José PAULO
Capitão Bolsonaro é um
intelectual?
Tal interrogação em tela é a
chave para entender a anatomia do macaco pela anatomia do homem?
Jair Messias Bolsonaro é um
intelectual no sentido de Gramsci: todo
homem é filósofo!
Uma definição de cultura é aquela
do homem cultivado ou pela cultura subjetiva, ou pela cultura objetiva. Nossa
cultura é masculina, não apenas em seus conteúdos contingentes, mas em sua
forma de cultura objetiva. (Simmel. V. 1: 155). Se Lula não foi cultivado por
uma cultura formal, Jair Messias é um efeito de uma cultura formal militar. A
escola militar cultural prepara oficiais para direção e comando da burocracia
militar. No Brasil, os militares se envolveram na política com o putsch que
destruiu a monarquia brasileira. Depois se envolveram na política como chefes
de governo representativo e presidentes de ditadura.
A escola militar de oficiais se
transformou em uma cultura política militar que guiou o golpe de Estado militar
1964 e a instalação do Estado militar 1964. Na cultura política militar, a ESG
(Escola Superior de Guerra) se constituiu como uma escola intelectual militar.
Bolsonaro não chegou na ESG e não foi educado inteiramente na cultura política
militar. No entanto, foi das Agulhas Negras, escola universitária para a
formação de jovens oficiais intelectuais.
Gramsci mostra que o Exército tem
uma estrutura intelectual-burocrática similar ao do partido político.
ESTRATIFICAÇÃO DAS FUNÇÕES
INTELECTUAIS
EXÉRCITO
PARTIDO POLÍTICO
Estado-maior
Oficiais superiores realizam
planos
Dirigentes
Oficiais subalternos garantem a
execução
Quadros intermediários
Soldados
Militantes de
base
(Buci-Glucksmann: 49).
Jair Messias foi da escola dos
quadros intermediários. Mas ele teve que estudar teorias da guerra e história
da guerra (estratégia e tática, alvo e ataque, força e razão, publicidade e
propaganda, opinião pública e opinião militar) para se graduar como tenente. Isto
é o suficiente para denominá-lo como um intelectual, ou no sentido de Gramsci,
ou no sentido comum acadêmico.
Na política, o presidente Messias
pensou a política como continuação da guerra por outros meios, meios políticos.
Na vida parlamentar medíocre não teve a oportunidade para aplicar o conceito
global de política como guerra, de Napoleão Bonaparte. (Clausewitz: 15). Só
pode manejar a filosofia da política napoleônica na eleição presidencial 2018.
Descobrir no ciberespaço a
política como cibercultura da guerra, este foi o primeiro passo do capitão
Bolsonaro. Descobrir e fabricar uma
ciberideologia antilulista radical, eis o segundo passo tático do presidente da
República. São fatos que alavancaram Bolsonaro para um lugar no segundo turno
da eleição 2018 e, finalmente, para a vitória.
Se apresentar como enfant terrible da política parlamentar
(ele que foi um enfant terrible
militar), eis o passo a frente que o levou a atacar sistematicamente a
democracia 1988 e sua Constituição. Tornar o STF um alvo tático de ataques
feitos por uma artilharia pesada (com ajuda de seu filho artilheiro-deputado
Eduardo), eis um modo de tentar pôr canga nos juízes do STF. Ameaçar alterar a
composição do STF, eis uma tática que irritou o STF e trouxe esta instituição
para um confronto aberto com a candidatura de Jair. Mas estas táticas foram um
meio da política como guerra de ganhar aliados, obter milhões de votos.
Ao ser declarado eleito pela
contagem dos votos, o capitão Jair fez meia-volta, volver. Ele leu um discurso
no qual se apresenta como constitucionalista e defensor eterno da democracia
1988, como seu herói, o Duque de Caxias foi defensor perpétuo da monarquia de
d. Pedro II. A ligação pessoal de Jair com a casas real brasileira não é um
acaso da política republicana. Talvez, o quase presidente Jair (ele ainda não
assumiu o cargo) não seja um republicano em uma República sem
republicanos.
II
O capitão Bolsonaro é um
estrategista da política brasileira assim como Napoleão III foi o estrategista
da política europeia que destruiu a democracia francesa 1848. A diferença entre
eles é que Napoleão III não tinha passado por uma a escola militar de oficiais.
