domingo, 31 de janeiro de 2016

MANIFESTO DO RIO

 MANIFESTO DO RIO
JOSÉ PAULO BANDEIRA
Domingo, 31/01/2016

Este texto é um artefato militar do campo da física lacaniana historial. Ele é um artefato de uma contramáquina de guerra mestiça em um campo de batalha agônico contra a ditadura peemedebista do estado do Rio de Janeiro.
O texto militar sempre traça uma linha de força intelectual que conduz as massas intelectuais a um enfrentamento com o seu campo de afetos, e, mais intensamente, com o campo de seu processo anímico. Por isso, trata-se de um texto sustentado por conceitos, estrutura de pensamento, epistemologia política direcionados para a construção da percepção do fenômeno político, abordado na cultura política intelectual associada ao campo da física historial lacaniana. O grau de dificuldade de leitura dele concerne ao fato que ele é um artefato textual militar. O leitor deve se deixar conduzir na guerra na qual a contramáquina de guerra mestiça está travando. Cada palavra, cada frase, cada parágrafo, ou paráfrase, ou imagem conceitual constituem também as armas (e drones contramilitarizados) deste contraexército que tem como objetivo tomar uma poderosa cidade fortificada, despótica olocrática peemedebista,  servida e defendida pela Okhrana informacionalis da tela eletrônica militarizada. O capital eletrônico corporativo mundial é o exército guardião dos portões do Rio. Ao elucidar a natureza deste meu texto militar, espero que o leitor não desista na primeira parte (muito formalmente lacaniana) dele.
Porque lançar o Manifesto do Rio contrapeemebista na época do carnaval?
O carnaval do Rio de 2016 é análogo às festas das massas sem sujeito dos momentos das grandes crises da história universal. Mas a militarização do carnaval na tela eletrônica é clara – e, ao mesmo tempo, dissimulada. O folião quer brincar para esquecer por alguns momentos a atmosfera sombria da guerra econômica que já fez 10 milhões de desempregados em todo o pais. É claro que o Sudeste é a região que concentra este exército industrial de reserva de desempregados. Trata-se, agora, da superpopulação supérflua para o campo de poder econômico mundial.
A captura do carnaval de rua pela tela eletrônica significa a transformação da dança e da cantoria do folião em imagem eletrônica de uma sociedade de espetáculo eletrônica militarizada. A função da imagem militarizada eletrônica é desviar a energia carnavalesca da rua para a tela eletrônica com a finalidade de inocular no espírito da população a dissimulação de uma realidade espetacular eletrônica na qual o estado de guerra molecular oligárquico não está em uma progressão acelerada. A função de tal dissimulação significa evitar que o carnaval de rua seja a produção de uma imagem conceitual de massas anímicas/vitalistas que abra a porta para uma revolução camponesa carioca. Trata-se da revolução das massas sujeito-zero. Elucidarei tal conceito ao longo do texto. Isto é o objeto formal deste texto do PCPT.                
Avanti!                 
Ao metabolizar Marx, o Lacan tardio não cedeu à tentação da lógica determinista do significante. Ao contrário, a formula axiomática da bateria significante é: “Um sujeito é aquilo que pode ser representado por um significante para outro significante” (Lacan. s. 16: 21). Para facilitar dizemos que o sujeito é aquilo que um significante representa para outro significante em uma posição hegemônica na história universal.
Jacques Alain-Miller vai dizer que este enunciado não é lacaniano. Ele estará certo e errado, simultaneamente. É certo que isso não é literalmente Lacan. todavia, Gadamer já mostrou que o literal é um autoilusão da trans-subjetividade mais comum das massas intelectuais sob a influência do pensamento hegeliano: “Dessas considerações se deduz que a hermenêutica não pode conhecer nenhum problema a respeito do começo como, por exemplo, a lógica hegeliana conhece o problema do começo da ciência” (Gadamer: 609).
Miller estará errado, pois, é certo que isso é uma releitura de Lacan no campo da física historial lacaniana.
Hegel disse em um de seus livros que a filosofia hegeliana era a filosofia do Estado alemão. Miller quis transformar a filosofia de Lacan (psicanálise, é claro) em filosofia do Estado mundial eletrônico. A psicanálise de Miller é uma psicanálise de Estado. Então sigo a minha linha (da física) para mostrar que não há lógica determinista do significante na física lacaniana.
