice ou enquanto o seio da geração que não se
diferencia dentro de si mesmo, é o idêntico simples consigo, o positivo. Ela é
tomada como o apenas negativo no sentido de que , como mera ausência de luz,
ela não estaria presente de modo algum para a mesma, - de modo que a luz, ao se
relacionar com a escuridão , deve se relacionar não com um outro, mas puramente
consigo mesma, a escuridão, portanto, apenas deve desaparecer diante dela. Como
se sabe, porém, a luz é ofuscada pela escuridão até tornar-se cinza, e, além
dessa alteração meramente quantitativa, ela também sofre aquela qualitativa, de
ser determinada até tornar-se cor através da relação com a escuridão”;. (Hegel.
2017: 85).
A retórica dialética é a gramática de gramática de sentido e
não-sentido, ordem e anarquia das cores vivas, na superfície da prática
política mundial. O cristianismo paulino quer uma superfície solar de uma
prática política retórica celestial com a <cidade de Deus> de Santo
Agostinho. A retórica hegeliana fala de uma superfície da prática política que
nunca é solar, pois, a luz ofuscada na escuridão faz o cinza. O cinza é a “cor”
da superfície superficial quantitativa. A escuridão como falta de luz, é a superfície
reprofunda sem gramática de gramática de sentido do Bem ou do Mal. Ela é o
não-sentido puro como anarquia. Há uma superfície qualitativa com cores através
da relação da luz com a escuridão. É a superfície da prática política da
retórica dialética como revolução barroca. Ao contrário, a escuridão sem
incidência de luz é a superfície <reprofunda> de Rosa. (Bandeira da
Silveira. Julho/2024: cap. 2). Superfície dos fenômenos heteróclitos da
anarquia generalizada, da falta de gramática (lógica) de gramática de sentido
do Bem e/ou Mal:
“Assim, por exemplo, também não há <virtude> sem luta;
ela é, antes, a luta suprema, plenamente realizada; assim, ela não é apenas
virtude em >comparação> com o vício, mas é <nela mesma>
contraposição e luta em ato. Ou seja, o <vício> não é apenas <a
falta> da virtude – também a inocência é essa falta – e não é apenas
diferente da virtude para uma reflexão exterior, mas está contraposto a ela em
si mesmo, ele é <mau>. O mal consiste no repousar sobre si contra o bem; é
a negatividade positiva. Mas a inocência, enquanto falta tanto do bem quanto do
mal, é indiferente frente a ambas as determinações, não é nem positiva nem
negativa. Ao mesmo tempo, porém, essa falta precisa ser tomada também como
determinidade e por um lado, essa precisa ser considerada como a natureza
positiva de algo, enquanto se relaciona, por outro lado, com um contraposto e
todas as naturezas saem de sua inocência, de sua identidade indiferente
consigo, relacionam-se através de si mesmas com seu outro e, por causa disso,
vão ao fundo ou, em sentido positivo, regressam para dentro de seu fundamento”.
(Hegel. 2017: 85).
A superfície reprofunda da meia-noite encontra-se além da
gramática de gramática de sentido do bem e/ou mal. Ela é o estado de inocência
das classes baixas e população marginalizada. Há relação da virtude e d vício
nessa superfície da prática política armada dos de baixo? A virtude é um
fenômeno da superfície da lógica da gramática de sentido do Bem e/ou Mal. A
virtude da práxis política é potência e ato em ato na autoprodução da prática
política com região que vai de cinza ao colorido multifacetado da retórica
barroca na revolução barroca, (Bandeira da Silveira. Outubro/2023: cap.
3).
Então, temos a gramática de gramática retórica barroca da
estrutura do mundo da atualidade. Como traduzir Hegel para hoje?
