segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Metamateria: Estado-formiga

 metamateria quimilato -Estado-formiga

Por não terem formação em ciência política materialista, os psicanalistas ignoraram a ideia do <Estado animal> freudiano:

“Por que nossos parentes, os animais, não apresentam uma luta cultural desse tipo? Não sabemos. Provavelmente, alguns deles - as abelhas, as formigas, as termetas - batalharam durante milhares de anos antes de chegarem às instituições estatais, à distribuição das funções e às restrições ao indivíduo pelas quais hoje admiramos. Constitui um sinal de nossa condição atual o fato de sabermos, por nossos próprios sentimentos, que não nos sentiríamos felizes em qualquer desses Estado animais [...]”. (Freud. v.21: 146).  

O Estado animal de Freud é um verdadeiro escândalo para a ciência política tradicional, mas não o é para a ciência política da metamatéria quimilato que segue Rousseau como apresentei no meu texto “História verossímil do Estado”. O Estado animal é um efeito da língua phenylato (Bandeira da Silveira; março/2025), língua das afecções que se expressam na língua da palavra como Estado/sociedade:

“Não é a fome ou a sede, mas o amor, o ódio, a piedade, a cólera, que lhes arrancaram as primeiras vozes. Os frutos não fogem de nossas mãos, é possível nutrir-se com eles sem falar; acossa-se em silêncio a presa que se quer comer; mas, para emocionar um jovem coração, para repelir um agressor injusto, a natureza impõe sinais, gritos e queixumes. Eis as mais antigas palavras inventadas, eis porque as primeiras línguas foram cantadas e apaixonadas antes de serem simple e metódicas”. (Rousseau. 1973: 170). 

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Freud e Rousseau seriam do <partido naturalista> em contraposição à Maquiavel, Baltasar Grácian Hobbes do <partido artificialista>? No romance do poder estético (Bandeira da Silveira; novembro/2025), Rousseau e Freud produzem ideologia naturalista sobre o Estado/sociedade europeu? Clement Rosset fala de um  <poder da arte>. É o mesmo que poder estético? 

“A única autonomia à art, com relação à instância natural, é um poder de transgressão e degradação: pode acontecer que a arte desfaça o que a natureza faz, mas esse poder de desfazer nãi implica em nenhum pode de ‘fazer’> Consequentemente, é da natureza que o artifício retira sua força: só ela permite aos seus prolongamentos artificiais viver e prosperar; privada de toda vinculação natural, uma produção artificial é tida como aquilo que deve perecer, tal qual murcha uma flor arrancada do caule”. (Rosset. 1989: 14). 

O poder da arte é transgressão e degradação da natureza> Qual natureza? Se tomamos a natureza como metamatéria quimilato, o poder da arte de Rosset é transgressão e degradação da língua phenylato? O poder estético de Rosset é: “a indiferença a qualquer ideia de natureza, o único que caracteriza uma estética verdadeiramenteartificialista”. (Rosset. 1989:87). Entre o poder naturalista puro e o poder artificialista puro, hã algo aí?  

“Essa recusa do artificio confunde-se, em Rousseau, com um retorno, não do natural, mas da religião, no sentido amplo, isto é, lucreciano do termo. Efetivamente é, mais do que Diderot ou Voltaire, o grande restaurador do sentimento religioso do século XVIII; sua não-definição assegura à ideia de natureza, tal qual a pratica Rousseau, uma função metafísica e mística [...] Restauração da metafísica; a ideia de natureza proclama, por recusar o artifício, que engloba todo o aspecto, que as coisas não se limitam às coisas, nem o homem ao homem. Há um ‘resto’, indizível, indefinido, invisível, que tem o nome de natureza [...]”. (Rosset. Idem: 268).    

A história da química tornará esse resto invisível, dizível? O <resto> é a história da língua quimilato metamaterial? Dai, o Estado-formiga freudiano põe em cena um Rousseau que não é nem puramente naturalista ou artificialista. O que parece, então?

Rosseau e Freud são com Kant do poder estético iluminista barroco (Rawls.2005: 121-122). O poder estético barroco é a conciliação dos contrários natureza e artifício:

“Aqui há de novo a particularidade de que as forças centrífugas de um simbolismo que quer gozar a vida, e de um uma espiritualização, pelo contrário, distante do mundo, confluem num primeiro tempo artificialmente e depois naturalmente, segundo as leis barrocas da conciliação doque é em aparência inconciliável (lei que opera de maneira lenta)”. (Hatzfeld: 61). 

O poder estético é barroco, conciliação da língua phenylato com a língua nacional que criam Estado, sociedade e tela da prática política universal. O Estado-formiga freudiano parece ser produzido no romance RSI (Real, Simbólico, imaginário) como Estado-formiga digital da atualidade das big techs americanas?  Camadas metamaterial quimilato de indivíduos não parecem se alimentar das afecções da lingua phenylato na estruturação da relação consciência versus inconsciente?    

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