segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Nominalismo, androcentrada, logos, gramática paraconsistente

 



 

O Estado nominalista obra-de-arte tem uma tela gramatical narrativa androcentrada:

“Tout outre chose qu’une cène primitive, sans doute, bien qu’à revenir si régulièrement sous les traits du frère, enjeu sensible de cette Analyse, la figure de l’ani semble spontanément appartenir à une configuration familiale, fraternaliste et donc androcentrée du politique”. (Derrida. 1994:12).

A figura do amigo habita o campo político androcentrado do Estado nominalista do artista político; no Brasil, o político tem o hábito de se abraçar e dar tapinhas amigáveis nas costas do outro político, gesto que faz de políticos adversários amigáveis, irmãos fraternais na prática política nacional ou provincial. Como o bolsonarismo, essa fraternidade foi encerrada. Os políticos se tornaram inimigos figadais. O processo da civilização político foi substituído por uma certa barbárie subpolítica. O campo político deixou de ser a prática política familial, fraternal, do artista que transforma a prática política em obra-de-arte. A nova pratica política brasileira da ética oligárquica amigo [para o amigo tudo é permitido] e inimigo [para o inimigo o poder da lei do aparelho de Estado] se transformou na ética fascista de uso da violência verbal e física contra o inimigo e a forma de governo democrática 1988.    A conciliação barroca (Htzfeld: 61)para a obtenção do consenso é abolida da pratica política em geral.

A globalização liberal criou um poder mafioso liberal usado pela elite econômica mafiosa do capital e a elite política mafiosa de Estado. Governos estruturam sua prática política pela tela verbal narrativa mafiosa liberal, como os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. Na transição possível para o Estado nacional territorial da terceira década do século XXI, o governo Lula é um poder político paraconsistente, pois estruturado também pelo poder mafioso liberal do capital. Ministérios importantes encontram-se nas mãos da elite econômica mafiosa do capital e da elite política mafiosa de Estado.

A luta política entre as elites mafiosas do capital e a burguesia política progressista tem como objeto o Estado lacaniano tributário ou fiscal. A mais-valia pública é disputada palma a palmo em uma guerra de posição que atravessa os aparelhos do Estado integral, pois os aparelhos ideológicos midiáticos do capital participam da guerra política. 

O Estado tributário, lacaniano, nominalista é tornado compreensível em extensão e profundidade por Derrida:

“Le concept du politique s’annonce raramente sans quelque adhérence de l’État à la famille, sans ce que nous appellerons une schématique de la filiation: la souche, le genre ou l’espèce, le sexe (Geschlecht), le sang, la naissance, la nature, la nation, - aurochtone ou non, tellurique ou non. Question abyssale, une fois encore, de la phúsis. Question de l’être, question de de qui paraît à naître, à s’ouvrier, à faire pousser ou croître, à produire em se produisant. La vie, n’est-ce pas? C’est ainsi qu’on croit le reconnaître”. (Derrida. 1994: 13)

A ciência política materialista pós-modernista/nominalista faz a crítica da crítica da gramática do Estado telúrico e autóctone em relação à natureza plástica e ao ser do campo político.

A amizade é um fenômeno que cria a prática política da politeia, condição de possibilidade da existência de uma democracia constitucional com soberania da multidão. O problema da violência política tem que ser resolvido, pois, a palavra, o melhor argumento que decide o sujeito é a essência da prática política da multidão na busca do consenso. O um [consenso] é um feito da tela gramatical da pratica política da multidão:

“Au principe, toujours, l’ Un se fait violence et se garde de l’autre”. (Derrida. 1994:13).

