Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo (PCPT)
Endereço do grupo Psicanálise. Cultura Política, Totalitarismo no Facebook: https://www. facebook.com/groups/ psicanalise.culturapolitica. totalitarismo/?fref=ts
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.
José Paulo Bandeira e Almir Pereira.
O Grupo PCPT (Psicanálise, Cultura Política, Totalitarismo) é um campo de pensamento transdisciplinar. Trata-se do campo contraciência freudiana da política. Tal campo está aberto às múltiplas e diversas intervenções disciplinares das ciências humanas (sociologia, ciência política, antropologia, direito, economia, historiografia, geografia), das ciências da comunicação, da psicanálise, do marxismo, da psicologia, da metapsicologia, das neurociências, da filosofia e da literatura. Também está aberto às intervenções das ciências ambientais, da biologia e da física. A ideia é articular a história da natureza à história política universal!
O Grupo não aceitará que seja veiculado qualquer tipo de publicidade, seja econômica, seja política ou de cunho ideológico. Espera que seus integrantes não se deixem alienar - em sua participação -, ou pela lógica da mercadoria, ou pela lógica política do simulacro de simulação. Espera também que a reflexão possa ser metabolizada como cultura contratotalitária.
SÍLVIO ROMERO/HOMEM/MÁQUINA
Sílvio Romero recolheu o conto popular mestiço
luso-brasileiro “O homem que quis laçar Deus” no livro Contos populares do
Brasil. Deus pode ser claramente concebido como inscrito no campo simbólico
popular. O conto trata disso: “Havia um homem que era muito pobre e com muita
família. No lugar em que morava, havia uma estrada muito grande e se dizia que
ali passava Deus e o mundo. Ouvindo dizer isto o homem, e querendo saber a
razão por que Deus o tinha feito tão pobre, armou um laço e assentou-se na
estrada à espera de Deus”. A estrada que passa Deus e o mundo é vizinha do
homem. Ela é a junção do Simbólico (Deus) com o Real (mundo da facticidade das
mercadorias com o qual o homem alucina). Laçar Deus é o processo de simbolização
capaz de fazer o homem integrar a facticidade do mundo ao inconsciente
político. No entanto, não se trata do inconsciente mestiço, mesmo o conto sendo
mestiço.
Um velhinho dá quatro vinténs ao pobre homem, ou será homem
pobre, e diz que ele tinha de comprar algo exatamente deste valor. A miséria
espiritual do homem não o deixa perceber que o velhinho é a encarnação de Deus,
é o simbólico em carne e osso? Então, por que ele segue a ordem ao pé da letra?
De qualquer maneira, fica muito contente e procura um compadre negociante rico
para este trocar os quatro vinténs por um objeto em sua viagem a buscar
sortimentos para sua loja. A única coisa que o rico negociante encontra por
quatro vinténs é um gato. Era um animal raro naquele lugar. O significante que
dá acesso a simbolização do inconsciente político é algo raro? Então começa o
caminho que leva ao desejo do Outro. O desejo é o desejar o desejo do Outro. O
desejo do Outro é possuir o gato porque o valor dele é exatamente quatro
vinténs, ou seja, o valor estabelecido por Deus para um significante raro. Raro
porque dá acesso ao processo de simbolização. Note bem, o valor não é o preço
do mercado, ele não é estabelecido pela lógica da mercadoria, mas pela lógica
populista de Deus, na medida em que Deus vai até o pobre! Para o pobre a
simbolização através do mercado é impossível.
O desejo do amigo rico do negociante pelo gato - pelo
processo de simbolização – o leva a comprar este significante raro por uma
grande soma de dinheiro. Pela lógica da mercadoria o bem raro vale isso. O
homem rico tem acesso à Deus pela lógica da mercadoria? Trata-se de um acesso
perverso. Aqui a mercadoria é o objeto a (pequeno objeto-dejeto) que vai
tamponar o buraco no simbólico. Marcuse
esclarece isso no seu livro Razão e Revolução. Para Hegel: “A lei (Gesetz)
transforma a totalidade cega das relações de troca na máquina conscientemente
regulada do estado”. O processo de simbolização - que significa a integração
dos significantes raros ao inconsciente político – não pode se fazer através da
mercadoria, mesmo ela sendo rara. A lei que propicia a simbolização está
indissoluvelmente ligada a uma máquina, ao Estado como máquina. A lógica da
mercadoria inicia o sujeito em um processo de simbolização por abstração –
perverso- das relações concretas através
do objeto a. Através da lei, a máquina – que é uma máquina de guerra inibida em
sua finalidade do uso absoluto da violência – inicia o homem em um processo de
simbolização universal-concreto. Mas qual é o caminho do conto?
O rico deveria dar o dinheiro obtido com a venda do gato
para o compadre pobre. A miséria espiritual do rico – que acredita que nenhum pobre
tem o direito de ficar rico – o leva a enganar o pobre homem subtraindo-lhe a
multiplicação dos quatro vinténs divinos através do significante raro: gato.
Deus intervém para que o negociante rico devolva o dinheiro para o homem pobre
ameaçando-o com uma moléstia mortal. No final, o rico entrega a rica soma de
dinheiro e é curado por seu gesto.
Sem passar pelo inferno do trabalho abstrato e, portanto,
pela lógica da mercadoria o homem pobre torna-se um homem rico pelas mãos de
Deus: quatro vinténs divinos. O pobre homem é abençoado por Deus, pelo grande
Outro, pelo discurso do Outro. Para o homem pobre, este não é o discurso do
capitalista, ou a lógica da cultura política do dinheiro. Qual cultura política
abençoa o pobre com a esperança de retirá-lo da pobreza sem que este tenha que
fazer o caminho do self made man da
cultura capitalista do dinheiro? Não seria a cultura política populista
latino-americana? Uma máquina de guerra populista não inicia o pobre em um
processo de simbolização que integra os significantes que povoam seus mais
intensos desejos de riqueza a um inconsciente político arcaico? A locução da
cultura política latina auri sacra fames
(desejo do ouro, de ficar rico) não é algo do início da história da civilização
arcaica? O populismo latino-americano não se filia - por caminhos misteriosos -
à auri sacra fames? Ele não é o desejo de acumular ouro (dinheiro, riqueza) por
meios divinos? Todos os caminhos não levam a Deus?
MULTIDÕES-2015/BRASIL
Duas espécies de multidões tomaram as ruas das capitais do
país em 13 e 15 de março de 2015. Na web, na grande imprensa de papel e
eletrônica, a versão dos fatos não sai do modelo esquerda versus direita. Este
modelo é a lógica do fantasma que pilota o imaginário político brasileiro. No
entanto, há diferenças que precisam ser ressaltadas, pois elas são uma ruptura
com tal imaginário.
