sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Estado mercantilista, Estados de exceção, guerra barroca

 

Estadomercantilismoexeceção

 

O objeto desse texto consiste em estabelecer as relações complexas  ente o Estado mercantilista e o Estado de exceção. O Estado fascista aparece como forma particular de regime do Estado burguês de exceção. Evita-se o weberianismo estruturalista parisiense que fala em <Estado capitalista> no lugar de Estado burguês. (Poulantzas. 1974: 7-8). O estruturalismo marxista recorre a Weber em vez de desenvolver a ciência política de Marx, Engels, Lenin, Mao Zedung. Com ele é impossível ver o Estado confucionista/maoista paraconsistente como uma forma de Estado mercantilista normal.  O Estado mercantilista de exceção cria e abre as comportas para o campo subpolítico heteróclito. O Estado confucionistas/maoista luta para bloquear os fenômenos do campo heteróclito como constitutivo da gramática do campo político nacional.  O subpolítico é a subsunção do campo político lógico ao infralógico ou, no melhor dos casos, paralógico incorreto (Newton da Costa. 2019:20), que é o grau zero da tela gramatical lógica paraconsistente.

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O Estado mercantilista é o fenômeno universal no campo da civilização política ocidental. O campo político em geral é paraconsistente:

“A lei da contradição inerente às coisas, auso fenômenos, ou lei da unidade de contrários, é a lei fundamental da dialética materialista. Lenine diz: <ao sentido próprio, a dialética é o estudo da contradição na essência mesma das coisas”. (Mao. V. 1: 347).

Ora, a lógica paraconsistente da prática política do Estado mercantilista encontra-se nos fenômenos com contradição simples ou aporia:

“Desde Heráclito, passando por Hegel, Marx e Lenin , e, em nossos dias, por Wittgenstein, tem havido filósofos admitindo que a contradição pode ser aceita em teorias e contextos racionais que expressam conhecimento legítimo”. (Newton da Costa. 2008: 170).

Lenin fez um estudo da lógica paraconsistente de Hegel. Ele pode ser aplicado  na investigação do capital e do Estado:

“Engels tinha razão quando disse que o sistema de Hegel era materialismo volto del revés”. (Lenin. 1974:220).

Esclareço:

“É completamente impossível entender ‘O Capital’ de Marx, e em especial seu primeiro capítulo, sem ter estudado e entendido a fundo toda a Lógica de Hegel. Por conseguinte, faz meio século que nenhum marxista entendeu a Marx”. (Lenin. 1974: 169).

O capital é um fenômeno paraconsistente, E o estado mercantilista e o campo da civilização política ocidental também são lógica gramatical paraconsistente:

“A lógica se assemelha à gramática e para o principiante é uma coisa, e outra coisa distinta para o conhecedor da língua [e das línguas] e do espírito da linguagem”. (Lenin. 1974: 88).

A língua tem espírito; esse conceito é de Hegel e significa tela gramatical. Lenin fala da tela da linguagem como fenômeno, acrescento, do campo político paraconsistente. Como fenômeno do espírito da língua, o Estado mercantilista é uma tela gramatical universal que se traduz em fenômenos particulares, na época moderna, como Estado de exceção: Estado fascista, ou bonapartista, ou ditatorial militar, (Poulantzas. 1974: 7), ou ditatorial civil, ou Estado mafioso...

O campo político existe em uma plurivocidade de fenômeno de Estado:

“1) conexão necessária, nexos objetivos entre todos os aspectos, forças, tendencias etc., na esfera dos fenômenos dados”.

“2) ‘nascimento imanente das diferenças’ – lógica objetiva interna da evolução e da luta entre as diferenças, polaridades”. *(lenin. 1974: 87).

A lógica paraconsistente existe no discurso político e no Estado mercantilista, existe na realidade política:

“As categorias da lógica são Abbreviaturen [‘epistomiert, em outra passagem], de ‘infinidade’ de ‘particularidades próprias da existência exterior e atividade. Estas categorias dienen (servem) por sua vez aos homens na pratica [‘na atividade espiritual do conteúdo vivente na produção e o intercambio”. (Lenin. 1974: 80).

A lógica paraconsistente estrutura a prática política do Estado mercantilista na civilização política. No entanto, há “Estados” que já não são o Estado lógico:  paralógicos corretos e incorretos, infralógicos e supralógicos.        

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Lenin parte das complexas relações entre Estado, gramática e história da civilização política ou história universal hegeliana e de Marx:

“A constituição de um Estado, com sua religião ... filosofia, pensamento, cultura, ‘forças exteriores’ (clima, vizinhos) constitui ‘uma substância, um Espírito...”.

“A linguagem é mais rica entre os povos em estado primitivo, subdsenvo9lvido – a linguagem se empobrece como avanço da civilização e o desenvolvimento da gramática”.

‘A história mundial se desenvolve em um território superior ao da moralidade”. (Lenin. 1974: 295; 1984. Vol 38: 293-34).

A relação entre as relações técnicas de produção e a tela gramatical não obedece a um determinismo da técnica de produção. Dessa proposição é necessário repensar o Estado como Espírito, isto é, tela gramatical narrativa

Taminiaux fala de Hegel:

“L’intitulé général ‘Constituition’ recouvre une théorie de l’Etat. Elle commence por poser que l’Etrat est pour ainsi dire l’esprit de la loi”. (Taminiaux: 57).

Lenin:

“Um excelente quadro da história; soma das paixões individuais, das ações individuais etc. [‘em todas as partes algo a fim a nós mesmos, e por conseguinte em todas partes algo que excita nosso interesse a favor ou contra’, as vezes a massa de interesse geral, as vezes uma multidão de ‘forças minúsculas’ [ ‘um infinito despliegue de forças minúsculas que produzem um enorme efeito a partir do que parece insignificante”. (Lenin. 1974: 295-96).

Como prática política de unidade entre teoria e práxis, o molecular pode definir o rumo da conjuntura. Lenin foi o molecular que alterou o rumo da conjuntura russa de 1916-17. Mao Zedung foi o molecular que se encontra na origem da Construção do Estado confuciano moderno maoista, feudal, nacional da China da atualidade.

A relação entre Estado democrático e a gramática como laço social na antiguidade. A multidão como sujeito da politeia como efeito do significante, isto é, da tela gramatical narrativa de Estado:

‘Mais de uma coisa no mundo é passível de efeito do significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando com ele se articula o significante. Nunca, jamais surge sujeito algum até que o fato seja dito”. (Lacan. S. 16: 65).    

Lenin:

“A democracia Grega estava vinculada a pequena dimensão dos Estados. A linguagem, a linguagem viva, unificava aos cidadãos, creava Erwarmung [Ardor]”. (Lenin. 1974: 298).

A linguagem política, discurso político, gramática política, todos são o Estado como espírito da lei, da Constituição. A Constituição é o quê? Depende da reação sociedade civil Estado

Lenin:

!...A promulgação das leis é? Vontade de todos...’Os poucos devem <representar> aos muitos, porém a minudo só lhes <reprimem>...’. O poder da maioria sobre a minoria não é em menor grau uma grande incoerência’”. (Lenin: 299).

