DO CESARISMO AO TRANSCESARISMO
Com a entrada na era transaristocrática houve a aceleração da desterritorialização da nação.
Tal processo teve como motor inicial o capital eletrônico corporativo mundial associado
à cultura política freudiana americana que preparou o território existencial da
trans-subjetivação sedutora das massas sujeito zero (MSØ) weberiano. A sedução
trans-subjetiva substituiu a ética weberiana do capital (do capitalismo).
Com a entrada na cena mundial do
capital corporativo mundial digital, a cultura política da sedução eletrônica se
tornou insatisfatória no processo trans-subjetivo da hegemonia do capital
mundial sobre as MSØ nacional. A desterritorialização da trans-subjetividade
nacional das MSØ parecia o caminho lógica para o estabelecimento da hegemonia
mundial do capital. Porém, o movimento efetivo do capital se constituiu como a
assunção real das massas à cultura política lumpesinal mundial. Assim, a ética
do capital foi trocada pelo phatos lumpesinal do capital.
Weber fala do capital como a
ética da razão instrumental, como burocracia moderna ética. Então temos as teorias
dos valores aristocráticos que, de algum modo, estavam associados a ideia ética
do capitalista como personificação do capital. O Estado nacional era parte da
trans-subjetivação aristocrática da cultura política mundial. O avesso de tal
trans-subjetivação ética aristocrática do capital é a trans-subjetivação do
capital como corrupção. O capitalista mundial passou a ser a personificação da
corrupção do capital. Tal fenômeno foi exportado para a vida da classe política
no século XXI.
Tal fenômeno é uma causa
suficiente para abalar a reprodução ampliada do capital produtivo (que produz a
riqueza) em uma escala planetária. AS formas especulativas do capital fictício
digital (capital cassino) se estabelecem na adjunção à cultura política do
dinheiro digital, concorrendo para a transição da cultura política da sedução
eletrônica para a cultura política da sedução digitalis como modo de
constituição da hegemonia no bloco-no-poder mundial. Tal fato levou a uma desterritorialização
da nação como se fosse um fenômeno natural. E é! Trata-se de um fenômeno da
physis do capital mundial inspirado na relação sociedade capitalista versus
Estado americano.
A cultura política freudiana
americana já é desterritorialização da trans-subjetivação nacional. A
exportação dela para o mundo é a mais cabal prova disso. Nessa era, os EUA começaram a enfrentar um
fenômeno perturbador, ou seja, a cultura política lúmpen republicana (Tea Party)
e o lúmpen fundamentalismo evangélico inscrito ora no mundo-da-vida, ora na
política como tal.
O lúmpen cultural político é um
significante criado por Marx que significa uma adjunção de estética com história
na cultura política francesa bonapartista. O significante deslizou do
mundo-da-vida artística (Paris bohème) para o mundo-da-política com Luís
Bonaparte. MSØ burguês vitoriano transformam-se
em um fenômeno político trans-subjetivo ditatorial: a biografia
grotesca/ditatorial de Luís associada à ditadura de Bonaparte. Se o
bonapartismo é um fenômeno ditatorial ele é a condensação na cultura política
moderna do cesarismo- da cultura
política cesarista universal. O cesarismo é lúmpen antes do lúpem bonapartista?
“ César, Napoleão I, Napoleão II,
Cromwell e outros. Compilar um catálogo de eventos históricos que culminem numa
grande personalidade heroica” (Gramsci: 1619). O cesarismo exprime uma solução
de “arbitral” confiada a uma grande personalidade histórica, de uma conjuntura
cultural política caracterizada por um equilíbrio de forças de perspectiva
catastrófica. Gramsci diz que existe o cesarismo progressista e o reacionário.
E que a significação exata de cada forma de cesarismo só pode ser reconstruída
pela história da cultura política concreta, e não por um esquema sociológico
qualquer.
O cesarismo é progressista quando
a intervenção ajuda a força progressista a triunfar, mesmo com certos
compromissos e medidas que limitem a vitória; é reacionário quando a sua
intervenção ajuda a força reacionária a triunfar, também neste caso com
determinados compromissos e limitações que têm um valor, um alcance e um
significado diversos, opostos aos do cesarismo progressista. Napoleão III e
Bismark foram cesarismo reacionário.
Em uma era dominada pela cultura
política lumpesinal ainda é possível pensar em cesarismo progressista? Pois, o
modelo de cultura política mundial é bonapartista (Napoleão III). Os países que
caem sob o jugo da cultura política bonapartista acabam vendo suas forças
militares regulares ou de fileira constituírem um elemento decisivo para o
advento do cesarismo, que se verifica através de golpes de Estado precisos, de
ações militares. A existência de partidos políticos e MSØ cesaristas complicam
o discurso político cesarista. Isso é capaz de evitar a ditadura militar
transcesarista?
É possível haver uma solução
cesarista mesmo sem um César, sem uma personalidade heroica/ditatorial e
representativa. O sistema parlamentar criou um mecanismo para tais soluções de
compromisso. Ele está associado ao serviço estatal destinado à repressão da
delinquência no mundo-da-vida articulado à delinquência na política:
bonapartismo de Napoleão III. Assim é o transcesarismo, pois o significante
cesarismo deslizou da superfície bonapartista para a superfície política
moderna dos partidos políticos, do aparelho de Estado executivo para o
parlamento. Isso é homólogo ao transliterário que significa o deslizamento do
significante literário para a superfície da psicologia (Bakhtin: 29) ou da
cultura política. Neste transcesarismo, inteiros partidos políticos e outras
organizações econômicas ou de outro gênero devem ser consideradas instituições
de polícia política, e de caráter investigativo e preventivo.
