ENSAIO DE PHYSIKA HISTORIAL
A conjuntura política pode ser
articulada pelo poder simbólico? Na América-Latina, a constituição de um poder
simbólico populista começa com um ensaio de Raúl Prebisch no final da década de
1940 e a tradução do modelo teórico deste para o Brasil feito por Celso Furtado,
em 1949.
R. P. começou a defender a
industrialização da periferia latino-americana através da criação de uma
linguagem composta de categorias como
centro/periferia, desenvolvimento/subdesenvolvimento, industrialização
periférica do subdesenvolvimento. No Brasil, Furtado publicou o seu livro
“Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”, em 1961. A discussão do
subdesenvolvimento se estabeleceu no marxismo americano com o livro de Paul A.
Baran “A Economia Política do Desenvolvimento”, de 1957. Assim, o populismo
cepalino se tornou americano.
A cultura intelectual cepalina
foi a matriz simbólica da teoria econômica (universitária e não-universitária) e
da sociologia da USP. Sem estabelecer um critério rígido, cito alguns
importantes livros para provar minha hipótese. O livro “A Economia Política
Brasileira” (1984) de Guido Mantega faz um mapa abreviado “crítico” de tal
cultura intelectual cepalina. Vejamos outros:
FLORESTAN FERNANDES. Sociedade de
Classes e Subdesenvolvimento (1968)
FEENANDO HENRIQUE CARDOSO E ENZO
FALETTO. Dependência e Desenvolvimento na América Latina. 1970
ANDRE GUNDER FRANK. Capitalismo y
Subdesearrollo en América Latina (1970)
LUIZ PEREIRA. Ensaios de
Sociologia do Desenvolvimento (1970)
PIERRE SALAMA. O Processo de Subdesenvolvimento
(1972)
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES. Da
substituição de Importação ao Capitalismo Financeiro (1972)
CELSO FURTADO. O Mito do
Desenvolvimento Econômico (1974)
OCTÁVIO IANNI. A Formação do Estado Populista na América Latina (1975)
OCTAVIO RODRIGUES. Teoria do Subdesenvolvimento da Cepal (1981)
OCTAVIO RODRIGUES. Teoria do Subdesenvolvimento da Cepal (1981)
GIOVANNI ARRIGHI. A Ilusão do
Desenvolvimento (1997)
J. P. BANDEIRA DA SILVEIRA.
Capitalismo Corporativo Mundial (2002)
No Prefácio ao livro de Octavio
Rodriguez, Prebisch se diz espantado com a associação feita, por Rodriguez, entre a CEPAL e o
populismo latino-americano. Quanta a Celso Furtado, ele foi um importante
conselheiro e membro do governo populista de João Goulart. No livro “Criatividade
e Dependência na Civilização Industrial” (1978), Furtado fez um esforço
admirável para romper com o populismo da CEPAL - em um livro marxista sem ser
marxista: ecomarxista. Tal esforço foi devorado no livro “A Fantasia
Organizada”. Neste não tem uma única referência à história intelectual de
Furtado como populista e ecomarxista. Tal livro representa a autocooptação de
nossa admirável pensador ao PMDB, que seria consagrada com Furtado como chefe
do Ministério da Cultura do governo José Sarney.
Octavio Rodriguez demonstra
amplamente a ligação da cultura intelectual cepalina com a cultura política
populista. A característica principal da cultura política intelectual
cepalina/populista é a divisão que a visão do papel do Estado faz entre
populismo de esquerda e populismo de direita. Naquele, o Estado é
intervencionista, possuiu uma autonomia absoluta em relação ao bloco-no-poder
(definido pela atividade política das classes dominante e dirigente). Talvez, o
conceito seja o Estado (administração e governo) pensado no lugar hegemônico do
bloco-no-poder periférico.
No período do populismo utópico
do capitalismo nacional, Rodriguez diz que a subelite populista pensava em
erguer um verdadeiro bloco-histórico populista nacional-popular para
industrializar o Brasil, a Argentina etc. (Rodriguez: 267). Tratava-se da industrialização da
periferia subdesenvolvida latino-americana. O Estado latino-americano seria o
SUJEITO político deste processo!
O populismo tem um ponto de
inflexão com FHC e Enzo Falletto. Trata-se da construção teórica do populismo
fático e pragmático, do conceito de populismo como estrutura do fenômeno
capitalismo dependente e associado. O populismo utópico é conceito sem
significante. O populismo dependente e associado é conceito como estrutura de
um significante. O primeiro é cultura intelectual que não se realiza; o segundo
é cultura intelectual realizada: cultura política intelectual populista/bolivariana.
