José Paulo
Gentile foi o Jean Baudrillard realista modernista neoclássico da imagem do Estado integral. Gramsci fez dessa simples imagem uma tela da mente estética ocidental da época do mercantilismo capitalista europeu (Sombart. 1984: 83) da primeira metade do século XX. Em Gramsci, o Estado integral é sociedade política e sociedade civil, aparelhos repressivos e aparelhos de hegemonia e validade e faticidade, dominação e hegemonia (Buci-Glucksmann: 114). Hoje, o Estado integral aparece como poder estético, identificação estética, massas e sociedade de classe estéticas.
O anglo-americano criou uma imagem de cachorro-viralata do latino-americano como parte de sua dominação estética sobre as América, financiada pelo capital cultural (Bourdieu. 1994:39)do departamento de Estado americano. O anglo-americano criou uma imagem suja do Estado patrimonial barroco católico da Península em contraposição à imagem pura do Estado puritano clássico anglo-americano:
“O pelourinho, um símbolo de justiça e de autoridade real, erguia-se no centro da maior parte das cidades portuguesas do século XVI. À sua sombra as autoridades civis liam proclamações e puniam criminosos. sua localização, no centro da comunidade, ilustrava a crença ibérica de que a administração da justiça era o atributo mais importante do governo. Portugueses e espanhóis dos séculos XVI e XVII achavam que a administração imparcial da lei e o desempenho honesto do dever público asseguravam o bem-estar e o progresso do reino; inversamente, o embaimento da justiça por funcionários avarentos ou grupos e indivíduos poderosos traziam a ruína e provocavam a retaliação divina. Em Portugal, a preocupação real com relação à justiça chegou a medidas draconianas no reinado de D. Pedro I (1357-1397), para quem a administração equalitária da justiça a ricos e pobres tornou-se uma fixação psicótica. Inúmeras vezes tratados eruditos a as próprias leis versavam sobre a justiça como sendo a primeira responsabilidade do rei. Do século XIII ao XVII, os portugueses viam uma estreita relação entre o rei e a sua lei”. (Schwartz: 3-4).
2
Nas ciências das telas, o Estado integral é: anjos de demônios, ethos e páthos, eros e tanatos, lógica gramatical e ideologia quimilato, retórica estética e modo de ser psíquico sublimatório, stásis e pólemos, obra-de-arte, isto é, o Estado lacaniano com poder estético e tela da mente estética. (Bandeira da Silveira. cap.12. Agosto/2022).
No romance político “Minas de prata”,no capítulo 3, volume 1, o Estado emerge na cidade de Salvador, Bahia, com a chegada do homem da aristocracia luso e sua classe dirigente e burocracia. A imagem estética deste fenilomenico beira o sublime pela identificação estética da massa estética barroca reunida na Igreja para a festa barroca cívica-religiosa:
“Chegava o governador D. Diogo de Meneses, conduzindo debaixo de pálio pelos juízes e vereadores do conselho. e acompanhado por D. Diogo de Campos, sargento-mor do Estado do Brasil, pelo alcaide-mor da Bahia, Álvaro de Carvalho, provedor da fazenda, o desembargador Baltasar teles, ouvidor, escrivão dos contos e mais gente do serviço de El-rei”.
A imagem estética do aparelho de hegemonia não é de cachorro-vira-lata:
“Do outro lado via-se a poltrona episcopal, vaga pela ausência de D. Constantino Barradas, que se achava de visita na capitalia de Pernambuco; seguiam-se as dignidades da Sé e o coro dos cônegos; no fim havia um banco de veludo roxo que devia ser ocupado pelo provincial dos jesuítas à direita do dom abade de São Bento e do custódio dos franciscanos”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 23).
O jesuíta representa o general intellect gramatical (Bandeira da Silveira;05/2022) sacro, a democracia barroca sacra tupi-guarani e não o fascismo da insurreição colonial - na ideologia política iluminista liberal do Marquês de Pombal acreditava. ( Falcon. 1993; Faoro. 1994).
A identificação estética da massa estética com o poder estético angelical é quase universal se não fosse por uma jovem quase herege e os olhares libidinais entre belas jovens e belos rapazes na Igreja:
Mais longe, as duas meninas, logo que começara o sacrifício, haviam cessado a conversa e emudecido no santo respeito que lhe inspirava o sublime mistério da religião cristã; mas o espírito de Elvira, rebelde e tenaz, voltava às suas preocupações apesar de todos os esforços que ela fazia para afastá-lo de tais ideias e trazê-lo à oração, que os lábios balbuciava automaticamente”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 26).
A igreja aparece como um modo de ser psíquico sublimatório para a massa de fiéis misturado com olhares carnais dos jovens:
“Inesita, essa estava inteiramente absorvida pela oração; o espírito de Deus a dominava; e só de espaço em espaço, nos momentos em que a alma saindo da meditação lembra-se que tem um corpo, a tímida menina sentia-se viver pela recordação do lugar onde estava e da proximidade de Estácio; então sem ver, adivinhava que o olhar do moço a envolvia em um raio de amor, e estremecia com a sensação de gozo inexprimível. (Idem: 27).
3
O romance político “Minas de Prata” faz pendant com a história colonial barroca ou com a história do século monárquico de d. Pedro II? Ele cria e recria uma tela da mente estética da classe governante, do passado estético da monarquia:
“D, Diogo de Menezes era um verdadeiro fidalgo no porte senhoril como no caráter egrégio; achava-se então no vigor da idade, no período de transição dos quarenta para os cinquenta anos, em que então os homens daquela têmpera chegavam ao perfeito desenvolvimento de sua organização e adquiriam a robusta virilidade, que ilustrou a história de tantos feitos brilhantes.
O grave parecer esclarecido por um espírito superior era o documento do passado honroso e o prenúncio da carreira ilustre que ainda tinha a percorrer; a severidade não excluía a afabilidade das maneiras e a polidez do trato, que caracterizavam o fino cavalheiro.
Homem do governo, escravo do dever, para quem a lei era religião, e a honra culto; conhecia-se contudo que ele compreendia, e talvez mesmo sentisse ainda, o entusiasmo heróico e cavalheiresco, que iluminara as lendas e os romances da média idade, e já então apenas lançava os frouxos clarões da luz que bruxuleia ao extinguir-se”. (Alencar. Minas de Prata: 24).
A tela da mente estética do governador é o R.S.I. luso colonial:
“<Real>, <imaginário>, <simbólico> vale tanto quanto a outra tríade com que, para dar ouvidos a Aristóteles, dava-nos o sumo da composição do homem, a saber, nous, psyché, soma, ou, ainda, vontade, inteligência, afetividade”. (Lacan. S. 23: 142).
Dos fatos da lógica gramatical, retórica, ideológica que se encontra em Lévi-Strauss:
“Desde que se pretenda privilegiar o conhecimento histórico, sentimo-nos no direito (que de outra maneira não pensaríamos reivindicar) de salientar que a própria noção de fato histórico encobre uma dupla antinomia. Pois, por hipótese, o fato histórico é o que, realmente, se passou; mas, onde se passou alguma coisa? Cada episódio de uma revolução, ou de uma guerra, se resolve numa multidão de movimentos psíquicos e individuais; cada um destes movimentos traduz evoluções inconscientes e estas se resolvem em fenômenos cerebrais, hormonais ou nervosos, cujas referências são de ordem física ou química. Por conseguinte, o fato histórico não é mais <dado> que os outros; é o historiador, ou o agente do devir histórico, quem o constitui por abstração, e como que sob ameaça de uma regressão ao infinito”. (Lévi-Strauss. 1976: 292-293)
O fato histórico é um fato estético da vida química, de uma realidade posta por um poder estético na tela da mente estética territorial ou virtual das classes sociais como modo de ser psíquico barroco do Brasil colonial, por exemplo:
“Desde que alguém se proponha a escrever a história da Revolução Francesa, sabe (ou deveria saber) que esta não poderá ser, simultaneamente, e ao mesmo título, a do jacobino e a do aristocrata. Por hipótese, suas respectivas totalizações (cada uma das quais é anti-simétrica com a outra) são igualmente verdadeiras. É preciso, pois, escolher entre dois partidos: seja reter principalmente uma delas, ou uma terceira (porque há uma infinidade delas) e renunciar a procurar na história uma totalização de conjunto de totalização parciais; seja reconhecer a todas uma realidade igual: mas, apenas, para descobrir que a Revolução Francesa, tal como falam dela, não existiu”. (Idem: 294).
O poder estético musical em Lévi-Strauss é constitutivo da realidade histórica:
“Imaginemos arqueólogos do futuro, vindos de outro planeta, quando toda a vida humana já tiver desaparecido da superfície da terra, a investigar o sítio de uma de nossas bibliotecas. Esses arqueólogos ignoram tudo de nossa escrita, mas tratam de decifrá-la, o que supõe a descoberta prévia de que o alfabeto, tal como o imprimimos, se lê da esquerda para a direita e de cima para baixo. Contudo, uma categoria de volumes permanecerá indecifrável desta maneira. Serão as partituras da orquestra, conservadas no departamento de musicologia. Nossos sábios obstinar-se-ão, sem dúvida, em ler as pautas musicais uma após outra, começando pelo alto da página e tomando-as todas em sucessão; depois, perceberão que certos grupo de notas se repetem com intervalos, dee maneira idêntica ou parcial, e que certos contornos melódicos, aparentemente afastados uns dos outros, oferecem analogias entre si. Talvez se perguntem, então, se esses contornos, ao invés de ser abordados em ordem sucessiva, não devem ser tratados como os elementos de um todo, que é necessário aprender globalmente. Terão então descoberto o princípio do que dominamos <harmonia>: uma partitura de orquestra não tem sentido se não for lida diacronicamente segundo um eixo (página após página, da esquerda para a direita),, mas, ao mesmo tempo, sincronicamente, segundo o outro eixo, de cima para baixo> Ou seja, todas as notas situadas na mesma linha vertical formam uma grande unidade constitutiva, um feixe de relações”. (Lévi-Strauss. 1975: 244).
O feixe de relações apresentariam a propriedade - na tela da mente estética da prática política estética - sobre a realidade do poder estético barroco colonial do governador da Bahia.
4
Nas ciências das telas, há a subsunção da forma de consciência do individualismo metodológico (Kelsen. 1993:343) ao signo ideológico, à semiótica ideológica (Bakhtin. 1981:36,38,53). Depois, há a subsunção do signo ideológico ao <poder da metáfora>, ersatz de poder estético da gramática retórica (Paul de Man: 26):
“A passagem é sobre a superioridade estética da metáfora em relação à metonímia, mas essa reivindicação estética é feita por meio de categorias que são a base ontológica do sistema metafísico que permite que a estética exista como uma categoria [...] Finalmente, na segunda parte da passagem, a metáfora da presença não apenas aparece como a base da cognição mas como o desempenho de uma ação, prometendo assim a reconciliação da mais destrutiva das contradições. A essa altura, o investimento no poder da metáfora é tal que se pode considerar um sacrilégio colocá-lo em questão”. (Paul de Man: 30).
O poder estético faz de um nobre castelhano uma gramática retórica do referente com força de direito do passado estético da monarquia de d. Pedro II:
“Elvira e sua amiga dirigiram-se à pia de mármore branco colocada à porta, como de costume; a alguma distância seguiam D. Luisa de Paiva conversando com o pai de Inesita. Era este, D. Francisco de Aguilar, nobre castelhano, senhor do engenho <Paripe>, homem principal, como se dizia naquele tempo.
Alto, robusto, ainda verde e bem conservado, D. Francisco era o verdadeiro tipo do <hidalgo> andaluz. Orgulhoso de seu sangue, de sua pátria e de seus cabedais, altivo no trato dos que julgava inferiores, seco nas maneiras, tinha contudo a verdadeira nobreza, que a educação e o hábito podem apurar, mas não é o privilégio dos brasões, pois a dá o coração; sabia ser grande e generoso quando os prejuízos da fidalguia não se opunham aos impulsos de sua alma”. (Alencar. Minas de Prata: 30).
chame a atenção a hierarquia estética social na página desse ,homem cordial> muito próxima ao poder estético selvagem de Lévi-Strauss:
“Os cadivéu constituem uma sociedade hierárquica, organizada em três grupos endógamos ou castas. Em seu desenvolvimento social, bem como no de seus vizinhos, essa hierarquia nascente já é o lugar da emergência, se não de um poder político no sentido estrito, pelo menos de relações de domínio: a condição inferior das mulheres, a subordinação dos jovens aos velhos e o desenvolvimento de uma aristocracia hereditária. Contudo, enquanto essa estrutura latente de poder é, entre os grupos vizinhos dos Guaná e dos Bororos, mascarada por uma divisão em partes que se distribuem pelas três castas, e cuja troca exogâmica parece funcionar de maneira não-hierárquica e essencialmente igualitária, ela se mostra declaradamente presente na vida dos Cadivéu como desigualdade e conflito de superfície. As instituições sociais dos Guaná e sos Bororo, por outro lado, constituem um reino de aparência, em que a verdadeira hierarquia e a desigualdade são dissimuladas pela reciprocidade das partes, e em que, portanto, <a assimetria de classe é equilibrada …pela simetria das ‘partes’>. (Jameson. 1992:71).
O <homem cordial> andaluz é irmão do <homem cordial> luso-brasileiro?
“Nada mais significativo dessa aversão ao ritualismo social, que exige, por vezes, uma personalidade fortemente homogênea e equilibrada em todas as suas partes, do que a dificuldade em que se sentem, geralmente, os brasileiros, de uma reverência prolongada ante um superior”. (Holanda. 1988: 108).
O homem cordial não é o homem gramatical quimilato?
“O desconhecimento de qualquer forma de convívio que não seja ditada por uma ética de fundo emotivo representa um aspecto da vida brasileira que raros estrangeiros chegam a penetrar com facilidade”. (Holanda. 1988: 109).
Essa imagem visual do dominante brasileiro perdurou como ideologia dominante estética da literatura à sociologia; ela hoje desapareceu da tela da mente estética?
“Podemos sugerir que, desse ponto de vista, a ideologia não é algo que informa ou envolve a produção simbólica; em vez disso, o ato estético é em si mesmo ideológico, e a produção da forma estética ou narrativa deve ser vista como um ato ideológico em si próprio, com sua função de inventar ‘soluções’ imaginárias ou formais para contradições sociais insolúveis”. (Jameson. 1992:72).