A multidão-13 é um efeito da crise
brasileira? Os sindicatos (CUT etc.) e alguns movimentos sociais (MST, Sem
Teto etc.) foram para a rua como um sujeito
esquizo. Um sujeito-multidão que deseja Dilma Rousseff no poder, mas não a
facticidade neoliberal do poder rousseffiano: a realpolik petista. A divisão do eu da multidão é o espelho da
divisão do eu petista. A multidão-13 foi articulada pelos diversos aparelhos de
Estado petistas: burocracia estatal petista, aparelho sindical, aparelho social
= movimentos sociais rural e urbano. A multidão-13 apresentou-se, afinal, como
uma multidão institucional situacionista. Ela defende o status quo. Ela defende
Dilma mesma que essa signifique o fim dos direitos trabalhistas, a suspensão
das políticas sociais etc. O eu esquizo deu lugar à lógica da fantasia
rousseffiana: sacrifique-se. A população petista deve sacrificar-se para que o
PT (a esquerda) continue no poder. Cuba não deve perecer! Ainda estamos muito
longe da crise da Venezuela articulada pela lógica da fantasia bolivariana de
que é preferível que a população chavista torne-se uma população de lemingues à
substituição de Maduro por alguém da oposição ao chavismo! Mas é preciso
assinalar que a crise brasileira e a crise venezuelana são duas superfícies
contínuas: elas constituem um só espaço político.
MULTIDÃO E POLÍTICA (São Paulo)
A questão principal da atual conjuntura política o seguinte.
Por que São Paulo se transformou na capital política do País no alvorecer do
segundo governo Dilma Rousseff? No dia 15 de março de 2015 não aconteceu a
repetição diferente e lúdica de Junho de 2103? E não houve um deslocamento da
rua como centro político do país do Rio para São Paulo? Por quê? Junho de 2013
significou o ponto de partida da dissolução da política articulada pelo modelo
ideológico esquerda versus direita. E
a esquerda perdeu o monopólio da política da rua! Mas não estava claro a
natureza da contradição principal. A razão disso é que a esquerda, inclusive
criptopetista, bolivariana procurou desviar e capturar o desenvolvimento do
contrafluxo ideológico da multidão com o auxílio da sociedade do espetáculo. A
multidão reagiu com não queremos partidos na rua conosco! Junho de 2013
levantou claramente a bandeira do fim do monopólio da política pelos partidos. Inconscientemente
para a multidão, havia um partido dominante de Estado (aliança tácita do
PT/PMDB/PSDB e partidos satélites) como fator de corrupção absoluta (corrosão)
da política e do Estado brasileiros.
O 15-M retomou em um outro diapasão a contradição multidão
(rua) versus partido dominante de Estado (espaço político restrito). Tal
contradição derivou para a contradição principal entre a sociedade civil
hegeliana (carregada na rua pela multidão) e o Estado petista ou Urstaat (Estado despótico arcaico).
Apenas São Paulo poderia dar vida a contradição sociedade civil hegeliana
versus Estado não-moderno. Trata-se obviamente da sociedade civil burguesa. Nas
palavras de Hegel _ “Estão contidos na sociedade civil burguesa os três momentos
seguintes: 1) a mediação da carência e a sua satisfação num sistema das
carências e de fruições de todos os outros Em São Paulo a satisfação do sistema
de carências está seriamente ameaçada de modo iminente); 2) a proteção da
propriedade pela constituição jurídica (a
possível desintegração da cidade é a negação da propriedade privada articulada
pelo direito moderno) ; 3) a prevenção universal com vistas ao bem comum do
indivíduo singular e com vistas a existência do direito: a polícia” (a polícia
não pode existir e agir como uma máquina de guerra freudiana contra a
população).
A sociedade civil burguesa é uma realidade cindida pela
lógica do particular. Ela é o espaço dos indivíduos como pessoas privadas tendo
por fim seus próprios interesses. A lógica do interesse domina a sociedade
civil. A lógica do particular subsume a sociedade. Como membro ou cidadão do
Estado, o indivíduo será sujeito político. O indivíduo moderno é cindido entre
o burguês e o cidadão. Esta contradição articula a sociedade civil. A
corporação – o conjunto das atividades industriais e comerciais em sentido
amplo – é o significante-mediação que articula o Estado à sociedade civil: “Nos
nossos Estados modernos, os cidadãos têm apenas uma limitada parte nos negócios
universais do Estado; e, contudo, é necessário proporcionar ao homem ético uma
atividade universal fora de seus interesses privados. Esse universal que o
Estado moderno nem sempre lhe dá, encontra-o ele na corporação”. Já o Estado
moderno é o desenvolvimento da Sittlichkeit, ou seja, da ética social imediata,
que passa pela cisão da sociedade burguesa e vai até o Estado. A contradição
sociedade civil hegeliana versus Estado moderno se resolve porque o Estado
moderno racional constitui o resultado de todo o processo do direito moderno. A
sociedade civil paulista está dirigindo na rua (Avenida Paulista) um processo
político nacional que quer substituir o arcaico Estado brasileiro semi-moderno
por um verdadeiro Estado moderno hegeliano. O que isso tem a ver com esquerda
versus direita?
A VOZ DA MULTIDÃO e o PCPT
“Segundo informações oficiais das Polícias Militares dos
Estados, no mínimo, 1,950 milhão de brasileiros foram às ruas, a maioria
vestida de verde e amarelo e com cartazes pedindo impeachment, renúncia da
presidente e até mesmo a intervenção militar”.
http://especiais.g1.globo.com/politica/mapa-manifestacoes-no-brasil/15-03-2015/
“TOTAL DE PESSOAS, SEGUNDO A POLÍCIA ESTIMATIVA TOTAL 2,2
MILHÕES”
“Ao longo de todo o dia, ao menos 160 cidades registraram
atos contra Dilma e a corrupção em todos os estados do país”.
A visão do PT é: a DIREITA se levantou como um só homem para
desfechar um golpe de Estado no governo Dilma Rousseff. Eles não lembram mais
do verso: “A praça Castro Alves é do povo como o céu é do avião”. Esse verso só
serve como hino para as massas antiditadura militar?
Cartazes pediam “até mesmo a intervenção militar”. Quem
teria a coragem de negar que a cultura política totalitária habita o
mundo-da-vida ou a sociedade civil hegeliana no Brasil. Os cartazes apenas
indicam que o Exército brasileiro é identificado, por uma pequena parcela da
massa, com a cultura totalitária. No entanto, isso não faz da M-15 uma multidão
totalitária. A voz da multidão não é totalitária!
A M-15 pede o impeachment. Isso não é parte da solução, mas parte
do problema. O impeachment não põe a raposa para tomar conta do galinheiro?