O poder político da maioria sobre a minoria pode ser gramatical/lógico paraconsistente ou infralógico ou supralógico. O poder político é o diabo do romantismo, ele é ethos e páthos, ele inclui o campo subpolítico e a história do heteróclito:

Goethe:

“Mefistófeles:

Sou parcela do Além, Força que cria o mal e também faz o bem!

Fausto:

Que dizes com palavras dúbias, meu herói?

Mefistófeles:

Eu sou aquele gênio que nega e que destrói!

E o faço com a razão; a obra da criação

Caminha com vagar para a destruição.

Seria bem melhor se nada fosse crido.

Ou também ‘destruição’ , ou simplesmente ‘o mal’

Constitui meu elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-61).

No livro ‘Parmênides”. Platão fala de um campo político não paraconsistente, de um campo político sem contradição ou aporia, sem a região do heterogêneo ou do heteróclito:

“Ora, se o uno fosse afetado por algo diferente de ser uno, seria, por essa afecção, mais do que o uno, e isso é, impossível”. (Platão: 58).

A contradição inscreve a afecção na gramática política do uno e o desintegra, e por isso é o impossível de ser suportado: fim do Estado platônico.

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Se Lenin foi O gramático da primeira metade do século XX, Mao Zedung é O, da outra metade. Mao pensou o Estado mercantilista não horizonte Ocidente/Oriente. Fala de um campo metafísico [idealista feudal ou materialista burguês} e de um campo político conjuntural paraconsistente e materialista. (Zizek. 2008: 85).

O campo político se tem presença no campo das ideologias Europa/Ásia:

“Os metafísicos sustentam que todas as diferentes espécies de coisas no Universo e todas as suas características sempre foram as mesmas desde que começam a existir. Todas as mudanças subsequentes não passaram de simples aumentos ou diminuições nas quantidades. Argumentam que uma coisa só pode continuar repetindo a si mesma como o tipo de coisa, e não se pode transfo9rmar em nada diferente. Na opinião deles, a exploração capitalista, a concorrência capitalista, a ideologia individualista da sociedade capitalista etc. podem ser todas encontradas na antiga sociedade escravista ou até na sociedade primitiva, e existirão para sempre, imutáveis. Eles atribuem as causas do desenvolvimento social a fatores externos à sociedade, tais como geografia e clima. Procuram, de forma extremamente simplificada, fora de algo, as causas de seu desenvolvimento, e negam a teoria dialética materialista, a qual sustenta que o desenvolvimento surge das contradições dentro de algo”. (Zizek. 2008: 85).

A crítica da gramática do campo das ideologias Europa/Á

“Na Europa, esse modo de pensar existiu como materialismo mecânica nos séculos XVII e século XVIII, e como evolucionismo vulgar no final do século XIX e3 princípio do século XX. Na China, havia o pensamento metafísico exemplificado no ditado ‘O céu não muda,, do mesmo modo o Tao não muda’, que por longo tempo foi apoiado pelas decadentes classes dominantes feudais. O materialismo mecânico e o evolucionismo vulgar, importado da Europa nos últimos 100 anos, são apoiados pela burguesia”. (Zizek. 2008: 86).

Um Estado confucionista feudal do dominante em aliança com a burguesia se tornou o objeto estratégico da revolução barroca maoista. Mao foi o aparelho de hegemonia molecular de fabricação de um novo Estado mercantilista, confucionista, feudal, virtual/territorial do dominado.

O campo paraconsistente materialista da formação social/nacional asiática era um objeto do pressuposto saber do PCC maoista:

“A causa fundamental do desenvolvimento de uma coisa não externa, mas interna; e está no aspecto contraditório interior à coisa. Existe contradição interna em tudo, e isso determina seu movimento e desenvolvimento. O aspecto contraditório no interior de um a coisa é a causa fundamental de seu desenvolvimento, enquanto as inter-relações e interações com outras coisas são causas secundárias. (Zizek. 2008: 86).

O aspecto contraditório interior a coisa, isto é, a crítica da gramática do Estado mercantilista se movimentou e desenvolveu o Estado de exceção mercantilista geral, tela gramatical virtual; as relações com as outras formas de exceção do Estado mercantilista particulares [bonapartismo, fascismo, ditadura militar, ditadura civil, Estado mafioso] aparecem como aspectos secundário do campo político conjuntural. No Brasil, O Estado de exceção mafioso pós-modernista se tornou o aspecto principal da contradição principal e o Estado da Constituição de 1988 o aspecto secundário na história da conjuntura de 1988.

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A ciência política materialista paraconsistente parte da relação entre sociedade e Estado na civilização política. Primeiro, uma plurivocidade de Estado:

“Math ne peut faire cette chose importante qu’est le cylch, la <tournée>, la visite circulare de ses États , par laquelle le maître d’um pays, accompagné de ses principaux officiers, manifeste chaque année son pouvoir par le fait que ce sont ses sujets qui couvrent tous les frais”. (Dumézil: 100).

Segundo a sociedade:

“As transformações na sociedade são resultado sobretudo do desenvolvimento de suas contradições internas, isto é, a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, entre as classes, e entre o velho e o novo; é o desenvolvimento dessas contradições que empurra a sociedade para adiante e dá ímpeto para a substituição da velha sociedade pela nova”. (Zizek. 2008: 87).

Na sociedade paraconsistente, Mao toma como ilustração a URSS:

Mesmo sob as condições sociais existentes na União Soviética, existe diferença entre trabalhadores e camponeses, e essa própria diferença é uma contradição, apesar de que, ao contrario da contradição entre trabalho e capital, ela não se intensificará até o antagonismo nem assumirá a forma de luta de classes; os trabalhadores e os camponeses estabeleceram firme aliança no transcurso da construção do socialismo e estão gradualmente resolvendo essa contradição ao longo do avanço do socialismo para o comunismo. A questão é sobre a diferentes tipos de contradição, e não sobre a presença ou ausência de contradição. A contradição é universal e absoluta, está presente no processo de desenvolvimento de todas as coisas e permeia todos os processos do começo ao fim”. (Zizek. 2008: 93).

Na URSS. Se desenvolveu a contradição entre o Estado stalinista e o campesinato no campo político conjuntural da URSS. Na atualidade do Brasil, desenvolve-se a contradição entre o Estado mercantilista de exceção pós-modernista e o campesinato na medida em que esse Estado é a tela verbal narrativa dos interesses econômicos e do poder político do latifúndio feudal pós-modernista.

O campo político é um processo em movimento de contradições:

A essência particular de cada forma de movimento está determinada por sua própria contradição particular. Isso é verdadeiro não apenas para a natureza, mas também para os fenômenos ideológicos e sociais. Cada forma de sociedade, cada forma de ideologia tem sua própria contradição particular e sua própria essência particular”. (Zizek. 2008: 95).