O conceito de discurso lacaniano só é possível no campo da trans-subjetividade das massas intelectuais: “E o é primeiramente porque o discurso do qual me descubro o instrumento – sem que se possa eludir que ele exige a presença em massas de vocês” (Lacan. s. 18: 10).
 A estrutura do discurso lacaniano é algo celestial como um meteoro. O trovão é o corpo celestial que está mais próximo da estrutura do discurso. O Nome-do-Pai só é sustentável pelo trovão (imagem sonoro do fenômeno político). O Nome-do-Pai é aquilo que, por excelência, faz laço social (Lacan. s. 18: 15) – e institui as massas sem sujeito como societas; ele é a imagem do semblante.  Não existe semblante de discurso (Idem: 14), ou semblante do significante massas sem sujeito. Trata-se de um buraco na cadeia dos significantes. Tal buraco entre os significantes precisa de elo que os liguem para a estrutura poder funcionar e se tornar parte da cultura política do ver ou do ouvir; a imagem do semblante se constitui como elos na bateria significante. 
O laço social é esburacado na bateria significante Nome-do-Pai. O trovão é a imagem do semblante que liga a bateria pela fórmula: “ Um sujeito é aquilo que pode ser representado por um significante para outro significante”. O sujeito representado por um significante está associado – por mil fios invisíveis – à imagem do semblante, pois ele é um elo de ligação entre os significantes em processo de representação.
O sujeito existe na cadeia de significantes como condensação da imagem do semblante. O Nome-do-Pai é a nomeação do sujeito pela imagem do semblante, nomeação biográfica individual e das massas com sujeito: burguês, operário, camponês e outros. Mas a sombra da imagem do semblante pode ser o elo – no direito e no avesso – de ligação na bateria significante como massas sem sujeito. Trata-se do grau zero do sujeito. Então, um sujeito-zero é aquilo que pode ser representado por um significante para o significante hegemônico. O sujeito zero significa um buraco no campo RSI (Real/Simbólico/Imaginário) que as massas advêm daí como objeto perdido do sujeito:
“Um sujeito, seja qual fora forma em que se produza em sua presença, não pode reunir-se em seu representante de significante sem que se produza, na identidade, uma perda, propriamente chamada de objeto a. É isso que é designado pela teoria freudiana concernente à repetição. Assim, nada é identificável dessa alguma coisa que é o recurso ao gozo, um recurso no qual, em virtude do sinal, uma outra coisa que surge no lugar do gozo, ou seja, o traço que o marca. Nada pode produzir-se aí sem que um objeto seja perdido” (Lacan. s. 16: 21). O traço que marca o gozo pode ser a sombra da imagem do semblante? A repetição das massas sem sujeito na história universal (sujeito-zero) não concerne à sombra/traço da imagem do semblante? Isto não precisa escorregar necessariamente para a cultura política do simulacro do Sujeito!
O objeto a remete a estrutura linguageira para o mais-de-gozar (que por homologia com o discurso marxista significa mais-valia). Isto articula o RSI, pois a mais-valia é da ordem do real, do impossível de ser inscrito no campo simbólico. Marx a escreveu no campo da cultura intelectual moderna. Mas ela jamais foi simbolizada pelas massas operárias; ela jamais foi integrada ao inconsciente nietzschiano moderno através de sua inscrição na cultura política das massas operárias; a mais-valia permaneceu circunscrita à trans-subjetividade-gueto das massas intelectuais marxistas.    
Althusser formulou o axioma. “as massas fazem a história”. Trata-se do conjunto de classes, camadas, categorias exploradas agrupadas em torno da classe explorada na grande produção, única capaz de as unir e de conduzir sua ação ao assalto do Estado burguês: o proletariado”. Não aconteceu aí um deslizamento do significante classe (massas com sujeito) para as massas sem sujeito (sujeito-zero) como sombra/traço da imagem do semblante como objeto a? Trata-se das massas sujeito-zero como traço do fenômeno político da cultura política mundial do século XXI. Trata-se de um discurso (o da física lacaniana) que se apresenta como impossível, pois funciona como real: “Ao contrário, é por um discurso centrar-se como impossível, por seu efeito, que ele teria alguma chance de ser um discurso que não fosse semblante” (Lacan. s. 18: 21); fosse apenas a sombra desterritorializada da imagem do semblante.  A revolução das massas sem sujeito remete, imediatamente, para o real impossível de ser inscrito no campo simbólico do inconsciente nietzschiano?   
