segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)

Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no  Facebook:  https://www.facebook.com/groups/psicanalise.culturapolitica.totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.

Textos do PCPT
Getúlio hoje
A crise política de 1954 ainda está obnubilada pelas brumas de Avalon da ideologia política dominante brasileira. Esta é um artefato simbólico de uma linha de força histórica amálgama de culturas políticas oligárquica, populista e totalitária. Gregório Fortunato (Anjo Negro de Getúlio) era o chefe da temível guarda pretoriana de Vargas. Ele foi um antigo membro do bando oligárquico da família Vargas do interior do Rio Grande do SUL. Gregório organizou e orientou as figuras do submundo do lumpesinato carioca na realização de um ato terrorista. Tal ato matou o major Rubens Vaz e parece ter ferido no pé Carlos Lacerda. Hoje, tal ato terrorista não deve ser tomado como objeto político (sinthoma) de uma parte da história republicana que parece não ter chegado ao fim? Lula não é a repetição (lúdica e diferente) do populismo getulista?  
A origem e formação de Getúlio ocorre na cultura oligárquica sulista conhecida pela degola dos inimigos nos combates entre os bandos oligárquicos. O bando é a forma concreta de um significante de tal cultura oligárquico: máquina de guerra oligárquica. Trata-se de uma máquina terrorista! Com a Revolução de 1930, Vargas instalou um estado de exceção dando início a produção da cultura política totalitária republicana. Na década de 1930, Getúlio transformou-se na primeira máquina de guerra populista brasileira que produziu a cultura totalitária republicana. Assim como artefato simbólico, Getúlio tornou-se o objeto político que tornou possível a interseção entres as culturas oligárquicas, populista e totalitária. Estas duas últimas foram uma criação simultânea da máquina de guerra getulista.
O ato terrorista de Gregório Fortunato na rua Tonelero (Copacabana) foi um ato que saiu da interseção das culturas oligárquica e totalitária. Esta é a verdade do fato, ou melhor, do artefato. A versão da ideologia política dominante (populista/oligárquica/totalitária) diz que o móbile da ação terrorista foi a forte ligação afetiva do Anjo Negro com seu mestre. O campo dos afetos teria sido o motor de tal ato. Gregório estaria emocionalmente convulsionado pela ação demolidora de Carlos Lacerda – na imprensa de papel e eletrônica – na desconstrução da imagem pública/privada de Getúlio. O Anjo Negro era possuído por um amor profundo ao seu antigo mestre oligárquico. Este não é um ponto de partida para a re-leitura da história republicana? O discurso do mestre é o fantasma que ronda a historiografia brasileira!                   

Reconstrução da psicanálise
Na década de 1960 nos USA, Marcuse ensaiou a formulação de um conceito: totalitarismo freudiano. Na década de 1970 na França, Poulantzas transformou o marxismo ocidental em uma arma demolidora do totalitarismo ocidental capitalista. Para ele, o essencial era usar o marxismo para tecer uma cultura política antitotalitária. Simultaneamente na Alemanha, Habermas concebeu uma nova epistemologia: "reconstrução do materialismo histórico". Não é possível ignorar a natureza antitotalitária deste novo campo marxista. Habermas acreditava que o marxismo reconstruído poderia ser metabolizado pela cultura procedimental. Assim, a ideia de esfera pública ilustrada parece vital para o processo de reflexão/simbolização da política no mundo da vida para os sujeitos que não se constituem como máquina de guerra freudiana. Se o totalitarismo deriva da cultura política freudiana e, simultaneamente, articula as máquinas de guerra, a RECONSTRUÇÃO da psicanálise é um artefato simbólico contratotalitário do século XXI. A reconstrução da psicanálise significa a produção de um campo de pensamento funcionando através de contraconceitos como cultura política freudiana, máquina de guerra freudiana, totalitarismo freudiano e outros. Tais contraconceitos serão desenvolvidos pela análise freudo-lacaniana concreta de uma situação concreta. Este é o único interesse que constitui a vontade espiritual de fundação e desenvolvimento da contraciência freudiana da política.
