José Paulo
Com o sentido do imaginário Lacan permanece no campo da
retórica. O simbólico ou grande Outro é da metafísica de Sócrates, Platão e
Aristóteles e, quando não é metafísico, ele não existe como realidade real, ele
é um fenômeno retórico. Com o REAL, Lacan procura um caminho que não seja o da
retórica e da metafísica. O caminho freudiano do modo de ser psíquico
(neurótico, psicótico, perverso) exige que se fale do real na comunidade
psíquica de significante (CPS): perverso, psicótico, neurótico. Exige
estabelecer as relações muito complexas entre a CPS e a história e o campo
político.
Fora da pós-modernidade, Clement Rosset abordou o real em sua
gramática do pior. Assim, parece que ele põe em processo de desintegração a
filosofia do real lacaniana, do nó Bó. Rosset procura fazer uma gramática de
sentido contra a metafísica, a lógica formal e a retórica, gramática do mesmo
real lacaniano.
Clement Rosset parte do princípio de realidade freudiano e do real de Lacan:
“Incapazes de considerar certo o que quer que seja, mas igualmente incapazes de
acomodar-se com esta incerteza, os homens preferem, na maioria das vezes,
confiar em um maître que afirma ser depositário da verdade à qual eles próprios
não têm acesso : tais como Moisés face aos hebreus, Jaques Lacan face a seus
fiéis, o pretenso filho de guardião de prisão face aos prisioneiros, no
aforisma 84 do ‘Viajante e sua sombra’ de Nietzsche, ou ainda um outro
guardião, o que vigia a lei em uma parábola célebre de Kafka e aceita todas as gorjetas
sem, com isso, permitir a quem quer que seja descobrir seu segredo, face ao
‘homem do campo’”. (Rosset. 1989:44).
Meu problema consiste em pôr o princípio de realidade cruel
no campo político. O princípio de realidade tem no real a comunidade psíquica
do significante (CPS) perverso. A relação entre amor e perversão define a
essência do campo político:
“Se o amor pôde ser dito bruxo, no sentido de encantador,
como sugere o título de uma obra célebre de Manuel de Falla, é que ele realiza,
ou melhor parece realizar, uma proeza impossível: transformar nada em algo,
assim como aliás, por via inversa, transformar nada este mesmo algo em nada.
Platão teve uma visão justa, em ‘O banquete’, ligando o problema ontológico, a
embriagues amorosa ao sentimento embriagante de um contato de um contato
fugidio como ser. O amor, tal como Jano, é um mágico de rosto duplo e
contrário: sabe fazer surgir um objeto do nada, por um passe de magia branca,
mas também sabe fazê-lo desaparecer, como por encanto, por um passe de magia
negra. Manuel de Falla observa bem esta magia em uma passagem de ‘El amor
Brujo’:’Exatamente como o fofo-fátuo, o amor se desvanece ‘( se desvanece, diz
o texto espanhol de Martinez Sierra: some evapora-se, transforma-se subitamente
em nada). O ‘Sonho de uma noite de verão de Shakespeare’, ‘A dupla inconstância
de Marivaux, o ‘Cosi fan tutte’ de Mozart são outras ilustrações notáveis dessa
evanescência cruel do amor, de seu duplo poder de aparecer e desaparecer. Mas,
repito, essa ambiguidade não é outra coisa senão a ambiguidade inerente a toda
espécie de realidade”. (Rosset. 1989: 49).
Não existe campo político sem relações de amor entre
representante e representado.
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O significante-Rei emerge do real. (Zizek. 1988 :42-43),
emerge do corpo da realeza e organiza e move o campo político monárquico. Ora,
Lacan parece crer que o significante psicótico emerge do real e organiza o
campo político de exceção, como nos casos de Stalin e Hitler. Entretanto, o
real é o lugar do perverso, da essência do perverso. Hitler e Stalin não são
psicóticos, e sim perversos. O mundo como teatro da comédia do homem é um
efeito da essência do perverso. Como dizer a relação da essência do mundo do
perverso com o campo político?
