quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O OCIDENTE É AQUI



Hegel falou do fim do Ocidente na Europa no início do século XIX e sua possível refundação na América.

A diferença entre Ocidente e Oriente em Gramsci diz respeito ao tipo de Estado. Trata-se, portanto, de ciência da política do Estado integral (democracia + ditadura). No Ocidente, o Estado é uma tela gramatical urbana existente segundo o princípio da hegemonia. No Oriente, trata-se de uma tela gramatical caipira funcionando segundo o princípio da ditadura. Europa ocidental e Rússia tzarista são as regiões geopolíticas que se definem assim a partir do tipo de revolução marxista ou no Ocidente, ou no Oriente. O jardim-de-infância marxista ignora o pendant Gramsci/Hegel. O pensamento político de Gramsci é a mais séria e poderosa hegelianização de Marx. Por isso, Althusser resolveu destituí-lo do lugar do magister ludi da tela gramatical marxista urbana.

O americanismo é um significante literário técnico em Gramsci: “Que não se trate, no caso do americanismo, entendido não só como vida de café, mas também como ideologia do Rotary Club, de um novo tipo de civilização, vê-se pelo fato que nada mudou no carácter e nas relações dos  grupos  fundamentais: trata-se de um prolongamento orgânico e de uma intensificação da civilização europeia, que apenas assumiu uma nova pele no clima americano. A observação de Pirandello sobre a oposição que o americanismo encontra em Paris (mas encontra-la-á no Creusot?) e sobre o acolhimento imediato que teria encontrado em Berlim, prova, em todo caso, que ele não difere em natureza, mas apenas em grau do ‘europeísmo’ ”.

O americanismo em Gramsci é a invenção da cultura como ideologias práticas articulando as relações de produção em pendant com a técnica industrial. Trata-se de uma tela gramatical industrial urbana? O proletariado americano passa a se vê narcisicamente em tal tela depois do Estado americano exercer sua ditadura sobre ele subjugando o sindicalismo (pôr a canga no proletariado americano revolucionário). Como é um truísmo cinematográfico, o Estado heteróclito americano mafioso foi uma força essencial na integração da classe operária ao americanismo. Havia dois Estados na América projetados em duas telas gramaticais: tela gramatical jurídica e a tela gramatical heteróclita lumpesinal/mafiosa. Isso não define o americanismo na ciência da política do Estado gramsciana?

Heidegger não concorda com a identidade gramsciana entre americanismo e europeísmo = Ocidente:
“A maquinação é o acabamento incondicionado do ser enquanto vontade de poder. Mas mesmo a maquinação enquanto essência do ser tem ainda uma inessência.
A inessência da maquinação exige uma humanidade que não desertifique toda a tradição, mas propague para além da desertificação, isto é, para o interior de sua inessência, justamente uma tradição desertificada da metafísica (e, isto é, da história ocidental), essencialmente, sem raízes. Esta instauração da inessência da maquinação está reservada ao americanismo”. O americanismo é uma tela gramatical desertificada da memória cultural política econômica ocidental.
Heidegger prossegue: “Mais tenebroso do que toda e qualquer selvageria asiática é esta ‘moralidade’ desenraizada e alastrada até o engodo incondicionado.
Somente aqui o abandono do ser alcança a condição extrema de uma constância.
Será que reconhecemos suficientemente que tudo o que há de tenebroso reside no americanismo e de modo algum no mundo russo? ”.

O americanismo é a tela gramatical técnica/industrial (= maquinação) como discurso do senhor. A tela gramatical industrial como discurso do senhor de um povo-maquinação sobre os outros povos na história moderna. O discurso do senhor é um discurso que tem sua origem no Ocidente no poder despótico do modo de produção escravagista caipira da antiguidade.  

Paixão e discípula de Heidegger na sua juventude europeia, Hannah Arendt escreveu o mais belo livro sobre a Revolução Americana. Ela fala da América como o Jardim do Éden “A América tornara-se o símbolo de uma sociedade sem pobreza muito antes da Idade Moderna, em seu desenvolvimento tecnológico único, haver efetivamente descoberto os meios de abolir aquela miséria abjeta de pura indigência, que sempre fora considerada como eterna”.

