quinta-feira, 19 de novembro de 2015

BAUDRILLARD: ESQUERDA/DIREITA

      CONTRACIÊNCIA POLÍTICA LACANIANA
  • “Não existe metalinguagem, portanto, mas o escrito que se fabrica com a linguagem poderia, talvez, ser um material dotado de força para que nela se modificassem nossas formulações. Não vejo outra esperança para os que escrevem atualmente.” (Lacan. S. 18: 116)  
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  • Em uma de seus dizeres brilhantes e axiomáticos, Marx diz: “Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (Marx. 1974: 335). Os homens fazem a história desde quando? Não seria a partir da ANTIGUIDADE GRECO/ROMANA e depois na era moderna? Se Hegel estiver certo (e Nietzsche concorda parcialmente com ele), a história é feita pela dialética senhor-escravo até a modernidade política. Homens fazendo história significa liberdade na praxis. Isso só existiu na polis grega e na república romana e, mutates mutandes, na modernidade política até a emergência do totalitarismo: russo e alemão. Estes mostraram que os homens não fazem a história; que a máquina de guerra (neste caso psicótica) faz a história. 
  • O totalitarismo sobredeterminou as cadeias de significantes e a linguagem política da história universal. A partir do stalinismo e do hitlerismo pode-se ver clara e distintamente que as máquinas de guerra fazem a história desde a civilização arcaica. Em breves momentos da política universal os homens, as mulheres e as crianças fizeram a história. Portanto a história universal é esta dialética, em última instância, -  sempre favorável às máquinas – entre a máquina de guerra e o homem. Por último, a tradição de todas as máquinas desintegradas pelo tempo pesa como chumbo no cérebro das máquinas vivas? A máquina de guerra é o significante universal da história universal a partir da civilização arcaica. Ele sempre retorna de forma diferente e lúdica: “Qual é a função do esquecimento, nessa revelação? Ainda mais particularmente, não será o esquecimento a fonte e, ao mesmo tempo, a condição indispensável para que o Eterno Retorno se revele e transforme, de uma só vez, até mesmo a identidade daquele a quem ele se revela” (Klosowski: 76). A consciência da máquina de guerra (se ex-istir) só será estabelecida se as outras possíveis identidades dela forem esquecidas. De qualquer modo, os homens, as mulheres e as crianças sempre esquecem que as máquinas de guerra sempre dominaram a história política universal. A dialética hegeliana senhor versus escravo pode agora ser vista também como a dialética máquina de guerra versus homem!  
  • O livro mais importante e original sobre a máquina de guerra freudiana é o “L’échange symbolique et la mort”. O modelo de máquina de guerra que sobredetermina a história universal é o capital, na definição de Marx (Baudrillard. 1976:7-12). O capital é uma máquina de guerra articulada pela lei do valor – pela lógica econômica do simulacro de simulação – que aparece na história universal arcaica: “O capital PRODUTOR de juros, ou, como podemos chamá-lo em sua forma antiga, o capital usurário, pertence, como o irmão gêmeo, o capital mercantil, às formas antediluvianas de capital que por longo tempo precedem o modo capitalista de produção e se encontra nas mais diversas formações econômicas da sociedade” (Marx. 1985: 680). A hipótese de Baudrillard precisa ser investigada e usada como modelo lógico na história política universal. No entanto, é preciso evitar que tal modelo baudrillardiano não transforme a história política universal em uma visão de mundo economicista. O risco baudrillardiano é fazer da história universal uma visão de mundo totalitária, transformá-la na concepção de mundo do homem unidimensional de Marcuse.               
  • I
  • Bobbio esclareceu na década de 1990 que a linguagem política é por si mesma pouco rigorosa, pois em grande parte feita de palavras extraídas da linguagem comum. "Mais do que pouco rigorosa do ponto de vista descritivo, é composta de palavras ambíguas, senão mesmo ambivalentes, no que se refere a conotação de valor". Qualquer criança de dez anos sabe que esquerda/direita são metáforas espaciais da linguagem política inventada na Revolução Francesa. "Direita" e "esquerda" não são conceitos absolutos, mas relativos. Não são conceitos substantivos ou ontológicos. Não são qualidades intrínsecas ao universo político. São lugares do "espaço político"; representam uma determinada topologia política, que nada tem a ver com ontologia política. Direita e esquerda não são palavras que designam conteúdos fixos de uma vez para sempre. "Esquerda/direita são termos que a linguagem política europeia passou a adotar no decorrer do século XIX, e preserva até hoje, para representar um universo conflituoso da política"
  • O problema da explicação de Bobbio é que ele não metabolizou/simbolizou a revolução cultural/intelectual do pós-modernismo europeu. Quando esquerda/direita tornaram-se simulacros existindo no regime oligarquia política híbrida, o par perdeu todo o seu potencial dialético. Com o neoliberalismo, esquerda/direita tornaram-se o homem unidimensional (Marcuse) do espaço político como simulacro de simulação. O espaço político movido pela lógica do simulacro de simulação introduz a esquerda no paraíso artificial da política (Baudrillard). A esquerda esquece a emancipação, ou simula que luta pela emancipação e a direita simula a defesa da tradição. Engraçado, pois esquerda e direita tornaram-se duas categorias tradicionais da política na segunda metade do século XX. No entanto, trata-se da tradição como simulacro de simulação.
  • Direita/esquerda podem ser parte de uma cultura política nacional, regional, continental, mundial. Elas podem funcionar como artefatos ideológicos poderosos dependendo da história, por exemplo, nacional.
  • A cultura política opera com metáforas espaciais, se elas fazem parte da tradição histórica. Esquerda/Direita são metáforas da política mundial. No entanto, elas precisam se constituir nas histórias dos países, regiões ou continentes. Na cultura política, a metafórica é parte da lógica do significante. O significante é algo material, pois ele articula/produz a realidade política. A metáfora espacial é vivida como "real" pelos governos, partidos, eleitores, população, multidões, etc.. Mas a cultura política pode ser capturada pela lógica do simulacro de simulação. 


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