Estadomercantilismoexeceção
O objeto desse texto consiste em estabelecer as relações
complexas ente o Estado mercantilista e
o Estado de exceção. O Estado fascista aparece como forma particular de regime
do Estado burguês de exceção. Evita-se o weberianismo estruturalista parisiense
que fala em <Estado capitalista> no lugar de Estado burguês. (Poulantzas.
1974: 7-8). O estruturalismo marxista recorre a Weber em vez de desenvolver a
ciência política de Marx, Engels, Lenin, Mao Zedung. Com ele é impossível ver o
Estado confucionista/maoista paraconsistente como uma forma de Estado
mercantilista normal. O Estado
mercantilista de exceção cria e abre as comportas para o campo subpolítico
heteróclito. O Estado confucionistas/maoista luta para bloquear os fenômenos do
campo heteróclito como constitutivo da gramática do campo político nacional. O subpolítico é a subsunção do campo político
lógico ao infralógico ou, no melhor dos casos, paralógico incorreto (Newton da
Costa. 2019:20), que é o grau zero da tela gramatical lógica paraconsistente.
2
O Estado mercantilista é o fenômeno universal no campo da
civilização política ocidental. O campo político em geral é paraconsistente:
“A lei da contradição inerente às coisas, auso fenômenos, ou
lei da unidade de contrários, é a lei fundamental da dialética materialista.
Lenine diz: <ao sentido próprio, a dialética é o estudo da contradição na
essência mesma das coisas”. (Mao. V. 1: 347).
Ora, a lógica paraconsistente da prática política do Estado
mercantilista encontra-se nos fenômenos com contradição simples ou aporia:
“Desde Heráclito, passando por Hegel, Marx e Lenin , e, em
nossos dias, por Wittgenstein, tem havido filósofos admitindo que a contradição
pode ser aceita em teorias e contextos racionais que expressam conhecimento
legítimo”. (Newton da Costa. 2008: 170).
Lenin fez um estudo da lógica paraconsistente de Hegel. Ele
pode ser aplicado na investigação do
capital e do Estado:
“Engels tinha razão quando disse que o sistema de Hegel era
materialismo volto del revés”. (Lenin. 1974:220).
Esclareço:
“É completamente impossível entender ‘O Capital’ de Marx, e
em especial seu primeiro capítulo, sem ter estudado e entendido a fundo toda a
Lógica de Hegel. Por conseguinte, faz meio século que nenhum marxista entendeu
a Marx”. (Lenin. 1974: 169).
O capital é um fenômeno paraconsistente, E o estado
mercantilista e o campo da civilização política ocidental também são lógica
gramatical paraconsistente:
“A lógica se assemelha à gramática e para o principiante é
uma coisa, e outra coisa distinta para o conhecedor da língua [e das línguas] e
do espírito da linguagem”. (Lenin. 1974: 88).
A língua tem espírito; esse conceito é de Hegel e significa
tela gramatical. Lenin fala da tela da linguagem como fenômeno, acrescento, do
campo político paraconsistente. Como fenômeno do espírito da língua, o Estado
mercantilista é uma tela gramatical universal que se traduz em fenômenos
particulares, na época moderna, como Estado de exceção: Estado fascista, ou
bonapartista, ou ditatorial militar, (Poulantzas. 1974: 7), ou ditatorial
civil, ou Estado mafioso...
O campo político existe em uma plurivocidade de fenômeno de
Estado:
“1) conexão necessária, nexos objetivos entre todos os
aspectos, forças, tendencias etc., na esfera dos fenômenos dados”.
“2) ‘nascimento imanente das diferenças’ – lógica objetiva
interna da evolução e da luta entre as diferenças, polaridades”. *(lenin. 1974:
87).
A lógica paraconsistente existe no discurso político e no
Estado mercantilista, existe na realidade política:
“As categorias da lógica são Abbreviaturen [‘epistomiert, em
outra passagem], de ‘infinidade’ de ‘particularidades próprias da existência exterior
e atividade. Estas categorias dienen (servem) por sua vez aos homens na pratica
[‘na atividade espiritual do conteúdo vivente na produção e o intercambio”.
(Lenin. 1974: 80).