Quando o PCPT lançou a ideia da Renúncia Já!, ele estava pensando nisso. Mas o
governo pensa: se não há remédio, remediado está! Se o Congresso não é a
solução, sobra o governo como solução para o problema: a crise brasileira. O
país está num mato sem cachorro? Chegou ao fim da linha? Fernando Gabeira
escreveu que o PT não existe mais como um centro intelectual de pensamento
capaz de tecer uma saída para nós. O Instituto Lula é apenas um lugar para
celebrar a ideologia petista de que a ESQUERDA deve governar o país para
sempre! O Instituto Fernando Henrique Cardoso – por sua total inapetência
intelectual – não chega a ser nem um salão burguês de criação de ideias. O PCPT
tem dito que a solução da crise brasileira não será o resultado de uma política
autárquica. O Brasil não é mais um engenho, apesar do desejo colonial de Renan Calheiros e Eduardo Cunha de fazer
do engenho (PMDB) o único centro da política brasileira. O PMDB é o grau zero
da produção (um engenho fantasmático no Vale do Paraíba)) de um pensamento
capaz de retirar o país da crise.
A crise brasileira é uma superfície contínua com a
superfície da crise mundial. Trata-se de um único espaço mundial. O PCPT tem
insistido neste ponto. Guevara queria que mil Vietnãs se levantassem contra os
USA! Hoje, a crise não pulula em vários elos da cadeia mundial? Também o
planeta chegou ao fim da linha? Ou foi a elite mundial que tornou-se volátil
como um centro de pensamento capaz de pensar uma solução global para a crise
mundial? Se ela não consegue perceber que existe uma crise mundial, o que será
do planeta? A elite mundial tornou-se a máquina de guerra psicótica (temida por
Freud depois da Primeira Guerra Mundial) que vai desintegrar a vida humana na
terra? Máquina psicótica terrorista sublime?
Se em todo o mundo ocidental, as elites ensarilharam as armas
do Iluminismo, por que não se deve contar com a possibilidade das massas serem
o motor de um pensamento, de uma reflexão, de uma simbolização não apenas para
a crise brasileira (ou venezuelana), mas para a crise da política mundial?
Evocando mais uma vez a poesia política de Marx:
Hic Rhodus, hic salta!
Aqui está Rodes, salta aqui!
PAPA/DIABO/MÉXICO/PABLO ESCOBAR
“Papa Francisco: ‘O diabo castiga o México com muita fúria’
Pontífice identifica a violência do povo mexicano com uma
força diabólica”
O bispo de Roma Francisco “explica” a violência mexicana
como o domínio do Diabo sobre o México. Seria a lógica do Credo quia absurdum
est (Creio porque é absurdo)? Freud estabeleceu que esta era a lógica preferida
da Bíblia católica. Acho que não é isso! Francisco está, talvez, dizendo que a
elite laica mundial não tem explicação para a violência mexicana. Isso é ou não
é verdade? Se nenhuma ciência moderna explica, então cabe uma explicação
bíblica. Sinal dos tempos? Ou a fala de Francisco não aponta o dedo para a
crise global da cultura moderna?
O Papa diz que o Diabo é o responsável. Lacan diz que Deus é
o simbólico, se olharmos o campo simbólico pela cultura política católica. Ele
cometeu um equívoco por causa de sua psipolítica de fazer a punção do
Romantismo do pensamento de FREUD. Fundador do campo freudiano, Lacan
transformou Freud em um Homem da ilustração. Por isso, ele não podia assimilar
a ideia de Goethe (papa literário do Romantismo Alemão), do Fausto, de que o Diabo é o simbólico na cultura política
católica:
“Mefistófoles _ Sou parcela do Além,
Força que cria o mal e também faz o bem”
O Papa comete o erro também de identificar o Diabo apenas
com o mal. Lacan leu Goethe, Francisco não!
Considerando que o Diabo é o campo simbólico, ele é o
articulador da cultura política que gera a violência mexicana. Qual seria tal
cultura política? Não é a cultura política totalitária que articula máquinas de
guerra freudianas, totalitárias, terroristas no mundo-da-vida? Tal máquina se
define pelo uso da violência sem limite sobre os outros.
“Há três semanas, declarações de Francisco sobre o México
levantaram polêmica. O Papa disse que estava preocupado com os problemas de
criminalidade que enfrenta seu país de origem, a Argentina, e que esperava que
não evoluíssem para um conflito da mesma natureza do mexicano: “Tomara que
estejamos a tempo de evitar a ‘mexicanização’. Estive falando com alguns bispos
mexicanos e a coisa é um terror”.
A criminalidade mexicana – que se destaca- é a dos cartéis
criminosos, ou seja, do “crime organizado”. Enquanto crime organizado, os
cartéis são um artefato da cultura política totalitária mundial. No México,
eles alcançaram uma forma acaba de crime organizado como narcotráfico e
narcopoder. Não é visível, mas como o Diabo, eles criam o mal e fazem o bem. No
entanto para conhecer tal força diabólica, é mais preciso ler sobre a Colômbia
de Pablo Escobar.
Multidão/indústria da comunicação/jornalismo
ETC.
A produção histérica dos jornais escritos, digitais e
televisivos sobre a multidão 15-M é um fato, ou melhor, artefato que não pode
ser deixado em branco. Conversando com Almir Pereira, ele apontou o processo de
dissolução do significado do protesto com Dilma Rousseff ocupando o proscênio
da cena política televisiva. Assim, no verso da comunicação industrial Dilma
Rousseff vestindo uma nova máscara: a sacerdotisa humilde. No reverso do objeto
político comunicacional, jornalistas, cientistas políticos e quejandos dizendo
alguma coisa sobre a multidão – muito vezes, às avessas ao sentido político do
protesto. Todo esse processo parece confirmar que o funcionamento fáctico da
indústria de comunicação – televisiva, digital, de papel – é o buraco negro do
sentido político. A multidão entra no buraco negro comunicacional e encontra a
Singularidade política, o coração de um buraco negro comunicacional, onde o
tempo para e o espaço deixa de existir para a multidão na superfície política
do mundo-da-vida. Um buraco negro comunicacional da política começa a partir de
uma superfície denominada horizonte de eventos políticos, que marca a região a
partir da qual não se pode mais voltar. No entanto na física das máquinas de
guerra, o buraco negro comunicacional é uma megamáquina de guerra de
comunicação industrial que tenta sugar a matéria (multidão) para a Singularidade
política. O adjetivo negro em buraco negro se deve ao fato deste não refletir a
nenhuma parte da luz que venha atingir seu horizonte de eventos, atuando assim
como se fosse um corpo negro perfeito em termodinâmica. Na física das máquinas
de guerra, a multidão é uma matéria que não só pode escapar do buraco negro
comunicacional como dificilmente atua, quando sugada, como se fosse um corpo
perfeito negro em termodinâmica.
SAMBA/MÁQUINA DE GUERRA
Existe alguma relação entre o samba e a máquina de guerra
cultural?