USA
http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/11/internacional/1423672180_535760.html
A proposta de Resolução dos Poderes de Guerra, de caráter conjunto, para autorizar o uso da força militar (AUMF, na sigla em inglês) é a primeira desde que em 2002 o presidente George W. Bush buscou o apoio do Congresso para a invasão do Iraque. Um ano antes, outra resolução marcou o início da chamada guerra contra o terrorismo. O combate de Bush filho a Al Qaeda é um ponto de inflexão no domínio progressivo da cultura política totalitária americana sobre a democracia mais festejada da política mundial. Obama quer repetir Bush fazendo a guerra contra o Estado Islâmico. A repetição da guerra no Oriente e na Ásia deve ser vista como um fenômeno que é parte de uma dialética entre o nacional e o mundial? A dialética não significa que há descontinuidade entre a superfície nacional e a superfície mundial. Trata-se de um só espaço. A guerra entre Estados acaba articulando internamente a cultura política no mundo da vida dos países. A fase áurea do desenvolvimento da cultura totalitária americana teve como pulsão principal o governo Nixon. Kissinger organizou, orientou e ajudou a executar os golpes de Estado civil-militar na América Latina. O general Wernon Walters  foi o cavaleiro mecanizado – representante dos USA -nas conspirações fatais  contra os governos democráticos latinos americanos. Nixon/Kissinger/Walters foram constituídos como máquina de guerra terrorista pela cultura totalitária americana agindo nas relações internacionais. Por outro lado, a ação de tal máquina funcionou no sentido de desenvolver o totalitarismo nos USA. Obama tem feito uma aplicação do Ato Patriótico da Imprensa em um grau desmedido até para o padrão Bush filho. A comunidade jurídica americana tem dado demonstração de estar sendo articulada, cada vez mais, pela cultura totalitária em seu comportamento cotidiano. Ela está assumindo a forma de uma máquina de guerra jurídica heideggeriana que faz a guerra contra negros e pobres. O aparelho policial aparece como uma máquina de guerra freudiana que faz uso do terror, principalmente, contra os negros e mestiços. A democracia americana pode reagir se a cultura liberal (e a cultura libertária) no mundo da vida agenciar sujeitos liberais e libertários da sociedade civil em um movimento que se desenvolva em vários espaços: instituições público-privadas; internet; multidões nas ruas das principais cidades do país; imprensa liberal independente. No entanto, o primeiro passo é a simbolização da população sobre a existência do totalitarismo nos USA. Para a população, o totalitarismo é um inimigo invisível sobre o qual a ideologia americana dominante joga seu véu de uma materialidade diáfana. Uma batalha decisiva na política mundial está por ser realizada nos USA! 
IMAGINÁRIO LUSOLATINO/ARGENTINA
O Imaginário Político de uma parte da América Latina funciona através de ficções políticas que são vividas como fatos por uma parcela elite política, universitária e jornalística. A primeira ficção é a definição da política como a dialética ESQUERDA versus DIREITA. No Brasil, agora, a esquerda que não está no PODER oscila na defesa do governo petista ou na denúncia de que o PT não é mais da esquerda. Está claro que se elabora no imaginário político lusolatino uma ideia substancialista das categorias esquerda/direita. A esquerda é uma substância divina. Tais categorias se consolidaram como parte de uma linguagem política natural a partir da história da Europa dividida entre partidos socialistas e partidos da democracia cristã e outros. A divisão da política entre comunistas e fascistas sempre esteve além deste imaginário político europeu. Encurtando, com o neoliberalismo, esquerda e direita tornaram-se executores, quando no governo, de uma política ancilar à lógica da oligarquia financeira mundial. Agora no Brasil, temos o xifópago neoliberal: PT(esquerda)/ PSDB (direita). Para existir, o xifópago neoliberal tem que implodir economicamente a população desintegrar o imaginário político lusolatino. Como factualmente se chegará a isso, eis a resposta que vale dez tostões! O imaginário também está implodindo através de uma política que faz do assassinato político do adversário a solução do conflito. O assassinato do promotor Alberto Nisman está revelando uma face do peronismo ocultada pela ficção política que imaginariamente define a política como um confronto eterno entre esquerda e direita, sendo a esquerda algo sublime. Esta ficção retira seu poder do GOZO imaginário de uma “esquerda” que finalmente alcançou o poder quando a noiva já havia sido prostituída. Cristina Kirchner mandou assassinar Nisman? Ela se deixou possuir pelo fantasma nazista do peronismo de Perón e Evita? Evita teve como amante e guarda costa um importante membro da SS. Cristina Kirchner é parte de uma máquina freudiana terrorista complexa, grupal e antissemita que usa o ato terrorista como se fosse um recurso legítimo da política argentina. Afinal, o governo de   Cristina Kirchner é a junção do nazismo peronista (Perón/Evita) com a cultura totalitária terrorista da ditadura militar argentina? Até quando, o Cone Sul vai viver neste encarceramento mitológico lusolatino da política como divisão entre esquerda e direita?
