José Paulo
A FALSA CRISE DA ESQUERDA TEÓRICA
Há um debate no Sudeste sobre a
crise da esquerda como efeito da derrocada final do bolivariano na América
Latina. No Brasil, fala-se da desintegração do lulismo, pois, Lula está prestes
a ser encarcerado. Sem Lula, o PT fica reduzido a um partido médio com grandes
chances de se tornar um partido nanico nas eleições 2018.
Como PCdoB, PSOL, PCO, PSTU não
possuem expressão prática na política brasileira, é fácil aceitar a crise
prática da esquerda brasileira. Além da crise prática estes partidos (incluindo
o PT) vivem um colapso teórico, pois, nada praticam do marxismo. Tais partidos
não sabem manejar o marxismo do século XX russo ou asiático (ao qual eles naturalmente
são filiados) e desconhecem (ou fingem desconhecer) a rica e deslumbrante herança
marxista brasileira e latino-americana.
Ao contrário do que a sociologia rural
do PSOL prega, não há crise teórica do marxismo brasileiro. O Rio é a sede do
desenvolvimento de uma ciência da história marxista gramatical que faz pendant
com as filosofias marxistas de Zizek e Alain Badiou. Marxismo só há: o de Marx
e Engels. Os outros marxismos precisam de complemento como por exemplo
marxismo-leninismo, marxismo maoísta, marxismo ocidental etc. O marxismo
carioca é marxismo gramatical ocidental.
O marxismo ocidental gramatical
age na internet (blog josé paulo bandeira e Facebook- Internacional Marxista
gramatical) e tem vários livros recentes publicados na editora digital
amazonan. O ensaio sobre o capitalismo profundo mundial (“Gramatologia do
capitalismo neocolonial do terceiro-mundo”) lança a discussão sobre a história
brasileira (e a nossa política) para um outro patamar. Muitas ideias do
marxismo gramatical estão sendo usadas como se fossem fatos pela esquerda
partidária-universitária. Esta esquerda não cita o marxismo gramatical, não
nomeia o marxismo gramatical como a única fonte intelectual de produção de
ideias originais no país do lado esquerdo.
A produção universitária, o
jornalismo dominante e os intelectuais em geral (os paulistas dominam a cena)
fazem de conta que o Rio não é a sede da vanguarda intelectual brasileira. Há
ressentimento, logo, niilismo cultural agindo nesta experiência de não tomar o
marxismo gramatical ocidental como o gramático da cultura nacional em um país
sem nação.
Então, há uma crise prática da
esquerda brasileira em um desenvolvimento desigual e associado com o
desenvolvimento teórico do marxismo carioca. Ao contrário do que diz a esquerda
partidária, não há crise teórica da esquerda, não há crise do marxismo das
Américas.
“CENAS
DO CRIME”
À desorganização da cultura
carioca nos últimos tempos podemos atribuir a passagem em brancas nuvens (para
o grande público letrado) de um livro como “Cena do crime”, do professor de
literatura da PUC, Karl Erik Schollhammer, de 2013.
O livro é uma obra erudita em
marxismo sobre a estética do trauma e a cultura experiência do choque que
define a própria modernidade – o choque perceptivo da mudança, da velocidade,
da desagregação e da alienação. A estética do trauma aparece como uma arte e
uma literatura que radicalizam a estética do choque e que, ao ativar o poder
estético negativo, procuram romper a anestesia cultural da realidade da
sociedade do espetáculo de massa, anunciando um choque do real, que já não pode
ser integrado ou absorvido na percepção do homem comum do próprio espetáculo de
massa.
Um passo adiante da estética em
tela parece ser a estética forense da artista plástica mineira Rosângela Rennó
na obra “Apagamentos”; e também a estética neocolonial do terceiro-mundo na obra
de Artur Barrio “Trouxas ensanguentadas”. Com Barrio, a repressão violenta
criminosa da ditadura militar adquiriu realidade material metafórica com as
indicações dos pedaços de cadáveres desovados em inúmeros lugares. O discurso
estético de Barrio põe e repõe o Brasil no caminho da realidade neocolonial da
África profunda!
O passo a frente dado por Rennó e
Barrio se deve não mais a associação da estética com o capitalismo tardio de
Habermas, ou a modernidade industrializada de um Benjamin. Ambos artistas já
falam de um acontecimento (que eles antecipam em uma profecia estética) que só
se revelaria por completo na segunda década do século XXI.
Barrio se filia a estética
primitiva do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo presentes na
literatura de um Graciliano Ramos e no filme “Deus e o Diabo na terra do sol”,
de Glauber Rocha. Só que Barrio trata diretamente da violência santificada no
cadáver como corpo despedaçado, em uma cena de crime a céu aberto, pela
realidade do capitalismo mundial supracitado.
A estética forense de Rennó põe e
dispõe sobre a relação entre imagem fotográfica, cena do crime da ciência
forense, o real, a representação impossível da realidade morta e a história
como estética da pós-história: “a fixação fotográfica do cotidiano oferece um
fundo flagrante para a violência e o crime que aqui teve lugar”.
A estética forense se apropria
criminalmente da ciência forense ao revelar o sigilo jurídico-policial dos
arquivos e da arqueologia forenses. A quebra da percepção de mundo do legista
remete aquele que olha a obra de Rennó para um platô que associa a ciência do
legista na cultura da sociedade do espetáculo de massa com o desenvolvimento mundial
do capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo.
Na história da estética, o Brasil
viu a evolução das artes plásticas (e a fotografia da arte) como um posto de
observação das cenas de crime incompletas do capitalismo profundo neocolonial
do terceiro-mundo. Hoje, o capitalismo em tela alcançou sua forma completa como
a realidade mais pungente e vontade de potência dominante nas cenas de crime
estéticas espalhadas inclusive no capitalismo desenvolvido do primeiro-mundo
ocidental.
Talvez seja a hora de uma interpretação
das artes plásticas desterritorializada do contexto empírico no qual elas foram
geradas e reterritorializada na atualidade da presença presente do capitalismo
profundo neocolonial do terceiro-mundo.
O ASSASSINATO COMO MÉTODO
POLÍTICO
O assassinato de uma vereadora
carioca da esquerda revela a profunda realidade primitiva do capitalismo atual?
A esquerda intelectual orgânica
continua sua luta contra os estados de violência do homem que é um efeito intenso
da espécie de capitalismo existente na América Latina. Tal capitalismo faz
regressar a máquina despótica asiática (relação senhor-servo≅escravo político) que
sustenta toda a violência contra a mulher.
Por um lado, estamos diante de
máquinas de guerra militares no lugar do senhor; por outro lado, temos o
escravo político como povo da favela se expandido como povo da cidade.