2
A gramática do terceiro mundo do não pare de não pensar tem
uma tradução para lógica retórica barroca/ilustrada:
“Ser, puro ser. – sem nenhuma determinação ulterior. Em sua
imediatidade indeterminada, ele é igual a si mesmo e também não desigual frente
a outro; não tem diversidade alguma de si nem para fora. Através de uma
determinação ou um conteúdo qualquer qu seria nele diferenciado ou por meio do
qual ele seria posto como diferente de um outro, ele não seria fixado em sua
pureza. Ele é a indeterminidade e o vazio puros. Não há <nada> a intuir
nele, caso aqui se possa falar de intuir; ou ele é apenas este mesmo intuir intuir
puro, vazio. Tampouco há algo que se possa pensar ou ele é, igualmente, apenas
este pensar vazio. O ser, o imediato indeterminado é, de fato, <nada> e
nem mais nem menos do que nada”. (Hegel. 2016: 85).
A época feudal é o grau zero do desenvolvimento da gramática
de gramática de sentido do desenvolvimento econômico:
“Devem-se levar em consideração alguns fenômenos que s surgem
quando o ser e o nada são isolados um do outro e um é posto fora do âmbito do
outro, de modo que, com isso, o passar está negado”. Hegel. 2016: 980.
Há um modo de ser psíquico do ser e do nada puros, vazios de
sentido e não sentido, vazios da dialética do Bem e do Mal. Assim, não há o passar de uma época da história a
outra através das determinações da época a ser ultrapassada:
“A unidade, cujos momentos, ser e nada, são inseparáveis, é
ao mesmo tempo, diversa deles mesmos; assim, um <terceiro> frente a eles,
o qual em sua forma mais peculiar, é o <devir>”. (Hegel. 2016: 97).
O devier só existe a partir do momento que o ser e o nada se
constitui como uma unidade dialética de sentido e não-sentido. Então, ou o ser
ou nada aparecem como um no aspecto dominante da contradição principal e o
outro no aspecto dominado, e vice-versa. (Mao. 1976. V. 1: 369):
“<Passar é o mesmo que devir, só que, naquele, os dois, a
partir dos quais um passa para o outro, são representados mais como tais que
repousam um fora do outro e o passar é representado como tal que acontece
<entre> eles. Agora, onde e como se trata do ser e do nada este terceiro
necessita estar presente; pois aqueles não subsistem por si, mas apenas no
devir, nesse devir, nesse terceiro>. Porém, este terceiro tem uma plurivocidade
de figura empírica, as quais são postas de lado ou negligenciadas pela abstração
delas a fim de fixar aqueles seus produtos contra o passar”. (Hegel. 2016: 97).
O passar do feudalismo
para o capitalismo é análogo ao passar do terceiro mundo para o segundo mundo.
Não existe no terceiro mundo a unidade dialética de sentido entre o ser e o
nada, não existe a prática política estrutura e movida por uma unidade
dialética retórico/gramática barroco de sentido. Existe uma atividade da
subpolítica. O passar de ambos supracitados é autoproduzido <ex nihilo>? Ex nihilo pode ser
potência e ato em ato (Narbonne; 1994) de autoprodução da prática retórica
lógico/gramatical?
O nada pode ser algo
que advém do exterior da prática política do feudalismo? Antes de resolver esse
problema faço uma volta em espiral pela gramática de gramática retórica barroca
de sentido da atualidade:
Na superfície reprofunda da prática política mundial ocorre a
inversão na contradição principal entre o virtual, agora aspecto dominante, e o
territorial agora aspecto dominado. (Mao: 369-375). A prática política mundial
é um capo paraconsistente no qual o capital virtual/IA como relações técnicas
de produção chega a ser governo dos EUA. O que intriga a cultura é interpretar
porque Trump convidou as big techs para fazer parte de seu governo,
especialmente, Elon Musk.
Ora. Trump encontra-se determinado pelo colapso do Estado
desenvolvido da globalização liberal. Todavia, o equilíbrio de poder na prática
política territorial da América continua favorecendo este Estado. Assim, ele
fez uma aliança com o capital virtual para iniciar uma transição para a
autoprodução de um Estado mercantilista. A transição começa com a instalação de
um governo ditatorial mercantilista que governa por decretos presidenciais,
isto é, <ordens executivas>, um instrumento de um governo de exceção.
