quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Estado e capital - homem da técnica e homem gramatical - dialética gramatical

 

José Paulo b.  

 

A analogia entre o termo <bom> e seus predicados aristotélicos e o significante fenomênico gramatical clareia a prática política do Estado e do capital:

“Considerando-se também as classes de predicados que o termo significa, procurando ver se são as mesmas em todos os casos. Porquanto, se não forem as mesmas, o termo é será evidentemente ambíguo. Por exemplo, <bom> no caso de alimentos, significa <que causa prazer>, e, no caso de medicamentos, <que promove a saúde>, ao passo que se o aplicarmos à alma, significará a posse de certa qualidade, como a de ser temperante, corajoso ou justo; e do mesmo modo quando aplicado ao <homem> (Aristóteles. 1973: 24).

O Estado mercantilista-capitalista é um significante ambíguo. Ele funciona pela lógica da gramática de jogos de sentido do significante na foraclusão (Lacan. 1966:551 )do princípio do prazer e do desprazer (Reich:44), ao mesmo tempo, na prática política da relação Estado e capital. O princípio de prazer aparece na relação entre mercantilismo e capitalismo como o último servindo aos interesses econômicos e realização de desejos de poder do Estado mercantilista territorial nacional, como grande potência weberiana (Weber:668). O desprazer aparece na relação entre Estados que taxam o lucro dos capitais e mais-gozar, de um Estado em relação aos de outros Estados, vice-versa. Assim, a lógica de gramática de sentido é boa e não é, ao mesmo tempo, o significante possui a ambiguidade dialética pela relação dos termos antagônicos. Em todo significante dialético, os predicados são pares antagônicos: boa e má, bem e mal, ethos e páthos, saúde e doença nietzschianos etc. O significante tem qualidades pois, ele é corpo e alma. Ele pode ser justo ou injusto. O aparelho de Estado pode ser justo na distribuição da mais-valia gramatical fiscal (mais-gozar gramatical) ou injusto. Aí encontra-se a forma de governo do significante que pode ser democrática legítima ou tirânica/despótica como perversão individualista (Wolff: 134), uma democracia de direitos ao mais-gozar do dominado perverso, ou do dominante/dominado do homem gramatical: governante e governado.     

O significante fenomênico gramatical Estado mercantilista/capitalista existe e funciona em sua prática política gramatical, retórica, ideológica pelo <princípio da utilidade> da gramática de gramática de sentido da essência perversa do homem gramatical aristotélico:

"A natureza colocou o gênero humano sob o domínio de dois senhores soberanos: a <dor> e o <prazer>. Somente a eles compete apontar o que devemos fazer, bem como determinar o que na realidade faremos. Ao trono desses dois senhores está vinculada, por uma parte, a norma que distingue o que é reto do que é errado, e, por outra, a cadeia de causas e dos efeitos”. (Bentham: 9).

A cadeia de causas e efeitos do significante Estado mercantilista/capitalista é potência e ato em ato (Norbonne:31), isto é, autoprodução da prática política gramatical mundial. O bom [e o mau]:

Por vezes significa o que acontece em determinada ocasião, como, por exemplo, o <bom> que acontece na ocasião oportuna, pois ao que acontece na ocasião oportuna chamamos <bom>. (Aristóteles. 1973: 24).

O que acontece em determinada ocasião oportuna define a conjuntura histórica gramatical. (Poulantzas. 1977: 90). Por que oportuna? Uma conjuntura pode ser inoportuna se ela for regida pela gramática de gramática de sentido e não-sentido <sgramaticatura> (Gramsci. 1977:), anarquia gramatical como estratégia e táticas da classe dominante como no velho fascismo e no novo fascismo:

“O problema deve ser posto de outra maneira, isto é, nos termos da <disciplina da historicidade da linguagem>, quando for o caso das  <sgramaticaturas> (que são faltas de <disciplina mental>, neolalismo, particularismo provincial, jargão etc.), ou em outros termos (no caso posto pelo ensaio de Croce, o erro é estabelecido pelo seguinte: uma tal proposição pode aparecer na representação de um <louco>, de um anormal etc., e adquirir valor expressivo absoluto; como representar alguém que não seja <lógico> senão fazendo com que ele diga <coisas ilógicas?). na realidade, tudo o que não é <gramaticalmente exato> pode também ser justificado do ponto de vista estético, lógico etc., contanto que seja visto não na lógica particular da expressão imediatamente mecânica, mas como elemento de uma representação mais ampla e compreensiva” (Gramsci. 1977. V. 3:2341).

O velho fascismo se enquadra no significante fenomênico gramatical da lógica de gramática de sentido d Estado mercantilista europeu colonial. O novo fascismo representa a lógica de gramática supracitada acima da cadeia de causas e efeitos de Gramsci das sgramaticaturas co0mo estratégia e táticas de plurivocidade de práxis individual fascista na prática política gramatical mundial. Assim, trata-se de uma conjuntura inoportuna para a evolução e desenvolvimento da democracia constitucional gramatical mundial.

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Gramsci diz que a gramática normativa unifica territorialmente e culturalmente uma nação. Assim, ele diz que gramáticas espontâneas e sgrammaticaturas (falta de gramática) são significantes fenomênicos que põe e repõe o problema da ordem política versus anarquia política. A ideia de Gramsci parece ser conservadora gramaticalmente. Pois, a ordem gramatical versus anarquia gramatical em uma estrutura dialética dominante e dominado, governante e governado, não necessita ser logicamente desintegrada para a solução da contradição. A gramática de gramática de sentido da ordem (Bem) gramatical versus anarquia (Mal gramatical) pode seguir a lógica nietzschiana de que do mal advém o bem. como refletir isso no ´problema da íngua como forma de governo?

Na Amazônia, ainda se fala a língua geral criada por tupis e jesuítas. A língua luso-brasileira ainda é a ditadura dos gramáticos nas escolas pública para crianças e adolescentes. Em outras regiões e localidades se falam línguas indígenas ou dos sertões. O aparelho de Estado funciona como hegemonia e dominação da elite gramatical que inclusive usa o inglês como sua língua principal. Trata-se de uma forma de governo linguístico de uma democracia do dominante cosmopolita e avessa a língua nacional popular de um Lima Barreto e um Guimarães Rosa. Então, qual a forma de governo democrático que crie uma unidade na plurivocidade de gramática normativa oficial da classe dominante e de outras ordens gramaticais da terceira margem do rio.

A   Forma de governo tem que ser uma democracia federalista linguística como a dos EUA, mas essa é incompleta, pois, há o hegemonismo da língua inglesa na prática política linguística federal e provincial A revolução barroca gramatical brasileira deve estabelecer uma prática linguística com uma plurivocidade de língua oficial nacional, regional e tribal.

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Om general intellect gramatical aristotélico é a prática política gramatical milenar da civilização ocidental com endoxa [campo da doxa geral] e da filosofia e dos saberes da alta cultura grega da lógica gramatical de sentido do ethos e phatos, bom e mau, bem e mal, lógica e paralogica:

“um exemplo de proposição é: <o conhecimento dos opostos é ou não o mesmo?”. (Aristóteles. 1973: 21).

