segunda-feira, 18 de agosto de 2025

BRASIL/MUNDO - 1961 E HOJE

 


 JOSE PAULO


1 Introdução 

Na década de 1980, escrevi minha tese de doutorado sobre a plurivocidade de gramática da crise do Estado brasileiro de 1961-1964. Hoje, sei que no fundo do tecto se apresentava na primeira parte o choque entre o poder d’ars realista fantástico com o o pode d’ars do rerealismo da pratica política paulista e nacional territorial. Jânio Quadros aparece como praxis individual do realismo fantástico que provoca um curto circuito na pratica política rerealista nacional:

“A verdade é que JQ se negou a se submeter à realidade da aparelhagem estatal, da máquina administrativa e dos partidos, o que lhe rendeu a expulsão do PDC. Caracterizou-se como um político que não suportava conviver com a realidade dos partidos, agências centrais de socialização política do país no período 45/64. Não chegou a dominar as regras do convívio político, as etiquetas nas quais, por exemplo, Adhemar, por um lado, e os bacharéis, por outro, eram verdadeiros mestres”.

“Jânio era o próprio ‘outsider’ da elite política. Seus ternos desalinhados e a aparência pessoal desleixada evocavam a imagem de um corpo transpirando muito ao voltar para casa em num coletivo de trabalhadores, após um dia cheio de trabalho.Esta encenação, uma alusão ao cotidiano das massas urbanas subalternas, foi um dos traços que o distinguirá como um fenômeno novo”. (Bandeira da Silveira. 1988: 5-6).  

A biografia do general Castelo Branco foi feita por Lira Neto. A biografia é um efeito da gramática do pode d’ars rerealista assim como a gramática de minha tese de doutorado. Eu e lita Neto precisamos dos fatos singulares para a construção do texto. Um fato da crise de 1864 é o general Amaury kruel comandante do segundo exército sediado em São Paulo. Lira descreve um dialogo fatal entre Kruel e Jango:

“‘Presidente, o senhor é capaz de prometer que vai se desligar dos comunistas e decretar medidas concretas a esse respeito?’,indagou Kruel, à queima roupa.

 ‘General, procure compreender, sou um homem político. Não posso deixar de lado as forças populares que me apoiam’, respondeu Jango, repetindo a mesma argumentação que usara nos dois telefonemas anteriores.

‘Então, presidente, lamento. Mas não posso fazer mais nada’, disse Kruel, categórico, desligando o telefone. Havia sido a última tentativa. 

Pouco minutos depois, as emissoras de rádio e as redações dos jornais do rio de Janeiro receberam cópias de dura proclamação assinada pelo general Kruel. ‘O II Exército, sob comando, coeso e disciplinado, unido em torno de seu chefe, acaba de assumir atitude de grave responsabilidade, com o objetivo de salvar a Pátria em perigo, livrando-a do jugo vermelho’, dizia a nota. Em outro trecho, afirmava: ‘O objetivo será o de romper o cerco do comunismo, que ora compromete e dissolve a autoridade do Governo da República’. A posição de Kruel, amigo e compadre de Jango [...]”. (Lira Neto: 24).

Eu digo:

“Contudo, Kruel era um destes destroços da história político-militar republicana, revitalizado por sua passagem na FEB na Segunda Guerra Mundial. Não só pesavam em suas relações com o IPES/IBAD sua antipatia a Castello Branco, originada na II° Guerra, como também o fato de que ele tinha pretensões de chefiar a contrarrevolução, como muitos outros generais e lideranças civis” (Bandeira da Silveira. 1988: 140-141). 

Lira Neto parte do pressuposto de uma amizade colegial eterna de Kruel e Castello. Eu parto do sujeito historicamente fabricado ao longo de uma vida institucional e revolucionária republicana. Também parto do sujeito Kruel como efeito da língua fenilato da ambição em se tornar o presidente de uma ditadura militar coma de Floriano Peixoto. Amizade ou ambição? Qual afecção seria mais determinante na praxis política de Kruel no golpe militar de 1964? Qual afecção seria determinante no modo de ser psíquico rerealista de kruel na tela da mente estética golpista - militar e civil - de 1964?    