As contradições insolúveis (do dominante senhor escravocrata na sociedade capitalista com o povo negro liberto pela princesa Isabel) derrubou a monarquia bragantina. Contradições insolúveis de uma subjetividade burguesa que continua escravocrata no trato com as classes sociais inferiores. Tal lógica gramatical retórica-estética cria e recria uma guerra hierárquica de um pastiche paródico de um poder estético monstruoso do rico contra o pobre através do controle que o rico detém na TV, Youtube, no aparelho de Estado e no parlamento.
5
Pero Vaz de Caminha foi o fidalgo luso escrivão da descoberta do Brasil. Sua Carta do descobrimento é a primeira peça estética a falar do Brasil. Muito se discutiu a gramática da carta buscando uma confirmação de que a descoberta foi intencional. Não se percebeu até hoje que ele é o signo estético do general intellect gramatical? O “Minas de prata” tem a personagem Vaz Caminha. Este é o primeiro advogado luso de Salvador na época do domínio espanhol sobre Portugal, os 60 anos da era dos Filipe. Vaz Caminha é o sujeito lacaniano do general intellect gramatical colonial do romance político:
“do sujeito que um discurso sujeita como tal à produção , desse sujeito que há matemáticos que qualificam de criativo. Resta deixar claro que é realmente de sujeito que se trata, o que é corroborado pelo fato de que, na minha lógica, o sujeito se exaure ao se produzir como efeito de significante, mantendo-se tão distante deste, é claro, quanto um número real de uma sequência cuja convergência é racionalmente assegurada”. (Lacan. S. 19: 166).
Trata-se de achar a gramática que produziu o sujeito como efeito dela. A história do advogado Vaz Caminha ilumina essa gramática. É a biografia do aldeão que se torna intelectual do rei, do general intellect gramatical real:
“Vaz Caminha era natural da vila de Arraiolos, em Portugal, e descendente de uma família de aldeões, para quem o mundo não existia além do estreito horizonte em que se debuxava o campanário da igreja paroquial.
O futuro legista estava condenado a vegetar nos labores campestres, se a natureza deserdando-o da robustez e vigor proverbial na família, não o houvesse predestinado para uma vida espiritual e meditativa: nascera de sete meses e mostrara desde logo que pouco desenvolvimento teria sua organização acanhada. ]
[...]
Finalmente um monge do convento do Laios tomou o menino sob sua proteção, e depois de o haver feito aprender as pueris e gramaticais, mandou-o ouvir na universidade de Coimbra as aulas maiores de degredos; porém, o moço estudante preferiu dedicar-se à jurisprudência, e seu protetor atendendo às boas disposições que mostrava, não o contrariou”. (Alencar. Minas de Prata. v. 1: 41).
O corpo de Vaz Caminha não apropriado para o trabalho produtivo de mais-valia no campo o torna um enjeitado pela família. Um monge o salva da família e da vida de enjeitado na aldeia. Caminha se torna um cidadão da universidade Coimbra. O que significa isso? O enjeitado será um advogado graças ao aparelho de hegemonia de Estado universidade. A gramática desse aparelho de hegemonia funciona como um modo de ser psíquico sublimatório para Caminha, sublimação do corpo grotesco (inútil para a produção de mais-valia econômica) e da vida de campanário intelectual da aldeia. Caminha se encaminha para a produção de mais-valia gramatical, própria do general intellect gramatical.
O bloco estético-político hegemônico na Península era a Companhia de Jesus. A ligação de Vaz Caminha com os jesuítas era um laço natural ao general intellect gramatical meio sacro meio pagão. O poder estético do jesuíta foi importante na com a aclamação do novo monarca luso D. João IV. A influência dos jesuítas foi enorme junto a D. João IV. Ora, o jesuíta é o sujeito sacro como poder estético barroco:
“sabendo também que é perigoso desmascarar as imagens, já que elas dissimulam que não há nada por trás delas. Assim farão os Jesuítas, que fundarão a sua política sobre a desaparição virtual de Deus e a manipulação mundana e espetacular das consciências - desvanecimento de Deus na epifania do poder - fim da transcendência que já não serve senão de alibe a uma estratégia completamente livre das influências e dos signos. Por trás do barroco das imagens esconde-se a eminência parda da política”. (Baudrillard. 1981: 15-16).
A lógica gramatical retórica, ideológica jesuítica faz pendant com poder estético barroco na produção do sujeito lacaniano general intellect gramatical:
“- El-rei houve por bem dividir outra vez seu Estado do Brasil em dois governos separando as capitanias do Sul.
El-rei terá razão de assim proceder, senhor Baltasar Teles; mas não é menos certo que pouco avança, quem não segue o rumo direito. Ainda em 1577 se uniam os dois governos, e já os dividem!
Pensais com acerto, doutor Caminha. Porém não pensam assim vossos amigos, que tão certo como ser hoje quinta-feira, foram os motores disso.
Falais dos padres, senhor desembargador?
Falo dos da Companhia de Jesus, que bem conheceis
<Ubi effectus, ibi causa>. Que interesse podem ter eles na divisão?
O de vingar-se de D. Diogo de Meneses, pela audácia de lembrar-lhes o texto das Santas Escrituras. Os filhos de Jesus costumam esquecer que seu reino <non est de hoc mundo>”. (Alencar. mInas de prata. v. 1: 55).
A política jesuítica do poder estético barroco faz pendant com a língua quimilato universal da vingança.
6
A passagem do modernismo ao pós-modernismo vai da economia política modernista da produção da mais-valia à economia política modernista do signo (Baudrillard;1981), à economia política modernista libidinal (Lyotard; 1974) e passa à impressionante economia política pós-modernista da sedução:
“A lei da sedução é primeiro a de uma troca ritual ininterrupta, de um lance maior onde os jogos nunca são feitos, de quem seduz e de quem é seduzido e, em virtude disso, a linha divisória que definiria a vitória de um e a derrota de outro é ilegível - e não há outro limite para esse desafio ao outro de ser ainda mais seduzido ou de amar mais do que eu amo senão a morte. Ao passo que o sexual tem um fim próximo e banal: o gozo, forma imediata da finalização do desejo”. (Baudrillard. 1991: 29).
A economia da sedução tem na femme fatale do romantismo uma espécie de poder sedutor?
“O poder seduz. Não no sentido vulgar de um desejo das massas, de um desejo cúmplice (tautologia que volta a embasar a sedução no <desejo dos outros>) - não; ele seduz pela reversibilidade que o persegue e sobre o qual se instaura um ciclo mínimo”. (Baudrillard. 1991: 55);
A Inesita alencariana é a imagem visual escrita da economia política modernista romântica da sedução?
“Era Inesita.
O, longo véu, que de manhã na missa lhe ocultava o rosto e disfarçava o talhe, desaparecera; agora o traje de gala deixava contemplar em seu brilho as graças da encantadora criação, que a natureza concebera em algum momento de enlevo e cristalizara com um beijo de mãe.
Tudo era mimoso e delicado no corpo gentil que palpitava de esperança e amor, ondulando no requebro suave, desatando nos movimentos faceiros como se a alma lhe vertesse dos lábios, para embebê-la de luz e envolvê-la toda em um só e único sorriso”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 77).