O Um é o aparelho de coerção de Estado que conserva o outro, a multidão soberana. A democracia da multidão é paraconsistente (Newton da Costa; 2008); ela existe em um campo político da stásis e da pólemos, Carl Schmitt (Schmitt: 55) faz:

“brève référence à la République (V, 470) en  ce lie où Platon oppose la guerre proprement dite (pólemos) à la guerre civile, à la rébelion ou au soulèvement (stásis). Sans préciser quel est le type de cette laiison, Scmitt y rappele l’insistence de Platon sur la distinction <liée> (verbunden) à celle des deux types d’ennemi (polemios et ekhthrós), à savoir la distinction entre pólemos (<la guerre>) et stásis (<émeute, soulèvement, rébelion, guerre civile>). Et il ajout; <Aux yeux de Platon, seule une guerre entre Grecs et Barbares (ennemis de nature) est effectivemment une guerre (wirklich Krieg), alors que les luttes (die Kampfe) entre Grecs sont de l’ordre de la stásis (des querelles intestines). L”idée qui domine ici est qu’un peuple ne peut se faire la guerre à lui-même et qu’une <guerre civile> n’est jamais que déchirement de soi mais ne signifierait peut-être pas la formation d’um État nouveua, voire d’um peuple nouveau”. (Derrida. 1994: 110-111).   

   A ideia que aqui domina é que um povo não pode fazer guerra contra si mesmo e que uma <guerra civil> nunca é outra coisa senão uma ruptura consigo, mas talvez não signifique a formação de um novo Estado, mesmo de um novo povo.

Talvez não signifique, mas pode significar a formação de um novo Estado. A guerra civil pode mudar a forma de governo e pode alterar a gramática do campo político; a violência do aparelho de Estado não é a guerra civil, ela existe em função da pólemos e de uma violência policial contra o crime penal na sociedade e no aparelho de Estado. A gramática da guerra, também, não se confunde com a noção de luta:

“La guerre n’est pas lutte. Le propre de la guerre est d’être une action vilente s’inscrivant dans une histoire. Le term qui doit retenir l’attention dans cette définition est le mot histoire. La guerre ne se sépare pas de l’histoire et tout les actions violentes ne sont pas pour autant des actions de guerre: c’est seulement quand une action violente s’inscrit dans l’histoire, lorsque’elle s’écrit en em s’inscrivant, qu’elle atteint la dimension de la guerre. Touts les actions qui ne débouchent par sur l’histoire doivent être rangées sous le concept de lutte. C’est ainsi qu’il n’y a pas, stricto sensu, de guerre animale, il existe seulement des luttes animales [...]”. (Philonenko: 1’84). 

A luta pode usar violência animal, porém ela jamais se inscreve na história, ela não faz a história, a violência animal não faz a história, não se inscreve na história. Por quê?

Philonenko:

Au niveau même des définitions, um premier rappórt s’institue entre la guerre et la langage. Tandis que le langage dança définition ne suppose pas la guerre, cette dernière dans as définition suppose un aspect du langage três précis, à savoir l’ecriture, indispensable soutien de tout histoire réell”. (Philonenko: 184).

A <escritura> é a tela verbal narrativa em um campo político da história:

“La langage est donc un phénomène plus universel que la guerre puisque celle-ci le suppose, et non l’inverse. Quand nous disons que la guerre suppose comme écriture et quand nous relion celle à l’histoire, nous voulons également dire qu la guerre est une manifestatin supérieure de la condute humaine et nous écarttons tout les manifestatins primitives de la lutte dont l’ethnographie nous rapporte les secrets. La lutte dansles communautés primitives n’est pas la guerre, car em se disant dans le mythe elle n’atteint pas à l’objectivité de la conscience historique”. (Philonenko: 184).

A tela verbal narrativa da guerra instaura o campo simbólico, e a luta animal político o campo diabólico:

‘Alors que l’intelligence décompose le sens, le mythe le composse. C’est pourquoi il ne saurait être compris d’aprés une supposée valeur explicative: le mythe n’est pas une science des primitifsmais un moyen de compréhension immédiate du réel. L’opposé du sym-bolique, c’est, proprement, le dia-bolique”. (Godin: 732).

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Há relações estratégicas e táticas entre logos e gramática na construção, conservação e evolução para consistente [e para sintática] da civilização política em geral. a relação entre logos e política:

“E isto é claramente a política. E posto que ela <regula que ciências são necessárias nas cidades e quais e em que medida deve apreender cada um>, conclui-se que <o fim delas> - da política – incluirá as demais ciências, de modo que será o bem do homem”. (Samaranch:188).