2 JQ -Rerealismo e realismo fantástico 

Com Marx, o artista da política aparece na figura de Luís Bonaparte. É o artista bonapartista da modernidade européia. Marx o viu como um modo de ser psíquico grotesco cômico (Marx. 1974:331-32). Gramsci o elevou à história mundial ocidenatl como uma forma de artista cesarista (Gramsci:77-78). Rosa Luxemburgo o viu como Napoleão III, o artista imperial que cria um império mercantilista capitalista. (Rosa: 394-95). Jânio Quadros foi o artista cesarista moderno da história republicana. Sua presença na prática política continua sem ser interrogada como deve ser. Qual obra-de-arte política ele queria criar? Napoleão III foi uma criação da democracia francesa de 1848. Como essa democracia produziu um artista da política? 

Bourdieu:

“Situado entre a boemia e a ‘sociedade, a ‘sociedade duvidosa’, representada pelo salão de Rosanette, recruta adeptos a um só tempo nos dois universos opostos: ‘Os salões das cortesãs (sua importância data desse tempo) eram um terreno neutro onde os acionistas de partidos diferentes encontravam-se’. Esse mundo intermediário, e um pouco suspeito, é dominado por ‘muolheres livres’, portanto capazes de cumprir até o fim a função de <mediadores> entre os ‘burgueses’, dominantes <tout court>, e os artistas, dominantes-dominados (a esposa legítima do ‘burguês’, dominada - enquanto mulher - entre os dominantes, cumpre essa função, de outro modo, com seu salão). Muitas vezes oriundas das ‘classes baixas’, essas ‘cortesãs’ de luxo, e mesmo de arte, como as dançarinas e as atrizes, ou a Vatnaz, meio mulher manteúda, meio mulher de letras, que são pagas para ser ‘livres’, engendram as liberdades por suas fantasias e sua extravagância (é frisante a homologia com a boemia ou mesmo com os escritores mais estabelecidos que, como Baudelaire iou Flaubert, interrogam-se, no mesmo momento, sobre a relação entre sua função e a da ‘prostituta’). (Bourdieu. 1996: 23).

O artista da politica é um modo de ser psíquico sublimatório em relação ao objeto classe política aristocrática e/ou burguesa. Ele não quer ser a “protituta dessa  classe política. Jânio Quadros introduziu uma molecula de crise na prática política oligárquica tradicional/burguesa populista moderna - nacional e paulista. Qual obra-de-arte ele queria criar? 

Quando Jânio Quadros iniciou sua vida política, recorreu unicamente ao capital que possuía: ser professor do Colégio Dante Alighieri. Os mestres-escola, os pais de alunos e toda uma multidão de indivíduos mobilizados pelo colégio fizeram sua campanha eleitoral à vereador. Esta foi a origem e a alavanca política que deu início a sua brilhante carreira. 

O discurso eleitoral de JQ esgrimia a retórica professoral da necessidade de lutar contra o uso do poder público posto à serviço de interesses pessoais, do empreguismo, do nepotismo, do favoritismo e de um conjunto de atos, hábitos e comportamentos que, espelhados na imprensa, revelavam uma face do Estado e da classe política que indignava determinados estratos elevados da classe média. Em contraposição a esta situação, JQ queria que o Estado, em sua estrutura e funcionamento, deveria operar como o colégio Dante Alighieri, cujo modelo imitava uma divisão do trabalho baseada em regras de competência, aparece como a ideologia de nosso artista-professoral. Assim, o colégio representa concretamente um elemento mais abstrato: matriz presente nas instituições da sociedade civil que tem como equivalente conceitual o tipo racional-legal weberiano. JQ, como agente de uma instituição de trabalho da sociedade civil, percebia que o Estado deveria funcionar segundo a lógica gramatical (ele era professor de língua portuguesa) do seu colégio e da gramática da norma culta. 

A vida política de JQ se realizou nas instituições estatais e na relação do realismo fantástico populista com as massas eleitorais. Assim como sua relação do poder d’ars realista fantástico professoral com o aparelho de Estado quando prefeito e governador. Ele fazia a administração funcionar através dos <bilhetinhos>. “Por que os bilhetinhos? Muito simples; o governador recém-empossado recebera uma máquina administrativa viciada, cheia de defeitos, corroída pela burocracia Não andava. Para o tipo de governo que se pretendia, isto é, de recuperação total do Estado era preciso inventar alguma coisa para realizar o milagre de fazer a máquina andar e produzir. Jânio lançou, então, mão dos memorandos, isto é, despachos diretos do governador não só aos secretários como aos diretores, chefes de seção e até mesmo para simples funcionários. A experiência deu certo. A máquina começou a dar sinal de vida, apesar da estranheza demonstrada por algumas ‘peças’ da burocracia, defensores de sua alta importância disfarçada no celebérrimo ‘princípio hierárquico’”. 

De ato, JQ  a gramática realista amadorística da realidade do aparelho de Estado. Ele também se tornou um rebelde na vida do partido político. Ele não queria ser a “prostituta” da classe política paulista. Assim, ele foi expulso do PDC. JQ não gramaticalizava o rerealismo do poder d’ars da democracia de 1946-1964. Ele era o artista que queria criar um poder d’ars realista fantástico inédito para a vida paulista e nacional territorial. 

                                                        3

A ideia do <artista político> cesarista não é de Marx ou Gramsci. Marx fez um retrato de Luis Bonaparte que não corresponde à imagem sublime escolar que os franceses têm de Napoleão III. Luís era parte de La bohème:

“Nessas excursões, que o grande <Moniteur> oficial e os pequenos <Moniteurs> privados de Bonaparte tinham naturalmente que celebrar como triunfais, o presidente era constantemente acompanhado por elementos filiados à <Sociedade de 10 de Dezembro>. Essa socedade originou-se em 1849. A pretexto de fundar uma sociedade beneficiente, o lumpen proletariado de Paris fora organizado em facções secretas, dirigidas por agentes bonapartistas e sob a chefia geral de um general bonapartista. Lada a lado com <rouès> decadentes, de fortuna duvidosa e de origem duvidosa, lada a lado com arruinados e aventureiros rebentos da burguesia, havia vagabundos, soldados desligados do exército, presidiários libertos, forçados foragidos das galés, chantagistas, saltimbancos, <lazzaroni>, punguistas, trapaceiros, jogadores, <maquereaus>, donos de bordéis, carregadores, <literati>, tocadores de realejos, trapaceiros, amoladores de faca, soldados , mendigos - em suma, toda essa massa indefinida e desintegrada, atirada de deca em meca, que os franceses chamam<la bohème>: com esses elementos afins, Bonaparte formou o núcleo da Sociedade de 10 de Dezembro”. (Marx. 1974: 372). 

A imagem de Luís como o Príncipe negro de la bohème ou lumpen proletariado ou Sociedade 10 de Dezembro é um efeito do poder d’ars rerealista ou realista fantástico? Bem. de qualquer modo é uma gramática do realismo fantástico da rrealista prática política francesa da democracia de 1848. Gramsci seguiu Marx no juizo moralista sobre Napoleão III?

“Mas o cesarismo, embora expresse sempre a solução ‘arbitral, confiada a uma grande personalidade [...] O cesarismo é progressista quando sua intervenção ajuda a força progressista a triunfar, ainda que com certos compromissos e acomodações que limitam a vitória. é regressivo quando a intervenção ajuda a força regressiva a trinfar [...] César e Napoleão são exemplos de cesarismo progressista. Napoleão III e Bismarck, de cesarismo regressivo”. (Gramsci. 2014: 77).

Napoleão III criou e recriou o império do mercantilismo capitalista nacional na França antecipando o Estado mercantilismo capitalista  europeu colonial do final do século XIX e início do século XX. (Sombart: 83). 