Rosset:
Como as peças de um quebra-cabeça impossível de reconstituir,
pois provém cada uma de um solo diferente, ou ainda, em um romance policial,
uma série de indícios heteróclitos feitos para desafiar a perspicácia de um
Sherlock Holmes ou de um Hercule Poirot que quebram a cabeça: o que pode haver
de comum entre eles que permite ligá-los um ao outro”. (Rosset. 1989: 65).
O campo político é amoroso, heteróclito e mais, ainda:
“Assim o campo político é sempre investido pela crença:
porque não oferece nada de discutível – daí o fato que ele se presta
precisamente a discussões sem fim -, já que seu objeto é, para sempre, incerto
e indeterminado, o que lhe permite ocupar sem dificuldade os campos abandonados
da crença tradicional. Este indiscutível nada define desde sempre o objeto
teológico, protegido de exame, preservado a priori, e com justa razão, de toda
crítica. Não há nenhum divórcio entre a crença e a razão, uma vez que o objeto
da crença, por não existir, escapa a fortiori a um exame racional. Jamais um
argumentador criticará utilmente um crente, contrariamente ao que sugere sem
cessar Sade, por exemplo, no ‘Diálogo entre um sacerdote e um moribundo’.
(Rosset. 1989: 79).
3
B. Taschen fala do campo da arte da década de 80 segunda
metade do século XX como gramática do perverso:
“Se fizermos o inventário do que a imaginação artística
produziu na passagem dos anos 70 para os anos 80, tanto na Europa, como nos
EUA, destacam-se imediatamente algumas características bem distintas :Gosto
pela livre utilização da cor e forma, riqueza imaginativa, sentido do efeito
decorativo, indiferença perante as regras ortodoxas da arte, principalmente as
da Vanguarda; uma refrescante ausência de sistema, indiferença no tratamento de
meios de estilos aparentemente incompatíveis – suscitando, assim, a impressão
de uma <confusão> de estilos-, uma livre combinação de elementos da arte
<elevada> e da arte <inferior>, uma patente exibição do Eu
artístico; um erotismo radioso que, tal como as formas de expressão artística
utilizadas, se desvinculam das convenções; uma elaboração e uma tendencia para
o supérfluo, por vezes lada a lado com um estridente cinismo, uma raiva destruidora
e um sentido anárquico da vida, onde existe, porém, um desespero subjacente e
semi-inconsciente, manifestando-se por atitudes, desde a ironia até um amargo
sarcasmo. Surge um romantismo oculto que, ocasionalmente, toca as raias do
sentimentalismo, do gosto pela contradição, e mesmo uma aberta agressividade,
uma falta de perspectiva utópicas. Pode-se, porventura, considerar como
<cínica> a atitude que ressalta de toda esta descrição, segundo o
espírito do <patriarca Diógenes de Sinope>, como a <irreverência
canina> de uma <teoria inferior, aliada à pobreza, à sátira e a
insolência>, teoria esta que – contra as abstrações idealistas, a insipidez
do saber teórico a toda a aparência pomposa – tenta, pela arte, <mijar
contra o vento do idealismo>. (Jorg Drews). (Taschen:34-35).
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O livro que estabelece a gramática de sentido da época atual
é o “Crítica da razão cínica, no campo da filosofia. (Sloterdjik; 1989). Com o
fim do domínio da pós-modernidade, ele pode ser retomado. Porém, a história de
perverso no campo da arte foi dito por Bourdieu com o fetichismo do dinheiro:
“O reino do dinheiro por toda parte, as fortunas dos novos
dominantes, industriais aos quais as transformações técnicas e os apoios do
Estado oferecem lucros sem precedente, por vezes simples especuladores,
exibem-se nas luxuosas mansões da `Paris haussmaniana ou no esplendor das
carruagens e das toaletes. A prática do candidato oficial permite conferir uma
legitimidade política, com a vinculação ao poder legislativo, há homens novos,
entre os quais uma forte proporção de homens de negócio, e instaurar ligações
estreitas entre o mundo político e o mundo econômico que se apodera
progressivamente da imprensa, cada vez mais lida e cada vez mais rentável”.
(Bourdieu. 1996: 65; 1992: 77).