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O movimento contraditório fundamental é aquele entre as gramáticas: das classes sociais, dos Estados e do velho versus o novo. Do Estado do entendimento ao Estado da razão, entre aparelho de coerção vindo da sociedade e aparelho de hegemonia da gramática do Estado lógico:

“O passo crucial de Hegel rumo á maturidade acontece quando ele realmente ‘abandona o paradigma da polis’ e reflete sobre o papel da sociedade civil-burguesa. Em primeiro lugar, a sociedade civil-burguesa é, para Hegel, o <Estado do Entendimento>, o Estado reduzido ao aparelho policial que regula a caótica interação dos indivíduos, na qual cada um persegue seus interesses egoístas.[...]. Surge a necessidade, portanto, de passar desse <Estado de Entendimento> para o verdadeiro <Estado de Razão>, em que as disposições subjetivas dos indivíduos se harmonizem com o Todo social, em que os indivíduos reconhecem a substância social com sua própria”. (Zizek. 2013:84).

 Zizek não esclarece qual razão. Lenin fala de um Estado gramatical lógico paraconsistente na sua leitura de Hegel. O Estado de exceção mafioso é um Estado de alguma de razão? Ele é a coisa em si:

“A coisa em si, como o ser refletido simples da existência dentro de si, não é fundamento do ser aí inecenssial; ela é a unidade imóvel, indeterminada, porque ela tem justamente a determinação de ser a mediação suprassumid, e, portanto, apenas a base desse mesmo ser aí. Por isso, também a reflexão como ser aí que se media através do outro, cai fora da coisa em si. Essa não deve ter nenhuma multiplicidade determinada nela mesma, e a obtém somente por ser trazida à reflexão exterior, mas permanece indiferente frente  à multiplicidade. [A coisa em si tem cor somente se é trazida aos olhos, tem sabor, se trazida ao nariz etc.]. Sua diversidade são considerações que um outro leva em conta, relações determinadas que esse se dá para com a coisa em si, e que não são determinações próprias da mesma”. (Hegel. 2017: 139; 1976: 155).

O Estado de exceção mafioso é a coisa em si do aspecto dominante do processo conjuntural que tem os Estado constitucionais [do dominante e do dominado] como aspecto secundário. O Estado mafioso é a coisa em si que só adquire cor ou sabor em uma tela verbal/visual de gosto narrativa. O Estado mafioso é um Estado em algum sentido lógico em ser a propriedade da coisa? Como ele se torna visível, palpável ou saboroso? Só pode ser no movimento da mediação refletida nas telas de gosto narrativas como Estado ou paralógico incorreto, ou infralógico, ou supralógico:

“Dans la sphère de l’existence, le mouvement réflexif induit un tout autre rapport de la chose à as médiation. Em effet, la propriété est rappórt de la chose à soi comme à une autre: elle ne signifie donc pas sa délimitation par une altérité qui serait comme son non-être, mais l’extériorisation par l’existence elle-même de la négativité qui la struture intérieurement. La propriété est déterminité réfléchie, transposition essentielle de la limite qualitative, parce qu’elle obéit strictement au mouvement réflexif du poser. La médiation, l’essentialité de l’existence, est sursumée parce que posée dans l’extériorité; mais elle demeure tout aussi bien, dans l’extériorité; mais elle demeure tout aussi bien, dans cet être-posé, ce qui institue la chose dans son identité à soi. La propriété assure ainsi unilatairement les deux fonctions qui, pour l’être-lá, qualitatif, se distribuaient entre la disposition et la détermination. C’est pourquoi la chose, au contraire de quelque-chose étant, <est soustraite au changemen: elle atteint son identité à soi, son status d’existant, dans l’extériorisation de sa différence intérieure et de son ^être-médiatisé essentiel. Ceci ne signifie nullement que la chose ne soit qu’un substrato indifférent, une chose en soi abstraite, une essence comprise de façon non processuele. On verra au contraire, tout au long de ce passage, que la permanence qui distingue l’existant de l’être-lá immédiat reside dans as capacité à investir l’extériorité, ou plutôt à s’y investir”. (Biard:177).

 

O Estado mafioso é subtraído de mudança a partir da contradição interna; ele só desaparece no choque com o outro Estado do aspecto dominado da contradição principal. O processo do Estado mafioso consiste na capacidade dele de existir nas outras telas exteriores a ele, e na capacidade de se investir na própria tela dele.

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As relações entre os Estado dominante e o Estado dominado nas contradições principais e secundárias são um fenômeno conjuntural. A conjuntura existe por etapas e estágios determinados pelo movimento das gramáticas das relações das relações técnicas produção e gramática da sociedade, isto é, luta de classe, capital/trabalho e Estado. Uma época conjuntural é estabelecida pela técnica dominante e pela forma de luta de classe:

“A contradição fundamental no processo de desenvolvimento de uma coisa e a essência do processo determinado por essa contradição fundamental não desaparecerão até que o processo esteja completo; mas, num processo longo, as condições em geral se diferenciam a cada etapa. A razão é que, embora a natureza da contradição fundamental no processo de desenvolvimento de uma coisa e a essência do processo permaneçam imutáveis, a contradição fundamental torna-se cada vez mais intensificada enquanto passa de um estágio para outro no processo prolongado. Além disso, entre as numerosas contradições principais e secundárias determinadas ou influenciadas pela contradição fundamental, algumas se tornam mais intensas, outras são temporárias ou parcialmente resolvidas ou mitigadas, e surgem algumas novas: por isso o processo é marcado por estágios. (Mao. V. 1: 363; Zizek. 2008: 101).

Desenvolvimento e subdesenvolvimento são conceitos paraconsistentes materialistas que aparecem como reflexo da contradição fundamental da realidade realmente existente como técnica, sociedade e Estado. A estratégia do subdesenvolvimento é um fato da luta de classe do Estado dominante da contradição principal com gramática hegemônica. A estratégia do dominante visa manter uma conjuntura histórica longa, que se conserva porque o dominado não tome consciência política de sua condição de dominado, processo de contradições determinado pela apropriação subdesenvolvida da técnica desenvolvida. A técnica é a riqueza social mais cara no processo conjuntural. A globalização liberal ocidental consistiu na desintegração do Estado territorial/nacional e da estratégia de mergulhar os países desenvolvidos em um subdesenvolvimento larvar e os países subdesenvolvidos em um aprofundamento do subdesenvolvimento. A concentração e centralização da riqueza mundial no Estado feudal/virtual da multinacional é a etapa em um estágio dramático para os povos. Um outro estágio começa com o Estado confucionista/maoista moderno asiático. A contradição principal entre o Estado feudal multinacional (dominante) e o Estado confucionista/maoista (dominado) se resolverá com o Estado confucionista se tornando o aspecto principal da contradição principal virtual/territorial. A contradição é territorial pois se desenvolve e se movimento nas grandes potências. É virtual por existir no campo das relações técnicas de produção cibernético da contradição fundamental mundial.

Mao;

“Existem muitas contradições no processo de desenvolvimento de algo complexo, e uma delas é, necessariamente, a contradição principal, cuja existência e cujo desenvolvimento determinam ou influenciam a existência e o desenvolvimento das demais contradições”. (Zizek. 2008: 108).     

 No Brasil, a contradição principal mundial supracitada determina a contradição principal com o Estado de exceção mafioso como aspecto principal e o Estado constitucional/1988 como aspecto secundário. Outra contradição principal é entre a plurivocidade de Estado de exceção e o Estado feudal modernista presente nas telas verbais narrativas acanhadamente como prática política de Estado e molecularmente como prática política da cultura.

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Há uma superfície reprofunda da identidade entre os dois aspectos da contradição da coisa que é a formação social de uma entidade única que é o campo político conjuntural (Poulantzas. 1977:90):

“primeiro, a existência de cada um dos dois aspectos de uma contradição no processo de desenvolvimento da coisa pressupõe a existência do outro aspecto, e ambos os aspectos coexistem numa entidade única; segundo, em dadas condições, cada um dos dois aspectos contraditórios se transforma no seu oposto. Esse é o significado de identidade”. (Zizek. 2008: 115).

A superfície da identidade permite a conciliação barroca (Htzfeld: 61) entre os dois aspectos da contradição principal hegemônica em gramática:

“A dialética é o ensinamento que mostra como os contrários podem ser e como a chegam a ser (como se transformam em) idênticos - sob que condições eles são idênticos, transformando-se um no outro [...]”. (Zizek. 2008: 115).

O Estado feudal multinacional e o Estado feudal confuciano/maoista se movimento para se transformarem um no outro. Tal fenômeno passa pela desmontagem do Estado suicidário (Virilio:46,48), do Estado empresarial militar nos EUA e China/URSS. Mao fez a gramática ´a conciliação barroca paraconsistente e materialista entre os extremos:

No texto, “Conversa sobre questões de filosofia”, de 1964:

“Até agora, a análise e a síntese não foram claramente definidas. A análise é mais clara, mas pouco foi dito sobre a síntese. Tive uma conversa com Ai Ssu-chi. Ele disse que hoje eles só falam sobre síntese e análise conceituais, e não falam sobre síntese e análise práticas objetivas. Como analisamos e sintetizamos o Partido Comunista e o kuomintang, o proletariado e a burguesia, os proprietários de terras e os camponeses, os chineses e os imperialistas”. (Zizek. 2088: 219).

A análise/síntese da prática política é o aparelho de hegemonia do Estado confucionista paraconsistente e materialista. A conciliação barroca entre o PCC e o Partido Democrata americano já será a transformação dos Estados americano e chinês em uma forma superior de Estado feudal modernista territorial/nacional para o dominado. A transformação do Estado feudal da multinacional em Estado feudal confucionista/maoista – e vice-versa- terá como efeito a forma superior de Estado feudal virtual modernista para o dominado; o general intellect gramatical americano já é uma identidade com o general intellect asiático. A pequena burguesia do general intellect da acumulação de capital cultural (Bourdieu: 39) dos EUA e China existe em uma superfície reprofunda de identidade do Estado feudal territorial/virtual como aparelho de hegemonia de fabricação de uma Nova Ordem planetária.  

Mao:

“É assim com todos os contrários. Sob dadas condições, por um lado eles se opõem mutuamente, e por outro lado estão interconectados, interpenetrados, interpermeados e interdependentes, e esse caráter é descrito como identidade. Sob dadas condições, todos os aspectos contraditórios possuem o caráter de não-identidade, e, portanto, são descritos como estando em contradição, mas eles também possuem o caráter de identidade e, portanto, estão interconectados. Lenin diz que a dialética estuda ‘como os contrários podem ser ...idênticos’. Como podem ser idênticos? Porque cada um é a condição para a existência do outro. Esse é o primeiro significado de identidade”. (Zizek. 2008: 116).  

O campo da superfície identidade Ocidente/Ásia cria o Estado REPROFUNDO mercantilista/liberal feudal do dominado.          

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Na eleição presidencial de 2022, Lula derrotou Bolsonaro por uma diferença ade 1,8% de votos. Lula fez uma campanha acenando para a retomada da revolução barroca de junho de 2013. No governo, Lula foi subjugado pelo Estado burguês de exceção mafioso da grande burguesia paulista do PSDB. A revolução barroca teve seu tempo como revolução barroca liberal das províncias contra o Estado monárquico. Também aparece como revolução barroca popular no Contestado e Canudos. A revolução barroca é uma tradição na história política nacional e provincial:

Em alguns livros publicados na América e na Europa teci a crítica da crítica da gramática da revolução barroca:

“A esquerda clássica governa para o capital e para o pobre. Em um período no qual o Estado se encontra sob domínio do capital fictício, governar para o pobre e os assalariados se tornou um problema revolucionário”. (Bandeira da Silveira. 2023ª: cap. 37).

O governo Lula criou as condições objetivas e subjetivas da revolução barroca das classes baixas em 2013:

“A história caminhou para uma conjuntura na qual a revolução dentro da ordem se tornou a revolução barroca contra a gramática do capitalismo subdesenvolvido brasileiro”. (Bandira da Silveira. 2023ª: cap. 37). Em 2023 ainda não estava claro o assujeitamento de Lula ao poder burguês mafioso de exceção  no campo político nacional e provinciano:

“Encerrando com o Brasil, a revolução capitalista, autoritária, niilista de um Bolsonaro se torna uma contrarrevolução do atraso em relação à revolução barroca de Lula”. (Bandeira da Silveira. 2023b: cap. 3).

O que fazer diante da aliança econômica de Lula com o Estado mafioso bets?

O Brasil vive numa plurivocidade de guerra civil entre os poderes estatais, a guerra heteróclita ´popular mafiosa do PCC etc. o governo Lula se rendeu ao Estado de exceção mafioso do parlamento, sob domínio de um conluio entre a burguesia política paulista e carioca e a oligarquia rural do Centro Oeste, que organizou e financiou o golpe de estado de 08/01/ 2023. Uma prática subpolítica, de uma guerra das classes medias do Sudeste contra a democracia da Constituição de 1988.

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O conceito materialista paraconsistente é o reflexo da realidade realmente existente:

“A realidade – e por isso, também, seu reflexo e reprodução mental – é uma unidade dialética de continuidade e descontinuidade, de tradição e revolução, de transições paulatinas e saltos”. (Lukacs: 17).

Com o abandono da revolução barroca dentro da ordem, a realidade subdesenvolvida só mudará através de uma revolução barroca contra a ordem subpolítica do Estado burguês de exceção mafioso. A revolução barroca contra a ordem já é a guerra revolucionária nacional barroca como tradição e revolução, continuidade e descontinuidade e salto qualitativo. A crítica da gramática da guerra revolucionária encontra-se em Mao:

“A guerra revolucionária, seja ela uma guerra revolucionária de classe ou uma guerra revolucionária nacional, além das condições e características próprias à guerra em geral, tem suas condições e suas características particulares, e é porque ela envolve não somente as leis da guerra em geral, mas igualmente as leis específicas”.(Mao: 200).

As características da guerra barroca nacional podem ser estudadas na <Cabanagem>, na guerra de canudos e Contestado e aquelas que se deve evitar como a revolução armada do PCB em 1935 e a “Guerrilha do Araguaia”. A guerra barroca nacional envolve classes sociais e massas na rua. Não se trata de copiar a guerra barroca da Rússia, por exemplo, como gosta de imaginar a nova geração de marxistas:

“Outros têm um ponto de vista igualmente errôneo, e que tem sido refutado desde longo tempo; els dizem que é necessário estudar somente a experiencia da guerra revolucionária na Rússia, isto é, para falar de uma maneira mais concreta, que é suficiente agir conforme as leis que tem presidido a conduta da guerra civil na URSS e de seguir os manuais militares publicados pelas instituições militares da URSS. Eles não compreendem que essas leis e esses manuais refletem as características específicas da guerra civil da URSS e do Exército Vermelho da URSS e que os aplicar tal e qual, sem fazer nenhuma modificação, reviendra une fois de plus à ‘se rogner le pied pour l1adapter à la chaussere’, et nous conduit aussi à la défaire”. (Mao: 201).

Philonenko criou um conceito de guerra de uma tela gramatical narrativa sdistinta do conceito de luta:

“Ao nível mesmo de definições, uma primeira relação se institui entre a guerra e a linguagem. Enquanto a linguagem na sua definição não pressupõe a guerra, esta última em sua definição pressupõe um aspecto da linguagem muito preciso, a saber, a escritura, indispensável suporte de toda história real. A linguagem ´um fenômeno mais universal que a guerra pois a pressupõe esta, e não o inverso. Quando se diz que a guerra pressupõe a linguagem como escritura e quando nós religamos essa à história, , nós queremos igualmente dizer que a guerra é uma manifestação superior da conduta humana e nós descartamos todas primitivas da luta cujo a etnografia nos revela os segredos. A luta nas comunidades primitivas não é a guerra, pois se dizendo no mito ela não atinge a objetividade da consciência histórica”. (Philonenko: 184).

A t5elevisão é a tela audiovisual que legitimou a guerra das máfias populares. A internet e o cinema são as telas a partir das quais se pode fabricar a gramática específica da guerra barroca nacional revolucionária:

“La guerre, ce monstre qui s’entre-tuer les hommes, finira par être éliminée par le développement de la société humaine, et le sera même dans un avenir qui n’est pas lointain. Mais pour suprimir la guerre, il n’y a q’um seul Moyen: opposer la guerre à la guerre, opposer la guerre révolutionnaire à guerre contre-révolutionnaire, opposer la guerre nationale révolutionnaire à la guerre nationale contre-révolitionnaire, opposer la guerre révolutionnaire de classe à la guerre contre-révoluttionnair de classe”. (Mao: 203).

O subdesenvolvimento criou e recriou a superfície reprofunda heteróclita no campo político da conjuntura de 1988. Uma grande burguesia do Centro-Oeste usou um batalhão do exército no golpe de Estado contra o governo Lula recém-eleito. Essa burguesia rural é uma burguesia para militar da guerra burguesa contra o dominado. A burguesia paulista fez uma aliança tácita como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e governa a capital e, quer governas outas cidades. A guerra mafiosa já é uma guerra digital, pois, legitimada pela tela burguesa paulista do Youtube. O Youtube funciona como uma estrutura de dominação ideológica do dominante contra o dominado. A Polícia de São Paulo diz que um homem incendiário das fazendas do estado revelou ser do PCC. A hipótese do PCC ter incendiado cerca de 46 cidades atingidas pelo fogo e fumaça parece ser cada vez mais palpável. O PCC pode ter dado uma resposta ao governador bolsonarista que o atacou na capital com muita força. O bolsonarismo é a máfia subpolítica que tentou explodir um caminhão-tanque de gasolina no aeroporto da capital como tática da estratégia do golpe de Estado. Um general bolsonarista disse para mulheres bolsonaristas no”cercadinho” do Planalto que algo determinante aconteceria e aí veio o caminhão-tanque.

A guerra contrarrevolucionaria mafioso é uma realidade irrevogável.       

 

BANDEIRA DA SILVEIRA, José Paulo. Crítica da dialética barroca. EUA: amazon, 2023a

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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Crítica da crítica da gramática do Estado mercantilista

 

José Paulo 

Habermas procurou estabelecer o conceito de general intellect:

“Nos estudos preliminares à Crítica da economia política encontra-se uma versão, segundo a qual a história da espécie humana está comprometida com uma conversão automática de ciência natural e tecnologia em uma autoconsciência do sujeito social [general intellect], que controla o processo da vida material. De acordo com tal fabricação, tão-somente a história da técnica ou tecnologia iria, por assim dizer, sedimentar-se na história da consciência transcendental”. (Habermas. 1982 :64).

O sujeito social ou general intellect gramatical faz pendant com as relações técnicas de produção. O sujeito social é uma classe social, isto é, é a pequena-burguesia proprietária de capital cultural. (Bourdieu. 1994: 44). O general intellect é uma tela verbal social narrativa. É uma gramática social e histórica. indo à atualidade da gramática como potência mundial dos povos:

“ A globalização neoliberal é expropriação da imaginação dos povos em escala industrial dos povos desenvolvidos e subdesenvolvidos ocidentais ou extremo-ocidentais. Hoje, o americano encontra-se estagnado no uso da imaginação inventora de gramática. Assim, o povo americano é bloqueado pelo capitalismo como agente gramatical da história mundial”. (Bandeira da Silveira. 2022a: cap. 4, parte 3).

O general intellect gramatical americano perde as condições de possibilidade de competição com a China no mercantilismo/libera do feudalismo da terceira década do século XXI?

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Há duas gramáticas universais na civilização política:

 CIENCIA DO ESTADO E CIENCIA DO CAPITAL

Na civilização política, são duas as gramáticas universais: a ciência do Estado e ciência do capital.

A ciência política de Estado faz pendant com as relações técnicas de produção do modo de produção escravista - na antiguidade greco-romana. A primeira globalização ocidental é a globalização do Estado romano. A globalização romana se desintegra e cede sua dominação/hegemonia para o feudalismo. Na Idade moderna, o Estado da península territorial nacional ibérica se alia ao capital mercantil na globalização Estado/capital. Nesse contexto histórico, a ciência do capital se desenvolve com o paradigma da física matematizada. As relações técnicas de produção do capital se desenvolvem até criar o capital capitalista industrial. A globalização do capital capitalista industrial acontece em países desenvolvidos e subdesenvolvidos. A nação industrial moderna requer uma burguesia industrial e um Estado nação territorial como no mercantilismo.

A globalização liberal pós-modernista é o desencaixe entre a ciência do Estado e a ciência do capital. A existência da multinacional é o ente global que funciona como suporte material da globalização pós-modernista. O desencaixe capital pós-modernista e Estado nacional leva ao declínio da ciência política de Estado. O logos do capital se apresenta como equivalente ao logos da física da modernidade rumo ao logos da pós-modernidade.