A ciência política do Estado é o campo de subsunção das outras ciências. A ciência política é aquela do logos:

“O homem é o único ser vivo que possui <logos>, esse meio de comunicação racional que lhe permite estabelecer acordos sobre o justo e o injusto, o adequado ou não, o melhor e o pior”. (Samaranch: 192).             

O logos é a razão política que permite o governo da multidão? O que é governo?

Nietzche:

“Le philosophe n’aurait-il pas le droit de s’élever au-dessus de la foi qui régit la grammaire? Tous nos respects aux gouvernantes; mais ne serait-il pas temps pour la philosophie d’abjurer la foi des gouvernantes? (Nietzsche: 54).

Governo faz pendant com tela gramatical narrativa. Como aparelho de hegemonia, a filosofia do artista [amigo do saber] nominalista, androcentrado, abandona a fé na tela verbal narrativa que legitima o rei [ o soberano em geral]  e a forma de governo. O campo político-histórico [contexto, conjuntura] do sofista estabelece uma relação diferente entre logos e gramática?

En efect, si la langage, de même que l’être et                   le connaître qui lui sont étroitement apparentés, est d’essence antitrhétique, l’antithèse se révèle ainsi, une fois encore, être une catégorie universelle; celasignifie que, du fait même de ses contradictions formelles, expressions d’une contradiction métyaphysique, le langage est                                                               φμôel, comme est  φμôel as puissance, en raison de l’irrésistible force de persuasion qu’elle puet exercer au moyen du ‘leurre’”. (Untersteiner: 282).

A tela gramatical narrativa é lógica paraconsistente:

“Le terme ‘logos’, au sens qui lui attibue Gorgias, est donc intraduisible, puisqu’il exprime aussi bien le concept d’’exposition’ élaborée dans le cadre des idées que le concept de ‘discours ou encore que celui de ‘pensée’, mais qu’il les exprime de telle sorte que lunité de l’un, comme celle de l’autre, reponde à  l’idée de ‘raison’. C’est pourquoi, lorsque Gorgias, dans L’Hélène, parle du ‘logos’, c’est  aussi bien au mot isole expriment un concept qu’à une proposition construite logicament qu’il se réfère, en sorte que les frontières entre la gnosélogie et la rhétorique en viennent à s’estomper: le discours, objet  de la recherche gnoséologique mené dans le traité Sur le non-étant est également objet d’interprétatin dans l’ordre de la pratique concrète”. (Untersteiner: 282).

  Em Lacan, gramática é o mesmo que discurso. (Lacan. S. 20:21). O discurso no campo político exige um hegemonikón (Elorduy:26) ou eu hegemônico estoico concreto-real, na história do campo político paraconsistente:

‘Para o dialético típico, ao contrário do dogmático típico [entes ideias, como corpos rígidos da mecânica racional...], a lógica acha-se imersa na sua história, à qual não pode transcender, impera certo relativismo no domínio das ciências formais e, de direito, não há doutrina impossível de se dialetizar”. (Newton da Costa. 2008: 80).  

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O discurso lógico se desenvolve na história da civilização política do Estado territorial tradicional e, portanto, na constituição da ciência política de Estado. A política como gramática do logos se baseia em princípios:

“Para os lógicos fiéis à tradição, cuja origem remonta a Aristóteles, há três princípios básicos que regulam o pensamento válido: os princípios da identidade, da contradição [ou da não-contradição] e o terceiro excluído”. (Newton da Costa: 113).

