O Estado nominalista obra-de-arte tem uma tela gramatical
narrativa androcentrada:
“Tout outre chose qu’une cène primitive, sans doute, bien
qu’à revenir si régulièrement sous les traits du frère, enjeu sensible de cette
Analyse, la figure de l’ani semble spontanément appartenir à une configuration
familiale, fraternaliste et donc androcentrée du politique”. (Derrida.
1994:12).
A figura do amigo habita o campo político androcentrado do
Estado nominalista do artista político; no Brasil, o político tem o hábito de
se abraçar e dar tapinhas amigáveis nas costas do outro político, gesto que faz
de políticos adversários amigáveis, irmãos fraternais na prática política
nacional ou provincial. Como o bolsonarismo, essa fraternidade foi encerrada.
Os políticos se tornaram inimigos figadais. O processo da civilização político
foi substituído por uma certa barbárie subpolítica. O campo político deixou de
ser a prática política familial, fraternal, do artista que transforma a prática
política em obra-de-arte. A nova pratica política brasileira da ética
oligárquica amigo [para o amigo tudo é permitido] e inimigo [para o inimigo o
poder da lei do aparelho de Estado] se transformou na ética fascista de uso da
violência verbal e física contra o inimigo e a forma de governo democrática
1988. A conciliação barroca (Htzfeld:
61)para a obtenção do consenso é abolida da pratica política em geral.
A globalização liberal criou um poder mafioso liberal usado
pela elite econômica mafiosa do capital e a elite política mafiosa de Estado.
Governos estruturam sua prática política pela tela verbal narrativa mafiosa
liberal, como os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Na transição
possível para o Estado nacional territorial da terceira década do século XXI, o
governo Lula é um poder político paraconsistente, pois estruturado também pelo
poder mafioso liberal do capital. Ministérios importantes encontram-se nas mãos
da elite econômica mafiosa do capital e da elite política mafiosa de Estado.
A luta política entre as elites mafiosas do capital e a
burguesia política progressista tem como objeto o Estado lacaniano tributário
ou fiscal. A mais-valia pública é disputada palma a palmo em uma guerra de
posição que atravessa os aparelhos do Estado integral, pois os aparelhos
ideológicos midiáticos do capital participam da guerra política.
O Estado tributário, lacaniano, nominalista é tornado
compreensível em extensão e profundidade por Derrida:
“Le concept du politique s’annonce raramente sans quelque
adhérence de l’État à la famille, sans ce que nous appellerons une schématique
de la filiation: la souche, le genre ou l’espèce, le sexe (Geschlecht), le
sang, la naissance, la nature, la nation, - aurochtone ou non, tellurique ou
non. Question abyssale, une fois encore, de la phúsis. Question de l’être,
question de de qui paraît à naître, à s’ouvrier, à faire pousser ou croître, à
produire em se produisant. La vie, n’est-ce pas? C’est ainsi qu’on croit le
reconnaître”. (Derrida. 1994: 13)
A ciência política materialista pós-modernista/nominalista
faz a crítica da crítica da gramática do Estado telúrico e autóctone em relação
à natureza plástica e ao ser do campo político.
A amizade é um fenômeno que cria a prática política da
politeia, condição de possibilidade da existência de uma democracia
constitucional com soberania da multidão. O problema da violência política tem
que ser resolvido, pois, a palavra, o melhor argumento que decide o sujeito é a
essência da prática política da multidão na busca do consenso. O um [consenso]
é um feito da tela gramatical da pratica política da multidão:
“Au principe, toujours, l’ Un se fait violence et se garde de
l’autre”. (Derrida. 1994:13).
O Um é o aparelho de coerção de Estado que conserva o outro,
a multidão soberana. A democracia da multidão é paraconsistente (Newton da
Costa; 2008); ela existe em um campo político da stásis e da pólemos, Carl
Schmitt (Schmitt: 55) faz:
“brève référence à la République (V,
470) en ce lie où Platon oppose la
guerre proprement dite (pólemos) à la guerre civile, à la rébelion ou au
soulèvement (stásis). Sans préciser quel est le type de cette laiison, Scmitt y
rappele l’insistence de Platon sur la distinction <liée> (verbunden) à
celle des deux types d’ennemi (polemios et ekhthrós), à savoir la distinction
entre pólemos (<la guerre>) et stásis (<émeute, soulèvement, rébelion,
guerre civile>). Et il ajout; <Aux yeux de Platon, seule une guerre entre
Grecs et Barbares (ennemis de nature) est effectivemment une guerre (wirklich
Krieg), alors que les luttes (die Kampfe) entre Grecs sont de l’ordre de la
stásis (des querelles intestines). L”idée qui domine ici est qu’un peuple ne
peut se faire la guerre à lui-même et qu’une <guerre civile> n’est jamais
que déchirement de soi mais ne signifierait peut-être pas la formation d’um
État nouveua, voire d’um peuple nouveau”. (Derrida. 1994: 110-111).