Na prática política da forma de governo os opostos são contidos na estrutura gramat5ical dialética dois aspectos da contradição principal (Mao369): aspecto do dominante e aspecto do dominado. Há a contradição simples da contradição maoista em relação à contradição hegeliana da tese, antítese e síntese. A contradição da contradição pode ser derivada da contradição da contradição da gramática de gramática de sentido da justiça, em Aristóteles:

“Do mesmo modo, também a endoxa com plurivocidade de práxis individual que contradizem os contrários da endoxa geral passarão por opiniões gerais; porque se é opinião geral que se deve fazer o bem ao amigo, será também opinião geral que não se deve prejudicar o amigo. Aqui causar dano ao amigo é contrário à opinião geral, e que não se deve causar-lhe prejudicá-lo é a contraditória desse contrário. E da mesma forma, se se deve fazer bem ao amigo, não se deve fazer bem ao inimigo[<gramatical>]; esta é também a contraditória da opinião . contrária a geral: a contrária seria que se devesse fazer o bem ao inimigo. E analogicamente nos demais casos”. (Aristóteles. 1973: 18).                                 

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A contradição materialista capital e trabalho é definida como aspecto do dominante e do dominado da sociedade capitalista. Sua solução requer a transição socialista na qual capital e trabalho operários são desintegrados e ao fim desse processo se encontra o modo de produção comunista pós-moderno. A contradição da contradição materialista é a contradição barroca da conciliação entre os contrários aparentemente inconciliáveis. (Hatzfeld: 61). A contradição pratica objetiva asiática da contradição materialista é uma espécie de contradição barroca:

“Até agora, a análise e a síntese não foram claramente definidas. A análise é mais clara, mas pouco foi dito sobre a síntese. Tive uma conversa com Ai Ssu-ch’i. Ele disse que hoje só falam sobre síntese e análise conceituais, e não falam sobre a síntese e análise práticas objetivas. Como analisamos e sintetizamos o Partido Comunista e o Kuomintang, o proletariado e a burguesia, os proprietários de terras e os camponeses, os chineses e os imperialistas? Como fazemos isso, no caso do Partido Comunista e do Kuomintang?”. (Zizek. 2008: 219).

A contradição prática objetiva é a lógica de gramática de sentido a partir da qual se cria e recria uma prática política da sociedade chinesa da atualidade. Ela é uma espécie de contradição barroca pura. Outro significante fenomênico é a contradição barroca gramatical da contradição asiática. A contradição gramatical cria e recria o campo histórica da atualidade mundial. <Significantes fenomênicos gramaticais> passam a povoar o campo das práticas políticas gramaticais como: capital mercantil gramatical, general intellect gramatical e o Estado mercantilista/capitalista gramatical. O capital mercantilista gramatical e o general intellect gramatical constituem as relações técnicas e produção da IA/gramatical iniciando o século XXI.        

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Poulantzas fez a gramática do Estado capitalista sem predicado. O Estado capitalista é um significante fenomênico que redefine o Estado burguês como aparelho de Estado e poder de Estado. (Balibar:94):

“En précisant certaines de mês formulations antérieures, je dirai que l”État, capitaliste en l’occurrence, ne doit pas être considéré comme une entité intrinsèque mais, comme c’est d’ailleus le cas pour le <capital>, comme un rappórt, plus exactement comme la condensation matérielle d’un rapórt de forçes entre classes et fractions de classe, tel qu’il s’exprime, de façon spécifeque toujours, au sein de l’Etat”. (Poulantzas. 1978: 141).

Há uma evolução do Estado capitalista sem predicado que adquire no século 21 forma de uma prática política GRAMATICAL planetária. Assim temos hoje o Estado mercantilista/capitalista gramatical, que restaura em uma gramática de gramática de sentido paraconsistente (Newton da Costa; 2008) GRAMATICAL como significante fenomênico gramatical que restaura mais completamente o Estado capitalista de Poulantzas: <como uma relação gramatical, mais exatamente como a condensação material de aparelho gramatical  de uma relação de forças gramaticais entre classes e frações de classe gramaticais, que se atualizam especificamente no seio do Estado mercantilista/capitalista gramatical. O colapso final do Estado capitalista sem predicado de Poulantzas é um fenômeno que inaugura a conjuntura gramatical da atualidade. Sua concepção substancialista de Estado capitalista deu lugar para uma concepção de ESTADO CAPITALISTA segundo a lógica de gramática de sentido de ethos e páthos, de Bem e Mal, de lógica e paralógica (Newton da Costa. 2019:20), de gramatica e sgrammaticatura,  de sentido e não-sentido, de gramática/retórica/ideologia gramatical da prática política  gramatical mundial da terceira década do século XXI.

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Trata-se de abordar problemas de dialética irrevogáveis da nossa atualidade:

“Um problema de dialética é um tema de investigação que contribui para a escolha ou a rejeição de alguma coisa, ou ainda para a verdade e o conhecimento, e isso quer por si mesmo, quer como ajuda para a solução de algum outro problema do mesmo tipo”. (Aristóteles. 1973: 19).

Um problema irrevogável da realidade mundial consiste na separação entre primeiro mundo das relações técnicas de produção e o primeiro mundo gramatical. O primeiro mundo técnico não é suficiente para criar e recriar o primeiro mundo gramatical. O Estado integral do primeiro mundo como aparelhos de hegemonia (Buci-Gluckmann: 114) não tem como função criar o primeiro mundo gramatical. A função é criar e recriar a unidade territorial e cultural do dominante. Assim, outro paradigma explica o primeiro mundo gramatical em país subdesenvolvido industrial e dependente do primeiro mundo da técnica mais avançada, o primeiro mundo gramatical de hoje só é possível por causa do desenvolvimento do capitalismo virtual do primeiro mundo da técnica. O <homem da técnica> (Spengler; 1958) se separa do homem gramatical aristotélico no mercantilismo/capitalista de hoje. Portanto, somente o paradigma da gramática de gramática de sentido pode dar conta da contemporaneidade o século XXI de hoje,

Lenin:

“As categorias da lógica são ,abbreviaturen> (<epitomiert>, em outra parte), de ‘infinidade de particularidades próprias da existência exterior e atividade. Estas categorias servem, por sua vez, aos homens na prática (‘na atividade espiritual d conteúdo vivente, na produção e no intercambio)”. (Lenine. 1984: 88).

A lógica de gramática de sentido leninista vai além da banalidade do homem da técnica:

“A logica não é a ciência das formas externas do pensamento, senão das leis que regem o desenvolvimento ‘de todas as coisas materiais, naturais, espirituais; isto é, o desenvolvimento de todo o conteúdo concreto do mundo e de seu conhecimento, ou seja, a soma e compêndio, a conclusão d <história> do conhecimento do mundo”. (Lenine. 1984: 90).

A lógica é, sobretudo, estrutura o significante fenomênico gramatical como práxis individual e prática política gramaticais etc.:

“A logica se assemelha à gramática em que para o principiante é uma coisa, e outra para o [gramático] conhecedor da língua (e das línguas) e do espírito da linguagem”. (Lenine. 1984: 96).

