segunda-feira, 2 de novembro de 2015

CEPAL/POPULISMO/PODER BOLIVARIANO

ENSAIO DE PHYSIKA HISTORIAL 
A conjuntura política pode ser articulada pelo poder simbólico? Na América-Latina, a constituição de um poder simbólico populista começa com um ensaio de Raúl Prebisch no final da década de 1940 e a tradução do modelo teórico deste para o Brasil feito por Celso Furtado, em 1949.
R. P. começou a defender a industrialização da periferia latino-americana através da criação de uma linguagem  composta de categorias como centro/periferia, desenvolvimento/subdesenvolvimento, industrialização periférica do subdesenvolvimento. No Brasil, Furtado publicou o seu livro “Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”, em 1961. A discussão do subdesenvolvimento se estabeleceu no marxismo americano com o livro de Paul A. Baran “A Economia Política do Desenvolvimento”, de 1957. Assim, o populismo cepalino se tornou americano.
A cultura intelectual cepalina foi a matriz simbólica da teoria econômica (universitária e não-universitária) e da sociologia da USP. Sem estabelecer um critério rígido, cito alguns importantes livros para provar minha hipótese. O livro “A Economia Política Brasileira” (1984) de Guido Mantega faz um mapa abreviado “crítico” de tal cultura intelectual cepalina. Vejamos outros:
FLORESTAN FERNANDES. Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento (1968)
FEENANDO HENRIQUE CARDOSO E ENZO FALETTO. Dependência e Desenvolvimento na América Latina. 1970
ANDRE GUNDER FRANK. Capitalismo y Subdesearrollo en América Latina (1970)
LUIZ PEREIRA. Ensaios de Sociologia do Desenvolvimento (1970)
PIERRE SALAMA. O Processo de Subdesenvolvimento (1972)
MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES. Da substituição de Importação ao Capitalismo Financeiro (1972)       
CELSO FURTADO. O Mito do Desenvolvimento Econômico (1974)
OCTÁVIO IANNI. A Formação do Estado Populista na América Latina (1975)
OCTAVIO RODRIGUES. Teoria do Subdesenvolvimento da Cepal (1981)
GIOVANNI ARRIGHI. A Ilusão do Desenvolvimento (1997)
J. P. BANDEIRA DA SILVEIRA. Capitalismo Corporativo Mundial (2002)
No Prefácio ao livro de Octavio Rodriguez, Prebisch se diz espantado com a associação feita, por Rodriguez, entre a CEPAL e o populismo latino-americano. Quanta a Celso Furtado, ele foi um importante conselheiro e membro do governo populista de João Goulart. No livro “Criatividade e Dependência na Civilização Industrial” (1978), Furtado fez um esforço admirável para romper com o populismo da CEPAL - em um livro marxista sem ser marxista: ecomarxista. Tal esforço foi devorado no livro “A Fantasia Organizada”. Neste não tem uma única referência à história intelectual de Furtado como populista e ecomarxista. Tal livro representa a autocooptação de nossa admirável pensador ao PMDB, que seria consagrada com Furtado como chefe do Ministério da Cultura do governo José Sarney.
Octavio Rodriguez demonstra amplamente a ligação da cultura intelectual cepalina com a cultura política populista. A característica principal da cultura política intelectual cepalina/populista é a divisão que a visão do papel do Estado faz entre populismo de esquerda e populismo de direita. Naquele, o Estado é intervencionista, possuiu uma autonomia absoluta em relação ao bloco-no-poder (definido pela atividade política das classes dominante e dirigente). Talvez, o conceito seja o Estado (administração e governo) pensado no lugar hegemônico do bloco-no-poder periférico.
No período do populismo utópico do capitalismo nacional, Rodriguez diz que a subelite populista pensava em erguer um verdadeiro bloco-histórico populista nacional-popular para industrializar o Brasil, a Argentina etc. (Rodriguez: 267). Tratava-se da industrialização da periferia subdesenvolvida latino-americana. O Estado latino-americano seria o SUJEITO político deste processo!  
O populismo tem um ponto de inflexão com FHC e Enzo Falletto. Trata-se da construção teórica do populismo fático e pragmático, do conceito de populismo como estrutura do fenômeno capitalismo dependente e associado. O populismo utópico é conceito sem significante. O populismo dependente e associado é conceito como estrutura de um significante. O primeiro é cultura intelectual que não se realiza; o segundo é cultura intelectual realizada: cultura política intelectual populista/bolivariana.