A máquina de guerra despótica quer
impor sua ORDEM DESPÓTICA no morro e no asfalto, pois, agora ela faz suas operações
militares no asfalto, na cidade. Ela selecionou sacrificar uma mulher negra,
favelada, gay, com diplomas universitários e produção intelectual como um caso
exemplar de instauração da ordem despótica do capitalismo profundamente
primitivo neocolonial do terceiro-mundo.
O assassinato da vereadora é uma
operação de subtração típico de uma máquina asiática despótica. As massas
reagiram no Rio e em São Paulo e fora do Brasil porque sabem que o capitalismo
está reterritorializando os código e fluxos de uma ordem despótica asiática
como capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
As lutas das massas de classe
média contra a máquina despótica asiática podem se constituir em fluxo que
abale a aliança do Estado real com a ordem despótica asiática? Há um certo
ceticismo realista da sociedade civil progressista quanto isto. AS redes
sociais funcionaram como máquina desejante despótica ao enxovalhar a imagem da
vereadora e subtrair a importância do assassinato político como método de luta
da direita canibal contra a esquerda ilustrada.
A morte de Marielle pode significar
a militarização do campo de lutas entre direita e esquerda, pois, as redes
sociais legitimaram o método do assassinato político como parte das lutas
esquerda/direita. Podemos assistir um confronto entre a máquina despótica do
capitalismo neocolonial (e suas massas da direita brasileira) e as massas progressistas
de classe média aliadas às massas das favelas?
DO NOSSO ESTADO REALMENTE
EXISTENTE
O México é o país que tem a forma
mais completa do Estado na América Latina? Não se trata de um Estado-nação; o
aparelho repressivo é entrelaçado como o crime de fio a pavio; não há mais a
divisão clara entre Estado legal e Estado real; o crime tomou conta dos de cima
e dos de baixo. A grande cidade é um valhacouto da bandidagem privada e
pública. A política se transformou em uma forma expressiva das relações de
produção e formas produtivas do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo
criminal.
O que está em cima é igual ao que
está em baixo. Os lados do polígono da política não se sustentam mais como
esquerda/direita, liberalismo/socialdemocracia, fascismo/socialismo. A
ideologia política que era um véu diáfano que permitia aos sujeitos políticos
falarem da política se rasgou.
Na economia, a economia política
legal privada e pública encontra-se misturada com a economia lumpesinal
criminal. O Estado detém o monopólio da fabricação e venda de munição. Só as
forças armadas e policiais podem comprar tal munição. O Fim da separação entre
Estado legal e Estado real significa que as forças militares e policiais fazem
parte de um mercado de munição para os cartéis de drogas e outras organizações
criminais. Não se trata de desvio de munição! Rigorosamente, o México só é um
país geograficamente, pois, suas fronteiras ainda não foram invadidas por
outros países.
O comércio estatal de munição faz
da política representativa oficial mexicana uma farsa mantida pela minoria
branca que domina o país. No México, a corrupção dos agentes estatais tornou-se
uma segunda natureza da cultura política deste país. Organizações criminosas
oligárquicas dominam territórios inteiros autônomos em relação ao poder
central. Tais oligarquias tem suas frações criminosas dos de baixo que
funcionam como poder policial de controle da população. O Kriminostat não é um
conceito sociológico acadêmico, é a própria realidade dos fatos mexicanos.
Se o México é a forma mais
completa de Estado latino-americano, isto significa que os outros Estados
latino-americanos caminham na direção do desenvolvimento de um Estado mexicano?
No México, a televisão e o jornalismo em geral são um efeito dos estados de
violência do capitalismo profundamente primitivo neocolonial. Eles usam uma
linguagem que não oculta mais a situação neocolonial do país. O mexicano perdeu
a inocência, a ingenuidade e a esperança de um retorno aos tempos que o país
não era dominado pelo capitalismo neocolonial.
O ATO DE COLHER O OBJETO POLÍTICO
COM AS MÃOS
Zeus envia Mercúrio para dar uma
inteligência política ao seu inimigo, o homem, a fim de que este não pereça
desamparado da Providência (=Prometeu acorrentado tendo seu fígado comido por
abutres). O começo do saber é a ação cognitiva como o ato de colher um objeto
com as mãos como faz o detetive ao recolher os cartuchos de bala na cena do
crime.
A inteligência política é o ato
de colher o objeto político com as mãos. A elite política brasileira entende a
inteligência como ato de recolher para si com as mãos o objeto político
(=dinheiro público). Aí é o fim da nação!
Tal inteligência política está se
tornando o paradigma da inteligência política ocidental e mundial? Ela definiu
a inteligência política colonial dos séculos coloniais na aurora da época
moderna. Ela possuía uma forma de Estado (Estado patrimonialista), o Estado
privado da casa real do império português ultramarino. Neste, a inteligência
política é o ato de saber do rei ao colher com as mãos o objeto político
riqueza imperial ultramarina.
A burocracia moderna já é uma
abstração ou desterritorialização da espécie de inteligência real. O que
significa o ato de colher com as mãos o objeto político pela inteligência
burocrática moderna. É ao ato do racionalismo instrumental que faz igual a
inteligência privada capitalista e pública estatal condensadas no aparelho
econômico privado (capitalista) ou no aparelho político-burocracia-pública (do
Estado-nação).
Ao domínio da ordem
patrimonialista sucede o domínio da ordem capitalista. Nesta, o saber é o ato
de colher com as mãos a riqueza das nações. Lacan define o rico como aquele que
não quer pagar nada à Nação. Trata-se do trans-sujeito capitalista. Porém, a
realidade capitalista é um processo objetivo de produção de mais-valia ou
excedente. O excedente é o objeto recolhido pelas mãos do capitalista e da
sociedade como Estado-nação. Há este antagonismo (confronto aberto ou oculto)
pela disputa do colhimento do excedente entre o privado capitalista e o público
estatal.
Há uma gramática em narrativa
lógica na realidade capitalista que significa a redução do Estado-nação ao
Estado mínimo no recolhimento com as mãos do excedente. Contradições clamorosas e
fatais surgem nesta narrativa supracitada. Por exemplo: quem ou o quê (qual
aparelho repressivo) vai garantir a segurança pública e privada do rico? O rico
pagar privadamente pela segurança do rico não sai mais caro, e ineficiente, do
que a segurança pública do rico?
O rico tinha chegado à conclusão
de desacorrentar Prometeu, colhendo com as próprias mãos um objeto político: o
Estado Providência. Trata-se de uma inteligência política avançada que se
afasta da inteligência primitiva do rico capitalista na aurora do capitalismo
moderno. No século XXI, há um regresso à inteligência primitiva do rico
capitalista original do início do século XIX.