As regiões do campo político podem ser lidas como fenômenos da lógica gramatical. Os gramáticos são gramáticos e uma espécie de cientista política da língua. O Estado está imerso na gramática do cérebro invadido por uma língua da civilização política. o Rei e a realeza são metonímias cerebrais do Estado na tela verbal poética:

“Dans la notion homérique de la royauté survivent des représentations qu’on retrouve en quelque manière dans d’autre sociétés indo-européennes. Il s’agit notamment de l’idée que ler roi est l’auteur et le garant de la prospérité pour son peuple, s’il suit les règles de la justice et les commandements divins. On lit dans l’Odyssée (19, 110 ss.) cet éloge du bom roi;<un bom roi (basileús) qui respect les dieux, qui vit selon la justice, qui règne (anásson) sur des hommes nombreux et vaillants, pour lui la terre nire porte les blés et les orges, les arbres sont charges de fruit, les troupeaux s’accroissent sans cesse,la mer apporte ses poissons, grâce à as bonne administration; les peuples prospèrent sous lui>”> (Benveniste: 26).

Aristóteles fala das afeções como gramática espontânea e/ou gramática da civilização política da alma/cérebro:  

“Bem! parece que todas as afecções da alma são ligadas ao corpo; a ira, a educação, o medo, a piedade, a valentia, a alegria, assim como o amor e o ódio, já que quando estas afecções aparecem, também o corpo é afetado. Isto resulta absolutamente evidente. Às vezes não se manifesta alguma indignação ou temor, ainda quando as provocações sejam fortes e claras, e, ao contrário, causas minúsculas ou quase inadvertidas produzem movimentos, quando o corpo está predisposto à ira e está de humor colérico”. (Aristoteles: 109).

A subsunção das afecções espontânea às afecções da civilização política [educação, por exemplo] depende do princípio da não-contradição:

“Dentre as várias formulações da lei da contradição, lembraremos a seguinte:

(8) A não pode ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, B e não B”. (Newton da Costa: 115).

Na identidade entre ontologia e lógica, uma proposição deve estar conforme a realidade objetiva. Duas proposições contraditórias não são verdadeiras ao mesmo tempo (Newton da Costa: 121):

“Proposição, aqui, é qualquer sequência de palavras ou de símbolos perceptíveis aos sentidos, cujo significado reside no fato de atribuir ou negar alguma característica do objeto”. Newton da Costa: 121).

O Estado é uma proposição, se esta é uma tela lógico-verbal. Assim, a plurivocidade de Estado no campo político civilizatório é uma plurivocidade de proposição perceptível aos sentidos como o aparelho de coerção de Estado. A plurivocidade de proposição pode criar e recriar um campo político heterogêneo [e até heteróclito]. Assim, a contradição entre as proposições são contradições entre Estados. Ora, dois Estados ou proposições não são verdadeiros ao mesmo tempo. Desse fenômeno de plurivocidade de Estado sai a ideia de que a verdade não existe.

Newton da Costa:

“As leis lógicas têm uma dupla face: uma, reflete a atividade racional e outra, os caracteres mais gerais dos objetos, em particular dos objetos reais. Para que a lógica funcione, tenha valor ao ser aplicada, não é suficiente que garanta a coerência [ou a não-trivialidade] do pensamento, mas deve, também, refletir a realidade objetiva. Noutras palavras, o lógico, além de seu aspecto subjetivo, possui outro, objetivo, ontológico: constitui, no tocante ao mundo real, conforme Gonseth, uma física do objeto absolutamente indeterminado, absolutamente qualquer, ou, pelo menos, dos objetos quaisquer de amplas regiões objetivas”. (Newton da Costa; 133).

O Estado da civilização política é lógica gramatical aplicada no campo político-histórico. Ele cria e recria as regiões lógico gramatical do campo político conjuntural. Por exemplo. O Estado nacional territorial criou e recriou as regiões esquerda e direita, que hoje se exaurem. O Estado pós-modernista liberal da globalização criou uma região ou superfície profunda heteróclita - como um campo diabólico.              

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A história da luta de classes na URSS (Betthelheim; 1974) cria e recria uma prática política soviética paraconsistente:

“Desde Heráclito, passando por Hegel, Marx e Lenin , e, em nossos dias, por Wittgenstein, tem havido filósofos admitindo que a contradição pode ser aceita em teorias e contextos racionais que expressam conhecimentos legítimos. Wittgenstein afirmou: ‘Se uma contradição fosse agora efetivamente descoberta na aritmética – isto provaria apnas que uma aritmética, com essa contradição, poderia prestar serviços muito bons. (Newton da Costa 170).

