terça-feira, 7 de julho de 2015

COMUNIDADE DA FÍSICA FREUDIANA

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Comunidade da Física Freudiana 

JOSÉ PAULO BANDEIRA DA SILVEIRA 
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Comunidade da física freudiana significa um campo de pensamento pacífico para o funcionamento do discurso do físico. O campo freudiano foi o ponto de partida para a fabricação da física freudiana da história. Esta é um contracampo de pensamento na linha de força do pensamento eclético de Cícero, ST* Agostinho, Marx, Weber Freud e Habermas. Trata-se de um contracampo científico transdisciplinar. O discurso do físico trabalha com o contraconceito de episteme política e ele se constitui a partir de uma contraepisteme que sustenta o discurso do físico articulado ao inconsciente político mestiço. A física é um artefato contratotalitário.

CAPITAL/TRABALHO/CAPITALISMO/SOCIALISMO
Há uma homologia entre a máquina de guerra freudiana (MGF) e o capital? A MGF não é um corpo produtivo como Sujeito de produção da história. No entanto, ela é o dominus da história universal. O capital moderno não é a máquina de guerra econômica de produção da riqueza nacional ou mundial, e, todavia, é o dominus da história mundial. Na feitura da episteme capitalista, Marx demonstra que o trabalho assalariado é o corpo produtivo de produção da riqueza capitalista e, neste sentido, o capital é somente um corpo improdutivo que se alimenta, para sua reprodução ampliada, do excedente do trabalho produtivo, trabalho vivo. No discurso do capitalista, o capital é a entidade que aliena a verdade de tal discurso, a verdade como lógica do verdadeiro sentido do capitalismo: o trabalho assalariado livre produz a riqueza capitalista mundial. Isso é um processo de eliminação do sentido no discurso do capitalista que funciona pela reprodução ampliada deste discurso através da soberania da cultura política do dinheiro na história mundial. Mas a soberania de tal cultura capitalista não é suficiente para a reprodução da dominação capitalista. Nesta, a episteme capitalista faz pendant com a episteme sexualis. Esta é o lugar do axioma de que o desejo existe. De que o operário é uma máquina de desejo (Deleuze e Guattari), de que existe uma economia de desejo articulada a uma ética protestante do trabalho, uma ética de desejo do trabalho. Assim, o desejo é uma energia que deve ser desviado do sexo para um investimento no processo de trabalho. O estudo moderno de Gramsci sobre o fordismo mostra com clareza a verdade desse enunciado. Tornar o desejo um mecanismo da economia capitalista, é sujeitar o trabalho à lógica do capital. Trata-se de um processo de alienação do desejo sexual, do sentido do desejo sexual, mesmo que este apenas consiga fazer o laço sócia prosaico, definir a realidade como prosaica. Então se trata de uma dupla alienação. A primeira é a eliminação da verdade de que o capital não é o sujeito que produz a riqueza; ao contrário, o trabalho produz a riqueza. A segunda é a eliminação do sentido do desejo como energia mítica (instinto de morte/narcisismo) que se condensa no sexo e articula a realidade prosaica. O capital é o mito (do Sujeito que produz riqueza) que guarda o segredo de que ele é a gestão do desvio de energia mítica sexual - condensada no trabalho - para a produção da riqueza capitalista mundial. Ele faz do trabalho um artefato mítico de uma totalidade abstrata (vazio de sentido), de uma cultura abstrata: a cultura política do dinheiro. Marx definiu a totalidade concreta como uma cultura política articulada plenamente por determinações de sentido. Se o desejo é a totalidade mítica do sentido, e o capital a totalidade abstrata (vazia de sentido), talvez valha a pena começar a pensar em uma cultura política concreta na qual o trabalho articule a realidade como passagem do não-sentido para a lógica plena de sentido sem necessidade e ressexualização da história. E também faça a passagem do mito para a história. Nesta, o trabalho não será mais uma máquina de desejo funcional para a produção da riqueza capitalista e para a reprodução desta como sociedade de consumo. O socialismo realmente existente não rompeu radicalmente com a episteme sexualis e – nele - o economicismo stalinista é a continuação da episteme capitalista por meios socialistas! Isso é para não dizerem que não falei de uma parte considerável da história mundial do século XX! 

DO PRÍNCIPE RENASCENTISTA (MAQUIAVEL) AO PRÍNCIPE FASCISTA
Não é incomum no Brasil associá-lo à história da Idade Média europeia. Oliveira Vianna o fez em sua ciência política heterodoxa, e Guimarães Rosa no “Grande Sertão Veredas”. No início da idade Média, Eric Voegelin pesca três significantes básicos da cultura política feudal: o Sacro Império Romano (sacrum imperium), o corpo místico (corpus mysticum) da Igreja e o reino de Cristo (regnun Chisti). Norbert Elias teceu a sua sociologia histórica a partir de outros dois significantes: a sociedade de guerreiros feudais e a sociedade de corte. (Falta acrescentar as universidades criadas no século XIII). Na primeira, reina a grande máquina de guerra em si feudal e freudiana (o guerreiro feudal se caracteriza pelo uso da violência física sem limite). Na segunda, esta é substituída por uma combinação de grande máquina (uso sem limite de violência simbólica) e de pequena máquina de guerra cortês (uso inibido de violência simbólica). A pequena máquina cortês talvez seja o modelo do partido político definido como instituição no século XIX europeu. É uma hipótese que precisa ser provada. No Brasil, a grande máquina de guerra em si (entradas e bandeiras) fundou o pais. E o partido político não se constituiu como modelo para os diferentes sistemas partidários desde o século XIX. A grande máquina de guerra cortês se constitui como modelo para os partidos, inclusive, no período da história da República Democrática articulada com a Constituição de 1988.    
Maquiavel antecipou o estabelecimento na cultura política moderna de um contrasignificante = (junção de estrutura e prática): o Príncipe renascentista. Ele é a combinação de grande máquina de guerra em si com a grande máquina de guerra cortês: força e consenso. Este se define pela ação estratégica de comunicação (mentir, manipular, enganar, usar máscara para ocultar sua essência) que é um modo de violência simbólica sem limite na política. O condottiere pode ser a expressão concreta desse Príncipe italiano. Tal Príncipe significa também sexualização selvagem da história. O Príncipe moderno de Gramsci tem como expressão histórica o partido político marxista em uma cadeia de significantes que inclui, entre outros, o bloco ideológico e o bloco histórico epistêmico. Tal Príncipe é a combinação da pequena máquina cortês com a contramáquina de guerra revolucionária (uso da violência física legítima como parteira da história). Remando contra a corrente do domínio da episteme sexualis moderna, O Príncipe moderno implica uma certa dessexualização da história. A intervenção de Lenin para fazer cessar o estado de anarquia sexual (amor livre) existente no Partido Bolchevique após a revolução é um caso de tentativa bem-sucedida de dessexualização da ressexualização lúdica da história.