Em um estudo maravilhoso sobre la bohème, Jerrold Seigel diz:

“Les explorateurs reconnaissaient la bohème à des signes: l’art, la jeunesse, les bas-fonds, le mode dee vie des Gitans. Pour Henry murger, son cartographe, le plus influent, elle était le domaine de jeunes artistes luttant pour abattre les barrières que la pauvreté dressait contre leur vocation, contre <tout homme qui entre dans les arts sans autre moyen d’existence que l’art lui-même>”. (Seigel: 13). 

Sobre a relação do artista político com a prostituição, Benjamin temum texto sobre prostituição intrigante poe causa da relação entre amor e moeda:

“Certes, l’amour de la prostituée s’achète. Mais il n’en va pas de même de la honte de sons client. Celle-ci cherche une cachete pour ce quart d’heure et trouve la plus géniale: l’argent. Il y a autant de nuances de manière de payer que de nuances dans lart d’aimer, indolentes ou rapides, furtives ou brutales. Qu’est à dire? La blessure rougie par la honte sur le corps de la société sécrète de l’argent et guérit. Elle se recouvre d’une escarre métallique. Laissons au roué le plaisir bon marché de se croire exempt de honte. Casanova avait une mellleure connaissance des hommes: l’impudence jette le premiére pièce sur la table, la honte en rajoute une certaine pour recouvrir”. (Benjamin. 1993: 510).

A prostituição é um modo de ser psíquico de sublimação da vida do rerealismo da sociedade através da moeda que introduz a afecçao vergonha. Ela é uma prática milenar da civilização ocidental. Ela é um efeito de um poder d’ars do realismo fantástico misterioso de tentação da carne capaz de pôr Jesus frente à frente com a língua fenilato da vergonha (Bandeira da Silveira. 03/2025).           

                                                                  4

Em 1961-1964, o Brasil se via refém da situação mundial bilateral do poder d’ars realista fantástico do Estado suicidário-cesarista (Virilio. 1976: 49) da Guerra Fria EUA/URSS. O artista cesarista das ciências das telas faz pendant com o artista de Deleuze e Guattari:

“C’est que l’État despotique originaire n’est pas une coupure comme les autres. De toutes les institutions, elle est peut-être la seule à surgir tout armé dans le cerveux de ceux que l’instituent, ‘les artistes au regard d’airain’”. (Deleuze. 1972: 262). 

Em 15/08/2025, os artistas despóticos cesaristas Trump e Putin criaram o poder d’ars realista fantástico do G2 nuclear. Criaram uma nova ordem mundial militarizada na tela da mente estética mundial. O trabalho dos artistas está em andamento. Eles querem criar e recriar uma nova ordem mundial do direito do mais forte nuclear. É uma ordem mundial a partir das três grandes potências nucleares mundiais. Elas se transformarão nos proprietários da realidade dos Estados fantoches da Europa sob o comando de Putin, da Ásia sob o comando de Xi Jinping e das Américas sob o comando de Donald Trump. 

O poder d’ars do Estado suicidário G2 + 1 fará pendant com a fabricação de Estados fantoches na tela da mente estética do realismo fantástico mundial <heteróclito e arbitrário> (Lévi-Strauss. 1976: 36, 37, 38).   

                                                         4

Retomarei as ciências das telas antes da gramática do poder d’ars. Duas vias da história aparecem, a do Estado suicidário territorial e a do Estado virtual das big techs:

“Il y a quelques années, la simple hypothèse d’un ordre se ruant totalement vers sa fin paraissait encore invraisemblable, et cela malgré des avertissement comme ceux du physicien Werner Heisenberg dans son livre <Physics and Philosophy (1958). Il décrivait la période actualle et ses crises comme < un état de lutte pour la conquête d’une influence possible dans un État final d’unification, <directement issu du status quo nucléaire>. Cette course vers un <État final> universel [,,,]”. (Virilio. 1976: 53-54).