                     
A sombra é a imagem do semblante desterritorializada que desliza na cadeia dos significantes e escolhe um dono para representar a estrutura do discurso: o significante que representa o sujeito-zero para o significante hegemônico nas cadeias conjunturais de significantes da história universal. Tal teoria pode ser a interpretação concreta de uma situação concreta? A sombra pode suprassumir a lógica determinista do significante? Então, não se trata mais de teoria e sim da contramáquina de guerra de pensamento mestiça física lacaniana historial.
Pela lógica determinista do significante somente as massas com sujeito camponês podem fazer a revolução camponesa em todas as épocas. Este sujeito camponês é representado para o significante hegemônico revolução camponesa como a única via da história universal das massas camponesas. A via das massas camponesas revolucionárias sem sujeito inexiste nessa história determinista? O sujeito é concreto (e particular) e é representado por um significante universal: a classe camponesa em uma conjuntura historial determinada espaço-temporalmente. Segundo Engels, o campesinato alemão fez uma revolução camponesa que instalou a lógica do desmoronamento do fim da era medieval na Alemanha, sem se constituir em uma revolução moderna (Engels: 81-82, 87, 89, 101, 104). Permanecemos escravos da interpretação determinista do significante classe camponesa?
A física lacaniana da política universal pensa a cadeia de significantes também a partir da sombra do discurso do inconsciente nietzschiano. A sombra das massas camponesas sujeito-zero nas conjunturas do século XXI já se tornou um fato que não precisa de provas sociológicas ou jornalísticas. Tal trans-subjetivação camponesa de sujeito-zero se estabelece em um campo de poder mundial dominado pela OKhrana digitalis informacionalishomo  digitalis mundial. Tal campo se define como a contradialética articulada em dois aspectos dominantes no Ocidente. Trata-se da contrarrevolução democrática digitalis informacionalis versus a revolução democrática digitalis. Esta é a trans-subjetivação das massas sujeito-zero pós-althusserianas, pois elas não têm um centro baseado em um sujeito/classe social. Às vezes é preciso repisar o óbvio!

II                     
No início de 2016, a trans-subjetividade das massas camponesa sujeito-zero já produz efeitos acolhidos pelos jornais de papel. No Norte do Brasil, massas queimaram as casas do prefeito, jogaram seus carros no rio da pequena cidade e só não destruíram os prédios das instituições políticas por eles não se constituírem como símbolos da política local.
A economista peemedebista/petista Maria da Conceição Tavares diz que Delfim Netto está com saudades da ditadura militar ao falar dos dois caminhos políticos do Brasil: revolução capitalista ou revolução camponesa das massas cariocas sujeito-zero. Maria nunca acreditou em revoluções nem quando chorou na tela eletrônica pedindo à população para apoiar o Plano Funaro/Sarney, que foi o começo de uma política contrarrevolucionária que perdura como traço/sombra/sombrio da desintegração do Estado de Direito entre nós. Maria não sabe, até hoje, que serviu ao governo despótico/olocrático de Sarney? Que serviu à ditadura civil eletrônica que deu continuidade à ditadura militar eletrônica? Ambas seriam improváveis sem ter ao seu lado a tela eletrônica militarizada!
Mas Maria Tavares esqueceu o tempo da ditadura de Sarney ao dizer:       
“Qual a saída?
Teria que fazer uma frente democrática ampla. Só frente de esquerda não dá. Unir líderes empresariais, sindicais, da sociedade civil, intelectuais, políticos que tenham credibilidade. O ex-governador do Paraná Roberto Requião e Ciro Gomes são alguns nomes. O Conselhão pode ser um caminho. Acho que 80 pessoas é um pouco demais, mas poderia ser uma saída. É preciso um acordo firme para tirar o Brasil da crise.
A senhora já viu crise assim?
Na democracia não me lembro de alguma vez que estivesse tão ruim. Também não me lembro de ocasião em que o PMDB estivesse tão esfrangalhado. Isso é uma variável muito ruim. É um partido de centro, quando o centro desmorona, fica difícil ter consenso.”
O coração de Maria continua sendo afetado pelo PMDB? Para ela, o PMDB é um simples partido político. Ao contrário, trata-se de uma máquina de guerra partidária que tem como axioma político o uso da violência sem limite contra todo e qualquer oponente.
Mas Tavares é lúcida em um ponto: a revolução burguesa de Delfim pode acelerar a revolução camponesa carioca sujeito-zero e instalar a lógica do desmoronamento da democracia vigente no país! 
(Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/brasil/maria-da-conceicao-tavares-acho-que-delfim-esta-com-saudades-da-ditadura-18565499#ixzz3ylOQivSY) 
As massas da revolução camponesa sujeito-zero se caracterizam por sua desvinculação da política institucional, ou por uma articulação frouxa e inconsistente à tal política. Qual direção a nossa revolução camponesa sujeito-zero seguirá no Rio? A revolução camponesa é um fato épico em todos os tempos. Ela encerra e inaugura eras históricas com violência política sem limite. Ela é uma máquina de guerra freudo/nietzschiana épica.
O Brasil não sabe o que é tal fenômeno, não está preparado para vivê-lo. A revolução camponesa destrói os castelos e os latifúndios e pendura na árvore mais alta do condado os senhores como símbolo do estado anímico das massas. A violência das massas camponesas virou uma célebre fórmula de Marx: “a violência é a parteira da história”.
O PCPT não é capaz de metabolizar a violência das nossas massas camponesas sujeito-zero. Ele tem estudado o estado de guerra oligárquico colonial, as máquinas de guerra nietzschianas coloniais (entradas, bandeiras, engenho de cana-de-açúcar que anda) que instituíram a nação do Engenho de cana-de-açúcar, e as máquinas de guerra freudianas que assassinaram nos últimos 30 anos 1 milhão de brasileiros.
O caminho a ser seguido é o da integração das massas sujeito-zero à nossa política formal. O PCPT já propôs à cidade do Rio começar um movimento de massas para convocar uma Assembleia estadual Constituinte com candidaturas avulsas. Trata-se de uma paideia política das massas. Estas precisam ser educadas no aprendizado da política real institucional e constitucional. A situação atual significa uma ligação ficcional das massas sujeito-zero com a política. Elas de 4 em 4 anos votam para eleger políticos corruptos (contaminados/capturados visceralmente pela corrupção partidária) para o Legislativo e o Executivo.
A atual conjuntura carioca mudou de rumo, ritmo e sentido. Ao fazer troça com a decisão do judiciário estadual que o obriga a pagar os salários dos funcionários regularmente no primeiro dia do mês (ele disse que só obedece à lei se o judiciário enviar um carro-forte cheio de ouro), o governador Pezão mostrou que a lei só serve para os inimigos. Como parte da lumpen-oligarquia do Vale do Paraíba (esta região também guarda bem guardado as duas linhagens da família real brasileira), Pezão segue a ética oligárquica: “ajudar os amigos, prejudicar os outros” ou “para os amigos tudo e a lei para os inimigos”.
Como a conjuntura mudou, trata-se agora de propor ao movimento de massas a exigência da RENÚNCIA IMEDIATA DE PEZÃO e a convocação de eleições gerais no Estado do Rio de Janeiro. Por quê?
Pezão diz que a Fortuna (circunstâncias econômicas) levou o estado à bancarrota. Ele não tem mais dinheiro nos cofres públicos para honrar os compromissos principalmente com as massas de funcionários públicos, principalmente com os professores seus inimigos figadais. Trata-se da lógica oligárquica para os inimigos a lei da economia? Pezão diz que sua virtú (e de seu PMDB) não é a responsável pelo colapso econômico do estado do Rio. A Fortuna é a única responsável pela incapacidade de governar do governador Luiz Felipe Pezão do PMDB? 
A physis política não é a responsável sozinha pela falência do nosso belo estado do Rio. O responsável principal é o bloco de poder formado pelo PMDB/PT que implodiu – através da corrupção -  a Petrobrás, a principal fonte de receitas do estado. O PMDB do Rio é a principal arma no Congresso de Dilma Rousseff contra seu impeachment. Trata-se de uma ligação orgânica visceral/anímica indestrutível entre Dilma e o PMDB fluminense.
Para completar o quadro desalentador, o bloco de poder PMDB/PT armou (conspirou) com o COI a estratégia da escolha do Rio que foi feita durante a 121ª Sessão do Comitê Olímpico Internacional, que aconteceu em Copenhague, Dinamarca, em 2 de outubro de 2009. A estratégia ainda fazia parte do Projeto Hegemonia bolivariano petista para vencer as eleições presidenciais de 2010, 2014 e 2018. Conspirou para manter a ditadura do PMDB no estado do Rio e na cidade carioca.
Assim como a FIFA e a Fórmula 1, o COI é uma instituição privada do poder mundial da sociedade espetáculo eletrônico, atualmente, digitalis informacionalis. Trata-se de instituições privatistas (da cultura política pública mundial) do capital corporativo eletrônico mundial!
