José Paulo
GRAMÁTICOS DA TERRA
I
Fenômenos que pareciam sólidos e
de longa duração deixaram de persistir no ser da entidade cultural terra do
contemporâneo. Um deles é as lutas de classes social tout court que adquiriu sua mais consistente elaboração no
marxismo. O segundo é o declínio das ciências do homem nas universidades
americana, inglesa e francesa. O terceiro é o desaparecimento de povos, nações
e Estado-nações. O último é a desintegração da sociedade industrial material como
tal, do século XX.
Na tela gramatical em narrativa lógica do século XXI, alguns fenômenos e acontecimentos constituem o rastro de novos significantes que dominam, aos poucos, a política em si e a política em extensão em vastas regiões do globo terrestre: capitalismo criminoso; subcapitalismo; criminostat; ilegalidades dominantes em reprodução ampliada; Estado negro; duplo Estado; sociedade industrial imaterial digital; lutas de classes gramaticais; sociedade de classes gramaticais; sistema cultural oligárquico.
A Nova Ordem tem um rastro que começa a marcar seus passos no deserto da cultura política mundial após a II Guerra Mundial. A II Guerra dissolveu, inclusive, a ideia de mundo e de cultura mundial. No pós-guerra, as lutas de classes e a sociedade de classe industrial invadiram a política estrito senso tornando obsoleto o modo cultural político de articulação da hegemonia capitalista.
Trata-se do sistema representativo, da democracia representativa.
É verdade que o nazismo já havia jogado por terra a ideia e a prática da articulação da hegemonia democracia representativa. Com a derrota militar do nazismo, o sistema representativo foi retomado como sistema cultural oligárquico híbrido. Nasce o fenômeno do xifópago, ou melhor, da direita e esquerda em um pacto social (rodízio no poder) para estabelecer o governo dos países do centro capitalista. Em muitos países da periferia do capitalismo, isto é, da gramática do subcapitalismo (capitalismo sem capitalismo) o gramático xifópago foi copiado, e eis um ersatz de gramático xifópago.
Latino-americanos e americanos começaram a falar no paralelismo de significantes desenvolvimento versus subdesenvolvimento, e ainda em terceiro-mundo, pois, os EUA, Europa ocidental e Japão constituíam o primeiro mundo e a URSS o segundo mundo. Não se trata de voltar a estes velhos temas da ciência do homem e das ideologias capitalista, terceiro-mundista e socialista, pois, tudo isso virou fumos machadianos, fumos (fantasia literária técnica) dos romances de Machado de Assis.
Na década de 1960, os efeitos da luta
entre capitalismo e socialismo articularam nas sociedades democráticas um
gramático totalitário, estudado, principalmente, nos EUA, por Herbert Marcuse.
Na década de 1980, Nicos Poulantzas falava abertamente de uma Europa ocidental
totalitária. Claro que o totalitarismo americano e europeu ocidental foram um
efeito da escritura das lutas de classes abertas da esquerda que se aproveitou
da conquista da articulação da hegemonia entre as massas operárias e
estudantis. Maio 1968 é o signo mais brilhante desta conjuntura de ascensão da
esquerda.
Os efeitos sobre as teorias de administração capitalista na grande indústria foram admiráveis: a estética organizacional substituindo a velha teoria/prática da administração da ética protestante burocrática. Também o mundo fabril passou a ser governado por um equilíbrio de força no qual as rebeliões operárias da esquerda mais radical passaram a fazer parte do cotidiano do mundo-da-vida do capitalismo. Foi o momento de apogeu do gramático lutas de classes das massas operárias e estudantis.
O apogeu em tela não levou à ditadura do proletariado e nem à destruição do capitalismo em sua luta agônica com o socialismo da URSS ou Chinês. Naturalmente, a derrota da revolução estudantil-proletária significou o refluxo das lutas de classes. Assim, o gramático capitalismo vislumbrou a oportunidade de se livrar do keynesianismo, e, por tabela, do capitalismo monopolista de Estado internacional.
O projeto do globalismo neoliberal deixou seu rastro na década de 1980. No entanto, ele só adquiriu sustância gramatical na década de 1990. Nesta década, o projeto já é aquele da sociedade em redes informacionais. Porém somente no século XXI, ele se tornou um globalismo neoliberal digital.
O essencial do projeto consiste
na dominação com hegemonia capitalista (revolução passiva ou revolução sem
revolução, revolução oligárquica pelo alto, no sentido de Gramsci) em uma
sociedade pós-capitalista que articula a economia capitalista do contemporâneo.
A sociedade pós-capitalista é aquela sociedade de classes gramaticais e das lutas de classes gramaticais. Trata-se de uma época que assiná-la e fim do marxismo-leninismo (marxismo russo em geral do século XX) e da ciência do homem das universidades dos países desenvolvidos e nos países subdesenvolvidos. O marxismo vira uma ideologia cientificista universitária terceiro-mundista e ideologia política vulgar de partidos da esquerda. Este vazio científico abre a janela para as ciências gramaticais da política onde habita o novo marxismo gramatical.
