domingo, 10 de abril de 2016

A VELHA CIÊNCIA POLÍTICA


A velha ciência política é realista. No Brasil, nos EUA e na Europa, a política é a ditadura dos partidos. No final, os caciques do Partido Republicano vão escolher o candidato republicano, e Hillary Clinton será a candidata democrata. Para tal ciência política, o namoro das massas eleitorais com Donald Trump e Bernie Sanders são quimeras, ou melhor, fantasias americanas de uma era de circunstâncias anormais. Assim, a ditadura partidária prevalecerá, apesar da insensatez circunstancial das massas sujeito zero partidário.
E a velha ciência política americana pode dormir tranquila por mais quatro anos. Pois para ela, a cultura política se reduz à forma política objetiva. O processo de trans-subjetivação das massas sujeito zero não é um problema do campo político ditatorial objetivo. Mas os EUA não estão vivendo uma crise política catastrófica!   
No Brasil, a velha ciência política crê que as massas sujeito zero jamais usarão da violência política contra a partidocracia na forma do partidarismo. No final, elas se submeterão docilmente a sua própria implosão econômica e cultural política, que a ditadura do PSDB/PMDB promoverá. A velha ciência política crê piamente que a partidocracia é uma terceira via de poder hierocrático? Ela crê que a tela eletrônica é um modo de transformar o partidarismo em poder hierocrático? Tal poder hierocrático eletrônico fará para sempre a gestão da violência das massas? Desviará a violência política das massas para o interior delas?   
Os dois clássicos poder hierocrático são: a) do soberano sacerdotal, esteja este legitimado como encarnação ou como soberano querido por Deus; b) do soberano que ocupa o cargo sacerdotal, exercendo como sacerdote também as funções do rei. O poder hierocrático sempre se definiu por evitar o surgimento de poderes seculares com intenções emancipatórias. Ele é da ordem do sagrado da cultura política mitológica. Mas tudo se passa em um campo de luta entre formas políticas objetivas de poder vividas pela classe política-  forma hierocrática versus secular racional? Ao contrário, aliás, as massas sujeito zero hierocrático sempre foram o objeto, por excelência,  do poder hierocrático!  
A partidocracia seria o poder secular emancipatório da sociedade política moderna versus a sociedade religiosa. Notem que nada nessa velha ciência política relaciona o campo de poder com os processos (e estados) de trans-subjetivação das massas sujeito zero ditatorial. Todo estudante da velha ciência política aprende que as massas são apenas massas disponíveis para a política da partidocracia. Fora disso, elas significam o caos, a desordem, a ingovernabilidade. O partidarismo significa a inscrição nas massas imprevisíveis (pois irracionais) da razão política. Para a velha ciência política ou a política é racional ou não é política.
Weber diz: “Por isso, partidos somente são possíveis dentro de comunidades que, por sua vez, constituem, de alguma forma, uma relação, associativa, isto é, que possuem, alguma ordem racional e um aparato de pessoas dispostas a pô-la em prática, pois o objetivo dos partidos é influenciar precisamente este aparato e, se possível, compô-los com seus adeptos”. Porém, a velha ciência política odeia Weber, pois está claro que ele está mais próximo da física geopolítica historial (nova ciência política) do que dela.
No conceito de partidarismo de Weber, há o problema da crise da partidocracia. Quando a ORDEM RACIONAL se estiola permanentemente, a partidocracia entra em colapso. A velha ciência política torce o nariz para tal fenômeno cultural político. No entanto, ordem racional não pode ser apenas aquela do funcionamento objetivo da forma política objetiva e do aparato burocrático, que seja. Ela tem que existir minimamente como trans-subjetividade das massas. Pois, trata-se da relação associativa racional de comunidades compostas por massas sujeito zero irracional. O eleitor tem que ser um ser racional! Como ser racional se o partidarismo é um significante literário técnico que desliza facilmente para uma ordem irracional - credo quia absurdum?              
Weber define o partidarismo assim: “Em todos eles, porém, mesmo nos mais puros, de classe, costuma ser também decisivo para a atitude dos líderes e do quadro administrativo o interesse próprio (ideal ou material) em termos de poder, cargos e garantia de existência, enquanto que a defesa dos interesses de seus eleitores só se realiza na medida em que seja inevitável, para não pôr em perigo as possibilidades de reeleição. Este último fator é uma das razões que explicam a oposição ao partidarismo”. A manipulação eleitoral das massas é a lógica dos políticos no partidarismo.
No Brasil, tal lógica é a causa da crise global - crise econômica, política e ética, pois, a ética da classe política passa a ser a ética do partidarismo. Só em situações excepcionais as massas sujeito zero são associadas à alguma espécie de ética articulada a partir da trans-subjetividade delas. A ética do partidarismo é uma ética privatista. A classe política crê que tem o direito de se apropriar privadamente dos bens públicos que a política torna disponíveis, e danem-se as massas do cotidiano da cidade e do campo. Assim, chegamos a situação política na qual a maioria das massas da pesquisa de opinião não querem Dilma Rousseff ou Michel Temer no poder nacional.
A solução STE (Superior Tribunal  Eleitoral) significa que o juiz ultra conservador Gilmar Mendes (presidente do Tribunal) vai ditar o andar da carruagem na cassação da chapa Dilma/Temer? O cálculo político desse juiz burguês do PSDB será o da melhor decisão em consonância com os interesses de tal partido. Trata-se da eleição direta em 2016 para presidente do regime 1988? Considerando a desmoralização do PSDB junto às massas, tal hipótese não é lógica. Porém, o STE é um aparato atravessado por linhas de força divergentes, e uma delas é a linha peemedebista. Para o PMDB, o melhor é a eleição indireta para presidente de um candidato seu em 2017, em aliança com o PSDB. Tal lógica do partidarismo tem uma fé islâmica de que as massas sujeito zero representativo já esgotaram sua energia narcísica para uma intervenção na política em 2016! Portanto, não é preciso um grande esforço imaginativo para ver que se trata da ditadura dos partidos sobre a vontade das massas em abril de 2016.            
No caso brasileiro, não se constituiu na era 1988 uma ética pública das massas sujeito zero. Tal ética é uma ética vivida e gerada na atividade política democrática. A velha ciência política brasileira se lixa para tais problemas culturais políticos. Para ela, o realismo político que a conduz espera que o partidarismo abra mão de sua essência weberiana circunstancialmente para colocar o país nos trilhos.
A velha ciência política é cínica e vê a política como um campo de poder objetivamente instrumental. Ela não consegue metabolizar que sua concepção da política é pura trans-subjetividade instrumental de massas intelectuais sujeito zero democrático. Hoje, até as crianças brasileiras sabem que tal concepção de mundo é uma parte importante da crisbrasile aguda do partidarismo e também da Nação. A velha ciência política é a ideologia científica do campo de poder ditatorial, instrumental, do partidarismo.  
A questão estratégica/fatal cultural política brasileira hoje é se a própria forma-partido se tornou dissipativa como auto-organização que se produze longe do equilíbrio e como fenômeno irreversível (Ilya Prigogine & Isabelle Stengers).                    
   
           
    
             

    

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