Os leitores formados na escola
teórico/ideológica do bolivarianismo acreditam que PT e PSDB são dois fenômenos
contraditórios. Mas, surpreendentemente, ambos se dizem antipopulista. O
bolivarianismo é a continuação do populismo clássico em uma outra conjuntura histórica -
na conjuntura da República Democrática de 1988. Nesta há o populismo de direita
que é um populismo de mercado, pragmático (FHC/PSDB/PFL, de Antônio Carlos
Magalhães) que mantem uma autonomia do mercado em relação ao Estado através da
responsabilidade fiscal. Trata-se de um populismo com responsabilidade fiscal. O populismo de esquerda é o populismo com irresponsabilidade fiscal!
Até 2008, a era lula fez parte deste populismo neoliberal responsável, herança maldita dos governos FHC. A virada veio com Guido Mantega - no comando da economia - para o populismo irresponsável. Então, o Estado se tornou intervencionista favoravelmente a um grupo de empresas dependentes e associadas. É a versão desenvolvimentista do populismo de esquerda agora pragmático.
Até 2008, a era lula fez parte deste populismo neoliberal responsável, herança maldita dos governos FHC. A virada veio com Guido Mantega - no comando da economia - para o populismo irresponsável. Então, o Estado se tornou intervencionista favoravelmente a um grupo de empresas dependentes e associadas. É a versão desenvolvimentista do populismo de esquerda agora pragmático.
A distinção política entre FHC e
Lula (PT versus PSDB) é imaginária. Ela é mantida - no cotidiano da superfície
política do mundo-da-vida e da política em si - pela cultura política
eletrônica informacional brasileira em conluio com a cultura universitária,
pois ambas são da formação intelectual populista agora em sua versão
bolivariana. Elas são fenômenos articulados pelo poder simbólico bolivariano em
cuja fundação está a CEPAL, com Raúl Prebisch e Celso Furtado.
Hoje está claro que a cultura
política cepalina populista/bolivariana existe em uma interseção com a cultura política
oligárquica conservadora colonial, no Brasil. Esta se constituiu como uma
visão-de-mundo do Engenho de cana-de-açúcar como economia autárquica. Os
engenhos eram mil repúblicas autárquicas autônomas em relação ao Estado
Patrimonial português. O engenho possuía uma visão de mundo privatista da
economia, da política e da riqueza colonial.
O Estado imperial português
existiu pela lógica privatista/patrimonialista da riqueza territorial/colonial.
O oligarquismo e o patrimonialismo são as duas matrizes simbólicas do
populismo. Da segunda, saiu a populismo de esquerda baseado no axioma de que o
Estado é autônomo em relação à sociedade civil burguesa. Do oligarquismo, saiu a
ideologia de que o Estado não deve intervir na estrutura e no funcionamento
capitalismo de engenho.
O contraconceito de capitalismo
de engenho significa que o conceito de capitalismo foi realizado como
subcapitalismo dependente e associado de engenho. A prova de tal realização
está no fato de que as próprias empresas transnacionais, ente nós, se
transformam em empresas locais autárquicas ("nacionais") em relação à lógica transnacional delas. Elas se transformam no seu oposto: em empresa transnacional do engenho
de cana-de-açúcar.
Na virada da globalização
financeira da economia mundial para o globalismo do capital corporativo mundial
na década de 1990, FHC escolheu a globalização contra o globalismo. Ele
escolheu a versão neoliberal autárquica bolivariana do subcapital dependente e associado.
Olhando para a economia brasileira, a conjuntura atual começou com os governos
de FHC. Ainda gastaremos muito papel digital nesta investigação. Contudo, no
campo do RSI (Real/Simbólico/Imaginário), a diferença entre PT/PSDB é da ordem
do imaginário da interseção da cultura universitária com a cultura política
eletrônica populistas. No RS, PT e PSDB constituem um xifópago bolivariano,
pois o bolivarianismo é o populismo da conjuntura da República Democrática pombalina de 1988. Trata-se de uma Constituição bolivariana!
Há sinais de que o poder político
bolivariano está em decomposição na política argentina. Isto não significa o
fim da tradição peronista. Esta ainda pode beber na fonte do poder simbólico
cepalino/populista/bolivariano longe de se dissolver no Brasil, Bolívia, Uruguai e Equador. O poder simbólico é o poder de autointerpretação da realidade do real da cultura política intelectual
Este texto tem apenas o objetivo de inscrever na cultura latino-americana uma interpretação da physika historial. Talvez gere mais desgosto do que alegria, da gaia ciência, nos leitores! Trata-se de um problema definido na interseção contraditória entre a vontade de simbolização da realidade do real periférico e vontade de gozar com o MESMO FENÔMENO: gozo populista/bolivariano!
Este texto tem apenas o objetivo de inscrever na cultura latino-americana uma interpretação da physika historial. Talvez gere mais desgosto do que alegria, da gaia ciência, nos leitores! Trata-se de um problema definido na interseção contraditória entre a vontade de simbolização da realidade do real periférico e vontade de gozar com o MESMO FENÔMENO: gozo populista/bolivariano!
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