A Europa da década de 1930 vê nascer o Príncipe fascista. A sua forma mais acabada aparece na Alemanha. O Príncipe fascista pode ser entendido a partir de uma leitura do “Diário de um sedutor”. Ele substitui a episteme sexualis pela episteme da sedução. Ele é uma forma de máquina de guerra (máquina de guerra kierkegaardiana) que redefine o conceito de poder moderno. O poder sedutor é um suprapoder, suprasubjetivo e suprasensual. Ele é parte de uma dramaturgia sem sujeito. Ele é o cenário de um crime perfeito: o da substituição da lei moderna pela lei definida como regra ritualizada advindo da política. Se nos Príncipes de Maquiavel e Gramsci ainda há sujeito (filosofia do sujeito), o Príncipe fascista (Príncipe totalitário) não é uma figura da filosofia do sujeito. Ele sucumbiu no abismo da Segunda Guerra Mundial? Ou ele se tornou um contrasignificante da cultura política, inclusive, nos sistemas representativos modernos? Octávio Ianni concebeu a existência do Príncipe eletrônico: partido da cultura política eletrônica. O Príncipe moderno tem que ser pensado na relação da política com a cultura intelectual. A hegemonia existe a partir dessa junção e ela alcança o mundo-da-vida na metamorfose dela em cultura política. O Príncipe eletrônico é uma articulação política totalitária da Corporação de Ofício industrial da comunicação. OS USA é o país modelo desse fenômeno e o Brasil parece seguir, em linhas gerais, tal modelo. Tal Príncipe articula a política a partir da cultura política totalitária eletrônica. Finalmente, o Príncipe fascista é a articulação do partido totalitário (esquerda = direta) com o Príncipe eletrônico tendo como dominus a episteme da sedução. Acreditamos que a política do século XXI lança mão desses três recursos evolutivos da história pós-feudal: Príncipes renascentista, moderno e fascista.      
FIM DA EPISTEME ANTROPOLÓGICA/PRODUÇÃO DO CONTEMPORÂNEO
Um historiador americano concebeu um ponto de inflexão na história intelectual (Europa/USA) no final do século XIX com a emergência do relativismo cultural tendo como carro chefe a antropologia servida em porções de cinquenta minutos (aula) em muitas universidades. Herbert Spencer já havia apresentado no livro “A Estática Social” (1850) um dos ataques mais vigorosos a favor do relativismo moral. Nessa conjuntura cultural, começa a fuga da episteme metafísica em direção às ciências; o homem mesmo torna-se e esclarece-se “psicologicamente”; a moral torna-se “política”, sociologia e biologia. “A visão de mundo fixa-se e impele a metafísica para o interior da antropologia” (Heidegger). Em essência, o relativismo cultural rezava que nunca existiu significante universal. Em 1962, foi publicado o “Pensamento Selvagem” de Claude Lévi-Strauss. O livro traça uma linha de força evolutiva (onde já havia uma acumulação de força considerável) que iria alterar a história intelectual. A física antropológica de Lévi-Strauss estabelece a existência de uma continuação entre o pensamento mágico e o pensamento científico salvaguardada a autonomia relativa dos dois domínios: “o pensamento mágico e as práticas rituais, como traduzindo uma apreensão inconsciente da verdade do determinismo como modo de existência dos fenômenos científicos”. Não há uma autonomia absoluta entre pensamento mágico (ciência do concreto) e discurso científico. O pensamento mágico: “forma um sistema bem articulado; independente, neste ponto, desse outro sistema que, constituirá a ciência, exceto quanto à analogia formal que os aproxima e que faz do primeiro uma espécie de expressão metafórica do segundo”. Assim como não há autonomia absoluta ente ciência do concreto e ciência em si, não há autonomia absoluta entre sociedade primitiva e história mundial (universal). Há um universal presente numa e noutra. Trata-se da episteme política! Esta não surgiu na fundação do Ocidente com a junção da metafísica (filosofia) com o discurso do mestre.  Mas esta fundação grega vai permitir pensar a episteme política na história mundial. A episteme política surgiu formalmente na civilização arcaica com a junção do discurso do mestre divino com o saber hidráulico, a ciência da gestão da água. Mas a sociedade primitiva tem sua episteme selvagem com a junção de pensamento mágico e práticas tribais (rituais). Maffesoli designou tal episteme como o estar-junto antropológico (tribalismo): “Pode ser a massa, a comunidade, a tribo ou o clã, pouco importa o termo empregado, pois a realidade designada é intangível; trata-se de um estar-junto grupal que privilegia o todo em relação aos seus diversos componentes”. A episteme tribal significa uma presença da episteme política na sociedade selvagem e na história mundial. A episteme política é o significante universal que encerra a longa polêmica do relativismo cultural que teve um momento sublime com os bombardeios da antropologia à Freud (a psicanálise trabalha com universais) na primeira metade do século XX. O fim do relativismo cultural significa que está em curso (ainda em um estágio molecular) a produção do contemporâneo na cultura intelectual com seus efeitos na cultura em si e na cultura política. A produção do contemporâneo pode ser concebida na medida em que o interprete (assim como o tradutor) tem que captar o sentido de um material em e mediante a articulação do mesmo em um marco simbólico de referência distinta daquele em que o texto se constituiu originalmente como significativo. Gadamer diz que “Cada época terá que entender a tradição escrita a seu modo... Basta dizer que se entender sempre de um modo distinto se é que se entende”. Não sei o que está acontecendo nos USA e Europa, mas no Brasil, a física da história é o começo molecular na história intelectual mundial que descortina a produção do contemporâneo!   