Theda Skocpol faz uma ciência política materialista paraconsistente:

“A Nova Política Econômica (NEP) que prevaleceu logo após o fim da guerra civil não mostrou uma saída estável para a o após o fim da guerra civil não mostrou uma saída estável para a Revolução Russa. No final dos anos 20, a NEP deu lugar a uma sociedade totalmente coletivista e burocraticamente administrada sob direção de um Estado-Partido ditatorial devotado a uma rápida e pesada industrialização. (Skocpol: 235)

A fabricação do Estado paraconsistente industrial foi o resultado da contradição antagônica da burguesia de Estado soviética com os camponeses. A solução foi a desintegração dos camponeses como classe-apoio do Estado:

“Neste ponto, é importante chegar a uma compreensão mínima das razões por que culminou deste modo uma revolução originariamente feita pelo povo com esperanças libertárias e socialistas. Temos de levar em consideração, em primeiro lugar, as contradições inerentes à NEP e, em seguida, as condições circunstanciais herdadas do Antigo Regime e as propensões políticas transportadas do período da guerra civil. Todos estes fatores ajudam a explicar porque é  que o Partido Comunista se voltou sob a direção de Stalin para a coletivização forçada da agricultura e um ruinoso programa de industrialização pesada”.    

“Durante os primeiros anos da década de 20, o sistema híbrido da NEP funcionou relativamente bem – a economia recuperou  e a população aumentou. Em 1926, porém, as dificuldades emergentes deram o sinal para as mudanças de base que teriam de ser feitas. Os mais sérios dilemas eram colocados pelas relações do novo regime soviético com o campesinato, tanto no plano econômico como no plano político”. *Skpcpol: 235).

 Na NEP, se ergue um Estado barroco de aliança do proletariado com os camponeses, e o proletariado como o Príncipe moderno ou aparelho de hegemonia do Estado soviético, em uma revolução marxista/barroca paraconsistente. Com Stalin, uma burguesia política de Estado assume a posição de dominação ideológica [segundo o logos clássico no cérebro de Stalin] sobre as classes populares. Unilateralmente, o proletariado urbano se torna classe-apoio do Estado cesarista do stalinismo. Para Stalin, a revolução era um paradoxo lógico e ontológico a ser resolvido na relação entre o Estado do logos em seu cérebro e os camponeses em uma interpretação acaciana e positivista do marxismo de Marx e Engels e Lenin:

“Solucionar [resolver, superar, ...] dado paradoxo consiste em se provar que ele reduz a falácia ou em se evidenciar que sua conclusão não é, de fato, inaceitável. Quando se consegue mostrar que o paradoxo P não passa de paralogismo, diz-se que a solução de P  é negativa; quando se patenteia ser a conclusão de P realmente aceitável, dizemos que  solução é positiva”. (Newton da Costa: 222).

Stalin foi por um outro caminho:

“Não se pode eliminar o paradoxo do sistema do Grundgesetze der Arithmetik a não ser modificando-o, isto é, transformando-o em outro sistema: o original era e sempre será trivial”. (Newton da Costa: 222).

No campo político soviético se desintegra o Estado democrático barroco/marxista e se fabrica um Estado ditatorial marxista/leninista do logos iluminista.

A globalização liberal do capital capitalista viu na relação do Estado pós-modernista virtual com o Estado nacional territorial um paradoxo a ser desintegrado para resolver o processo de acumulação de capital. O caminho foi a centralização e concentração da riqueza munia nas mãos de uma classe dominante virtual (Levy: 228-229), relegando as nações a um pauperismo crescente, progressivo. Tal fenômeno só foi possível por causa das relações técnicas de produção cibernéticas que criaram a moeda digital do Estado pós-modernista da multinacional corporativa feudal.        

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O Estado feudal virtual é um sistema lógico gramatical?

