segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

TEOLOGIA NEGRA DO PRÍNCIPE INFAME

José Paulo

Há o Brasil legal e o Brasil Real (Oliveira Vianna)


Desde minha adolescência católica me interessei por teologia negra. Tomei um tremendo susto quando li O 18 Brumário de Luís Bonaparte, de Marx. Ao terminar de ler este texto, verifiquei que Marx usara uma ideia da teologia negra (magia negra) para tecer a tela gramatical em narrativa lógica do golpe de Estado de Luís Bonaparte e a construção do II Império francês.

Desde estudante universitário me tornei marxista. Ao me tornar professor, ministrei durante 3 décadas um curso sobre o 18 Brumário... Mas nunca cheguei ao fundo da construção gramatical marxista do texto em tela com receio de provocar uma psicotização nos estudantes, ateus que consideravam o saber científico como o avesso do saber teológico natural.

No ensaio científico de Marx, há o fenômeno lúmpen-proletariado. Trata-se de uma classe social que não é uma classe, uma classe que se define pela indefinição sociológica de seus integrantes. Ela é uma classe lumpesinal gramatical criminosa dos de cima e dos de baixo. Tal classe gramatical é o suporte prático do agir do Príncipe infame Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão Bonaparte.

O Príncipe infame de Marx é um bufão, um clown, um fenômeno grotesco que unifica o lumpesinal dos de cima (alta burguesia) com os de baixo, propriamente inscritos no lúmpen-proletariado como uma força política do golpe de Estado e da instauração do II Império napoleônico.

O enunciado da teologia negra diz: tudo que está em cima é igual a tudo que está em baixo. O que há no céu, há também no inferno, e vice-versa. Esta é a definição estética na teologia negra do lúmpen-proletariado e de seu Príncipe infame Luís Bonaparte.

Marx viu a destruição da República democrática francesa de 1848, o golpe de Estado e a construção do II Império como uma rede em série de fenômenos que jogam a política historial francesa para o reino da teologia negra ou magia negra. Na escola francesa para os jovens, os professores de história descrevem Luís e seu II Império como grandes obras da política francesa do século XIX. Os jovens aprendem que ambos fenômenos políticos são da ordem do sublime.

Marx mostra que os fenômenos em tela são da ordem de um sublime-grotesco. Trata-se da estética da política francesa como grande comédia historial levada a sério como memória política pela elite cultural francesa. Para Marx, trata-se da grande comédia histórica levada a sério pelos franceses, daí sua natureza de magia negra que seduziu o povo francês na destruição da República democrática de 1848.
                                                                         II

Traço um paralelo como o Regime 1988 brasileiro. Tenho que mostrar que a nossa situação política se transformou em um fenômeno de magia negra.

Entre nós, a partir de um determinado momento da política historial 1988, se constitui uma oligarquia política criminosa na atualidade combatida pelo fenômeno judicial Lava Jato. Mais de cem políticos do Congresso de Brasília estão na mira do STF (Supremo Tribunal Federal) e da Lava Jato. Lula já foi condenado em segunda instância, ele que tem fama mundial de ser o líder carismático ou condottiere da esquerda ocidental latino-americana.

Com Lula no poder de Brasília, o PT foi transformado em um fenômeno lumpesinal criminal da política nacional. O escândalo do Mensalão envolvendo a corrupção do Congresso para obter maioria parlamentar governamental no governo Lula quase destruiu a carreira dele ainda no primeiro governo. Como o judiciário e o Congresso não aniquilaram Lula, ele resolveu se reeleger e eleger duas vezes a apolítica Dilma Rousseff.

Com o segundo governo Lula ocorre o Petrolão. Trata-se da corrupção sistêmica do Estado envolvendo a Petrobras - um privatismo do Estado pela oligarquia política e grandes empresas privadas. Integrantes da cúpula do PT foram julgados, alguns presos, tornando o PT o lúmpen-proletariado de seu líder Lula, então nomeado, inconscientemente, pela cultura política como Príncipe infame do proletariado paulista.  

Em 2013, o movimento de massas de rua no Rio, São Paulo, Belo-Horizonte (se espalhando para o resto do país) foi interpretado por Rousseff como um o desenvolvimento de um movimento contra o poder do bolivariano na América-Latina. Dilma tratou as massas como terroristas e como inimiga a ser destruída. Daí nasceu a lei antiterrorista em um Brasil sem terrorista ou terrorismo. Depois o serviço secreto do exército inventou pobres diabos terroristas para a lei ser aplicada. No entanto, não há terrorismo no Brasil, hoje!

A atitude de Rousseff com as massas 2013 levou o Congresso a destituí-la do cargo de presidente. Não se trata de um Congresso que defendia as massas 2013, mas de um Congresso que depois de combater as massas resolveu que Dilma não era mais uma política da esquerda brasileira.

Desmoralizada, Dilma foi expulsa da política nacional.
                   
                                                                                           III

Na era do bolivariano, o crime dos de cima se tornou uma questão de polícia. A classe política se tornou em uma questão de polícia. No governo Temer o crime dos de baixo se tornou uma questão de política.

