Escrever no Brasil sobre política
parece de uma inutilidade humilhante. Há o sofista que transmite o saber
político sem a prática; o político profissional pratica a política baseado na
experiência do funcionamento do legislativo; ele é incapaz de transmitir o
saber empírico que adquire profissionalmente. Tal saber político não diz para o
político o que é a aparência da política (semblant) em oposição à essência
dela.
Uma certa subcultura política
utilitarista (ersatz de cultura política materialista dialética) enfiou na
cabeça dos políticos brasileiros que a política gira em torno dos interesses
privados. Trata-se, portanto, de obedecer à physis, à natureza privada da
necessidade e da verdade absoluta utilitária, que divide o mundo em obtenção de
prazer (gozo oligárquico) e modo de evitar o desprazer, a dor. Os políticos, então,
buscam a homónoia (o consenso, o acordo, a concórdia, o pacto) na busca do
máximo de prazer. Assim, a política é o reino aparente da felicidade da classe
política.
Nesta viajem ao semblant de Jardim
do Éden oligárquico, o político ignora que a política existe para proporcionar
a felicidade para toda à polis. Como fazer para alcançar tal estado? Através do
saber político como arte de governar?
Governar significa ter a posse da
ciência dos discursos praticados no parlamento ou nas eleições? Ciência do
discurso utilitário que teça a homónoia utilitarista na classe política? Aí, a
classe política ignora que a política é a ciência política do real, dos objetos
(das Ding), como a definiu o criador dela: Aristóteles. Trata-se da ciência de
deliberação (baseada no saber de das Ding) e de distribuição da riqueza da polis. A ciência do real é a única possibilidade de lidar/tratar situações catastróficas. Vejam o seriado Scorpion no canal Sony todo domingo às 20:00. Há alguma dúvida que estamos em uma situação nacionalmente catastrófica?
A ciência do real é a ciência de
governar a polis que está associada à cultura política educacional (Paideia)
das leis transmitidas pelo ensino na casa, na polis, nas instituições. As
massas sujeito zero só ouvem quando estão preparas para ouvir; a Paideia é a
cultura política orecular antropofágica. A política é a arte de falar e ser escutado
para articular a homónoia - a identidade entre discurso, ou mais propriamente,
entre pensamentos dessemelhantes ou opostos. Só uma educação pública possibilita
tal cultura política antropofágica.
A política brasileira atual busca
desesperadamente a homónoia política. Mas os políticos subsumem tal busca à
lógica utilitarista, lógica privatista de apropriação oligárquica da riqueza da
polis. Tal lógica está associada à violência simbólica ou real na imposição dos
interesses. Ela em geral desperta a stasis - estado de conflito permanente que
pode desaguar na guerra civil e, lógico, na desintegração das instituições do
Estado nacional.
Entre nós, dois lados
utilitaristas brincam perigosamente com a stasis. Trata-se do lado bolivariano do
PT e do lado burguês do PSDB/PMDB. Esgrimindo argumentos persuasivos jurídicos,
eles dizem que a solução da crise política se encontra na cultura política do
direito. Aí, a classe política envolve a comunidade jurídica na política com
Sérgio Moro/PF/MPF e o poder moderador dos juízes do STF (poder pessoal).
Qualquer pessoa de bom senso sabe que isso é o caminho para a desintegração da
política.
A essência da política é a homónoia
política. Esta obedece a lógica do interesse público. Hoje, tal lógica exige da
classe política a solução da crise política catastrófica. A busca do consenso,
da identidade de pensamento na classe política pode ser tal classe ouvir a
trans-subjetividade das massas digitalis que falam em eleições gerais. Para
quê?
Trata-se de eleições para começar
o que devia ter iniciado em 1990. A eleição de 1989 resultou na instalação de
uma ditadura eletrônica pós-modernista de d. Fernando Collor de Mello e Grupo
Globo. Hoje, a eleição deve servir para instalar uma forma política objetiva liberal-democrática
no espírito da Constituição de 1988, finalmente!
As eleições devem ser o momento
da Paideia das massas sujeito zero participativas para articular um processo de
trans-subjetivação democrático das massas sujeito zero social. Para isso, é
necessário que as máquinas de guerra partidárias cedam espaço para os partidos
políticos. E, finalmente, que o capital corporativo eletrônico se transforme em
uma tela eletrônica sem dynamis, sem poder de definir quem vence e quem perde a
eleição.
Sei que a natureza do escorpião que
atravessa o rio nas costas do sapo é ferroar o sapo e matá-lo, morrendo ambos na
travessia. A tela eletrônica é o escorpião e as massa políticas são o sapo.
Isso é o determinismo político que enfrentamos em 2016. Porém, tudo isso é
processo de trans-subjetivação das massas intelectuais e das massas comuns. Tal
processo não é um simples processo causal. O determinismo pode se autodissolver
se as massas intelectuais construírem uma vontade para tal finalidade.
A autodissolução do determinismo
político (incluído o utilitarismo) começa com a homónoia da classe política na
convocação de eleições gerais. Será que o Brasil deixou de ser amado por sua classe
política. Pois no horizonte da crise política em tela espera-nos a
desintegração do significante literariamente técnico Brasil.
O que restou de classe política entre nós deve mirar a eleição americana presidencial atual. Trata-se de um espetáculo trans-subjetivo mundial que definirá o rumo da cultura política mundial (Nova Ordem Mundial), se o confronto final for entre Bernie Sanders e Donald Trump.
O que restou de classe política entre nós deve mirar a eleição americana presidencial atual. Trata-se de um espetáculo trans-subjetivo mundial que definirá o rumo da cultura política mundial (Nova Ordem Mundial), se o confronto final for entre Bernie Sanders e Donald Trump.
Muito bom! O que mais gostei? "Hoje, a eleição deve servir para instalar uma forma política objetiva liberal-democrática no espírito da Constituição de 1988, finalmente!"
ResponderExcluir