Newton da Costa:

“Antes de mais nada, convém deixar claro que não constitui tarefa da lógica, por si só, decidir se o mundo é consistente ou não. Há sistemas lógicos que, pelos seus postulados, acarretam a existência de contradições reais; porém, sua aplicação nos contextos científicos depende de condições não apenas lógicas, como já se insistiu: a aplicabilidade dos sistemas lógicos aos contextos regula-se pelos princípios pragmáticos da razão”. (Newton da Costa: 233).

A contradição entre o Estado feudal virtual e o Estado nacional territorial pode ser uma aporia ou paradoxo [contradição antagônica] ou uma contradição materialista pura:

“Por conseguinte, se há contradições reais, deve haver diferenças entre as soluções dos paradoxos que não são aporias refletindo a realidade, e as demais, fundamentadas na objetividade do mundo real”. (Newton da Costa: 234).

Newton da Costa:

“Noutras palavras, quando um paradoxo se reduz a falácia não é de se esperar que, para superá-lo, sejam necessárias grandes modificações na estrutura da ciência, pois, caso contrário, ele seria aporia. Então, se formos capazes de detectar algumas características das aporias propriamente ditas, que se distingam claramente dos paradoxos falaciosos, poderíamos argumentar que possivelmente espelham contradições objetivas e reais; sua superação, sem dúvida, acarretará transformações radicais na ciência”. (Newton da Costa: 234-235).

As contradições objetivas e reais entre o Estado feudal virtual e o Estado nacional territorial advém no campo político da globalização asiática. Ela são a causa do aparecimento da ciência política materialista paraconsistente:

“Poder-se-ia indagar: a dialética hegeliana ou marxista [e de outros pensadores] não estabeleceu a existência de contradições no mundo real? Todos conhecem os argumentos dos dialéticos referentes ao movimento e ao câmbio: eles se destinam a provar a existência de contradições reais”. (newton da Costa: 236-37).

Segue:

“Aceitando-se o fato de que existem, no sentido precedente, contradições verdadeiras, surge imediatamente a indagação: elas têm caráter ontológico, refletem algo real? Contestar esta questão, claro está, constitui tarefa árdua. A esse respeito, pode-se dizer pouco de positivo; por exemplo, que na sistematização do conhecimento, dependendo da lógica subjacente, e, portanto, também dos elementos abstratos a ela inerentes, nada impede o surgimento de contradições verdadeiras. Elas, embora verdadeiras, não espelham de modo direto as relações entre objetos reais. Possuem, pois, caráter ontológico relativo, correlacionado com dada forma de sistematização do saber”> (newton da Costa: 237-38).  

O problema entre O Estado feudal virtual e o Estado nacional territorial tem um caráter ontológico? Na ciência política materialista parasintática, as contradições objetivas não são um reflexo do real (Lukács: 35-36). Porque o parasintático é paraconsistente. O Estado é um fenômeno lógico gramatical:

“c) o argumento da linguagem natural: todos esses problemas dependem do fato óbvio de que qualquer construção logicamente rigorosa dos contextos racionais se acha comprometida com a linguagem natural [sem ela, por exemplo, não se vê como edificar sistemas lógicos-formais e suas semânticas] e que as linguagens comuns não são nem podem ser logicamente exatas”. (Newton da Costa: 239-40).

A relação de negação do Estado territorial pelo Estado virtual diz respeito, exclusivamente, à apropriação da riqueza mundial? Não é possível uma distribuição de riqueza para o dominado nos países -enquanto existir o Estado virtual da multinacional?

 Newton:

“logo, a negação, especialmente nas sentenças atômicas, expressando fatos reais, possui caráter ontológico: tem significado real e a verdade ou falsidade de enunciados onde figura a negação depende da estrutura ao universo. E algo análogo sucede com a negação nas teorias paraconsistente de conjuntos e em outras teorias desse tipo, bem como nas contradições semióticas, embora, como se verá adiante, a negação tenha outros significados ‘fracos’. (Newton: 240).

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Na realidade planetária, há um Estado ontológico/parasintático/paraconsistente?