Por que gosto de Gilberto Freyre? Ele concebeu o
significante cultura brasileira mestiça no axioma antropo-sociológico: “os
brasileiros são espiritualmente mestiço”. Houve um tempo em que intelectuais de
esquerda tentaram fazer do samba um artefato cultural negro. Eles queriam
desbancar o bom Gilberto. Mas Beth Carvalho mostrou para o Brasil que o samba é
mestiço. O samba é uma articulação do inconsciente político mestiço brasileiro.
Ele é a continuação – por meios musicais e poéticos – de Canudos. Então, a
fronteira entre as religiosidades populares torna-se plástica no encontro delas
no inconsciente político sincrético. Este é o significante de preferência de
Isidoro Eduardo Americano do Brasil para designar o inconsciente político
mestiço.
O significante de Gilberto CULTURA BRASILEIRA é o reverso do
significante máquina de guerra cultural. Um é a cultura instalando a paz na
sociedade; o outro instala a cultura como guerra no mundo da vida e da
sociedade. Os dois são os lados opostos de um medalhão: verso e reverso da cultura no território brasileiro. Assim
como o Estado moderno (instituição política) é o reverso do anverso Estado
brasileiro. Este jamais foi moderno e sempre – nas horas críticas – agiu como
megamáquina de guerra psicótica, terrorista através de um uso da violência sem
limite (da lei) contra a população: Canudos, Contestado...A cadeia de significantes
chega aos 1000000 de pessoas assassinadas nos últimos 30 anos pela máquina de
guerra psicótica, terrorista que tem como principal mecanismo – mas não único -
a Polícia Militar em todo o território nacional. A cultura brasileira gilbertiana
faz uma interseção com a cultura política mestiça que têm como motor o
inconsciente político mestiço. O inconsciente político ariano tem como motor o
mito da racialização da política. Nietzsche disse: “eles dominam porque são
superiores”. A física das máquinas de guerra diz: “eles são superiores porque
dominam”. Com o inconsciente políticos ariano não há passagem do mito para a
história. Esta passagem do mito para a história só ocorre com o inconsciente
político mestiço.
Lacan diz que há
passagem do mito para a história na Bíblia (Seminário 11). Há história na
Bíblia, segundo ele. Tenho de entender melhor a ideia de história de Lacan. A
história nasce na Grécia como contraponto à narrativa lendária. Trata-se da
história como lógica dos fatos! O fato histórico é um significante da cultura
letrada grega. Mas Lacan fala no Seminário 18 em artefato. Não existe fato! Só
artefato! É uma crítica direta aos gregos fundadores da historiografia.
A física das máquinas de guerra articula o contraconceito inconsciente
político: Inconsciente ariano versus inconsciente mestiço. O primeiro tem como
motor o mito da racialização da política e do mundo-da-vida. Não há passagem do
mito para a história! Trata-se de uma história mitológica.
O inconsciente político mestiço tem como motor a mestiçagem.
Ele tem como motor a genética. A partir dele a física vai poder metabolizar e
simbolizar sobre os problemas do campo das ciências naturais. Mas o fundamental
é que ele articula-se a um certo Real biológico. Neste sentido, ele é a verdadeira
passagem do mito para a história. E mais, não passagem do mito para a história
factual {ou artefactual do Homem (Platão)}, mas da passagem do mito para a
história natural da espécie humana como história política universal
ARGENTINA/ FÁBULA/TOTALITARISMO
A Piauí (março/102) publicou um longo artigo do jornalista
argentino Gabriel Pasquini sobre a morte do promotor Alberto Nisman. Trata-se
de uma vontade de explicar a Argentina pós-crise de 2001 – que teria passado a
funcionar na política pela fabulação - e a morte de Nisman como inexplicáveis
devido ao imaginário fabular que domina o país. Pasquini pretende desvelar tal
imaginário pela lógica dos fatos racionalizados. Então, não se trata mais de
fatos, mas de artefatos jornalísticos. A Argentina é explicada por uma lógica
de fatos hiper-racionais. Se o leitor conseguir atravessar este deserto da
hiper-realidade, onde o texto de Pasquini é mais racional que a própria
racionalidade, talvez possa usar o texto para pensar por que a Argentina foi
lançada para o reino da fábula política. Trata-se de fazer a leitura do país
que tem o mito como motor da vida política.
O texto de Pasquini tem como principal conclusão que Cristina
Kirchner não está envolvida com a morte (assassinato) do promotor Nisman.
Considerando que a Piauí é uma revista criptobolivariano, eis o provável interesse
da revista no relato cientificista de Pasquini.
Mas o texto nos permite uma outra leitura da situação
argentina. A implosão do prédio da Amia – Associação Mutual Israelita
argentina, coração da comunidade judaica nacional – e o atentado à bomba da
embaixada israelita tornaram-se possíveis porque a máquina de guerra terrorista
que o praticou foi impulsionada pela cultura totalitária argentina. Esta
articula máquinas de guerra totalitárias: a comunidade jurídica (máquina de
guerra jurídica heideggeriana); a indústria de comunicação (televisão, rádio,
jornal de papel etc.) como máquina de guerra cultural; também o Partido
Peronista como uma máquina de guerra política-populista. Na superfície política
do bloco no poder, a Argentina encontra-se dominada por uma oligarquia
econômica que funciona também como uma máquina-elite totalitária de guerra. Eis
a explicação para a política encontrar-se dominada pelo mito. As máquinas de
guerra totalitárias são articuladas pelo mito! Assim, Os ricos não são objetos
da máquina de guerra jurídica heideggeriana. Esta só encarecera os pobres (pg.
26). Trata-se da racialização da cultura política – rico=superior;
pobre=inferior –, racialização que é a prova mais cabal de que o totalitarismo
populista (peronista) domina a Argentina, até agora sem resistência consistente
ou visível! Nisman - que era um agente de tal totalitarismo populista – acabou
fulminado por este fenômeno, sem direito a túmulo político. Então, quando a
Argentina vai passar do mito para a história?
FERNADO COLLOR/TIRANIA
A universidade é um lugar triste. Os alunos não têm o menor
interesse em saber, refletir e simbolizar os artefatos históricos do período
recente. Collor é ainda um fato político que acabou de sair do forno. Para os
estudantes Collor é deixado para as calendas gregas. No plano factual, ele foi
o primeiro presidente brasileiro cuja cabeça foi decepado pelo impeachment. As
massas que derrubaram Collor (pois o impeachment foi um efeito do movimento de
massas sem qualidade) eram espontâneas: não exista ainda a internet. No auge da
crise, Brizola defendeu Collor. Quando os biógrafos vão fazer a biografia de
Brizola? Trata-se de um político que elevou aos píncaros o papel do desejo na
política brasileira. O desejo de Leonel de se tornar presidente o levou a defender
a prorrogação do mandato do general Figueiredo e tentar impedir a queda de
Collor. O desejo de Dilma Rousseff de ficar até o fim do mandato é algo que a
põe na galeria das grandes máquinas de desejo (de Deleuze e Guattari)
brasileiras, ao lado de Brizola e Collor. Mas qual era o desejo de Fernando
Collor? Tratava-se do desejo tirânico iluminado por Platão no livro que funda a
ideia de contraciência da política: A
República. O estudo de Collor como tirano pós-moderno do século XX (uma vez
que Floriano Peixoto foi o primeiro tirano republicano ligada à tradição
brasileira e Getúlio Vargas foi o primeiro tirano moderno contra a tradição
brasileira) encontra-se no link abaixo. A juventude universitária brasileira
quer provar que a tradição não pesa como chumbo no cérebro jovem depois do
diluvio, ou seja, depois dessa longa jornada do PT no PODER. No entanto, mais
grave do que isso é a visão mentirosa repetida ad nauseam pelo jornalismo sobre o papel histórico de Fernando que