O G2 EUA/Rússia +1 seria o caminho para o Estado universal territorial do poder d’ars do realismo fantástico na tela da mente estética planetária?      

                                                  5

Nos séculos XIX e XX, há a passagem do poder d’ars da cultura do livro para a era da técnica industrial:

“A tela gramatical do Bem é chôrismos, ou seja, <separação> dela da esfera das práticas: técnica, política, econômica (Gademar: 114). O Bem é vinculado à tela gramatical cultural milenar ocidental. A técnica é exterior ao Bem, ela se torna uma estrutura de dominação ideológica com o capitalismo inglês do século XIX (Spengler: 46). A tela cultural era o suporte da elite culta, isto é, eite culturalmente para a prática política e para a economia com  fenômeno do general intellect gramatical (Bandeira da Silveira; 2022b). Com a época da técnica industrial moderna, a ideia de elite cultural perde a força de direito, deixa de estar ancorada no campo político moderno industrial europeu”. (Bandeira da Silveira.07/2024. 293).

Tal passagem abole o intelectual de Gramsci como referente da prática política mundial. Na China do século XX, o intelectual do poder d’ars do livro é o referente da revolução socialista no Estado territorial-multinação: 

“Um Estado confucionista feudal do dominante em aliança com a burguesia se tornou o objeto estratégico da revolução barroca maoista. Mao foi o aparelho de hegemonia molecular de fabricação de um novo Estado mercantilista, confucionista, feudal, virtual/territorial do dominado”. (Bandeira da Silveira. novembro/2024::434).

Na passagem da era da globalização liberal pós-modernista para o mercantilismo capitalista, o Estado de exceção aparece como uma ameaça aos países democráticos:

“O aspecto contraditório interior à coisa, isto é, a crítica da gramática do Estado mercantilista se movimentou e desenvolveu o Estado de exceção mercantilista geral, tela gramatical; as relações com as formas de exceção do Estado mercantilista particulares [bonapartismo, fascismo, ditadura militar, ditadura civil, Estado mafioso] aparecem como aspectos secundário do campo político conjuntural. No Brasil, o Estado de exceção mafioso p[os-modernista se tornou o aspecto principal da contradição principal e o Estado da Constituição de 1988 o aspecto secundário na conjuntura de 1988”. (Bandeira da Silveira. Idem: 434).

                                                              6

O governo de Bolsonaro foi uma ditadura civil-militar mafiosa. O goveno de Milei é uma ditadura mafiosa de um Estado fantoche de Trump. E Donald Trump? Para falar deste é necessário recorrer ao poder d’ars na tela da mente estética das americas:

“O colapso do globalismo liberal inicia a transição para o mercantilismo capitalista. Na transição, aparece o problema do enunciador competente de produção de sentido e não-sentido da nova prática política mundial mensfenilato. O enunciador dessa transição é o soberano feudal/territorial. Donald Trump se apresenta em um espetáculo de produção de sentideo e não-sentido; ele representa o novo e Lula se propõe a representar o velho regime multilateral dos blocos econômicos internacionais. As Américas se tornaram o principal palco da história da autofabricação da prática política feudal do mercantilismo-capitalista”.

“Cada enunciador feudal defende seu território, um pelo bilateralismo e o outro pelo multilateralismo. A luta dos soberanos feudais se edeine na produção de sentido e não-sentido, na autoprodução da prática política feudal do mercantilismo-capitalista”. (Bandeira da Silveira. Julho/2025: 594-595). 

Os dois aspectos da contradição mundial aparecem como mercantilismo com poder d’ars heteróclito do realismo fantástico e o capitalismo multinacional como poder d’ars do rerealismo:

“A atualidade se caracteriza pela produção de sentido territorial como conciliação barroca de capitalismo e feudalismo, entre mercantilismo e liberalismo. O Estado mercantilista/capitalista feudal é o enunciador de sentido e não-sentido da transição da velha época do globalismo liberal para a nova época no horizonte de sentido e não-sentido da lógica gramatical-retórica-ideológica do mercantilismo capitalista, liberal com soberania feudal/territorial”. (Bandeira da Silveira. Julho/2025: 5950.