O campo político bonapartista de exceção faz pendant com o
campo da arte do cínico. A década de 1980 é aquela da soberania do
mercantilismo do capital multinacional que faz surgir a época do perverso como
gramática de sentido bonapartista com fetichismo de dinheiro:
“A exaltação do dinheiro
do lucro vai ao encontro das estratégias de Napoleão III: para assegurar
a fidelidade de uma burocracia mal convertida ao ‘impostor’, gratifica seus
servidores com emolumentos faustos e com suntuosos presentes; multiplica as
festas, em Paris ou em Compiègne, para as quais convida, além de editores e dos
patrões de imprensa, os escritores e os pintores mundanos mais ortodoxos e mais
conformistas, como Ovtave Feuillet, Jules Sandeau, Ponsard, Paul Féreval, ou
Meissonier, Cabanel, Gérome e os dispostos a conduzir-se como cortesãos, como
Octave Feulliet, e Viollet-le- Duc que encenam, com a ajuda de Gérome ou de
Cabanel, ‘quadros vivos’ com temas retirados da história ou da mitologia”.
(Bourdieu. 1996: 65).
O campo da arte bonapartista é uma fratura como a época
anterior?
Bourdieu:
“Estamos longe das sociedades eruditas e dos clubes da
sociedade aristocrática do século XVIII ou mesmo da Restauração. A relação
entre os produtores culturais e os dominantes não têm mais nada do que pôde
caracterizá-la nos séculos anteriores, trata-se da dependência direta em
relação ao comanditário (mais frequentemente entre os pintores, mas também
atestada no caso dos escritores) ou mesmo da fidelidade a um mecenas ou a um
protetor oficial das artes. Doravante, trata-se de uma verdadeira <subordinação
estrutural>, que se impõe de maneira muito desigual aos diferentes autores
segundo sua posição no campo, e que se institui através de duas mediações
principais: de um lado, o mercado, cujas sanções ou sujeições se exercem sobre
as empresas literárias, seja diretamente, através de cifras de venda, do número
de recebimentos etc., seja indiretamente, através dos novos postos oferecidos
pelo jornalismo, a edição, a ilustração e por todas as formas de literatura
industrial; do outro lado, as ligações duradoras, baseadas em afinidades de
estilo e vida e de sistema de valores que, especialmente por intermédio dos
salões, unem pelo menos uma parte dos escritores a certas frações da alta
sociedade, e contribuem par orientar as generosidades do mecenato de Estado”. (Bourdieu.
1996: 65).
Um campo político cesarista da arte do perverso cria e recria
a nossa contemporaneidade.
5
A retórica é um fenômeno da antiguidade que existe como um
ersatz de cultura na atualidade, sobretudo, no Brasil. Quentin Skinner escreveu
o seu indescritível “Razão e retórica na filosofia de Hobbes”. Ele põe a
gramática de sentido: no proscênio:
“Meu objetivo último, entretanto, é voltar aos textos de
Hobbes, armado com o tipo de informação histórica que considero indispensável
para lhes dar sentido”. (Skinner: 23),
Skinner fala da gramática de sentido fazendo pendant com a
retórica:
“Como isso deixa implícito, estabeleço uma clara distinção
entre o que considero serem duas dimensões discerníveis da linguagem. Uma delas
tem sido convencionalmente descrita como a dimensão do sentido, o estudo do
significado e do referente supostamente ligados às palavras e frases. A outra
encontra sua melhor descrição com a dimensão do ato linguístico, o estudo da
gama de coisas que os falantes são capazes de fazer em (e por meio) de seu uso
das palavras e frases”. (Skinner: 23).
O sentido imaginário lacaniano aparece no domínio do studo do
significado com referente, devido a sua consistência da ligação com a palavra e
frase. A gramática de sentido aparece no ato linguístico, ela depende do uso da
gramática no campo político; ela é a gramática de sentido do homem político.
A gramática de sentido é ato linguístico que cria e recria a
maioria no campo político. já a retórica é “ a firmação de existem dois lados
em toda questão e de que, portanto, sempre se pode argumentar in utramque
partem”. E por fim temos a visão – de
orientação ainda mais retórica – associada ao humanismo renascentista: a de que
nosso lema deve ser audi alteram partem, sempre escute a outra parte”.