O poder sedutor de Inesita já é o poder estético [como poder d’ars com força de direito] que imita a natureza (Kantorowicz. 1984: 12):
“O corpilho de lhama de ouro, atufando-se para debuchar o relevo de dois seios de virgem, depois estreitando para moldar o talhe esbelto e senhoril, cerrava a cintura de menina, e abria as asas sobre as amplas dobras da saia de raso branco, que arfava com o influxo das formas sedutoras”. (Alencar. Idem: 78).
Bem! há no “Minas de prata” a transição da economia política da sedução para a economia política do quimilato pulsional lacaniano?
“Um instante, inesita, pálida e trêmula, esteve sob a influência magnética do olhar de Estácio, como sentindo aquele raio luminoso deslizar-lhe pelo rosto e abrasar-lhe as faces; até que as pálpebras ergueram-se a medo. De um volver ela viu o gesto de admiração ardente que se pintava no semblante do moço.
Ergueu a cabeça desvanecida: o sorriso de adoração, que a dejava nos lábios de estácio, acabava de refletir como um espelho sua beleza deslumbrante.
Seu olhar envolveu amorosamente as feições do moço com ondas de luz; depois fitou-se no escudo, e procurou decifrar com o coração, mais que com o espírito, o enigma da divisa. Um quer que seja lhe dizia que ali havia uma palavra para ela; na impossibilidade de traduzir, soletrava decorando uma a uma as letra”. (Alencar. idem: 80).
Estácio na mão “esquerda tinha passado o escudo sobre o qual via-se a letra: <Amor vincit omnia”. A relação amorosa escópica entre os jovens já é a economia política modernista romântica da lìngua quimilato alencariana:
“Esse lembrete é o bastante para justificar que tenhamos insistido preferencialmente na pulsão escópica e em seu objeto imanente: o olhar”. (Lacan. 2003: 224).
6
O narrador do século XIX fala da mulher do século XVII:
“Estácio e Cristóvão tinham desaparecido na entrada da rua; inesita, conseguindo encobrir sua perturbação, graças à inata dissimulação das mulheres, abanou a cabeça com um arzinho de malícia”. (Alencar. Minas de Prata. v. 1: 81).
Falar da subjetividade da mulher como um sujeito universal da dissimulação da civilização indica a natureza barroco-romântica do narrador:
“A vida do homem consiste numa milícia contra a malícia do homem. A astúcia da luta com estratégias de intenção. Nunca faz o que indica. Aponta para enganar, golpeia indiferente no ar e desfere o golpe, atuando sobre a realidade imprevista com dissimulação atenta [...] A simulação cresce mais ainda ao ver seu truque descoberto e tenta enganar com a verdade. Muda de jogo, engana com a aparente falta de malícia. Sua astúcia se baseia na maior franqueza. Mas a observação se adianta, discernindo através de tudo isso percebendo as sombras envoltas em luz. Decifra a intenção, que mais parece singela. Assim é a luta de Pitão contra a franqueza dos penetrantes raios de Apolo”. (Baltasar Gracián: 29).
Gracián fala do <poder estratégico> barroco de Habermas (MacCarthy: 333): dissimular, simular, enganar, mentir, discernir, despistar, manipular no claro/escuro das formas de comunicação. Associar o poder estratégico barroco à mulher já põe o problema do poder d’ars como estratégia e táticas. O “Minas de Prata” se tece a partir do poder estético como força de direito (poder d’ars) na prática política estética. A mulher do barroco faz parte de um campo estético em continuidade com a mulher do Renascimento?
“Narrador brasileiro do século XIX:
“- Eram aqueles tenções dos escudos, que estavam me aborrecendo! disse ela meio arrufada.
Ah! As divisas em latim!... exclamou o governador rindo.
Não é mal feito escreverem numa língua que não se entende?
Claro que parece falta de galanteria; mas assim usaram nossos país
É que as damas então não sabiam muito! replicou a moça”. (Alencar. Idem: 81).
São europeus oriundos da Península Ibérica conversando. Como foi nessa região geográfica o Renascimento? O campo de investigação poder d’ars é infinito. Recorro ao Renascimento (clássico moderno do capitalismo mercantil) italiano:
“Antes de mais, nas classes superiores, a educação da mulher era a mesma do homem. Os italianos do Renascimento de modo algum hesitavam em obrigar os filhos e filhas aos mesmos estudos literários e até filológicos [...]; como viam, nesta cultura mesclada de elementos modernos e elementos antigos, o bem mais precioso da vida, não queriam recusá-lo às filhas. Vimos até as filhas das casas principescas manejar a língua latina com uma perfeição notável [...] As mulheres eram obrigadas, pelo menos a partilhar a leitura dos homens, a fim de poderem seguir a conversação, na qual a Antiguidade desempenhava un papel tão importante”. (Burckhardt: 304).
Hoje, a mulher é parte da força de trabalho importante do general intellect gramatical no Ocidente. Ela deixou de ser um fenilomenico {fenômeno com força de direito na tela da mente estética] retórico de um poder estético do clássico ou a mulher do barroco que não sabe latim, sem educação clássica.
7
As ciências das telas podem estabelecer um feixe de relações entre a tela barroca colonial de 1609 e a plurivocidade de tela do Brasil de 2025. O fio condutor é o hegemonikon (Elorduy: 26) d’ars ou eu político estético das telas em questão - na prática política de outrora e a de hoje. Na do passado, há dois modelos virtuais, transcendentais, coloniais de hegemonikon retirados da historiografia sa coleção de Sérgio Buarque de Holanda:
“A divisão do Brasil em capitanias hereditárias prendia-se ao sistema colonial luso anterior à promulgação da medida de 1534 por D. João III., ja praticadas em outros domínios de portugal. Contrariamente ao que por longo tempo foi admitido, sugerido pelo termo ‘hereditário’, o decreto não instaurava feudos, mas ilhas atlânticas e no continente americano. Este aspecto somente apareceria mais tarde, nos vastos latifúndios de senhores de engenho e fazendeiros de gado, estabelecidos em autarquias compostas de casa-grande, senzala e edificações atinentes à faina produtora, onde o dono, erigido em patriarca, dominava o feudo que lhe coubera por herança ou esforço próprio, rodeado da família, afins, clientela e servos. distantes de outros personagens parecidos, a légua de empresas agrícolas e povoados, onde se os mesmos característicos com iguais aspectos e consequências”. (Holanda. 1989: 94).
O hegemonikon feudal não é uma prática política da democracia feudal dos direitos à mais-valia da massa produtora para o dominante. Ele se caracteriza pelo direito do mais forte em uma guerra feudal por expansão territorial do latifúndio. Daí a formação de uma prática política monopolista. Em 2025, temos uma prática política na qual os poderes estatais não são mais regulados pela lógica gramatical virtual da Constituição de 1988. Este é o nosso problema mais real do que o próprio real da história, ele existe na tela da mente estética da crise da república presidencialista democrática.