A ideia que aqui domina é que um povo não pode
fazer guerra contra si mesmo e que uma <guerra civil> nunca é outra coisa
senão uma ruptura consigo, mas talvez não signifique a formação de um novo Estado,
mesmo de um novo povo.
Talvez não signifique, mas pode significar a formação de um
novo Estado. A guerra civil pode mudar a forma de governo e pode alterar a
gramática do campo político; a violência do aparelho de Estado não é a guerra
civil, ela existe em função da pólemos e de uma violência policial contra o
crime penal na sociedade e no aparelho de Estado. A gramática da guerra,
também, não se confunde com a noção de luta:
“La guerre n’est pas lutte. Le propre de la guerre est d’être
une action vilente s’inscrivant dans une histoire. Le term qui doit retenir
l’attention dans cette définition est le mot histoire. La guerre ne se sépare
pas de l’histoire et tout les actions violentes ne sont pas pour autant des
actions de guerre: c’est seulement quand une action violente s’inscrit dans
l’histoire, lorsque’elle s’écrit en em s’inscrivant, qu’elle atteint la
dimension de la guerre. Touts les actions qui ne débouchent par sur l’histoire
doivent être rangées sous le concept de lutte. C’est ainsi qu’il n’y a pas,
stricto sensu, de guerre animale, il existe seulement des luttes animales
[...]”. (Philonenko: 1’84).
A luta pode usar violência animal, porém ela jamais se
inscreve na história, ela não faz a história, a violência animal não faz a
história, não se inscreve na história. Por quê?
Philonenko:
Au niveau même des définitions, um premier rappórt s’institue
entre la guerre et la langage. Tandis que le langage dança définition ne suppose
pas la guerre, cette dernière dans as définition suppose un aspect du langage
três précis, à savoir l’ecriture, indispensable soutien de tout histoire
réell”. (Philonenko: 184).
A <escritura> é a tela verbal narrativa em um campo
político da história:
“La langage est donc un phénomène plus universel que la
guerre puisque celle-ci le suppose, et non l’inverse. Quand nous disons que la
guerre suppose comme écriture et quand nous relion celle à l’histoire, nous
voulons également dire qu la guerre est une manifestatin supérieure de la
condute humaine et nous écarttons tout les manifestatins primitives de la lutte
dont l’ethnographie nous rapporte les secrets. La lutte dansles communautés
primitives n’est pas la guerre, car em se disant dans le mythe elle n’atteint
pas à l’objectivité de la conscience historique”. (Philonenko: 184).
A tela verbal narrativa da guerra instaura o campo simbólico,
e a luta animal político o campo diabólico:
‘Alors que l’intelligence décompose le sens, le mythe le
composse. C’est pourquoi il ne saurait être compris d’aprés une supposée valeur
explicative: le mythe n’est pas une science des primitifsmais un moyen de
compréhension immédiate du réel. L’opposé du sym-bolique, c’est, proprement, le
dia-bolique”. (Godin: 732).
2
Há relações estratégicas e táticas entre logos e gramática na
construção, conservação e evolução para consistente [e para sintática] da
civilização política em geral. a relação entre logos e política:
“E isto é claramente a política. E posto que ela <regula
que ciências são necessárias nas cidades e quais e em que medida deve apreender
cada um>, conclui-se que <o fim delas> - da política – incluirá as
demais ciências, de modo que será o bem do homem”. (Samaranch:188).
A ciência política do Estado é o campo de subsunção das
outras ciências. A ciência política é aquela do logos:
“O homem é o único ser vivo que possui <logos>, esse
meio de comunicação racional que lhe permite estabelecer acordos sobre o justo
e o injusto, o adequado ou não, o melhor e o pior”. (Samaranch: 192).
O logos é a razão política que permite o governo da multidão?
O que é governo?
Nietzche:
“Le philosophe n’aurait-il pas le droit de s’élever au-dessus
de la foi qui régit la grammaire? Tous nos respects aux gouvernantes; mais ne
serait-il pas temps pour la philosophie d’abjurer la foi des gouvernantes?