VENEZUELA/Brasil
 “O Governo pode dizer o que quiser para esconder o fracasso do seu modelo econômico, mas estes são os dados: é o país com a inflação mais alta do mundo, há escassez severa, as pessoas fazem fila para comprar produtos e faltam bens essenciais, há queda de investimento. Isso não é exagero algum. Agora, quando passam daí a dizer que o país não tem solução, que as pessoas vão passar fome na rua, que o Governo está caído, que em qualquer momento haverá uma explosão social… isso são hipóteses, acredito que se exagera”. Diretor do Datanálisis, o venezuelano Luis Vicente León é um opositor civilizado e otimista de Maduro. Ele lembra o personagem de Voltaire, Cândido o otimista. No entanto, a simbolização que ele faz da crise venezuelana aponta para uma conciliação com o bolivarianismo: “Há governos socialistas modernos cujas economias funcionam, onde as pessoas não têm que fazer fila para comer, onde o trabalho mais importante do país não é ser vendedor ambulante dos produtos que o Estado dá de presente com controle de preços, e que você faz quatro horas de fila para comprar. Isso não acontece na Nicarágua. Nem no Equador de Rafael Correa, ou na Bolívia com Evo Morales. Então, qual é a diferença? Que a Venezuela aplica um modelo de controle extremo, quando a maioria dos neomarxistas mostra que é impossível dirigir um país afugentando o investimento privado, controlando e intervindo na economia do Estado.” A crise do chavismo (e da Venezuela) é o resultado da construção de um modelo stalinista, totalitário. O modelo neomarxista (Equador, Bolívia, Nicarágua) não é stalinista, ou seja, totalitário. A chave é o papel do setor privado na economia que deve partilhar a hegemonia no bloco no poder com o capitalismo de Estado. Mas trata-se da transição entre modelos: “Além disso, se afinal se dessem esses fatos radicais que desestabilizassem o Governo e o tornassem ingovernável, quem se beneficiaria? Não pode se beneficiar uma oposição que não tem nem estrutura, nem organização nem liderança para amarrar essas massas. Passaríamos de um Maduro eleito pelo povo para um bicho que seria escolhido pelos militares para sustentar o poder”: uma ditadura civil-militar!
A diferença em relação ao Brasil é a seguinte. Na Venezuela, o presidente Maduro procura pontes para evitar a lógica do pior. É verdade que a hecatombe venezuelana está mais visível no mundo da vida para a população venezuelana do que a crise brasileira para os brasileiros? O Sudeste brasileiro está vivendo a possibilidade de ficar sem água e sem energia elétrica, irreversivelmente, nos próximos meses ou nas próximas semanas. A cidade de São Paulo já vive a crise hídrica no cotidiano. O parque industrial de São Paulo está em um processo econômico de desintegração acelerado. A cidade é um verdadeiro inferno na Terra com seus engarrafamentos ciclópicos. São Paulo é o rabicho da civilização moderna ocidental entre nós. O estado e São Paulo é o centro geopolítico estratégico do capitalismo e da República. Em São Paulo, a lógica do pior já se transformou em lógica da desintegração: “tudo que é sólido desintegra no ar”. Maduro está começando a s, imbolizar a crise de seu país. Entre nós, Dilma Rousseff continua agarrada ao gozo do poder ou a elaboração de uma solução imaginária para a crise brasileira. Estou falando, obviamente, da solução neoliberal ligada a esta nova entidade da política brasileira: xifópago neoliberal (PT/PSDB).  A elite brasileira construiu uma passagem estreita entre duas formas de alienação: a) a submissão a leis que fazem da invenção o grau zero da política; b) a consciência alienada que vive a política como jogo arbitrário de acontecimentos aleatórios, ininteligíveis.
