José Paulo
Antes da ciência política materialista só se conhecia a noção
de luta de classe pura, de Marx e Engels. Seus programadores não conhecem o
conceito de luta de classe GRAMATICAL. No Brasil, os marxistas falam em luta de
classe com um uso retórico e/ou ideológico. A luta de classe pura deixou de
existir na realidade e na ciência desde o final da década de 1980. Tonou-se um
espectro de Marx, uma fantasia marxista que não é capaz de falar da realidade
mundial e dos países na atualidade. Ela é um modo de ser psíquico que “não para
de não pensar!”. Esse é o ponto onde se chegou na cultura brasileira do
terceiro mundo, cultura subdesenvolvida, que não gramaticalizou as ciências
gramaticais do homem e da IA...
A luta de classe gramatical existe e se realiza na prática
política do general intellect gramatical mundial (ocidente e Ásia) e prática em
geral do capital barroco/IA capitalista...
Com a ciência política materialista (Bandeia da Silveira.
Julho/2024), o paradigma da gramática [logica] de gramática de sentido e
não-sentido refaz e restaura o marxismo e a ciência do homem como mostro no
conceito de luta de classe gramatical. Ora. O conceito de tradição de Marx já é
tradição (tela gramatical narrativa plástica) - como mostrarei em seguida
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Marx:
‘A tradição de todas as gerações mortas oprime como pesadelo
o cérebro dos vivos. E justamente quando parecem empenhados em revolucionar-se
a si e as coisas, em criar algo que jamais existiu, precisamente nesses
períodos de crise revolucionária, os homens conjuram ansiosamente em seu
auxílio os espíritos do passado, tomando-lhes emprestado os nomes, os gritos de
guerra e as roupagens, a fim de apresentar-se nessa linguagem emprestada.
Assim, Lutero adotou a máscara do apóstolo Paulo, a Revolução de 1789-1814
vestiu-se alternadamente como a República romana e como o Império romano, e a
revolução de 1848 não soube fazer nada melhor do que parodiar ora 1789, ora a
tradição revolucionária de 1793-1795. De maneira idêntica, o principiante que
aprende um novo idioma traduz sempre as palavras deste idioma para a língua
natal; mas, só quando puder manejá-lo sem apelar para passado e esquecer sua
própria língua no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e
poderá produzir livremente nela”. (Marx. 1974: 335).
Marx fala do aprendizado de uma nova língua, de uma nova
gramática. Só quando tiver se constituído no cérebro do aprendiz uma tela
gramatical de uma nova língua, o indivíduo ´poderá produzir livremente a partir
da tela. A tradição revolucionária de uma época do passado pesa como chumbo no
cérebro dos vivos. Por quê?
“Acontece que uma definição de experiência acabou de sair de
minha caneta. Uma definição muito boa, creio: suponhamos que a tomemos como
ponto de partida. Falando de um modo lacônico, a experiência é <esse in
praeterito>. Lembrem-se, apenas mais uma vez e de uma vez por todas, que não
pretendemos significar qual seja a natureza secreta do fato mas, simplesmente,
aquilo que pensamos que ela é. Algum fato existe. Toda experiência compele o
conhecimento do leitor. Qual é, então, o fato que se apresenta a você? Pergunte
a si mesmo: é o passado. Um fato é um <fait accompli>: o seu <esse>
está no <praeterito>. O passado compele o presente, em alguma medida, no
mínimo. Se você se queixar ao Passado de que ele está errado e não é razoável,
ele se rirá. Ele não dá a mínima importância à Razão. Sua força é força bruta.
Desta forma, você é compelido, brutalmente compelido, a admitir que, no mundo
da experiência, há um elemento que é a força bruta. Neste caso, o que é força
bruta, o que parece ser? Deveríamos encontrar pouca dificuldade para responder
a isso, uma vez que estamos plenamente consciente (ou parecemos estar, o que é
tudo o que aqui nos interessa) de exercê-la nós mesmos. Pois, não importa quão
boa possa ser a justificativa que temos para um ato da vontade, quando passamos
para sua execução a razão não faz parte do trabalho: o que se tem é ação bruta.