(Nietzsche: 54).
Governo faz pendant com tela gramatical narrativa. Como
aparelho de hegemonia, a filosofia do artista [amigo do saber] nominalista,
androcentrado, abandona a fé na tela verbal narrativa que legitima o rei [ o
soberano em geral] e a forma de governo.
O campo político-histórico [contexto, conjuntura] do sofista estabelece uma
relação diferente entre logos e gramática?
En efect, si la langage, de même que l’être et le connaître qui lui sont
étroitement apparentés, est d’essence antitrhétique, l’antithèse se révèle
ainsi, une fois encore, être une catégorie universelle; celasignifie que, du
fait même de ses contradictions formelles, expressions d’une contradiction
métyaphysique, le langage est φμôel,
comme est φμôel as puissance, en raison
de l’irrésistible force de persuasion qu’elle puet exercer au moyen du
‘leurre’”. (Untersteiner: 282).
A tela gramatical narrativa é lógica paraconsistente:
“Le terme ‘logos’, au sens qui lui attibue Gorgias, est donc
intraduisible, puisqu’il exprime aussi bien le concept d’’exposition’ élaborée
dans le cadre des idées que le concept de ‘discours ou encore que celui de
‘pensée’, mais qu’il les exprime de telle sorte que lunité de l’un, comme celle
de l’autre, reponde à l’idée de
‘raison’. C’est pourquoi, lorsque Gorgias, dans L’Hélène, parle du ‘logos’,
c’est aussi bien au mot isole expriment
un concept qu’à une proposition construite logicament qu’il se réfère, en sorte
que les frontières entre la gnosélogie et la rhétorique en viennent à
s’estomper: le discours, objet de la
recherche gnoséologique mené dans le traité Sur le non-étant est également
objet d’interprétatin dans l’ordre de la pratique concrète”. (Untersteiner:
282).
Em Lacan, gramática é o mesmo que discurso.
(Lacan. S. 20:21). O discurso no campo político exige um hegemonikón
(Elorduy:26) ou eu hegemônico estoico concreto-real, na história do campo
político paraconsistente:
‘Para o dialético típico, ao contrário do dogmático típico
[entes ideias, como corpos rígidos da mecânica racional...], a lógica acha-se
imersa na sua história, à qual não pode transcender, impera certo relativismo
no domínio das ciências formais e, de direito, não há doutrina impossível de se
dialetizar”. (Newton da Costa. 2008: 80).
3
O discurso lógico se desenvolve na história da civilização
política do Estado territorial tradicional e, portanto, na constituição da ciência
política de Estado. A política como gramática do logos se baseia em princípios:
“Para os lógicos fiéis à tradição, cuja origem remonta a
Aristóteles, há três princípios básicos que regulam o pensamento válido: os
princípios da identidade, da contradição [ou da não-contradição] e o terceiro
excluído”. (Newton da Costa: 113).
As regiões do campo político podem ser lidas como fenômenos
da lógica gramatical. Os gramáticos são gramáticos e uma espécie de cientista
política da língua. O Estado está imerso na gramática do cérebro invadido por
uma língua da civilização política. o Rei e a realeza são metonímias cerebrais do
Estado na tela verbal poética:
“Dans la notion homérique de la royauté survivent des
représentations qu’on retrouve en quelque manière dans d’autre sociétés
indo-européennes. Il s’agit notamment de l’idée que ler roi est l’auteur et le
garant de la prospérité pour son peuple, s’il suit les règles de la justice et
les commandements divins. On lit dans l’Odyssée (19, 110 ss.) cet éloge du bom
roi;<un bom roi (basileús) qui respect les dieux, qui vit selon la justice,
qui règne (anásson) sur des hommes nombreux et vaillants, pour lui la terre
nire porte les blés et les orges, les arbres sont charges de fruit, les
troupeaux s’accroissent sans cesse,la mer apporte ses poissons, grâce à as
bonne administration; les peuples prospèrent sous lui>”> (Benveniste:
26).
Aristóteles fala das afeções como gramática espontânea e/ou
gramática da civilização política da alma/cérebro:
“Bem! parece que todas as afecções da alma são ligadas ao
corpo; a ira, a educação, o medo, a piedade, a valentia, a alegria, assim como
o amor e o ódio, já que quando estas afecções aparecem, também o corpo é
afetado. Isto resulta absolutamente evidente. Às vezes não se manifesta alguma
indignação ou temor, ainda quando as provocações sejam fortes e claras, e, ao
contrário, causas minúsculas ou quase inadvertidas produzem movimentos, quando
o corpo está predisposto à ira e está de humor colérico”. (Aristoteles: 109).
