quarta-feira, 18 de março de 2020

O FIM DO CAPITALISMO?


José Paulo 18/03/2020


A COVID-19 desencadeou uma crise no campo do sujeito/pessoas capitalista, uma pandemia que afeta o homem (crianças, mulheres e homens) e a economia produtiva do capitalismo.
Uma reação humanitária chinesa e europeia escolheu as pessoas ao capital. Paralisa-se o processo de trabalho para salvar as pessoas mais vulneráveis: velhos e doentes crônicos.
Na América, Donald Trump se vê encurralado pela contradição humanitarismo versus capital. O eleitorado do homem americano vai eleger o próximo presidente da república em 2020. Donald quer se reeleger.
A contradição neoliberalismo versus Estado-cientista social vai para o proscênio da luta eleitoral. Trata-se de uma contradição objetiva cujo aspecto estatismo derrota o aspecto neoliberal?
A guerra molecular da pandemia contra o homem americano será dramatizada pela sociedade de comunicação de massa, sociedade do espetáculo. No entanto, na consciência pública, as baixas do coronavírus serão atribuídas ao domínio da medicina capitalista que só salva quem pode pagar. Nos Estados Unidos, inexiste um Estado-cientista social no domínio da medicina pública para tratar centena de milhões de pessoas. Este fato certamente aparecerá na luta eleitoral
O sistema de poder americano vai conseguindo neutralizar Bernie Sanders, com o seu projeto de um capitalismo social, especialmente no domínio da saúde da sociedade salarial. A hegemonia da burguesia democrata sobre o negro e a mulher vai dando a vitória para o neoliberal obamista envergonhado Joe Biden, representante do capitalismo legal subdesenvolvido, industrial, americano. Por enquanto, o capitalismo neoliberal está no controle da vida política americana.
Na União Europeia, o capitalismo neoliberal se desfaz como hegemonia política sobre as massas. As elites percebem que o domínio do capitalismo neoliberal se estiola no continente. Na Espanha neoliberal, o estatismo intervém na medicina capitalista. É o sintoma do fim do capitalismo neoliberal no continente?
Na Inglaterra neoliberal do partido conservador, Boris Johnson escolhe o capital ao invés dos ingleses. A estratégia de <imunidade de rebanho> é aquela estratégia do capital fictício internacional que controla o partido conservador e o governo de Boris Johnson. A Inglaterra aparece como o centro de resistência do neoliberalismo, pois Donald Trump se apresenta como um trânsfuga envergonhado do neoliberalismo; ele é o homem nu na política do capitalismo ilegal do subdesenvolvimento, industrial, financeirizado.       
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UMA ÉPOCA HUMANITÁRIA
<O último homem> é um tema de Nietzsche como uma profecia filosófica de uma época sem humanitarismo. Engraçado que Althusser falou de um anti-humanismo como condição para a sobrevivência do pensamento de Marx no pós-Segunda Guerra Mundial. O humanismo é a antessala filosófica do humanitarismo na história da sociedade mundial.
A era do capitalismo neoliberal é a época do anti-humanitarismo capitalista, que desbanca o modelo econômico de capitalismo socialdemocrata europeu, profundamente humanitário.
O humanitarismo é o homem no centro das preocupações das instituições modernas. O biopoder de Foucault não é um conceito humanitarista, se ele se define como a medicina social que cuida da vida da população proletária?
A pandemia da covid-19 é a primeira grande crise da sociedade mundial em uma época de plurivocidade de crise. Se não formos abduzidos por um discurso milenarista, o que nos resta?
O capitalismo não é o método universal para tratar a plurivocidade de crise que nos ameaça. Inaugurada pela pandemia da covid-19, a época atual põe e repõe no centro da história mundial o problema do humanitarismo. Assim, o problema se remete para a interrogação: quanto vale a vida e o sofrimento humanos?
A devastação da flora e da fauna no Planeta por causa da crise climática não se traduz em uma mobilização das elites política e econômica que ao menos mantenha a aparência de que se quer resolver esse problema. Donald Trump é o líder mundial pró-devastação do planeta. Para ele, a crise climática é uma invenção dos cientistas naturais.