A EPISTEME POLÍTICA EM SI/ECOLOGIA
Para não perder o último fio de coerência, isto é, a lógico do sentido = (verdade) de um modo absoluto e irreversível, a comunidade jurídica “ocidental” bebe na mesma fonte do liberalismo político dos antigos da era moderna: o contratualismo. O contrato social acabou sendo apropriado pela historiografia como um artefato sociológico. Mas ele também pode ser visto como o artefato simbólico que articula episteme política em si e cultura política em muitas épocas e civilizações da história mundial. Disso deriva um conceito de poder político (autoridade legítima) como algo articulando a relação governante-governado: o detentor da autoridade e os que estão sujeitos a ela. Pelo contrato, ambos têm obrigações com a sociedade. O governante tem a obrigação de garantir a segurança material (isso não é igual a prosperidade econômica com acumulação de riqueza dos súditos, ou seja, a versão laica de uma vida sem necessidades do Jardim do Éden bíblico) e a paz no território de tal sociedade. Entretanto, a definição arquetípica do poder político remete para a figura paternal freudiana. O poder deve ser providencial, autoritário e benevolente para com os súditos. Provê segurança, ditar e aplicar a lei e fazer o bem, em geral. E completando, o poder deve ser despótico com o inimigo externo: máquina de guerra freudiana. Este poder é um axioma da episteme política em si desde a história da civilização arcaica. Em algumas épocas ele foi mais simples em outras mais complexo. O súdito deve obediência ao poder político freudiano (portanto, ao contrato social freudiano). Este poder é um significante do inconsciente político, ele não é simplesmente um fenômeno da consciência, ou seja, algo ligado ao desenvolvimento de Bewusstsein na história mundial. Mas quando o poder não provê segurança material ou paz no território o CONTRATO foi rasgado. A quebra do contrato pode agenciar a ira moral associada à lógica do sentido de injustiça como fenômenos da cultura política articulada ao inconsciente político. A ira moral é a articulação do campo dos afetos com o campo da ética na cultura política. A lógica do sentido de injustiça (ser prejudicado de um modo Real, ou seja, como algo que é impossível de ser suportado) é também algo que associa cultura política e inconsciente político.
Nas revoluções, a ira moral e o sentido de injustiça podem estar articulados à Bewusstesein da necessidade de fabricar um novo contrato. Gramsci define o axioma elementar da episteme política em si, assim: “Primeiro elemento é a existência real de governados e governantes, dirigentes e dirigidos. Toda a ciência e arte política baseiam-se neste fato primordial, irreduzível (em certas condições gerais)”. Trata-se de um fato irreversível para a história mundial. Ir além da história mundial significa rasgar a episteme política em si, a política  epistêmica, o contrato social arquetípico. A contraepisteme significa a constituição do mundo por um axioma: não há necessidade de representantes e representados. Tal concepção anarquista troca o poder social (todo poder político é um poder social) pelo poder comunal. Troca a sociedade pela comuna.  O contrapoder comunal estabelece uma relação com o cérebro humano que tende para um funcionamento anarquista. A física trabalha com uma concepção de contrasociedade dividida em três dimensões superpostas: a biológica (Deleuze-Freud); a estrutural (Marx); superestrutural ou espiritual (Marx/Hegel). É claro que eles mantem uma autonomia relativa estrutural e de funcionamento na história em si. As ciências da natureza costumam traçar um mapa do fim da história humana (concepção abraçada pelo Papa Francisco) tendo como causa a destruição ambiental do planeta. Trata-se da história da natureza em si e da história da espécie humana em uma identidade absoluta: fim da autonomia relativa desses dois domínios. Nesta visão apocalíptica da versão ambientalista do “Apocalipse Segundo São João”, o determinismo ecológico deve ser transformar na bússola da política mundial. O perigo de tal visão milenarista da política é ela servir como instrumento da cultura política capitalista capaz de bloquear a produção do contemporâneo na direção da substituição da história como luta pela soberania entre epistemes por uma concepção da vida articulada por contraepistemes comunais. Esta parece ser a melhor via para reverter, inclusive, a destruição ecológica do planeta.

BARRINGTON MOORE JR/VIAGEM ATLÂNTICA
A viagem atlântica do velho continente para o novo continente (América) tem que ser uma viagem da poética de Fernando Pessoa: “viajar é preciso, viver não é preciso”. Barrington Moore Jr faz uma história social precisa sobre o significante injustiça partindo de Platão. Injustiça é prejudicar o outro sem possibilidade de ser punido até aportar no continente freudiano. Trata-se da física mooreana. Para este autor, todas as sociedades humanas convivem com um mínimo de injustiça. A sociedade humana é o significante-universal da história deste pensador. Tal sociedade se articula a partir da segurança material para os súditos. O avesso dessa situação é a privação miséria material que significa que o real (a miséria impossível de ser suportada) subsumiu tal sociedade. Do ponto de vista dos governados, a lógica da injustiça é o ser prejudicado como real impossível de ser suportado (física freudo-lacaniano da história). Na injustiça, tem a lógica do Céu (superiores) e a lógica da Terra (inferiores) que é a lógica do desmoronamento da sociedade humana. A corrupção é um significante que é parte da estrutura do mundo como injustiça. Ela em geral é realizada por redes oligárquicas de amigos que fazem parte de um poder político que faz o bem para os amigos e prejudica os inimigos. Barrington diz que a corrupção na China gerava rebeliões seculares. Um outro aspecto da sociedade humana é a paz.
Lei e punição são também significantes da sociedade humana. Mas quando o encarceramento dos indivíduos chega ao campo de concentração a sociedade deixa de ser humana. Isso é um nível de crueldade (magnitude de crueldade) que agencia o sofrimento do prisioneiro antes da morte física, algo muito popular no imaginário popular brasileiro, por exemplo. A morte no campo de concentração é a morte simbólica máxima (a destruição completa da subjetividade humana) em um contraponto com a morte simbólica mínima. Esta é a morte simbólica do sujeito após a morte física dele através do esquecimento. Fazer esquecer é um recurso (técnica) da cultura política (assim como a técnica de fazer lembrar) que se estrutura como a ideologia dominante de Marx. A classe dirigente tem o monopólio da ideologia - produção e seleção das ideias que circulam na cultura política. As ideias e interpretações da cultura política são aquelas da classe dirigente. A prisão brasileira (e a prisão no Texas) não é a continuação do campo de concentração por outros meios? E não há uma técnica na cultura política brasileira de fazer esquecer tal fato.
A sociedade humana se define também pela existência da indignação moral e pela lógica do sentido de injustiça. Há um limite para tratar como aquele que é definido como inferior e como inimigo. A ideia de igualdade moderna (sociedade sem inferiores ou onde não há superiores acima da lei) é um axioma simbólico adorado pela sociedade ariana americana. Nela, o negro (já que todo mestiço que tem uma gota de sangue negro é negro) é inferior e O INIMIGO INTERNO. Uma cultura política que reparte o mundo entre amigos/inimigo tende a se transformar em uma cultura política totalitária. A sociedade americana definida a partir do negro é a “sociedade” articulada por uma cultura política totalitária como expressão do inconsciente político ariano.       