Trump se choca com a democracia do poder do sistema de tribunal administrativo
constitucional. (David:402-403).
A mais-valia virtual é o capital como potência e ato em ato é
a desrealização do capital como relação social de produção como matéria
(Plotino: 41) da sociedade capitalista e, sobretudo realização do capital
virtual/IA como, repito, potência e ato em ato na superfície reprofunda da
prática política mundial virtual/territorial.
Deleuze e Guattari estabeleceram a distinção entre mais-valia
humana e mais-valia e máquina, uma ideia de Maurice Clavel
“ao mesmo tempo em que se reconhece que as máquinas também
<trabalham> ou produzem valor, que elas sempre trabalharam, e que
trabalham cada vez mais em relação ao homem, que, assim, o homem deixa de ser
parte constitutiva do processo de produção para se tornar adjacente a esse
processo. Portanto, há uma mais-valia maquínica produzida pelo capital
constante, que se desenvolve com a automação e com a produtividade (..)”.
(Deleuze e G.: 279-280).
O aspecto principal da contradição principal da superfície
reprofunda da prática política mundial virtual/territorial tem dois fenômenos,
isto é, o capital/IA e o general intellect gramatical. Assim, a mais-valia
virtual é produzida por ambos, em uma junção homem/máquina, portanto, não se
trata apenas de mais-valia deuleziana.G e sim de mais-valia virtual/IA. A
utopia dos gramáticos da IA é que se alcance uma etapa na qual o general
intellect gramatical deixe de fazer parte da produção da mais-valia virtual.
Então, chegaríamos a mais-valia maquínica D/G propriamente dita.
O capital barroco/IA capitalista transforma a gramática de
sentido da estrutura do mundo. Antes, o mundo era uma superfície estruturada
com país desenvolvido, emergente e subdesenvolvido. Repito. agora, o mundo e
divide em primeiro mundo da grande potência weberiana, segundo mundo e terceiro
mundo. No primeiro, o Estado feudal/IA como a China. No segundo, várias
espécies de Estado mercantilistas [em regiões geoeconômicas e continentes
geográficos] distribuídos em camadas espessas e resilientes de uma gramática de
gramática de sentido do Bem e/ou Mal, postos em uma hierarquia rígida e
fixadora do lugar deles. No terceiro mundo, os países subdesenvolvidos com
Estado territorial ou sem Estado territorial.
3
Hegel definiu o ENIGMA na superfície da gramática (lógica
concreta) de gramática de sentido oscilando entre o sentido e o grau zero de
sentido:
“O enigma tem, pois, um sentido que é conhecido e nada há de
misterioso na sua significação. Mas esta caracteriza-se, também, por ser
composta com traços de caracteres e de propriedades que fazem parte do mundo
exterior onde existem num estado disperso e que foram intencionalmente reunidos
de maneira disparatada para impressionarem à primeira vista. Falta-lhes, por
isso, unidade sintética subjetiva e a sua justaposição ou aproximação
intencional é desprovida de sentido; por outro lado, exprimem, porém, uma tendência
para a unidade e, graças a isso, os
traços aparentemente mais heterogêneos adquirem de novo um sentido e uma
significação”. (Hegel. 1993: 226).
Um enigma do ‘O capital” é porque Marx começou a exposição
gramática de gramática de sentido ou não-sentido da mercadoria na esfera da
circulação, do capital mercantil. Ora, entre o grau zero do sentido da esfera
do consumo, essa funcionando a partir do desejo egoísta [sob o domínio do
princípio de prazer da lógica do Mal (Rawls: 412)] e a gramática da gramática
de sentido do Bem se interpõe o <enigma virtual>. Marx não para de pensar a prática política mundial
virtual/territorial a partir da esfera da circulação das mercadorias:
“Le caractère mystique de la marchandise donc pas de as
valeur d’usage. Il ne provient pas devantage des caractères qui déterninent la
valeur. [...]. Enfin dès que les hommes travaillent d’une manière queconque les
uns pour les autres, leus travail acquiert aussi une forme sociale. [...]. D’où
provient donc le caractère énigmatique du produit du travail, dès qu’il revêt
la forme d’une marchandise? Evidemment de cette forme elle-nmême. [...]. C’est
seulement un rapport social déterminé des hommes entre eux qui revêt ici pour
eux la forme fantastique d’um rapport des choses entre elles. [...]. C’est ce
qu’on peut nommer le fétichieme attaché aux produits du travail, dés qu’il se
présentent comme des marxchandises, fétichisme inseparable de cem ode de
production”. (Marx. 1977: 68-69).
A gramática da gramática da mercadoria funda a tela
gramatical narrativa da prática política mundial do capital mercantil como
generalização com exceção, como mundialização da dessa prática política. A
essência dela é gramática de gramática de sentido e não-sentido do fetichismo,
quer dizer, uma essência perversa verdadeira que é autoprodução, isto é,
potência e ato em ato do capital mercantil. Assim, esse capital torna-se
constitutivo das relações técnicas de produção gramatical. Tal capital é
determinante na produção da mais-valia virtual/IA. Bem. ele é o motor da
realização da mais-valia/IA na esfera do consumo dos produtos virtuais, base de
sua formação da taxa de lucro. Por outro lado, o capital/IA produtivo existe na
esfera da superfície reprofunda da prática política mundial
virtual/territorial. Assim, temos um capital feudal/IA análogo ao capital
capitalista quanto gramática da gramática de sentido e não-sentido (enigma).
Então, tem-se que admitir, com Marx, que estamos diante de um capital feudal/IA
capitalista. Trata-se de um avanço no entendimento da prática política, agora,
feudal/IA capitalista, em sua forma completa asiática. Enfim, o enigma da época
atual deve ser explicado:
“O enigma pertence, sobretudo, à arte da palavra, mas também
pode achar lugar nas artes plásticas, na arquitetura, na jardinagem ou na
pintura. Pelas origens históricas, pertence ao oriente e àquela época de
transição do simbolismo confuso e vago para a sabedoria e a generalidade mais
consciente. Houve povos e épocas inteiras cujas delícias foram praticar e
cultivar este género”. (Hegel. 1993: 226).
4
Procuro resolver um enigma hegeliano brasileiro. Como foi
possível criar e continuar desenvolvendo a <ciência política
materialista> em um país no qual a elite econômica/política é do terceiro
mundo, elite subdesenvolvida. Hegel diz que a lógica dialética, lógica concreta
do concreto, é uma gramática de gramática d sentido, pois, invade a vida comum,
e, portanto, a plurivocidade de práxis individual, que em seu movimento de
autoprodução, como potência e ato em ato, constitui a prática política alemã
paraconsistente (Newton da Costa; 2008), modelo hegemônico da prática política
mundial:
“A linguagem se inseriu em tudo aquilo que se torna para ele
[ser humano] em geral um interior, uma representação, em tudo aquilo de que ele
se apropria, e o que ele torna linguagem e exprime nela contém de modo mais
encoberto, mais misturado ou mais elaborado uma categoria; tão natural lhe é
lógico, ou precisamente: o mesmo é a sua própria natureza particular. Mas se se
contrapõe à natureza em geral, como o físico, ao espiritual, seria preciso
dizer que o lógico é, ao contrário, o sobrenatural, que se insere em todo o
comportamento natural do ser humano, no seu sentir, intuir, desejar, na sua
necessidade, no seu impulso e, por meio disso, em geral, torna-o algo humano,
ainda que apenas de modo formal, tornando-o representações e finalidades. É a
vantagem de uma língua que ela possua uma riqueza de expressões lógicas, a
saber, peculiares e separadas, para as próprias determinações do pensar; muitas
das proposições e dos artigos já pertencem a tais relações que se baseiam no
pensar; na sua formação, a língua chinesa não deve ter conseguido chegar aí de
modo nenhum ou apenas insuficientemente; mas essas partículas aparecem de
maneira inteiramente auxiliar, apenas um pouco mais desconexas do que os
aumentos, sinais de flexão e coisa semelhante. Muito mais importante é que,
numa língua, as determinações do pensar estejam destacadas em substantivos e
verbos e, assim, tenham o selo das formas objetivas; nisso, a língua alemã tem
muitas vantagens diante das outras línguas modernas, até mesmo algumas das suas
palavras têm a propriedade adicional de não ter somente significados diversos,
mas opostos, de modo que, nesse mesmo aspecto, não se pode deixar de perceber
um espírito especulativo da língua; para o pensar, pode ser um prazer se
deparar com tais palavras e encontrar, de forma ingênua, já lexicalmente, em
uma palavra de significados opostos, a unificação de opostos que é resultado da
especulação , embora seja paradoxal para o entendimento”. (Hegel. 2016: 32).