As Olimpíadas são um negócio multibilionário e uma forma de ligar o poder territorial nacional ao poder mundial do capital corporativo eletrônico. Não sejamos incautos. A tela eletrônica militarizada irradia uma imagem eletrônica dulcíssima do COI (como fazia com a FIFA até o poder judiciário americano golpear a direção desta instituição) porque ela é parte da cadeia de interesses econômicos (e da rede de poder) à qual o COI está enredada. A tela eletrônica é o capital corporativo eletrônico mundial do COI. Ela é parcela da corrupção que obriga os atletas a participarem de um Olimpíada mergulhada na poluição histórica da Baia da Guanabara e ameaçados pelo Aëdes aegypti da dengue e do vírus Zika. E os espectadores dos países desenvolvidos a serem exporem ao estado de guerra molecular e a implosão biológica presentes na cidade carioca. Quais interesses poderosos articulam tal infâmia?
As Olimpíadas do Rio não ligam diretamente à cidade ao capital financeiro mundial via Suíça? O bloco de poder PMDB/PT tem no irmão banqueiro suíço do prefeito carioca (Eduardo Paes) o elo proativo de ligação com a oligarquia financeira mundial que fez os empréstimos para a cidade construir os elefantes brancos para as competições. Há taxa de corrupção que o bloco de poder PT/PMDB cobrou encima dos empréstimos, das obras superfaturadas? 
Não há o que temer porque o TCU está nas mãos do PMDB, porque a ditadura do PMDB no estado tem o judiciário fluminense como correio de transmissão do poder executivo, e o STF bolivariano de um Fux protege o bloco de poder bolivariano/lumpen-oligárquico PT/PMDB? Tal bloco não conta com a proteção do Grupo Globo envolvido na fabricação do Museu do Amanhã eduardista da Praça Mauá? O PMDB do Rio esquece que a revolução das massas sujeito-zero pode transformar tudo isso em fumos machadianos? Ele já esqueceu Sérgio Cabral?
A conjuntura atual está marcada pela implosão econômica (e biológica) das massas sujeito-zero. A evolução do estado de guerra oligárquico colonial é um fato incontornável. O cenário da cidade como um campo de batalha diário pode ser acelerado se a bancada bbb (bala, boi, bíblia) aprovar a lei do armamento geral e irrestrito. O lumpesinato civil e o criminal são forças irredutíveis na vida política da cidade. Assaltos armados nos túneis da cidade se tornaram rotina, inclusive na mítica zona sul carioca.
O linchamento já chegou ao dourado bairro Leblon, lugar onde moram as celebridades cariocas. O mais famoso morador do Leblon, Chico Buarque (filho de um dos maiores intelectuais brasileiros, o historiador Sérgio Buarque de Holanda) é agredido diariamente nas ruas de seu bairro por frequentadores do Leblon. O imenso e sinistro aparato de segurança policial da ditadura carioca do PMDB é incapaz de manter a segurança até no Leblon. O carioca se transformou no homo sacer?
Sobre os linchamentos, o leitor deve ler o sociólogo José de Souza Martins: “Os dados que recolhi e examinei nesta pesquisa evidenciam que, nos últimos 60 anos, cerca de um milhão de brasileiros já participou de, pelo menos, um ato de linchamento ou de uma tentativa de linchamento” (Martins: 11). O linchamento não é um raio em um céu azul. Ele é parte da lógica da cultura política oligárquica da guerra colonial que existe como uma linha de força histórica no século XXI brasileiro. No linchamento, a guerra molecular adquire a forma da guerra molecular das massas populares e lumpesinais, que são também massas sujeito-zero. O livro de Martins estuda a trans-subjetividade deste fenômeno que articula também o mundo urbano brasileiro: “A maior parte dos linchamentos e tentativas de linchamento que estou analisando ocorreu na região Sudeste, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro” (Martins: 104).     
III
No belo livro sobre Thomas Münzer , Ernest Bloch sublinha a natureza da interseção subjetiva e trans-subjetiva de Münzer. A natureza conspirativa, a ascese, o estado anímico dominado pela ira contra a nobreza (“o pai parece ter acabado na forca, vítima da arbitrariedade do Conde), o ser costumeiramente “atormentando, assustado por sombras” (Bloch: 12), a paixão por “livros” (coisas escritas) faz de Thomas uma alma morta (sem corpo territorial existencial) de um passado irremediavelmente sepultado?