Barrington Moore Jr. acredita que uma sociedade que não garante segurança material e paz - e é corrupta em um grau insuportável - é uma sociedade que estrutura seu mundo pelo funcionamento de uma cultura política que tem como significante-motor a injustiça. Trata-se de uma sociedade que é, inevitavelmente, hipercruel (a crueldade mais cruel que apropria crueldade), uma sociedade que já não é uma sociedade humana e/ou para humanos. A injustiça social tem como ponto de partida a concepção do que é um ser humano. O leitor brasileiro pode estranhar tais ideias, mas elas orientam o pensamento e o agir da comunidade jurídica brasileira! Moore Jr. pesca inúmera rebeliões e revoluções geradas pela crueldade (a soma de todas as injustiças supracitadas) dos senhores (poder político, autoridade) e carimba tais fenômenos como aquilo que restaura a sociedade em desmoronamento como sociedade humana. A cultura política totalitária não é um artefato (expressão) da sociedade humana. Na física de Barrington Moore Jr, a história mundial seria um confronto pela soberania entre a sociedade humana e a cultura política totalitária. O que ele ignora é que a história mundial tem como dominus a máquina de guerra freudiana (tipos e espécies ainda por serem investigados) e outras formas de máquinas de guerra. A história não é feita por homens, mulheres e crianças; ela é feita por máquinas de guerra e é a história de tais máquinas em lutas (batalhas) para ser o dominus dos homens, das mulheres e as crianças. A cultura política totalitária articula as máquinas e é articulada por tais máquinas. A sociedade das máquinas de guerra não se inscreve no conceito sociológico de sociedade? Pode existir uma sociologia histórica das máquinas de guerra?   
CRISE BRASILEIRA/FINAL DE JUNHO,2015   
A crise brasileira não pode ser reduzida à uma simples crise política. Tal redução significa uma privatização da história. A crise brasileira é a crise de um processo histórico em uma determinada conjuntura. Esta é a síntese de múltiplas determinações políticas, econômicas, culturais e do direito. O direito não é apenas uma forma de consciência (forma ideológica, forma do Imaginário). Ele existe como contrasignificante (junção de estrutura e prática) e pode se constituir na força (motor) com potência para ditar o rumo do acontecimento político. A ciência política universitária é uma operação privatista da política em si. Ela é parte da cultura oligárquica-burguesa que transforma a política em uma categoria mercantil, categoria capturada pela lógica da mercadoria, isto é, a política como factum reificado. Assim, a política é isolada da totalidade social e do processo histórico. No Brasil, a ciência política é a ciência política articulada pela episteme capitalista do Engenho de cana-de-açúcar; ela é expressão da razão burguesa do engenho. Ao querer pensar fora dessa razão, os cientistas políticos se transformam em artífices do medo rezando uma reza do fim dos tempos, do fim da política como recurso para solucionar a crise brasileira. Tais cientistas veiculam o temor de que o fantasma do fim da política não pode ser atravessado. Ernst Bloch escreveu: pensar é atravessar (o fantasma do futuro). Para os cientistas políticos desarmados para pensar o futuro, a lógica do fantasma aponta para o fim da utopia do país: o Brasil fazendo parte das nações desenvolvidas. A quem interessa este discurso derrotista?
Em um contraponto a tal forma de “pensamento”, a dialética materialista se apresenta (se isso for permitido) como um artefato da sociedade brasileira permitindo mediatizar este processo histórico, se as forças da revolução política venham a ter acesso ao Novum mediatizado e dominado pela possibilidade quebrar a Ordem política definida pelo quadro global das forças da episteme do capitalismo de engenho. A força dirigente da conjuntura de junho de 2015 está definida por uma articulação que tem o Juiz Sérgio Moro como agente determinante da ação que cercou, encurralou o governo Dilma Rousseff através da operação Lava Jato pela captura dos agentes privados e estatais da corrupção da Petrobrás.  Juiz federal do Paraná (Curitiba), Sérgio Moro está entre os três indicados pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) para concorrer ao cargo de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF). A vaga é decorrente da saída de Joaquim Barbosa, que anunciou aposentadoria em maio. De acordo com a Associação, a lista tríplice definida pelos juízes federais foi encaminhada à Presidência da República. Os nomes indicados pela Ajufe concorrerão com nomes indicados por outras entidades de classes e associações, como a de advogados e a do Ministério Público, por exemplo. Sérgio Moro é juiz titular da vara federal especializada em lavagem de dinheiro e crime organizado de Curitiba.
A lava Jato é uma operação jurídica-policial (e política) envolvendo também um subaparelho da Polícia Federal e um ramo do Ministério Público Federal que ganharam autonomia prática em relação ao governo. A posição do Ministro da Justiça tem se pautado por uma não interferência no confronto entre esta burocracia ilustrada pombalina e o governo Dilma Rousseff. Foi o Marquês de Pombal que inscreveu o liberalismo político na história brasileira. Assim, Curitiba tornou-se a capital política do pais. Pois como centro geopolítico da ação da Lava-Jato (no mundo invisível da política para a sociedade), ela tem um objetivo tático muito claro (ao menos para o físico da política). Ela quer alterara o quadro global das relações de força pondo para o fundo da cena política o nosso Príncipe do sertão: Luís Inácio Lula da Silva.
A ação de Sérgio Moro não é orientada pela episteme do engenho? Ela visa resolver o problema da crise brasileira fazendo uma redução dessa à crise política. Resolver a crise global é resolvê-la extraindo a energia narcísica do PT que é a ligação do partido com as massas. Mesmo com toda a crise do partido, ele continua sendo o de maior preferência do eleitorado (11%, PSDB = 9%). Mas a energia narcísica petista {que liga o partido com às massas sociais quentes da insurreição petista (concreto) e às massas frias do eleitorado (abstrato)} depende de um fato vicário (ersatz) para tomar o poder e mantê-lo: a relação narcísica das massas com o Príncipe do sertão. As forças que querem se livrar do reinado petista não se fiam no Lula volume-morto (abaixo de 10%). Lula tem a magia do Cacique Cobra Coral que é capaz de fazer chover na seca política sertaneja. Lula é ligado à história política mitológica; ele é um mito da nossa política. E a energia narcísica (que faz presidentes petistas) é da ordem do mito desde a sua fundação na história mundial na civilização arcaica.
