José Paulo
Meu objetivo é ler Fernando Pessoa no campo das gramáticas de
sentido do campo político luso de gosto. Começo com o jornalismo:
“Não apreciamos, é bom que se confesse, o espírito
jornalístico ou a mentalidade jornalística. Amantes extremamente da lógica na
exposição e da sociologia na interpretação – resultantemente [?] vemos por um lado o artigo de jornal,
fragmentadamente lógico como se impõe que seja, e por outro sociologicamente incompleto
– tudo isso porque limitado interna e externamente, isto ´é, porque não
podendo, como um livro, declarar guerra a limites, nem como tratado ou a
dissertação fechar-se em linguagem especialista [?] não [...] o senso comum”.
(Fernando Pessoa. 1978:159).
O jornalismo brasileiro da atualidade é um domínio não
estudado pelas escolas de comunicação ou de ciência social. Todavia, a forma
lógica da exposição se deve a artistas (romancista etc.) que fizeram do
jornalismo uma profissão, como Nelson Rodrigues e tantos outros. Bem! as novas
gerações de artistas da palavra não se dedicam ao jornalismo áudio/visual.
Assim, perde-se a forma lógica da exposição na profissão do jornalista. Há
jornalistas com doutorado em linguística, mas eles não conseguem fazer do jornalismo
áudio/visual uma ciência\ da gramática de sentido do significante linguístico.
O uso de especialistas de uma ciência social do século 20 e do comentarista em
filosofia do jornal cria uma distância entre a tela audiovisual e o auditório,
pois, o comentarista em filosofia é parte da comunidade psíquica de
significante (CPS) da retórica, criada na primeira metade do século XIX.
A gramática de sentido hiperbólica é um fenômeno da prosa de
Fernando Pessoa, tal gramática cai no gosto da CPS do perverso verdadeiro, que
faz da gramática um teatro do mundo:
“Chegado ao ponto de subir a escada da política construtiva,
vai mal ao coxo a sugestão de o não ser. Os degraus são muitos altos e para dar
o pulo de um ao outro é preciso mais musculatura nos membros inferiores. Isto é
exageradamente metafórico, mas hiperbolicamente certo. (Fernando Pessoa. 1978:
167).
A ciência política coxa do político brasileiro, do
jornalista, do juiz se deve a forte presença das gramáticas de sentido de
significante do retórico:
“Dos lloyd Georges da Babilônia
Não reza a história nada.
Dos Briands da Assíria ou do Egito,
Dos Trotskys de qualquer colónia
Grega ou romana já passada,
O nome é morto, inda que escrito.
Só o parvo dum poeta, ou u louco
Que fazia filosofia,
Ou um geómetra maduro,
Sobrevive a esse tanto pouco
Que está lá para trás no escuro
E nem a história já história.
Ó grandes homens do Momento!
Ó grandes glórias a
ferver
De quem a obscuridade foge!
Aproveitem sem pensamento!
Tratem da fama e do comer,
Que amanhã é dos loucos de hoje!
Álvaro de Campos. (Fernando Pessoa. 1978: 165).
Há essa analogia entre o campo político da antiguidade da
civilização com recalque com o campo político mundial da atualidade de Pessoa.
O passado e o presente falam do político louco de hoje [e do campo da
antiguidade] como proprietário do futuro. O campo político requer uma grandiosa
gramática de sentido hiperbólica no hoje para os povos terem horizonte. O que é
o grande político “aproveitar sem pensamento”? Qual pensamento? O campo
político não tem como proprietário o ideólogo. Na atualidade, os fascistas
fizeram da política o artefato da retórica ideológica. essa simplificação da
política permite que débeis mentais se tornem: presidente, deputado, senador,
governador, prefeito etc., pois, o nome desse político é morto ainda que
escrito nos anais do Congresso.