5
Lenin estudou o, “A ciência da lógica” para aplicar na
revolução russa:
“As categorias da lógica são <Abbreviaturren>
(<epitomiert>, em outra passagem), de ‘infinidades de particularidades
próprias da existência exterior e atividade’ (15). Estas categorias
<dienen> por sua vez aos homens na prática (na atividade espiritual do
conteúdo vivente, na produção e no intercambio’)”. (Lenine. 1984: 88).
Portanto, a lógica concreta serve para a autoprodução
[potência e ato em ato] da prática política como plurivocidade de práxis
individual:
“A lógica é idêntica à gramática em que para o principiante é
uma coisa, y outra distinta para o estudioso da língua e das ciências em geral,
y outra distinta para o que retorna àquela de volta desta”. (Lenine. 1984: 96).
Assim, chegamos ao conceito <gramática [lógica] de
gramática de sentido e não-sentido do Bem, do Maul, ou do Bem e Maul, ao mesmo
tempo, na prática política mundial>. O primeiro mundo tende a funcionar
predominantemente pela gramática de gramática de sentido e não-sentido como o
Bem como aspecto dominante e o Mal como aspecto dominado da prática política
territorial/virtual. A investigação sobre a dialética da prática política no
segundo mundo não chegou a sínteses razoáveis. O terceiro mundo se caracteriza
pela gramática do Mal como aspecto principal e, assim, sua definição é que
<ele é aquilo que não para de não pensar>, como práxis individual,
podendo chegar ao grau zero da prática política gramatical, uma prática
subpolítica regida por afecções como ira, medo, vingança etc. que se expressam
em um campo de ideologias das telas midiáticas, quando há essa telas.
O <capital barroco /IA capitalista> é uma tela
gramática e de gosto de sentido e não-sentido que estrutura e faz funcionar a
prática política mundial que é, sobretudo, a prática política da grande
potência weberiana (Weber668-670). O papel da fantasia e do fantasma estoicos
[e de Marx] na gramática de gramática de sentido e não-sentido do Bem/Mal é
essencial na estruturação e funcionamento da prática política da grande
potência (no primeiro mundo) e do Estado mercantilista do segundo mundo.
6
Fantasma e fantasia sensível são fenômenos da articulação, do
laço social lacaniano, entre o modo de ser psíquico da práxis individual e a
prática política gramatical mundial virtual/territorial. O fantasma estoico é “
inclinação da mente como a que tem lugar nos sonhos”, é “aquilo ao que nos
movemos na atração ao ar”. Diz o estoico Crisipo:
“O fantástico é uma atração ao ar, uma modificação da alma
que não é produzida por nenhum objeto da fantasia [...]; é algo como o que
sucede com o que luta com a sombra e <echa> a mão no vazio; porque à
fantasia responde um objeto da mesma [...]; porém, o fantástico não responde a
nenhum objeto” (Elorduy: 36).