A ação jurídico-política de Moro é a tentativa de resolver a crise brasileira sem rasgar a Constituição de 1988 a partir de uma alteração molecular na política: a morte simbólica de Luís Inácio da Silva. A melhor solução é Dilma Rousseff conduzir o país (sangrando) até a eleição de 2018. Se o juiz Sérgio Moro quisesse alterar globalmente o quadro das relações de forças, ele levaria a investigação até o envolvimento orgânico de Dilma e do PMDB na Lava-Jato. Ele daria um cheque mate na dupla Dilma/Temer não deixando outro caminho para eles senão a renúncia coletiva. A convocação de eleição para presidente da república poderia fazer pendant com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Mas isso já é a revolução política. Pela lógica do futuro de Sérgio Moro, o PSDB e o PMDB serão os protagonistas da eleição presidencial de 2018, com Lula desossado politicamente. Esse futuro é o futuro da continuação do capitalismo do engenho e um futuro sem futuro para a sociedade brasileira. Isso é a lógica do futuro como lógica da mercadoria. Um futuro isolado da possibilidade de uma solução pela dialética materialista da história. Nesse caminho, a crise brasileira tem que se tornar uma crise pública, isto é, a lógica publica subsumindo a lógica privatista da crise. Oliveira Vianna gostava de dizer: “não existe espírito público entre nós”
A indústria cultural (eletrônica e de papel) tem sua lógica ditada pela episteme do engenho que a transforma em um aparelho ideológica da razão burguesa do engenho. Isso é o que a faz funcionar como Corporação de Ofício industrial-cultural do engenho contra a vontade de uma parcela minúscula dos intelectuais que nela trabalham. No entanto, como centro estratégico da cultura política brasileira, ela poderia vir a funcionar como Bewusstsein.Trata-se de consciência usada lato sensu abrangendo autoconsciência e razão. Como Bewusstsein, ela seria um agir hegemônico (articulando política e cultura) capaz de alterar o objetivo tático de Sérgio Moro. É improvável que ela siga por este caminho que já tragou um Príncipe econômico do engenho urbano (Marcelo Odebrecht) dono de uma das maiores empreiteiras do Brasil. A lógica da mercadoria que faz funcionar a Corporação de Ofício da cultura política eletrônica põe e repõe limites claros para uma ação hegemônica determinada pela lógica dialética materialistas. Isso explica porque a indústria de comunicação (e o jornalismo impresso) faz de conta que não conhece os textos do PCPT e da Comunidade da Física Freudiana. É improvável que os jornalistas da Globo News desconheçam o nosso material sobre a crise brasileira. O fim do Brasil tal como o conhecemos é irreversível, mas isso não significa o fim da história do Brasil. Isso é reversível! É possível retomar a nossa história em um outro patamar, uma história que não terá como dominus as máquinas de guerras partidária, cultural, econômica e do direito brasileiro. Esse futuro está inscrito na lógica do fantasma do futuro que precisa ser atravessado. O futuro pode ser o que se teme ou o que se espera; no plano da intenção humana que recusa o fracasso, l’avenir é aquilo que é esperado. A função e o conteúdo da ESPERANÇA são constantemente experimentados e, no século XXI, ils ont été mis en oeuvre et développés. As multidões quentes da Espanha (15-M/Indignados) e do Brasil (2013/2015) são aprova disso! Que forças podem fazer isso no Brasil? As forças da própria sociedade em um processo histórico dominado por uma revolução política. A esperança é a travessia do fantasma dos derrotados (derrotistas) , dos que já ensarilharam as armas da ciência da política.
Só quero saber o que pode dar certo
Não tenho tempo a perder                                         
                                                                                        
         
REALIDADE FASCISTA/USA
Há uma distância estrutural entre sociedades cujo funcionamento está articulado às estruturas de pensamentos e aquelas que funcionam pela lógica fáctica. Não se trata da diferença entre sociedade complexas e sociedade simples, mas da diferença entre sociedade desenvolvida e sociedade perto do grau zero do desenvolvimento cultural. A sociedade desenvolvida é aquela na qual estruturas de pensamento articulam cultura política complexas como a cultura política do dinheiro, a cultura do liberalismo político, a cultura política burocrática, a cultura política populista e a cultura política fascista. Essas são as culturas políticas identificadas como fenômenos, na literatura, que articulam cultura, política e economia. Por exemplo, Marx fez o retrato literário-econômico da cultura política do dinheiro. Max Weber concebeu o conceito sociológico de cultura burocrática. Encontra-se em Karl Schmitt um esboço, literário-político, da cultura política fascista? Não seria também produtivo buscar tal cultura na ontologia histórica de Heidegger? Um outro caminho para essa busca vai do “Diário de um Sedutor” ao livro “Da Sedução” de Baudrillard. O pós-modernismo não produziu apenas lixo literário!
Há uma articulação entre fascismo e sedução (a forma acabada encontra-se no totalitarismo alemão) que implode a estrutura de interpretação ideológica. Adorno e Horkheimer mostraram que o nazismo é uma estrutura de pensamento oca de sentido ideológico. Trata-se de uma estrutura de pensamento que faz da sedução um ersatz da razão ideológica. Como uma estrutura de pensamento pode articular a política como ausência de sentido ideológico no século XX? A ideologia é um artefato da estrutura de pensamento moderna. Ela é um conceito elaborado no livro “A Ideologia Alemã”, de Marx. O fascismo ultrapassa tal estrutura de pensamento moderna e, vicariamente, a substitui pela cultura política da sedução. Os estudos sobre a cultura política fascista podem iluminar a história mundial (universal)? A cultura da sedução não tomou a forma mais desenvolvida (acabada) - na política em si - no fascismo alemão? Um truísmo do vídeo cultura americana é o seguinte. Um personagem diz para o outro amigavelmente: “pode deixar você não vai virar um nazista”. Esse temor norte-americano pode ser o signo latente da realidade americana? No texto “Diário do Sedutor/Kierkegaard”, tentei mostrar a existência do Príncipe fascista como um lugar estrutural da cultura política do século XXI. Trata-se de uma desterritorialização do fascismo como fenômeno concreto ligado à história europeia do século XX e reterritorialização dele no século XXI.  Para além da leitura de Baudrillard do “Diário de um Sedutor”, a física da história concebeu o contraconceito de fascismo no século XXI. Trata-se do contrasignificante fascismo como estrutura de pensamento que faz a junção da política em si com a cultura política eletrônica como cultura da sedução. Por exemplo, isso marca a diferença capital da cultura eletrônica (como Corporação de Ofício Industrial/cultural) com a cultura-web. Mas tal característica não é irreversível para a cultura eletrônico. Já me referi a isso em outro texto da CFF (Comunidade da Física Freudiana). O problema central da política mundial não é a realidade americana estar se constituindo em uma realidade fascista em si? Ela não é a sociedade onde encontra-se a forma mais desenvolvida da cultura política da sedução no século XXI. Esta não articula o mundo-da-vida a partir do fundamentalismo cristão? O Tea Party é um fenômeno político que faz a junção da política em si com o fundamentalismo cristão. Trata-se da junção da política em si republicana radical com a sedução do fascismo cristão. A física concebeu a estrutura de pensamento que faz a junção do fundamentalismo cristão (no Brasil evangélico) com a política em si como cultura política da sedução.