Não podemos fazer esforço algum onde não sentimos resistência alguma, nenhuma
reação. O sentido de esforço é um sentido de dois lados, revelando ao mesmo
tempo algo interior a algo exterior. há uma binariedade na ideia de bruta; é
seu principal ingrediente. Pois a ideia de força bruta é pouco mais do que a de
reação, e esta é pura binariedade”> (Peirce: 23).
O fato da experiencia atual é o passado, um <fait
accompli>. O que é o passado? Ele advém no presente como gramática dos
mortos no cérebro dos vivos. Ele pesa como chumbo? A plurivocidade de gramática
do passado na tela gramatical cerebral age como força bruta na experiência,
isto é, na atualidade da plurivocidade de práxis individual [que como potência
e ato em ato (Narbonne: 1994)] que autoproduzem
a prática política nacional e/ou mundial virtual/territorial. O passado é uma gramática <brutalista>(Soriau:
281) compulsiva na atualidade, tela gramatical plástica (Wittgenstein: 148)
brutalista coercitiva na experiência da pratica politica realmente existente. [Freud
fala do sonho como uma experiência atual regida pelo princípio de prazer e
compulsão á repetição do passado como força bruta, brutalismo, de uma tela
gramatical narrativa brutalismo do sonhador]. A pratica política mundial é ação
da atualidade e reação brutalista do passado, que vai se simplificando como
linha e ponto das relações de força entre o passado e o atual em tempo de crise
estrutural da época que não quer morrer.
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Merleau-Ponty fala da gramática compulsiva do ser que faz o
mundo da prática política mundial gramatical, na minha interpretação, é claro:
“Então, se a questão não pode mais ser a do <na sit>,
ela se transforma na do <quid sir>, e nada mais resta senão procurar o
que é o mundo, a verdade e o ser, nos termos da cumplicidade que emos com eles.
Ao mesmo tempo que se renuncia à dúvida, também se renuncia à afirmação de uma
exterioridade absoluta, de um mundo ou de um Ser que fossem um indivíduo
maciço, voltamo-nos para esse Ser que duplica, em toda a sua extensão, nossos
pensamentos, já que são pensamentos de alguma coisa e, que eles próprios não são
nada, sendo, portanto, sentido e sentido do sentido. Não somente este sentido
que se vincula às palavras e pertence à ordem dos enunciados e das cosas ditas,
a uma região circunscrita do mundo, e certo gênero de Ser – mas sentido
universal, capaz de sustentar tanto operações lógicas e a linguagem como
desdobramento do mundo. ele será <aquilo sem o que> não haveria nem mundo
nem linguagem, nem o que quer que seja, será a essência. Quando se reporta do
mundo àquilo que o faz mundo, dos seres àquilo que os faz ser, o puro olhar,
que não subtende nada, que não tem atrás de si, como o de nossos olhos, as
tevas de um corpo e de um passado, não poderia aplicar-se a algo que esteja
diante de si sem restrição nem condição: àquilo que faz com que o mundo seja
mundo, a uma gramática imperiosa do ser , a núcleos de sentido indecomponíveis,
redes de propriedades inseparáveis”. (Merleau-Ponty. 1971:107).
Ponty faz pendant com Marx no fenômeno da gramática de
gramática de sentido do mundo da prática política mundial virtual/territorial.
Marx diz sobre a relação da gramática da compulsão à repetição do morto ou
passado no cérebro da práxis individual, isto é, em relação a gramática do vivo
ou atualidade:
“De maneira idêntica, o principiante que aprende um novo
idioma traduz sempre as palavras deste idioma para sua língua natal; mas , só
quando puder manejá-lo sem apelar para o passado e esquecer sua própria língua
no emprego da nova, terá assimilado o espírito desta última e poderá produzi
livremente nela”. (Marx. 1974:335).
A transição de uma época da prática política dos espíritos
dos mortos (fantasma do passado em Marx) para uma nova época é um conceito que
Gramsci teceu:
“O aspecto da crise moderna que se lamenta como <onda de
materialismo> está ligado ao que se chama de <crise de autoridade>. Se
a classe dominante perde o consenso, ou seja, não é mais <dirigente>, mas
unicamente <dominante>, detentora de pura força coercitiva, isto
significa exatamente que as grandes massas se destacaram das ideologias
tradicionais, não acreditam mais no que antes acreditavam etc. A crise consiste
justamente no fato de que o velho morre e o novo não pode nascer: neste
interregno, verificam-se os fenômenos patológicos [heteróclitos] mais
variados”. (Gramsci. 2014:187)
O dominante brutalista, força bruta de uma gramática dos
mortos define a velha época em ocaso. Assim, as massas não são mais articuladas
como hegemonia. O que isso significa? Que as massas se divorciam da ordem do
passado como gramática de gramática de sentido [e não-sentido] do Bem ou do
Mal, ou do Bem e do Mal, ao mesmo tempo, na mesma prática política, então, aí
advém o colapso da velha época? Gramsci fala da transição da hegemonia do
capitalismo liberal par a nova ordem do mercantilismo moderno do capital
europeu (Sombart: 83) e seus Estado mercantilista/neocolonialista que
redesenhou a geografia econômica do planeta. Note-se que os fenômenos
heteróclitos definem uma superfície reprofunda da escuridão sem luz (Hegel),
pois sem gramática de gramática de sentido do Bem e/ou Mal. São os fenômenos
variados do fascismo mundial. Na nossa atualidade, vive-se a transição da
hegemonia do mercantilismo do capital multinacional feudal (Big Techs,
inclusive) para a hegemonia de uma época do capital barroco/IA capitalista. [A
propósito! Um novo fascismo quer ser a classe política da grande potência do
Estado mercantilista feudal] O passado é as gramáticas mortas [em relação as
relações técnicas de produção da atualidade]. Há a autoprodução de novas
gramáticas de gramática de sentido, na qual o capital barroco/IA redefine o que
é capitalismo, isto é, capital produtivo gerador de mais-valia e mais-gozar
(Lacan. S. 16: 29, 30), ou seja, a relação da mais-valia pública com a espécie
humana e o capital/Ia. Há uma transformação na estrutura lógica gramatical do
Estado lacaniano. (Bandeira da Silveira. Agosto/2022, caps 12 e 16).
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O Estado lacaniano é acumulação de capital gramatical em uma
economia pública de gramática de gramática de sentido da democracia feudal do
dominante ou de uma democracia capista gramatical do dominado. Então, é
necessário reconceituar a gramática do Terceiro volume de “O capital” de Marx.
Pois, trata-se de ler Marx a partir da interpretação que a ciência política
materialista faz de “O capital” .A acumulação de capital fiscal ou público
transforma as várias espécies de mais valia econômica ou excedente em mais-gozar
do Estado lacaniano. O Estado lacaniano distribui o mais gozar na nova
sociedade capitalista [do capital barroco/IA capitalista (CB/IA capitalista] e
no aparelho de Estado capitalista gramatical. O CB/IA capitalista abre as
comportas da época que se avizinha no horizonte. Ele redefine a geografia
política gramatical do mundo: entre primeiro mundo (do CB/IA capitalista), o
segundo mundo de uma grande variedade de Estado mercantilista gramatical feudal
e o terceiro mundo dos povos com Estado territorial ou sem Estado territorial.
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Barroco, tela gramatical,
ensaios. EUA: amazon, Agosto/2022
BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Ciência política materialista.
EUA: amazon, Julho/2024
GRAMSCI António. Cadernos do Cárcere. V. 3. RJ: Civilização
Brasileira, 2014
HEGEL. Ciência da lógica. 1, Doutrina do ser. Petrópolis:
Vozes, 2026
MARX. Os Pensadores. 18 Brumário de Luís Bonaparte. SP; Abril
Cultural, 1974
MERLEAU-PONTY, Maurice. O visível e o invisível. SP: Perspectiva,
1971
NARBONNE, Jean-Marc. La métaphysique de Plotin. Paris: J.
Vrin, 1994
PEIRCE, Charles S. Semiótica. SP: Perspectiva, 2000
SOMBART, Werner. Eo apogeo del capitalismo. México: Fondo de
Cultura Económica, 1984
SOURIAU, Etienne. Vocabulaire D’Esthetique. Paris: PUF, 1990
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. SP: Abril
Cultural, 1975
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