Vice de Dilma, Michel Temer assumiu a presidência junto com o grupo de conjuntura do PMDB (Sarney, Moreira Franco, Eliseu Padilha, Romero Juca), seu partido. No governo Dilma, o crime dos de baixo estava sobre controle das polícias estaduais. Em um ano de governo Temer, o crime comum passou a ameaçar as metrópoles, estradas e o campo. Em São Paulo, o crime comum se instituiu como partido vindo a disputar o domínio do crime nacionalmente. No Rio, facções ou organizações criminosas comuns disputam o poder criminal onde o PCC (Primeiro Comando da Capital) quer entrar e dominar.

Rumores dizem que o crime comum funciona em rede se enredando com as redes lumpesinais dos de cima. A prisão do governador do Rio Sergio Cabral pela Lava Jato gerou a certeza de que tudo que está em cima é igual a tudo que está em baixo. O Rio se transformou em um fenômeno político de magia negra. Sérgio Cabral era tido como o candidato do PMDB à eleição presidencial 2018. Assim, o PMDB já tinha seu Príncipe infame, seu Príncipe Negro.

Temer começou seu governo como um presidente fraco, impopular, voltado para agradar o sistema financeiro e interesses espúrios, interesses negros, pois, infames do capitalismo brasileiro do segundo-mundo. Em algum momento, ele deixou de respeitar a fronteira entre magia branca subcapiatlista e a magia negra lumpesinal.

A Reforma Trabalhista generalizou o subemprego no Brasil. A propaganda da classe política em extensão (oligarquia política mais televisão e jornalismo em geral) é que a Reforma Trabalhista salva o capitalismo do Sudeste. A Reforma da Previdência salva o capitalismo e o Estado deficitário brasileiro. Como os trabalhadores sofrem as precariedades cotidianas no universo do trabalho, A Reforma da Previdência é vista como uma tentativa insana de destruição do Estado de direitos brasileiro. Com as reformas, Temer se candidatou à galeria dos Príncipes infames nacionais.    
                                                                                       IV

Com o governo Temer, o crime comum se tornou uma vontade de potência ameaçando o cotidiano da cidade do Rio e de outras capitais. No entanto, a luta no Rio entre o PCC e as facções criminosas cariocas fez do crime comum uma questão de política nacional. Esta luta é redesenhada pelo estado de sítio midiático criado peal TV Globo. Trata-se de um fenômeno de banalização da violência em forma de imagens na tela eletrônica. Temos aí uma verdadeira violência real do crime comum de rua e outros habitats lumpesinais dos de baixo recriada artificialmente pela tela da TV como cultura da violência de rua eletrônica.

No Carnaval 2018, milhões de foliões tomaram a rua carioca. As polícias não conseguiram (ou não quiseram) manter os ladrões de rua longe dos foliões. Além disso, grupos lumpesinais populares negro e mestiço passaram a usar violência física contra as pessoas (moradores ou não) na zona sul carioca, onde moram os ricos da cidade. O estado de sítio midiático carioca e paulista recriaram tal ambiente de horror em uma escala insuportável!

Os fatos narrados acima foram o pretexto para o grupo de conjuntura do PMDB decretar a estratégia estado de exceção constitucional. Ela consiste em começar como o Artigo 34 (Da Intervenção), criando um governo militar no Rio. Os generais dizem que tal governo vai dar um combate sem trégua as facções criminosas comuns que controlam o Rio. Espera-se sem exagero banhos de sangue (pois, o soldado do exército é treinado para destruir o inimigo) e a socióloga Alba Zaluar fala de uma tomada do poder criminal no Rio pelo PCC. Ela é especialista na área de Segurança Pública.

A estratégia estado de exceção transformou o grupo de conjuntura do PMDB em nosso último Príncipe infame, último Príncipe negro. O grupo em tela transformou o Rio em um fenômeno político de magia negra. Não para por aí...

Políticos negros, pois, infames falam na necessidade de se alcançar o Artigo 136, ou seja, o Estado de Defesa que é o Estado de Sítio aplicado em um estado da federação. Outros desejam a atualização da rede de artigos que vai do 137 ao 139, ou seja, o Estado de Sítio nacional. A classe política em extensão crê da necessidade de realizar as eleições de 2018 em um estado de sítio, pois, a bandidagem das grandes cidades são uma ameaça ao processo eleitoral e, portanto, a democracia 1988.  

A Constituição da República democrática francesa de 1848 foi feita em um estado de sítio (período de 25 de junho a 10 de dezembro da ditadura dos republicanos burgueses puros). Tal fato diabólico da democracia representativa francesa tornaria esta forma política vulnerável a sua própria destruição pelo fenômeno criminoso bonapartismo.

A situação política brasileira atual se transmutou em um fenômeno político de magia negra homólogo ao 18 Brumário de Luís Bonaparte. No entanto, no lugar de um condottiere negro, temos um grupo de conjuntura negro, infame, um Príncipe infame que é uma posição de partido político.                
        

 


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