Lenin resolveu o problema da separação irrevogável entre o homem da técnica de Spengler e o homem gramatical aristotélico:

“A linguagem é mais rica entre os povos em estado primitivo, subdesenvolvido – a linguagem se empobrece com o avanço da civilização e o desenvolvimento da gramática”. (Lenine. 1984:294).

O primeiro mundo do capital mercantilista gramatical, do general intellect gramatical e do Estado mercantilista/capitalista se separa do primeiro mundo de gramática, retórica e campo de ideologias gramaticais em um mundo de globalização da práxis individual e prática política gramaticais. Portanto, Lenin resolveu o problema de dia ética mais irrevogável da contemporaneidade.           

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O campo mundial das IAs põe e repõe um problema de dialética gramatical da ordem de um novo trágico. O problema da distinção entre a linguagem de máquina IA e a língua nacional do homem gramatical. A linguagem de máquina jamais conseguirá viver - como o homem, mulheres e crianças vivem, a experiência concreta da língua nacional falada ou escrita pelo homem gramatical dialético. A “cultura” da IA não é a cultura do homem gramatical. ela, a rigor, não é cultura em nenhum sentido existente.

A IA será instrumentalizada pelo homem técnico que não se confunde como o general intellect gramatical do homem gramatical aristotélico. As elites de poder dos países do primeiro mundo das relações técnicas de produção da IA gramatical usarão essas para criar uma realidade planetária de dominação e exploração sobre a espécie humana, tela gramatical narrativa de linguagem de máquina, obscena e indescritível até agora. O que resta, como último recurso para a nossa espécie, para o general intellect gramatical da espécie humana?

Resta a revolução barroca/grotesco criada poeticamente por Ferreira Gullar e contida na tela gramatical narrativa da ciência política materialista paraconsistente do homem gramatical do primeiro mundo gramatical do subdesenvolvido? 

 

BALIBAR, Étienne. Cinq études du matérialisme historique. Paris: Maspero, 1974

BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. SP: Abril Cultural, 1974

BUCI-GLUCKSMANN, Chistine. Gramsci et l’État. Paris: Fayard, 1975

GRAMSCI, António. Quaderni del Carcere. v. 3. Tourino: Einaudi, 1977

HATZFELD, Helmut. Estudos sobre o barroco. SP: Perspectiva, 1988

LACAN, Jacques. Écrits. Paris: Seuil, 1966

LENINE, Oeuvres. V. 38. Cahiers philosophiques. Paris: Éditions Sociales, 1984

MAO TSE-TOUNG. Oeuvres Choisies. V. 1. De la contradiction. Pekin: Editions en Langues Etrangeres, 1976

NARBONNE, Jean-Marc. La métaphysique de Plotin. Paris: J. Vrin, 1994

NEWTON DA COSTA. Ensaio sobre os fundamentos da lógica. SP: Hucitec, 2008

NEWTON DA COSTA. Lógica indutiva e probabilidade. SP: Hucitec, 2019

POULANTZAS, Nicos. L’État, le pouvoir, le socialisme. Paris: PUF, 1978

REICH, Wilheim. Materialismo histórico e psicanálise. Lisboa: Pre3sença, 1973

SPENGLER, Oswald. L’homme et la technique. Paris: Gallimard, 1958

WEBER, Max. Economia y Sociedad. México: Fondo de Cultura Econo1984mica

WOLFF, Francis. Aristóteles e a política. SP: Discurso Editorial, 1999

ZIZEK, Alavoj. Apresenta. Mao sobre a prática e a contradição. RJ: Zahar, 2008    

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

homem gramatical - jogos de sentido da dialética colonial

 

José Paulo 

 

O objeto da lógica de Sócrates, Platão e Aristóteles é a comunidade política como forma de governo e prática política:

“seja que todas as ações da espécie humana em sua totalidade se fazem com a vista posta em algo que os homens creem ser um bem [...] a comunidade superior a todas a que inclui em si todas as demais deve fazer isto em um grau supremo por cima de todas, e aspira ao mais alto de todos os bens; e essa é a comunidade chamada polis, a comunidade política”. (Aristoteles.1982:657).

Bem! A prática política é a comunidade política do homem racional, com logos:

“O homem é o único ser vivo que possuiu logos, esse meio de comunicação racional que lhe permite estabelecer acordos sobre o justo e o injusto, o adequado ou não, o melhor e o pior”          . (Samaranch:192).

A forma de governo da prática política do justo (Justiça) e antagonismo com o injusto (injustiça) é a democracia constitucional:

“De modo que, uma vez considerada exaustivamente esta forma elementar de associação humana, lhe seja possível abordar a superior questão da <politeia>, a constituição ou modo de organização da <polis>, <começando de novo> ou <adaptando um ponto de vista de partido distinto”. (Samaranch: 190).

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O que é o ser humano que está diante da lógica aristotélica? O homem detentor de logos. Mas o que é o logos aristotélico?

Aristóteles:

“Assim, é uma propriedade do homem o ser capaz de aprender gramática: porque se A é um homem, é capaz de aprender gramática, e, se é capaz de aprender gramática, é um homem”. (Aristóteles. 1973: 14).

O homem aristotélico, portanto, é o homem gramatical. Na Idade Média, o logos gramatical aristotélico se tornou paradigma da prática política mundial:

“Par la suíte la <logique modernorum a été appelée logique <terministe> en fonction de son innovation principale (la théorie des propriétés des termes) et pour la distinguer de la sémantique des tenants de la gramaiere spéculative (<grammatica speculativa>), les <modistes> théoriciens des <modi significandi>: Boèce de Dacie (fl.v. 1260), Jean de Dacie (fl.v. 1280), Martin de Dacie (mort en 1304), Siger de Courtrai (v. 1280-1341) – sans oublier l’auteur de la <Gramaire> faussement attribuée par Heidegger à Dand Scot: Thomas d’Erfurt (fl.v. 1300)”. Libera: 386).

O homem gramatical é a lógica gramatical de sentido do bem e do Mal na plurivocidade de práxis individual da comunidade política, da politeia. O tratado “Topicos” faz da comunidade política a superfície observada como significante fenomênico gramatical [fato político] da forma de governo democracia constitucional regida pela lógica gramatical de sentido do maior Bem, que é o homem gramatical.

Habermas fez do general intellect de Marx o homem gramatical de uma pratica política como potência e ato em ato (Narbonne: 31), isto é, autofabricação do homem gramatical e da pratica política da democracia constitucional antiga, medieval, moderna:

“Nos estudos preliminares á ‘Crítica da economia política’ encontra-se uma versão, segundo a qual a história da espécie humana está comprometia com uma conversão automática de ciência natural e tecnologia em uma autoconsciência do sujeito social (general intellect>), que controla o processo da vida material. De acordo com tal pressuposto, tão-somente a história da técnica iria, por assim dizer, sedimentar-se na história da consciência transcendental. Esta tecnologia está relegada aos critérios do desenvolvimento cumulativo, próprio ao agir de um controle efetivo, e segue a tendência de multiplicar a produtividade do trabalho e substituir a força humana de trabalho – ‘a realização desta tendencia é a transmutação do instrumento de trabalho em maquinaria”. (Habermas: 64). Esta é a visão fenomenológica do general intellect. A outra imagem textual é a do general intellect medieva/aristotélico como lógica gramatical de sentido hegeliano:

“Poderíamos então, eventualmente, encarar logo que tivermos ascendido por seu intermédio ao ponto de vista lógico. De certa forma o próprio Hegel procedeu assim mais tarde com a ‘Fenomenologia’. Ele não a assumiu no sistema das ciências; em seu lugar aparece, na ‘Enciclopédia’, um assim denominado pré-conceito à ciência da lógica”. (Habermas: 42).