2
O campo político republicano luso é a conciliação barroca:
‘Este problema das vicissitudes [do humanismo espiritualizado
barroco], se torna muito evidente se considerarmos a mudança da concepção
mitológica. Aqui há de novo a particularidade de que quer gozar a vida, e de
uma espiritualização, ao contrário, distante do mundo, co0nfluem num primeiro
tempo artificialmente e depois naturalmente, segundo as leis barrocas da
conciliação do que é em aparência inconciliável (lei que opera de maneira
lenta) (Hatzfeld: 61),
Fernando fala da republica que ele vê e sente:
“A república actual é a continuação do estado de cousas da
monarquia, com simplesmente isto a mais: a abolição do facto que impedia sequer
a pensabilidade de melhorar esse estado de coisas. Porque é a república, i. é,
será não a causa, mas a condição de um progresso ulterior. A [...] república
indica que uma corrente social se substituía a outra no estado: mas essa
substituição não é feita como a de um peão por uma rainha no xadrez. O estado
de cousas social não muda de momento; começa a exercer-se sobre ele
obscuramente a influência de uma outra corrente, purificadora esta, que
lentamente vai alterando esse modo-de-ser social. Claro está que os homens que
vão à frente dessa corrente no deslizar gradual de(...) antigo são os que mais
se parecem – por falta de sinceridade [?], de modéstia, de competência, com os
homens do anterior regime”. (Fernando Pessoa. 1978: 155-156)
A conciliação barroca entre o velho e o novo é coisa da
Revolução Francesa (Tocqueville: 42-44), é o mais-gozar da nova comunidade
psíquica de significante nacional burguês-moderno, e isso não existe na
Revolução americana, esta não tem passado de forma de governo para ser
conciliado com a forma de governo da atualidade.
A comunidade psíquica de significante homem de ação na
política tem sua presença na gramática de sentido de Pessoa:
“ 61 – (...) psíquicos são igualmente características de
todos os homens de acção, de todos os tempos; eles seriam, se existissem,
absolutas peias, constantemente atrasando os gestos. E, finalmente, se,
passando para a esfera da Vontade, fossemos mostrar que Costa é intolerante,
duma energia despótica, (...) o mesmo reparo merecíamos que nos fizessem.
Porque essa condição da vontade impõe-se que exista em todo o homem de acção,
em todo o condutor de homens. Sem ela, ele não o seria”. (Fernando Pessoa. 1978:
168).
Seria Costa um aparelho de hegemonia molecular da comunidade
psíquica homem de ação de significante Estado republicano?:
‘Mas – e aqui começa a haver a análise legítima – dentro
desses detalhes psíquicos, dentro da incapacidade de abstração, da ausência de
sentimentalidade vulgar, de dureza e agressividade da vontade, cabem muitos
graus, muitos matizes, muitas diversidades. Entram aqui em jogo, já, outros
factores, precisamente aqueles que dependem do meio onde o meneur vive, da
gente que conduz, representando-a”. (Fernando Pessoa. 1978: 168).
Pessoa quer falar da
prática política lusitana/republicana?:
“No ponto de vista ideativo, Costa distingue-se por uma
instabilidade ideativa quase absoluta, limitada apenas por aquelas ideias, das
quais não pode abdicar, porque, se delas abdicasse, abdicaria do seu poder.
Isto é, a sua instabilidade ideativa não o leva a passar de republicano para
monárquico; tal erro ser-lhe-ia mortal, nem podia tal erro ser cometido por
quem é um meneur, um condutor de homens. Mas, à parte essas ideias que ele tem
de ter por força, sob risco de perder a sua influência, muda de ideias como a
gente dos outros partidos muda de camisa. Hoje germanófilo, anglófilo amanhã
etc...”. (Fernando Pessoa. 1978: 168).
O campo político das formas de governo é ditadura e
democracia. passado e atualidade, como no campo político de 1988 do Brasil. Um
homem de ação como Lula [um condutor de eleitorado] teria que ter a vontade de
ferro deum Getúlio Vargas para se manter no governo federal de Brasília. Ele
teria que ser Getúlio, não um Costa despótico, um Getúlio despótico contra o
dominante e não contra o dominado. Ele
teria que ser como dominação/hegemonia. Não o é!
A falta de aparências
de semblância autênticas (Arendt: 31) do mundo político luso revela o falso
perverso histérico em suas relações com o dominado: “Instabilidade de ideias,
feitio destrutivo como como legislador (A[ntónio] J[osé] d’A[lmeida, que é um
histérico evidente, oscila entre o destrutivo e o construtivo e não fica só no
destrutivo).
No campo sentimental, a inteira falta de generosidade, e
magnanimidade, de tolerância, nem por ímpetos”. (Fernando Pessoa. 1978:
169).