Fazendo pendant com esta
inteligência primitiva, uma nova era deslumbrante, sem ética capitalista
weberiana, de acumulação primitiva de capital se define por não concentrar capital
nas nações. Isto se chama a desterritorialização capitalista primitiva da
nação. A ação cognitiva como o ato de colher um objeto com as mãos do rico se
desfaz da inteligência burocrática (abrindo mãos do saber universitário
civilizador) e busca se definir como ato cognitivo de colher o objeto da
política com a mão do rico capitalista no lugar do Rei patrimonialista!
DA NOVA DIREITA
O crime que sacrificou a
vereadora negra do PSOL e seu motorista Anderson é um CRIME POLITICO? Nas redes
sociais, uma certa direita fez propaganda de que se tratava de um crime comum
envolvendo lutas de facções criminosas do tráfico, milícia, polícia. Trata-se
de uma cortina de fumaça!
A polícia do Rio está confusa,
pois, tem a cena do crime, o cadáver, mas não tem o motivo! A polícia não sabe
investigar crime político, pois, o motivo do crime é muito complexo e extrapola
a cena do crime, em parte.
Então resta trabalhar com
hipótese científica da ciência da história.
O crime político Rio 2018 é um
fato histórico. Ele produz um efeito cristalino na política em ano eleitoral. O
efeito é o surgimento da NOVA DIREITA!
A Nova Direita surge como
organização criminosa paramilitar (mais complexa do que a organização
paramilitar da Colômbia da era Pablo Escobar até hoje) com redes criminosas
civis na internet (redes sociais digitais).
O crime corporal físico foi
cometido no asfalto de um bairro do Rio parece que sob domínio do Comando
Vermelho. Trata-se, portanto, de uma verdadeira ousadia! No entanto, há a
continuação do crime físico por outros meios, meios culturais (que assassinam o
corpo da alma) quando uma desembargadora, um deputado federal civil, um
delegado de polícia do Recife e Marcos Feliciano (pastor-deputado federal)
fazem publicidade nas redes sociais do crime contra a esquerda como método
político.
Para completar esta tela
gramatical em narrativa lógica, o candidato real Jair Bolsonaro (primeiro lugar
nas pesquisas de intenção de votos) manteve um silêncio sepulcral sobre o
assassinato político. Na política, quem cala, aprova!
A eclosão da NOVA DIREITA
significa uma inflexão na política em geral e na política eleitoral, em
particular, pois, ela faz do assassinato um método político de subtração de
intelectuais da esquerda, começando com os intelectuais orgânicos. Para
completar este quadro macabro, a esquerda prática e teórica faz de conta que se
trata de uma tempestade no deserto australiano e usa a tática canguru: enfia a
cabeça debaixo da terra política, esperando passar a tempestade.
Talvez, a tempestade australiana
passe e não retorne, pois, ela não obteve o efeito que pretendia. Ela teve a
pretensão de unificar toda a direita e o centro-direita com a palavra de ordem
de que a esquerda está se autodestruindo por se encontrar envolvida nas lutas
das facções criminosas e outras organizações criminosas. Neste final de março,
a Nova Direita foi derrotada na internet graças à intervenção da grande mídia
(papel, audiovisual, rádio) no acontecimento.
Agora, fica a expectativa de que
a imaginação galopante ferrabrás da Nova Direita planeje um novo evento
eleitoral!
SOPHIA E ANJOS
Uma ideia da antiguidade é aquela
que diz que a “sabedoria” (Sophia) buscou morada entre os homens e não
encontrando foi habitar com os anjos.
O uso capitalista do saber
associa a Sophia a uma mercadoria, associa a sabedoria à ideia de interesse
econômico. Tal ideia capitalista dá sentido à busca da sabedoria na idade
moderna (como razão instrumental) em um contraponto a atividade angelical de Sophia.
Como professor público lecionei uma
atividade de conhecimento e ganhava um provento para isso. Como nunca associei
a busca do saber universitário ao meu interesse econômico, vivo com uma
aposentadoria que é a metade da aposentadoria que a carreira universitária podia
me proporcionar.
Hoje, a oligarquia quer substituir o trabalho assalariado
universitário por trabalho voluntário não-pago. Trata-se de um modo tacanho
oligárquico do extremo-Norte de ver a atividade universitária como Sophia
angelical vulgar.
Dominando o Congresso de
Brasília, tal Sophia angelical oligárquica caipira é, de fato, um efeito
primitivo na mentalidade oligárquica do desenvolvimento - no terreno da cultura
- do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo. Agora, tudo que é primitivo
(primitivo, selvagem, bárbaro, civilizado) se refere a oligarquia neocolonial
que vai tomando conta do país. Ontem, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu
se tornar uma oligarquia por antecipar uma decisão que retira da cadeia todos
os políticos e ricos corruptos condenados em Segunda-Instância.
O STF assim agiu para tornar Lula
o candidato que vai para o Segundo-Turno com o antigo capitão do exército
Bolsonaro militante direitista da era da Ditadura Militar 1968. Bolsonaro é o agente político de uma
mentalidade militar que define política como continuação da guerra por meios
políticos que pode abraçar o terrorismo político de Estado ou paramilitar. A
concupiscência política (ambição pelo objeto político como luxúria) de
Bolsonaro e dos bolsonaristas (redes sociais digitais e famílias) faz pendant
com o uso da violência política no processo eleitoral.
Curiosamente, os loucos batalhões
bolsonaristas se veem como fruto de uma política angelical contra o dragão da
maldade que trouxe o caos ao país. Bolsonaro é um primitivo cristão, mas não é
um cristão primitivo!
Com Lula no páreo, a luta
eleitoral 2018 ganhará contornos do “Apocalipse Segundo São João”?
MARCAS GRAVADAS SOBRE AS COISAS
A invenção da incultura
audiovisual dá um passo à frente da cultura linguística do rádio. O rádio ainda
trabalhava com a palavra como meio de ação, como vínculo unificador dos entes
sociais, e rede coesiva da sociedade do homem, mulher e criança. Ao menos no
Brasil, a cultura do rádio não quebrou a cultura linguística oral popular que
fazia poetas (como Cartola) no domínio da música popular, sem escolaridade. A
cultura do rádio é organizada por uma gramática norma culta popular e o rádio
chegou a se constituir como um gramático da física e metafísica da ação da
cultura linguística da ação física e metafísica.
O audiovisual tornou-se
hegemônico na sociedade de comunicação na segunda metade do século XX. É uma
invenção desenvolvida nos Estados Unidos e metabolizada por uma infinidade de países.