A fantasia é um fenômeno objetivo da prática política e o
fantasma um fenômeno subjetivo? Mais exatamente, a fantasia é o fenômeno da
comunidade psíquica gramatical/retórica/ideológica da prática política. Já o
fantasma é um fenômeno da comunidade psíquica gramatical do campo da práxis
individual em relação de autonomia relativa com a comunidade objetiva da
prática política.
o fantasma barroco é o modelo, por excelência, para se penar
a gramática de gramática de sentido e não sentido, gramática e anarquia, ao
mesmo tempo, na prática política. Calderón de La Barca fez uma gramática de
gramática de sentido e do não-sentido, da ordem gramatical e da anarquia na
prática política barroca universal da contradição aparentemente inconciliável
civilização/barbárie:
“Segismundo – A tua voz me enternece, tua presença me
encanta...eu te respeito por força. Quem és? Nada sei do mundo ...Esta torre me
foi berço e sepulcro. Nunca vi nem falei senão a um homem e só por ele sei
notícias do céu e da terra. Sou um homem para as feras e uma fera para os
homens. Dos animais, aprendi política, e aconselhado pelos pássaros comtemplei
os astros e apendi a medir os círculos”. (Calderon: 38).
O Principe desterrado na torre aprende a prática política da
revolução barroca/gótica que é o voo em direção ás estrelas, isto é, o modo de
ser psíquico da práxis individual da catedral gótica. Afasto da sociedade de
corte, ele é uma um homem para as feras e uma besta para os homens, isto é, a
imagem poética de Plauto e popularizada
na modernidade por Thomas Hobbes: <homo homini lúpus>.
Calderon:
“Segismundo – Estranho é tudo que vejo...
Tudo que sinto e respiro...
É espanto o que admiro...
é tanto que já não creio...
Eu, em telas e brocados,
eu, cercado de criados,
um leito cheio de sedas,
gente pronta a me vestir...
Não sonho? Ou sim? É engano?
Bem sei que estou acordado.
Eu sou Segismundo...Não?
Céu ... o que é que foi mudado?
Que fez minha fantasia?
O que fizeram de mim?
Que houve enquanto eu dormia?
Isto que eu sou terá fim?
Não sei ...não posso saber...
Já não quero discutir...
Melhor deixar-me servir ...
E seja o que há de ser.” (Calderon: 54).
A fantasia do Principe barroco é fantasia ou objeto da
prática política ou ´pertence à comunidade psíquica gramatical da práxis
individual real?
“Soldado – Grande príncipe Segismundo, n´s te aclamamos
senhor nosso. O teu pai, o grande Basílio, receando que os céus cumpram uma
profecia que prevê a sua submissão a ti, pretende tirar-te a faculdade da ação
e o direito que te pertence; quer que em teu lugar fique Astolfo. Com esse fim
reunia a corte. Mas o povo com um nobre desprezo pela profecia que se atribuiu
ao teu destino, vem buscar-te, para que, ajudado pelas suas armas, saias desta
prisão para reaver a tua imperial coroa e poder. Sai, pois, que lá fora um
exército numeroso de revoltados plebeus aguarda para te aclamar. A liberdade te
espera. Não ouves as vozes da multidão? (Calderon: 77).
A contradição entre o príncipe (filho) e o rei (pai) parece
inconciliável, aos olhos da gramática de gramática de sentido do gosto
clássico. A contradição inconciliável entre plebe e aristocracia se resolve na
figura do Principe barroco legítimo. O príncipe barroco herdeiro da coroa é um
efeito da gramática de gramática de sentido do Bem, do Um da multidão armada
barroca/gótica? Ele sabe perdoar o pai/rei, ele é o antiÉdipo, ele é a
revolução barroca/gótica para a multidão/soldado? :
Segismundo – [...] “Basta termos chegado a ver, apesar de
todas as prudências, ajoelhado a meus pés um pai e derrubado um monarca. Foi
veredito do céu; por mais que ele quisesse impedi-lo, nada pode fazer. Poderei
eu, no entanto, que sou menor de idade, nos méritos e na sabedoria, dominar o
meu destino? (ao Rei0 Ergue-te, senhor, e dá-me a tua mão”. (Calderon: 91-92).