A lógica paraconsistente estrutura a prática política do
Estado mercantilista na civilização política. No entanto, há “Estados” que já
não são o Estado lógico: paralógicos
corretos e incorretos, infralógicos e supralógicos.
3
Lenin parte das complexas relações entre Estado, gramática e
história da civilização política ou história universal hegeliana e de Marx:
“A constituição de um Estado, com sua religião ... filosofia,
pensamento, cultura, ‘forças exteriores’ (clima, vizinhos) constitui ‘uma
substância, um Espírito...”.
“A linguagem é mais rica entre os povos em estado primitivo,
subdsenvo9lvido – a linguagem se empobrece como avanço da civilização e o
desenvolvimento da gramática”.
‘A história mundial se desenvolve em um território superior
ao da moralidade”. (Lenin. 1974: 295; 1984. Vol 38: 293-34).
A relação entre as relações técnicas de produção e a tela
gramatical não obedece a um determinismo da técnica de produção. Dessa
proposição é necessário repensar o Estado como Espírito, isto é, tela gramatical
narrativa
Taminiaux fala de Hegel:
“L’intitulé général ‘Constituition’ recouvre une théorie de
l’Etat. Elle commence por poser que l’Etrat est pour ainsi dire l’esprit de la
loi”. (Taminiaux: 57).
Lenin:
“Um excelente quadro da história; soma das paixões
individuais, das ações individuais etc. [‘em todas as partes algo a fim a nós
mesmos, e por conseguinte em todas partes algo que excita nosso interesse a
favor ou contra’, as vezes a massa de interesse geral, as vezes uma multidão de
‘forças minúsculas’ [ ‘um infinito despliegue de forças minúsculas que produzem
um enorme efeito a partir do que parece insignificante”. (Lenin. 1974: 295-96).
Como prática política de unidade entre teoria e práxis, o
molecular pode definir o rumo da conjuntura. Lenin foi o molecular que alterou
o rumo da conjuntura russa de 1916-17. Mao Zedung foi o molecular que se encontra
na origem da Construção do Estado confuciano moderno maoista, feudal, nacional
da China da atualidade.
A relação entre Estado democrático e a gramática como laço
social na antiguidade. A multidão como sujeito da politeia como efeito do
significante, isto é, da tela gramatical narrativa de Estado:
‘Mais de uma coisa no mundo é passível de efeito do
significante. Tudo o que está no mundo só se torna fato, propriamente, quando
com ele se articula o significante. Nunca, jamais surge sujeito algum até que o
fato seja dito”. (Lacan. S. 16: 65).
Lenin:
“A democracia Grega estava vinculada a pequena dimensão dos
Estados. A linguagem, a linguagem viva, unificava aos cidadãos, creava
Erwarmung [Ardor]”. (Lenin. 1974: 298).
A linguagem política, discurso político, gramática política,
todos são o Estado como espírito da lei, da Constituição. A Constituição é o
quê? Depende da reação sociedade civil Estado
Lenin:
!...A promulgação das leis é? Vontade de todos...’Os poucos
devem <representar> aos muitos, porém a minudo só lhes
<reprimem>...’. O poder da maioria sobre a minoria não é em menor grau
uma grande incoerência’”. (Lenin: 299).
O poder político da maioria sobre a minoria pode ser
gramatical/lógico paraconsistente ou infralógico ou supralógico. O poder
político é o diabo do romantismo, ele é ethos e páthos, ele inclui o campo
subpolítico e a história do heteróclito:
Goethe:
“Mefistófeles:
Sou parcela do Além, Força que cria o mal e também faz o bem!
Fausto:
Que dizes com palavras dúbias, meu herói?
Mefistófeles:
Eu sou aquele gênio que nega e que destrói!
E o faço com a razão; a obra da criação
Caminha com vagar para a destruição.
Seria bem melhor se nada fosse crido.
Ou também ‘destruição’ , ou simplesmente ‘o mal’
Constitui meu elemento eleito e natural”. (Goethe: 59-61).
No livro ‘Parmênides”. Platão fala de um campo político não
paraconsistente, de um campo político sem contradição ou aporia, sem a região
do heterogêneo ou do heteróclito:
“Ora, se o uno fosse afetado por algo diferente de ser uno,
seria, por essa afecção, mais do que o uno, e isso é, impossível”. (Platão:
58).