Segue-se aí o fim da hegemonia da cultura linguística. Os signos da língua
deixam de articular as práticas na cultura de massa e na política. A imagem
eletrônica assume o lugar da palavra. Esta é abandonada como unidade de
investigação das ciências da língua ou da linguagem. O caos se instala no uso
da língua e a palavra perde sua força de direito ou efeito de realidade. Diz o
ministro Barroso do STF: “as palavras perderam o sentido, entre nós”.
O audiovisual é uma “linguagem”
produzida segundo as leis da natureza da máquina de produção de imagens
eletrônicas. As “palavras” do audiovisual não se produzem conforme o desejo
(libido) do homem e que serviriam como etiqueta significativa dos seres. Não
são, portanto, um meio de comunicação para vincular as pessoas entre si. De fato,
as “palavras” do audiovisual “são marcas gravadas sobre as coisas”.
Tomando a violência como
carro-chefe do audiovisual, as imagens da violência se constituem como marcas
gravadas sobre as coisas, especialmente a cena do crime e o cadáver desta cena.
Neste andar da carruagem, a violência é a coisa gravada como audiovisual. Tal
fato significa o colapso da cultura linguística no século XXI?
A esfera da comunicação digital é
uma retomada da cultura linguística por outros meios. No entanto, nesta esfera,
o uso da língua culta convive com um uso da “palavra” digital que não obedece
às leis da cultura linguística, às regras da gramática. Ao contrário do rádio
de antigamente, o digital não se constitui como um gramático. Talvez, aí esteja
a causa de o digital não assumir o lugar de demiurgo (rhetor percipio) da
cultura linguística.
Como o digital é a incultura da
juventude, esta continua a ser alfabetizada no aparelho escolar em termos de
cultura linguística. Mas um certo caos está instalado na reprodução da cultura
linguística. Por um lado, a cultura linguística durava milênios. Por outro, não
é certo que o homem primitivo fosse incapaz de abstração. Mas ele desconhecia a
abstração lógica, filológica e gramatical.
A incultura linguística do
audiovisual e da esfera dominante do digital não significa uma regressão do
homem, mulher e criança do século XXI ao estado linguístico do primitivo? Pode
haver luta contra tal estado de homem primitivo?
A luta só pode se realizar na
família (enquanto ela não é uma família do jovem gravado como coisa =
jovem-milênio), na instituição escolar e nas instituições culturais
linguísticas como a universidade, museus etc. Tal luta depende da organização
consistentemente linguística de uma burocracia patriótica que tenha amor à cultura
linguística nacional.
Nos EUA, há uma certa impressão
de que tal luta cultural linguística sofreu uma derrota sem precedente. A
América é o lugar onde o audiovisual faz pendant com o digital na articulação
da dominação que se estende da sociedade civil ao mundo-da-vida alcançando o
Estado federal tentando se reerguer como tal como poder imperial do capitalismo
neocolonial do terceiro-mundo, profundamente primitivo.
No século XXI, cada povo está
sujeito a fazer sua própria luta para não desaparecer como cultura
linguística!
LÍNGUA E IMPERIALISMO
Talvez, a relação política entre
línguas tenha ficado mais claro com o imperialismo linguístico romano. A
colonização romana dos outros povos incluía a substituição compulsória das
línguas vernáculas pelo latim. Roma deixava aos povos uma certa autonomia
política no domínio dos costumes políticos, mas obrigava a elite a falar e
escrever em latim. O imperialismo é antes de tudo o estabelecimento de um
Império linguístico político em latim na antiguidade.
Se Roma é um fenômeno linguístico
cultural político tout court, o imperialismo da modernidade começa como um
fenômeno de cultura linguística econômica. Por que é tão natural o inglês ser a
língua cosmopolita do planeta? Porque trata-se de um fenômeno cultural político
econômico que cria redes de comunicação econômica em inglês entre entes de
diferentes povos. O imperialismo moderno é econômico antes de se transformar em
um imperialismo político-militar.
No imperialismo econômico, a
América tomou o lugar do Império britânico. Usando a cultura linguística do
inglês industrial, os Estados Unidos continuam como a nação imperialista
linguística imitada por uma China capital-socialista (que tem a vontade de se
tornar um império econômico) que se comunica com o planeta em inglês.
Será que a China se tornará a
Roma imperialista do século XXI? Será que ela após dominar a economia
internacional das coisas irá impor o mandarim (economia política cultural
linguística dos signos) como veículo de comunicação econômico entre os países
satélites do imperialismo chinês?
Como não ver sentido político nas
estranhas decisões de Donald Trump sobre o comércio dos Estados Unidos com as
outras nações, especialmente com a China?
A história mundial atual é uma
luta de imperialismos econômicos (um estabelecido, o outro se estabelecendo
progressiva e aceleradamente) na era do capitalismo profundo neocolonial do
terceiro-mundo. Nesta era, a cultura linguística passa necessariamente pelo
audiovisual e pela linguagem digital.
O imperialismo do século XXI é
uma combinação de imperialismo linguístico fazendo pendant com o audiovisual e
digital do capitalismo dominante na terra, ou seja, o capitalismo neocolonial
do terceiro-mundo. A China tem boas chances de reinar com o imperialismo do
capitalismo se
Este futuro do presente chegará
nos próximos dez anos?
FILOSOFIA POLÍTICA E AS MENINAS
A filosofia política é a
filosofia que fala da política. Ela faz pendant com o direito no sentido do que
o que se diz, se faz. No direito, o poder judiciário faz o que diz que vai
fazer. E na política? Na era moderna da divisão do Estado em três poderes, o
poder legislativo diz o que deve ser feito pelo poder executivo. No
legislativo, a verdade é algo dito; mas as palavras precisam vir confirmadas
pelos fatos do dizer pelo poder executivo.
De qualquer maneira, o dito
precisa se transformar em fato. Isto lembra a conclusão litúrgica das orações,
que termina com amém. Ao dizer amém se manifesta o querer de que o dito se
transforme em fato. Falo aqui de práticas (ajoelhou tem que rezar) milenares.
Há fidelidade porque as palavras
vêm confirmadas pelos fatos do que se diz. Então, fé no que se diz, fiel ao que
se diz, fé no dito, eis as formas de um gramático milenar da filosofia política
(e do direito). A essência da crise da política e do direito encontra-se na
dissolvência do gramático em tela.
Se a política (e o direito) se
articulam pelo interesse econômico, há a transformação do gramático supracitado
em aparência de semblância. Pode ser esta em forma ideológica, mas não
necessariamente. A ideologia oculta a fidelidade do dizer; a semblância cria
uma superfície de aparências de que o dizer é fiel aos fatos.