7
No Brasil colonial do século XVI, há a montagem do Estado integral (aparelho de Estado e Igreja). Uma imagem hiper-realista fala de um lumpesinato intelectual, de um baixo general intellect gramatical na origem do mundo intelectual luso-brasileiro:
“No esboço de Estado que se ia instituindo na América lusitana, eram essas algumas das peças verdadeiramente essenciais, segundo o critério traçado pelos interesses e pela experiência ultramarina dos portugueses. Quanto ao espiritual, dificilmente poderia assentar sobre bases mais mofinas. Óleo não existia aqui nem para ungir, nem para batizar. Clérigo de missa, havia-os como já se sabe, mas esparsos nas capitanias, em regra de poucas letras e mau viver, triste exemplo para europeus e gentios. ‘Cá há clérigos’, dizia Nóbrega, em carta de abril de 1549, ‘mas he a escoria do que de la vem…nom se devia consentir embarcar sacerdote sem ser sua vida muyto aprovado, porque estes destruem quanto se edifica’. Já antes disso tinha dito: ‘Dos sacerdotes ouço cousas feias”. (Holanda.1989: 113).
O que o padre Nóbrega diz é que a colonização necessitava de um poder d’ars sacro elevado - como o da Companhia de Jesus - para produzir a identificação estética das massas de colonos e indígenas com a tela da mente estética da colonização. A Colonização é obra de uma plurivocidade hegemonicon estético: Estado luso-brasileiro puro, Igreja, Companhia de Jesus, capitania hereditária, senhor feudal latifundiário, governo geral, isto é o governador, que teve em Tomé de Sousa a primeira encarnação do Estado colonial luso-brasileira. O ‘Minas de prata” ocorre - no início do século XVII - na época dos Filipes, quando o reino de Portugal passou a ser parte da monarquia espanhola:
“A Bahia não passava então de uma pequena cidade habitada por cerca de mil e quinhentas almas; mas seus vizinhos eram abastados e gostavam de luxo; havia muitos colonos ricos de fazendas de raiz, peças de prata e ouro, jaezes de cavalos e alfaias de casa; alguns tinham o melhor de cinco mil cruzados de renda, e diz Gabriel Soares, ‘tratavam suas pessoas mui honradamente com muitos cavalos, criados e escravos”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 9).
A imagem visual barroco/romântica do hegemonikon só poderia ser grande, ou bela, ou sublime:
“Sem dúvida que não há para a estimação matemática de magnitudes um maximamente grande (pois a capacidade dos números vai ao infinito); porém para a estimação estética de magnitude há, em todo caso, um maximamente grande; e digo deste que, quando é julgado como medida absoluta, por sobre a qual nada mais grande é possível subjetivamente (para o sujeito que julga), implica a ideia de sublime e suscita a emoção que nenhuma estimação matemática das magnitudes por meio de números pode efetuar (a não ser que essa medida fundamental estética seja a mantida viva na imaginação); porque a última apresenta só a magnitude relativa por comparação com outras da mesma espécie, e a primeira, em troca, a magnitude em absoluto, na medida que pode o ânimo captar-la em uma intuição”. (Kant. 1991: 165):
“Chegava o governador D. Diogo de Meneses, conduzido debaixo de pálio pelos juízes e vereadores do conselho, e acompanhado por D. Diogo de Campos, sargento-mor do Estado do Brasil, pelo alcaide-mor da Bahia, Álvaro de Carvalho, provedor da fazenda, o desembargador Baltasar Teles, ouvidor, escrivão dos contos e mais gente do serviço de El-rei”.
À hierarquia social faz pendant com a hierarquia estética no Estado luso-espanhol-brasileiro:
“O cabido saiu fora a recebê-lo com as etiquetas do formulário, e o conduziu ao setial colocado do lado do evangelho; no mesmo plano estava o assento forjado de damasco branco dos oficiais da câmara; vinham depois o ouvidor, alcaide, provedor e os outros ministros”.
Do outro lado via-se a poltrona episcopal, vaga pela ausência de D. Constantino Barradas, que se achava de visita na capitania de Pernambuco; seguiam-se as dignidades da Sé e o coro dos cônegos; no fim havia um banco de veludo roxo que devia ser ocupado pelo provincial dos jesuítas à direita do dom abade de São Bento e do custódio dos franciscanos”. (Alencar. idem; 23).
O hegemonikon governador geral é um modo de ser psíquico de um processo sublimatório que se eleva ao céu dos céus da pratica política estética colonial:
“D. Diogo de Meneses era um verdadeiro fidalgo no porte senhoril como no caráter egrégio; achava-se então no vigor da idade, no período de transição dos quarenta para os cinquenta anos, em que então os homens daquela têmpera chegavam ao perfeito desenvolvimento de sua organização, e adquiriam a robusta virilidade, que ilustrou a história de tantos feitos brilhantes”.
“O grave parecer esclarecido por um espírito superior era o documento do passado honroso e o prenúncio da carreira ilustre que ainda tinha a percorrer; a severidade não excluía a afabilidade das maneiras e a polidez do trato, que caracterizavam o fino cavalheiro”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 24).
O romance político fala do passado estético da classe dirigente como obra-de-arte da monarquia brasileira de D. Pedro II. Parece que nada restou dessa classe dirigente obra-de-arte sublime em 2025. um poder d’ars com o qual os jovens possam se identificar - na prática política republicana - esteticamente.
8
Historiadores e artistas descobrem e inventam o antagonismo litoral/sertão como figura de linguagem d’ars/geográfica/política:
“Bem conhecido é a censura dirigida por Frei Vicente do Salvador aos povoadores que nunca se arraigam no Brasil, os quais, se os bens e fazendas que aqui têm soubessem falar, lhes haveriam de dizer como a papagaios: papagaio real, para Portugal. pois tudo ‘querem para lá’. frei Vicente já é natural da Bahia, por isso nada lhe dá de parecer insólito ou verdadeiramente repulsivo na paisagem natural e social do Brasil”. (Holanda. 1989: 133).
A aversão do colono ao território é uma estética ao poder d’ars da natureza natureza e da natureza da sociedade/Estado:
“Assim é que Diogo de Campos irá queixar-se, em 1612, dos brancos que, vivem aqui ao longo do mar, mais hóspedes que povoadores. Quanto a Ambrósio Fernandes Brandão, ou quem quer que escrevesse os <Diálogos>, atribui a um dos interlocutores a opinão desfavorável aos colonos do Brasil, pois, em tanto tempo que nele habitavam, não se tinham alargado sobre o sertão ‘para haverem de povoar nele dez léguas, contentando-se de, nas fraldas do mar, se ocuparem de açúcares”. (Holanda. 1989: 133).
O próprio hegeminkon do senhor de engenho de cana de açúcar-feudal é do litoral:
Note-se que Alviano, o interlocutor em questão, tem justamente o papel de de fazendeiro adverso à terra e cego às suas riquezas e bondades”. (Holanda. 1989: 133).
O artista que descobriu e inventou o poder estético republicano continua com a figura de linguagem litoral/sertão - em um outro tom e conjuntura:
“O fato inegável é que em plena formação ainda - porque não há etnologista de gênio capaz de delinear sequer os atributos físicos do brasileiro neste complicado caldeamento de raças que o formam - jazemos bloqueados entre os sertões inabordáveis e o litoral, sem que em toda a longura da tarja povoada, do Pará ao Rio Grande, se lobrigue uma fisionomia original bem nossa, estímulos próprios, vida autônoma, solidariedade de esforços, e uma diretriz vigorosamente traçada para o futuro”.
[...]