3
A ciência política materialista/dialética de Fernado Pessoa pode
ser conhecida como paraconsistente?
Newton da Costa poderia ter incluído Pessoa no seguinte trecho:
“Desde Heráclito, passando por Hegel, Marx e Lenin , e, em
nossos dias Wittgenstein [e acrescento Fernando Pessoa], tem havido filósofos
admitindo que a contradição pode ser aceita em teorias e contextos racionais
que expressam conhecimentos legítimos”. (Newton da Costa: 170).
Pessoa:
“A suprema verdade que se pode dizer de uma coisa é que ela é
e não é ao mesmo tempo. Por isso, pois, que a essência do Universo é a
contradição [...], uma afirmação é tanto mais verdadeira quanto maior
contradição envolve”. (Fernando Pessoa. 1978: 8).
Pessoa trabalha com gramática de sentido paraconsistente a
partir do conceito de crise nacional da <sociedade decadente> europeia.
Ele vê essa crise política em sua época de vida:
“No primeiro caso – o de uma decadência definitiva – reacção
e radicalismo são a dupla forma do princípio desintegrador que tem por fim
escangalhar completamente a vida social em todas as suas formas, reduzindo a
nada o equilibrismo, forçando a empregar força por uns ou por outros e
finalmente ou reduzindo à potencial indiferença dos decadentes, ou absorvido
por uma ou outra forma de destruição social. Isto vai no extremo degenerativo
dos campos, até ao aluir anárquico e impotente da nacionalidade geralmente pela
intervenção de outros países pelo retalhar [...] do território onde os restos
dos que foram equilibrados fitam numa indiferença que já não espera [...] se é
dolorosa, a morte da nacionalidade, e a liquidação em subversão abjeta ou
eliminação artilhada dos restos dos entes degladiantes [,] elementos
reaccio-radicais. É para avançar ressalvada a alteração crítica que produziu o
aparecimento de [...] factores novos [...] (...) a França contemporânea”.
(Fernando Pessoa. 1978: 188-189).
À ideia de <campo> dialético/materialista se acrescenta
a ideia de <modo de ser psíquico>:
‘Facilmente se vê como ideações tão aparentemente divergentes
nascem do mesmo fundamental modo de ser psíquico, caracterizado nuns e noutros
por uma biforme perturbação do substrato da vida social, originária numa má
conformação cerebral nos reaccionários ou radicais de temperamento e por um
nervosismo menos mórbido mas susceptível de ser morbidamente influenciado nos
[...] radicais e reacionários”.
“Aparecendo em todas as épocas de decadência curável ou
total, indiferentes mórbidos e desequilibrados ...(Fernando Pessoa. 1978: 187).
O campo paraconsistente é plurivocidade de gramática de
sentido de comunidade psíquica de significante do político sem conciliação
barroca agenciado pela contradição material: reacionário versus radical. A
stásis promovida por uma comunidade psíquica de significante do político é a
chave para o entendimento da conjuntura da história da civilização europeia de
polícias [recalcada nos jogos de significantes] da primeira metade do século
XX. Falo da CPS do falso perverso que transformou o planeta em um teatro de
guerra de significante-semblante inautêntico de uma teologia alemão noir da
stásis/pólemos (Schmitt:55).
O conceito de crise política de Pessoa é passível de se
tornar análise concreta de situação concreta hoje? (Lenin. 1982: 10; 1982. Tome
3: 20).
4
A gramatica de sentido do campo político simbólico não se
reduz ao imaginário do político:
‘O que constitui rem si a energética é que é preciso achar um
truque para obter a constante. O truque conveniente, aquele que é bem-sucedido,
é suposto conforme o que chamamos de realidade. Mas eu distingo completamente,
de uma parte, esse suposto real, que é esse órgão, se assim posso dizer, que
não tem absolutamente nada a ver com um órgão carnal, através do qual
imaginário e simbólico estão enodados e, de outra parte, o que, da realidade,
serve para fundar a ciência”. (Lacan. S. 23: 129).
O corpo político (o político) é o órgão de enodamento do
imaginário e simbólico. Não há gramática de sentido do político que não seja um
efeito do R.S.I., dos jogos de significante-semblante no político - de onde sai
a gramática de sentido da realidade do campo político R.S.I.