Falando em fatos, a política
atual pode ser fiel aos interesses capitalistas e o dito senatorial se
transforma em fato capitalista. Um movimento de milhões de jovens americanos
luta contra o sistema capitalista industrial de produção de mercadorias de
armas de fogo. Tal sujeito gramatical (jovem americano) surge pela passagem dos
escolares pelos estados de violência do homem americano ligado ao capitalismo
militar. Os escolares são assassinados nas escolas por outros escolares que tem
o porte de armas de fogo de guerra.
Os jovens escolares sobrevivente
querem que o dito do movimento de massas contra a posse de armas por escolares
se transforme em lei. Esta é a filosofia política do movimento escolar
supracitado. Tal filosofia política se choca com o coração produtivo técnico e
desejante do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
A indústria de armas de fogo
mundial é a vanguarda do capitalismo profundamente primitivo neocolonial do
terceiro-mundo. Ela trabalha com a vontade de matar do homem. Até agora nenhuma
menina escolar providenciou assassinatos em série na escola americana. Tal fato
passa despercebido pela mídia e a cultura em geral. Curiosamente, as meninas
tomaram o comando do movimento de massas escolar contra o assassinato em medida
serial.
O movimento de massas escolar
encontra-se no centro tático do choque do sujeito gramatical (saídos da
passagem pelos estados de violência) com o capitalismo mundial. Trata-se do
capitalismo profundo neocolonial do terceiro-mundo que faz pendant com a
dominação do planeta pelo Banco, pelo capital fictício mundial.
Depois da luta da mulher contra o
uso capitalista de seu corpo sedutor, surge a luta do jovem escolar contra a
destruição de seu corpo e alma pelo capitalismo militar neocolonial do
terceiro-mundo.
CRISE BRASILEIRA – COLAPSO DO
PODER CIVIL
A crise brasileira passou por
vários estágios até alcançar a substituição da democracia liberal por uma
espécie de democracia representativa lumpesinal, versão avançada da democracia oligárquica. Na Grécia antiga, Aristóteles
reservava o significante democracia para a democracia direta lumpesinal. Nesta
democracia, o interesse econômico das massas determinava toda a política; os
ricos sofriam uma expropriação de sua riqueza sem esboçar reação. Tratava-se do
colapso do poder democrático da politeia.
A crise brasileira da democracia
liberal se deve aos interesses econômicos da elite do poder determinar toda a
política até 17 de março de 2014. Esta é a data da criação da Lava Jato.
Trata-se da atividade jurídico-policial (com centro judicial federal em
Curitiba) que passou a lutar contra a democracia representativa lumpesinal.
A Lava-Jato combate na esfera do
domínio do antagonismo entre o poder civil e o campo de poder lumpesinal. Este é
a corrupção do poder civil e, portanto, da democracia liberal.
O Rio de Janeiro se tornou o elo
mais fraco territorial da corrupção do poder civil e da democracia liberal. O
governador do Rio Sérgio Cabral e o PMDB fluminense (agora MDB negro para
diferenciar do MDB original do bem comum político das lutas contra o Estado
militar 1968) desenvolveram a prática da corrupção do poder civil, que acabou na
aplicação do Capítulo VI (Da Intervenção), Artigo 34 da Constituição 1988 ao
estado do Rio. O governo federal do PMDB escolheu como Interventor uma dúzia de
generais do Comando Militar do Leste.
A Intervenção não se tornou um
governo militar deixando o estado do Rio (e principalmente a capital carioca)
sem governo civil, logo, sem governo algum formalmente e na prática da política
territorial. Para o carioca, o colapso do poder civil é uma realidade
palpavelmente carnal e cruel.
Hoje, o poder civil se apresenta
como poder da política judicial que encarcerou centenas de indivíduos ricos,
políticos poderosos e altos funcionários estatais envolvidos em diversos
crimes, não só crime de corrupção. Este poder civil faz regressar do limbo da
pós-modernidade a categoria de legitimidade. Como? Ele estabeleceu uma relação
de legitimidade entre o poder do Estado e as massas. Assim, trata-se de um
poder que se defini como aquele que surge a partir da relação dos cidadãos
debaixo (poder da sociedade civil) com o poder da burocracia patriótica
estatal.
A instituição jurídica-policial
da prisão em Segunda Instância é a alavanca do poder civil brasileiro
17/março/2014. Tal instituição foi estabelecida pelo STF (Supremo Tribunal
Federal) em 2016. Hoje, a oligarquia política criminal usa a indelével
candidatura de Lula (condenado em Segunda-Instância) para fazer uma pressão
colossal com o objetivo de alterar o estado jurídico do poder civil brasileiro
17-março. A oligarquia criminosa quer acabar com a prisão em Segunda-Instância
lançando para as calendas gregas (condenação em Quarta-Instância) a prisão de
mais de uma centena de políticos julgados no STF. Seria uma fuga legal em massa
dos encarcerados em Segunda-Instância.
Trata-se da vitória da oligarquia
política criminal (e seus aliados ricos criminosos) sobre a Lava Jato. Vitória
da democracia representativa lumpesinal sobre a democracia liberal 1988. E por
via lógica a dissolução do gramático poder civil.
A oligarquia política em extensão
(participação do jornalismo e outras instituições da sociedade de comunicação)
já faz propaganda da solução do poder militar no lugar do colapsado poder civil.
Ela crê que um Estado militar (nos moldes da ditadura militar apoiada na
oligarquia senatorial de 1964) pode se repetir na terceira década dos anos
2000.
A gramática do STF decide no
início de abril sobre o fim do poder civil 17-março. É um pequeno passo frugal,
frutuoso, para os juízes e um passo ciclópico para a crise brasileira.
VIOLÊNCIA, NATUREZA E SOCIEDADE
A violência real é a protagonista
da programação da televisão, jornal de papel, rádio e universidade, enfim, da
cultura de massa (incultura) e da cultura acadêmica com sua abordagem da
política brasileira. Nesta, o governo Temer se define como violência política
contra o bolivariano petista.
No entanto, há discussão sobre a
causa da violência criminal dos de cima e dos de baixo? O cineasta Padilha diz
que a violência da corrupção tem como causa o que ele chama indeterminadamente
MECANISMO. Em 1966, o marxista aristocrático Caio Prado Jr associou a corrupção
à existência de um fenômeno objetivo: BURGUESIA BUROCRÁTICA.
A burguesia burocrática é o laço
gramatical entre o mundo privado das empresas capitalistas e o mundo público
dos interesses estatais. Para C. P. Jr trata-se de um fenômeno normal
suportável pelo país até que a burguesia burocrática se constitua em um SISTEMA
público/privado de alto grau de violência imoral, niilista e consciência
burguesa cínica do país.
Atribuir a violência burguesa da corrupção
ou a violência real armada dos de baixo contra a sociedade à natureza humana do
brasileiro, eis um argumento que só o militarismo em ascensão usa para
reivindicar uma disciplinarização (tentada no Estado militar 1968) conservadora
e reacionária do país.