A contradição inscreve a afecção na gramática política do uno
e o desintegra, e por isso é o impossível de ser suportado: fim do Estado
platônico.
4
Se Lenin foi O gramático da primeira metade do século XX, Mao
Zedung é O, da outra metade. Mao pensou o Estado mercantilista não horizonte
Ocidente/Oriente. Fala de um campo metafísico [idealista feudal ou materialista
burguês} e de um campo político conjuntural paraconsistente e materialista.
(Zizek. 2008: 85).
O campo político se tem presença no campo das ideologias
Europa/Ásia:
“Os metafísicos sustentam que todas as diferentes espécies de
coisas no Universo e todas as suas características sempre foram as mesmas desde
que começam a existir. Todas as mudanças subsequentes não passaram de simples
aumentos ou diminuições nas quantidades. Argumentam que uma coisa só pode
continuar repetindo a si mesma como o tipo de coisa, e não se pode transfo9rmar
em nada diferente. Na opinião deles, a exploração capitalista, a concorrência
capitalista, a ideologia individualista da sociedade capitalista etc. podem ser
todas encontradas na antiga sociedade escravista ou até na sociedade primitiva,
e existirão para sempre, imutáveis. Eles atribuem as causas do desenvolvimento
social a fatores externos à sociedade, tais como geografia e clima. Procuram,
de forma extremamente simplificada, fora de algo, as causas de seu
desenvolvimento, e negam a teoria dialética materialista, a qual sustenta que o
desenvolvimento surge das contradições dentro de algo”. (Zizek. 2008: 85).
A crítica da gramática do campo das ideologias Europa/Á
“Na Europa, esse modo de pensar existiu como materialismo
mecânica nos séculos XVII e século XVIII, e como evolucionismo vulgar no final
do século XIX e3 princípio do século XX. Na China, havia o pensamento
metafísico exemplificado no ditado ‘O céu não muda,, do mesmo modo o Tao não
muda’, que por longo tempo foi apoiado pelas decadentes classes dominantes
feudais. O materialismo mecânico e o evolucionismo vulgar, importado da Europa
nos últimos 100 anos, são apoiados pela burguesia”. (Zizek. 2008: 86).
Um Estado confucionista feudal do
dominante em aliança com a burguesia se tornou o objeto estratégico da
revolução barroca maoista. Mao foi o aparelho de hegemonia molecular de
fabricação de um novo Estado mercantilista, confucionista, feudal,
virtual/territorial do dominado.
O campo paraconsistente
materialista da formação social/nacional asiática era um objeto do pressuposto
saber do PCC maoista:
“A causa fundamental do
desenvolvimento de uma coisa não externa, mas interna; e está no aspecto
contraditório interior à coisa. Existe contradição interna em tudo, e isso
determina seu movimento e desenvolvimento. O aspecto contraditório no interior
de um a coisa é a causa fundamental de seu desenvolvimento, enquanto as
inter-relações e interações com outras coisas são causas secundárias. (Zizek.
2008: 86).
O aspecto contraditório interior
a coisa, isto é, a crítica da gramática do Estado mercantilista se movimentou e
desenvolveu o Estado de exceção mercantilista geral, tela gramatical virtual;
as relações com as outras formas de exceção do Estado mercantilista
particulares [bonapartismo, fascismo, ditadura militar, ditadura civil, Estado
mafioso] aparecem como aspectos secundário do campo político conjuntural. No
Brasil, O Estado de exceção mafioso pós-modernista se tornou o aspecto
principal da contradição principal e o Estado da Constituição de 1988 o aspecto
secundário na história da conjuntura de 1988.
5
A ciência política materialista
paraconsistente parte da relação entre sociedade e Estado na civilização
política. Primeiro, uma plurivocidade de Estado:
“Math ne peut faire cette chose
importante qu’est le cylch, la <tournée>, la visite circulare de ses États
, par laquelle le maître d’um pays, accompagné de ses principaux officiers,
manifeste chaque année son pouvoir par le fait que ce sont ses sujets qui
couvrent tous les frais”. (Dumézil: 100).