Há essa gramática de sentido RSI no TEXTO de Pessoa?
No livro “O anjo pornográfico, o autor fala do Pai de Nelson
Rodrigues como Perverso, cínico. (Costa:43). Sem, talvez, se perceber os
efeitos o biografo fala de Nelson como tendo u fetiche com o umbigo de uma
odalisca no carnaval. (Castro: 27). Pai perverso e filho perverso? Ora, Harold
Bloom diz que Fernando pessoa é um perverso? :
“Pessoa deu a todos os três poetas biografias e fisionomias,
e permitiu que todos fossem independentes em relação a ele, tanto assim que se
juntou a Campos e Reis para proclamar Caeiro seu <mestre> ou precursor
poético. Pessoa, Campos e Reis foram todos influenciados por Caeiro, não por
Whitman, e Caeiro não foi influenciado por ninguém, sendo um poeta
<puro>., ou natural, quase sem educação, que morreu na idade
alto-romântica de vinte e seis anos. Octávio Paz, um defensor de Pessoa,
resumiu esse poeta quadruplo com excelente economia: Caeiro é o sol em cuja
órbita Reis, Campos e o próprio Pessoa ainda giram. Em cada um deles há
partículas de negação e irrealidade. Reis acreditava na forma, Campos na
sensação, Pessoa em símbolos. Caeiro não acreditava em nada. Ele existe”.
(Bloom: 463).
O teatro do mundo do perverso verdadeiro tem em Caeiro o sol,
o significante-semblante das aparências de semblância autêntica do campo
político das artes da gramática de sentido RSI de Fernando Pessoa e os poetas
alternativos por ele criados:
“A estudiosa
portuguesa Maria Irene Ramalho de Sousa
Santos, que despontou como crítica canônica de Pessoa, interpreta os
heterônimos como a <leitura> dele, ‘meio cumplice, meio enojada, de Walt
Whitman, não só da poesia de Whitman, mas também da sexualidade e política de
Whitman’. O mal reprimido homoerotismo de pessoa emerge no furioso masoquismo
de Campos, dificilmente whitmaniano; e a ideologia democrática de Leaves of
Grass era i9naceitável para u monarquista português visionário”. (Bloom: 463).
Para mim, o essencial é o modo de ser psíquico como
comunidade psíquica de significante do político. A gramática de sentido RSI de
Pessoa do político pode ser aplicada na atual conjuntura mundial?
Na Europa da metade do século XX, o campo político
conjuntural europeu foi invadido pelo partido do nacional socialismo. Assim, a
contradição reacionário versus radical se transforma em nó com gramática de
sentido reacionário/radical. Esse novo modo de ser psíquico foi uma das causas
da Segunda Guerra Mundial. O modo de ser psíquico reacionário/radical ressurge
com a vitória de Donald Trump em 2024.
4
Da periferia lusa do continente, Pessoa se esforça por pensar
o desastre português. Ele fala que a França fez uma revolução nacional moderna.
Essa revolução criou um novo mundo, segundo Hegel:
“uma modificação pela qual o indivíduo, como efetividade
especial e como conteúdo peculiar, se opõe àquela efetividade universal. Essa
oposição vem a tornar-se crime quando o indivíduo suprassume essa efetividade
de uma maneira singular, ou vem a tornar-se um outro mundo – outro direito,
outra lei e outros costumes, produzidos em lugar dos presentes – quando o
indivíduo o faz de maneira universal e, portanto, para todos”. (Hegel. 1992:
194).
Ora a Alemanha não fez uma revolução nacional republicana
como a França:
“Quando os filósofos e literatos alemães do fim do século
XVIII e princípios do século XIX ergueram aquele monumento artístico e
filosófico de onde saiu a geração dos criadores que causou a Alemanha atual,
essa gente ergueu, no seio da Alemanha,
um novo conceito inteiramente novo das cousas – conceito inteiramente novo que,
por ter nascido na Alemanha, se mostrou Alemão. Na impossibilidade de reatar as
tradições germânicas, criaram uma Alemanha nova [...]. Isto é exemplo do
conceito antitradicionalista de Pátria. Pessoalmente, adiro a estre conceito;
julgo inútil e mesquinha a cura escrupulosa de seguir as tradições. O Portugal
das descobertas não seguiu tradição nenhuma: criou-se”. (Pessoa. 1978: 207).
