sexta-feira, 11 de agosto de 2017

PARTIDOCRACIA

José Paulo


PARTIDO, IGREJA, BUROCRACIA
                                                                                  I
Partidocracia é o domínio da política pelos partidos. OS EUA são um exemplo exuberante deste fenômeno. O Brasil se alinha com os EUA a partir da formação das grandes máquinas políticas do regime 1988. No início, algumas dessas máquinas possuíam uma vida interna democrática, especialmente o Partido dos Trabalhadores ou PT. Mas o PSDB também vivia alguma forma de democracia partidária. Estes dois partidos dividiram a era governamental nacional em duas. Na primeira, governou o PSDB e na segunda o PT até a queda de Dilma Rousseff.

O PSDB segui o modelo de Itamar Franco na instalação e aperfeiçoamento da partidocracia conhecida entre nós como presidencialismo de coalizão. Hoje, os políticos, seus jornalistas e cientistas políticos da USP e Unicamp falam em semipresidencialismo e outros nomes gelatinosos.

Eles parecem ignorar que Weber estabeleceu o significante do conceito que cobre e recobre o fenômeno (domínio dos partidos na política) da cultura política brasileira das últimas décadas. O presidencialismo de coalizão é nome fenomenológico vulgar da linguagem jornalística que substitui o nome real do fenômeno: partidocracia.

Weber fala da política como governo de seita e governo de Igreja na era moderna. O partido-seita tem uma visão particularista da política, paroquial, ele jamais lida com os grandes temas nacionais. Ao contrário, o partido-Igreja sempre está preparado para lidar com as grandes questões nacionais e enfrentar as crises (econômica, política, cultural) periódicas da política nacional, internacional e localmente.

Antes de se tornar uma grande burocracia partidária, o partido-nacional existiu na forma de correntes de opinião. No 18 Brumário de Luís Bonaparte, um texto de Marx, de fácil acesso para o leitor, os partidos eram despojados de burocracia. Eles se formavam a partir das correntes ideológicas gramaticais de opinião. Não foram eles os responsáveis pela crise catastrófica da democracia republicana de 1848. O responsável foi o presidente da República Luís Bonaparte que transformou o lúmpen-proletariado em um partido político sob comando de uma burocracia militarizada. Aí nasceu a lúmpen-burocracia como fenômeno-paradigmático da cultura política ocidental da modernidade do século XIX. Tal paradigma fez da burocracia um artefato político regulado pela corrupção. Como partido, a ideia de uma Igreja burocrática corrupta na modernidade se deve ao imperador Luís Bonaparte e seu partido lúmpen-proletário.

No último quartel do século XIX, se constituíram grandes partidos socialistas (socialdemocratas) na Europa no rastro da destruição da revolução popular da Comuna de Paris. Surge a grande burocracia partidária de esquerda que se tornará o paradigma do sistema partidário no Ocidente. Tal burocracia exige seus chefes e a formação da oligarquia partidária. Assim, o partido se transforma em uma organização burocrática capitalista (Michels, Weber). Mas o fenômeno oligárquico com chefe burocrático não significa uma estrutura partidária que tem como essência a corrupção como no caso da burocracia lúmpen-bonapartista. Uma certa ética da dignidade partidária (ética da Igreja nacional) parece orientar o partido burocrático capitalista. Na Europa, tal ética foi o vínculo imanente dos chefes (e da burocracia) com as massas, apesar (e contrária à lei de ferro) da lei de ferro da oligarquia.              

No século XXI, tal modelo em tela de sistema partidário encontra-se em crise catastrófica na Europa, ao menos na França, Itália e Espanha. Na França, o atual chefe de governo Macron se elegeu tendo com o suporte e a sintetização de correntes de opinião ideológicas gramaticais disparas. Macron está além da partidocracia em autodissolução espontânea na França. O nome do partido de Macron não é o nome de uma burocracia partidária e sim do movimento de correntes de opinião ideológicas em um processo permanente de sintetização transdialética gramatical. A cultura política da política francesa evolui pela sintetização com a cultura política do povo e ao fazer pendant com a alta cultura política econômica do campo de saberes europeu. É claro que Macron pode redundar em um estrondoso fracasso. Mas este não é o ponto aqui em questão.    

O ponto é que há uma racionalidade espontaneista na relação massas (eleitor) e partidocracia; e a eleição pode significar a autodissolução dos partidos e da partidocracia. A reforma política de Macron pode ser um signo do fim da partidocracia francesa? A partidocracia se transmuta de um objeto sólido em vapor, em fantasma burocrático do século XIX e XX. Ela é uma Igreja incapaz de conduzir os fiéis (o povo nacional) pelo deserto das crises política, econômica e cultural da atualidade da União Europeia do globalismo neoliberal.  

