Capítulo 6 - da crise brasileira
José Paulo
O poder moderador de d. Pedro I é o poder realista fantástico do policial-monárquico-imperial da Constituição republicana de 1946. Assim, o acesso ao aparelho de Estado e o exercício do poder militar estavam sujeitos às interpretações do <poder moderador>, isto é, do poder d’ars realista fantástico militar na tela da mente estética da prática política da democracia de 1946. Como consequência, toda transição de governo trazia em seu bojo o germe da crise política, pois essa situação virtual era um enorme estímulo para que os artistas republicanos e os policiais imperiais da prática política para que eles em luta política pelo poder republicano transbordaram os limites constitucionais, limites válidos e fizessem a passagem ao ato na política fática do golpe de Estado. Portanto, é patente que qualquer ameaça de modificação do equilíbrio de forças políticas e ideológicas se tornassem crise das relações no bloco no poder, com concomitante repercussão no aparelho de Estado. Esse ciclo se evidencia com a destruição do governo Vargas, com a eleição e posse de Juscelino Kubitschek em 1955 e com a sucessão de JQ para Jango. Isso era o elo mais fraco da democracia republicana representativa de 1946.
As relações entre poder republicano, poder d’ars rerealista e o poder d’ars realista fantástico e o bloco no poder (Poulantzas: 235) iluminam ou tornam escuro a tela da mente estética republicana no Brasil. A prática política do bloco no poder não é lógica política fora da língua fenilato das afecções; estas introduzem a contradição entre causa e efeito estético no reino da liberdade da prática política pura. Hegel faz a distinção entre os dois poderes d’ars:
“A estas comparações na maior parte líricas, provocadas por um sentimento que está mergulhado no seu conteúdo, poderão opor-se as comparações <épicas>, tais as que se nos deparam muitas vezes nas obras de Homero. O poeta épico, quando se demora em certas comparações, pretende, com isso desviar a curiosidade, a expectativa, a esperança e a ansiedade, por assim dizer práticas, que nos provocam o decorrer de acontecimentos ou certos actos e situações do herói, desviar a nossa atenção das causas, dos efeitos, e das consequências para a concentrar nas produções serenas e plásticas que oferece à nova intuição como obras esculturais. Tal ansiedade, tal alheamento de todo o interesse puramente prático que caracterizava tudo o que o poeta faz passar diante dos olhos, produzirá uma impressão que será mais profunda quanto mais afastado, mais estranho ao domínio onde ele procura as comparações de que envolve o seu principal <objecto>. No entanto, o emprego de comparações mais ou menos numerosas e variadas tem também como fim dar ao objecto representado, devido precisamente à multiplicação das suas representações, maior relevo e estabilidade em vez de deixar arrastar na corrente do canto e no fluir dos acontecimentos”. (Hegel. 1993: 234-235).
E a relação do poder d’ars com a prática política da vontade pura?
Kant:
“O motivo disso se encontra, com efeito, uma vez mais no que temos de tratar agora com a vontade, devendo considerar a razão, não em sua relação com os objetos, mas com essa vontade e com sua causalidade, pois as proposições fundamentais dessa causalidade empiricamente incondicionadas constituem o ponto de partida, a partir do qual só se pode ensaiar a fixação de nossos conceitos relativos ao fundamento da determinação de semelhante vontade, de sua aplicação aos objetos e por fim ao sujeito e à sua sensibilidade. A lei da causalidade por liberdade, isto é, uma proposição fundamental prática pura, constitui aqui inevitavelmente o ponto de partida e determina os objetos aos quais pode exclusivamente se referir”. (Kant. 2006: 28)
Como liberdade da causalidade, a vontade política é o grau zero lógico das afecções? O poder d’ars escolhe os objetos da prática política como artista republicano e policial-imperial, a forma de governo de um modo puramente lógico? Ou a prática política é a realidade da língua-fenilato da tela da mente estética conjuntural?
Aristóteles:
“On appelle <affection>, en un premier sens, la qualité suivant laquelle un être peut être altéré; par exemple, le blanc et le noir, le doux et l’amer, la pensateur et la légèreté, et autres déterminations de ce genre. - En un autre sens, c’est l’acte de ces qualités et dès les alterations elle-mêmes - On entendent aussi par là, particulièrement, les altérations et les mouvement nuisibles, et surtout les dommages fâcheux - Enfin, on appelle affections de grandes et cruelles infortunes”. (Aristote. 1991, v. 1: 305-306).
A prática política tem superfície: de luz, de escuridão e e sombras, superfície das aparências de semblância e do reprofundo. As afecções dominam o reprofundo como no caso do governo Bolsonaro do regime de 1988. A filosofia idealista defende a utopia de uma prática política pura sem afecções, sem o inferno abissal da mudança cíclica da forma de governo.
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