O “Assim falou Zaratustra” não é a bíblia da física nietzschiana (ersatz da Bíblia) que guarda os axiomas da estrutura de pensamento da cultura da sedução? Esta não é articulada pela lógica do sentido ideológico ou pelo nonsense como ausência de sentido ideológico. Ela é articulada pelo sentido rápido, instantâneo, da cultura eletrônica da sedução: subjetividade eletrônica. A cultura-web não está sendo colonizada por esta estrutura de pensamento? A subjetividade eletrônica é o motor de tal colonização! A subjetividade-web encontra-se “em conceituação”, lentamente! A cultura eletrônica da sedução é a cultura do clown (clownina). Nietzsche deixou uma estrutura de pensamento que desvenda tal realidade clowniana:
“Tem espírito, o comediante, mas escassa consciência do espírito. Sempre acredita naquilo com que mais firmemente faz os outros acreditarem – acreditarem nele!
Amanhã, terá uma nova crença e, depois de amanhã, outra, também nova. Possui sentidos rápidos, tal como o povo, e faro caminheiro.
Derrubar – isto, para ele significa: demonstrar. Fazer delirar – isto, para ele, significa persuadir. E sangue é, para ele, o melhor de todas as razões.
A uma verdade que penetre somente em ouvidos finos chama mentira e nada. Na realidade, ele só acredita nos deuses que fazem grande estardalhaço no mundo”
O Tea Party (e os fundamentalistas evangélicos brasileiros) não é um clown político cuja possibilidade de existência e funcionamento tem uma  dependência  orgânica da cultura política eletrônica da sedução?
EDITORIAL DO PCPT
GLOBO NEWS PAINEL (28/06/2015)
W. W. coordenou um programa com o meu professor da PUC/SP Bolívar Lamounier, José Álvaro Moisés e Murilo de Aragão. Eles transformaram tal programa em um platô deleuziano capaz de ter vozes que falem da crise brasileira na linha que o PCPT vem fazendo. Bolívar usou inclusive o contraconceito de buraco negro epistêmico aplicando-o como muita imaginação à política brasileira. No entanto, eles consideram que os agentes políticos parecem baratas tontas frente à crise brasileira e isso faz com que não haja solução para ela vindo da política atual. Bolívar fala que os políticos se tornaram prosaicos, vulgares, medíocres. Eles fizeram da política brasileira um valhacouto que leva a população (principalmente os jovens) a se perder em um labirinto niilista em relação ao sistema político. O PCPT vem dizendo que a política brasileira da República da Constituição de 1988 encontra-se em um lugar histórico homólogo à República Velha. A solução para tal crise histórica virar de qualquer modo! O populismo totalitário não pode seduzir a elite mais uma vez? Bolívar não acredita nisso, pois ele só acredita na Lógica Fáctica (encadeamento factual da política). Isso é um mito da sociologia política. A política não é fáctica, é artefáctica! Por isso tais participantes do Painel não assimilaram a revolução política dentro da ordem capitalista mundial do mestre da sociologia paulista Florestan Fernandes? Eles só entendem a revolução como o encadeamento de fatos impossíveis na atual conjuntura. Eles não conseguem entender que ela é um encadeamento artefáctico (contrasignificante), isto é, como praxis histórica que é a unidade entre significante e prática? Ou é simplesmente por que o pensamento de F. F. está em anátema por ser marxista? A revolução política é o único caminho para a redenção verdadeira da política brasileira. Bolívar chamou tal solução de cerebrina, pois não existem –segundo ele – sujeitos políticos (atores, agentes) capazes de começar a revolução política liberal de esquerda dentro da ordem.
O PCPT tem mostrado que estes sujeitos existem. Só é preciso que a estrutura da dominação política atual (a realidade política realmente existente) se dissolva na subjetividade deles segundo a lógica “tudo que é sólido se desmancha no ar” condensada em uma frente liberal política de esquerda.  Lula, Fernando Henrique Cardoso e Dilma Rousseff podem articular o SUJEITO POLÍTICO como motor da fundação da Primeira República Liberal. As outras foram simulacros de simulação de República Liberal. As outras eram Repúblicas Pombalinas, pois o Marquês introduziu o liberalismo político entre nós como simulacro de simulação no século XVIII. A própria República da Constituição de 1988 acabou se transformando na prática de seu funcionamento em República Ilustrada Pombalina. O caminho para a redenção da crise brasileira é o buraco negro epistêmico (do discurso do físico) se tornar Bewusstein realmente existente da nação e liberar energia (matéria) que dissolva todos os partidos, que leve à renúncia coletiva do governo e dos chefes do congresso na transição (convocação de uma Assembleia nacional Constituinte sem partidos) para a verdadeira República Liberal Brasileira. Retórica ou física da história, eis os dois caminhos do liberalismo de esquerda entre nós! 

DEMOCRACIA POMBALINA/BRAZIL
No século XVIII, o Marquês de Pombal (unidade do significante com o sujeito que constitui a realidade política pombalina) inscreveu no Brasil (a partir da história portuguesa) o liberalismo político como simulacro de simulação. Não podemos mais ignorar a história política de nosso país como realidade pombalina. Qual a distinção entre a ditadura militar e a atual democracia pombalina que é uma forma de democracia despótica (Aristóteles) em sistemas representativos. A ditadura militar funcionava também associada ao sistema representativo partidário como simulacro de simulação. Contudo, o MDB criado como um simulacro de partido político se transformou em um partido político (verdadeiro) realmente existente como força dirigente da sociedade que abalou os alicerces da ditadura militar. A ditadura não aboliu os direitos trabalhistas, mas inibiu até o nojo o direito natural à luta sindical. Se não aboliu completamente os direitos civis, transformou estes direitos em simulacro de simulação de esfera de direito. A ditadura pode ser concebida como uma tirania moderna (a modernidade brasileira é também abjeta), pois o poder governamental era ilegítimo e funcionava como um poder ilegítimo, poder fáctico: Urstaat militar.
A democracia pombalina atual (forma concreta política da constituição de 1988) funciona baseada em um sistema de representação política que retira sua legitimidade das eleições gerais. Mas o voto é obrigatório quebrando um princípio elementar (do liberalismo político clássico) do cidadão quanto a escolha de participar ou não da política: lógica da liberdade política desde a polis antiga grega. Uma certa ciência política ortodoxa (totalitária) defende a obrigação do voto sem saber que sabe que este é um axioma da democracia pombalina brasileira que foi criado pelo populismo totalitário na década de 1930. Uma boa parte do Congresso atual defende tal mecanismo pombalista não por convicção na ideologia pombalina, mas por puro interesse eleitoral: canalhice, oportunismo, modo de manietar/manipular o povo mais miserável materialmente e espiritualmente em termos de cultura política.
O poder da democracia pombalina é um poder legítimo? Tal poder é conquistado em um espaço político sob o julgo da lógica do simulacro tendo como mediação o poder simbólico da cultura política eletrônica. Esta é estratégica para a manutenção da realidade política como realidade pombalina, isto e, para reproduzir a política como simulacro e simulação contra a vontade de um punhado de jornalista ilustrados! Tal poder pombalino/simbólico não é o poder tradicional-moderno. Ele é um hiperpoder realmente existente através da cultura política do simulacro. Trata-se de um poder que é mais poderoso que o próprio poder. Ele é um monopólio das máquinas de guerra partidária, judicial e da cultura industrial eletrônica.