USA/CHRISTOPHER LASCH
Há uma reflexão sobre o totalitarismo americano que a ciência política universitária americana ignorou, se definindo com a parte substancial da cultura meritocrática: “Não é de surpreender, portanto, que a meritocracia gere também uma preocupação obsessiva com a autoestima”. Tal cultura é, essencialmente, narcísica e gera (e é gerada e alimentada por) máquinas de guerra universitárias narcísicas. Como ela ditou os axiomas para a ciência política universitária brasileira, acredito que o tema posso interessar a nossa juventude (e da América Latina) do   campo das ciências humanas. A ciência política americana estabeleceu, na Guerra Fria, que a União Soviética era totalitária e os USA democrático. Tal contradição congelou a simbolização do significante totalitário nos EUA. Ele não pôde ser integrado ao inconsciente político americano, a não ser na superfície do Imaginário deles que dominou a política mundial. Ele foi assim semiforacluido de toda a vida americana. A ideologia sobre o totalitarismo é a ideologia que cobre com um véu (ou uma burca) a cultura política totalitária americana. Ela é um artefato simbólico totalitário. No entanto, inconscientemente, ou seja, sem saber que sabe, a elite universitária americana formulou (e ainda formula) um semidizer sobre o totalitarismo americano. Ela sempre semidisse: “Nos Estados Unidos, a ‘América média’ – termo com implicações ao mesmo tempo sociais e geográficas – simboliza tudo que atrapalha o progresso: ‘valores familiares’ (patriarcais), patriotismo irracional, fundamentalismo religioso, racismo, homofobia, opiniões retrógradas sobre as mulheres. Os americanos médios, como os formadores de opinião culta os veem, são irremediavelmente deselegantes, grosseiros, provincianos (...) vagamente ameaçadores porque a maneira de se defenderem da antiga ordem é tão irracional que se expressa, em toda a sua intensidade, no fanatismo religioso, na sexualidade reprimida que ocasionalmente explode em violência contra as mulheres ou gays, e num patriotismo que apoia as guerras imperialistas e uma ética nacional de masculinidade (branca) agressiva”. Como o leitor pode ler, Larsch descreveu, na década de 1990, o conteúdo da cultura política totalitária americana no mundo da vida habitado pelo homem médio, e a família média americana: a maioria da população. Esse enunciado sobre o homem médio era uma arma do pathos da distância da meritocracia contra o povo americano. Em um sentido positivo, a esquerda americana transformou tal pathos em multiculturalismo. Este foi a ideologia que sustentou, sem o saber, os movimentos de minoria (negros, mulheres, gays etc.) contra o criptototalitarismo. Se eles tivessem se tornado um movimento cultural contratotalitário, a simbolização da realidade política totalitária não estaria neste ponto morto da vida americana. Tais movimentos deveriam ter sido a simbolização do totalitarismo para fazer progredir geometricamente a cultura política liberal e a contracultura política libertária. Agora, Inês é morta! O primeiro presidente negro oriundo da cultura liberal, transformou-se em uma fatal máquina de guerra totalitária. Como os USA é o centro tático da política mundial, o tema talvez interesse àqueles que ainda não ensarilharam as armas da crítica sobre a política mundial!    