dissimula o caráter tirânico de Collor na aurora da República Democrática de
1988. Tristes Trópicos?
LUTA DE CLASSES OU LUTA DE MASSAS
O modelo geral de interpretação ideológica da esquerda
latino-americana é o da luta de classes? A esquerda lulo-petista transformou a
luta de classes em luta entre ricos e pobres. O Bolsa Família é o programa do
governo Lula que materializou tal concepção ideológica. O PCPT vem
desenvolvendo já há algum tempo a hipótese de que a luta de classes não ocupa
mais o centro tático da política mundial. Professores de filosofia política da
UNICAMP tentaram demonstrar em vão que a eleição presidencial de 2014 foi
articulada pela luta de classes. Além do interesse escuso envolvido nisso, há a
tentativa de falsificar a hipótese do PCPT. Fracassaram rotundamente!
A multidão de 13-M (13 de Março) seria constituída por
massas saída da luta de classes: operários, camponeses, lumpencitadino,
lumpenpolítico e vai por aí. Trata-se obviamente da operação estratégica de um
vasto aparelho de Estado ampliado (burocracia sindical, burocracia camponesa,
aparelho social urbano, aparelho partidário etc.) que pôs na rua estas massas
disponíveis por serem contra o neoliberalismo do governo Dilma Rousseff. A
política não segue linhas retas. Para a política o caminho mais curto entre
dois pontos não é uma reta! Então, tais massas artificiais cantaram o hino do
continuísmo de Dilma em um contraponto às massas naturais esperadas para o
15-M. O leitor talvez concorde que o Estado ampliado petista instalou na
interseção entre o 13-M e o 15-M a lógica da luta de classes como simulacro de
simulação.
Com o 15M, o petismo desandou a falar em massa pobres (13-M)
contra massas ricas. Um jornal inglês foi mais longe e falou em massas brancas de
alta classe média e da elite. Eles se tornou o corifeu petista na Europa. O
jornal inglês poderia ter usado a ideia do PCPT de que a história política
universal é a dialética entre o inconsciente político ariano e o inconsciente
político mestiço. Como nenhum sábio europeu sabe nada sobre isso, o jornal caiu
no ridículo! De qualquer ângulo que se olhe a luta de classe não ocupa o centro
da política confirmando a frase – não sei se é apenas uma frase de efeito – do
jornalista espanhol Juan Arias: “A quem interessa manter essa luta surda de
classes criada por ideologias que até a esquerda mais iluminada considera
superadas e que semearam no mundo milhões de mortes?”. É claro que a luta de
classes não foi uma criação de ideologias. Mas também é possível dizer que hoje
a luta de classes é um “processo” determinado pela lógica do simulacro de
simulação associado ao modelo ideológico esquerda “versus” direita. Até quando
a cultura jornalística vai insistir em ver a política brasileira pelo binóculo
da interpretação ideológica esquerda versus
direita? Para superar tal modelo não é preciso que o jornalismo passe a
simbolizar a partir das ideias materiais produzidas por um campo de pensamento realmente
epistêmico?
PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT)
“A situação é pior entre os jovens. Pela 1.ª vez na série
histórica, o PT foi alcançado pelo PSDB e não lidera a preferência entre quem
tem 16 e 24 anos. A pesquisa mostra que 6% preferem os tucanos e 5% os
petistas. O porcentual de eleitores sem preferência partidária também é
recorde: 75%.” (mar 19, 2015 ~ Deixar um comentário ~ Escrito por Rodrigo
Burgarelli, do blog do Estadão)
A crise brasileira se traduz em números desastrosos sobre a
relação dos jovens com os partidos. Mas o que os números traduzem em termos de
sentido político. Trata-se de um retrato pós-eleitoral do divórcio entre os
jovens e o ‘sistema partidário”? Sim! Por quê? O que a juventude viu na eleição
que a levou a denegar os partidos? Essas perguntas deveriam ser formuladas por
cientistas políticos assim como as respostas. Mas vamos ao esboço de resposta
no campo da física das máquinas de guerra.
A primeira máquina de guerra política da República
Democrática foi Fernando Collor. Na época como eu ainda não havia nomeado uma
certa política como máquina, chamei Collor de Príncipe Infame. O Ricardo III de
Shakspeare foi o modelo para designar esta máquina de guerra política
collordemello. Na eleição de 2014, o PT copiou collordemello e agiu como um
Príncipe Infame, ou seja, como uma máquina de guerra política. Marina Silva foi
o objeto-inimigo fulminado pelos raios do Príncipe Infame. A máquina de guerra
política é o avesso de uma instituição política. Na primeira predomina o uso da
violência simbólica para desintegrar o inimigo subjetivamente. Ela faz da
política um campo de guerra simbólica. No “Acreditavam os gregos em seus
mitos”, Paul Veyne se refere a máquina de guerra de pensamento guerreando em um
campo de forças simbólicas. Mas esta aplica força sobre o pensamento de outra
máquina ou do homem. O objeto a ser desintegrado é a ideia do outro, não o
outro como sujeito. A máquina de guerra política aplica força simbólica para
destruir o outro como sujeito: a subjetividade política do Homem. Esse foi o
espetáculo que o PT (e o PSDB) proporcionaram para o eleitor. O partido é uma
instituição política que deve agir pacificamente na luta política. Ele não deve
ou pode visar a destruição do outro. Ele se caracteriza por ter sob controle o
uso da violência simbólica. Então, a reação da juventude parece indicar que ela
quer a política como um território pacificado. Esse parece ser o sentido
político dos números que expressam o desejo da juventude brasileira. As
máquinas de guerra políticas querem afundar a política brasileira no abismo do
MITO, pois esse é o habitat delas. Este
caminho já está sendo trilhado pela Argentina, como mostra a postagem
Argentina/Fábula/Totalitarismo. O mito é um tertium
quid, nem verdadeiro nem falso. As máquinas de guerra políticas querem
fazer o Brasil passar da história (onde tem um regime de verdade efetivo
sustentado por uma episteme) para o mito, onde nada na política é verdadeiro ou
falso. Isso é perfeito para o regime da política brasileira que desde o século
XIX estabeleceu a política como simulacro de simulação, onde o verdadeiro é um
simulacro de verdade!
