segunda-feira, 27 de junho de 2016

DA DITADURA DO CAPITAL MUNDIAL AO ESTADO CRISTÃO (EVANGÉLICO)

 A revista Veja (29/06/2016) publicou uma matéria sobre o Brexit referindo-se às ideologias políticas como causa da maioria britânica vitoriosa: “Deu 51,9% pela saída do Reino Unido da União Europeia. Por sua decisão, foram chamados de praticamente todos os termos do dicionário de insultos políticos. Ignorantes, atrasados, preconceituosos, isolacionistas, reacionários, turrões, temerários, hidrófobos, xenófobos, racistas. E, naturalmente, fascistas, xingamento evocado hoje até em reuniões de grupos voluntários de jardinagem. E quem há de dizer que não eram nada disso? ”       
A Veja também usa o termo ditadura burocrática para falar da União Europeia. Esta é uma forma política objetiva tida como democrática na superfície política europeia. Ditadura burocrática europeia não se refere ao plano da política europeia, e sim à superfície da cultura política econômica europeia. Assim, o jornalismo de papel faz a passagem da política para a cultura política, algo que é um impossível para a tela eletrônico jornalística. Para a tela eletrônica jornalística, tal passagem é impossível, pois, tal tela gramatical eletrônica só trabalha com ideologia política e não consegue trabalhar com ideologia cultural política econômica. 
Em breve, a cultura política mundial não raciocinará mais a partir de antagonismo político ou econômico, mas somente com antagonismo cultural político econômico. O jornalismo econômico não poderá mais ser o discurso da besteira sobre um real econômico imaginado. O jornalismo político sucumbirá como discurso sobre um real político imaginado pelos jornalistas.
Brexit como antagonismo cultural político econômico é o antagonismo Reino Unido versusditadura do capital mundial personificado na União Europeia? Trata-se de uma ditadura neoliberal do globalismo que, desde a década de 1990, faz gato e sapato das nações, dos povos, dos trabalhadores, do capital monopolista nacional, dos Estados-nação. A resposta do real veio com o desejo Brexit das massas britânicas. Trata-se de uma revolta cultural política econômica da maioria do povo britânico contra a ditadura do capital neoliberal mundial. Não se trata do fim do globalismo, mas de um signo que sinaliza para uma mudança substantiva na lógica de reprodução de acumulação ampliada de capital.
Agora, o Estado nação do século XXI se apresenta como um fenômeno possível em um antagonismo político de equilíbrio com o capital mundial. Personificando o capital, a classe burguesa sem imaginação “pensa” que é o fim do capitalismo, ela “pensa” que se trata de forças de desintegração do capital globalista mundial. Preguiçosa, a classe burguesa esquece que a Nova Ordem Mundial é aquela da trans-subjetivação das massas articuladas ao capital digitalis mundial. Ela não sabe que a reprodução física ampliada do capital faz pendant com a reprodução ampliada cultural política econômica. O Brexit mexe com ambas reproduções, mas altera substantivamente a reprodução ampliada cultural política econômica mundial.
Um outro fenômeno cultural político econômico com força de realidade ocorre na América Latina, sendo mais visível no Brasil. Neste país, os evangélicos se constituem em um bloco de poder cada vez mais influente na política, mas principalmente na cultura política luso-brasileira fundada por D. Pedro I na década de 1820 e continuada por D. Pedro II e por meios republicanos ditatoriais na era pós-monárquica. Hoje, tal cultura política luso-brasileira vive a lógica de seu desmoronamento. A crise brasileira do século XXI é aquela da Ordem Luso-Brasileira.
Tal crise brasileira histérica fez emergir o bolivarianismo multiculturalista como utopia alternativa ao desaparecimento da cultura luso-brasileira. O bolivarianismo percebeu que a crise brasileira era a crise do Estado nacional luso-brasileiro. Daí uma utopia prática de construção de um Estado bolivariano latino-americano no território trans-subjetivo das massas brasileiras. Tal utopia possível passou para um processo de autodissolução com a crise da economia industrial brasileira e latino-americana. Como sintoma, o MERCOSUL perdeu toda a consistência cultural política econômica – como força de realidade – que tinha na década de 1980.
Com o fracasso do bolivarianismo, as pontes para a montanha (a construção de um Estado nacional do século XXI) poderia se tornar visível se houvessem forças nacionais culturais políticas palpáveis e consistentes. Se esperava que a comunidade jurídica com seu ativismo Lava Jato fosse um sintoma de tais forças nacionais. A comunidade jurídica tem um orçamento estatal de 270 bilhões de reais. Trata-se da comunidade cultural política intelectual mais preparada do país. E, no entanto, ela está desperdiçando toda sua energia narcísica na repressão policial ao sistema de corrupção montado pela classe política bolivariana/peemedebista. Ela é uma força ancilar da política personificada na tela eletrônica. Se tornou uma personagem-herói do romance político /policial eletrônico cujo  modelo literário evoca o nosso Rubens Fonseca.
A crise nas palavras de um economista eletrônico paulista é: “a curto prazo já morremos”. A física geopolítica há mais de 2 anos vem mostrando que o significante Brasil colonial Pedro I havia entrado em um processo de autodissolução. A física foi ignorada pelo jornalismo e a cultura intelectual, em geral. Se as massas intelectuais tivessem trans-subjetivado a física geopolítica, talvez, forças culturais políticas econômicas tivessem surgido com a utopia de construção de um Estado-nação brasileiro do século XXI. Agora, Inês é morta, e que os mortos enterrem seus mortos!
No vácuo da crise luso-brasileira criado pelo bolivarianismo multiculturalista latino, a máquina psicopática evangélica (os atores do século XXI são máquinas psicopáticas, não canso de dizer) avança com sua utopia de um Estado Cristão mundial na América Latina. Já abordei tal fenômeno em um texto do Facebook na página Nova Gazeta Renana Digital. A autodissolução da Ordem Luso-Brasileira é um território trans-subjetivo que dará passagem para uma outra Ordem. Neste aspecto a crise brasileira guarda uma analogia com a crise do século XIX brasileiro e latino-americano. A utopia de uma Ordem cultural política econômica evangélica é aquela de instalação de um Estado Cristão de uma nova espécie, um Estado Cristão latino-americano do século XXI surgindo como modelo no território brasileiro.
O leitor deve atentar que o antagonismo cultural político econômico bolivarianismo multiculturalista versus evangélicos tem uma força de realidade que suprassume a política da tela gramatical eletrônica. Esta cria e recria pelo automatismo industrial compulsivo uma semblância ideológica cultural política que é uma causa fatal da falta de solução laica para a crise da Ordem Luso-Brasileira.
No Brasil a partir de 2013, a multidão urbana (autor) se apresentou na rua pedindo um novo pacto cultural político laico. Mas os atores laicos (classe política laica), não ouviram, pois, já morrem a curto prazo. Assim, o Estado Cristão surge como o fantasma atractor do futuro no horizonte do desmoronamento do Estado nacional/colonial luso-brasileiro.
A dissolução da Ordem Luso-Brasileira significará a lógica do desmoronamento do português como língua normativa (norma culta), como dispositivo trans-subjetivo cultural político de expressão linguística das massas intelectuais e também das massas manuais? Se estivesse com sua saúde restabelecida a minha amiga Lia Wyler poderia entra nesse debate procedural público. O leitor se beneficiará muitíssimo com a leitura do livro de Lia:  Línguas, poetas e bacharéis. Uma crônica da tradução no Brasil.                          
               

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