“Mas se se contrapõe a natureza em geral, como o físico, ao espiritual, seria preciso dizer que o lógico é, ao contrário, o sobrenatural, que invade em todo o comportamento natural do homem, no seu sentir, intuir, desejar, na sua necessidade, na sua pulsão, e, por meio disso em geral, torna-o algo humano, ainda que apenas de modo formal, tornando-o representações e finalidades. É a vantagem de uma língua que ela possua uma riqueza e expressões lógicas, a saber, peculiares e separadas, para as´próprias determinações do pensar”. (Hegel. 2016: 32).

Nesse Hegel do paradigma da lógica dialética se encontra o homem gramatical da lógica gramatical de sentido retórico do bem e do Mal, ou do Bem e Mal, ao mesmo tempo, na prática política moderna da língua alemã:

“muitas as proposições e dos artigos já pertencem a tais relações que se baseiam no pensar [...]. Muito mais importante é que, numa língua, as determinações do pensar estejam destacadas em substantivos e verbos e, assim, tenham o selo das formas objetivas; nisso a língua alemã tem muitas vantagens diante das outras línguas modernas, até mesmo algumas das suas palavras têm a propriedade adicional de não ter somente significados diversos, mas opostos, de modo que, nesse mesmo aspecto, não se pode deixar de perceber um espírito especulativo da língua; para o pensar, pode ser um prazer se deparar com tais palavras e encontrar, de forma ingênua, já lexicalmente, em uma palavra de significados opostos, a unificação de opostos que é o resultado da especulação, embora seja paradoxal para o entendimento”. (Hegel. 2016: 32).  

A língua é o modo de ser psíquico do homem gramatical do pensar enquanto lógica gramatical de sentido e não-sentido dialético.  

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Uma questão prática da atualidade é a língua inglesa anárquica falda por vario povos além do inglês, do canadense e do americano. Essa língua é um modo de ser psíquico da lógica gramatical de sentido do capital mercantilista gramatical que unifica os continentes, regiões, países e povos. A línguas modernas nasceram na Europa e línguas pós-modernas se originaram a partir da estrutura de dominação linguística europeia nas Colonias modernas nas Américas. Essas línguas modernas foram reinventadas nos territórios coloniais como modo de ser psíquico de lógica gramatical de sentido. No Brasil, a língua portuguesa lusitana foi inventada como uma nova gramática e gramática de sentido do Bem ou do Mal, como Bem e Mal, ao mesmo tempo, na comunidade política brasileira. A minha língua portuguesa tem ethos e páthos, ao mesmo tempo no uso dela na prática política nacional e regional. A língua nacional é a tela gramatical como potência e ato em potência da vida brasileira barroca. Um Estado  barroco (Faoro;84)) colonial fez pendant como o modo de produção escravista de gramatica de sentido colonial.

A anarquia de significantes fenomênicos gramaticais da colonização portuguesa criou e recriou um mal-estar na alta cultura lusitana e brasileira. A fusão entre mercantilismo e capitalismo (Sodré: 21-22). significa um Estado mercantilista com características capitalistas modernas na colonização do Brasil. O modo de ser psíquico do capitalismo escravista colonial (Vianna. 1987: V. 1, 24, cap. 10) tem um aspecto externo que é o Estado mercantilista barroco. O campo linguístico em território brasileiro foi um efeito dessa relação entre relações técnicas de produção capitalista moderna e da logica gramatical de sentido do encontros de três civilizações: luso, índio e africano. A questão prática de uma língua territorial que unificasse a comunidade política luso-brasileira sempre foi um problema que o Estado mercantilista barroco procurou resolve. Uma língua territorial/colonial luso-brasileira tem em Padre António Vieira um modelo que atravessou o Brasil colonial e alcançou o Império luso-brasileiro. Todavia, a história do campo linguístico agiu como autofabricação de uma língua territorial luso-brasileira. A logica gramatical de sentido dessa língua a torna diferente e idêntica (Aristóteles. 1973:14) à língua luso-portuguesa. Os lusos não aceitam que  língua luso brasileira seja, ao mesmo temp0o lógica e paralógica. (Aristoteles. 1973: 11. Que ela tenha se transformado a partir do século XIX em uma língua na qual a retórica seja o modo de ser psíquico lógico gramatical da plurivocidade de práxis individual que autoproduzem a pratica politica retórica de uma tela gramatical narrativa que estrutura a forma de governo do dominante com o dominado assujeitado irrevogavelmente.

A história do domínio das línguas antagônicas pode ajudar a iluminar a atualidade brasileira?         

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O <equilíbrio de antagonismo> (Freyre: 6) no campo linguístico colonial é a solução e compromisso da conciliação barroca:

“confluem num primeiro tempo artificialmente e depois naturalmente, segundo as leis barrocas da conciliação do que é em aparência inconciliável (lei que opera de maneira lenta)”. (Hatzfeld: 61).

Todavia, a unidade cultural e territorial (Gramsci. 1977:2343) da lógica gramatical de sentido foi obtida na sociedade natural de índios e jesuítas de modo espontâneo e democrático primeiro na Colônia -  e depois a partir da intervenção ditatorial  do Estado territorial nacional em 1823:

“O nheengatu teria servido de marca distintiva entre os mazombos, ou seja, os nascidos na terra, e os reinóis, os naturais na metrópole portuguesa. Os esforços da coroa portuguesa para sufocar o nheengatu, que culminaram com a expulsão  dos jesuítas em 1759, só iriam verdadeiramente produzir efeito após a primeira Assembleia Constituinte Brasileira, em 1823”. (Wyler: 42).

A revolução barroca natural tupi-jesuítica é uma conjuntura gramatical que teve dois acontecimentos decisivos a <República comunista cristã dos guaranis> (Lugon; 1968) e a guerra civil gramatical do direito natural à revolução barroca (Bandeira da Silveira; outubro/2023) do tupi/jesuíta contra o Marques de Pombal que culminou com a expulsão dos jesuítas da Colônia e o fechamento da Companhia de Jesus. (Falcon; 1993).

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Há uma superfície conjuntural da prática da  tela gramatica narrativa do logos linguística no campo da plurivocidade de práxis individual da pratica política da língua natural? Os significantes fenomênicos da lógica gramatical de sentido dialético do Bem e do Mal existem como aparências de semblância como o antagonismo gramatical litoral versus sertão.