A Colômbia de Pablo Escobar foi o grau zero da passagem da
história para o mito na América Latina da segunda metade do século XX.
CRISE BRASILEIRA
A história dos partidos no Brasil começa não com partidos,
mas com as máquinas de guerra políticas. Republicanos e liberais foram as duas
máquinas de guerra que derramaram muito sangue. Sempre desfraldando a bandeira
liberal à brasileira, a máquina de guerra federalista intervém no movimento da
Independência, ensanguentando o Primeiro Reinado e a Regência. O Estado se
constituiu como uma megamáquina de guerra (chamado de exército nacional) que
sob o comando de Caxias derramou cachoeiras de sangue até desintegrar a máquina
federalista. A revolução de 1917 e a Confederação do
Equador foram artefatos produzidos pelo trabalho da máquina de guerra republicana.
A máquina de guerra liberal ensanguentou as províncias em movimentos como a
Sabinada ou a guerra dos Farrapos, bastante aparentados com os que tinham se
sublevado, em 1917 e 1924, o governo de Pedro I. Agora, no entanto, a situação
era mais grave. Não era contra um tirano que arrepiava a juba o leão liberal.
Era contra a unidade do Império. A crise brasileira do século XIX foi a crise
da desintegração do Império que poderia se transformar na desintegração do
Brasil. Uma história materialista da política tem que partir da história das
máquinas de guerra para abordar a crise do século XIX e a história dos
partidos. O liberal Bernardo Pereira de Vasconcelos foi o artífice da
constituição do Partido Conservador, um amálgama de liberalismo de direita com
antigos restauradores de esquerda ligados aos interesses da lavoura do café - a
commodities principal que foi a base econômica da solução da crise brasileira.
O Partido conservador foi a primeira instituição política partidária. Ele não
era uma máquina de guerra freudiana. Este partido foi o artefato simbólico que
encaminhou uma solução para a crise brasileira do século XIX.
A crise brasileira do século XXI já está sendo falada até na
televisão. Mas afinal o que é a crise do nosso século? O PCPT não é pescador em
águas turvas. Ele está voltado para a busca da contraverdade da crise
brasileira que deve ser fruto de um refinamento maior que a própria verdade.
Admitir que estamos na crise brasileira é o início de uma reflexão e uma
simbolização que podem gerar o Bernardo Pereira de Vasconcelos do século XXI?
Bernardo foi o nosso Príncipe moderno que poderia servir de espelho para a
política brasileira atual. Mas não podemos esquecer que com a capitalismo de
commodities na hegemonia do bloco no poder os problemas do século XXI são: a
desintegração da República e a dissolução do país. Fui longe demais?
PSICOPATA AMERICANO
O psicopata é um pesadelo da vida americana que passeia na
estrada por onde passa o mundo, mas não passa Deus ou o Diabo. Ele é um
significantepsi da cultura freudiana industrial de massas dos USA. Ele está
além do mundo freudiano habitado por comunidades de neuróticos - que dominam o
Ocidente - perversos e psicóticos. Os psicanalistas atacam e desqualificam o
conceito de psicopata a partir do reducionismo freudiano. O que é isso? O
reducionismo em geral é a privatização do objeto de pensamento, como esclareceu
Claude Lefort. Trata-se da lógica privatista do objeto-pensamento como
continuação da lógica privada do inconsciente político no campo do pensamento.
As “escolas” de psicanálise (que fazem o reducionismo psi) constituem a Corporação
de Ofício Freudiana em vários continentes. O privatismo freudiano quer dizer o
que existe e o que não existe no mundo-da-vida. Ele é a vontade de poder de
instituir o mundo por um efeito de um dizer psi: privatização freudiana do
mundo-da-vida.
O significante psicopata foi alvo de uma guerra levada no
campo da cultura pela Corporação de Ofício Freudiana. Esta faz a política que
instala uma guerra psi no campo da cultura, em geral. Na atualidade, tal
corporação já fez movimentos no sentido de desintegrar o significante máquina
de guerra freudiana. O Psicopata não é Homem. É o além do Homem! Ele também não
é cyborg: a biologia humana com protese. O Piscopata e o cyborg tem algo em
comum? São máquinas como artefato simbólico no corpo humano? Refiro-me ao
cyborg como máquina de guerra híbrida dos filmes de ficção científica. Mas qual
é diferença entre o cyborg e o psicopata? Os dois são máquinas freudianas cujo
agir usa uma violência sem limites? Os dois são como o camaleão: muda de cor
(face, rosto) com o ambiente. Eles se confundem facilmente com os neuróticos na
comunidade mundial dos neuróticos. Eles simulam neurose. A lógica do simulacro
de simulação é a lógica da máquina de guerra que simula ser humana. Então, mais
uma vez, onde está a diferença?
O psicopata é uma máquina de guerra psicótica natural in extremis. O psicopata é uma vocação
cerebral; ele é exterior ao laço RSI (Real/Simbólico/Imaginário; ele é
facticidade pura impossível de se tornar artefato ou significante integráveis
ao inconsciente político. Ele é parte da galeria das grandes máquinas de guerra
freudianas da história política universal: pensem em Gengis Khan ou Hitler. Ele é uma máquina de guerra psicótica todo o
tempo e em qualquer espaço. No mundo próximo de nós, ele é faticidade - do
campo da cultura política freudiana industrial de massas – produzido pela
racialização da superfície política do mundo-da-vida cotidiano. Só a
racialização articulada pelo narcisismo das pequenas diferenças pode produzir e
“explicar” que os Balcãs - com o fim do socialismo realmente existente – tenham
passado para o domínio de psicopatas como Milosevic. Este foi o paradigma das
máquinas de guerra psicóticas terroristas que viviam dos banhos de sangue das
populações diferentes da etnia deles, em geral. O cyborg é uma máquina de
guerra psicótica derivada da alma neurótica. A história do cyborg articula-se
na família, na vizinhança, nos aparelhos e instituições. Ele tem alma e o
psicopata não! Esta é a diferença marcante entre eles! O cyborg é, em geral, a
pequena máquina de guerra cortesã que se tornou notável nas Cortes Europeias no
fim do feudalismo e na aurora da era moderna. Ela se define pela inibição do
uso da violência, por um redirecionamento da energia (pulsão de morte) para o
estado de emulação! Já a sociedade de
guerreiros medievais esteve sob o domínio das grandes máquinas de guerra
psicóticas terroristas (psicopata): os guerreiros medievais. O psicopata e
cyborg não podem ser reconstruídos como significantespsi das culturas políticas
pela física das máquinas de guerra?