Crise/Brasil
Se houver algum grau de verdade na notícia do Estadão, há um grupo de áulicos aconselhando a presidenta. Trata-se de pequenas máquinas de guerra freudianas cortesãs (petistas) A eleição para o comando da Câmara foi um dos episódios da temporada de divisões do G6, que, além de Mercadante, abriga Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Jaques Wagner (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça) e Ricardo Berzoini (Comunicações). Mercadante é visto pelo G6 como o cardeal Mazarino de Dilma Roussef. Ele é o crème de la crème da política cortesã stalinista. Haveria uma emulação – disputa cortesã – no grupo que o jornalismo toma como um problema de relações pessoas: ambição. De facto, o gozo do poder seria mais preciso para explicar a luta no G6. A luta entre pessoas (Mercadante versus Jacques Wagner) é também uma luta entre os ramos do aparelho de Estado: entre a Casa civil e o ministério das Forças Armadas. Trata-se de um conflito entre o poder civil e o poder militar para estabelecer o dominus (master) sobre o Estado brasileiro. Quem irá se transformar no master da política nacional?  As pequenas máquinas cortesãs movimentam-se nos jogos da corte para impor a melhor solução para a crise. Se houver lógica em tal disputa, Wagner deve aparecer como defensor de uma estratégia de contenção das ruas pelo Urstaat. Quando governador da Bahia, ele construiu uma espécie de Urstaat baiano. A Polícia Militar foi transformada em uma máquina de guerra jagunça de uma cultura política totalitária local. Wagner tratou o povo de Salvador como se fosse o povo do arraial de Canudos. Se ele vencer na disputa, um novo Euclides das Cunha deve surgir para analisar e narrar a solução do ministro do Exército para a crise brasileira. Segundo uma abordagem recente da crise final do Império, uma crise hídrica foi a causa imediata e material da desintegração do Império de Pedro II e da princesa Isabel...   
Carnaval/Crise
Uma parte da população está perplexa com a demonstração de alegria, despreocupação etc. da classe média do Rio e de São Paulo. É esta classe que está proporcionando a alegria dos jornalistas da televisão, principalmente da Globo News, a tv por assinatura do Sistema Globo. A festa é vivida por massas que parecem ignorar a possibilidade da articulação do carnaval à superfície política do mundo da vida. O carnaval de 2015 não é o carnaval de Bakhtin  (a festa usada para subverter os axiomas do poder) e nem o carnaval de Maffesoli (a festa como expressão do vitalismo do povo brasileiro). Nesta semana de temperaturas sertanejas de fevereiro, o carnaval é um significante filiado ao mundo colonial brasileiro, à cultura política luso-brasileira. A propósito, os ataques de antropólogos petistas à Gilberto Freyre no canal Brasil são uma espécie de delírio associado ainda ao fantasma da Semana de arte Moderna paulista. A pauliceia desvairada agradece!
O narcisismo é a categoria elementar para a leitura do carnaval de 2015. Ele é o significante-mestre da cultura luso-brasileira. Esta é uma cultura política narcísica. A lógica da sociedade do espetáculo adora uma explosão de narcisismo como esta que tomou conta das ruas do Rio e de São Paulo. Ela é um aparelho que alimenta o narcisismo das massas. Tal explosão indica que as massas estão se excluindo da dialética multidão versus despotismo (Urstaat). O narcisismo do homem e das mulheres coloniais significa uma subjetividade capturada pela lógica da cultura totalitária/oligárquica colonial. O poder colonial foi um amálgama de lógicas oligárquica e totalitária. O narcisismo é fenômeno da admiração do sujeito por sua imagem, por si. Nesta festa, o sujeito é a massa que pula, dança, canta, beija etc., ou seja, participa da orgia carnavalesca. A massa goza por ser admirada entre seus pares na rua e na tela eletrônica da sociedade do espetáculo. Para o totalitarismo, a estética de massa deve ser artefato de legitimação do poder. O carnaval de 2015 se enquadra na estética de massa totalitária. O governo está interpretando o carnaval corretamente: a massa de classe média foracluiu a crise brasileira. Enquanto dez mil vão à rua protestar, milhões festejam como no filme Nosferatu de Werner Herzog. Diante da peste negra, enquanto os cadáveres apodrecem o povo ainda vivo baila na rua!     