Finalmente, tal hiperpoder é sustentado pelas linguagens privadas (ciência política ortodoxa, jornalismo político privatista etc.) que privatizam a interpretação do mundo (realidade política) em uma competição agônica com as culturas política que funcionam como interpretação da realidade. A realidade pombalina é uma realidade cuja legitimidade depende desse privatismo ideológico do mundo. Tal linguagem privatista do mundo se instala como um ersatz das linguagens comuns da era pré-moderna. Estas linguagens funcionavam como lógica pública do inconsciente político. Este é estruturado como uma linguagem funcionando pela lógica pública e pela lógica privada na história mundial (universal). Na era moderna, a estrutura da linguagem do inconsciente político (nietzschiano) tornou-se a subsunção da linguagem pública à linguagem privada. Entre nós, Oliveira Vianna estudou este fenômeno – na década de 1920- como cultura política.
A física da história é a vontade de saber capaz de restaurar a linguagem política como subsunção da linguagem privatista à linguagem pública abolindo a realidade política articulada pelos sentidos rápidos ou como realidade desprovida de sentido. O Congresso nacional - que é obrigado a articular seu funcionamento prático associada a uma significatividade inquestionável - e a comunidade jurídica (que depende de sentidos estáveis para o direto articular a realidade) funcionam na contramão (minimamente também liberados da lógica do simulacro de simulação) do hiperpoder pombalino. A física da política não fala da realidade política como se remetesse ao vácuo da ausência de referente. Isso é uma crença de sociólogos políticos e cientista políticos ligado (capturados) consciente ou inconscientemente pela ORDEM POMBALINA!  
DILMA MÜNCHAUSEN?
O Barão de Münchausen vinha em um coche por uma estrada estreita e encontrou outro coche, “e ambos ficamos impedidos de passar dali; eu saltei contudo fora do coche, e tendo alguma força peguei nele, rodas e tudo, pu-lo na cabeça, saltei então por cima do muro, que tinha nove pés de altura (o que considerando o peso do coche achei um pouco difícil) e passando o outro coche que ficava na estrada tornei a saltar; fui então buscar os cavalos e pondo um na cabeça meti o outro debaixo do braço esquerdo, tornei a saltar e levei-os à estrada; continuei então minha jornada para a estalagem onde havia de fazer a muda”. Dilma Rousseff não parece estar possuída pelo “complexo do Barão de Münchausen” lulista? Lula não se livrou do “mensalão” se reelegeu a elegeu? Ela acredita na jornada política mágica da solução da crise brasileira (reduzida a uma crise política) e que vai fazer a muda do cavalo em 2018. Mas para ela outro cavaleiro petista vai continuar sua viagem. Isso é a contribuição de Dilma às aventuras políticas münchausenianas lulistas? Ela crê que a história mitológica é feita por milagres; ela crê em uma identidade absoluta entre mito e milagre; crê na política como uma epopeia narcísica mágica permanente e irreversível!   
Eu posso estar completamente engando. Talvez Dilma Rousseff se veja e se sinta como uma heroína trágica da luta armada (terrorismo urbano) que definiu sua subjetividade até hoje. Ela se vê na linhagem dos trágicos brasileiros? Getúlio fez da tragédia populista (suicídio político em 1954) um modo do populismo entrar para a história mesmo sem sua cabeça original (máster). Tal fato histórico só acabou com o golpe de Estado militar de 1964 quando as cabeças populistas existentes foram decepadas na política, simbólica e presencialmente. Fernando Collor foi o primeiro presidente brasileiro que teve a cabeça decepada por um impeachment em 1992. Isso é o equivalente metafórico da cabeça cortada do último rei que chegou até a Revolução Francesa. Lula driblou a tragédia do mensalão pela sabedoria popular do “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, samba do paulista-zoólogo Paulo Vanzoline. Hegel escreveu: “O verdadeiro conteúdo da acção trágica e dos fins perseguidos pelos autores destas acções é fornecido pelas forças universais que regem a vontade humana e se justificam por si mesma: (...) o direito natural (...), a autoridade dos reis”, e dos presidentes da República. A autoridade trágica de Rousseff está sendo posta em questão. Ela acredita que se livrou do destino collorido! Talvez ela pense que em último caso possa ser escolhida pelo destino getulista e prolongar o petismo no poder por mais dez anos. Ela pode ir para o sacrifício: Dilma “guerreira”. Ou talvez ela não queira largar o osso com medo do que possa acontecer com ela e os amigos depois que descer do Trono. Possuída pela estética do trágico histórico, a elite esquece o modus operandi tradicional da política brasileira: o pacto oligárquico. Esquece que a ética oligárquica é fazer o bem para os amigos (todos que pertencem à elite) e prejudicar o inimigo: povo. Esses destinos estão contemplados na realidade do encadeamento fatual da realidade brasileira. O “Editorial do PCPT” sinalizou com a saída capaz e evitar o determinismo da realidade trágica brasileira. 