PRÍNCIPE MODERNO OSWALDIANO
“O Príncipe de Maquiavel poderia ser estudado como uma
exemplificação histórica do “mito”soreliano, isto é, de uma ideologia política
que se apresenta não como fria utopia, nem como
raciocínio doutrinário, mas como uma criação da fantasia concreta que
atua sobre um povo disperso e pulverizado para despertar e organizar a sua
vontade coletiva” (Gramsci). O mito de Sorel associa política e guerra: “Os
homens que participam dos grandes movimentos sociais representam sua ação
imediata sob a forma de imagens de batalhas que asseguram o triunfo de sua
causa. Propus chamar de mito essas construções”. A representação da ação
política como parte da guerra remete para a ideia de que a política não é um
mero fenômeno racional, mas um fenômeno ligado ao inconsciente político. A guerra
é um significante do inconsciente político presente desde o início arcaico da
história da política universal. A fantasia concreta da guerra ronda também a
modernidade política. A lógica desse fantasma atualizada pode transformar os
partidos modernos weberianos (ou os partidos tradicionais oligárquicos) em
máquinas de guerra. Em países onde a modernidade política é quase modernidade,
a lógica do fantasma (=guerra) costuma tomar posse dos partidos transformando a
política no reino das máquinas de guerra “partidárias”.
A solução da crise brasileira passa, antes de mais nada,
pela construção do Príncipe Moderno, entre nós. Ele não pode ser pensado como
um artefato político meramente racional. Ele tem que ser constituído a partir
da fantasia da contraguerra política, ou seja, como um artefato simbólico do
inconsciente político brasileiro, e não do imaginário europeizante que domina a
elite, as mídias e a universidade. A contraguerra do inconsciente político
brasileiro popular remete para o SERTÃO e para o Bom Jesus e Canudos. Este foi
a contramáquina de guerra poética (máquina de guerra autodefensiva) do Sertão
que batalhou até a sua aniquilação contra a máquina de guerra terrorista
(exército republicano florianista):
“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre
nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no
Rio (de 1924) é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge
ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza
vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá o ouro e a dança.”. O Manifesto da
poesia Pau-Brasil é a poesia como técnica das técnicas da cultura política
mestiça. Tem cheiro e sabor de sertão no coração do Litoral político
brasileiro!
PMDB=MÁQUINA DE GUERRA OLIGÁRQUICA
Veja_ “Fora das instituições não há salvação”
Com esta palavra de ordem Veja entra no movimento do golpe
de Estado parlamentar do PMDB. Triste figura do jornalismo brasileiro. Para o
leitor jovem é preciso dizer que a revista já teve momentos grandiosos. Mas
isso parece ter ficado no passado!
Sobre Eduardo Cunha, ela diz; “Quem foi condenado foi o
procurador. Cunha pode não ser, como parece mostrar seu passado, um monumento
de ético. Mas, desde que seus pecados pertençam ao passado e seus compromissos
seja com a saúde institucional, a Constituição e a democracia, há esperança
porque o nosso povo mereeeece respeito”. Isso não lembra o ditado popular:
“quem não tem cão, caça com gato”?
A Veja usa uma linguagem política que assegura que o PMDB é
uma instituição política, uma instituição de salvação nacional com o colapso do
PT. Partido (=instituição) significa que ele não está envolvido com lógica ou estrutura
que instalam a guerra na política stritu sensu ou na política do mundo-da-vida.
O PMDB é um “partido” de fala mansa aprendida com a política oligárquica, com
os coronéis do SERTÃO. Estes coronéis - transfigurados pela relação do sertão
com o poder federal petista – são verdadeiras máquinas de guerra oligárquicas e
tirânicas. O coronel é uma máquina de guerra oligárquica individual e
biográfica que cochicha mansamente no ouvido do jagunço a ordem para matar o
inimigo. Isso é uma tradição do poder oligárquico no Brasil. No governo do Rio
de Janeiro, Sérgio Cabral deu a ordem mansa no ouvido do Secretário de
Segurança para o uso da violência sem lei sobre a multidão. O coronelismo de
Cabral tinha apoio no Judiciário através de juízes que agiram como máquinas de
guerra heideggerianas. Estes juízes pertenciam ao bando oligárquico e Cabral. A
máquina de guerra jurídica heideggeriana é a continuação da violência da
máquina de guerra policial sobre a população por meios jurídicos despóticos!
Eduardo Cunha começou na política sob a direção do
inesquecível PC Farias que era o subchefe do bando oligárquico collorido das
Alagoas. PC tinha ligações com máfias que acabaram assassinando-o. Depois
através com garotinho, Cunha se integrou à máquina de guerra evangélica do Rio
de Janeiro. O privatismo evangélico (apropriação privada da coisa pública em
nome de Jesus) foi sempre o seu guia na política. Para completar também é
ligado à Paulo Maluf, que parece ter saído das páginas do livro Arte de Furtar,
de autor anônimo da época colonial.
Isso é o que a Veja chama de instituição capaz de salvar o
Brasil. Cinismo, oportunismo, irresponsabilidade burguesa e canalhice
jornalística em último grau!
Por isso, já há algum tempo o PCPT lançou a ideia da
Renúncia de Dilma Rousseff como um agir capaz de evitar que o PMDB tome através
do golpe de Estado parlamentar - em conluio com o PSDB - o poder brasileiro. É
possível que Dilma e o PT ainda tenham na memória o tempo que o partido gramsciano
representava o projeto da esquerda brasileira para implantação de uma sociedade
em ruptura com a sociedade oligárquica colonial que o PMDB sempre representou.
Isso seria o começo para a política brasileira sair do domínio das grandes
máquinas de guerra partidárias como o PMDB e o PSDB. Este poderia ser o último
gesto do PT como máquina de guerra. Trata-se de um gesto grandioso, de um republicanismo
capaz de agenciar um liberalismo político ainda inexistente no Brasil. Se o PT
acreditar que a política é arte de tornar possível o impossível, ele poderia
começar a sua transformação de máquina de guerra em instituição política:
PARTIDO.
CULTURA INDUSTRIAL DE MASSAS/NIETZSCHE
Em Nietzsche, a feira e os clowns dela são metáforas para se
pensar a cultura industrial de massas da sociedade do espetáculo. Ele se refere
à sociedade do espetáculo como a grande comédia: “em torno dos comediantes
giram o povo e a fama: “é esse o caminho do mundo”. O comediante faz os o espectador acreditar
nele e no agir dele na cultura industrial de massas. Amanhã, ele terá nova
crença e, depois de amanhã, outra, também nova. Possui sentidos rápidos, tal
como a plebe, e faro de caminheiro. Com efeito, ele só acredita nos deuses que
fazem grande estardalhaço no mundo. Repleta de clowns está a sociedade de
espetáculo – e a plebe espectadora ufana-se de seus grandes “homens”, que são,
para ela, os senhores da hora. Paradoxalmente, os clowns da cultura industrial
de massas são absolutos e apressadores em fazer funcionar absolutamente a doxa.