A transdialética gramatical do desaparecimento dos fenômenos clássicos do capitalismo industrial e a emersão de fenômenos novos supracitados gera um tela gramatical em narrativa lógica modelada pelo antagonismo gramático e sgrammaticatura, isto, é agramatical. Por exemplo, o duplo Estado consiste em um primeiro Estado constitucional em luta aberta com o segundo Estado (Estado negro) em suas variadas formas: criminostat, Estado lumpesinal, subEstado, Estado desenvolvido, Estado subdesenvolvido, e Estado fazendo pendant com alguma sgrammaticatura.
A política planetária como tal é embalada, envelopada, por uma transdialética democracia representativa versus autocracia em suas inúmeras formas: ditadura, bonapartismo, regime autoritário, totalitarismo e outras.
A democracia representativa pura parece ser uma entidade dos países desenvolvidos. Democracia impura (misturada com autocracia) parece ser fenômeno de países subdesenvolvidos do subcapitalismo. O subgramático da democracia representativa impura parece não conseguir mais se manter sobre suas próprias pernas. Aí temos a crise da democracia subdesenvolvida, pois, capitalismo sem capitalismo, democracia sem democratas.
O gramático capitalismo do globalismo neoliberal se fundamenta em um agir estratégico (mentir, simular, dissimular, sugestionar, enganar) cujo objetivo é o fim dos povos e das nações, e, portanto, do Estado-nação e das relações internacionais. A ideia-fixa é transformar países em territórios de ocupação da ditadura mundial do capital fictício. A ditadura da oligarquia financeira mundial gramatical encontra-se no comando da política em extensão mundial, isto é, da política dos sistemas culturais oligárquicos (da Terra e dos trans-sujeitos regionais gramaticais).
II
A Nova Ordem da Terra descontruiu
teologicamente e reconstruiu gramaticalmente ideias e práticas como países
desenvolvidos versus países subdesenvolvidos. Assim como primeiro, segundo e
terceiro-mundo. Ela substituiu a escritura economicista por um novo gramático digital,
a saber: o sistema cultural oligárquico.
Há o sistema cultural oligárquico da terra capitalista que funciona como argamassa geopolítica e geoeconômica algorítmica de continentes, regiões, países. O que se sabe razoavelmente é que o pais desenvolvido é um território geográfico habitado por um povo (ou povos), se põe e repõe como nação e não abre mão de seu Estado-nação. Nesta classificação gramatical, EUA e China são países desenvolvidos. No entanto, a China autocrática possui um sistema cultural oligárquico totalitário. Então, ela é uma combinação gramatical de desenvolvimento com subdesenvolvimento.
Nas Américas, toda a América, exceto EUA e Canadá, existe como um continente subdesenvolvido ou do terceiro-mundo (América Central, Bolívia, Paraguai etc.). Se os EUA lutam abertamente contra o capitalismo criminoso da ditadura mundial do capital fictício (e protege o Canadá), já a América do Sul mais o México foram invadidos pelo capitalismo criminoso, criminostat, Estado negro, Estado subdesenvolvido e quejandos.
Há muito a explorar sobre a persistência do ser da Nova Ordem da Terra nos continentes, regiões, países, nações, povos e Estados. Encerro com a Europa ocidental da União Europeia.
A Inglaterra sempre manteve um pé atrás em sua plena integração à EU. O fenômeno cultural oligárquico anglo-americano é uma força de atração em direção aos EUA em um sentido amplo, ou seja, ter um povo, ter uma nação, possuir um Estado-nação. A Inglaterra não aderiu à moeda da EU, não se integrou, plenamente, as redes administrativas políticas e da economia da EU. E, finalmente, em um plebiscito, as massas anglo-americanas (conscientes ou inconscientes) decidiram pela saída da EU.
NA nova gramática da terra, a EU significa o desejo capitalista de poder europeu de pôr um fim nos povos e nações e mais Estados-nação. Já está clarificando que o cidadão europeu é fumos machadianos, pois, as nações e povos europeus se recusam a virar uma fantasia de Marx: tudo que é sólido desmancha no ar.
A dominação cum hegemonia da Alemanha na EU é o que sustenta o gramático capitalista globalismo neoliberal neste continente. Sabe-se que a própria França encontra-se em maus lençóis. A desintegração de nações como Portugal, Espanha, Grécia pode transformá-los em território de ocupação colonial, puro e simples, do sistema cultural oligárquico da terra. Tais países podem regredir para a condição de território ocupado colonial da sociedade pós-capitalista indo do subdesenvolvimento ao terceiro-mundo.
A África e o Oriente Médio se constituem como periferia lacaniana R. S. I (Real/Simbólico/Imaginário) do gramático sistema cultural planetário capitalista. A tela gramatical geométrica planetária é um polígono invertido no qual o sujeito gramatical é um puro efeito geométrico desta da tela matemática gramatical.
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