Um poder d’ars realista fantástico faz da prática politica um campo paraconsistente (Newton da Costa; 2008) entre feudalismo e a modernidade do mercantilismo capitalista (Bandeira da Silveira. novembro/2021):

A contradição territorial e virtual aparece dramaticamente no governo de Trump:

“Donald Trump e Elon Musk no governo dos EUA mudam a prática política mensfenilato? Em analogia aparece uma contradição entre a burocracia dos Estados nacional/territorial e a burocracia virtual das big techs. A evolução dessa contradição se dirige para um horizonte no qual as big techs americanas e chinesa se desterritorializam. Tornam-se fenilomenicos sem território e na lógica gramatical, retórica, ideológica da expansão absoluta do monopólio do Um, as big techs podem aparecer como um Estado mercantilista único virtual. A contradição território versus virtual pode ser objeto de uma conciliação barroco-iluminista (Rawls: 121- 122) como ilusão de futuro?”. (Bandeira da Silveira. Julho/2025: 5980. 

O poder d’ars do império virtual mundial   tem a plurivocidade de gramática da prática política das big techs como imperador greco-romano na tela da mente estética planetária. Um outro hegeminikón virtual depende do desenvolvimento e evolução do mundo da empresas de tecnologia americana e chinesa. Este caminho é o da subsunção real do Estado suicidário nuclear ao poder d’ars do Um como prática política unificada virtualmente do general intellect gramatical de americanos e chineses (Bandeira da Silveira. 05/2022).    

                                                     7

A renúncia de JQ após sete meses de governo pôs problemas que as ciências humanas não foram capazes de resolver? Lira Neto tocou de raspão nesse problema:

“Com óculos tortos caídos no meio do nariz, cabelos desgrenhados, olhos esbugalhados e ternos amarrotados, Jânio encantou o país com um discurso que prometia um governo de austeridade, implacável no combate à corrupção. O candidato udenista acabou conquistando quase 6,5 milhões de votos. João Goulart foi eleito vice.”. (Lira Neto: 204).

Observem a contradição entre o belo discurso político e o corpo grotesco-cômico de JQ. O processo de sublimação das massas eleitorais ocorre através do discurso e não da imagem do corpo feio de JQ.O estilo de governar chocava a classe média e as elite militar conservadora da Guerra-Fria e a elite civil cosmopolita do americanismo; ele chegou a fazer “humor negro” ao mexer com costumes cariocas femininos:

“Em menos de sete meses de governo, Jânio Quadros proibiu a briga de galos, condecorou o líder guerrilheiro Che Guevara, impediu por decreto o uso do biquine, distribuiu milhares de seus famosos e ácidos ‘bilhetinhos’ a funcionários dos mais variados escalões e inaugurou um novo estilo na presidência: despachava várias vezes de alpargatas e jaquetas no modelo safári”. (Lira Neto; 204). 

Para a população em geral, JQ não agia segundo os padrões normais da classe política de terno e gravata. Contudo, ele inscreveu no campo das fenilideologias políticas um modo de ser psíquico realista fantástico:

“Ao apostar numa política externa independente dos Estados Unidos, Jânio entrou em choque com os interesses do capital internacional e das alas militares mais conservadoras. Quando renunciou tentando voltar por cima nos braçõs do povo e querendo arrancar o apoio incondicional das Forças Armadas, empurrou o país para uma crise político-militar sem precedentes até então”. (Lira Neto: 204). 

JQ aparece como um cesarismo complexo, pois, de uma modernidade que seria a base da política externa do governo do general Geisel. A posição do Brasil acima do modo de ser psíquico ideológico da Guerra Fria. Ele evoca Plínio Salgado com sua atitude nacionalista em fazer pouco caso do poder do capitalismo das multinacionais americanas:

“Até a vetusta União Democrática Nacional, a UDN, que galvanizava as insatisfações da classe média mais conservadora, apoiou a tese legalista. ‘Jânio foi a UDN de porre’, diria aliás o então senador udenista Afonso Arinos, que havia sido um de seus maiores entusiastas durante a campanha. Logo se saberia que a ressaca de tal carraspana política teria um nome: Castello Branco”. (Lira Neto: 204). 