Wittgenstein me ajudou a aprimorar o conceito de cultura política como interpretação/percepção da realidade dos fatos. A realidade sempre aparece para a percepção trans-subjetiva como algo articulado em uma língua estrangeira (Wittgenstein: 92-93). Tal fato abala a fé da percepção da cultura política das massas determinista e sensível. A física lacaniana trabalha com a ideia de uma fé perceptiva digitalis; a técnica digitalis é a luz (velocidade) que guia a percepção da cultura política intelectual mundial. Trata-se de uma língua estrangeira que articula a realidade dos fatos. Ela vem desterritorializando as culturas nacionais e obnubilando a interpretação e a percepção das massas sujeito-zero em tais culturas.
Na época de Münzer, a cultura política teológica era o território existencial no qual a luta política biográfica individual e das massas (subjetivamente e trans-subjetivamente) era levada até o fim. O texto teológico militar de Thomas pode dar uma vaga ideia deste cenário:
“Prometo-vos alcançar esta honra e glória, que tendes obtido de vergonha e ódio, entre os romanos. Sei e estou certo que os países do norte da Europa cairão no rio da graça que está brotando. Aqui tomará impulso a renovada Igreja Apostólica e se espalhará pelo mundo. Assim, pois, apressai-vos na direção da sua Palavra, cuja passagem será rápida; através de indizível fornicação fizeram da Igreja de Deus um caos sombrio, uma Igreja quebrada, abandonada, dispersa. Porém o Senhor a construirá de novo, a consolará, a unirá, até que ela veja o Deus dos deuses em Sion, Amém” (Bloch: 15).
O leitor pode fazer um exercício mental considerando que Deus é o campo RSI do Rio de Janeiro. Que a Igreja é o governo do nosso estado. Quem é o Deus que que construirá de novo a nossa Igreja civil, a nossa societas civil? No Prefácio ao Para Crítica da economia política, Marx estabelece um axioma que gera uma autonomia relativa da política em relação ao econômico:
“Na consideração de tais transformações é necessário distinguir sempre entre a transformação material das condições econômicas de produção, que pode ser objeto de rigorosa verificação da ciência natural, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas pelas quais os homens tomam consciência deste conflito e o conduzem até o fim” (Marx: 136). Marx já sabia que o inconsciente estava envolvido no enorme conflito estrutura econômica versus superestrutura ideológica. Mas Nietzsche, Freud e Lacan nos permitem ver que não se pode resumir o território existencial da trans-subjetividade à forma ideológica.
Portanto, a cultura política pode ser ideológica e ir além como território da luta. A trans-subjetividade digitalis não pode ser resumida na forma ideológica, simplesmente. A trans-subjetivação das massas sujeito-zero já se encontra fora da superestrutura ideológica, mesmo esta permanecendo de forma resiliente a articular a política nacional e a territorial internacional.  No século XXI, os homens, mulheres e crianças são partes da trans-subjetividade do campo de poder mundial digitalis informacionalis. Portanto, é neste campo trans-subjetivo que devem levar suas lutas até a ruína completa de tal poder mundial       
Em 1521 Thomas Münzer foi obrigado a partir de Praga às pressas para não ser enforcado; ele se exilou na Saxônia. Será que a época do passado de Münzer não é um espectro que como um pesadelo está aterrorizando o cérebro dos vivos, o cérebro dos cariocas? 
BIBLIOGRAFIA
ALTHUSSER, Louis. Réponse a John Lewis. Paris: Maspero, 1973
BLOCH, Ernest. Thomas Münzer. Teólogo da revolução. RJ: Tempo Brasileiro, 1973
ENGELS, Friedrich. As guerras camponesas na Alemanha. Porto: Presença, 1975
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Petrópolis: Vozes, 2003   
LACAN, Jacques. O SeminárioLivro 16. De um Outro ao outro. RJ: Zahar, 2008
LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 18. De um discurso que não fosse um semblante. RJ: Zahar, 2009
MARTINS, José de Souza. Linchamentos. A justiça popular no Brasil. SP: Contexto, 2015
MARX, Karl. Pensadores. v. XXXV. SP: Abril Cultural, 1974
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. SP: Abril Cultural, 1975                                                                                                          



                   

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Um comentário:

  1. E o Carnaval? Será também um campo de luta entre a a fração cultural da Okhrana Digitalis, de um lado, e a contramáquina mestiça de outra? Merece um comentário seu nestes dias.

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