VEJA e a esquerda brasileira
É preocupante os rumores de que a revista Veja está com problemas financeiros insolúveis. O Acervo digital dela é uma fonte de grande valor para a investigação da política brasileira desde a década de 1980. É verdade que em algum ponto da linha do tempo Veja adotou uma linha editorial claramente neoliberal. Então, as informações que podem ser usadas na pesquisa da política tornaram-se raras. Por outro lado com a era petista no governo federal, ela se transformou no quase único artefato ideológico de oposição ao PT, mutatis mutandis, ao bolivarianismo. Na era Lula-Dilma, a famigerada e inexorável hegemonia do PT se consolidou por cooptação em massa dos intelectuais enredados no financiamento público de jornais e revistas. O BNDES teve um papel econômico decisivo na materialização de tal hegemonia. Uma massa intelectual tornou-se orgânica através de sua ligação econômica com o Estado. Mas também por sua crença ideológica no socialismo do PT. Doce e inefável crença! A ideologia é um fenômeno material, pois não é possível dissociar a produção de pensamento do corpo. Mas Althusser mostrou a materialidade da ideologia por sua inscrição ritual no mundo da vida, por sua inscrição prática: “ajoelha e reza!” Até no Facebook funciona tal hegemonia através dos grupos espalhados por todas as áreas de conhecimento. Uma investigação sobre tal formação intelectual petista pode iluminar um período da história política brasileira. O PT é uma Igreja que possui vários satélites (partidos=seitas) na assim chamada “ultraesquerda”. As seitas elaboram no Imaginário de esquerda um simulacro de oposição ao PT. Elas pretendem capturar a juventude pelo trabalho do imaginário que jamais articula a parte (lógica da facção/seita) ao todo. A facção volta-se para si em um movimento browniano narcísico. Ela se filia assim à cultura política colonial, por excelência narcísica. Nada mais narcísico do que homens e mulheres do engenho. A criança da classe senhorial tinha uma educação voltada para a sua constituição em um adulto narcísico. Gilberto Freyre analisou e narrou sobre o narcisismo colonial no seu maravilhoso “Casa Grande e Senzala”. Como está ficando claro a filiação da esquerda à cultura narcísica senhorial, a massa intelectual de esquerda apontou todos os seus canhões para destruição simbólica (que é também uma desintegração material) de Gilberto Freyre. O narcisismo constitui a lógica de qualquer máquina de guerra freudiana. A primeira lei da máquina surgiu assim. O narcisismo é um significante universal da história universal da espécie humana como um dos elementos constitutivos da máquina de guerra. Esta para existir depende da assimilação de doses maciças, em um determinado tempo, de energia narcísica. Ou dizendo de outro modo, quando o sujeito (individual ou coletivos, ou institucional) recebe doses maciças contínuas, em um determinado tempo, de energia narcísica torna-se uma máquina de guerra freudiana. Esta lei explica o existência da mídia eletrônica visual como produtora de máquinas narcísicas, pois ela funciona, diariamente, aplicando doses maciças de energia narcísica na população. O engenho ex-sistia pela lógica da autarquia. O engenho era autossuficiente na economia, na política e na cultura. Isso é a lógica concreta narcísica do inconsciente político brasileiro. O engenho foi a primeira máquina narcísica colonial de produção de máquinas de guerra freudianas. As ciências sociais satélites da hegemonia petista procuram evitar que Gilberto seja lido pela juventude. Como campo simbólico, a era petista é a nossa idade das trevas!