(Skinner: 24, 30-31). Indo para a antiguidade:
“a palavra se define, por outro lado, por ser uma phone
semantike, ‘sons vocais que tem sentido’; e esse sentido não existe por
natureza – não há palavra natural [...] – mas é sempre o efeito de uma
convenção [...], de modo que todo logos é significante, entretanto, não como um
instrumento natural, mas... por convenção”. (Cassin: 109).
A gramática de sentido é ato linguístico de uma razão
gramatical que é, ao mesmo tempo, natureza e convenção ou artifício? A retórica
é somente artifício?
Untersteiner:
L’habilité rtétorique, qui peut également être renforcée par
des lieux comuns dont la seule fonction est mnémotechnique , en vient à
s’identifier avec l’habilité à exercer le pouvoir de séduction au sein de
logique, de l’éthique e de l’esthétique. Habilité oratoire signifie donc
victoire sur ls contradictions toujours ranaissantes d’un contenu qu’il faut
exprimer. On retrouve ici encore, em pratique exactement le même procédé que un
art qui Cherche non pas tant á falsifier le vrai de façon inmmorale qu’à
imposer le possible par le biais du ‘leurre’”. ((Untersteiner: 285).
A retórica da atualidade é uma técnica de discurso político
que procura falsificar a verdade através do artifício como um meio falso cínico
de tornar possível uma realidade política - sob o poder de sedução de uma
lógica que já não é uma lógica, de uma estética degradada:
“C’est chez Isocrate, disciple de Gorgias, que l’on peut
déceler la confirmation de l’objectif ultime que l’on pouvait atteindre en
suivant la voie tracée par le sophiste, et cela, notamment, dans la passage où
il declare que l’éloquence a pour but l’art de la persuasion et celui qui vise
la défense des intérêts individuels: dans le but de persuader, tout les moyens
sont bons;m il s’agit de spéculer sur la stupidité et sur les bas instinncts de
la foule et de dire ce qu’il lui plaît d’entendre”. (Untersteiner: 286).
A retorica da contemporaneidade é aquela de Isocrate e não da
da Gorgias:
“Comme on l’a dit maintes fois, la ‘persuasion’ implique la
psychagogie qui, outre le prédominance d’une logique irrationnelle faisant
graviter tout suggestion autor de l’une des termes des antithèses toujours
renaissantes , présupposé également des MOYENS LINGUISTIQUES inhérents à la
nature même du logos <qu’il suffisait d’éveiller pour pouvoir exercer sa
domination sur les hommes, comme par une force magique , et pour le soumettre á
as volonté au Moyen d’une douce persuasion”. (Idem: 286).
Na atualidade, a retórica falso perversa é um fenômeno
melífluo da tela cibernética narrativa:
“Gorgias n’est donc pas l’’inventeur’ des ‘figures
gorgiennes’, mais il lui revient le mérite de les avoir intégrées à une
conception philosophique de l avie et à une interprétation tragique du réel.
L’harmonie de la forme, qui semble domine, de même que l’éthique et l’esthétique,
par le npérrov, apaise la douloureuse
évidence qui s’offre à tout expérience humaine qui fait l’éprouve de ce que la
connaissance n’est possible qu’en suivant les voles de la soufrrance”. (idem:
288).
O conhecimento só é possível por causa das ratazanas do
sofrimento que evoca a essência do homem perverso. O homem político é um
ratazana do saber político retórico que liga o representante ao representado em
situações concretas sob a estrutura da comunidade psíquica do significante do
perverso.
6
A retórica do sofista ´o saber da insignificância (Rosset.