Hanna Arendt:

“De acordo com a distinção de Portmann entre aparências autênticas e inautênticas, poder-se-ia falar de semblâncias autênticas e inautênticas. Estas últimas, miragens como o de alguma fada Morgana, dissolvem-se espontaneamente ou desaparecem com uma inspeção mais cuidadosa; as primeiras, como o movimento do Sol levantando-se pela manhã para pôr-se ao entardecer, ao contrário, não cederão a qualquer volume de informação científica, porque esta é a maneira pela qual a <aparência> do Sol e da Terra <parece> inevitável a qualquer criatura presa à Terra e que não pode mudar de moradia”. Aqui estamos lidando com aquelas ‘ilusões naturais inevitáveis’ de nosso aparelho sensorial, a que Kant se referiu na introdução à dialética transcendental da razão”. (Arendt: 31).

Bem! a percepção do homem passa pela gramática combinada como o aparelho sensorial dialético transcendental, pois este é logos gramatical. O significante fenomênico gr4matical é o Sol que nasce e se põe todo santo dia. Gilberto Freyre fala de um Sol brasileiro, do antagonismo gramatical litoral tropical e sertão:

“`Pelo antagonismo que cedo se definiu no Brasil entre a grande lavoura, ou melhor, a monocultura absorvente do litoral, e a pecuária, por sua vez exclusivista, dos sertões, uma se afastando da outra quanto possível, viu-se a população agrícola, mesmo rica, a opulenta, senhora de léguas de terra, privada do suprimento  regular e constante de alimentos frescos. Cowan tem razão quando apresenta o desenvolvimento histórico da maior parte dos povos condicionado pelo antagonismo entre a atividade  nômade e a agrícola. No Brasil, esse antagonismo atuou, desde os primwe3iros tempos, sobre a formação social do brasileiro: nuns pontos favoravelmente; nesse da alimentação, desfavoravelmente”. (Freyre: 36).

Do Brasil colonial, Antonil recolhe imagens textuais do sendo comum popular verbal sobre a vida colonial:

“E não é fácil cousa decidir se nesta parte são mais remissos os senhores ou as senhoras, pois não falta entre eles quem se deixe governar de mulatos, que não são os melhores, para que se verifique provérbio que diz: que o Brasil é o inferno dos negros, purgatório dos brancos e paraíso dos mulatos e mulatas, salve quando, por alguma desconfiança ou ciúme o amor se muda  em ódio e sai armado de todo gênero de crueldade e rigor”. (Antonil: 89-90)

Note leitor que Antonil fala da relação entre afecções (ódio, amor etc.)  do branco na relação gramatical com os mulatos e mulatas na vida da comunidade capitalista escravista latifundiária: aí diz Antonil, o mulato era lançado para o inferno do negro pelo ódio mortal do branco que sai armado de todo gênero de crueldade e rigor. O inferno do negro define a essência do modo de ser psíquico da lógica gramatical de sentido do Bem e do mal do senhor e da senhora coloniais. O perverso é o significante fenomênico gramatical das aparências de semblância da superfície reprofunda do litoral:

“Transforma-se o sadismo do menino e do adolescente no gosto de mandar dar surra, de mandar arrancar dentes de negro ladrão de cana, de mandar brigar na sua presença capoeiras, galos e canários, - tantas vezes manifestado pelo senhor de engenho quando homem feito; no gosto de mando violento ou perverso que explodia nele ou no filho bacharel quando no exercício de posição elevada, da política ou da administração pública; ou no simples e puro gosto de mando, característico de todo brasileiro nascido ou criado em casa-grande de engenho. Gosto que tanto se encontra, refinado num senso grave de autoridade e dever, num Dom Vital, como abrutalhado em um rude autoritarismo num Floriano Peixoto”. (Freyre: 51).  

O brutalismo (Souriau:281) do gosto criou a gramática de gramática de sentido do aparelho de Estado ser a prática do Mal, como violência injusta, ilegítima, contra a população. O presidente marechal Floriano Peixoto se tornou o significante fenomênico gramatical pessoal militar do brutalismo na práxis individual da prática política republicana cesarista tropicalista do litoral:

“O seu entusiasmo por aquele ídolo político era forte, sincero e desinteressado. Tinha-o na conta de enérgico, de fino e supervidente, tenaz e conhecedor das necessidades do país, manhoso talvez um pouco, uma espécie de Luís XI forrado de um Bismarck. Entretanto, não era assim. Com uma ausência total de qualidades intelectuais, havia no caráter do Marechal Floriano uma qualidade predominante: tibieza de ânimo; e no seu temperamento, muita preguiça. Não a preguiça comum, essa preguiça de nós todos; era uma preguiça mórbida, como que uma pobreza de irrigação nervosa, provinda de uma insuficiente quantidade de fluído no seu organismo. Pelos lugares que passou, tornou-se notável pela indolência e desamor às obrigações do seus cargos”. (Lima Barreto: 209).        

Por outro lado, o bacharel senhorial jovem do século XIX criou e recriou um significante fenomênico que foi o modo de ser psíquico da lógica de gramática de sentido retórico real do Bem e do Mal na relação da elite com a população das classes baixas, lógica que estruturou o aparelho de Estado policial fático, pela prática da injustiça, em relação aos pobres e negros.

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Euclides doou uma mais-valia gramatical para a sociedade brasileira. o discurso dele é um modo de ser psíquico de uma práxis individual na prática política da cultura mundial. A gramática de gramática de sentido do Bem/Mal habita o livro “Os Sertões”. (Euclides da Cunha. V. 2: 1995). Em Euclides, a língua portuguesa escrita no Brasil, aparece como uma língua paramoderna em relação a língua lusitana moderna:

“O século XVIII teve o seu aspecto filosófico e o seu aspecto mundano. Teve Voltaire e teve Crebillon. Portugal copiava o último, ao mesmo tempo que D. João V imitava a frivolidade resplandecente do Rei Sol dos minuetes e das etiquetas olvidando o Luís dos tratados”.

“Daí o burlesco daquela tentativa de transferir para Lisboa um lampejo de Versalhes, numa grandeza achamboada e informe que era, como todas as paródias, um contraste. É o contraponto entre o medido das frases e das ideias, que na corte parisiense transmudavam o Classicismo numa sistematização da vulgaridade, e o retumbante e amaneirado das glosas e madrigais dos versejadores portugueses. Comparem-se o Camões do Rocio e Boileau; ou então a pragmática dos saraus de Rambouillet aos festejos ruidosos de Lisboa onde se viam, sem escândalo a fradaria inumerável, rompentes nas procissões ou saracoteando nos salões, ao toar dos alaúdes e guitarras, a Poesia, a Gramática (a gramática!) e a Retórica com a sua ninhada de Tropos espalhafatosos, de Metáforas nervosas, de Gerúndios rotundos e de supinos desfibrados, materializados num grande excesso de objetivismo”. (Euclides. 1995: v. 1, 150-151).

Bem! Euclides fala da gramática e da retórica como aparatos da lógica gramatical de sentido da língua moderna nacional. Mas o que queria Euclides, que seus contemporâneos não conseguiram alcançar? Euclides fez de Canudos o significante fenomênico gramatical das aparências de semblância do modo de ser psíquico da plurivocidade de práxis individual da superfície reprofunda de uma prática política inédita brasileira na história das civilizações/barbárie:

“O que perturbou enormemente o litoral é Canudos como um acontecimento que propunha um paradigma de construção de uma classe dirigente barroca, mestiça, Assim, a destruição da multidão barroca, mestiça se torna um problema fatal, agônico”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2023: cap. 6, parte ).  