A doxa é o terreno cultural mais primário da articulação da cultura política
totalitária no mundo-da-vida. A sociedade do espetáculo é a máquina de guerra
clowniana, mas como simulacro de simulação da comédia ou antiga ou histórica. É
longe da cultura industrial e da sociedade do espetáculo – da feira, dos clowns
e da fama – que os físicos das máquinas de guerra as leem como elas realmente
funcionam. A cultura industrial de massas é a vontade cultural de produzir o
espectador como pequeno e miserável. De prepara-los para a invisível vingança
do mundo pequeno e miserável. Vingança autoaniquiladora! Esta visão de mundo (“Weltanschauung”) laica
substitui a visão de mundo da cultura política católica de que “a vida é apenas
sofrimento” causada pela pulsão de morte. Então, tratais, portanto, de que
cesse essa vida que é somente sofrimento”. Este era o gozo milenar da cultura
política católica que a era moderna alterou substancialmente. No lugar dele,
entrou o gozo da cultura política industrial de massa: goze com a vida pequena
e miserável espiritualmente sendo um espectador entretido pelos grandes e
pequenos clowns da sociedade do espetáculo.
Como fenômeno político, a multidão é o avesso do espectador
pequeno e miserável espiritualmente. Ela é grandeza espiritual e quando faz
acontecer a revolução política passa por uma metamorfose histórica que só
assusta os áulicos ou os fariseus. Ela de plebe ignara se transforma em uma
multidão sublime.
O primeiro projeto da Constituinte foi a lei da anistia. Ele
reconhecia que a política brasileira estava sob domínio das máquinas de guerra
políticas civis e militarizadas que lutavam contra o Urstaat absolutista: a
máquina das máquinas de guerra militarizadas. A anistia levantou
constitucionalmente o problema da violência sem lei do Urstaat, entre nós, que
funcionava como uma Santa Inquisição laica amplamente amparada na cultura
política católica. Contra a anistia, levantou-se José Bonifácio – o paulista
mais culto e inteligente com formação europeia – que encerrou sua participação
constitucional sobre o problema da violência despótica dizendo que ela era um
instrumento necessário para a salvação da pátria. A constituinte rejeitou a
anistia na sessão de 22 de maio de 1823 fornecendo para a cultura política
dominante o carácter divino da violência do Urstaat absolutista. A violência
divina metabolizada pela cultura política dominante a partir da decisão da
Assembleia Constituinte sobre a anistia articulou-a (como mito) concretamente
ao inconsciente político ariano brasileiro. Esta é a leitura da violência
divina sem limite do Urstaat brasileiro como significante da história política
universal que articula a cultura política totalitária no mundo-da-vida no
século XXI brasileiro. Imaginação sartreana?
EXISTE UM PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO?
Raymundo Faoro escreveu tal livro a partir do qual a
juventude (dos 14 aos 36) pode estabelecer um ponto de partida para a revolução
política brasileira. Um sinthoma da nossa cultura política atual é justamente a
denegação da juventude em relação ao passado, à história política do país.
Talvez, ela saiba sem saber que sabe que a nossa história foi instituída,
constituída pela TRANSAÇÃO de absolutismo português colonial com o simulacro de
simulação de liberalismo a partir do Terremoto de Lisboa (1755) que levou o
Marquês de Pombal ao poder tutelado por D. José I. Este é o modelo político
luso-brasileiro colonial que - com o liberalismo constitucional de 1923 e 1824 -
se transformou em modelo neopombalino que continuou com o fim do Império de
Pedro II por meios republicanos. A própria República Democrática de 1988 foi
subsumida a este neopombalismo. Enfrentando Oliveira Vianna, Faoro diz algo
diferente da hipótese consagrada que associa liberalismo brasileiro e
oligarquia (aristocracia) da terra. Movimentos liberais – 1789 (Inconfidência
Mineira), repressão do Rio de Janeiro (1794, revolução dos Alfaiates da Bahia
(1789) e a irradiação das revoluções liberais em 1817, 1824, 1831, nas
insurreições regenciais, e eventualmente na Praieira (1848) – tornaram
significante liberal fora da transação integrado ao inconsciente político
brasileiro. Faoro acredita que um pensamento político do inconsciente
nietzschiano brasileiro pode se articular como uma cultura política capaz de
ser a junção de logos e praxis- ideais e massas – em um processo revolucionário
que possa finalmente desintegra o modelo neopombalino
colonial-imperial-republicano.
No entanto, a junção de logos e praxis no século XXI
necessita se condensar em uma contramáquina
de guerra de pensamento política. A multidão que derrubou Collor, as
massas de junho de 2013 e a multidão (mais de 2000000 de pessoas) do 15-M de
2015 não seriam um sinthoma do pensamento liberal do inconsciente político
nacional? Trata-se de um liberalismo político não assujeitado à lógica colonial
da TRANSAÇÃO? Para evitar tal lógica, guiado pela contramáquina de guerra de
pensamento político autônomo, o pensamento liberal articula-se a lógica da
cultura política mestiça insurgente em Canudos. Em um ponto, Raymundo Faoro tem
inteira razão: o inimigo principal da revolução brasileira é o Urstaat
neopombalino despertado ao longo da história republicana e agora!
GOLPE DE ESTADO
O primeiro golpe de Estado no Brasil nasceu do choque
político entre o imperador Pedro I e a Assembleia Nacional Constituinte de
1823. Trata-se do choque entre o executivo e o legislativo. Pedro diz na
abertura da Assembleia Constituinte: defenderei com a minha espada a
constituição se “fosse digna do Brasil e de mim”. O choque fica mais claro se o
leitor aceitar que Pedro I se apresenta não como poder constituinte e
constituído pela aclamação popular, mas como a espada do trono, ou seja, como a
primeira máquina guerra política absolutista luso-brasileira.
José Honório Rodrigues interpretou o choque como o perigo da
Constituinte arrogar-se, como se arrogará, a encarnação da soberania nacional
sobrepujando-se ao Príncipe despótico. A Constituinte foi dissolvida pela tropa
militar – máquina de guerra militar arquetípica da burocracia militar
brasileira – dominada naquele momento pela facção portuguesa sob ordem direta e
clara de Pedro I. Assim, o país mergulhou no absolutismo pombalino novamente,
de onde nunca havia saído.
Octávio Tarquínio de Souza esclarece que José Bonifácio na
Constituinte considerava o liberalismo político como uma metafísica dissociada
de qualquer realidade política, gerando máquinas de guerra terroristas que
banhavam em sangue França e a Espanha. Elas alimentavam e potencializavam o
estado de guerra permanente freudiano (anarquia permanente) que tomava conta da
política mundial com a desintegração parcial das monarquias absolutistas, ou
seja, do poder despótico absolutista. Os liberais mais exaltados se opunham a
Bonifácio dizendo que as Repúblicas liberais não eram anarquia política ou um
artefato simbólico como resultado de um estado de anarquia política. O
liberalismo político não tinha como motor um desejo de anarquia política!