Foucault com Rousseau diz que não
existe a natureza criminosa, e sim a criminalização dos sujeitos. A natureza
não explica a violência em geral. A sociedade é a fábrica de produção e
circulação de criminalização. Então, a sociedade brasileira é o processo de
produção e circulação do criminoso. Porém, o que é a sociedade brasileira que
nos últimos tempos amplia geometricamente a produção do criminoso em cima e em
baixo?
A conjuntura da burguesia
burocrática encontra-se ultrapassada. Ninguém fala mais em Caio Prado Jr.
Fala-se em MECANISMO vazio de explicação da corrupção. Quanto a violência dos
de baixo não se fala da tradição sociológica que a descortinou como violência
lumpesinal.
Hoje, se fala em uma gramática da
violência. A comunidade jurídica se refere a uma gramática da criminalização.
Trata-se da sociedade gramatical que produz a criminalização dos de cima e dos
de baixo. A vontade de poder de tal gramática já transformou a democracia
liberal 1988 em democracia lumpesinal representativa 2016. O governo Michel
Temer e o grupo de conjuntura do MDB neocolonial são a marca destes novos
tempos.
Qual é então a gramática da
sociedade política 2016?
Com o MDB neocolonial, a
sociedade brasileira se transmutou em sociedade neocolonial do terceiro-mundo. Hoje
se discute no Congresso a privatização das águas do rio São Francisco. Também,
se debate os projetos do governo Temer que vão trocar a energia elétrica do
Norte por energias alternativas, como se isso fosse possível.
Então, qual o gramático no comando
da gramática da sociedade neocolonial? Há um gramático a partir do qual a
sociedade brasileira se determina como neocolonial? Tal sociedade brasileira não
é uma plurivocidade de efeito do gramático que se define como capitalismo
neocolonial do terceiro-mundo.
Eis um ponto-de-partida (que não
é mais rousseauniano ou de Foucault) da reflexão sobre o ser da economia
política produtiva da violência dos de cima e dos de baixo.
A SUBJETIVIDADE DA CLASSE
POLÍTICA E A CONSTITUIÇÃO DO POVO
Dissolver toda a linguagem da
filosofia e das ciências humanas na cultura burguesa é uma realidade do século
XXI?
Trocar a cultura burguesa (moral,
estética, literatura etc.) pela incultura da sociedade do espetáculo de massa é
um esforço do americanismo depois da II Guerra Mundial, por volta da década de
1960. No período da democracia 1988, o Brasil, acabou por imitar o americanismo
inculto do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo?
A Constituição 1988 é a Carta
virtual narcísica de produção de uma classe política da cultura jurídica do
terceiro-mundo? A classe política passa
a ter um Fórum Especial para ser julgada. Trata-se do STF (Supremo Tribunal
Federal). Esta prática judicial gera a gramática do narcisismo neocolonial da
classe política, pois, ela está acima das outras classes (inclusive do rico).
Ela é melhor que os outros.
Está acima do homem comum da
cidadania (inclusive seja ele rico) gera a vontade de subjetividade como prazer
de ser classe política. Ao entrar na classe política pelo procedimento
eleitoral, o sujeito passa a ser educado como ator político neocolonial.
A educação da classe política é
obra de uma cultura política que habita as instituições parlamentares e
governos executivos de Brasília, dos estados e dos municípios e a soberania
popular neocolonial.
Trata-se de uma educação
autotélica narcísica que tem como gramática o enriquecimento público da classe
política. A educação se baseia na ideologia política da ascensão social para os
que vem de baixo e de mais enriquecimento para os que vem de cima. A soberania
popular vê, ouve e tem sentimentos de empatia com aqueles que obtém êxito via
carreira política neocolonial. Por quê?
O político se elege usando a
sociedade do espetáculo de massas neocolonial. Para o eleitor, ele mente, faz
publicidade enganosa, se diz do lado do bem. O eleitor tem sido, durante
décadas, a gramática sociológica do “me engana que eu gosto”. Porém, a passagem
da esquerda neocolonial pelo poder de Brasília parece ter alterada tal
gramática.
A corrupção foi identificada com a
esquerda neocolonial no poder “nacional”. As aspas significam que a esquerda no
poder federal diluiu a cultura política nacional civil. Então, a ideia de nação
se fixou nas Forças Armadas. Hoje, 47% da população quer um Estado militar.
Quer um estado de militarização do país. Trata-se de uma opção conservadora que
significa o desiderato ao poder policial-militar com toda a aplicação de
violência real possível.
A subjetividade (ou trans-sujeito)
da classe política neocolonial é a força dissolvente do que resta da democracia
liberal 1988. Como já apontamos, a Constituição 1988 é um conglomerado de
contradições virtuais que ao se atualizar desintegra parte por parte a
democracia liberal. Trata-se de um Constituição do capitalismo neocolonial do
terceiro-mundo. A Carta virtual antecipa o real.
Hoje, a defesa da democracia
liberal é realizada por parte do poder judiciário que propõe (com sua prática
judicial Lava Jato) a mudança da Constituição 1988 da classe política por uma
Constituição de todo o povo. Para isto, o Congresso teria que acabar como Fórum
Privilegiado para os políticos em geral.
O STF rema na defesa da
Constituição da classe política neocolonial, na defesa do Fórum Privilegiado. O
ministro Toffoli é o herói da classe política no STF. Outros juízes do STF
defendem incondicionalmente (ou por ingenuidade ou por astúcia) a Constituição 1988
da classe política em tela. Trata-se do STF neocolonial?
A Constituição pode ser reformada
para se tornar uma Constituição do povo. No momento, o STF neocolonial é o
maior obstáculo a tal evento.
DO ESTADO CRIMINOSO BRASILEIRO
Dois episódios da história
republicana mostram uma face criminosa do Estado brasileiro: Canudos e
Contestados.
Uma versão metabolizada da Guerra
de Canudos: latifundiários da região, unindo-se à Igreja católica mobilizaram o
imaginário político republicano vulgar atacando Canudos como uma ameaça contra
o poder local e o poder republicano no Nordeste. Na capital da república, o
jornalismo fez uma campanha florianista de um povoado fortemente armado
monarquista que se rebelara contra a recém-criada República.
Canudos foi atacada pelo Exército
brasileiro que após várias derrotas acabou destruindo o povoado do Bom Jesus. A
guerra terminou com a destruição total de Canudos, a degola de muitos
prisioneiros de guerra, e o incêndio de todas as casas do arraial. Um Estado
militar assassino bárbaro assassinou quase vinte mil sertanejos e perdeu cinco
mil soldados.