O que faz a revolução alemã, senão criar e recriar um modo de
ser psíquico, uma comunidade psíquica de gramática de sentido RSI para o alemão
viver na nacionalidade da modernidade europeia. Portugal jamais criou uma
comunidade psíquica de gramática de sentido lusitana:
‘O domínio espanhol significaria uma grande desgraça, uma
grande vergonha, e um grande desastre nacional. Era a perda da nossa
independência – não é assim? – o arrazamento da nossa pátria. Mas que diabo é
isto em que vivemos? Vivemos como portugueses? Como vivemos, se não somos
governados por homens orientados portuguesmente? como, se são estrangeiras as
ideias que nos <orientam>? como , se de independência nacional temos
apenas o nome e o espectro da cousa? Para que serve uma independência nacional,
se não ´para se viver nacionalmente? Que diabo de independência nacional tem um
desgraçado país que é internacionalmente um feudo da Inglaterra, que é
nacionalmente um feudo do anti-português Afonso Costa.? Se a perda declarada da nossa
independência seria (e sê-lo-ia) uma desgraça e uma ver5gonha, em que é (salvo
na absoluta evidência menos vergonhosa e menos desgraçada a triste situação em
que estamos? Um Portugal onde internacionalmente só se pode ser inglês; onde
nacionalmente só se pode ser francês (pois que francesas sejam as ideias
republicanas que nos <governam>) – um Portugal onde, portanto, tudo se
pode ser (<tudo> é um modo de falar) menos português, que espécie de
<Portugal independente> é o que é? Que independência há nisto? Triste
gente que se contenta com a triste aparência das cousas, e não vê um palmo
adiante das sensações quotidianas para dentro da sua alma súbdita e oprimida!”.
(Fernando Pessoa. 1978: 209-210).
No Brasil o jurista Raymundo Faoro (Faoro:1994) se pôs esse
problema de se o Brasil construiu uma concepção política de mundo (Heidegger:
133) da brasilidade. Gilberto Freyre (Freyre: 1975) perguntou se tínhamos
fabricado um modo de ser psíquico para viver na nacionalidade. Parece que
nenhum nem outro foram compreendidos. Freyre fala de um modo de ser psíquico de
gramática de sentido RSI mestiça. Fernando Pessoa fala de um Portugal de modo
de ser psíquico feudal no século XX. Bem. um modo de ser psíquico de gramática
de sentido feudal se instalou planetariamente com o mercantilismo/liberal do
capital feudal originariamente asiático,
5
Pessoa fala da realidade do campo político:
“Porque, no fundo disto tudo, a única realidade é o Costa.
[...]. Há o Costa e seu partido”. (Fernando Pessoa. 1978: 211).
A realidade é do político ou do aparelho político. A
realidade republicana pode ser Paiva Couceiro; é possível fazer uma leitura do
campo político a partir dele?:
“Paiva Couceiro é um espírito ferrenhamente tradicionalista.
Podemos não concordar – já disse que concordo – com esse conceito de
nacionalidade. É preferível a conceito nenhum. Dentro do tradicionalismo pode
haver patriotismo; fora ele, e não havendo a criação de novas ideais
absolutamente nacionais, não vejo que patriotismo posa haver. Paiva Couceiro
viu erguer-se uma instituição, a que alguns maduros e um grande número de
gatunos chamaram <a nossa querida República> - e deve ter sentido, senão
o pensou lucidamente – que essa instituição venha a arrancar tudo quanto
restava – e não era muito – das tradições nacionais, sem lhes substituir
absolutamente nada que mostrasse que era uma república portuguesa. (Fernando
Pessoa. 1978: 208).