Canudos como potência e ato em ato de um processo de autoprodução de uma lógica de gramática de sentido do Bem/Mai, ethos/Pathos [personificado na vida do Bom Jesus], ao mesmo tempo, da nação brasileira e de um Estado lacaniano gramatical - no qual o mais-gozar gramatical instaurasse uma democracia feudal do dominado do Sertão em um antagonismo lógica gramatical com a democracia do dominante cosmopolita do litoral, luso-brasileiro:

“A partir da investigação de Canudos como produção de uma tela gramatical barroca, mestiça, inicio meu estudo sobre a produção de um campo de ideologias que já não é um efeito do discurso do europeu de nosso complexo de vira-lata”.

“A inteligência brasileira viu, corretamente, o discurso euclidiano como um evangelho, não como uma visão de mundo. Se o campo da ideologia se caracteriza como um campo de lutas ideológicas, o evangelho já remete para a construção de uma classe dirigente como direção moral, intelectual, gramatical e estética”. (Bandeira da Silveira. Janeiro/2023: cap. 6, parte 1).  

A língua portuguesa falada e escrita no Brasil aparece como autofabricação da lógica de gramática de sentido do nacional/popular na miríade de significantes fenomênicos gramaticais da dialética colonial litoral versus Sertão.

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O <homem cordial> de Holanda é o homem oligárquico gramatical que, hoje, foi restaurado, parcialmente, pelo parlamento nacional/territorial. Ele é um significante fenomênico como modo de ser psíquico da lógica gramatical da práxis individual de sentido do grau zero da modernidade weberiana:

“No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao co0ntrário, é possível acompanhar, ao longo de nossa história, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e poucos acessíveis a ordenação impessoal. Dentre esses círculos, foi sem dúvida o da família aquele que se exprimiu com mais força e desenvoltura em nossa sociedade [...]. isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem assentar a sociedade em normas antiparticularistas”. (Holanda: 106).  

A democracia constitucional de 1988, hoje, é refém de clãs políticos que colonizam, intensamente e profundamente, a soberania popular, via a prática política das emendas parlamentares, que têm o direito natural a uma parte substancial [do Orçamento nacional], do mais-gozar gramatical, ou mais-valia gramatical do Estado lacaniano fiscal. A civilização tropicalista se caracteriza:

“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira à civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o <homem cordial>. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência dos padrões de convívio humano, informados no meio rural, e patriarca. Seria engano pressupor que essas virtudes possam significar <boas maneiras>, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante”. (Holanda: 106-107).

A estrutura de dominação entre representante e representado, entre governante e governado, entre dominante e dominado é banhada por uma certa inquietude do dominado em relação ao dominante:

‘Nada mais significativo da aversão ao ritualismo social, que exige, por vezes, uma personalidade fortemente homogênea e equilibrada em todas as partes, do que  a dificuldade em que se sentem, geralmente, os brasileiros, de uma reverência prolongada ante um superior”> (Holanda: 108).  

O homem cordial não pratica o governo de si, pois, ele é lógico e paralógico, ethos e páthos, afecção a flor da pele e razão, ao mesmo tempo, na práxis individual gramatical oligárquica. O homem gramatical cordial existe na própria língua pós-moderna brasileira:

“No domínio da linguística, pra citar um exemplo, esse modo de ser parece refletir em nosso pendor acentuado para o emprego dos diminutivos. A terminação <inho>, aposta às palavras, serve para nos familiarizar com as pessoas ou objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo9. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e também de aproximá-los do coração. Sabemos como é frequente, entre portugueses, o zombarem de certos abusos desse nosso apego aos diminutivos, abusos tão ridículos para eles quanto o é para nós, muitas vezes, a pieguice lusitana, lacrimosa e amarga. Um estudo atento das nossas formas sintáticas traria, sem dúvida, revelações preciosas a esse respeito”. (Holanda: 108-109)

O uso do diminutivo faz pendant com a lógica gramatical de sentido da retórica criada e recriada pelos jovens bacharéis do direito, do século XIX, ersatz moderno e pastiche de homem cordial. A língua portuguesa falada no Brasil é articulada – como plurivocidade de práxis individual de ato de fala – como prática política da cultura nacional e regional a partir da logica gramatical de sentido nietzschiana, dialética materialista, paraconsistente e bandeirante, de entradas e bandeiras, da lógica afro e da tupy e, também, da lógica gramatical de sentido   Guarani. Um caldo gramatical que faz do português brasileiro a conciliação barroca riquíssima de uma população unificada territorialmente e culturalmente na época de predomínio das telas: eletrônica e digital.     

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No livro “Casa-Grande e Senzala”, há um paradigma da lógica de gramática de sentido como efeito do antagonismo e conciliação barroca das línguas de várias civilizações. o princípio de prazer e encantamento no ato de fala infantil colonial atravessou séculos e nas grandes cidades foi destruído por vario fenômenos: gramatical, retórico, ideológico.  Uma tradição linguística que ainda existe localmente e em certas regiões e foi desintegrada nas grandes cidades:

“A linguagem infantil també3m aqui se amoleceu ao contato da criança com a ama negra. Algumas palavras, ainda hoje duras ou acres quando pronunciadas pelos portugueses, se amaciaram no Brasil por influência da boca africana [...]”.

“A ama negra fez muitas vezes com as palavras o mesmo que com a comida: machucou-as, tirou-lhes s espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles. Daí, esse português de menino que no norte do Brasil, principalmente, é uma das falas mais doces deste mundo”. (Freyre: 331).

O encontro de civilizações gramatical e retórica criou e recriou a língua nacional barroca, mestiça, que unifica, seja o território, seja a cultura pelo modelo colonial:

“Quando os negros foram maiores inimigos que o clima dos <ss> e dos <rr>, maiores corruptores da língua no sentido da lassidão e do langor [< e do mais-gozar gramatical e retórico]. Mães negras e mucamas, aliadas os meninos, ás meninas, às moças brancas das casa-grandes, criaram um português diverso do português do hirto e gramatical qu os jesuítas tentaram ensinar aos meninos índios e semibrancos, alunos de seus colégios; do português reinol que os padres tiveram o sonho vão de conservar no Brasi”. (Freyre: 332);

A prática política da cultura linguística jesuítica não se tornou hegemônico e assim, uma língua portuguesa territorial/popular aparece – como tradição gramatical – isto é, como potência e ato em ato da autofabricação da sociedade capitalista escravocrata colonial e, sobretudo, do Estado nacional territorial monárquico gramatical e retórico do século 19.