No regime 1988, o PMDB já se apresenta como a grande burocracia oligárquica do sertão. Burocracia voltada para se manter no poder local oligárquico (e no poder de uma rede significativa estadual, na Câmara de deputados e no Senado federal) e incapaz de vencer eleição presidencial. A ideologia gramatical do PMDB é o privatismo oligárquico colonial (privatização e expropriação da riqueza pública), a transação, os negócios políticos de ocasião. Trata-se de uma burocracia federal fragmentada, ao sabor do humor dos chefes locais e pronta para participar de governos totalitários de esquerda ou de direita.

O PMDB chegou ao poder nacional de Brasília com o suicídio político de Dilma Rousseff. Vice de Dilma, Michel Temer fez inúmeras piruetas para se apoderar da presidência que na verdade caiu em seu colo sem que ele fizesse um grande esforço para que isto acontecesse. O PMDB tem um chefe da tradição oligárquica brasileira: o maranhense José Sarney. Têm sucedâneos... Romero Jucá, Moreira Franco, Eliseu Padilha e outros em desgraça como Renan Calheiros. Tais chefes são sucedâneos dos antigos coronéis e eles mantêm uma espécie de modo de produção cultural da política e da economia coronelista. 

Sarney se transformou no chefe do partido ao se tornar, por obra do acaso divino, presidente da República em 1985, a partir da doença e morte de Tancredo Neves eleito presidente da República no Colégio Eleitoral do Estado militar 1968. Sarney se tornou presidente na transação pelo alto da qual participaram o comando do exército, FHC, Ulisses Guimarães e outras excelências indignas, pois, antidemocráticas, que fundaram uma era na qual o PMDB comandava a política no governo autocrático de Sarney.

A escolha ilegal de Sarney para assumir o governo presidencial teve como sentido evitar a convocação de eleições diretas no ano de 1975. Sarney presidencial é fruto de ilegalidade política. FHC e Ulisses Guimarães negociaram com os militares e a oligarquia do sertão maranhense (fronteira geopolítica oligárquica do Nordeste com o Norte) a transação pelo alto e a duração de 5 anos de governo autocrático José Sarney, na Assembleia Constituinte de 1988. Ulisses acreditava que seria o primeiro presidente da República do PMDB na primeira eleição presidencial pós-regimes autoritários: militar e de Sarney. FHC se esforçava a fazer a passagem da vida de classe média de professor da USP para a vida da oligarquia urbana paulista! Como não tinha futuro no PMDB na carreira nacional criou com Mário Covas e o empresário cearense Tarso Jeressate, o PSDB.

O PSDB tomou do PMDB o lugar dominante na cena política oligárquica liberal no regime 1988.       

O PMDB é o que melhor se assemelha ao partido burocrático bonapartista, graças a sua lúmpen-elite rústica oligárquica colonial do sertão. Com o PMDB, o sertão bonapartista está em toda parte da vida local e nacional. O governo Temer é o coroamento da partidocracia bonapartista do nosso sertão nordeste-norte, centro-oeste, paulista e mineiro. Ele põe por terra a gramática em narrativa lógica de Marx de que tudo que é sólido se desmancha no ar. No Brasil, a partidocracia, ao contrário da França de Macron, não se desmancha como açúcar no céu da boca das massas.

A política da partidocracia brasileira não entrou na era líquida (ou do açúcar de doce português no céu da boca das massas). Ela continua sólida como o ouro colonial das Minas Gerais que manteve a economia colonial metropolitana imperial funcionando durante o século XVIII. A partidocracia é um fenômeno correlato ao significante imperial colonial do século XVIII mineiro: o passado pesa como chumbo na alma das massas. E também no imaginário amoroso hegeliano pela excelência. As massas formam uma comunidade de consciências que continuam a considerar FHC, Sarney e seus aliados (os jornalistas capengas, capachos para chutar o pau-da-barraca da partidocracia, e sem dentes para morder, mastigar a notícia política do fim da burocracia lúmpen até o bagaço da TV do Sudeste e seus canais satélites locais em todo o continente nacional) como o fenômeno político, par excellence.

Há exceções no jornalismo. Por exemplo, Ricardo Boechat fala em implosão dos partidos. Ele considera a partidocracia bonapartista do sertão o grande mal da nossa política. Mas uma andorinha só não traz o verão da política democrática no jornalismo do rádio ou da televisão. E se a cultura de massa for tomada por uma vontade de potência de autodissolução da partidocracia? o que pode acontecer na política brasileira 2018? Ainda é cedo amor...?