O que está muito claro é que o Estado-cientista (aliança de política, ciência e economia) é o sujeito mais importante da nossa época humanitária. Na conjuntura pós-neoliberal, o capitalismo globalizado, desenvolvido, industrial, cibernético tem que fazer pendant com o Estado-cientista, industrial, desenvolvido, cibernético.
O capitalismo neoliberal ab-rogou o campo de sujeito/pessoas da gramática do capitalismo globalizado cibernético. Hoje, a sobrevivência do capitalismo mundial passa pôr colocar o campo supracitado como parte do cálculo da acumulação capitalista e da reprodução ampliada de capital cibernético no domínio da medicina social e da natureza.
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O abalo no campo do sujeito faz pendant com a mexida na relação das gramáticas capitalistas com os representantes políticos do capital. Como efeito da gramática capitalista neoliberal, o sujeito político é parte de uma racionalidade que põe e repõe a economia privada como o alfa e o ômega da vida da sociedade capitalista. A ideia de redução do Estado nacional integral a um Estado mínimo fiscal comanda a política neoliberal. O Estado como comitê da sociedade capitalista.  
Com a crise capitalista, o sujeito político neoliberal vê a situação como efeito de uma situação de anomalia. O discurso neoliberal é aquele do uso do Estado nacional para tratar a sociedade capitalista doente, pois, o próprio capitalismo não tem a cura para sua doença.
   COVID-19, CAPITALISMO, ESTADO NACIONAL
De um ponto de vista de um realismo político, a COVID-19 invade o campo de sujeitos/pessoas como pandemia. A China tratou o vírus como um problema de segurança nacional. Ela pôs seu Estado-cientista nacional para controlar a pandemia chinesa.
O capitalismo chinês recebeu um duro golpe por causa do esforço do Estado nacional em controlar a pandemia. A pandemia apareceu como uma ameaça, de fato, ao monopólio do poder político do PCC. O Partido Comunista Chinês resolveu paralisar a sua sociedade industrial cibernética, antes que a pandemia se transforme em uma revolta, descontrolada, das multidões contra o poder político do partido.
A China mostra que o capitalismo não cuida da saúde do campo de sujeitos/pessoas. Só o Estado pode tomar a frente desse evento. Isso é o Oriente no qual a sociedade capitalista industrial não tem como premissa a destruição do Estado-cientista, nacional, social
No Ocidente, o neoliberalismo americano hegemônico tem como axioma de sua gramática capitalista a desmontagem do Estado nacional social. A América Latina embarcou nessa canoa furada e agora não tem como controlar a pandemia. No Brasil, a política do governo é: “morrerá quem tem que morrer, ou melhor, os mais fracos”.
Na América, a eleição presidencial 2020 põe cara a cara a gramática capitalista neoliberal e o fato dessa gramática não conter em si a premissa de cuidado com a saúde da população. A saúde da população já está aparecendo como um problema de medicina pública (que não visa o lucro). A medicina privada (cuja lógica é a obtenção de lucro) salva quem tem dinheiro para pagar.
A contradição entre medicina pública e medicina capitalista vai aparecendo como um problema cadente da política americana. Com a hegemonia da gramática do neoliberalismo, a sociedade americana civil passou a ter aversão sexual ao Estado: nojo ao Estado intervindo na vida americana. Assim, ela passou a desprezar a medicina pública.
Em 2020, a vida americana se dirige à política para decidir se continua a hegemonia da gramática neoliberal de Donald ou Joe Biden, ou faz de Bernie Sanders o candidato do Estado social nacional contra o neoliberalismo.
Donald Trump parece usar o dinheiro estatal para salvar o Banco e o Mercado Financeiro, como prioridade política. Ele é o sujeito de uma estratégia de vencer a eleição para manter tudo como está no quartel de Abrantes: “perder os anéis para não perder os dedos”.
Doar dinheiro público para os americanos da sociedade salarial cheira a um uso do  populismo trumpista para salvar o capitalismo neoliberal.   