Na tentativa de fabricar uma ditadura greco-romana, JQ aparece como um modo de ser psíquico de uma praxis individual como efeito do poder d’ars do realismo fantástico. A menção ao herói do Estado militar-1964 Castello faz pendant com um outro líder cesarista-militar que se apresenta em uma analogia com o Luís Bonaparte de Marx, criatura grotesco-cômica. Porém como Napoleão III, Luís apareceria como o moderno imperador greco-romano. Já Castello era o Quasímodo heteróclito: 

“As olheiras eram evidentes, assim com as rugas que lhe desenhavam sulcos profundos na testa larga e quadrada. O nariz adunco descia em curva junto com o lábio inferior, os dois quase pendentes sobre o queixo, mais pronunciado do que nunca. As sobrancelhas arqueadas e os cantos da boca apontados para baixo ajudavam a conferir um ar de bruxo triste. Na mão esquerda, duas alianças, a dele e a de Argentina, em sinal de viuvez. Suando dentro do colete ortopédico, exalando a enxofre, Castello procurou manter a voz e o olhar firmes diante da plateia, que o fitava, em franca expectativa”. (Lira Neto: 225).  

                                                          8

O fenilomenico JQ é um fato político inusitado como combinação da práxis individual (Sartre. 1985: v. 1: 194) com a realidade rerealista das massas urbanas na nossa história política.  JQ também foi um efeito da passagem da dominação rural oligárquica do Brasil profundo para a estrutura de dominação estética urbana do capitalismo subdesenvolvido. Em 2018, o Brasil reprofundo criou o lider casarista negro Jair Bolsonaro. (José Bandeira. 07/2021:14):

“Na década de 1950, o Brasil apresentava um índice médio de crescimento de populacional de 3,0 % ao ano, segundo Alfred Stepan, um dos mais altos do mundo. Neste período, enquanto a população rural cresceu cerca de 6 milhões, a urbana aumentou em 13 milhões, isto é, mais de 100% acima daquela. Esse crescimento espetacular da população das grandes cidades produziu na prática política paulista e nacional um efeito do JQ como líder cesarista greco-romano.  (Tese de doutorado). A soberania popular e o sufrágio universal são fenilomenicos da reprodução da prática política de uma divisão do trabalho político representante e representado, na qual seestabelece uma relação institucional entre trabalho intelectual e dominação da prática política como aparelho de hegemonia de Estado, sendo o modo de ser psíquico [do indivíduo e do grupo] do exercício do poder sobre esse aparelho um dos polos da tela da mente estética da dominação política.l JQ aparece como trabalho intelectual e, logo, como vanguarda política do general intellect gramatical (Bandeira da Silveira. 05/2022) do Sudeste urbano. 

O Estado novo de Getúlio de 1937 criou uma tradição um modo de ser psíquico das massas urbanas proletárias em relação à constituição da classe política. As massas tinham a convicção de que a melhor forma do exercício do aparelho de Estado se encontrava associado à uma pessoa de carne e osso, com qualidades excepcionais em sua práxis individual. Como fenilomenico eleitoral, as massas analíticas eram constituídas por uma falta na pratica política dos partidos políticos legais. O PCB e o PTB (como expressão da fenilideologia política do nacional-popular trabalhismo) eram a falta de uma representação da classe operária e massas analíticas radicalizadas de classe média som a direção ideológica do proletariado e da revolução social das massas urbana e do campo. Assim, JQ aparece como um herói das massas radicais excluídas em sua representação, no campo político como revolução social. O cesarismo gerco-romano de JQ aparece para certas massas do dominado como revolução politica da modernidade na gramática do rerealismo da classe política oligárquica com padrão Brasil profundo.      

‘    


Nenhum comentário:

Postar um comentário