Segundo a sociedade:
“As transformações na sociedade são
resultado sobretudo do desenvolvimento de suas contradições internas, isto é, a
contradição entre as forças produtivas e as relações de produção, entre as
classes, e entre o velho e o novo; é o desenvolvimento dessas contradições que
empurra a sociedade para adiante e dá ímpeto para a substituição da velha
sociedade pela nova”. (Zizek. 2008: 87).
Na sociedade paraconsistente, Mao
toma como ilustração a URSS:
Mesmo sob as condições sociais
existentes na União Soviética, existe diferença entre trabalhadores e
camponeses, e essa própria diferença é uma contradição, apesar de que, ao
contrario da contradição entre trabalho e capital, ela não se intensificará até
o antagonismo nem assumirá a forma de luta de classes; os trabalhadores e os
camponeses estabeleceram firme aliança no transcurso da construção do
socialismo e estão gradualmente resolvendo essa contradição ao longo do avanço
do socialismo para o comunismo. A questão é sobre a diferentes tipos de
contradição, e não sobre a presença ou ausência de contradição. A contradição é
universal e absoluta, está presente no processo de desenvolvimento de todas as
coisas e permeia todos os processos do começo ao fim”. (Zizek. 2008: 93).
Na URSS. Se desenvolveu a
contradição entre o Estado stalinista e o campesinato no campo político
conjuntural da URSS. Na atualidade do Brasil, desenvolve-se a contradição entre
o Estado mercantilista de exceção pós-modernista e o campesinato na medida em
que esse Estado é a tela verbal narrativa dos interesses econômicos e do poder
político do latifúndio feudal pós-modernista.
O campo político é um processo em
movimento de contradições:
A essência particular de cada
forma de movimento está determinada por sua própria contradição particular.
Isso é verdadeiro não apenas para a natureza, mas também para os fenômenos
ideológicos e sociais. Cada forma de sociedade, cada forma de ideologia tem sua
própria contradição particular e sua própria essência particular”. (Zizek. 2008:
95).
6
O movimento contraditório
fundamental é aquele entre as gramáticas: das classes sociais, dos Estados e do
velho versus o novo. Do Estado do entendimento ao Estado da razão, entre
aparelho de coerção vindo da sociedade e aparelho de hegemonia da gramática do
Estado lógico:
“O passo crucial de Hegel rumo á
maturidade acontece quando ele realmente ‘abandona o paradigma da polis’ e reflete
sobre o papel da sociedade civil-burguesa. Em primeiro lugar, a sociedade
civil-burguesa é, para Hegel, o <Estado do Entendimento>, o Estado
reduzido ao aparelho policial que regula a caótica interação dos indivíduos, na
qual cada um persegue seus interesses egoístas.[...]. Surge a necessidade,
portanto, de passar desse <Estado de Entendimento> para o verdadeiro
<Estado de Razão>, em que as disposições subjetivas dos indivíduos se
harmonizem com o Todo social, em que os indivíduos reconhecem a substância
social com sua própria”. (Zizek. 2013:84).
Zizek não esclarece qual razão. Lenin fala de
um Estado gramatical lógico paraconsistente na sua leitura de Hegel. O Estado
de exceção mafioso é um Estado de alguma de razão? Ele é a coisa em si:
“A coisa em si, como o ser
refletido simples da existência dentro de si, não é fundamento do ser aí
inecenssial; ela é a unidade imóvel, indeterminada, porque ela tem justamente a
determinação de ser a mediação suprassumid, e, portanto, apenas a base desse
mesmo ser aí. Por isso, também a reflexão como ser aí que se media através do
outro, cai fora da coisa em si. Essa não deve ter nenhuma multiplicidade
determinada nela mesma, e a obtém somente por ser trazida à reflexão exterior,
mas permanece indiferente frente à
multiplicidade. [A coisa em si tem cor somente se é trazida aos olhos, tem
sabor, se trazida ao nariz etc.]. Sua diversidade são considerações que um
outro leva em conta, relações determinadas que esse se dá para com a coisa em
si, e que não são determinações próprias da mesma”. (Hegel. 2017: 139; 1976:
155).