As relações técnicas de produção cibernéticas criam um logos do capital cibernético e, também, uma ciência política de Estado paraconsistente. A razão gramatical do Estado territorial nacional confuciano faz pendant com o logos do capital cibernético na China. A nova aliança entre ciência do capital feudal cibernético e ciência de Estado nacional territorial maoista se apresenta como a solução civilizatório para o fim da dominação do capital capitalista multinacional.

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Max Weber fez a ciência política materialista do capital e Estado na civilização política.:

“A luta permanente, em forma bélica ou pacífica, dos Estados nacionais em concorrência pelo poder criou para o moderno capitalismo ocidental as maiores oportunidades. Cada Estado particular competiria pelo capital, não fixado em residência alguma, que lhe prescrevia as condições sob as quais o ajudaria a adquirir poder. Da aliança necessária do Estado nacional com o capital surgiu a classe burguesa nacional, a burguesia no sentido moderno do vocábulo. Em consequência, é o Estado nacional a ele ligado o que proporciona ao capitalismo as oportunidades de subsistir; assim, pois, enquanto aquele não ceda o lugar a um Estado universal, subsistirá também este”. (Weber. 1944: 047).

Weber compara o Estado chinês e o Estado moderno ocidental:

“No antigo regime chinês havia por cima do poder intacto das famílias, os grêmios e as corporações uma camada delgada dos chamados funcionários: os mandarins. O mandarim é ante tudo um literato de formação humanística, que possui prebenda, porém não está preparado minimamente para a administração e ignora toda a jurisprudência, pois é antes de tudo um caligrafo que sabe fazer versos, conhece a literatura multissecular dos chineses e está em condições de interpretá-la. As realizações políticas não lhes dizem respeito, semelhante funcionário não é administrador, senão que a administração está nas mãos da chancelaria”. (Weber. 1944: 1047).

O mandarinato aparece como um aparelho político de intervenção nas revoltas populares:

“O reino é um Estado agrícola. Daí que o poder das famílias camponesas, sobre as que repousam as nove decimas parte da economia tendo ao lado os grêmios e corporações, este totalmente intacto. Fundamentalmente, tudo é deixado a si mesmo. Os funcionários não governam, senão que só intervém nos casos de agitação e nos incidentes desagradáveis”. (Weber. 1944: 1047)              

A imagem textual da ordem política é mágica, ou seja, não racional:

“O mandarim é transladado de um lugar a outro, para que não possa tomar pé no distrito de sua administração, não pode, inclusive, estar empregado em sua província natal. E como não se quer que entenda o dialeto de sua província de governo, não pode ter comercio com o público. Um Estado com semelhantes funcionários é algo distinto do Estado ocidental. Com efeito, nele tudo repousa na concepção mágica de que em virtude do imperador e dos funcionários, isto é, sua superioridade em matéria literária, é suficiente em tempos normais para manter tudo em ordem. Porém, se se produz uma estiagem ou outro acontecimento desagradável, então, aparece um edito no sentido de que as provas na matéria de versificação sejam mais difíceis ou se acelerem os processos, porque de outro modo os espíritos se agitam”. (Weber. 1944: 1047).

O poder de Estado mágico nas mãos do mandarinato é posto em um cerco bem eficaz pelo poder do rei. O rei via o poder caligráfico do mandarinato como ameaça permanente. A relação do poder real com o intelectual era plena de desconfiança e medo. O intelectual era chamado para intervir em relação à multidão campesina em um ersatz de stasis. (Derrida:110-111). O Estado agrícola era parasintático e paralógico de redução de uma ciência de Estado feita por método de redução ao absurdo da forma da prática política. (Newton da Costa: 20). O mandarinato era o artista ou caligrafo criador de uma tela gramatical literária viva, cotidiana, para legitimar a vida política.

A comparação com o Ocidente é clara. O Estado moderno é uma aliança da monarquia absolutista com o capital mercantil que cria uma tela verbal narrativa que legitimaria, depois, a destruição do poder do campesinato para constituir um proletariado urbano. O Estado monárquico territorial aparece como Estado nacional na Península ibérica. A gramática do Estado mercantilista é um fenômeno da civilização política do capital mercantil:

“O capital mercantil, quando domina, estabelece por toda parte um sistema de pilhagem, e seu desenvolvimento entre os povos mercantis, dos tempos antigos e dos modernos, está diretamente ligado à rapina, à pirataria, ao rapto de escravos, à subjugação de colônias; assim, foi em Cartago, Roma e, mais tarde, com os venezianos, portugueses, holandeses etc.”. (Marx. 1977:313).

Nas Américas, o Estado mercantilista escravista-colonial é uma forma moderna de uma linhagem de Estado mercantilista da civilização política do capital mercantil:

“O desenvolvimento autônomo do capital como capital mercantil significa que não há subsunção dele ao capital produtivo, que o capital, portanto, se desenvolve na base de uma forma social de produção a ele estranha e dele independente. O desenvolvimento autônomo está, portanto, na razão inversa do desenvolvimento econômico geral da sociedade”.

“A fortuna mercantil autônoma, como forma dominante do capital, é o processo de circulação que se torna autônomo perante seus extremos, e esses extremos são os próprios produtores que participam da troca”. (Marx. 1977: 310-11).

O Estado mercantilista possui uma tela gramatical narrativa aristocrática de desenvolvimento da nação do capital burguês, o que Marx designou como <cultura do tempo aristocrático>:

“Parece lógico que a aparência feudal deste sistema e o tom aristocrático da cultura daquele tempo moveram toda uma série de grandes senhores a converter-se em adeptos e propagandistas entusiastas de um sistema que se limitava, no fundo, a erigir o sistema burguês da produção sobre as ruínas do sistema feudal”. (Marx. 1974:32).

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Há um conceito de tela verbal narrativa em Marx: “De Te fabula narratur [O relato aqui é sobre ti]. (Faye: 150). A tela verbal narrativa pode ser do Estado ou do capital da civilização política. A gramática do Estado mercantilista de Davenant é narrada assim:

“É certo que o ouro e a prata são a medida do comércio. Porém, o que constitui a fonte e a origem do comércio, em todos os povos, são os produtos naturais ou manufaturados do país; isto é, os produtos da terra, do trabalho e da indústria. Isto é tão exato, que uma nação que se visse privada por uma causa qualquer de todo seu numerário, sendo sua população abundante, industriosa, e hábil para o comercio, e seu solo fértil em produtos de todas as classes e contasse com bons portos, seguiria sendo apesar de tudo uma nação comercial e a veríamos enriquecer-se e adquirir em seguida oro e prata em grandes quantidades. A riqueza real e efetiva de um país consiste, portanto, em sua própria população”.

“Muito longe de merecer ser considerados por si só como como o tesouro e a riqueza de uma nação, o ouro e a prata não são, com efeito, mais que senhas que se usa em suas transações comerciais”.