DINAMARCA/ISLÃ (17/02/2015)
“Há anos a polícia já desativou planos para atacar o jornal Jyllands-Posten", afirma. Precisamente esse jornal dava o passo que a primeira-ministra não tinha querido dar ao falar de uma "guerra de religiões". "Na Europa há uma guerra cultural e de valores, mas também uma guerra religiosa. Precisamos reconhecer isso se quisermos defender nosso modelo de sociedade", dizia o editorial do jornal que ficou famoso ao publicar, uma década atrás, caricaturas de Maomé que geraram uma onda de violência”. (El País)

Esta elaboração da direita dinamarquesa tem uma versão na ciência política americana. Trata-se do livro “Choque de Civilizações” de Samuel Huntington.  “Em linhas gerais, a tese de Samuel Huntington consiste no fato de que as explicações para os conflitos presenciados no mundo atual não são essencialmente ideológicas ou econômicas, mas sim de origem e de ordem cultural. O autor toma o cuidado de afirmar que as nações-Estado continuam os agentes mais poderosos nos acontecimentos globais, mas frisa que os conflitos internacionais envolverão cada vez mais diferentes civilizações. As linhas de cisão entre as civilizações serão, argumenta, cada vez mais as linhas de batalha do futuro, inclusive dentro de países tensionados por questões étnico-religiosas”. O erro elementar do choque cultural é não fazer distinção entre cultura e cultura política. As duas articula o mundo da vida. No entanto, há uma clara autonomia relativa entre elas. O livro de Samuel é deveras complexo para ser traduzido em uma discussão neste microtexto. Mas quanto à direita dinamarquesa podemos ver que ela ou opera no seu discurso político com a identidade absoluta entre cultura e cultura política, ou, então, há uma lacuna no discurso político: a ausência do significante cultura política. Nos dois casos, o efeito é o mesmo! A direita segrega uma ideologia na qual a religião islâmica aparece como um artefato simbólico totalitário. Há mais coisas entre o céu e a terra que a vã (e abjeta) ideologia da direita possa imaginar. Como o Islã, qualquer religião monoteísta tem a sua vulgata religiosa (materializada no dia-a-dia da população através, principalmente da liturgia) prenhe de elementos que podem ser (e são) metabolizados por uma cultura política totalitária. Tal cultura é articulada por um processo de simbolização que concebe a política como guerra.  A cultura totalitária islâmica existe e o modelo dela não é o nazismo, apesar do Estado islâmico ser um artefato da interseção da cultura totalitária islâmica com, inconscientemente, o totalitarismo alemão. No Brasil, os estudos sobre o Islã da cientista política e historiadora Beatriz Bissio iluminam tal qui pro quo. Leiam especialmente seu livro “O mundo falava árabe”. O livro de Samuel deve ser relido a partir do livro de Beatriz. A religião islâmica não pode ser vista como uma religião que tem uma concepção da política in nuce como guerra. É certamente uma religião articulada pelo discurso do mestre (Maomé), mas tal discurso parece derivar em totalitarismo e em outra forma de cultura política não-totalitária. O Brasil colonial foi banhado por tal cultura islâmica não-totalitária. Trabalhar na política com a autonomia relativa entre o Islã e o totalitarismo islâmico é o mínimo que se pode fazer para evitar que a direita seja o dominus absolutista da política mundial. A direita dinamarquesa é apenas um sinthoma do pensamento político da direita mundial. A cultura política libera dinamarquesa deve ser tomada como um modelo para a política mundial: “Horas antes, a primeira-ministra, Helle Thorning-Schmidt, tinha enfatizado a necessidade de distinguir os violentos dos muçulmanos. ‘Não estamos diante de um conflito entre o Ocidente e o islã’, disse a líder social-democrata em um pronunciamento à imprensa internacional’. O pano cai!            

Um comentário:

  1. Passo por aqui quase 10 meses depois e gostei. Como se trata de um texto sobre conjunturas, há questões que estão "datadas" (PS: não gosto desta palavra). Lida 10 meses depois, a questão islâmica desdobrou-se. A parte ISIS, por exemplo, já é o neo-nazista, ainda que isto - claro - não contamine todo o Islam. O final do texto mostra bem. A concepção de "guerra de civilizações" é uma bobagem, e isto é preciso que se diga claramente. Há, ainda, muito discurso "de esquerda" no texto, apesar do ótimo comentário sobre a suposta divisão esquerda X direita. Talvez seja um desejo de "recuperar" o marxismo. Há, ainda, um pânico com o fantasma do capitalismo. Há muitos capitalismos (crown capitalismo e crony capitalismo, principalmente) e aquela tradicional concepção marxista, fundamentada em uma suposta mais-valia, é inútil. Eu fico com Freud e com o pouco que li de Nietzsche, porque ambos nunca precisaram se ancorar em Marx para nada. Enfim, gostei, mas quero ouvir mais.

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