Newton:

“Entretanto, recentemente se iniciou movimento sistemático para se precisar a doutrina dialética. E o surpreendente foi que as concepções dialéticas se aclararam após as análises feitas, havendo motivos fortes a favor da tese central da dialética, e, em particular, da existência de contradições reais, ainda que não se mostrem completamente conclusivos”. (Newton: 245). 

A ciência política materialista (Bandeira da Silveira; 2024) vem trabalhando com o Estado ontológico/parasintático/paraconsistente, como unidade dos opostos, isto é, campo virtual e campo territorial:

Em síntese, o princípio da unidade de oposto contribui para tornar a existência das contradições reais altamente provável. Mas o problema fundamental é: convém nos contextos científicos continuar ignorando a região de vaguidade e  seu ignificado para a lógica, somente se empregando a lógica clássica, ou é melhor explicitar a existência da região e investiga-la, para isso recorrendo-se a novas lógicas 9paraconsistentes)? Naturalmente, só a evolução da ciência, como um todo, contestará essa de maneira positiva. Mas, antes de mais nada, deve-se verificar se uma lógica dialética (paraconsistente) {...} existe e é funcional para os contextos racionais e, em especial, para os científicos”. (Newton da Costa: 247).

O Estado chines é um Estado ontológicos/parasintático/paraconsistente? Ele não resolve a negação fraca entre o virtual e o territorial mundial na distribuição da mais-valia pública? O general intelletc (Bandeira da Silveira; 2022) gramatical asiático se realiza como fabricação de uma sociedade de classes sociais com 500 milhões de pessoas. O Estado feudal, virtual/territorial é a expressão no campo político asiático da pequena burguesia do general intellect gramatical. Trata-se de uma pequena burguesia proprietária do <capital cultural> (Bourdieu: 39). Todo um campo de ideologias do século XXI é criado e recriado pela pequena-burguesia do capital cultural no qual há a resolução [concreta-real] da contradição fraca entre Estado virtual e Estado territorial nacional.

 

 

ARISTOTELS. Obras. Del alma. Madrid: Aguilar, 1982

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Gramática do general intelect. EUA: amazon, 2022

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Ciência ´política materialista. EUA: amazon, 2024.

BENVENISTE, ÉMILE. Le vocabulaire des instituitions indo-européennes. 2. Pouvoir, droit, religion. Paris: Minuit, 1969

BETTELHEIM, Chales. Les luttes de classes en URSS. 1917-1923. Paris: Maspero/Seuil, 1974

BOURDIEU, Pierre. Raisons pratiques. Sur la théorie de l’action. Paris: Suil, 1994

DERRIDA, Jacques. Politiques de l’amitié. Paris: Galilée, 1994

ELORDUY, Eleuterio. El Estoicismo. Madrid: Gredos, 1972

GODIN, Christian. La totalité. Volume 1. De l’imaginaire au symbolique. Paris: Champ Vallon, 1998

HATZFELD, Helmut. Estudos sobre o Barroco. SP: Perspectiva, 1988

LACAN, Jacques. Le Séminaire. Livre 20. Encore. Paris: Seul, 1975

LÉVY, Pierre. Cibercultura. SP: Editora 34, 2010

LUKÁCS, Georg. Estética. Volume 1. La pecualiaridad de lo estético. Barcelona: Grijalbo, 1982    

NEWTON DA COSTA, Ensaio sobre os fundamentos da lógica. SP: Hucitec, 2008

NIETZSCHE. Par-delà bien et mal. Paris: Gallimard, 1971

PHILONENKO, Alexis. Essais sur la philosophie de la guerre. Paris: J. Vrin, 1988 

SAMARANCH, Francisco. Cuatro ensayos sobre Aristóteles. México: Fondo de Cultura Económica, 1991

SCHMITT, Carl. O conceito de político. Petrópolis: Vozes, 1992

SKOCPOL, Theda. Estados e revoluções sociais. Lisboa: Presença, 1985

UNTERSTEINER, Mario. Les Sophistes. Volume 1. Paris: J. Vrin, 1993

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