metamateria quimilato -Estado-formiga
Por não terem formação em ciência política materialista, os psicanalistas ignoraram a ideia do <Estado animal> freudiano:
“Por que nossos parentes, os animais, não apresentam uma luta cultural desse tipo? Não sabemos. Provavelmente, alguns deles - as abelhas, as formigas, as termetas - batalharam durante milhares de anos antes de chegarem às instituições estatais, à distribuição das funções e às restrições ao indivíduo pelas quais hoje admiramos. Constitui um sinal de nossa condição atual o fato de sabermos, por nossos próprios sentimentos, que não nos sentiríamos felizes em qualquer desses Estado animais [...]”. (Freud. v.21: 146).
O Estado animal de Freud é um verdadeiro escândalo para a ciência política tradicional, mas não o é para a ciência política da metamatéria quimilato que segue Rousseau como apresentei no meu texto “História verossímil do Estado”. O Estado animal é um efeito da língua phenylato (Bandeira da Silveira; março/2025), língua das afecções que se expressam na língua da palavra como Estado/sociedade:
“Não é a fome ou a sede, mas o amor, o ódio, a piedade, a cólera, que lhes arrancaram as primeiras vozes. Os frutos não fogem de nossas mãos, é possível nutrir-se com eles sem falar; acossa-se em silêncio a presa que se quer comer; mas, para emocionar um jovem coração, para repelir um agressor injusto, a natureza impõe sinais, gritos e queixumes. Eis as mais antigas palavras inventadas, eis porque as primeiras línguas foram cantadas e apaixonadas antes de serem simple e metódicas”. (Rousseau. 1973: 170).
2
Freud e Rousseau seriam do <partido naturalista> em contraposição à Maquiavel, Baltasar Grácian Hobbes do <partido artificialista>? No romance do poder estético (Bandeira da Silveira; novembro/2025), Rousseau e Freud produzem ideologia naturalista sobre o Estado/sociedade europeu? Clement Rosset fala de um <poder da arte>. É o mesmo que poder estético?
“A única autonomia à art, com relação à instância natural, é um poder de transgressão e degradação: pode acontecer que a arte desfaça o que a natureza faz, mas esse poder de desfazer nãi implica em nenhum pode de ‘fazer’> Consequentemente, é da natureza que o artifício retira sua força: só ela permite aos seus prolongamentos artificiais viver e prosperar; privada de toda vinculação natural, uma produção artificial é tida como aquilo que deve perecer, tal qual murcha uma flor arrancada do caule”. (Rosset. 1989: 14).
O poder da arte é transgressão e degradação da natureza> Qual natureza? Se tomamos a natureza como metamatéria quimilato, o poder da arte de Rosset é transgressão e degradação da língua phenylato? O poder estético de Rosset é: “a indiferença a qualquer ideia de natureza, o único que caracteriza uma estética verdadeiramenteartificialista”. (Rosset. 1989:87). Entre o poder naturalista puro e o poder artificialista puro, hã algo aí?
“Essa recusa do artificio confunde-se, em Rousseau, com um retorno, não do natural, mas da religião, no sentido amplo, isto é, lucreciano do termo. Efetivamente é, mais do que Diderot ou Voltaire, o grande restaurador do sentimento religioso do século XVIII; sua não-definição assegura à ideia de natureza, tal qual a pratica Rousseau, uma função metafísica e mística [...] Restauração da metafísica; a ideia de natureza proclama, por recusar o artifício, que engloba todo o aspecto, que as coisas não se limitam às coisas, nem o homem ao homem. Há um ‘resto’, indizível, indefinido, invisível, que tem o nome de natureza [...]”. (Rosset. Idem: 268).
A história da química tornará esse resto invisível, dizível? O <resto> é a história da língua quimilato metamaterial? Dai, o Estado-formiga freudiano põe em cena um Rousseau que não é nem puramente naturalista ou artificialista. O que parece, então?
Rosseau e Freud são com Kant do poder estético iluminista barroco (Rawls.2005: 121-122). O poder estético barroco é a conciliação dos contrários natureza e artifício:
“Aqui há de novo a particularidade de que as forças centrífugas de um simbolismo que quer gozar a vida, e de um uma espiritualização, pelo contrário, distante do mundo, confluem num primeiro tempo artificialmente e depois naturalmente, segundo as leis barrocas da conciliação doque é em aparência inconciliável (lei que opera de maneira lenta)”. (Hatzfeld: 61).
O poder estético é barroco, conciliação da língua phenylato com a língua nacional que criam Estado, sociedade e tela da prática política universal. O Estado-formiga freudiano parece ser produzido no romance RSI (Real, Simbólico, imaginário) como Estado-formiga digital da atualidade das big techs americanas? Camadas metamaterial quimilato de indivíduos não parecem se alimentar das afecções da lingua phenylato na estruturação da relação consciência versus inconsciente?
3
Rousseau parece pensar uma forma de governo natural, da língua quimilato metamateri -(ato) da “prática política” homem/natureza?
“a piedade representa um sentimento natural que, moderando em cada indivíduo a ação do amor de si mesmo, concorre para a conservação mútua de toda a espécie. Ela nos faz sem reflexão, socorrer aqueles que vemos sofrer; ela, no estado de natureza, ocupa o lugar das leis, dos costumes e da virtude, com a vantagem de ninguém sentir-se tentado a desobedecer à sua doce voz”> (Rousseau. 1964: 156)
A língua metamaterial quimilato não tem o ato da reflexão como a língua nacional? O Estado-formiga natural se distingue do Estado-formiga digital, por este por o reflexivo no lugar da <pietas>?, esta com um sentimento natural de amor que estrutura a famíla do homem? no dicionário laino-português, pietas adquire significados que vão do amor religioso ao pai, afeto para a famíla, amor à pátria, amizade, justiça, fidelidade ao Outro, culto devido áquele de quem nada se tem recebido; a autoridade paterna deve fundar-se no affecto, a affeição que eu tenho, o amor do senado ao Prícipe (Saraiva: 898-899). O amor do senado ao Prícipe é a piedade como forma de governo cesarista. O leitor pode observar que a piedade é uma afecção alquilato importante que se expressa
no sentimento e na língua da palavra. Ela é a conciliação barroca de Rousseau entre natureza e artifício.
Derrida:
“O esquema sobre o qual o pensamento de Rousseau nunca variou, seria, pois, o seguinte: a piedade é inata, mas na sua pureza natural, ela não pertence ao homem, pertence ao vivente em geral. Ela é ‘tão natural que as próprias bestas dela dão por vezes signos sensíveis’> Esta piedade só desperta a si na humanidade, só acede à paixão, à linguagem e à representação, só produz a identificação com o outro como outro através da imaginação. A imaginação é o vir-a-ser-humano da piedade”. (Derrida. 1973: 225).
O Estado-formiga natural não possui a imaginação do Estado-formiga digital? O natural é uma forma de governo de uma língua metamateri -(ato) sem imaginação? Não há produção de imagem no Estado-formiga natural? Não estou em condições de avançar sobre essa diferença entre os dois Estados supracitados. O Estado-formiga capitalista digital se alimenta da produção de mais-valia afeccional na sua reprodução ampliada capitalista. A produção de mais-valia afeccional agencia o poder realista fantástico estratégico da comunicação: mentir, despistar, enganar, manipular (MacCarthy:333). Dissimular, simular etc. já é o poder realista estratégico que se desenvolve na lógica do simulacro de simulação (Baudrillard. 1991: 150) do Estado-formiga capitalista das big techs das redes sociais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário