terça-feira, 28 de maio de 2019

BOLSONARISMO E FASCISMO EUROPEU


José Paulo



Trabalhei durante algum tempo com a categoria de fascismo para pensar a conjuntura bolsonarista. Neste texto recorro a Poulantzas para iluminar tal comparação.

Poulantzas diz:
“O processo de fascização e a instauração do fascismo correspondem a uma situação de aprofundamento e de exacerbação das contradições internas entre as classes e frações de classe dominantes: é este um elemento importante da crise política em questão”. (Poulantzas.1974:77). 

O fascismo é um fenômeno política da sociedade de classes industrial europeia. Ele não se define por uma crise da própria sociedade de classes. Já o bolsonarismo é um acontecimento como efeito da decomposição gramatical da sociedade de classes industrial.

O fascismo significa a incapacidade de uma classe, ou fração de impor a sua hegemonia, a incapacidade da aliança no poder em ultrapassar por sua própria conta as suas próprias contradições exacerbadas. A <incapacidade de hegemonia> dentro do bloco no poder (aliança específica de várias classes e frações de classe) liga-se também à crise de hegemonia que atravessa o bloco no poder e os seus membros no que diz respeito, agora, à sua dominação política sobre o conjunto da formação social capitalista. (Poulantzas. 1974: 78-79).

O bolsonarimso se define por uma incapacidade hegemônica da classe dominante de sustentar a modernidade da formação social brasileira. Isto quer dizer que há transformações na sociedade (sociedade civil e Estado) que afetam a forma da própria classe burguesa.

O biolsonarimos é um evento que significa o aprofundamento da destruição da formação social moderna burguesa. O aspecto principal do processo em tela denota que no lugar de uma burguesia moderna entra uma burguesia tribal africanizada. Por ora, o tribalismo enlaça o nível econômico burguês do Brasil como efeito do tribalização do mundo.

Na periferia do capitalismo, a tribalização do econômico nos envia para o privatismo da ideologia econômica do dominante que altera o fundamento da formação social baseada no contrato social e propriedade privada capitalista. O privatismo introduz a propriedade tribal burguesa como propriedade da própria sociedade:
“o combate é o mesmo que possibilita assegurar a privatização da sociedade, garantir-se a propriedade dessa sociedade”. (Maffesoli: 69).

                                                                      2

Corte no fluxo temporal das determinações políticas. No interior da história universal, Bolsonaro é um caudilho miliciano ou um chefe de bando. Weber diz:
“En las dos mayores figuras del pasado, la del mago y profeta por un lado y la del príncipe guerrero escogido, del jefe de banda y condotiero por el otro, el cudillaje ha aparecido en todos los terrenos y em todas as épocas históricas”. (Weber. 1058).

Os ricos proprietários da sociedade não se submetem às leis do Estado. Eles sonegam impostos (em trilhões de reais), praticam absenteísmo fiscal, recebem incentivos fiscais volumosos, em suma, se apropriam en masse do excedente fiscal. Eles não se comportam como uma classe social burguesa moderna que divide uma parte da mais valia com a população na forma do excedente fiscal. Para eles não é um problema moral  ser dirigidos por um chefe de bando miliciano.  

Em outro texto já tratei da contradição entre a burguesia tribal africanizada e a Ordem Republicana constitucional 1988.

O que me interessa aqui é saber como a burguesia tribal mantem sua dominação, ou seja, sua hegemonia sobre o conjunto da sociedade. A contradição entre tribalização burguesa acelerada e modernidade brasileira aponta para a necessidade de uma reorganização do bloco no poder, sob a direção intelectual dos mass media.  

                                                                                2

O fascismo foi o estabelecimento da hegemonia de uma nova fração de classe no seio do bloco no poder: a do capital financeiro, e mesmo do grande capital monopolista. (Poulantzas. 1974: 79). Após uma etapa de incapacidade hegemônica do bloco no poder, o fascismo no poder estabelece a hegemonia política de uma fração que, até então não tinha detido esse papel. No bolsonarismo, o capital financeiro já é a fração hegemônica da República 1988.   

No bolsonarismo, o bloco no poder tem os proprietários da sociedade como hegemônicos sob a égide do capital financeiro. A articulação da hegemonia se deve em boa parte aos mass media como formadores políticos da opinião pública, um fenômeno generalizado nas formações capitalistas (Offe: 142). Mais adiante tratarei da hegemonia dos mass media. Por enquanto, assiná-lo a hegemonia no domínio dos jornais e revistas de papel.

O mais importante semanário brasileiro, a revista VEJA reorganiza a hegemonia cultural do rico proprietário da nossa sociedade. Em um editorial, ela diz:
“Assim como o Plano Real, a reforma da Previdência proposta pelo governo de Jair Bolsonaro evidentemente não será uma panaceia para todos os males da nação. Mas sua aprovação, no menor espaço de tempo possível, pode desencadear o círculo virtuoso de que o país tanto precisa para voltar a crescer. Trata-se da sinalização que os empresários daqui e do exterior esperam para liberar investimento congelados diante do atual cenário de incerteza. No futuro, poderemos olhar para trás e identificar este momento como um divisor de águas em nossa história”. (VEJA; 14).

O bolsonarismo se distingue do fascismo em um sentido claro. No fascismo, a luta política do bloco no poder contra as massas populares detém o papel principal em relação à luta econômica. (Poulantzas. 1974:78) No bolsonarismo, a luta econômica contra as massas detém o papel principal.

A luta econômica contra as massas começou, sistematicamente, no governo Michel Temer com a <Reforma Trabalhista> que transformou o trabalho assalariado em trabalho precário. Temer é bolsonariismo antes de Bolsonaro/Paulo Guedes por <sobredeterminação freudiana>. Nesta, o significante-mestre aparece (bolsonarismo) e sobredetermina, retroativamente, o passado historial da cadeia de significantes políticos. Também, a Dilma Rousseff de Joaquim Levy é bolsonarismo, antes de Bolsonaro.

O ministro da Economia Paulo Guedes confeccionou um modelo de Reforma da Previdência que significa a precarização da vida dos aposentados e pensionistas. Ele estabelece uma lógica de força com o parlamento (que tem a palavra final na aprovação de Reformas) na qual Guedes quer através de um golpe de força bolsonarista aprovar reformas sem negociar com o Congresso, que vive do voto das camadas proletarizadas.

Paulo Guedes diz que ou o parlamento aprova sua reforma ou é o caos econômico:
“A proposta prevê mudanças que gerariam uma economia de até 1,2 trilhões de reais aos cofres públicos nos próximos dez anos. É, de acordo com a equipe econômica, a senha para o Brasil deixar a crise de lado e impulsionar o crescimento. O contrário disso seria o caos, que pode, segundo o ministro, ocorrer já em 2002”. (VEJA: 46).

Com efeito, a  luta bolsonarista gira em torno da apropriação tribal da sociedade do rico, do excedente fiscal. A constituição do Partido Extremista de massas no campo da direita é um efeito da luta econômica da sociedade do rico contra as massas manuais e intelectuais da modernidade brasileira.

DO PARTIDO DEMOCRATA DE MASSAS.
O Partido Extremista de massas 26M (26 de maio) instaurou a dialética gramatical (dialética entre sujeitos políticos realmente existentes) de si com um outro sujeito político: o Partido Democrata de massas 15M (15 de maio).
Maio é o mês da articulação de um novo campo de poderes gramatical e luta política no Brasil. O Partido Democrata 15M é um partido da continuação do regime democrata constitucional 1988. Já o Partido Extremista 26M significa uma potência de ruptura com a Ordem Democrática 1988.
Como conteúdo econômico do regime 1988, o excedente fiscal é o objeto da luta do Partido Extremista com o Partido Democrata. O excedente fiscal 1988 foi usado para a construção de um Brasil a partir da ciência brasileira, escola pública de qualidade (com ressonância na escola privada de escol), universidade estatal com padrão ocidental (esta universidade ocidental serviu de modelo para a universidade da sociedade industrial asiática do século 21), e alta cultura.
Os mass media seculares se servem desse ambiente supracitado para fazer sua programação diária, sem se privarem na sua agenda de ataques à modernidade da sociedade brasileira. Os mass media em geral funcionam como aparelhos ideológicos do Partido Extremista de massas do campo da direita brasileira em ascensão.
Outra convocação das massas 15M está em processo. Nota-se que os dirigentes do !5M não tem consciência das camadas de significações que fazem do 15M um passo palpável na construção do primeiro partido de massas como Partido Democrata de massas gramaticalizável como sujeito grau zero autocrático.
A dialética gramatical articulada em maio é um efeito do sistema de partidos políticos institucionais em decomposição gramatical. {trata-se da decomposição gramatical no campo dos sujeitos]. Os partidos políticos institucionais continuarão existindo como efeito da soberania popular e do funcionamento institucional do parlamento e dos governos. Todavia, a cena política dos partidos políticos se articula como hegemonia a partir da dialética gramatical (dialética dos novos sujeitos políticos) entre o Partido Extremista de massas da direita e o Partido Democrata de massas do centro-esquerda.
Os partidos supracitados são um efeito da atualização de uma gramática da política com resistência empírica da realidade dos fatos políticos. Assim, cabe as massas manter ou desfazer a dialética em tela.


                                                                                        3

Um fenômeno excessivamente contemplado hoje á a crise da democracia representativa. Ela aparece como crise do laço representantes/representados e ascensão do Partido Extremista de massas mundial no campo da direita.  
Poulantzas diz:
“A conjuntura dos fascismos e o início do processo de fascização correspondem, no que se refere aqui ao bloco no poder, àquilo que designaremos por uma crise de representação partidária: elemento absolutamente notável da crise política em questão. Por outras palavras, verifica-se uma ruptura da relação, simultaneamente na ordem de representação – no sistema estatal – e na ordem de organização, entre as classes e frações de classe dominantes e os seus partidos políticos. (Poulantzas. 1974:79-80).
 Com efeito, há uma crise de representação, entre nós, que significa a decomposição gramatical dos sujeitos políticos institucionais no campo formal dos sujeitos. Um dos efeitos é a fragmentação parlamentar e seu corolário: falta de partidos hegemônicos na cena política institucional. Todavia, a decomposição gramatical é um efeito da relação entre partidos políticos e soberania popular. Ela é parte da história dos partidos políticos a partir da corrupção generalizada (exposta a céu aberto por um poder judicial como o força prática do Partido Extremista em latência) do sistema político partidário.      

O Partido Extremista de massa quer se impor aos partidos do regime 1988 como força hegemônica na cena política em extensão (cena política na qual entram as massas). Todavia, há um a diferença capital entre a conjuntura fascista e a conjuntura bolsonarista.
Diz Poulantzas:
“Tratou-se, antes, de uma profunda desorientação política do bloco no poder, no quadro da qual, seguindo diversa etapas e viragens, o partido fascista, abertamente apoiado pela fração do grande capital monopolista, veio preencher o vazio deixado pela ruptura do laço representantes-representados com os partidos políticos clássicos. Em consequência do que, o conjunto da burguesia e dos seus aliados assistiu passivamente à eliminação destes partidos pelo partido fascista. (Poulantzas: 1974: 80).

O Partido Extremista de massas 2019 quer destruir a Ordem Republicana 1988 articulada a partir da distribuição do excedente fiscal para as massas.  [Ela quer estabelecer o grau zero da vinculação orçamentária]. Ele quer submeter os partidos clássicos, sem destruí-los. A Ordem Republicana 1988 é aquela de um Estado social de massas proletarizadas e das massas que compõem o Estado apelidadas, pejorativamente, de massas corporativas de Estado.

O regime 1988 também consagrou um Estado-cientista (Châtelet: 606-611) advindo da evolução da história econômica da sociedade industrial (que toma impulso definitivo na década de 1950) - que o bolsonarismo, em sua luta econômica pelo excedente fiscal, quer aniquilar. O parlamento aparece como uma força de resistência empírica ao bolsonarismo como força antimoderna e antisecular da burguesia tribal africanizada da revista VEJA.

O horror que o bolsonarismo traz aos modernos se deve muito mais ao tribalismo econômico da burguesia do que ao comando da política burguesa se encontrar nas mãos de um caudilho miliciano. A burguesia tribal se sente representada, no campo de poderes estatizados, pelo chefe de bando miliciano, sem drama, como mostra o apoio da revista VEJA (tradicional semanário da burguesia moderna paulista) a Bolsonaro com Paulo Guedes.

Uma luta política em aberto pode acontecer com os partidos clássicos voltados para restaurar a sua direção sobre a cena política - em choque com o Partido Extremista de massa 26M e em aliança com o Partido Democrata  de massas 15M.

Nota-se o aparecimento deum populismo vulgar na relação direta líder-massas. O mundo digital é um veículo do novo populismo extremista. Porém, a coisa em questão vai mais longe com o aparecimento da economia miliciana carioca, guardando uma semelhança aparente com o fascismo europeu clássico:
“O redobramento institucional destes partidos por toda uma série de circuitos paralelos ocultos, funcionando como correias de transmissão real do poder e decisões: o que vai do aparecimento de grupos de pressão e de milícias privadas como núcleos de reorganização política até a instalação de verdadeiros circuitos paraestatais”. (Poulantzas. 1974: 81).

Rigorosamente, o bolsonarismo é um efeito de grupos de pressão e milícias privado-estatais do <Criminostat> (Paul Virilio:54-55) e do <capitalismo criminoso> (Platt:39,41).

Com o aparecimento dos partidos de massas advém uma transformação do campo de poderes estatizados. No fascismo europeu temos:
“Um alargamento do papel do próprio aparelho de Estado – exército, polícia, tribunais, administração -que põe em curto-circuito o papel do governo formal, torneando de forma característica a ordem jurídica estabelecida e deslocando o poder real do lugar onde ainda se exprimem estes partidos (transformados em simples “agrupamentos”), isto é, do Parlamento, para o aparelho de Estado em sentido estrito”. (Poulantzas. 1974:81)

O aparecimento de um Estado de polícia e da judicialização da política significa um deslocamento do poder político real do domínio do sistema partidário para o aparelho repressivo de Estado. Assim, surge a diferença gramatical entre poder formal e poder real que especifica a crise política do bolsonarismo.

No entanto, esse processo não deverá ser reduzido a uma simples transmutação das relações legislativo/executivo, ou melhor, a uma simples passagem de um “Estado-parlamentar’ a um Estado forte, com predominância do executivo apoiado nas massas do campo da extrema direita.
A propósito, a fusão das organizações civil/militar, secular/religiosa, em um partido único da burguesia tribal encontra-se no horizonte da conjuntura bolsonarista. O leitor já deve ter observado que os partidos clássicos se acantonam em objetivos relevando unicamente a luta econômica da apropriação do excedente em geral e do excedente fiscal em particular. Eles já perderam de vista os meios concretos de alcançar o interesse político geral dos dominantes e das massas. Vivemos uma conjuntura que os interesses particulares dos dominantes (como privatismo da sociedade) se chocam com o Bem Comum nacional. A destruição programada pelo governo 2019  da Floresta Amazônica (Bem Comum planetário) põe o dominante contra os interesses das fortes nações econômicas mundiais.  
Antes do fascismo no poder, a classe política é possuída por delírios paranoicos: “situação que, antes da instauração do fascismo, dá, aliás, muitas vezes origem a situações de uma loucura sem precedentes”. (Poulantzas. 1974:82).

A crise brasileira também vive, dramaticamente, em delírios paranoicos do evangélico do Partido Extremista 26M e situações de loucura instrumental do bolsonarismo e, ainda, de retardo político generalizado do dominante.  Isso é um sintoma larvar da crise ideológica da nossa formação social.
                                                                              4
   
A  crise ideológica generalizada é característica da conjuntura fascista. Temo aí simultaneamente uma crise da ideologia dominante e uma crise da ideologia da principal força social dominada (ideologia marxista-leninista). No Brasil do presente, temos uma crise da cultura econômica do capitalismo misto (Evans: 236; Baer: 240, 245, 249) sob ataque da ideologia do livre mercado absolutista do americanismo de Paulo Guedes;  e temos também uma crise da ideologia secular multiculturalista sob ataque da ideologia evangélica do bolsonarismo em uma guerra de posição que tem como objetivo tático a destruição do Brasil moderno.
No fascismo: “Precisamente, um dos efeitos, e não dos menores, desta situação foi a ruptura do laço representantes-representados entre estas classes e frações e os seus partidos políticos, e a falência organizacional destes partidos; um outro foi a característica espetacular da transferência dos ‘cães de guarda’ do bloco no poder – a da casta de seus ‘funcionários da ideologia’ credenciados – para a ideologia fascista e o seu ataque sistemático contra a ideologia burguesa tradicional. Esta conversão dos ‘funcionários da ideologia’ burguesa, conjugada com a crise ideológica no próprio seio da classe dominante, foi um dos fatores importantes da passagem franca e definitiva da burguesia para o fascismo”, (Poulantzas> 1974). 84-85). 
 A passagem franca e aberta da burguesia para o bolsonarismo tem como fato crucial a adesão dos mass media seculares ao Partido Extremista de massa 26M. Antes de abordar a relação entre hegemonia sobre as massas e os mass media, faço uma citação da relação dos <funcionários ideológicos> com o fascismo:
“Pode mesmo dizer-se que esta crise ideológica, sob as formas que assume no próprio seio da classe dominante, está na origem de um elemento suplementar da crise política: a ruptura entre os representantes políticos – partidos e pessoal político – da burguesia e os seus representantes ideológicos – os seus funcionários da ideologia =-cães de guarda. Estes últimos parecem adotar e preconizar o fascismo muitas vezes, pelos seus ataques contra os ‘partidos’ e os ‘políticos’, em conflito agudo com eles. E não foi por acaso que o laço da burguesia com seus ‘funcionários da ideologia’ se revelou o mais forte”. (Poulantzas. 1974:85).  