“Chamo de riqueza aquilo que mantém em abundância, alívio e a segurança ao Príncipe e ao povo; chamo de tesouro a quantidade de ouro e prata que os homens, para seu uso pessoal, transformam em construções ou consagram a melhorar a terra, assim como também o que pode cambiar-se por estes metais, tal como os frutos da terra, os produtos industriais, as mercadorias estrangeiras, os stoks de mercadoria etc. Até as mercadorias precárias podem ser consideradas como a riqueza de uma nação, sempre e quando que se troquem por ouro e prata. Para mim, são riqueza, não só nas relações entre indivíduos, senão também entre as nações”.

“O povo é o estômago do organismo Estado [na Espanha, este estômago não pode digerir nem assimilar o dinheiro]. O comércio e a distribuição são os únicos veículos que podem assegurar a digestão e a distribuição do ouro e da prata de que se nutre o organismo do Estado”. (Marx1974: 15-16).

Aí se encontra já o Estado tributário, territorial, nacional, paralógico com indução correta da prática política da economia mercantilista. A China não possuía uma tela verbal narrativa do capital mercantilista e um Estado mercantilista de direitos formalistas do capital.    

A tela verbal narrativa mercantilista é uma tela do Estado moderno e sua gramática com os vocábulos: nação, população, povo, Estado, Príncipe:

“Porém, esse direito formalista é estável. Na China, pode suceder que um homem que tenha vendido a outro uma casa volte algum tempo depois ao comprador e lhe peça asilo, por haver caído, entretanto, na pobreza. E se o comprador faz caso omisso do antigo dono e, portanto, do mandamento chinês da ajuda fraternal, então, os espíritos se agitam; resulta, pois, que o vendedor empobrecido volte a instalar-se na casa em qualidade de inquilino forçoso, sem pagar uma renda. Com semelhante direito, o capitalismo não pode operar; o que necessita é um direito com o qual se possa contar como se fosse uma máquina; os pontos de vistas religioso-rituais e mágicos não tem que julgar os fatos e acontecimentos. A criação de semelhante direito se consegue ao aliar-se ao Estado moderno, aos juristas, para impor suas ambições de poder”. (Weber. 1944; 1050).

O mandarinato é acumulação de capital cultural caligráfico, de um Estado monárquico, tradicional, rural [camponês], paralógico e de uma burocracia supralógica, burocracia voando em um espaço sublunar, acima do radar de qualquer tela gramatical lógica.    

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A diferença ente Europa e China consiste que a primeira se desenvolve pela gramática do Estado mercantilista e a história da China é a da gramática do Estado confucionista. Sobre a gramática do mercantilismo:

“O desenvolvimento do comércio e do capital mercantil leva à produção por toda a parte a orientar-se pelo valor-de-troca, aumenta o volume dela, diversifica-a e dá-lhe caráter internacional, e faz o dinheiro converter-se em dinheiro universal. O comércio por isso exerce sempre ação mais ou menos dissolvente sobre as organizações anteriores da produção, as quais em todas as suas diversas formas se guiam essencialmente pelo valor-de-uso. Até onde vai essa ação desintegradora depende da solidez e da estrutura interna do antigo modo de produção. E o efeito desse processo de desintegração, isto é, qual será o novo modo de produção que substituirá o antigo, depende não do comércio, mas do caráter do próprio modo antigo de produção. No mundo antigo, a atuação do comércio e o desenvolvimento do capital mercantil resultavam sempre em economia escravista, ou, de acordo com o ponto de partida, ocasionavam apenas a transformação de um sistema escravista patriarcal, baseado na produção de meios de subsistências imediatos, em um sistema voltado para a produção de mais-valia. No mundo moderno, ao contrário, levam ao modo de produção capitalista. infere-se daí que outras circunstâncias, além do desenvolvimento do capital mercantil, determinaram esses resultados. (Marx. 1977: 313-314).

O caminho ao modo de produção capitalista tem o Estado mercantilista criando o modo de produção escravista/afro nas Américas em analogia com a antiguidade.      

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Na China, a gramática do Estado confucionista faz do campo político uma tela de jogos de caligrafia. Na Europa do século XX, Magritte criou a tela de gosto dos jogos de caligrafia introduzindo a Ásia na Europa. (Foucault: 31-33). Os jogos de caligrafia eram criados e recriados pelos mandarins de um Estado confuciano:

“Os interesses do imperador Yongzheng voltavam-se também para outras áreas além da administração. Tinha uma grande preocupação com os valores morais e culturais, e muito das suas principais decisões eram afetadas por convicções morais. Era um homem que parecia estar convencido da própria retidão, e seus pronunciamentos indicam um elo entre sua concepção básica de poder e sua ideia da superioridade do imperador. É possível avaliar isso no tratamento que ele dispensa a uma ampla variedade de questões: a Igreja católica, o caso lu Liulang, a ampliação do Sacro Édito do pai, a edição da grande ecciclopédia Gujin tushu jicheng, o interesse pelo budismo, pelos problemas dos trabalhadores industriais e pelo vício do ópio e a sua emancipação da chamada ‘gente ruim’. Por um lado, ele estava representando o papel de um monarca confuciano; por outro, trazia ainda a impaciência autocrática de seus antepassados manchus conquistadores”. (Spence: 98).   

O Estado confuciano tributário era uma realidade de imensa complexidade:

“Pode-se achar que seria fácil engordar a receita aumentando o número de unidades sujeitas ao imposto territorial e per capita; nesse ponto, porém, as obrigações filiais para com Kangxi eram fortes demais, e Yongzheng não tentou modificar a decisão tomada por seu pai em 1712. Além disso, a premissa central da teoria política chinesa, da qual os manchus tinham apropriado, era que uma base tributária baixa era essencial para o bem-estar do país e prova verdadeira da benevolência do imperador. Outro obstáculo à reforma era colocado pelos funcionários do Ministério da Receita, que tinham seus próprios procedimentos e protocolos e obtinham grandes somas em ‘presentes’ das práticas aceitas por todos, as quais eles, compreensivamente, não queriam nem pensar em mudar”. (Spence:90).

O Estado tributário confuciano tradicional era uma prática política envolto em grande injustiça na apropriação e distribuição da mais-valia pública:

“O sistema tributário da época não era defeituoso, mas cheio de abusos. Os membros das classes mais altas com frequência ricos latifundiários e, tal como durante o reinado de Kangxi, muitos ocultavam suas responsabilidades fiscais em um labirinto de nomes falsos, registros falsificados, transferências de posse, hipotecas e assim por diante, o que tornava quase impossível descobrir quais eram as suas posses reais. Além do mais, grande parte do poder econômico na zona rural estava nas mãos de pequenos proprietários que tiranizavam os aldeões locais. Tais proprietários entravam em conluio como os servidores dos magistrados provinciais para sonegar seus próprios impostos e forçar os camponeses mais pobres a pagar uma parte desproporcional da carga tributária de toda a comunidade. Em situações como essa, os camponeses tinham poucos meios de compensação, e o dinheiro que fora de fato apropriado era tido como ‘em atraso’ – isto é, devido pelos lavrados sonegadores”. (Spence: 01).