A subsunção das afecções espontânea às afecções da
civilização política [educação, por exemplo] depende do princípio da
não-contradição:
“Dentre as várias formulações da lei da contradição,
lembraremos a seguinte:
(8) A não pode ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, B e
não B”. (Newton da Costa: 115).
Na identidade entre ontologia e lógica, uma proposição deve
estar conforme a realidade objetiva. Duas proposições contraditórias não são
verdadeiras ao mesmo tempo (Newton da Costa: 121):
“Proposição, aqui, é qualquer sequência de palavras ou de
símbolos perceptíveis aos sentidos, cujo significado reside no fato de atribuir
ou negar alguma característica do objeto”. Newton da Costa: 121).
O Estado é uma proposição, se esta é uma tela lógico-verbal.
Assim, a plurivocidade de Estado no campo político civilizatório é uma
plurivocidade de proposição perceptível aos sentidos como o aparelho de coerção
de Estado. A plurivocidade de proposição pode criar e recriar um campo político
heterogêneo [e até heteróclito]. Assim, a contradição entre as proposições são
contradições entre Estados. Ora, dois Estados ou proposições não são
verdadeiros ao mesmo tempo. Desse fenômeno de plurivocidade de Estado sai a
ideia de que a verdade não existe.
Newton da Costa:
“As leis lógicas têm uma dupla face: uma, reflete a atividade
racional e outra, os caracteres mais gerais dos objetos, em particular dos
objetos reais. Para que a lógica funcione, tenha valor ao ser aplicada, não é
suficiente que garanta a coerência [ou a não-trivialidade] do
pensamento, mas deve, também, refletir a realidade objetiva. Noutras palavras,
o lógico, além de seu aspecto subjetivo, possui outro, objetivo,
ontológico: constitui, no tocante ao mundo real, conforme Gonseth, uma física
do objeto absolutamente indeterminado, absolutamente qualquer, ou, pelo menos,
dos objetos quaisquer de amplas regiões objetivas”. (Newton da Costa; 133).
O Estado da civilização política é lógica gramatical aplicada
no campo político-histórico. Ele cria e recria as regiões lógico gramatical do
campo político conjuntural. Por exemplo. O Estado nacional territorial criou e
recriou as regiões esquerda e direita, que hoje se exaurem. O Estado
pós-modernista liberal da globalização criou uma região ou superfície profunda
heteróclita - como um campo diabólico.
4
A história da luta de classes na URSS (Betthelheim; 1974)
cria e recria uma prática política soviética paraconsistente:
“Desde Heráclito, passando por Hegel, Marx e Lenin , e, em
nossos dias, por Wittgenstein, tem havido filósofos admitindo que a contradição
pode ser aceita em teorias e contextos racionais que expressam conhecimentos
legítimos. Wittgenstein afirmou: ‘Se uma contradição fosse agora efetivamente
descoberta na aritmética – isto provaria apnas que uma aritmética, com essa
contradição, poderia prestar serviços muito bons. (Newton da Costa 170).
Theda Skocpol faz uma ciência política materialista
paraconsistente:
“A Nova Política Econômica (NEP) que prevaleceu logo após o
fim da guerra civil não mostrou uma saída estável para a o após o fim da guerra
civil não mostrou uma saída estável para a Revolução Russa. No final dos anos
20, a NEP deu lugar a uma sociedade totalmente coletivista e burocraticamente
administrada sob direção de um Estado-Partido ditatorial devotado a uma rápida
e pesada industrialização. (Skocpol: 235)
A fabricação do Estado paraconsistente industrial foi o
resultado da contradição antagônica da burguesia de Estado soviética com os
camponeses. A solução foi a desintegração dos camponeses como classe-apoio do
Estado:
“Neste ponto, é importante chegar a uma compreensão mínima
das razões por que culminou deste modo uma revolução originariamente feita pelo
povo com esperanças libertárias e socialistas. Temos de levar em consideração,
em primeiro lugar, as contradições inerentes à NEP e, em seguida, as condições
circunstanciais herdadas do Antigo Regime e as propensões políticas
transportadas do período da guerra civil. Todos estes fatores ajudam a explicar
porque é que o Partido Comunista se
voltou sob a direção de Stalin para a coletivização forçada da agricultura e um
ruinoso programa de industrialização pesada”.