A Guerra do Contestado foi uma guerra civil camponesa
em luta contra os representantes dos poderes estadual e federal brasileiro
travado entre outubro de 1912 a agosto de 1916, numa região rica em erva-mate e
madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina.
A fronteira entre os estados do Paraná e Santa
Catarina recebeu o nome de Contestado por ter os camponeses contestado a doação
que o governo brasileiro fez aos grandes capitalistas madeireiros e à Southern
Brazil Lumber & Colonization Company. Como região deflagrada ficou
conhecida como Contestado, pois, havia disputas de limites entre os dois
estados brasileiros.
A guerra civil do Contestado pôs
de um lado o Estado brasileiro e de outro o povo rural. O Estado “nacional”
republicano urbano voltou suas armas contra os camponeses em uma luta que fez
do Estado um Estado fático, um Estado sem lei. Trata-se da versão republicana criminosa
do Estado brasileiro.
O Estado fático criminoso agiu
durante a democracia getulista na década de 1930. A perseguição ao jornalista
Carlos Lacerda na democracia getulista da década de 1950 acabou em um atentado
ao jornalista que desencadeou a derrubada de Getúlio e seu suicídio. A face do
Estado criminoso republicano tomou o poder em 1964. A ditadura militar é a
continuação do Estado republicano criminoso que destruiu Canudos e o
Contestado.
Com o regime de democracia
liberal 1988, o jornalismo e seus companheiros intelectuais universitários
criaram a ideologia política que ocultava a face criminosa do Estado
republicano. O fim da era petista desfez a ideologia do Estado republicano 1988
dos direitos humanos. Hoje, o Estado republicano criminoso age abertamente
participando do assassinato de políticos de esquerda no Sudeste. No Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, o Estado brasileiro criminoso usa o método do
assassinato político para conter a ascensão da esquerda brasileira em um
sentido amplo.
O fato que assinála a existência
do Estado criminoso no Sudeste é o assassinato de uma vereadora do PSOL, no
Rio, (uma emboscada feita em alta velocidade) em plena existência de uma paródia
de governo do Comando Militar do Leste no estado do Rio de Janeiro. A face
criminosa do Estado brasileiro se deixa entrever pela total incapacidade (ou
falta de vontade policial) da polícia investigativa em descobrir os executores
e os mandantes do crime. Um general encontra-se no comando da investigação
policial.
O Estado criminoso brasileiro
espera que o jornalismo esqueça o assassinato da vereadora Marielle e de seu
motorista Anderson. Tal Estado quer fazer do jornalismo seu cúmplice no
estabelecimento do método do assassinato político no Sudeste no ano eleitoral
2018.
A eleição 2018 começou com o velho
Estado republicano assassinando Marielle Franco e Anderson.
DA CONTRADIÇÃO PRINCIPAL DA
POLÍTICA
Há uma luta entre a narrativa do
jornalismo e a narrativa do marxismo gramatical ocidental.
Para a primeira, a contradição
principal da política brasileira ocorre entre o aparelho repressivo de Estado
(que quer a intervenção militar em todo o país decretada pelo governo de
plantão) e a bandidagem armada que faz da vida urbana um inferno.
Para o marxismo gramatical, a
contradição principal ocorre entre a DIREITA PARAMILITAR (que usa esquadrão da
morte para assassinar militantes, no Sudeste inclusive, da esquerda em um
sentido amplo) e a esquerda gramatical.
A contradição do jornalismo
estabelece uma narrativa que oculta a existência de um Estado brasileiro que
acaba por dar cobertura à ação da direita paramilitar. Nenhum militante de
direita é assassinado no país, pois, o assassinato como método político passa
por dentro do Estado brasileiro. Este se define por querer o monopólio
ilegítimo das armas e da violência real que é usado (ativamente ou
passivamente) na luta entre a direita paramilitar e a esquerda gramatical.
O Estado brasileiro pode ser
definido como um vasto conjunto de aparelhos de Estado (com contradições entre
os aparelhos) que intervém nas lutas da contradição principal da política.
Neste sentido, o aparelho repressivo de Estado é possuidor de uma gramática da
política (racionalidade gramatical) que é o guia de seu agir. A gramática em
tela age contra a possibilidade de eclosão de uma esquerda diferente do PT: esquerda
da gramática neocolonial oligárquica.
Hoje, o PSOL (e o PCdoB) se
tornou o alvo da direita paramilitar no elo mais fraco da política oligárquica
neocolonial: o estado do Rio de Janeiro. Com o MDB neocolonial como corpo
despedaçado no estado do Rio, a direita paramilitar usa armas de fogo para
conter o avanço da esquerda liderada pelo PSOL e PCdoB.
A eleição para governador do Rio
é o laboratório do elo mais fraco da contradição principal da política nacional.
Eis o real motivo do governo do MDB neocolonial de Brasília pôr generais para
governar o estado do Rio. Tal fato faz dos generais uma força política ligada (consciente
ou inconscientemente) à direita paramilitar em sua guerra civil contra a
esquerda gramatical.
A narrativa do jornalismo fala de
um real que não é real da realidade dos fatos políticos!
GRAMÁTICO DA SOCIEDADE EM REDE
A teoria da conspiração pressupõe
que há centro na política. Esta velha imagem topográfica da política remete
para o imaginário político do partido bolchevique (depois Partido Comunista da
URSS) na revolução russa.
A topologia do cume político
ainda domina o imaginário da política neocolonial do terceiro-mundo. Toda
criança de dez anos sabe que a comunicação se realiza pelo imaginário. Então,
continuamos a falar de esquerda e direita como se fossem de uma topologia
imaginária da linha reta.
No campo simbólico em junção com
o real, a política existe em uma topologia de lados, do polígono mistilíneo. Há
o lado da esquerda, o lado da direita, o lado do bonapartismo, do bolivariano,
retas e curvas. Mas a política não se reduz a tal topologia poligonal, pois, a
política é o gramático da sociedade em rede.
A gramática da sociedade em rede
atravessa sociedade civil e sociedade política, público e privado, sociedade e
Estado, dominação e hegemonia. Vejamos um exemplo.
A temporada de caça da esquerda
militante antineocolonial oligárquica começou no Sudeste. Seria teoria da
conspiração falar de uma direita paramilitar organizada verticalmente (a
maneira leninista ou hitlerista), tendo um centro de comando. Não é assim que a
coisa funciona.
A direita para militar é uma
gramática da política como sociedade em rede. Trata-se de um gramático
político. O que é isso?
O gramático da política funciona
em redes do lado de fora em junção com o lado de dentro do Estado, sem centro
político real (como as milícias fluminenses), pois, seus agentes ou são do
aparelho repressivo do Estado ou já foram desse aparelho. Como parte da
gramática da sociedade em rede que liga o lado de fora ao lado de dentro do
Estado, os atores da milícia têm a proteção natural do aparelho repressivo de
Estado.