Os leitores formados na escola teórico/ideológica do bolivarianismo acreditam que PT e PSDB são dois fenômenos contraditórios. Mas, surpreendentemente, ambos se dizem antipopulista. O bolivarianismo é a continuação do populismo clássico em uma outra conjuntura histórica - na conjuntura da República Democrática de 1988. Nesta há o populismo de direita que é um populismo de mercado, pragmático (FHC/PSDB/PFL, de Antônio Carlos Magalhães) que mantem uma autonomia do mercado em relação ao Estado através da responsabilidade fiscal. Trata-se de um populismo com responsabilidade fiscal. O populismo de esquerda é o populismo com irresponsabilidade fiscal!
Até 2008, a era lula fez parte deste populismo neoliberal responsável, herança maldita dos governos FHC. A virada veio com Guido Mantega - no comando da economia - para o populismo irresponsável. Então, o Estado se tornou intervencionista favoravelmente a um grupo de empresas dependentes e associadas. É a versão desenvolvimentista do populismo de esquerda agora pragmático.              
A distinção política entre FHC e Lula (PT versus PSDB) é imaginária. Ela é mantida - no cotidiano da superfície política do mundo-da-vida e da política em si - pela cultura política eletrônica informacional brasileira em conluio com a cultura universitária, pois ambas são da formação intelectual populista agora em sua versão bolivariana. Elas são fenômenos articulados pelo poder simbólico bolivariano em cuja fundação está a CEPAL, com Raúl Prebisch e Celso Furtado.
Hoje está claro que a cultura política cepalina populista/bolivariana existe em uma interseção com a cultura política oligárquica conservadora colonial, no Brasil. Esta se constituiu como uma visão-de-mundo do Engenho de cana-de-açúcar como economia autárquica. Os engenhos eram mil repúblicas autárquicas autônomas em relação ao Estado Patrimonial português. O engenho possuía uma visão de mundo privatista da economia, da política e da riqueza colonial.
O Estado imperial português existiu pela lógica privatista/patrimonialista da riqueza territorial/colonial. O oligarquismo e o patrimonialismo são as duas matrizes simbólicas do populismo. Da segunda, saiu a populismo de esquerda baseado no axioma de que o Estado é autônomo em relação à sociedade civil burguesa. Do oligarquismo, saiu a ideologia de que o Estado não deve intervir na estrutura e no funcionamento capitalismo de engenho.
O contraconceito de capitalismo de engenho significa que o conceito de capitalismo foi realizado como subcapitalismo dependente e associado de engenho. A prova de tal realização está no fato de que as próprias empresas transnacionais, ente nós, se transformam em empresas locais autárquicas ("nacionais") em relação à lógica transnacional delas. Elas se transformam no seu oposto: em empresa transnacional do engenho de cana-de-açúcar.
Na virada da globalização financeira da economia mundial para o globalismo do capital corporativo mundial na década de 1990, FHC escolheu a globalização contra o globalismo. Ele escolheu a versão neoliberal autárquica bolivariana do subcapital dependente e associado. Olhando para a economia brasileira, a conjuntura atual começou com os governos de FHC. Ainda gastaremos muito papel digital nesta investigação. Contudo, no campo do RSI (Real/Simbólico/Imaginário), a diferença entre PT/PSDB é da ordem do imaginário da interseção da cultura universitária com a cultura política eletrônica populistas. No RS, PT e PSDB constituem um xifópago bolivariano, pois o bolivarianismo é o populismo da conjuntura da República Democrática pombalina de 1988. Trata-se de uma Constituição bolivariana!            
Há sinais de que o poder político bolivariano está em decomposição na política argentina. Isto não significa o fim da tradição peronista. Esta ainda pode beber na fonte do poder simbólico cepalino/populista/bolivariano longe de se dissolver no Brasil, Bolívia, Uruguai e Equador. O poder simbólico é o poder de autointerpretação da realidade do real da cultura política intelectual
Este texto tem apenas o objetivo de inscrever na cultura latino-americana uma interpretação da physika historial. Talvez gere mais desgosto do que alegria, da gaia ciência, nos leitores! Trata-se de um problema definido na interseção contraditória entre a vontade de simbolização da realidade do real periférico e vontade de gozar com o MESMO FENÔMENO: gozo populista/bolivariano!   
            
          
                                                     

      

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