O Estado de exceção mafioso é a
coisa em si do aspecto dominante do processo conjuntural que tem os Estado
constitucionais [do dominante e do dominado] como aspecto secundário. O Estado
mafioso é a coisa em si que só adquire cor ou sabor em uma tela verbal/visual
de gosto narrativa. O Estado mafioso é um Estado em algum sentido lógico em ser
a propriedade da coisa? Como ele se torna visível, palpável ou saboroso? Só
pode ser no movimento da mediação refletida nas telas de gosto narrativas como
Estado ou paralógico incorreto, ou infralógico, ou supralógico:
“Dans la sphère de l’existence,
le mouvement réflexif induit un tout autre rapport de la chose à as médiation.
Em effet, la propriété est rappórt de la chose à soi comme à une autre: elle ne
signifie donc pas sa délimitation par une altérité qui serait comme son
non-être, mais l’extériorisation par l’existence elle-même de la négativité qui
la struture intérieurement. La propriété est déterminité réfléchie, transposition
essentielle de la limite qualitative, parce qu’elle obéit strictement au
mouvement réflexif du poser. La médiation, l’essentialité de l’existence, est
sursumée parce que posée dans l’extériorité; mais elle demeure tout aussi bien,
dans l’extériorité; mais elle demeure tout aussi bien, dans cet être-posé, ce
qui institue la chose dans son identité à soi. La propriété assure ainsi
unilatairement les deux fonctions qui, pour l’être-lá, qualitatif, se
distribuaient entre la disposition et la détermination. C’est pourquoi la
chose, au contraire de quelque-chose étant, <est soustraite au changemen:
elle atteint son identité à soi, son status d’existant, dans l’extériorisation
de sa différence intérieure et de son ^être-médiatisé essentiel. Ceci ne
signifie nullement que la chose ne soit qu’un substrato indifférent, une chose
en soi abstraite, une essence comprise de façon non processuele. On verra au
contraire, tout au long de ce passage, que la permanence qui distingue
l’existant de l’être-lá immédiat reside dans as capacité à investir
l’extériorité, ou plutôt à s’y investir”. (Biard:177).
O Estado mafioso é subtraído de
mudança a partir da contradição interna; ele só desaparece no choque com o
outro Estado do aspecto dominado da contradição principal. O processo do Estado
mafioso consiste na capacidade dele de existir nas outras telas exteriores a
ele, e na capacidade de se investir na própria tela dele.
7
As relações entre os Estado
dominante e o Estado dominado nas contradições principais e secundárias são um
fenômeno conjuntural. A conjuntura existe por etapas e estágios determinados
pelo movimento das gramáticas das relações das relações técnicas produção e
gramática da sociedade, isto é, luta de classe, capital/trabalho e Estado. Uma
época conjuntural é estabelecida pela técnica dominante e pela forma de luta de
classe:
“A contradição fundamental no
processo de desenvolvimento de uma coisa e a essência do processo determinado
por essa contradição fundamental não desaparecerão até que o processo esteja
completo; mas, num processo longo, as condições em geral se diferenciam a cada
etapa. A razão é que, embora a natureza da contradição fundamental no processo
de desenvolvimento de uma coisa e a essência do processo permaneçam imutáveis,
a contradição fundamental torna-se cada vez mais intensificada enquanto passa
de um estágio para outro no processo prolongado. Além disso, entre as numerosas
contradições principais e secundárias determinadas ou influenciadas pela
contradição fundamental, algumas se tornam mais intensas, outras são
temporárias ou parcialmente resolvidas ou mitigadas, e surgem algumas novas:
por isso o processo é marcado por estágios. (Mao. V. 1: 363; Zizek. 2008: 101).