“Durante os primeiros anos da década de 20, o sistema híbrido
da NEP funcionou relativamente bem – a economia recuperou e a população aumentou. Em 1926, porém, as
dificuldades emergentes deram o sinal para as mudanças de base que teriam de
ser feitas. Os mais sérios dilemas eram colocados pelas relações do novo regime
soviético com o campesinato, tanto no plano econômico como no plano político”.
*Skpcpol: 235).
Na NEP, se ergue um
Estado barroco de aliança do proletariado com os camponeses, e o proletariado
como o Príncipe moderno ou aparelho de hegemonia do Estado soviético, em uma
revolução marxista/barroca paraconsistente. Com Stalin, uma burguesia política
de Estado assume a posição de dominação ideológica [segundo o logos clássico no
cérebro de Stalin] sobre as classes populares. Unilateralmente, o proletariado
urbano se torna classe-apoio do Estado cesarista do stalinismo. Para Stalin, a
revolução era um paradoxo lógico e ontológico a ser resolvido na relação entre
o Estado do logos em seu cérebro e os camponeses em uma interpretação acaciana
e positivista do marxismo de Marx e Engels e Lenin:
“Solucionar [resolver, superar, ...] dado paradoxo consiste
em se provar que ele reduz a falácia ou em se evidenciar que sua conclusão não
é, de fato, inaceitável. Quando se consegue mostrar que o paradoxo P não
passa de paralogismo, diz-se que a solução de P é negativa; quando se patenteia ser a
conclusão de P realmente aceitável, dizemos que
solução é positiva”. (Newton da Costa: 222).
Stalin foi por um outro caminho:
“Não se pode eliminar o paradoxo do sistema do Grundgesetze
der Arithmetik a não ser modificando-o, isto é, transformando-o em outro
sistema: o original era e sempre será trivial”. (Newton da Costa: 222).
No campo político soviético se desintegra o Estado
democrático barroco/marxista e se fabrica um Estado ditatorial
marxista/leninista do logos iluminista.
A globalização liberal do capital capitalista viu na relação
do Estado pós-modernista virtual com o Estado nacional territorial um paradoxo
a ser desintegrado para resolver o processo de acumulação de capital. O caminho
foi a centralização e concentração da riqueza munia nas mãos de uma classe dominante
virtual (Levy: 228-229), relegando as nações a um pauperismo crescente,
progressivo. Tal fenômeno só foi possível por causa das relações técnicas de
produção cibernéticas que criaram a moeda digital do Estado pós-modernista da
multinacional corporativa feudal.
5
O Estado feudal virtual é um sistema lógico gramatical?
Newton da Costa:
“Antes de mais nada, convém deixar claro que não constitui
tarefa da lógica, por si só, decidir se o mundo é consistente ou não. Há
sistemas lógicos que, pelos seus postulados, acarretam a existência de
contradições reais; porém, sua aplicação nos contextos científicos depende de
condições não apenas lógicas, como já se insistiu: a aplicabilidade dos
sistemas lógicos aos contextos regula-se pelos princípios pragmáticos da
razão”. (Newton da Costa: 233).
A contradição entre o Estado feudal virtual e o Estado
nacional territorial pode ser uma aporia ou paradoxo [contradição antagônica]
ou uma contradição materialista pura:
“Por conseguinte, se há contradições reais, deve haver
diferenças entre as soluções dos paradoxos que não são aporias refletindo a
realidade, e as demais, fundamentadas na objetividade do mundo real”. (Newton
da Costa: 234).
Newton da Costa:
“Noutras palavras, quando um paradoxo se reduz a falácia não
é de se esperar que, para superá-lo, sejam necessárias grandes modificações na
estrutura da ciência, pois, caso contrário, ele seria aporia. Então, se formos
capazes de detectar algumas características das aporias propriamente ditas, que
se distingam claramente dos paradoxos falaciosos, poderíamos argumentar que
possivelmente espelham contradições objetivas e reais; sua superação, sem
dúvida, acarretará transformações radicais na ciência”. (Newton da Costa:
234-235).
As contradições objetivas e reais entre o Estado feudal
virtual e o Estado nacional territorial advém no campo político da globalização
asiática. Ela são a causa do aparecimento da ciência política materialista
paraconsistente:
“Poder-se-ia indagar: a dialética hegeliana ou marxista [e de
outros pensadores] não estabeleceu a existência de contradições no mundo real?
Todos conhecem os argumentos dos dialéticos referentes ao movimento e ao
câmbio: eles se destinam a provar a existência de contradições reais”. (newton
da Costa: 236-37).