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O subdesenvolvimento vai aparecendo como um fenômeno no jornalismo brasileiro? Parece que o medo da pandemia faz com que a sociedade se pense como subdesenvolvida. Diante da catástrofe que se anuncia para as sociedades subdesenvolvidas, o jornalismo parece não parar de funcionar como uma linguagem ficcional próxima da realidade realmente existente?
  SUBDESENVOLVIMENTO, pandemia, crise capitalista
A pandemia aparece como motor da crise capitalista manifesta das sociedades capitalistas, industriais, cibernéticas, desenvolvidas. Um outro problema histórico dramático é a associação da crise capitalista com a pandemia em países subdesenvolvidos.
A gramática do subdesenvolvimento neoliberal é aquela que tem como premissa a desarticulação do Estado-cientista social tal como este existiu no Brasil e Argentina, para ficar nesses dois casos.
Com seu neoliberalismo de taberna, Macri resolveu jogar a Argentina no subdesenvolvimento sem sociedade industrial e Estado cientista social. O Brasil de Michel Temer e Bolsonaro, também, resolveram substituir o Estado nacional social 1988 por um Estado corporativista, neoliberal, fiscal, finaceirizado, Assim, Brasil e Argentina desenvolveram o subdesenvolvimento sem indústria urbana e sem Estado nacional. Provavelmente, a lógica fática da crise econômica subdesenvolvida irá reduzir a sociedade industrial restante ao mínimo econômico.
Macri sofreu uma derrota acachapante, definitiva, para o peronismo. No Brasil, Paulo Guedes e Rodrigo Maia fazem de conta que o modelo econômico neoliberal subdesenvolvido não é a causa da maior crise da sociedade brasileira no domínio da saúde pública. Eles não são responsáveis pela crise catastrófica e, portanto, não devem perder sua posição de poder político.
O modelo econômico subdesenvolvido se reproduz graças a um campo de poderes político mafioso que encontra guarida nas altas instituições da república (Congresso, STF, poder judiciário em geral, grandes governos locais, partidos políticos no comando da política nacional e local). A grande imprensa e os mass media (televisão, no proscênio da sociedade de comunicação de massa) fabricam, cotidianamente, o discurso mafioso de reprodução do capitalismo subdesenvolvido neoliberal.
A plurivocidade de crise supracitada afetará a vida das cidades, agora, subdesenvolvidas. As grandes cidades poderão ser o palco de eventos de massas irracionais?
A política será afetada pela crise urbana das grandes cidades?
Não vamos pôr o carro na frente dos bois. Aguardemos o desenvolvimento da crise.
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O campo do sujeito/pessoa é um campo territorial, ele pertence aos países. Se ele entra em crise, as gramáticas do capitalismo desterritorializadas podem também entrar em crise. O capitalismo neoliberal vê os países como fenômenos arcaicos. Todas as teorias do funcionamento do capitalismo em redes econômicas (produtiva, financeira, comercial) tratam os países como objetos internacionais obsoletos. A União Europeia é a expressão fática de um funcionamento em rede (atravessando e dissolvendo os países) do capitalismo europeu.
Com a pandemia, a Europa descobre que são os Estados nacionais que lutam contra a guerra biológica da natureza contra o homem (pandemia) europeu (crianças, mulheres, homens). A Europa chega à conclusão lógica de que não foi uma boa ideia se desfazer do Estado-cientista/social na forma do Estado do bem-estar. Não foi uma ideia brilhante substituir o capitalismo social pelo capitalismo neoliberal do americanismo.
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A questão que se impõem é aquela do capitalismo neoliberal em colapso. Trata-se de um capitalismo que não quer morrer, depois de ter conquistado o planeta.
A ideia do capitalismo no comando da vida econômica mundial progrediu muito no século XXI, sem Estado nacional integral. Progrediu tanto no espaço da consciência pública dos países desenvolvidos, que a morte do capitalismo neoliberal é vivida como o fim do próprio capitalismo.
O modelo capitalista dos países desenvolvidos se constituiu como gramática capitalista cibernética neoliberal. Ao vincular a sociedade industrial cibernética ao neoliberalismo, o capitalismo neoliberal em colapso é vivido como fim do capitalismo tout court.
Em um país continental como o Brasil, a política só conhece o pensamento neoliberal. Mesmo próxima da fase do cemitério italiano, a crise brasileira da covid-19 é vivida pela política como algo passageiro. Em alguns meses, o país retomará a política neoliberal intacta.
O Brasil é o exemplo de um país cuja política é incapaz de interpretar a sua realidade econômica realmente existente. A política não metaboliza que o Brasil é um país capitalista subdesenvolvido sem indústria urbana no comando da vida da sociedade. O Brasil não vê que o capital fictício internacional detém a hegemonia econômica, política e cultural, entre nós. <O Brasil não conhece o Brasil>.
O jornalismo não se apresenta como a consciência púbica nacional do capitalismo subdesenvolvido Latino-Americano.
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Se a política capitalista é incapaz de se reinventar, ou seja, de abandonar o neoliberalismo no comando do capitalismo, então, trata-se do fim do capitalismo em si.
A reinvenção do capitalismo depende da política. Porém, no Ocidente, a política é neoliberal. Assim, ela é aquele episódio do barão de Munchausen no qual o cavaleiro, atolado na areia movediça, puxa para cima o seu próprio rabo de cavalo, tirando o cavalo do atoleiro mortal.
Os países subdesenvolvidos se encontram em uma situação de paralisia política frente à crise mundial do capitalismo. Eles não têm vontade de potência para reinventar o capitalismo.
A América parece não estar disposta a usar a política para reinventar o capitalismo. Joe Biden é o símbolo do fracasso da política americana como reinvenção do capitalismo americano. A realidade capitalista fática é uma realidade inercial que pesa como chumbo no cérebro dos americanos vivos.
Os olhos do planeta se voltam para a China. Deste país depende a reinvenção do capitalismo mundial?
A China é o espetáculo da luta pela hegemonia entre o capitalismo industrial subdesenvolvido e a sociedade industrial desenvolvida, cibernética. A China tem um Estado-cientista/social cibernético que faz pendant com o capitalismo chinês no comando da vida chinesa. Como esse modelo de economia e sociedade pode ser o paradigma para a reinvenção do capitalismo mundial?
Donald Trump vê na pandemia um acontecimento que põe a questão da hegemonia do planeta como disputa agônica entre a América e a China. O país que derrotar a pandemia será visto como o líder incontestável da política planetária.
O capitalismo neoliberal em colapso parece afetar mais o poder americano do que o poder chinês. Com a pandemia covid-19, o século XXI vai ao encontro da hegemonia chinesa sobre a política mundial?  
A pandemia pode ser a causa da derrubada da ordem mundial neoliberal? Ela pode abrir a história para a hegemonia de uma ordem mundial com cores chinesas? 