Desenvolvimento e
subdesenvolvimento são conceitos paraconsistentes materialistas que aparecem
como reflexo da contradição fundamental da realidade realmente existente como
técnica, sociedade e Estado. A estratégia do subdesenvolvimento é um fato da
luta de classe do Estado dominante da contradição principal com gramática
hegemônica. A estratégia do dominante visa manter uma conjuntura histórica
longa, que se conserva porque o dominado não tome consciência política de sua
condição de dominado, processo de contradições determinado pela apropriação
subdesenvolvida da técnica desenvolvida. A técnica é a riqueza social mais cara
no processo conjuntural. A globalização liberal ocidental consistiu na
desintegração do Estado territorial/nacional e da estratégia de mergulhar os
países desenvolvidos em um subdesenvolvimento larvar e os países
subdesenvolvidos em um aprofundamento do subdesenvolvimento. A concentração e
centralização da riqueza mundial no Estado feudal/virtual da multinacional é a
etapa em um estágio dramático para os povos. Um outro estágio começa com o
Estado confucionista/maoista moderno asiático. A contradição principal entre o
Estado feudal multinacional (dominante) e o Estado confucionista/maoista
(dominado) se resolverá com o Estado confucionista se tornando o aspecto
principal da contradição principal virtual/territorial. A contradição é
territorial pois se desenvolve e se movimento nas grandes potências. É virtual
por existir no campo das relações técnicas de produção cibernético da contradição
fundamental mundial.
Mao;
“Existem muitas contradições no
processo de desenvolvimento de algo complexo, e uma delas é, necessariamente, a
contradição principal, cuja existência e cujo desenvolvimento determinam ou
influenciam a existência e o desenvolvimento das demais contradições”. (Zizek.
2008: 108).
No Brasil, a contradição principal mundial
supracitada determina a contradição principal com o Estado de exceção mafioso
como aspecto principal e o Estado constitucional/1988 como aspecto secundário.
Outra contradição principal é entre a plurivocidade de Estado de exceção e o
Estado feudal modernista presente nas telas verbais narrativas acanhadamente
como prática política de Estado e molecularmente como prática política da
cultura.
8
Há uma superfície reprofunda da
identidade entre os dois aspectos da contradição da coisa que é a formação
social de uma entidade única que é o campo político conjuntural (Poulantzas.
1977:90):
“primeiro, a existência de cada
um dos dois aspectos de uma contradição no processo de desenvolvimento da coisa
pressupõe a existência do outro aspecto, e ambos os aspectos coexistem numa
entidade única; segundo, em dadas condições, cada um dos dois aspectos
contraditórios se transforma no seu oposto. Esse é o significado de
identidade”. (Zizek. 2008: 115).
A superfície da identidade
permite a conciliação barroca (Htzfeld: 61) entre os dois aspectos da
contradição principal hegemônica em gramática:
“A dialética é o ensinamento que
mostra como os contrários podem ser e como a chegam a ser (como se transformam
em) idênticos - sob que condições eles são idênticos, transformando-se um no
outro [...]”. (Zizek. 2008: 115).
O Estado feudal multinacional e o
Estado feudal confuciano/maoista se movimento para se transformarem um no
outro. Tal fenômeno passa pela desmontagem do Estado suicidário
(Virilio:46,48), do Estado empresarial militar nos EUA e China/URSS. Mao fez a
gramática ´a conciliação barroca paraconsistente e materialista entre os
extremos:
No texto, “Conversa sobre
questões de filosofia”, de 1964:
“Até agora, a análise e a síntese
não foram claramente definidas. A análise é mais clara, mas pouco foi dito sobre
a síntese. Tive uma conversa com Ai Ssu-chi. Ele disse que hoje eles só falam
sobre síntese e análise conceituais, e não falam sobre síntese e análise
práticas objetivas. Como analisamos e sintetizamos o Partido Comunista e o
kuomintang, o proletariado e a burguesia, os proprietários de terras e os
camponeses, os chineses e os imperialistas”. (Zizek. 2088: 219).
A análise/síntese da prática
política é o aparelho de hegemonia do Estado confucionista paraconsistente e
materialista. A conciliação barroca entre o PCC e o Partido Democrata americano
já será a transformação dos Estados americano e chinês em uma forma superior de
Estado feudal modernista territorial/nacional para o dominado. A transformação
do Estado feudal da multinacional em Estado feudal confucionista/maoista – e
vice-versa- terá como efeito a forma superior de Estado feudal virtual
modernista para o dominado; o general intellect gramatical americano já é uma
identidade com o general intellect asiático. A pequena burguesia do general
intellect da acumulação de capital cultural (Bourdieu: 39) dos EUA e China
existe em uma superfície reprofunda de identidade do Estado feudal territorial/virtual
como aparelho de hegemonia de fabricação de uma Nova Ordem planetária.