As milícias têm ligações com os
agentes da política? A política fluminense é controlada pelo MDB neocolonial.
Trata-se de um tradicional partido (antigo PMDB) da direita brasileira que
domina o Estado brasileiro federal e o Estado local do Rio de Janeiro.
Logicamente, as milícias se ligam ao aparelho de Estado do MDB neocolonial
oligárquico.
Estas observações acacianas
teriam efeito de realidade se o imaginário político brasileiro não estivesse
sob o monopólio da sociedade do espetáculo eletrônico (que coloniza as redes
sociais digitais), da sociedade de comunicação de massa.
Os recortes na linguagem da
sociedade são realizados, principalmente, pelo imaginário político comandado
pela sociedade de comunicação de massa. Remar contra tal correnteza é uma
questão de sanidade mental em uma época de decomposição da democracia liberal.
O que o leitor acha disso?
DA CONSTITUIÇÃO 1988 A
CONSTITUIÇÃO 2016
Algum filósofo do direito já
disse que a Constituição é uma coisa viva. Ela não é um pedaço de papel
preenchido por palavras-artigos fixadas em um quadro na parede do gabinete do
juiz como a borboleta morta. A Constituição é a borboleta voando.
Como as instituições, a
Constituição não é um raio em um céu azul, pois, ela é feita por homens
definidos por uma gramática da cultura política de um país. No caso brasileiro
1988, é a gramática da cultura política oligárquica.
A Constituição 1988 foi obra de
homens da oligarquia política do sim e do sim senhor. O sim era a oligarquia
política de oposição ao regime militar. O sim senhor era a oligarquia política
que governou com os generais em um Estado militar oligárquico que começa com o
general Médici.
A soberania popular do regime
pós-ditadura militar teve que votar nos militantes da oligarquia política para
a Assembleia Constituinte 1987-1988. O resultado foi a feitura de uma
Constituição oligárquica com uma gramática que contemplou os direitos do Estado
popular getulista. Só ser preso em última instância (STF) e ter Fórum
Privilegiado (no STF), eis dois direitos de uma gramática político-judicial
oligárquica.
As lutas contra a gramática
oligárquica da Constituição 1988 dividiu a comunidade jurídica em duas. Uma
fração oligárquica de advogados criminais e juízes do STF lutando pelo
instituto da prisão em terceira-instância (STF), e uma fração de juízes
federais, procuradores da República e juízes do STF pela prisão em
Segunda-Instância. Tal luta se desenvolveu com a crise da soberania popular
oligárquica que é crise da democracia oligárquica. Aí ficou claro que o eleitor
é refém do imaginário da gramática da cultura política oligárquica.
Em 2016, O STF criou uma nova
Constituição em estado prático. Trata-se da Constituição republicana
democrática 2016 que se determina pelo estabelecimento da prisão em
Segunda-Instância e o fim do Fórum Privilegiado para o pessoal do Estado, que
afeta, principalmente, a oligarquia política criminosa.
Amanhã, a Corte Suprema se reúne
para decidir sobre o Habeas Corpus do candidato à presidência Lula. Está nas
mãos da juíza Rosa Weber a decisão sobre o H.C. A juíza pode votar de acordo
com a Constituição Oligárquica 1988 ou de acordo com a Constituição republicana
democrática 2016.
Será Rosa Weber da fração
oligárquica da Corte Suprema? Nesta quarta-feira de 04 de 2018, Rosa Weber
decide se faz parte da ação política de uma democracia republicana inédita em
2019.
No dia 04/04/2018, a juiza Rosa Weber decidiu negar o Habeas Corpus de Luís Inácio Lula da Silva. Sob o comando do pulso forte da presidente do STF (Carmen Lúcia), Rosa Weber parece ter jogado a pá de cal na era do bolivariano na América Latina.
No início da noite de 07/04/2018, o ex-presidente Lula se entregou à Polícia Federal.
POLÍTICA E INCERTEZA GRAMATICAL
Com a prisão decretada, Lula faz um discurso em um palanque em frente ao sindicato de São Bernardo em claro desafio ao mandato de prisão. Após atacar, furiosamente, o Estado legal brasileiro, Lula diz que logo será solto, pois, a verdade está ao lado dele, um Lula inocente.
As massas do lulismo se levantaram em quase todo o país com violência, especialmente contra os jornalistas. Nesta presença presente, as massas do lulismo evocam as massas do fascismo alemão na década de 1930. O lulismo de massa é um movimento de massas fascista do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
Lula se entregou à Polícia Federal no início da noite do 07/04/2018. Na manhã seguinte, um jornalista de Grupo Globo diz que Carmen Lucia acatara a questão de ordem do juiz Marco Aurélio (da família oligárquica de Fernando Collor de Mello) para pôr em debate no pleno do STF o princípio da reclusão em segunda instância adotado em 2016 por esse próprio plenário.
Na linguagem rala da política traduzida pelo jornalismo, a prisão em segunda instância é uma confusão que começou em 2009. Até este ano, a prisão em segunda instância estava em vigor. Ela caiu devido a aplicação de força da oligarquia política criminosa sobre o STF em 2009.
A mudança de posição do PT foi decisiva nesse evento em tela. De partido de massas líder do lado político do republicanismo democrático, o PT se transformou em um poderoso partido de massas do lado da oligarquia política criminosa. Com o PT e o lulismo, as massas do bolivariano passaram a ser massas gramaticalmente disponíveis para o poder oligárquico do capitalismo neocolonial do terceiro-mundo.
O comportamento violento fascista das massas petistas neocoloniais (elas passaram a perseguir corporalmente os juízes Carmen Lucia e Fachin) pode ser um fato que quebrou o juízo inflexível de Carmen Lucia, segundo o jornalismo carioca.
O que está em questão? A candidatura de Lula para presidente em 2018!
A esquerda quer governar o Estado brasileiro, mas não se deixa governar pelo Estado brasileiro. Para o PT, o Estado brasileiro não é um fenômeno político legítimo, a não ser quando governado pela esquerda.
Se Lula não tomar de assalto o Estado brasileiro em 2018, o efeito provável é a desarticulação do regime do bolivariano na América Latina, regime que tem o apoio do jornalismo do bolivariano na Europa e nos Estados Unidos.
Como a política não é geologia (ela não se materializa em matéria tectônica ao ponto de definir a política antecipadamente ao fato gramatical), e sim gramática, ela depende do estado gramatical da correlação de força do momento determinado como fato gramatical, incluindo as massas na rua.
Hoje, a nossa política vive um fatal princípio de incerteza gramatical.