No Brasil do século XIX, d. Pedro II e o aparelho político
família imperial criaram e recriaram um tradicionalismo nacional não retórico
com a prática política governamental de fazer guerras as forças que queriam
desintegrar o território brasileiro. A Guerra do Paraguai é um momento capital
de tradição nacional não-retórica. Hoje, a família real se tornou bolsonarista,
isto é, antinacional, pois Bolsonaro é o cínico que beija a bandeira dos EUA e
diz que ama Donald Trump:
“Couceiro viu, ou deve ter sentido, que tal República ou o
que quer que fosse, representava, nessas condições um atentado0 contra a
Pátria. Era um de dissolução nacional. Não agia senão destrutivamente sobre
quanto se pudesse considerar como energizador das almas portuguesas, como
congregador das almas portuguesas numa única lusitana. Por isso o
tradicionalista Paiva Couceiro sentiu a necessidade de conspirar. Ele foi
sempre um grande soldado e um grande patriota; continuou sendo o mesmo soldado
e o mesmo patriota. A sua superioridade moral sobre os estrangeiros da nossa
República é incomensurável. No seu tradicionalismo exaltado, ele é, apesar de
tudo, um português. Eles não são nada, nada. Estrangeiros, e estrangeiros
estúpidos; que nem sequer vieram trazer à administração pública aquela
honestidade cuja ausência na monarquia lhes serviu de trampolim paras as
campanhas oposicionistas. A monarquia portuguesa, é certo, era um regimen de
ladrões e incompetentes. Mas era um regimen que estava cã há oito séculos.,
que, pelo menos exteriormente, estava identificado se não com a nacionalidade,
pelo menos com a existência ostensiva da nacionalidade. Substituí-lo por um
regimen que, além de não ser nacional de modo nenhum, continuava as mesmas
tradições (estas sim!) de gatunagem e de incompetência, agravando, se talvez
não a gatunagem, por certo que a incompetência – eis uma cousa para que não
valia a pena ter derramado sangue, perturbado a vida portuguesa, criado maior
soma de desprezos por nós do que o que já havia no estrangeiro”. (Fernando
Pessoa. 1978: 208-209).
O Estrangeiro, o estrangeirismo, ambos são o cosmopolitismo
adotado pela elite republicana brasileira. A República fez desse cosmopolitismo
à francesa e à americana uma máquina de guerra de propaganda e militar contra o
desejo da população de participar de uma nacionalização/popular da forma de
governo republicana. O governo republicano destruiu, com banhos de sangue, o
desejo nacional/popular do de Canudos e do Contestado. Assim o aparelho militar
governamental se tornou um fenômeno contra um regime nacional/popular
republicano. Não houve, entre nós, a fabricação de uma gramática de sentido [de
um aparelho de hegemonia de Estado] nacional/popular republicana:
“Não concordo, talvez, nem com uma única das ideias que
formam a base do conceito português da vida que Couceiro tem. Mas reconheço
nele um português. Como português, não posso de deixar, ´por isso, simpatizar
com ele. Nem por sombra me ocorre que possa haver comparação entre a sua
atitude – se bem que, para min, errônea – e a estrangeirada atitude a que estes
bandalhos da República chamam <patriotismo>”. (Fernando Pessoa. 1978:
209).
Na atualidade brasileira, ocorre a desintegração do modo de
ser psíquico de gramática de sentido nacional de d. Pedro II. A desnacionalização da família real é uma das
desgraças da política retoricamente nacional da república do cosmopolitismo à
americanismo de nossas elites retóricas do direto brasileiro do modo de ser
psíquico da nacionalidade:
“Há mais ainda> estas ideias estrangeiras que hoje formam
a fórmula pseudo-governativa da nossa sociedade, são, além de estrangeiras,
revolucionárias; isto é, trazem consigo um duplo poder de desintegração social.
Dificilmente se concebe um mais desgraçado estado nacional”. (Fernando Pessoa.
1978: 210).
A república da mimesis brasileira é cosmopolita, é uma forma
de governo revolucionária que acaba ocupando o lugar do campo
reacionário-radical. Assim, ela é uma forma de governo desintegradora,
permanentemente, das telas verbais narrativas feitas pelo político e seus
aparelhos políticos do modo de ser psíquico da nacionalidade, como Getúlio
Vargas e Darcy Ribeiro.