Ao fazer a Guerra contra a Prússia foi derrotado humilhantemente por Bismarck.
Eduardo Bolsonaro declarou guerra a Venezuela. Seu Pai, um entusiasta da “paz”
interna, vai criar uma comoção generalizada na América Latina com a perturbação
da paz externa?
Enquanto a cabeça de Bolsonaro
puder rolar no cadafalso do STF, a tática é apresentar o capitão Bolsonaro como
Jairzinho paz e amor, em uma paródia
soturna ao Lulinha paz e amor. Ao
tomar posse na presidência da República, então, o verdadeiro Jair Bolsonaro
aparecerá como carne e osso, ou então com sua farda de gala de general 4
estrelas do Exército brasileiro., pois, ele será o comandante-mor das Forças
Armadas nacionais: general dos generais!
A estratégia de criar o
bloco-de-poder NOVA DIREITA foi um golpe de mestre do capitão. Falar que os mass media são parte do seu Exército ideológico,
eis a ratificação da interpretação que a psicanálise em gramática marxista
vinha fazendo já há algum tempo. A Globo News é o centro tático nervoso ideológico
do exército messiânico. Não obstante, a Nova Direita é um fenômeno político do
programa mínimo do capitão.
O programa mínimo se declara
ultraliberal ao gosto do Mercado Financeiro e do grande capital neocolonial
mundial. A contradição principal da era do programa mínimo é aquela entre o bloco-de-poder
ultraliberal, neocolonial e o Estado getulista 1988. O capitão dará um passo de
cada vez?
Primeiro seu ministro da economia
anuncia a Reforma da Previdência e o corte de privilégios do funcionalismo
público. A Reforma da Previdência extinguirá os privilégios das castas
burocráticas, menos os privilégios da casta burocrática militar? A
inconsistência não será um problema, pois, os mass media defenderão a Reforma da Previdência do chicago boy
conhecido, na gíria jornalística, como Posto Ypiranga. Quando o capitão comanda,
os mass media fazem ordem unida.
Teremos uma Reforma da Previdência autocrática!
O que se anuncia no governo
Bolsonaro é o uso da política externa como suplemento da política interna. O
capitão é um admirador da política do americanismo atual, da política do
equilíbrio de poder de Donald Trump.
O livro “A Guerra” da Biblioteca
do Exército, de Quince Wright , se debruça com vagar no conceito política do equilíbrio do poder. O livro
consta da bibliografia universitária dos cadetes das Agulhas Negras.
Há uma passagem do livro que cai como
luva na interpretação da política de Trump:
“Um equilíbrio de poder estável,
estimulando o comércio internacional, as comunicações e a difusão da cultura
desenvolve condições favoráveis ao constitucionalismo, à democracia, às
convenções e às organizações internacionais, que tendem a unificar a
civilização e a estabelecer preferência do bem-estar sobre o poder, enfraquecendo
desta forma a disposição dos governos em dar atenção à força”. (Wright: 107).
Quince parece falar da política
do equilíbrio do poder da civilização do globalismo ultraliberal, que Trump
está desintegrando com sua política nacionalista do isolamento americano imperial:
“Quando falham os esforços para
federalizar os Estados de uma civilização, as tendências imperialistas ou a
anarquia se seguem aos períodos de equilíbrio de poder”. (Wright: 107).
Bolsonaro pode ser seduzido pela
nova política de equilíbrio de poder do americanismo a Trump? Se o capitão
fizer a leitura da política do equilíbrio de poder do americanismo aplicada a
política brasileira fazendo pendant com a política na América Latina, Então:
“No emprego dinâmico da expressão
equilíbrio de poder existem já aspectos de uma situação em que a lei, a
organização e a opinião pública podem vir a se tornar mais importante do que o
poder militar”. (Wright: 100).