     

Advém uma revolução política barroca paralógica e parasintática na gramática do Estado confuciano moderno:

“Em 1725 e 1729, Yongzheng inverteu a abordagem despreocupada do pai e fez um esforço concentrado para reformar os impostos fundiários e para romper o poder dos grupos intermediários locais. Estava determinado a estender o poder do Estado Qing com mais eficácia ao campo. Como expressou um édito de 1725: ‘Quando a carne e o sangue das pessoas comuns são usados para cobrir os déficits dos funcionários, como pode não haver dificuldades no campo? Estou profundamente preocupado com esses abusos”. (Spence: 91).

A revolução maoista fez uma revolução barroca na gramática do Estado confuciano. O Estado que era o Estado do dominante se transformou em um Estado confuciano da sociedade se pressupormos a analogia com Marx do capital que advém da sociedade: o capital social. (Marx. 1977:267) Enfim, Estado confuciano barroco maoista do dominado – paraconsistente.

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Weber não estabeleceu uma identidade absoluta entre o Estado mercantilista de 1500 e o Estado burguês moderno do século XIX, ou na linguagem dele Estado capitalista racional:

“Quase nenhuma das indústrias criadas pelo mercantilismo sobreviveu à época mercantilista. As criações dos Estuardos fracassaram, o mesmo que as dos Estados continentais do Ocidente e as posteriores da Rússia. Nem constitui tão pouco o mercantilismo nacional o ponto de partida do desenvolvimento capitalista, senão que este teve lugar primeiro na Inglaterra ao lado da política monopolístico-fiscal do mercantilismo; de tal maneira, que uma camada de empresários que haviam prosperado independentemente do poder de Estado conseguiu – depois do fracasso da política monopolístico-fiscal dos Estuardos no século XVIII – o apoio sistemático do Parlamento. Por última vez se se enfrentaram aqui em luta aberta os capitalismos irracional e racional: o capitalismo orientado no sentido das oportunidades fiscais e coloniais e dos monopólios estatais, e o que se orientava em direção as oportunidades de mercado, que se buscavam automaticamente, de dentro a fora, em virtude das realizações mercantis próprias”; (Weber. 1944: 1055).

Como Weber diz o capitalismo liberal inglês desaparece da cena soberana mundial junto com o Estado nacional autenticamente moderno. No lugar dele, um conjunto de Estados europeus - com aparências de semblância nacional e moderno (Arendt: 31) – toma o lugar do Estado nacional moderno e do capitalismo moderno weberiano. Sombart é o gramático do Estado neo-mercantilista europeu e do <capital monopolista de Estado>, que o marxismo russo se iludiu acreditando que era ainda um Estado nacional moderno.

Sombart sofreu os efeitos do campo ideológico nacional e capitalista. Ele não foi capaz de desdobrar seu pensamento até o fim. Ele fala de um xifópago ou conciliação grotesca entre os antagônicos: capital mercantilista de Estado e capital capitalista. O capitalismo da modernidade liberal aparece como ilusão de sujeito de uma interpretação da sociologia alemã como ideologia científica:

“O imperialismo, cuja expressão econômica é o neo-mercantilismo , tem posto a disposição do capitalismo [isto tem, pelo momento, só um sentido geral] os recursos de um forte poder político; o capitalismo traído na vida por um forte sistema de Estados, chega por sua vez a maturidade; formando um sistema de Estados igualmente fortes. As ideias liberais da livre concorrência entre as economias privadas se têm mostrado inadequadas para o capitalismo [com seus efeitos sobre o mercado mundial]. No interior, o capitalismo se tem procurado, por sua própria força, os meios de poder necessário, assumindo o mesmo, na maior parte dos casos, as funções de Estado. Em sua relação com o estrangeiro não podia prescindir desses meios de poder independentes, isto é, do poder de Estado, e só por seu emprego tem podido chegar ao engrandecimento formidável que hoje alcançou”. (Sombart: 83).

O Estado mercantilista do capital capitalista aparece na tradução portuguesa de Weber em uma imagem textual do hiper-lógico - de um horizonte bizarro:

“Se acabasse eliminado o capitalismo privado, a burocracia estatal dominaria sozinha. As burocracias privadas e públicas, que agora trabalham umas ao lado da outras e, pelo menos possivelmente, umas contra as outras, vigiando-se, pois, mais ou menos reciprocamente, fundir-se-iam, então, numa hierarquia única. A situação seria análoga à do Egito da Antiguidade, só que assumiria uma forma incomparavelmente mais racional e, por isso, muito mais inescapável”. (Weber. 1999: 541)    

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O capitalismo liberal se torna imperialista? Não. Aparece o capital de Estado como soberano em relação ao capital capitalista; porém, este último permanece sobrea proteção do Estado mercantilista pós-liberal:

“O sistema de Estados fortes neomercantilista europeu é o terceiro aspecto acrescentado à nova estrutura do capitalismo pós-liberal, estrutura imperialista. Aquele se caracteriza pela proteção das empresas industriais privadas dos países desenvolvidos em sua relação com o ‘imperialismo’ liberal inglês”. (Bandeira da Silveira. Cap 13, parte 4. 2020a).

O desaparecimento do Estado nacional industrial europeu não se internacionalizou:

“o Estado nacional industrial americano se estabelece como centro estratégico do campo de poderes/saberes das relações internacionais do pós-Segunda Guerra Mundial!”. (Bandeira da Silveira. 2019: 217).

O Estado imperialista e colonialista gerou a Primeira e Segunda Guerra Mundial e desapareceu na Segunda Guerra. Um Estado feudal da multinacional assumiria a hegemonia na Ordem Mundial. Com o deslocamento da hegemonia do capital para a Ásia, há uma mudança da soberania mundial do Estado feudal multinacional. Assim, a China se sobressai na construção da nova ordem mundial:

“A China vem servindo como paradigma de construção de uma classe dirigente e de Estado nacional como fenômenos do mercantilismo capitalista”. (Bandeira da Silveira. 2021: cap 2, parte 3).

Fenômenos extravagantes aparecem com a globalização liberal pós-moderna. Aqui me refiro a um deles que nos afeta de perto:

“O Estado lacaniano é administração pública da mais-valia pública para o bem da sociedade, cidade e campo. O Estado corporativo pós-moderno não é a administração de um bem, e sim a gestão de um mal. É o uso privado do dinheiro público para beneficiar corporações estatais e o capital subdesenvolvido parasita do Estado lacaniano. A ideologia dominante da globalização pós-moderna faz do Estado nacional um fenômeno inimigo do povo, graças às mídias comerciais e a <classe infrapolítica> do Estado corporativo pós-moderno”. (Bandeira da Silveira. 2024: 239).

A história das formações sociais aparece como singularidade na fabricação dos Estados da atualidade. Nessa história, países como o Brasil podem mergulhar em um campo político infralógico e, por exemplo, os EUA desenvolver uma nova forma de democracia paraconsistente. Porém, somente na história pode-se definir esses caminhos. 

 

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