Entre nós, os <funcionários da ideologia> da burguesia (Mercado financeiro, especialmente) fazem pesados ataques aos partidos políticos institucionais e aos políticos. Eles jamais atacam a burguesia, sistematicamente; e os jornalistas dos mass media se apresentam como os funcionários da ideologia econômica dominante do livre mercado absolutista do americanismo.

Os mass media seculares possuem a confiança das massas de classe média e proletarizadas. Assim, eles são capazes de pôr as massas contra o parlamento na defesa da ideologia econômica dos proprietários da sociedade.  Os mass media defendem reformas do Estado cujo objetivo é a destruição do Estado social das massas 1988 e do próprio Estado cientista da classe média. Como isto é possível? como os mass media põem as massas contra si próprias? 

Os mass media encontram-se no front político da ideologia da estética de massa. Aqui, eles articulam a hegemonia dos proprietários da sociedade sobre as massas. Há uma razão dos mass media:
“A estética realiza, nesse sentido, uma função essencialmente propedêutica, processando e diluindo a matéria crua da vida das sensações para seu eventual controle nas mãos da razão. É como se, na estética, a razão atuasse lado a lado com os sentidos, inscrevendo-os formalmente, a partir de dentro, como uma espécie de quinta-coluna em campo inimigo, e ao mesmo tempo ensaiando para nós os estados mais elevados da verdade e do bem para os quais estamos caminhando. De outra forma, como criaturas imersas degeneradamente em nossos desejos, tenderíamos a experimentar os decretos da razão como desagradavelmente absolutos e arbitrários e não nos dobraríamos a eles. Schiller reconhece sutilmente que as determinações rigidamente deontológicas de Kant não são o mecanismo ideológico mais eficaz para subjugar o mundo material recalcitrante; o Dever Kantiano, como um monarca absolutista paranoide, mostra muito pouca confiança na generosidade instintiva das massas em se conformar a ele. Esse déspota rudemente desconfiado necessita assim de toque de simpatia populista se pretende assegurar sua hegemonia”. (Eagleton. 1993: 80).

Os mass media fazem a estética das massas schillerniana. Assim, eles conciliam a contradição ente sentido e razão:
“A obra estética da maturidade de Schiller é preparada pelos seus primeiros pensamentos. Para ele, o belo é manifestação da humanidade ideal. Segundo Kant, há oposição dos sentidos e da razão. Para Schiller, há uma manifestação em que essa contradição é resolvida. A reconciliação, a catharsis, está na contemplação, em que o homem verdadeiramente não deseja e em que, por isso, não tem de lutar em nome da moral”. (Bayer:302).

A estética de massa ancora a audiência no sofá da sala. A audiência é um ersatz do homem contemplativo em uma permanente catarse e, assim, livre de viver lutas da moralidade pública. O espectador vive a reconciliação entre sentido e razão ao não desejar a práxis. A audiência é o avesso das massas como sujeito grau zero gramaticalizáveis para o agir na rua.

Rigorosamente, os funcionários da ideologia dos mass media não param de não funcionar como representantes dos interesses das massas. Eles não sabem que sabem?

Os mass media funcionam como aparelho de hegemonia do Partido Extremista de massa do campo da direita.

BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico do Brasil. RJ: FGV, 1985
BAYER, Raymond. História da estética. Lisboa: Estampa, 1979
CHATELET & PISIER-KOUCHENER. Les conceptions politiques du XX° siècle. Paris: PUF, 1981
EAGLETON, Terry. A ideologia da estética. RJ: Jorge Zahar editor, 1993
EVANS, Peter. A tríplice aliança. As multinacionais, as estatais e o capital nacional no desenvolvimento dependente brasileiro. RJ: Zahar Editor, 1980  
MAFESSOLI, Michel. A transfiguração so político. A tribalizaçâo do mundo. Porto Alegre: Sulinas, 1997
OFFE, Claus. Problemas estruturais do Estado capitalista. RJ: Tempo  Brasileiro, 1984
PLATT, Stephen. Capitalismo criminoso. SP: Cultrix, 2017
POULANTZAS, Nicos. Fascisme et dictature. Paris: Seuil/Maspero, 1974
WEBER, Max. Economía y sociedade. México: Fondo de Cultura Económica, 1944
VIRILIO, Paul. Vitesse et politique. Paris: Galilée, 1977

OUTROS.
VEJA. 29/MAIO/2019.
        




           

         




   
      

                 
   


         

  


 

     

       


       

Nenhum comentário:

Postar um comentário