A ditadura militar 1964 começou cosmopolita do
liberal/mercantilismo do general Castelo Branco e de Roberto Campos. Depois,
ela adquiriu a retórica da nacionalidade com o general Geisel; este ficou
três dia de cama, doente, ao dobrara os
joelhos para o governo americano no caso
da privatização do <petróleo é nosso>. O regime de 1988 começou com uma
Constituição nacional/popular e com a retórica nacional do velho regime. Ela
forneceu uma gramática de sentido nacional/popular a ser desenvolvia na prática
política governamental, do parlamento e do STF. Aliás, o que ocorreu foi a
desnacionalização da prática política, dos políticos e seus aparelhos
políticos. O que está em processo é a desintegração do território nacional
criado por d. Pedro II. A Amazônia encontra-se ocupada por máquinas de guerra
das economias ilegais e a ação governamental para voltarmos à poca de d. Pedro
II é mais retórica do que realidade de uma prática política com gramática de
sentido de nacionalidades territorial. Para a elite governamental e do STF o
mundo é um teatro do perverso inautêntico nacional. o Congresso é cosmopolita e
faz tudo para desnacionalizar a Amazônia. Tal fato está em consonância com a
época do globalismo liberal pós-modernista. (Bandeira da Silveira; 2024).
6
O ministro da guerra de Israel diz que destruiu o Hezbollah. Parece
um ato narrativo de uma podre retórica judaica para tripudiar povos que se
defendem com paus e pedras. Orientei uma tese de um professor integralista
sobre o integralismo de Plínio Salgado. Na época não havia para mim a distinção
entre gramática de sentido do retórico e gramática de sentido da experiencia do
político na prática política. Há o
integralismo luso e o integralismo brasileiro; este fez um golpe de Esta\do
contra Getúlio Vargas e formou o maior partido de massa na década de 1930. O
integralismo luso tem uma história muita rica e complexa e Fernando Pessoa
falou dele.
O integralismo brasileiro foi um fenômeno retórico da velha
retórica monarquista jurídica do século XIX? Ser principal ideólogo era um
retórico brilhante de apaixonar as massas e os intelectuais. Ele ignora o que
Pessoa não o faz. Pessoa faz analise concreta de situações concretas; e Plínio
leu Lenin mas não assimilou as gramáticas de sentido materialista/dialética de
Lenin:
“Cumpre considerar o Homem, não como peça de máquina, segundo
pretendem os comunistas e os capitalistas, ambos baseados na mesma concepção
materialista do universo. E sim como um
ente autônomo, com sua dignidade própria, sua personalidade de todo o ponto respeitável”.
(Plinio: 26).
Pessoa fala do homem também:
“A ordem é nas sociedades o que a saúde é no indivíduo. Não é
uma cousa: é um estado. Resulta do bom funcionamento do organismo, mas não é
esse bom funcionamento. O homem normal só pensa na saúde quando está doente. Do
mesmo modo, a sociedade normal só pensa na na ordem quando nela aparece a
desordem, o homem normal quando adoece, procura, não simplesmente sentir-se
outra vez de saúde, mas atacar a doença; afastada ela, do seu afastamento rsultará
a saúde. De nada lhe serviria sentir-se de saúde, se essa sensação não
proviesse do afastamento definitivo da doença, mas apenas de sua intermitência ou
de uma anestesia qualquer. Na sociedade, semelhantemente, quando aparece a
desordem, a sociedade sã procura logo, não manter a ordem, mas atacar o mal que
produziu a desordem, a exclusiva preocupação de ordem é um morfismo social”.
“Levemos até o fim esta justíssima analogia. No individuo, a
constante preocupação da saúde é um sintoma de neurastenia, ou de males psíquicos
mais graves ainda. Na sociedade, paralelamente, a preocupação da ordem, é uma
doença de espírito coletivo. Se os argumentos que acima expus não bastaram para
insinuar esta conclusão no animo do leitor, ele pode verificar de todo a
hipótese, reportando-a às circunstâncias sociais em que nasceu a moderna preocupação
da ordem, e à espécie de cérebro onde ela surgiu definidamente”.
“Apareceu ela num período perturbado e abnormal da política
francesa e em plena vigência da doença chamada romantismo. É,
caracterizadamente, uma ideia romântica”.
‘O seu criador filosófico (o infeliz chamado Gustavo Comte) toda
a vida sofreu de alienação mental”. (Fernando Pessoa. 1978: 220)
A analogia do pensar do homem e da sociedade é um efeito da
gramática de sentido do homem político em uma sociedade, não é uma analogia
retórica. Homem e sociedade possuem páthos e ethos que conduzem seus
pensamentos. Pessoa faz a gramática de sentido hiperbólico da comunidade
psíquica de significante perverso verdadeiro como homem normal. Para ele, Augusto
Comte era apenas um psicótico? Apenas páthos?