 ECONOMIA DE GUERRA
A NATUREZA natureza faz sua guerra biológica ao homem (pandemia). O real invade a vida econômica e da história da sociedade mundial. Do que se trata afinal?
Na Itália, pessoas convivem com cadáveres produzidos pelo novo corona vírus em suas próprias casas. Esta situação é a síntese social de uma outra coisa, a saber: a <economia de guerra> no comando da história do globalismo subdesenvolvido na esfera do Estado.
O neoliberalismo foi destruindo o Estado social, definido como cuidado da população. O neoliberalismo é um desprezo profundo pelo campo do sujeito/pessoas. A guerra virótica ataca as pessoas e o sujeito do capitalismo globalizado. Este sujeito é articulado pela gramática de frases como: 1) o mercado é o único motor da vida em sociedade; 2) o Estado nacional social deve ser destruído; o Estado nacional é uma força de bloqueio do capitalismo globalizado.
Falo da economia de guerra em minha pátria.
Governo nacional neoliberal e governos locais neoliberais se empenharam em destruir o sistema de saúde estatal. Agora, o Estado está incapacitado para enfrentar a pandemia. Os governos neoliberais só sabem fazer política econômica propondo para o parlamento a destruição do Estado nacional, reduzindo-o a um puro mecanismo fiscal: Estado fiscal neoliberal do <teto de gastos>.
O Estado fiscal neoliberal no comando da vida econômica significa pôr mais lenha na fogueira da economia de guerra. O Estado fiscal neoliberal pensa as pessoas e empresas como atores de um campo de forças da economia de guerra onde os mais fracos devem perecer.
O governo procura pôr a responsabilidade da eclosão da economia de guerra nas mãos do Congresso. Para o governo sicofanta, prestar informações falsas e mentir sobre a economia de guerra, e, mais ainda, caluniar o parlamento é a única prática política que lhe vem a seu cérebro doentio.
Especialistas em economia de guerra, antigos economistas falam de uma quebradeira geral das empresas, que se aproxima; falam de fome e de multidões doentes nas cidades. São efeitos naturais da economia de guerra.
É claro e cristalino que cabe à política nacional (tendo o Estado nacional como centro) o comando do enfrentamento da economia de guerra. Também é claro e evidente que o governo de Bolsonaro e gal Mourão acabou. Como governo neoliberal, ele é uma variável que só aprofunda a economia de guerra.
Para enfrentar a economia de guerra, o Brasil necessita de um governo nacional que faça do Estado brasileiro uma força prática utópica de reinvenção de nossa história capitalista.
O momento é gravíssimo!
  



       

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