“A Europa tem agora, em cada porto do mar, um <tropp plein> que a liberta da sobrecarga de povoadores. É a política colonial - cuidado crescente dos gabinetes das principais potências - sem a feição cavalheiresca que a revestiu no século XVI, obedece a estímulos mais vigorosos e práticos, espalhando com maior brilho o curso de uma lei sociológica indiscutível”. (Euclides da Cunha. v. 1: 547-548).
A teologia geopolítica negra fascista do general Golbery do Couto e Silva é herdeira da figura de linguagem litoral/sertão adaptada à uma realidade estético-política mercantilista-capitalista [litoral civilizador/urbano capitalista como poder estético e tela da mente estética capitalista subdesenvolvida (Bandeira da Silveira; 2019), e interior rural anárquico] do Estado militar fascista 1964:
“Guanabara, Rio de Janeiro, o sul do Espírito Santo, Minas Gerais na sua porção meridional também e todo o estado de São Paulo configuram, na elevada concentração de seus núcleos urbanos, um bloco metropolitano já de si imponente; enquanto, bem mais além, no arco a noroeste distendido, de Corumbá - ou mesmo mais ao sul - até a comarca distante do Amapá, pelos territórios do Guaporé e do Acre, todo o ocidente amazônico do Juruá, do Javari [...], sucedem-se as ‘marcas’ semidesertas, instáveis ainda, quase de todo abandonadas, abertas a penetrações de grupos sem bandeira definida e a correrias de nômades sem lei e onde, em torno de um arremedo de organização política pouco adequadas e um rudimentar sistema de guarnições militares tão esparsas como débeis, se cristalizaram nódulos de população ativa, desprevenido inteiramente do grande, do enorme, do vital papel que de fato lhes imcumbe, e incxumbirá por longo tempo, de colõnias de povoamento pioneiro mas, igualmente, de postos dinâmicos e agrestes de defesa”. (Golbery: 108-109).
A história da Amazônia foi um fracasso rotundo para o Estado fascista 1964. No lugar do Estado, ocupou a região um <capitalismo criminoso> (Platt; 2017) - com suas economias privadas ilegais, economias criminosas políticas fora do Estado fiscal da Constituição de 1988.
9
O “Seminário 16” e o “Minas de pratas” apresentam a concepção política de mundo do jesuíta:
“O risco de vida é aí que está o essencial do que podemos chamar de ato de dominação, e seu garante não é outro senão aquele que, no Outro, é o escravo, como o único significante perante o qual o senhor se sustenta como sujeito. O apoio que nele encontra não é outra coisa senão o corpo do escravo, no que ele é <perinde ac cadaver>. [Tal como um cadáver. a expressão designava a maneira como, pela Constituições de Santo Inácio de Loyola, um jesuíta deveria obedecer a seus superiores], digamos, para empregar uma formulação que não chegou à toa ao primeiro plano da vida espiritual. Mas o escravo, assim, está apenas no campo em que sustenta o senhor como sujeito. (Lacan. S. 16: 370).
A prática política sacra jesuítica tem uma estrutura de dominação d’ars secular escravocrata. As camadas superiores existem como a classe dirigente secular e as camadas inferiores como escravas segundo a hierarquia estética da Companhia de Jesus. Tal fenilomenico é o avesso da lumpesinato padreco colonial do qual já falamos. A relação senhor escravo é o discurso do maître presente na filosofia da antiguidade grega e traduzida por Santo Inácio de Loyola para a Igreja como estrutura de dominação d’ars barroco. Assim temos a relação elite e massa moderna de uma dialética que não se desenvolve no aparelho de hegemonia de Estado:
“Em toda a fenomenologia do senhor e do escravo, somente o escravo é real. Foi justamente isso que Hegel percebeu, e que bastaria para que nada fosse adiante nessa dialética. A situação é perfeitamente estável. Se o escravo morre, não há mais nada. Se o senhor morre, todos sabem que o escravo continua a ser escravo. Desde que se tem lembrança do escravo, nunca foi a morte do senhor que libertou quem quer que fosse da escravatura”. (Lacan; S. 16: 370).
O ato de dominação implica o risco de vida e ele é garantido pelo escravo na tela da mente estética na qual o senhor se sustenta como sujeito e como subjetividade da classe dirigente tendo como suporte o corpo do escravo - como perinde ac cadaver. As massas de padrecos não têm o direito clerical da stásis na Constituição de Loyola. Se olharmos para a Constituição de 1988, ela é análoga a Constituição de Loyola quanto ao direito ao tiranicídio. Na Constituição-88, o cidadão é perinde ac cadaver.
Narrador “Minas de prata”:
“- Quanto sei, digo-o a V. Paternidade, aprendi dos que durante dois séculos engrandeceram a nossa ordem <para a maior glória de Deus>. Eles me ensinaram, P, Inácio, que os companheiros de Jesus desde que prestam voto de obediência passiva aos superiores, não têm vontade sua”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 111-112).
10
No capítulo 13 do “Minas de prata”, há a evocação estética da guerra entre mouros e cristãos, que provoca a revolução d’ars da multidão barroca. Freud marcou um caminho, com migalhas de pão estéticas, para se chegar a multidão d’ars:
“Cada indivíduo é uma parte componente de numerosos grupos, acha-se ligado por laços de identificação em muitos sentidos e construiu seu ideal do ego segundo os modelos mais variados. Cada indivíduo, portanto, partilha de numerosas mentes grupais - as de sua raça, classe, credo, nacionalidade etc. - podendo também elevar-se sobre elas, na medida em que possui um fragmento de independência e originalidade [...]. Interpretamos esse prodígio com a significação de que o indivíduo abandona seu ideal de eu e o substitui pelo ideal da massa, tal como corporificado no líder”. (Freud. v. 18: 163).
A multidão freudiana se constitui pelas relações do individuo com as massas de telas da mente estética como: raça, classe social, religião, nacionalismo, e , sobretudo, fascismo e democracia. A a lógica gramatical desses fenilomenicos (fenômenos d’ars) supracitados criam e recriam a multidão em uma estrutura de hegemonia/dominação elite/massa. A identificação das massas com a elite se dá como identificação d’ars. Aí se encontra a revolução d’ars da massa alencariana. Bartolomeu é um falso líder retórico da multidão barroca:
“Tomando ar grave e solene das grandes ocasiões, Bartolomeu Pires começou a narrar em voz de cantochão a cena, que passara por cusa da distribuição do primeiro preço, e na qual ele reprsentava o imprtante papel de pregoeiro.
Mal tinha concluido o exórdio, quando tia Eufrásia, que o escutava com atenção religiosa, descrevendo uma elipse, veio-lhe de encontro ao abdome volumoso e proeminente que repercutiu como um adufe.
Jesus! Valei-me!
O mestre-de-capela acompanhou este grito de matrona com um grunhido surdo, arrancado pela dor que sentira e o obrigava a dobrar a respeitável corpulência.
O acidente desagradável, que atalhara de um modo tão desastroso a eloquência de mestre Bartolomeu, era produzido por uma revolução súbita que se operava na multidão. Em meio da praça fôra ouvido um clamor; de repente um torvelinho de homens, deslocando as massas de povo, precipitou para a extremidades, esmagando quanto se opunha à sua passagem.
O côro de lamentações e gemidos, o chôro do mulherio se encomendava a todos os santos do calendário, as impressões e juras do poviléu, e algumas vozes de ameaça que se destacavam na confusão geral, formavam o ruído de torrente impetuosa, que transbodava de seu leito, ecoando pelas ruas adjacentes.