A ideia militar de uma guerra com
a Venezuela pode ser a causa da formação de um bloco-no-poder do capitalismo
neocolonial. Em um Brasil assolado
pela stásis em suas múltiplas formas,
a política como guerra é uma questão cadente. Buscar o equilíbrio de poder
interior à Nação, eis um problema que aflige a ESG e os generais. Se envolver
na guerra lumpesinal criminal dos de
baixo, exige uma política militar que tenha o apoio da opinião pública e da
ordem legal. Os mass media passam a
ter um lugar tático decisivo na luta do bloco-no-poder contra o crime e os
criminosos. Se o bloco-no=poder neocolonial quer governar durante 20 anos, ele
tem que pacificar as grandes cidades, lugar no qual se articulam as
organizações criminosas dos de baixo.
A política como guerra militar
pode não se encontrar ao alcance do governo Bolsonaro?
O que é a guerra?
Philonenko diz:
“La guerre n’est pas lutte. Le propre de la guerre est d’être une action violente s’inscrivant
dans une histoire. Le terme qui doit retent dans cette définition est le
mot histoire. La guerre ne se sépare
pas de l’histoire et toutes les actions violentes ne sont pas pour autant des
action de guerre: c’est seulement quand une action violente s’inscrit dans l’histoire,
lorsqu’elle s’écrit en s’inscrivant,
qu’elle atteint la dimension de la guerre. Toutes les actions qui ne débouchent
pas sur l’histoire doivent être rangées sous le concept de lutte. Cést ainsi
qu’il n’y a pas, stricto sensu, de
guerre animale; il existe seulement des luttes animales et l’ont pourrait
reprocher à la philosophie hégélienne d’avoir mis sur le même plan la lutte du
maître et de l’esclave et la guerre propriement dite”. (Philonenko: 184).
A violência inscrita na história
política brasileira em um sentido amplo subssume a luta à guerra. A luta
política é aquela de um embate entre adversários. A guerra faz da política o
espaço do conflito entre inimigos. O capitão diz que vai varrer da face da
terra os vermelhos, os comunistas. Não e trata de “retórica”, se isto tiver ao
alcance de sua mão, em algum momento.
A destruição da pequena burguesia
pública será a inscrição da violência na história do messianismo e do
condottiere Bolsonaro. A história se apresenta pela dialética entre o
bloco-no-poder capitalista neocolonial versus o Estado getulista 1988.
Na terceira-década do século XXI,
a história se define pela dialética amigo e inimigo:
“A distinção especificamente política a que
podem reportar-se as ações e os motivo é a discriminação entre amigo e inimigo. Ela fornece uma determinação conceitual no sentido de um
critério, não como definição exaustiva ou especificação de conteúdos. Na medida
em que ela não é derivável de outros critérios, corresponde, para o político, aos
critérios relativamente independentes das demais contraposições: bom e mau, no
moral; belo e feio, no estético etc.”. (Schmitt: 51-52).
A história da república messiânica
será aquela da política como guerra, ou
seja, desprovida de moralidade política.
III
A gramática da guerra move a
ideologia do superministro da economia, que será o gramático-condottiere-econômico
do bloco-no-poder do capitalismo neocolonial.
O bloco-no-poder é aquele que tem como classe social gramatical
hegemônica o grande capital neocolonial do terceiro-mundo. A forma política do
bloco em tela é aquela da ditadura
econômica do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
O desenvolvimento da contradição
bloco-no-poder versus Estado getulista 1988 se atualizará em uma guerra
econômica (uso da violência econômica sem limite do Estado messiânico como ersatz
de violência militar na história) do bloco-no-poder neocolonial contra o
trabalho assalariado e contra a sociedade salarial pública. A guerra econômica
militarizada do capital neocolonial se traduzirá em uma economia de guerra para
o trabalho em geral e a sociedade salarial em particular.
A violência da história na
política e na sociedade da era messiânica não significa um choque traumático
para a democracia 1988?
BUCI-GLUCKSMANN, Christine.
Gramsci et l’État. Paris; Fayard, 1975
CLAUSEWITZ, Carl Von. Da guerra.
SP: Martins Fontes, 1979
PHILONENKO, Alexis. Essais sur
la philosophie de la guerre. Paris: J.
Vrin, 1988
SCHMITT, Carl. O conceito do
político. Petrópolis: VOZES. 1992
SIMMEL, Georg. Philosophie de la
modernité. V. 1. Paris: Payot, 1989
WRIGHT, Quince. A guerra. RJ: BIBLEX, 1988