1973: 77), a gramática de sentido da insignificância ao contrário da gramática
de sentido do significante como o saber dialético:
“O que não aparece é (o que absolutamente não se vê é como se
não existisse, dirá Gracian): Tal é o sentido mais geral das célebres fórmulas de
Protágoras que abandonam o tema da objetividade e restringem o que existe à
soma das aparências subjetivas. Daí o caráter espantoso do pensamento
sofístico: nada diz acerca daquilo que os filósofos geralmente visam quando
falam de aparência ou artifício – isto é, a realidade e a natureza, a partir
das quais, unicamente, aparência e artifício adquirem, segundo eles, sentido e
realce. É que os sofistas apagaram da memória essa pertinência original do
artifício à natureza: emanciparam o artifício, não mais lhe reconhecendo
nenhuma dependência com relação à natureza, e organizaram, em consequência, uma
arte de jogar unicamente com a aparência, arte que define a ‘técnica’ [...]
propriamente sofística”. (Rosset. 1989: 145-146).
O homem político vive a experiencia do herói acima do homem
comum. em uma gramática de sentido da insignificância, tendo o dinheiro público
como fetiche das aparências do viver uma experiência; ele é um perverso nas
Américas, para ele, o geral é não viver a política como vocação, esse geral não
é generalizável, pois há exceção. No Brasil, alguns políticos se apresentam
como exceção, sendo o mais conhecido o sr. Ciro Gomes.
O mundo das aparências cibernéticas é um mundo de imagens
textualizadas que se presta a guerra contra a imagem de rethor do intelectual.
Coisas insignificantes de uma narrativa podem ser usada para destruir
intelectuais do mundo da crítica do campo político. O Sr. Silvio Almeida e o
Prof. Mascaro se tornaram alvo de campanhas de desintegração de suas vidas.
Eles são provavelmente os dois intelectuais mais notáveis do mundo sofistico e
do herói de Gracian:
“O herói de Gracian também pode ser comparado ao Doutor
Fausto: adquire a mestria absoluta ao preço de um pacto pelo qual renuncia, não
só a sua alma como Fausto, mas às ideias de realidade e ede natureza. Pacto
diabólico, aos olhos do pensamento naturalista, em virtude do qual o herói de
Gracian receberá, como prêmio pelo abandono das ideias de ser e de natureza , o
domínio do reino das aparências e dos artifícios? Pois – e esta é outra
diferença que o distingue de Fausto – não procura o conhecimento das coisas,
mas um domínio prático indiferente a qualquer preocupação de ordem explicativa
ou intelectual. O domínio é exatamente o que Gracian, no prefácio de ‘O herói’,
promete aos leitores suscetíveis de o entenderem:’ Pretendo delinear-se herói e
universalmente prodígio de ti mesmo (...) Aqui encontrarás (...) uma razão de
Estado, uma bússula para navegares rumo à perfeição, uma arte de ser ilustre
com poucas regras de conduta. ‘A perfeição para a qual se dirige o herói de
Gracian manifesta-se por tríplice domínio: domínio das aparências, domínio das
circunstâncias, domínio da mobilidade”. (Rosset. 1989. 189).
Já o homem político como herói das aparências é o herói do
poder governamental, mestre dos artifícios retóricos cínicos falsos da tela cibernética
ou da televisão:
“Domínio das circunstâncias: o herói possui a arte de
aproveitar as ocasiões, mediante uma técnica que não é a da previsão, mas da
intuição da oportunidade no momento em que essa se apresenta – técnica de
inspiração totalmente sofística. O domínio das circunstâncias não consiste em
moldá-las, e sim em saber explorá-las da maneira mais rentável, evoca a arte do
jogo de cartas, à qual se refere frequentemente a imaginação de Gracian. O jogador
não escolhe suas cartas, assim como o homem não gera as circunstâncias de sua
vida; porém sua habilidade consiste em aproveitar seu jogo segundo as
eventualidades da partida: saber descartar das péssimas cartas quando for
preciso, e jogar favoravelmente no momento oportuno. O jogo de cartas é uma exata
miniaturização do que é a vida para Gracian, e de como deve ser a conduta na
vida. o que é imposto ao homem é o acaso, o que ele pode impor é o artifício; o
herói gracianesco é aquele que responde ao acaso em um máximo de artifício”.
(Rosset. 1989: 189-190).
O herói político é um homem do poder governamental. O herói
de barroco é aquele que se antagoniza como o homem do poder governamental, como
intelectual, artista, gramático.
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