Mao:
“É assim com todos os contrários.
Sob dadas condições, por um lado eles se opõem mutuamente, e por outro lado
estão interconectados, interpenetrados, interpermeados e interdependentes, e
esse caráter é descrito como identidade. Sob dadas condições, todos os aspectos
contraditórios possuem o caráter de não-identidade, e, portanto, são descritos
como estando em contradição, mas eles também possuem o caráter de identidade e,
portanto, estão interconectados. Lenin diz que a dialética estuda ‘como os
contrários podem ser ...idênticos’. Como podem ser idênticos? Porque cada um é
a condição para a existência do outro. Esse é o primeiro significado de
identidade”. (Zizek. 2008: 116).
O campo da superfície identidade
Ocidente/Ásia cria o Estado REPROFUNDO mercantilista/liberal feudal do
dominado.
9
Na eleição presidencial de 2022,
Lula derrotou Bolsonaro por uma diferença ade 1,8% de votos. Lula fez uma
campanha acenando para a retomada da revolução barroca de junho de 2013. No
governo, Lula foi subjugado pelo Estado burguês de exceção mafioso da grande
burguesia paulista do PSDB. A revolução barroca teve seu tempo como revolução barroca
liberal das províncias contra o Estado monárquico. Também aparece como
revolução barroca popular no Contestado e Canudos. A revolução barroca é uma
tradição na história política nacional e provincial:
Em alguns livros publicados na
América e na Europa teci a crítica da crítica da gramática da revolução
barroca:
“A esquerda clássica governa para
o capital e para o pobre. Em um período no qual o Estado se encontra sob
domínio do capital fictício, governar para o pobre e os assalariados se tornou
um problema revolucionário”. (Bandeira da Silveira. 2023ª: cap. 37).
O governo Lula criou as condições
objetivas e subjetivas da revolução barroca das classes baixas em 2013:
“A história caminhou para uma
conjuntura na qual a revolução dentro da ordem se tornou a revolução barroca
contra a gramática do capitalismo subdesenvolvido brasileiro”. (Bandira da
Silveira. 2023ª: cap. 37). Em 2023 ainda não estava claro o assujeitamento de
Lula ao poder burguês mafioso de exceção no campo político nacional e provinciano:
“Encerrando com o Brasil, a
revolução capitalista, autoritária, niilista de um Bolsonaro se torna uma
contrarrevolução do atraso em relação à revolução barroca de Lula”. (Bandeira
da Silveira. 2023b: cap. 3).
O que fazer diante da aliança
econômica de Lula com o Estado mafioso bets?
O Brasil vive numa plurivocidade
de guerra civil entre os poderes estatais, a guerra heteróclita ´popular
mafiosa do PCC etc. o governo Lula se rendeu ao Estado de exceção mafioso do
parlamento, sob domínio de um conluio entre a burguesia política paulista e
carioca e a oligarquia rural do Centro Oeste, que organizou e financiou o golpe
de estado de 08/01/ 2023. Uma prática subpolítica, de uma guerra das classes
medias do Sudeste contra a democracia da Constituição de 1988.
10
O conceito materialista
paraconsistente é o reflexo da realidade realmente existente:
“A realidade – e por isso,
também, seu reflexo e reprodução mental – é uma unidade dialética de
continuidade e descontinuidade, de tradição e revolução, de transições
paulatinas e saltos”. (Lukacs: 17).
Com o abandono da revolução
barroca dentro da ordem, a realidade subdesenvolvida só mudará através de uma
revolução barroca contra a ordem subpolítica do Estado burguês de exceção
mafioso. A revolução barroca contra a ordem já é a guerra revolucionária nacional
barroca como tradição e revolução, continuidade e descontinuidade e salto
qualitativo. A crítica da gramática da guerra revolucionária encontra-se em
Mao:
“A guerra revolucionária, seja
ela uma guerra revolucionária de classe ou uma guerra revolucionária nacional,
além das condições e características próprias à guerra em geral, tem suas
condições e suas características particulares, e é porque ela envolve não
somente as leis da guerra em geral, mas igualmente as leis específicas”.(Mao:
200).