Passado o primeiro momento de entalamento, mestre Bartolomeu percebendo o que sucedia endireitou-se; filou pela gola da garnacha o licenciado que já garrava arrastado pelo turbilhão, e dispô-se a resistir ao comate furioso das ondas do povo que se atroprlavam umas sobre outras”. (Alencar. Idem: 123-124).
A massa alencariana é um multidão barroca de uma língua qumilato de fenilatos (desagradável, lamentações,vozes de ameaça…) e alquilatos (clamor, torrente impetuosa…); sem o lider libidinal, ela se torna anarquia de um poder d’ars só contida pelo aparelho de Estado.
11
A vida e a prática política são constituídos e restaurados por uma plurivocidade de tela da mente estética. A multidão existe na tela da mente d’ars do aspecto principal da contradição principal. Um modo de ver isso consiste na relação da multidão com a relação técnica de produção ou força produtiva. A multidão freudiana é feita de raça. Um multidão branca é superior à multidão negra na fabricação da forma de governo?
Bukharin:
“O que nos interessa saber é se existe uma diferença entre o nível de cultura dos brancos e dos negros em geral. Certamente, esta diferença existe. Atualmente, os ‘brancos’ são superiores aos outros. Mas isto prova o quê? Prova que, atualmente, as raças mudaram de posição. E esta conclusão contradiz a teoria das raças. Com efeito, ela reduz tudo às qualidades de raças, à sua ‘natureza eterna’. Se assim fosse, esta ‘natureza’ se teria feito sentir em todos os períodos da história. O que podemos concluir daí? Que a própria ‘natureza’ muda constantemente com relação às condições de existência de uma determinada ‘raça’. Estas condições são determinadas pelas relações entre a sociedade e a natureza, isto é, pelo estado das forças produtivas”. (Bukharin: 140-141.
As massas raciais da prática política da forma de governo existem na tela da mente estética segundo o grau de dominância das relações técnicas de produção da comunicação de massa. Ora. As massas existem na relação com o poder na tela da mente d’ars. Assim, há muitos tipos de multidão que são o suporte ou a desintegração da forma de governo. A massa pós-modernista branca é aquela do simulacro de simulação, tela da mente na qual o poder estético é uma simulação científico-técnica da comunicação:
“acabando o próprio poder por se desmantelar neste espaço e por se tornar numa simulação de poder (desligado de seus fins e de seus objetivos e votado a efeitos de poder e de simulação de massas)”. (Baudrillard. 1981:39).
As relações entre poder, massas e forma de governo são condicionadas pela técnica na prática política:
“Watergate é ainda um dispositivo de assassínio ritual do poder (a instituição americana da Presidência é, a esse título, bem mais apaixonante que as europeias: mantém à sua volta toda a violência e as vicissitudes dos poderes primitivos, dos rituais selvagens). Mas o <impeachment> já não é o assassínio; passa pela Constituição. Nixon, apesar de tudo, conseguiu o objetivo com que sonha todo o poder; ser levado suficientemente a sério, constituir para o grupo um perigo suficientemente mortal para ser um dia destituído, denunciado e liquidado. Ford já nem sequer tem essa sorte: simulacro de um poder já morto, já não pode senão acumular contra si próprio os signos da reversão pelo assassínio - de fato, está imunizado pela sua impotência, o que o desespera”. (Baudrillard. 1981:44).
As massas se constituem como um poder estético com fins de mudar a forma de governo. Aí, o pós-modernismo deixa de ser a tela principal na prática política. Dilma Rousseff ainda foi parte da prática política séria,pois constituía para a elite das massas analíticas burguesas um obstáculo para a instalação do modo de ser psíquico do liberalismo pós-modernista. Ainda não havia a relação entre elite fascista analítica e massas estéticas aristocráticas.
Maffesoli:
“le refus du futur dont je viens de parler redonne ses lettres de noblesse au peuple, ce n’est pas qu’un jeu de mot: il fait ressortir l’aspect aristocratique du peuple”. (Zylberberg: 55)
A elite fascista [como massa analítica da política] evoca a natureza aristocrática da revolução da gargalhada alencariana para as classes médias, no Brasil, seu povo estético da música sertaneja. Aí as relações técnicas já são da tela da mente estética da internet. Surge uma multidão fascista como pastiche paródico de massas d’ars:
“O analista não é o único analista. Ele faz parte de um grupo, de uma massa, no sentido próprio que tem este termo no artigo de Freud, <Massenpsycholigie und Ich-Analyse>”. (Lacan. S. 8: 320).
“o analista, se inscreve e se determina através dos efeitos que resultam da massa analítica, quero dizer, da massas dos analistas, no estado atual de sua constituição e de seu discurso”. (Lacan. S. 8: 325).
A elite fascista se constitui em uma massa analítica que quer produzir uma mudança na forma de governo democrática. O êxito dela depende de ser ela capaz de se fabricar como massa de um poder estético. Assim, ela teceria uma nova tela da mente d’ars que substituiria a tela democrática presidencialista nas Américas:
“Se existe alguma coisa que o analista pode se levantar para dizer, é que a ação como tal, a ação humana, se quiserem, está sempre implicada na tentação de responder ao inconsciente”. (Lacan. S. 8: 325).
Responder ao inconsciente da tela da mente d’ars, eis o que consiste a estratégia e táticas da elite fascista como massa analítica de uma subpolítica.
12
A história da prática política estética monárquica tem o seu <complexo de Édipo>, o inconsciente freudiano da tela da mente estética do Brasil do século XIX. Machado de Assis evolui na identificação com o poder estético alencariano. Uma investigação séria do século monnárquico teria que se debruçar sobre esse fenilomenico d’ars. Vou dar um exemplo da identificação estética.
No “Memórias póstumas de Brás Cubas”, há o delírio de Brás Cubas. A ideia romanesca do delírio teria sido extraído das ciências psiquiátricas do século XIX? No “Minas de prata” , há a alucinação de Estácio. Um ponto em comum entre o delírio machadiano e a alucinação alencariana é a saída do delírio de Brás e a saída da alucinação em Estácio. Em Machado:
“um nevoeiro cobria tudo, - menos o hipopótamo que ali me trouxera , e que aliás começou a diminuir, a diminuir, a diminuir, até ficar do tamanho de um gato. Era efetivamente um gato. encareio-o bem; era o meo gato <Sultão>, que brincava à porta da alcova, com uma bola de papel”. (Machado: 524; Bandeira da Silveira. 2025: cap. 2, parte 14).
Na alucinação estética alencariana. uma voz de menino faz o papel do gato na volta à realidade de Estácio:
“Tirou-me desse pesadelo uma voz infantil, que lhe falava. Era a voz de Gil, parado em face dele, com um cavalo à destra”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 155).
o delírio e a alucinação são tecidos de imagens visuais sem objeto externo? O objeto externo gato e aquele voz de Gil retiram Brás e Estácio do surto psíquico estético:
“Estes fenômenos alucinatórios são então caracterizados por sua objetividade psíquica, porém lhes falta uma objetividade espacial. Baseando-se neste critério foi que Baillarger formulou precisamente uma classe especial de fenômenos alucinatórios que chamou de alucinações psíquicas. Como lhe faltam as características de sensorialidade que definem a alucinação psicossensorial, estes fenômenos foram chamados de pseudo alucinações”. (Henri EY. 1981:117).