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A pororoca do encontro entre a cultura africana e afro-brasileira, a tradição das línguas afros com o ensino formal do português em escolas  jesuíticas ou outras práticas, como no latifúndio, igreja etc. ocorre em um campo linguístico de práticas políticas civilizacionais em choque antagônico e compromisso barroco. Cãmara Cascudo viu a diferença entre o ensino formal e a transmissão de língua pela tradição oral:

“Para o ensinamento recebido pela forma ordinária e legal o menino comportar-se-á passivamente, aprendendo, usando, decorando. Para o <saber tradicional>, fora do âmbito majestático e religioso, o estudante reage e colabora porque essa ciência clandestina e semiproibida é uma excitação ao seu raciocínio, apelando diretamente para um sentido ativo e pronto de utilização imediata e realística. [...]. Desta forma creio existir folclores indígenas e negros, não confundíveis com a religião indígena e negra, bem distintos da maneira política que os orienta”. (Câmara Cascudo: 32).   

Dois significantes fenomênicos gramaticais são expostos pelo autor. De trás para frente, Cãmara fala de uma prática política da cultura e, portanto, da transmissão da língua. A transmissão pode ter o aprendiz como trabalho gramatical improdutivo na escola jesuítica e trabalho produtivo no saber tradicional. Como determinar essa di8ferença. Bem! o trabalho produtivo de mais-valia gramatical ocorre no processo de produção e circulação das línguas. O aprendiz do saber tradicional, ao contrário, do aprendiz do saber jesuítico, realiza um trabalho de produção de mais-valia que é um mais-gozar gramatical, retórico e de gosto.

O campo linguístico colonial existe por uma guerra civil entre as línguas existentes nele, línguas que são o teatro da plurivocidade de práxis individual gramatical, retórico, de gosto em busca de uma unidade linguística territorial e cultural:

“O idioma tupi foi o maior divulgador da literatura oral. O tupi, já litorâneo quando o português chegou ao Brasil, foi o mais plástico, o mais viajante, o mais inquieto dos povos americanos. O contato mais prolongado com os europeus deu-lhe amplitude e elasticidade para espalhar o que ouvira a contar o que sabia. Foi um denominador comum de estórias. Encontramo-lo por toda parte, entre raças, Caraíbas, Aruacos, Gês, deformadas, adaptadas, mas visíveis na origem do narrador longínquo”. (Câmara Cascudo: 83).

O tupi é uma gramática, retórica e gosto regido pelo princípio do prazer gramatical e da lisonja entre raças, povos, tribos etc.:

“Até meados do século XVIII, o tupi era um idioma legitimamente nacional em sua expressão verdadeira. Era a língua de casa, falada do norte ao sul. O colono. Envolvido pela multidão indígena e mameluca, preferia empregar a linguagem sonora que o padre José de Anchieta dizia <delicada>, <copiosa> e elegante”. (Câmara Cascudo: 83).

Nosso autor do bloco estético/político do Estado mercantilista/liberal de 1964 opera com os jogos de sentido da dialética colonial, brilhantemente. Uma citação longa:

‘A lição de Teodoro Sampaio (106) é clara; - “Ao europeu, porém, ou aos seus descendentes cruzados, que realizaram as conquistas dos sertões, é que se deve a maior expansão do TUPI, como LÍNGUA GERAL, dentro das raias atuais do Brasil. As levas, que partiam do litoral, a fazerem descobrimento, falavam, no geral, o tupi; pelo tupi designavam os novos descobertos, os rios, as montanhas, os próprios povoados que fundavam e que eram outras tantas colônias, espalhadas nos sertões, falando também o tupi e encarregando-se naturalmente de difundi-lo”.

O Estado nacional territorial monárquico e as oligarquias do capitalismo escravista colonial se constituíram em maquinas de guerra gramatical, retórica e de gosto para fazer do português a língua nacional  em uma guerra civil gramatical, retórica e de gosto contra o tupi como língua geral. O português era a língua do Estado mercantilista do capital mercantilista gramatical dos jogos de sentido da dialética colonial:

“O português era, sim, a língua oficial, como ainda hoje o espanhol no Paraguai; a língua do comércio nos portos do litoral, nas cidades e vilas de mais importância e no seio das famílias propriamente portuguesa; mas ainda aparecia o tupi, falado pelos fâmulos, quase todos índios ou de descendência índia. Nos povoados mais apartados, a catequese, iniciada e desenvolvida pelos jesuítas, ia dando à língua bárbara os foros de um veículo civilizador. Falavam os padres a língua dos aborígenes, escreviam-lhe a gramática e o vocabulário, e ensinavam e pregavam nesse idioma”.

A história da prática política linguística paraconsistente (Newton da Costa; 2008) brasileira é da ordem do extasiante, a embriagues:

“Nos seminários para meninos e meninas, CURUMINS E CUNHATAINS,  filhos de índios, mestiços, ou brancos, ensinavam, de ordinário, o português e o tupi, preparando deste modo os primeiros catecúmenos, os mais idôneos, para levar a conversão ao lar paterno. Até o começo do século XVIII, a proporção entre as duas línguas faladas na colônia era mais ou menos de três para um, do tupi para o português. Em algumas capitanias, como São Paulo, Rio Grande do Sul, Amazonas e Pará, onde a catequese mais influiu, o tupi prevaleceu por mais tempo. Nas duas primeiras, até o fim do século XVII. No Amazonas e no Pará, ainda é comum o tupi no seio da população civilizada dos TAPUIAS, como vulgarmente se apelidavam os índios. Mas, naqueles tempos, quando o desbravamento dos sertões apenas começava r as expedições para o interior se sucediam, com a obstinação das cousas fatais e irresistíveis, o tupi era deveras a língua dominante, a língua da colônia. Todos a falavam ou a compreendiam. Parecia mesmo haver certa predileção por ela”. (Câmara Cascudo: 84).

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A ciência política materialista/dialética se desenvolve a partir do método da investigação e da exposição. Estes são duas telas gramaticais narrativas estruturados pela lógica de gramática de sentido de páthos e ethos. Aristóteles definiu a investigação dialética e materialista:

“o raciocínio é <dialético> quando parte de opiniões geralmente aceitas. São <verdadeiras> e <primeiras> aquelas coisas nas quais acreditamos em virtude de nenhuma outra coisa que não seja elas próprias; pois, no tocante aos primeiros princípios da ciencis, é descabido buscar mais além o porquê e as razões dos mesmos; cada um dos primeiros princípios deve impor a convicção da sua verdade em si mesmo e por si mesmo. São, por outro lado, opiniões <geralmente aceitas> aquelas todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos – em outras palavras: todos, ou a maioria, ou os mais notáveis e eminentes”. (Aristóteles. : 11)  

A tela gramatical dialética da investigação contém as verdades e as primeiras coisas da história de uma civilização. contém os significantes fenomênicos gramaticais como o Estado territorial e o capital. Os princípios existem materialmente na plurivocidade de gramática, retórica e ideologia de uma civilização policiada. Eles são o policiamento gramatical da plurivocidade de gramática na tela da prática política da história conjuntural de3 uma civilização. A civilização do investigador é o limite a partir do qual a ciência política M.D se descobre, se inventa e se desenvolve. A investigação parte da doxa e da episteme da tela gramatical de uma civilização determinada. A exposição é uma tela definida por Marx:

“Estes elementos isolados, uma vez mais ou menos fixados e abstraídos, dão origem aos sistemas econômicos, que se elevam do simples, tal como trabalho, divisão do trabalho, necessidade, valor de troca, até o Estado, a troca entre as nações e o mercado mundial. O último método é manifestamente o método científico exato. O concreto é concreto porque é a síntese de uma plurivocidade de determinação, isto é, unidade do diverso. Por isso o concreto aparece no pensamento como o processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação. No primeiro método, a representação plena volatiliza-se em determinações abstratas, no segundo, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto por meio do pensamento. Por isso, é que Hegel caiu na ilusão de conceber o real como resultado do pensamento que se sintetiza em si, se aprofunda em si, e se move por si mesmo; enquanto que o método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto não é senão a maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado. Mas este não é de modo algum o processo de gênese do próprio concreto. A mais simples categoria econômica, suponhamos, por exemplo, o valor de troca, pressupõe a população, uma população produzindo em determinadas condições e também certos tipos de famílias, de comunidades ou Estados. O valor de troca nunca poderia existir e outro modo senão como relação unilateral, abstrata de um todo vivo e concreto dado”. (Marx. 1974: 122-123).    