As características da guerra
barroca nacional podem ser estudadas na <Cabanagem>, na guerra de canudos
e Contestado e aquelas que se deve evitar como a revolução armada do PCB em
1935 e a “Guerrilha do Araguaia”. A guerra barroca nacional envolve classes
sociais e massas na rua. Não se trata de copiar a guerra barroca da Rússia, por
exemplo, como gosta de imaginar a nova geração de marxistas:
“Outros têm um ponto de vista
igualmente errôneo, e que tem sido refutado desde longo tempo; els dizem que é
necessário estudar somente a experiencia da guerra revolucionária na Rússia,
isto é, para falar de uma maneira mais concreta, que é suficiente agir conforme
as leis que tem presidido a conduta da guerra civil na URSS e de seguir os
manuais militares publicados pelas instituições militares da URSS. Eles não
compreendem que essas leis e esses manuais refletem as características
específicas da guerra civil da URSS e do Exército Vermelho da URSS e que os
aplicar tal e qual, sem fazer nenhuma modificação, reviendra une fois de plus à
‘se rogner le pied pour l1adapter à la chaussere’, et nous conduit aussi à la
défaire”. (Mao: 201).
Philonenko criou um conceito de
guerra de uma tela gramatical narrativa sdistinta do conceito de luta:
“Ao nível mesmo de definições,
uma primeira relação se institui entre a guerra e a linguagem. Enquanto a
linguagem na sua definição não pressupõe a guerra, esta última em sua definição
pressupõe um aspecto da linguagem muito preciso, a saber, a escritura,
indispensável suporte de toda história real. A linguagem ´um fenômeno mais
universal que a guerra pois a pressupõe esta, e não o inverso. Quando se diz
que a guerra pressupõe a linguagem como escritura e quando nós religamos essa à
história, , nós queremos igualmente dizer que a guerra é uma manifestação
superior da conduta humana e nós descartamos todas primitivas da luta cujo a
etnografia nos revela os segredos. A luta nas comunidades primitivas não é a
guerra, pois se dizendo no mito ela não atinge a objetividade da consciência
histórica”. (Philonenko: 184).
A t5elevisão é a tela audiovisual
que legitimou a guerra das máfias populares. A internet e o cinema são as telas
a partir das quais se pode fabricar a gramática específica da guerra barroca
nacional revolucionária:
“La guerre, ce monstre qui
s’entre-tuer les hommes, finira par être éliminée par le développement de la
société humaine, et le sera même dans un avenir qui n’est pas lointain. Mais
pour suprimir la guerre, il n’y a q’um seul Moyen: opposer la guerre à la
guerre, opposer la guerre révolutionnaire à guerre contre-révolutionnaire,
opposer la guerre nationale révolutionnaire à la guerre nationale
contre-révolitionnaire, opposer la guerre révolutionnaire de classe à la guerre
contre-révoluttionnair de classe”. (Mao: 203).
O subdesenvolvimento criou e
recriou a superfície reprofunda heteróclita no campo político da conjuntura de
1988. Uma grande burguesia do Centro-Oeste usou um batalhão do exército no
golpe de Estado contra o governo Lula recém-eleito. Essa burguesia rural é uma
burguesia para militar da guerra burguesa contra o dominado. A burguesia
paulista fez uma aliança tácita como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e
governa a capital e, quer governas outas cidades. A guerra mafiosa já é uma
guerra digital, pois, legitimada pela tela burguesa paulista do Youtube. O
Youtube funciona como uma estrutura de dominação ideológica do dominante contra
o dominado. A Polícia de São Paulo diz que um homem incendiário das fazendas do
estado revelou ser do PCC. A hipótese do PCC ter incendiado cerca de 46 cidades
atingidas pelo fogo e fumaça parece ser cada vez mais palpável. O PCC pode ter
dado uma resposta ao governador bolsonarista que o atacou na capital com muita
força. O bolsonarismo é a máfia subpolítica que tentou explodir um
caminhão-tanque de gasolina no aeroporto da capital como tática da estratégia
do golpe de Estado. Um general bolsonarista disse para mulheres bolsonaristas
no”cercadinho” do Planalto que algo determinante aconteceria e aí veio o
caminhão-tanque.
A guerra contrarrevolucionaria
mafioso é uma realidade irrevogável.
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