                                                          II                                                                  

Os políticos acreditam que vivem em um país de beócios? Que não há nada que possa substituí-los, nada que possa tomar o lugar da lúmpen-partidocracia bonapartista? Que esta governa para a elite econômica, para a oligarquia financeira mundial, para os interesses dos oligarcas (e jornalistas) da televisão? Que esta collusion é sólida, inquebrantável; que seus elos são feitos com o ouro colonial das Minas Gerais. Que a dominação (articulação lúmpen-hegemônica bonapartista) das mídias de massa (e da partidocracia) sobre a população é algo melhor do que a ditadura aberta do Estado militar 1968? Que se a partidocracia falhar, a oligarquia do sertão instalará uma ditadura totalitária de direita como algo semelhante à ditadura totalitária de esquerda de Maduro, na Venezuela? A política brasileira caminha no fio da navalha?  

Há essa crença ideológica gramatical: Nós (a elite de ferro oligárquica do sertão) jamais perderemos o controle dos fatos! Hoje, burocracias partidárias de esquerda não são correias de transmissão da lúmpen-partidocracia bonapartista? Elas são parte da crença dos fatos sob controle da elite de ferro provinciana do sertão!

De partido ético, PSDB e PT foram absorvidos no privatismo colonial. Com o envolvimento com o governo do PMDB de Temer, o PSDB bebeu a última gota de sangue pemedebista que faltava para se tornar uma lúmpen-burocracia bonapartista. Quanto ao PT, toda a era do bolivariano esteve sob o signo da corrupção lúmpen-bonapartista.

Parece que nenhum partido escapa das garras da Lava Jato. Assim, a partidocracia é o governo de uma classe política lúmpen-bonapartista. A corrupção entrou na corrente sanguínea do sistema político e é patético os inumeráveis apelos dos ministros éticos do STF para que os políticos abandonem sua carreira lastrada no desejo de corrupção e enriquecimento fácil e voltem a se conduzir por uma atitude de valores éticos positivos na cultura política do cotidiano.

A classe política não é um indivíduo hegeliano do tipo homo clausus político. Ela não é um corpo fechado sem ligações com a realidade externa da política. Primeiro, ela é ligada aos jornalistas e cientistas políticos da USP e mais ainda. Ela é ligada aos interesses empresariais de inúmeros tipos (urbano e rural) e parece querer ser o porta-voz do pagamento, sem dar um pior, da dívida nacional com o sistema financeiro internacional.

A classe política é uma organização burocrática lúmpen-bonapartista criminosa em termos políticos, pois, ela é imbuída de uma ideologia gramatical antinacional e antipovo. Tal ideologia tem um complemento. A classe política criminosa atua segundo o princípio da crueldade com o sofrimento de seu próprio povo.

Para finalizar, a classe política é a classe do Estado mínimo e com uma vontade de potência de destruição do Estado nacional máximo de direitos das massas, suporte da democracia de massas.  O Estado mínimo em tela é o Urstaat neoliberal que faz pendant (e se sintetiza e des-sistentiza em um estado contínuo e descontínuo) com o kriminostat em uma guerra de movimento permanente contra o Estado nacional e o povo.       

Essa situação política só é possível graças à memória gramatical colonial da guerra branca latente (ou aberta) oligárquica das máquinas de guerra freudianas ( e à memória dos partidos do século XIX como máquinas de guerra freudianas oligárquico-imperiais) que passou a ditar a gramática em narrativa lógica da realidade brasileira 1988, na cidade e no campo. O PMDB surge aí como a vanguarda gramatical da política ao se transformar em uma máquina de guerra freudiana partidária. Depois foi seguido pelo PT, PSDB, DEM e quejandos...

A máquina de guerra freudiana se define pelo uso sem limite da violência física ou simbólica contra das Ding (O Outro absoluto como sujeito gramatical) ou Coisa política!  O bebê que goza ao estraçalhar o bico do seio da Mãe!

Como primeira máquina de guerra freudiana do regime liberal 1988, o PMDB aparece como o paradigma político das máquinas de guerras freudianas das ilegalidades dominantes e dominadas...

Agora nos encontramos face a face com o segredo da política brasileira. Por que é tão difícil a autodissolução dos partidos políticos? Por que eles não são fenômenos políticos humanos regulados pelo bem comum ou pelo interesse nacional como na França. Eles são máquinas de guerra que não contém em seu cálculo de máquina freudiana a ideia de autodissolução tendo como causa o bem comum ou o interesse nacional.! Eles só são regulados, ou pela tomada do poder nacional, ou pela conservação de si em tal poder!      
                     
 
    


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