Uma realidade intertextual estética existe entre a obra de Machado de Assis e a da José de Alencar. As condições de possibilidade estética do texto machadiano se apresentam no texto alencariano. O “Memórias póstumas …e o “Minas de prata” são parte da tela da mente estética do século XIX. A Semana de arte de 22 paulista nada sabia sobre o poder estético do iluminismo barroco romântico e da presença dele no texto machadiano. Os modernistas paulistas não sabiam que uma obra literária podia funcionar como poder d’ars, como obra-de-arte.
13
“Minas de prata”. v. 1. Capítulo 18. <Em que os arqueiros parecem cavaleiros>
Esrte capítulo é sobre a Companhia de Jesus como governo da província do Brasil. A Companhia é um fenilomenico religioso e político, ao mesmo tempo:
“Figura-se um gabinete pouco espaçoso, entre quatro paredes guarnecidas por largos armários que subiam até a abóbada, alcatifado de alto a baixo com uma fazenda espessa que forrava também o soalho, tendo uma só porta, e fronteira a esta, uma janela revestida de gradil de ferro, e se fará ideia exata desse aposento, no qual o som da voz ou dos passos por mais forte que fosse, morria abafado e não transpirava”. (Alencar. Minas de prata. v. 1: 170).
As vozes abafadas pela arquitetura do edíficio é uma figura de linguagem que evoca o segredo e a narrativa como intriga política do <politburo> do poder d’ars do jesuíta?
Paul Ricoeur:
“Com a narrativa, a inovação semântica consiste na invenção de uma intriga que é, ela também, uma obra de síntese: virtude da intriga, objetivos, causas, acasos, são reunidos sob unidade temporal de uma ação total e completa. É esta síntese do heterogêneo que aproxima a narrativa da metáfora. Nos dois casos, o novo - o ainda não-dito, o inédito - surge na linguagem: aqui a metáfora viva, isto é, uma nova pertinência na predicação, ali uma intriga fingida, isto é, uma nova congruência no agenciamento dos incidentes”. (Ricoeur: 10).
Bem. A Compania de Jesus é qual tipo de Estado integral?
“Na larga banca de jacarandá de forma oval via-se o tinteiro, a poeira e a campanha, tudo de prata de lei e de proporções desmesuradas. À cabeceira que ficava do lado da janela, estava a seda ou cadeira presidencial que ocupava de ordinário o superior da comunidade, quando não se achava presente o provincial,; aos lados havia assentos rasos destinados aos simples conselheiros”.
A lógica territorial da arquitetura é de uma hieraquia estético/política inflexível:
“Era nesse lugar que os principais da companhia de jesus, incubidos do governo da província do Brasil, faziam as suas conferências secretas, nas quais só eram admitidos os irmãos do quarto voto, geralmente chamados os <professos>, únicos de toda a numerosa associação, que tinham conhecimento das altas questões políticas que interessavam a Ordem”.
“Os outros membros, coadjutores e noviços condenados pelo instituto do fundador à <obaedientia caeca>, nem sequer penetravam naquele santuário, onde muitas vezes decidiam da sua sorte; máquinas animadas, autômatos vivos, moviam-se conforme a impulsão que lhes dava a inteligência superior que os dominava: <Perinde ac cadaver>”. (Alencar. Minas de Prata. v. 1: 170).
Há uma divisão entre elite e massa do poder d’ars jesuítico. Uma massa analítica como máquina viva do baixo mais baixo clérico é movida pela inteligência do comitê aristocrático de Estado. Quieto como um cadáver significa a obediência infalível, irrevogável. A Companhia de Jesus tem as aparências de semblância (Arendt: 31) de um Estado despótico:
“É máxima capital nunca mudar os costumes e as maneiras no Estado despótico; nada ocorreria tão prontamente como uma revolução. É que, nesses Estados, não há lei, por assim dizer; há somente costumes e maneiras e, se derrubardes isso, derrubareis tudo”. (Montesquieu. v. 1: 465-466).
O perinde ac cadaver é o senso comum jesuítico de um poder d’ars da classe dirigente episcopal a ser exercido na relação entre os de baixo da massa maquinal viva e os selvagens do novo mundo:
“As leis são estabelecidas, os costumes são inspirados; estes concernem mais ao espírito geral; aquele a uma instituição particular; ora, é tão perigoso, e mesmo mais, destruir o espirito geral quanto modificar uma instituição. (Idem: 466).
O “espírito geral< é a tela da mente estética [como tradição] do Estado despótico. O Estado do jesuitismo é uma tradição iluminista barroca que se constitui como democracia guarani-jesuítica da revolução dos sete povos da missão. (Lugon; 1968):
“Comunica-se menos nos países em que cada um, tanto o superior com o iferior, exerce e suporta um poder arbitrário, do que nos países em que a liberdade reina em todas as condições. Portanto, modificam-se menos as maneiras e os costumes. As maneiras mais fixas aproximam-se mais das leis. assim, cumpre que um príncipe ou um legislador aí contrarie menos os costumes e as maneiras do que em qualquer outro país”.
“As mulheres são geralmente enclausuradas e não têm opinião a emitir. Em outros países em que vivem com os homens, o desejo que têm de agradar, e o desejo que também se tem de agradá-las, fazem com que se mude constantemente de maneiras. Os dois sexos se <gâtent>, perdendo ambos sua qualidade distintiva e essencial; surge um arbitrário no que era absoluto, e as maneiras transformam-se diariamente”. (idem: 466).
Na tela da mente d’ars, a tradição barroca despótica é aparências de semblância de um poder estético que exclui a mulher da prática política d’ars? A mulher e o homem são dois universais no selvagem, no bárbaro, no civilizado.
Francisco Falcon deixou uma página realista sobre o Estado jesuítico:
“O que estava em jogo realmente não era somente a chamada ‘influência’ política dos membros da Companhia, ou o seu domínio quase total sobre a formação das mentalidades através do aparelho educacional poor eles controlado em sua maior parte. Tratava-se isto sim, do próprio papel político da Igreja, entendendo-se por ‘politico’ algo muito mais amplo do que a simples política do dia-a-dia governamental. Era do papel hegemônico da Igreja em relação às instâncias ideológicas do Estado que se tratava na verdade. O grande fato que se comprova pela massa documental disponível é a presença dominante do aparelho eclesiástco, seus homens, suas instituições suas ideias e seus interesses específicos . Identificada de maneira bastante simplista com a atuação jesuítica, aquela presença fazia-se sentir em todas direções da sociedade, constituindo uma realidade quase palpável. Contestá-la era a tarefa precípua da secularização, do racionalismo, do individualismo, de todos aqueles valores que há muito, em outras partes da Europa, vinham elaborando novas formas de pensamento, novas realidades políticas e sociais. Era, enfim uma tarefa específica da ilustração”. (Falcon: 378).
A Companhia de Jesus foi um Estado multinacional cosmopolita e nacional-popular, ao mesmo tempo, Um Estado de uma tela da mente estética mundial de um poder d’ars paraconsistente. (Newton da Costa; 2008), despótico internamente e democrático no Brasil tupi-guarani: dominação e hegemonia estéticos.
“
Nenhum comentário:
Postar um comentário