Na era lúmpen mundial, o capital
corporativo eletrônico age como uma organização econômica transcesarista:
polícia política. Ele é o fenômeno transcesarista mais visível e catastrófico. Parece
que os partidos políticos não conseguem dar o passo necessário para se transformarem
em partido transcesarista? Eles não são instituições de polícia política e de
caráter investigativo e preventivo? No entanto, eles são articulados pelo
processo de corrupção trans-subjetivo. Aliás, o partido dominante de Estado se
transforma em polícia política, em uma força investigativa e preventiva. O bolivarianismo
é transcesarista com sua brutal “Hegemonia Petista”.
No século XXI, os fenômenos do
cesarismo são inteiramente diversos, tanto daqueles da espécie progressista
César/Napoleão, com também da espécie Napoleão III, embora se aproximem desta
última. Assim, o equilíbrio com perspectivas catastróficas não se verifica
entre forças que, em última instância, poderiam se fundir e se unificar, mesmo
depois de um processo fatigante e (sangrento), mas entre forças cujo contraste
é insanável na superfície cultural política intelectual, e que se aprofunda com
o advento de formas transcesaristas. A ideia de Lula de se fundir com FHC e
Temer é um sonho de uma noite de verão do Sertão!
Na crise catastrófica
transcesarista mundial, há a possibilidade marginal de desenvolvimento ulterior
e organizativo de uma força que vai contra à sua fraqueza relativa,
especialmente, de força progressista antagonista, devida à sua natureza e ao
seu modo de vida particular, fraqueza que deve ser mantida como algo que não
usa o campo de poder ditatorial: por isso afirmou-se que o transcesarismo mais
do que militar é policial-jurídico. Tal fenômeno não é progressista ou
reacionário, pois, é intermediário catastrófico.
O transcesarimo é um objeto
mundial da nova ciência política da cultura política catastrófica. O Brasil
aparece como um caso de transcesarismo bolivariano catastrófico irredutível à
política. A desarticulação do modo de produção subcapitalista (“subcapital
industrial sem capitalismo como ersatz de capital industrial moderno”) faz
pendant com a desterritoriaização da trans-subjetividade nacional e, por
consequência, com a lógica da ruína do Estado nacional. Tais fenômenos
ex-sistem em uma Banda de Moebius que faz deslizar da superfície da cultura
política econômica para a superfície da cultura política como tal o
significante catástrofe. Como terceiro excluído, a cultura política lumpesinal
mundial fez um acabamento da classe política como estado permanente de
trans-subjetivação corrupta. Assim o país foi empurrado para a situação de
equilíbrio catastrófico transcesarisita de duas forças que não são nem
reacionárias nem progressistas. O que elas são essencialmente?
A força do impeachment é um
simulacro de simulação de força progressista. Ela é uma força burguesa
lumpesinal que crê na destruição do Estado nacional como a única saída para a
solução da crise econômica. Trata-se do burguês que é a personificação do
subcapital industrial que está em seus últimos suspiros. Tal força burguesa
ouve o discurso econômico mitológico da lumpenintelectualidade que só existe na
cultura intelectual graças ao capital corporativo eletrônico mundial
condensado, especialmente, no Grupo Globo. Tal corporação é o habitat de um
intelectual coletivo articulado como cultura política eletrônica lumpesinal.
Trata-se de uma força catastrófica que faz uma gestão inercial da miséria
cultural política tran-subjetiva das MSØ malicioso. Como forma mais acabada de
biografia lumpesinal jornalística eletrônica global, Merval Pereira (da ABL) é
incomparavelmente imbatível!
O bolivarianismo é a força
reacionária como motor trans-subjetivo político da situação catastrófica. Ela
não é um simulacro de simulação de reacionarismo; ela é a reação intransigente
e irremovível que assinala a impossibilidade da solução da situação
catastrófica. Em última instância, as biografias individuais petistas
(personalidades nanoheroicas) em uma simbiose com a personalidade heroica
cesarista de Lula da Silva (e por tabela Dilma Rousseff) constituem a última
causa da catástrofe política.
Um cesarismo intermediário
floresceu na comunidade jurídica desde o presidente do STF Joaquim Barbosa.
Hoje, Sérgio Moro e Janaína Paschoal são a prova de que a solução para o
equilíbrio catastrófica de força passa pela eleição direta para a presidência
em 2016. Marina Silva como primeira colocada nas pesquisas eleitorais significa
que a trans-subjetivação das forças marginais nas MSØ participativo pode ser
expandida em um curto espaço de tempo se o alto comando do lumpesinato político
que domina a cultura política nacional (fazendo pendant com o lumpencapital
eletrônico global) ir contra a sua natureza lumpesinal catastrófica.
Qualquer observador estrangeiro
já sabe que o Brasil caminha para um ponto de fusão nuclear. E que único modo
de evitar o deslocamento e condensação das contradições para o ponto de fusão é
realizar o programa mínimo: eleição presidencial junto com a eleição para
vereadores em 2016.
A eleição presidencial associada
à eleição para vereadores pode ter o poder de uma reterritorialização
trans-subjetiva da nação e ser um começo de discussão sobre a forma do nosso
Estado nacional no século XXI. A cultura política é a articulação da forma
política objetiva com o processo permanente de trans-subjetivação das MSØ. O
mundo não se deixa entender por linguagens simplórias!
BAKHTIN, Mikhail. Estética da
criação verbal. SP: Martins Fontes, 1992
GRAMSCI, Antonio. Quaderni del
Carcere. v. 3. Quaderni 12-29 (1932-1935). Torino: Giulio Einaudi Editore, 1977
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