Segue:
“Aceitando-se o fato de que existem, no sentido precedente,
contradições verdadeiras, surge imediatamente a indagação: elas têm caráter
ontológico, refletem algo real? Contestar esta questão, claro está, constitui
tarefa árdua. A esse respeito, pode-se dizer pouco de positivo; por exemplo,
que na sistematização do conhecimento, dependendo da lógica subjacente, e,
portanto, também dos elementos abstratos a ela inerentes, nada impede o
surgimento de contradições verdadeiras. Elas, embora verdadeiras, não espelham
de modo direto as relações entre objetos reais. Possuem, pois, caráter
ontológico relativo, correlacionado com dada forma de sistematização do
saber”> (newton da Costa: 237-38).
O problema entre O Estado feudal virtual e o Estado nacional
territorial tem um caráter ontológico? Na ciência política materialista
parasintática, as contradições objetivas não são um reflexo do real (Lukács:
35-36). Porque o parasintático é paraconsistente. O Estado é um fenômeno lógico
gramatical:
“c) o argumento da linguagem natural: todos esses problemas
dependem do fato óbvio de que qualquer construção logicamente rigorosa dos
contextos racionais se acha comprometida com a linguagem natural [sem ela, por
exemplo, não se vê como edificar sistemas lógicos-formais e suas semânticas] e
que as linguagens comuns não são nem podem ser logicamente exatas”. (Newton da
Costa: 239-40).
A relação de negação do Estado territorial pelo Estado
virtual diz respeito, exclusivamente, à apropriação da riqueza mundial? Não é
possível uma distribuição de riqueza para o dominado nos países -enquanto
existir o Estado virtual da multinacional?
Newton:
“logo, a negação, especialmente nas sentenças atômicas,
expressando fatos reais, possui caráter ontológico: tem significado real e a
verdade ou falsidade de enunciados onde figura a negação depende da estrutura
ao universo. E algo análogo sucede com a negação nas teorias paraconsistente de
conjuntos e em outras teorias desse tipo, bem como nas contradições semióticas,
embora, como se verá adiante, a negação tenha outros significados ‘fracos’.
(Newton: 240).
6
Na realidade planetária, há um Estado
ontológico/parasintático/paraconsistente?
Newton:
“Entretanto, recentemente se iniciou movimento sistemático
para se precisar a doutrina dialética. E o surpreendente foi que as concepções
dialéticas se aclararam após as análises feitas, havendo motivos fortes a favor
da tese central da dialética, e, em particular, da existência de contradições
reais, ainda que não se mostrem completamente conclusivos”. (Newton: 245).
A ciência política materialista (Bandeira da Silveira; 2024)
vem trabalhando com o Estado ontológico/parasintático/paraconsistente, como
unidade dos opostos, isto é, campo virtual e campo territorial:
Em síntese, o princípio da unidade de oposto contribui para
tornar a existência das contradições reais altamente provável. Mas o problema
fundamental é: convém nos contextos científicos continuar ignorando a região de
vaguidade e seu ignificado para a
lógica, somente se empregando a lógica clássica, ou é melhor explicitar a
existência da região e investiga-la, para isso recorrendo-se a novas lógicas
9paraconsistentes)? Naturalmente, só a evolução da ciência, como um todo,
contestará essa de maneira positiva. Mas, antes de mais nada, deve-se verificar
se uma lógica dialética (paraconsistente) {...} existe e é funcional para os
contextos racionais e, em especial, para os científicos”. (Newton da Costa:
247).
O Estado chines é um Estado
ontológicos/parasintático/paraconsistente? Ele não resolve a negação fraca
entre o virtual e o territorial mundial na distribuição da mais-valia pública?
O general intelletc (Bandeira da Silveira; 2022) gramatical asiático se realiza
como fabricação de uma sociedade de classes sociais com 500 milhões de pessoas.
O Estado feudal, virtual/territorial é a expressão no campo político asiático
da pequena burguesia do general intellect gramatical. Trata-se de uma pequena
burguesia proprietária do <capital cultural> (Bourdieu: 39). Todo um
campo de ideologias do século XXI é criado e recriado pela pequena-burguesia do
capital cultural no qual há a resolução [concreta-real] da contradição fraca
entre Estado virtual e Estado territorial nacional.
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DERRIDA, Jacques. Politiques de l’amitié. Paris: Galilée,
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GODIN, Christian. La totalité. Volume 1. De l’imaginaire au
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1993
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