No final a multidão/soldado se revela a revolução
barroca/grotesca neoconcreta do poeta maranhense Ferreira Gullar:
“Solado – Se assim recompensas quem não te auxiliou, que me
darás a mim que causei a rebelião no reino, libertando-te da prisão em que
jazias?
Segismundo – A prisão. E para que não saias nunca de lá, hás
de permanecer vigiado até a morte; estando a traição passada, já não preciso de
traidor. (Calderon: 93).
6
A aliança entre o capital mercantil e o Estado territorial
moderno aparece como o fenômeno que é a lógica gramatical do ser e o nada, isto
é, o grau zero do desenvolvimento imanente da formação social territorial no
sentido de acumulação de capital a partir das relações técnicas de produção
como potência e ato em ato na formação social da península ibérica:
“A descoberta da América e a circunavegação da África
ofereceram à burguesia em ascenso um novo campo de ação. Os mercados da Índia e
da china, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios
de troca e, em geral, de mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até
então, ao comércio, à indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram
rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição.
(Marx. sem data:22)
As relações exteriores aos povos aparecem como movidas pelo
capital mercantil como relação técnica de produção na acumulação primitiva de
capital. As relações exteriores entre as formações sociais territoriais
aparecem como potência e ato em ato de uma gramática de gramática de sentido e
não-sentido com páthos e ethos, Bem e Mal, ordem do capital e anarquia para as
sociedades dos povos colonizados. <Ex nihilo nihil fit> pode ser potência
e ato em ato como <devir> na acumulação mundial de capital?
Hegel:
“<Ex nihilo nihil fit> é uma das proposições às quais
se atribui grande significado na metafísica. Nisso pode-se ver ou apenas a
tautologia sem conteúdo substancial [<gehaltslose>: nada é nada; ou, caso
o <devir> devesse ter, nisso, o significado efetivo, então antes, não
está presente, de fato, nenhum <devir>, na medida em que do <nada só
nada devém>, pois, nisso, nada permanece nada. O devir contém que nada não
permaneça nada, mas passe para seu outro, para o ser. – Se a Metafísica
posterior, especialmente a cristã, rejeitou a proposição de que de nada devém
nada, então ela afirmou uma passagem de nada para ser; por mais que ela afirmou
uma passagem de nada para ser, por mais que ela tenha tomado também essa
proposição de modo sintético ou de modo meramente representacional, mesmo assim
está, na unificação mais imperfeita, também contido um ponto no qual ser e nada
coincidem e diferencialidade deles desaparece. – A proposição <’De nada
devém nada, nada é precisamente nada>’ tem sua importância própria pela sua
oposição ao <devir> em geral e, com isso, também à criação do mundo a
partir do nada. Aqueles que afirmam a proposição <Nada é precisamente
nada>, a ponto de se exaltar por causa dela, não têm consciência de que, com
isso, aderem ao <panteísmo> abstrato dos Eleatas e, de acordo com a
Coisa, também ao spinozista. O ponto de vista filosófico segundo o qual vale
como princípio ‘Ser é apenas ser, nada é apenas nada’, merece o nome de sistema
de identidade; esta identidade abstrata é a essência do panteísmo”. (Hegel.
2016: 87).
A metafísica cristã põe a tela gramatical narrativa religiosa
(DEUS) no lugar do nada em relação à formação social territorial como prática
política. Como isso é um evangelho idealista, é necessário resolver o problema
pela ciência política materialista. Na ciência da história de Marx, o <ex
nihilo nihil fit> pode ser, talvez a tela gramática narrativa do capital
mercantil como produtor de mais-gozar, isto é, mais valia fiscal do Estado
peninsular. A relação entre o capital mercantil (nada) e o ser da prática
política peninsular é a unidade do ser e do nada como gramática de gramática
dialética de sentido e não-sentido na história mundial, e sobretudo, europeia. Ser
e nada da prática política virtual/territorial é a gramática de gramática de
sentido e não-sentido, ordem e anarquia paraconsistente.
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