Hannah diz: “Entretanto, o fato histórico é que a Declaração de Independência fala da ‘busca da felicidade’, e não da felicidade pública, e é provável que o próprio Jefferson não soubesse com certeza a que espécie de felicidade ele se referia quando fez de sua busca um dos direitos inalienáveis do homem”. Ela acrescenta: “Certamente, nenhum dos delegados teria imaginado a assombrosa trajetória dessa ‘busca da felicidade’, que haveria de contribuir, mais de qualquer outra coisa, para a formação de uma ideologia especificamente americana (...) ”.

Os intelectuais-heróis do americanismo criaram e versão ideológica da América como o jardim do Éden. Trata-se de uma tela gramatical capitalista caipira, ao gosto dos Pais Fundadores caipiras e da ciência do Estado caipira americana.   

Hannah propôs, expôs e interpretou a América como ideologia cultural política econômica do americanismo. Tal ideologia do americanismo tornou-se um objeto de preocupação de Freud no seu livro O Mal-Estar NA CIVILIZAÇÃO:
“Voltar-nos-emos, portanto, para uma questão menos ambiciosa, a que se refere àquilo que os próprios, por seu comportamento, mostram ser o propósito e a intenção de suas vidas. O que pedem eles da vida e o que desejam nela realizar? A resposta mal pode provocar dúvidas. Esforçam-se para obter felicidade; querem ser felizes e assim permanecer. Essa empresa apresenta dois aspectos: uma meta positiva e uma meta negativa. Por um lado, visa a uma ausência de sofrimento e de desprazer; por outro, à experiência de intensos sentimentos de prazer. Em seu sentido mais restrito, a palavra ‘felicidade’ só relaciona a esses últimos. Em conformidade a essa dicotomia de objetivos, a atividade do homem se desenvolve em duas direções, segundo busque realizar – de modo geral ou mesmo exclusivamente – um ou outro desses objetivos”.

A ideologia americana é o processo de trans-subjetivação permanente da felicidade pela dominância do princípio do prazer fazendo pendant com o princípio da realidade. Trata-se Jardim do Éden terrestre. Porém Freud faz um trabalho de demolição desse americanismo:
“Não admira que, sob a pressão de todas essas possibilidades de sofrimento, os homens se tenham acostumado a moderar suas reivindicações de felicidade – tal como, na verdade, o próprio princípio do prazer, sob a influência do mundo externo, se transformou no mais modesto princípio de realidade -, que um homem pense ser ele próprio feliz, simplesmente porque escapou da infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento, e que, em geral, a tarefa de evitar o sofrimento coloque a de obter prazer em segundo plano. A reflexão nos mostra que é possível tentar a realização dessa tarefa através de caminhos muitos diferentes e que todos esses caminhos foram recomendados pelas diversas escolas de sabedoria secular e postos em prática pelos homens”.

Qual é o caminho do americanismo?

Freud diz: “O mais grosseiro, embora o mais eficaz, desses métodos de influência é o químico: a
intoxicação”. Freud fala do Estado trans-subjetivo/physis narcose através da sublimação da realização da felicidade na busca do prazer contante pela satisfação dos instintos através do uso de drogas: “As pessoas receptivas a: “influência da arte não lhe podem atribuir um valor alto demais como fonte de prazer e consolação da vida. Não obstante, a suave narcose a que a arte nos induz, não faz mais do que ocasionar um afastamento passageiro das pressões das necessidades vitais, não sendo suficientemente forte para nos levar a esquecer a aflição real”.

Na década e 1960, os hippies aparecem como um movimento antagônico ao americanismo da maquinação. Seu axioma era não-trabalhar e viver em um estado de narcose permanente através do mais intenso prazer sexual e do uso de drogas artificiais. Para esse acontecimento, a mulher teria que ser liberada da ideologia patriarcal caipira americana. Aí se encontra a origem do multiculturalismo em pendant com o feminismo?

O movimento hippies é um antagonismo de equilíbrio com a ideologia do americanismo, pois, ele é um efeito também do axioma busca de felicidade freudiana, que é basal na ideologia cultural política econômica do americanismo. Então surge um Novo Estado que faz pendant com uma tela gramatical industrial tele eletrônica caipira/urbana. Trata-se do Estado da tela gramatical caipira/urbana narcose mundial.  

A ciência da política do Estado freudiana tem o mérito de ter pensado o Estado como physis: Estado animal. Para o leitor não achar que isso é uma fantasia minha, cito Freud:
“Por que nossos parentes, os animais, não apresentam uma luta cultural desse tipo? Não sabemos. Provavelmente, alguns deles – as abelhas, as formigas, as térmitas – batalharam – durante milhares de anos antes de chegarem ás instituições estatais, à distribuição de funções e ás restrições ao indivíduo pelas quais hoje os admiramos. Constitui um sinal de nossa condição atual o fato de sabermos, por nossos próprios sentimentos, que não nos sentiríamos felizes em quaisquer desses Estados animais ou em qualquer dos papeis neles atribuídos ao indivíduo”.

O Estado animal freudiano é o avesso do Estado-maquinação heideggeriano do americanismo?
No pós-Segunda Guerra Mundial, a ideologia intelectual do americanismo fez tábula rasa da memória cultural política econômica europeia que faz pendant com a filosofia política econômica ocidental de dois mil anos. Um livro é o signo do americanismo na década de 1990. Trata-se de um livro de ciência política americana do ultraconservador republicano Samuel P. Huntington: O choque de civilizações e a recomposição da ordem mundial.

Para Samuel, a civilização é uma entidade cultural mais ampla dotada de uma lógica de sentido. Portanto, não se trata de civilização material. No final do século XX, temos a civilização Sínica, Japonesa, Hindu, Islâmica, Latino-Americana, Africana e: “Ocidental. A civilização ocidental é geralmente dada como tendo surgido por volta de 700 ou 800 d.c. De forma geral, ela é vista pelos estudiosos como tendo três componentes principais na Europa, na América do Norte e américa Latina.

Latino-americana. A América Latina, entretanto, evoluiu por um caminho diferente dos da Europa e da América do Norte. Um produto da civilização europeia, ela também incorpora, em graus variados, elementos de civilizações indígenas americanas que não se encontram na América do Norte e na Europa. Ela teve uma cultura corporativista, autoritária, que existiu em muito menos grau na Europa e não existiu em absoluto na América do Norte”. A inconsistência de uma América do Norte ocidental não é a expressão de uma comédia vulgar que tem como protagonista o lobo solitário islâmico caipira/urbano americano uivando para a lua?  

O Estado americano é um duplo Estado. Ele é um Estado gramatical jurídico (democrático) em uma Banda de Moebius com um Estado lúmpen-gramatical (ditadura).   
A demolição do americanismo intelectual encontra-se na física hobbes-freudiana que é uma nova ciência da política do Estado. O americanismo ocidental é o domínio do Ocidente pela tela  gramatical caipira/urbana industrial. Ao contrário, a nova ciência do Estado é o trabalho de demolição da ideologia do americanismo que redefine o que é o Ocidente em uma releitura de Heidegger.

Para Heidegger, o Ocidente faz pendant com o pensamento, com o surgimento do objeto campo de pensamento com os físicos da antiguidade. Rigorosamente, o Ocidente tem a ver com a criação de um campo de pensamento especial, como quer o Gramsci hegelianizado em um formalismo historial bem temperado. Trata-se da ciência da política do Estado. Então, o Ocidente surge com os livros de Platão sobre política, sendo o mais notável o A República. Aristóteles refunda o Ocidente com o seu livro Política.

A ciência real do Estado tem dois pontos de inflexão. No século XIX com Marx (Estado-aparelho) e no século XX com Weber (Estado-instituição racional ou Estado-lógico). Porém, o significante Estado de Platão a Weber não é articulado como um significante formal historial gramatical. Agora, faço a passagem do Estado da lógica para a gramática.  Isso só foi possível com a revolução da linguística no século XX pós-weberiano e com a revolução lacaniana condensada na física laco-hobbesiana no Rio de Janeiro. Nesta cidade surge o contraconceito (conceito transdialético historial) de ESTADO GRAMATICAL.

Se o Ocidente se encontra geograficamente onde ex-siste o campo de pensamento ciência da política do Estado que suprassumiu a velha ciência política milenar e a ciência política aristotélica do modernismo weberiana, então, o Rio é o Ocidente do século XXI.                         

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