O <concreto pensado> é a tela gramatical expositiva, narrativa, dialética/materialista, plástica dos significantes fenomênicos gramatical, retórico, ideológico, de gosto. Ela tem como significantes fenomênicos primeiros da sociedade de classes sociais e as relações técnicas de produção fazendo pendant com a lógica gramatical de sentido da mercadoria.    

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A LÍNGUA a tela de plurivocidade de gramática, retórica, ideologia de uma determinada civilização, vivendo na formação social territorial/virtual. (Faye: 150; Hobsbawm: 15). Nesse texto, aparecem os jogos de sentido da dialética colonial na formação brasileira. A língua é tela gramatical narrativa PLÁSTICA, como se fosse um filme obra-de-arte. A língua é obra de arte como potência e ato em ato plotiniano, como autoprodução do indivíduo, da multidão e do mundo do campo político gramatical plástico etc.:

“E quem pinta não deveria pintar algo – e quem pinta algo, não pinta nada real? – Sim, o que é o objeto do pintar: a figura do homem (por exemplo) ou o homem representado pela figura?”

519. Diríamos – uma ordem é uma imagem da ação, que foi executada segundo a ordem; mas é também uma imagem da ação, que deve ser executada segundo ela”.

“520. ‘Mesmo quando se concebe a frase como imagem de um estado de coisas possível e se diz que ela mostra a possibilidade do estado de coisas, então, no melhor dos casos, a frase pode fazer o que faz uma imagem pintada ou plástica, ou um filme; e ela, em todo caso, não pode colocar o que não se dá. Portanto, depende inteiramente de nossa gramática o que é (logicamente) dito possível e o que não é, - a saber, o que ela autoriza?’- Mas é arbitrário!? –  Não é com toda figuração em forma de frase que sabemos o q1ue fazer; nem toda técnica tem um emprego em nossa vida, e quando na filosofia, somos tentados a contar entre as frases algo de inteiramente inútil, isso frequentemente acontece porque não refletimos suficientemente na sua aplicação”. (Wittgenstein: 148).

Aqui, o objeto é a formação brasileira dos jogos de sentido dialético/materialista colonial. Esta língua contém a estrutura de dominação gramática, retórica, ideológica de representação política de governante/governado, dominante/dominado etc.:

“Sucedeu , porém, que a língua portuguesa nem se entregou de todo à corrupção das senzalas, no sentido de maior espontaneidade de expressão, nem se conservou acalafetada nas salas de aula das casas==grandes sob o olhar duro dos padres-mestres. A nossa língua nacional é um efeito complexo da interpenetração das duas tendências. Devemo-la tanto às mães Bentas e às tias Rosas como aos padres Gamas e aos padres Pereiras. O Português do Brasil, ligando as casas-grandes às senzalas, os escravos aos senhores, as mucamas aos sinhô-moços, enriqueceu-se de uma variedade de antagonismos que faltava ao Português  da Europa. Um exemplo dos mais expressivos, que me ocorr5e, é o caso dos pronomes. Temos no Brasil dois modos de colocar pronomes, enquanto o português só admite um – o <modo duro  imperativo> : diga-me, faça-me, espere-me. Sem desprezarmos o modo português, criamos um novo, inteiramente nosso, característica brasileiro: me diga, me faça, me espere. Modo bom, doce, de pedido!”.

O me antes do verbo define a Língua brasileira segundo o princípio de prazer e de mais-gozar gramaticais, retórico, ideológico na relação governante/governado:

“E servimo-nos dos dois. Ora esses dois modos antagônicos de expressão, conforme necessidade de mando ou cerimonia, por um lado, e de intimidade ou de súplica, por outro, parecem-nos bem típicos das relações psicológicas que se desenvolveram através da nossa formação patriarcal entre senhores e os escravos: entre as sinhás-moças e as mucamas; entre os brancos e os pretos. <Faça-me> é o senhor falando; o pai; o patriarca; <me dê>, é o escravo, a mulher, o filho, a mucama> Parece-nos justo atribuir em grande parte aos escravos, aliados aos meninos das casas-grandes, o modo brasileiro de colocar pronomes”. (Freyre: 334-335).      

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Lacan fala de um campo do Grande Outro como produção de conhecimento filosófico:

“Há, por outro lado, o campo em que o Outro, que durante muito tempo foi dos filósofos [...]”. (Lacan. 2008. S. 16: 100).

O Outro como produção de ideia é uma tela gramatical narrativa da civilização do homem gramatical. Hoje, o Outro aparece como o general intellect gramatical que além do homem gramatical inclui o campo das IAs. O general intellect gramatical e a IA são, ou capital variável do capital mercantilista gramatical produtor de mais-valia gramatical pura, ou produtor de mais-valia gramatical fiscal, do Estado lacaniano gramatical, que recolhe o mais-gozar gramatical no seio da população ou então da sociedade de classes sociais:

“Por outro lado, num outro registro, há o campo em que, aparentemente, o gozo espera o sujeito. É justamente aí que ele é servo, e justamente da maneira como, até aqui, era possível censurar a psicanálise por desconhecê-lo, ou seja, ele está submetido ao social, como se costuma dizer. As pessoas não percebem que se contradizem, e que o chamado materialismo histórico só tem sentido ao nos darmos conta de que não pé da estrutura social que ele depende, uma vez que o próprio Marx afirma que é dos meios de produção. Dos meios de produção, isto é, daquilo com que se fabricam coisas que enganam o <mais-gozar> e que, longe de poderem ter a esperança de preencher o campo do gozo, nem se quer estão em condições de bastar ao que se perde, em função do Outro”. (Lacan. 2008. S. 16: 100-101).

Ao conceito de riqueza como produção de valores-de-uso e valores-de-troca puro é acrescentado a riqueza como produção de mais-valia gramatical pura e mais-gozar fiscal gramatical. Nessa última superfície de uma economia gramatical se realiza a reprodução ampliada do capital mercantil gramatical e seu Estado mercantilista/capitalista. Uma outra história da economia do capital começa caminhando para a subsunção do capital ao trabalho gramatical produtivo. (Bandeira da Silveira; Maio/2022).   

 

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