CRISE GREGA/XERXES
Para o meu amigo do PCPT Almir Rogério Pereira
A crise Grega não parece evocar o conceito de imperialismo de Lenin em um sentido trágico da antiguidade? O imperialismo se define pela cadeia política mundial sobredeterminada pelo capitalismo mundial sob a hegemonia do capital financeiro mundial, capital fictício, ou melhor, oligarquia financeira mundial. Hoje, a União Europeia Alemã em conceituação não é um ersatz do conceito de imperialismo leninista olhado com o olhar da antiguidade grega? A Grécia é o elo mais fraco dessa cadeia do Império europeu persa pós-moderno? A pergunta que está sendo feita pela classe dirigente capitalista mundial ao Oráculo de Delfos é a seguinte: o que vai acontecer com a União Europeia com a quebra da cadeia no elo mais fraco? Eles não consultam o Oráculo para saber o que vai acontecer com a Grécia. Na cultura capitalista totalitária (Marcuse concebeu este conceito na década de 1960) não há lugar para a compaixão e para um agir que afrouxe a natureza calculista que é própria da forma-capital. O capital é uma máquina de guerra econômica e o cálculo consiste em fazer a máquina calcular: determinar um valor por meio de operações matemáticas; abstração das relações sociais concretas.  A classe dirigente europeia que personifica o capital é um cálculo da lógica de reprodução ampliada do capital que esta subsumida na conjuntura atual ao funcionamento do capital fictício como abstração da lógica concreta da reprodução ampliada. O capital fictício e sua classe dirigente não são Xerxes comandando o exército Persa de cinco milhões de soldados, segundo Heródoto? Um exército imperial mitológico bárbaro comandado por um deus (Xerxes) enfrenta em um lugar chamado Termópilas, pela maioria dos helenos, o exército grego (civilização) comandado por Leônidas e seus trezentos de Esparta. Por que será que a cultura política eletrônica (cinema) considera a batalha das termópilas um significante universal trágico? Não será porque ela entende que a história mundial é também uma história mitológica (a partir do mundo greco/romano antigo) entre civilização e barbárie? O capital é a máquina de guerra que usou o conceito de civilização como ideologia para esconder sua lógica bárbara, enganando o próprio Marx. Marx não se deixou seduzir por essa máquina de guerra moderna que parece ter saído das páginas do Apocalipse Segundo São João? A União Europeia é o Império Persa comandada por um deus abstrato: a forma capital fictício. O capital é o mais brilhante mito moderno. Os gregos do século XXI não são os portugueses e espanhóis que esqueceram a sua história no início da era moderna. Eles ergueram impérios marinhos (WilliamTurner é, com efeito, o seu pintor com a pintura marinha romântica que desmaterializa a lógica da pintura figurativa como um mito que funda esteticamente a era moderna) que estão na origem da modernidade (Marx). Os gregos não esqueceram a sua infância que é a infância da história mitológica de fundação do Ocidente como civilização, e eles ouvem Heródoto dizendo: “pois a Hélade não estava sendo atacada por um deus, e sim por um homem; nunca houve e jamais haverá um mortal a quem desde a hora de seu nascimento não acontecessem desventuras, e quanto maiores os homens, maiores as desventuras” (cap. 7, 203). A física da história de Platão concebeu o tirano como “o lobo com face humana”. Esse lobo é o animal despótico freudiano, a máquina de guerra arquetípica da história da espécie humana na horda primitiva: um mito antropológico freudiano. Xerxes era o lobo com face humana assim como a personificação da forma capital fictício: a União Europeia. Mas os gregos querem (orientados pela historiografia de Heródoto) fazer a passagem da história mitológica para a história em si, a história que se define pela dialética materialista das batalhas dos homens, mulheres e crianças contra as máquinas de guerra. No entanto, a cultura intelectual do capital fictício recorre ao argumentum ad nauseam - na cultura política eletrônica mundial - para embriagar todos com a ideia de que a crise grega é apenas uma crise econômica. Trata-se da redução economicista da história, ou melhor, da interpretação totalitária intelectual da história do século XXI. Os gregos resolveram ir para o sacrifício para pôr em questão esse totalitarismo intelectual?    
FÍSICA DE HANNAH ARENDT/BURACO NEGRO POLÍTICO
No livro “Entre o passado e futuro” (Editora Perspectiva), Hannah Arendt põe em conceituação o buraco negro epistêmico como um fenômeno da existência e funcionamento das culturas políticas realmente existentes. Vejamos um exemplo. Quando uma cultura política se torna uma vontade de saber/poder de transformar seu significante-mestre no significante universal da história mundial, ela vira um estado permanente de dissolução dos significantes das outras culturas. Isso aconteceu com a relação complexa entre o significante autoritarismo (da cultura conservadora moderna) e outros significantes: tirania, despotismo, totalitarismo, ditadura. Tudo virou sinônimo de autoritarismo (pg181) no dicionário político da ciência política ortodoxa, da sociologia disciplinar e da historiografia, em geral. Isso é o buraco negro político. Uma outra operação técnica do buraco negro é a função do ersatz. Se um significante é similar a um outro significante ocorre na teoria e na ideologia a eliminação da distinção das culturas políticas distintas (as quais pertences esses significantes) e da destruição dos significados políticos de ambos os significantes. Por exemplo, quando no século XX, fala-se que o comunismo é uma religião, deixa-se de distinguir o comunismo da cultura política cristã.  Isso é diferente quando se diz que o capital ocupa o lugar de Deus, se este é tomado como lugar do Grande Outro, do campo simbólico. Interessante que essa lógica do buraco negro é a dissolução dos significados políticos como significados públicos. Trata-se da desintegração da política como objeto-público (pg. 139). Tal trabalho do inconsciente político (impossível pensar a cultura política dissociada do inconsciente político) pode ser uma operação também da cultura intelectual: “A segunda e mais recente teoria que implicitamente contesta a importância de fazer distinções é, especialmente nas Ciências Sociais, a quase universal funcionalização de todos os conceitos e ideais”. Esse funcionalismo epistêmico opera pela destruição do espaço político/público e a privatização dos significados políticos nas disciplinas universitárias: privatismo oligárquico científico.
A física da história é o avesso das Ciências Sociais. Ela é um trabalho de reconstrução (produção de contrasignificantes) dos significados públicos dos significantes sempre realmente existentes em alguma cultura política. Um exemplo. A reconstrução do conceito de golpe de Estado dos historiadores brasileiros. Na física da história, tal conceito historiográfico tradicional está em contraconceituação como golpe de Estado pombalino. Não foi o Marquês de Pombal que gerou o golpe pombalino, mas ele articulou a lógica na cultura política pombalina que é um amalgama de cultura política liberal e cultura conservadora absolutista. A lógica consiste em trabalhar como uma ideia de autoridade substantiva e com a ideia de liberdade como simulacro de simulação. Pedro I desfechou o primeiro um golpe de Estado do Brasil independente (na Assembleia constituinte de 1823) e estabeleceu a primeira Constituição brasileira absolutista como simulacro de simulação liberal, em 1824. Ele produziu um choque traumático na história da cultura política brasileira com este golpe de Estado pombalino que estabelece a lógica do simulacro de simulação para os golpes quentes e frios. Tal golpe de Estado pombalino (pelo choque político traumático) ex-iste como uma compulsão (eterno retorno do mesmo reeditado) de repetição do inconsciente político brasileiro. Há um mais-gozar de toda a nação com a repetição compulsiva do golpe de Estado, cotidianamente, na cultura política eletrônica, quando o jornalismo da Globo News tentar derrubar o prefeito de Brumadinho de Minas Gerais: lógica do golpe de Estado como insignificante (Hegel). Hannah Arendt escreve: “Além disso, resultada natureza da própria imagem em que a história é usualmente concebida – como processo, fluxo ou desenvolvimento – que todas as coisas por ela compreendidas podem se transformar em quaisquer outras, que as distinções se tornam sem sentido por ficarem obsoletas e, como que submersas no fluxo histórico no momento de sua aparição” (pg 139). Afinal, ela estava se referindo concretamente a tal concepção da história marxo/hegeliana ou a concepção da história da cultura política eletrônica?                                                                                                                                



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